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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir as relações entre história e literatura,
observando a participação dos grupos marginalizados e suas representações. A
fundamentação teórica baseia-se nos autores Walter Benjamin, com seu texto Sobre o
conceito de história (1987), Hayden White, com O texto histórico como artefato literário
(1994), Willian Faulkner, de Celeiro em Chamas (s.d.), e como representante brasileiro,
João Guimarães Rosa, com Meu tio, o Iauaretê (1985). Posteriormente à análise, destaca-
se o papel da literatura como ferramenta de resistência contra o discurso dominante, abrindo
espaço para as vozes dos vencidos, ignoradas muitas vezes pela história, também possam
ser ouvidas.
Palavras-chave: Walter Benjamin, William Faulkner, Guimarães Rosa, história, literatura,
resistência.
INTRODUÇÃO
Mais tarde, vinte anos mais tarde, ele iria dizer para si mesmo, “se eu
dissesse que eles só queriam a verdade, justiça, ele teria me batido de
novo”. Mas agora ele não disse nada. Ele não estava chorando. Ele só ficou
ali, em pé. (s.d., p. 4)
Aquele Nhô NhuãoGuede. Pai da moça gorda, pior homem que tem: me
botou aqui. Falou: -- “Mata as onças todas!” Me deixou aqui sozinho, eu
nhum, sozinho de não poder falar sem escutar.... Sozinho, o tempo todo,
periquito passa gritando, grilo assovia (...) tenho pai nem mãe. Só matava
onça. Não devia. Onça tão bonita, parente meu. (...) Sabia só matar onça.
Ah, não devia! Ninguém não queria me ver, gostava de mim não, todo
mundo me xingando. Maria-Maria veio, veio. Então eu ia matar Maria-
Maria? Como é que eu podia? Podia matar onça nenhuma não, onça
parente meu, tava triste de ter matado. (s.d., p. 115)
2. O CONCEITO DE HISTÓRIA
É possível relacionar aqui a visão de White (1994), ao expor que dividir o fato
do fictício não é admissível, uma vez que a história, quando escrita, ainda que sob o
manto da verdade absoluta, não passa ela mesma de uma ficção, pois representa
um ponto de vista enquanto vale-se durante esse processo de mecanismos próprios
da arte literária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao compreender a íntima correlação entre a narrativa histórica e a literária,
percebe-se que a segunda, então, pode aparecer como uma forma de afrontar o
caos em determinada época. Através dela, aqueles que foram esquecidos podem ter
a chance de expressar o seu lado da história.
Hayden (1994, p. 98) não hesita em afirmar que as narrativas históricas são
“ficções verbais cujos conteúdos são tanto inventados quanto descobertos” e
continua ao explicar que suas “formas têm mais em comum com os seus
equivalentes na literatura do que com seus correspondentes nas ciências. ” A partir
disso, compreende-se a incompletude do relato histórico, que como anteriormente
citado, é também uma ficção.
Por outro lado, pode-se pensar que essas afirmações, de certa forma,
legitimam o papel da própria literatura ao se apresentar em conjunto com a história,
visto que ela pode possibilitar certa ponderação sobre os recortes históricos já feitos.
Desse modo, é perceptível nesses autores a utilização da literatura como ferramenta
de reflexão social e, sobretudo, resistência. Os temas escolhidos, bem como a
linguagem empregada nas obras reflete uma escolha – ainda que nem sempre tão
óbvia – por aqueles que muitas vezes não aparecem nos discursos históricos e
literários.
A crítica política e a história que podem ser consideradas a partir dessa
manifestação artística implicam em parte importante e fundamental de sua
existência. Enquanto comumente o ponto de vista dos vencedores se sobressai, o
contexto literário pode – e deve – ser um espaço de discussão e reflexão,
demonstrando a veracidade da fala de Benjamin quando reconhece que:
Esse “momento de um perigo” descrito pelo autor também é uma porta para a
criação literária. A capacidade de abordar temáticas diversas, desde morais até
psicológicas e sociais, torna possível que a literatura possa ser compreendida, tanto
pelo seu valor estético, quanto pelo seu papel documental para a história. E é essa
criação, nascida em meio ao conflito, que é capaz de suscitar questionamentos e
transformações na sociedade.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Obras Escolhidas. Vol. 1. São
Paulo: Brasiliense, 1987.
ROSA, João Guimarães. Meu tio, o Iauaretê. In: Estas estórias. 3. ed. Rio de
Janeiro: NovaFronteira, 1985.
Universidade de Taubaté
A HISTÓRIA ATRAVÉS DA LITERATURA E SUAS RELAÇÕES COM
OS CONTOS “CELEIRO EM CHAMAS E “MEU TIO, O IAUARETÊ”
Taubaté
Outubro - 2017
NATHÁLIA DE CASTRO AGGEU RICARDO
Universidade de Taubaté
Taubaté - 2017