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Soluções – Guião de leitura Auto da Índia (Para)Textos • 9.

° ano

Guião de leitura Auto da Índia, Gil Vicente


TESTE DE VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1.1. b..; 1.2. a.; 1.3. c..; 1.4. b..

ASPETOS PARATEXTUAIS

1.1. a.
2.1. Uma farsa tem um carácter satírico e pretende gerar o cómico, denunciando os defeitos e os
vícios dos membros da sociedade. Se, na introdução, é referido que este texto é uma farsa e são
referidas algumas personagens nela intervenientes, é possível depreender que estas, provavelmente,
apresentarão defeitos ou fraquezas comuns à sociedade em que se inserem e que serão usadas
como exemplo para criticar essa mesma sociedade.
2.2. Ao ler apenas o título, o leitor é levado a pensar que a ação decorre na Índia ou que a Índia terá,
de alguma maneira, um papel preponderante. Após a leitura da introdução, é percetível que a Índia é
o destino de um marido que entretanto embarcara. No entanto, apesar de, na farsa, se criticar o
comportamento dos portugueses na Índia, dá-se mais relevância ao facto de a mulher ter ficado
aborrecida com a perspetiva de o marido não ter partido.

GUIÃO DE LEITURA ORIENTADA

PRÉ-LEITURA / ORALIDADE

Materiais áudio e vídeo


Canção “Trovas Vicentinas” e respetiva letra, de Rui Veloso, disponíveis no CD de Recursos.
1.1. a., d., e., f.
1.2.1. Os versos são apresentados de uma forma quase sarcástica, uma vez que é sugerido aos
homens que partiram em busca de riqueza fácil que, ao regressarem, encarem o adultério como um
mal necessário, uma consequência inevitável da missão que cumpriram em nome do império
português. Assim, é apresentada uma perspetiva negativa dos Descobrimentos – se é certo que
houve uma grande expansão do país e que os portugueses foram responsáveis por feitos grandiosos,
também é certo que houve um lado obscuro e uma das suas características foi a separação das
famílias e a maior facilidade com que poderiam ocorrer relações adúlteras.
1.2.2. Os recursos expressivos usados são a ironia e a metáfora.

LEITURA / EDUCAÇÃO LITERÁRIA


1.

Estrutura interna do Auto da Índia


Parte Linhas Síntese do assunto

Exposição 1-95 Partida do Marido na expedição de Tristão da


Cunha

Conflito 96-383 Infidelidade da Ama (relação adúltera com o


Castelhano e com Lemos)

Desenlace 384-514 Regresso do marido

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2.1. c.

2.2.1. O argumento informa que uma mulher está pesarosa, não porque o seu marido esteja prestes a
partir numa armada para a Índia, mas porque parece que já não vai (v. 32).

3.1. O recurso expressivo é a sinédoque.

3.2. Através da sinédoque, substitui-se a região ou o país pelo seu produto mais característico, no
caso, a especiaria mais cobiçada pelos comerciantes portugueses. Contudo, é “negra”, logo
qualificada negativamente.

3.3. O carácter negativo associado à Índia será confirmado, nomeadamente, nos vv. 493-497.

4.1. “Virtuosa está minha ama/do triste dele hei dó.” (vv. 55, 56); “Todos ficassem assi:/Leixou-lhe
pera três anos/trigo, azeite, mel e panos.” (vv. 64-66)

5.1. c.

5.2. A linguagem do Castelhano é artificiosa por ser tão destoante da linguagem comum, por recorrer
constantemente a recursos expressivos como a metáfora e a hipérbole, por ser declamatória e pouco
sincera, tendo como objetivo impressionar a Ama.

6.1. Um sinónimo de “rebolão” é “fanfarrão”: a Moça destaca esse traço com a frase exclamativa e
enfática. Nota: O tipo do fanfarrão, de entradas de leão e saídas de sendeiro, tem constituído ao
longo da história do teatro um recurso cómico frequente.

7.1. “Quem? O rascão do sombreiro?” (v. 210).

7.1.1. Lemos, inicialmente, ordena à moça que vá ao mercado (“à Ribeira”, v. 266) e que compre tudo
o que nele estiver, pois tudo “s’ há-de gastar” (v. 268), como se tivesse dinheiro à larga; porém,
posteriormente mostra que não tem dinheiro para comprar nem “azevias” (espécie de linguado), nem
um “cabrito” (v. 275), nem “ostras”. A moça espanta-se com tanta penúria “Dais-me um cinquinho, no
mais?” (v. 282).

8.1. A ama alega que a vizinhança estranhará, dada a ausência do marido, ouvir um homem cantar.

9.1. Engendra-se um cómico de situação: a Ama, não querendo que os dois pretendentes se
encontrem, lança mão de todo o tipo de expedientes para evitar o escândalo.

9.2. O comportamento da Ama, nesse aperto, atesta o seu desembaraço, a sua capacidade de
arranjar expedientes e de dissimulação. De facto, mal soa o ruído das pedrinhas atiradas à janela, a
Ama diz logo que são miúdos a brincar; por outro lado, ao Castelhano diz que é o irmão que está
dentro de casa; ao Lemos que quem falava era o castelhano vinagreiro (vendedor de vinagre),
novamente ao Lemos que se enfie na cozinha…

9.3. “Quantas artes, quantas manhas/que sabe fazer minha ama!/Um na rua, outro na cama.” (vv.
353-355).

10. a. tempo dramático; b. tempo histórico; c. tempo psicológico.

11.1. “Fomos ao rio de Meca,/pelejámos e roubámos,/e muito risco passámos/à vela, árvore seca.”
(vv. 464-467)

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11.1.1. As características apontadas remetem para um anti-herói, pois refere-se o roubo e não um
motivo nobre para a “peleja”. Para além disso, o Marido queixa-se das “fadigas”, das “mortes”, dos
“perigos” que por lá passou, do seu capitão que não lhe permitiu ficar com a sua parte do saque, etc.

11.2. A Ama confirma invulgar capacidade de dissimulação, pois adapta-se rapidamente à situação
inesperada, mandando a moça dar um ar de desmazelo à casa, declarando diante do marido que se
consumia em jejuns, peregrinações, saudades enquanto ele estava ausente…

12.

Personagem Caracterização direta Caracterização indireta


Autocaracterização Heterocaracterização
– Adúltera (v. 8) – adúltera, manhosa – adúltera
– “moça e fermosa” (vv. 353-354) [Moça] – insatisfeita com o marido
(v. 86) – trocista (vv. 119-122) (vv. 62-3)
– nome: Constança [Castelhano] – com temperamento sensual
– “crua” (v. 231) [Lemos] (vv. 86-90,91-93)
Ama – esperta e hábil
– pragmática/realista (v. 123)
– hipócrita e mentirosa
– interesseira/materialista
(v. 510)
– “mal estreada” (v. 3) – crítica e irónica/mordaz em
[Ama] relação às outras
– “Perra, cadela, tinhosa personagens (vv. 5-7, 55, 70-
[…]” (vv. 408-409) [Ama] 73, 202-203, 208-209, 212,
216-217, 352-355 )
Moça
– confidente da Ama
– irónica, mordaz
– compassiva em relação ao
Marido da Ama (v.56)
– valente – insignificante (v.98) [Ama] – impulsivo, charmoso,
– apaixonado – “rebolão” (v. 201) [Moça] – exagerado
com posses (vv.194- – ladrão (v. 202) [Moça] – fanfarrão
195) – rufia (v. 205) [Moça] – fraco/inofensivo
Castelhano – agradável (v. 203) [Ama] – com um discurso galanteador,
loquaz e supostamente
poético
– idealista
– oportunista (vv.128-129)
– rico (vv.266-268) – “rascão do – sem dinheiro (vv. 269-283)
– apaixonado (v.227) sombreiro”/conquistador – conquistador oportunista
(v. 210) [Moça]
– rude; simples
– pobre/pelintra (vv.213-
214) [Moça] – ingénuo (vv. 245-250)
Lemos
– “antigo escudeiro” – com um discurso pobre e claro
(v. 211) [Ama]
– “Meu namorado perdido”
(v. 219) [Ama]

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– pobre (vv. 499-501) – atraiçoado (vv. 8, 77-78) – ambicioso/ganancioso


– apaixonado pela [Ama] (vv.30-31)
esposa (v. 422) – “triste” (v. 56) [Moça] – ingénuo/crédulo
– viagem: – sem desejos amorosos atencioso para com a esposa
perigo/tormenta (vv. 62-63) [Ama] (final)
Marido – com um – insensato (vv. 130-138)
comportamento [Castelhano]
reprovável no – cobarde (vv. 380-381)
Oriente: fadigas, [Ama]
brigas, pilhagem e
assassínio – “negro e tostado” (v. 420)

13. d.

PÓS-LEITURA / ESCRITA

1.1. Sugestão de resposta:


As estâncias transcritas abordam o tema dos Descobrimentos portugueses, realçando o seu lado
negativo.
Tal como no Auto da Índia, apresenta-se o reverso das Descobertas. O Velho do Restelo alerta
para o facto de os marinheiros, movidos pela “cobiça”, partirem em busca de “Fama” e “Glória”, o que
acontece com a armada de Tristão da Cunha, que parte para a Índia, buscando riqueza. Também
avisa que essa ambição é “fonte [...] de adultérios” e consome “fazendas” e “impérios” – a traição da
Ama exemplifica isso, bem como a atuação dos portugueses no Oriente.
Assim, quer através da amargura do Velho do Restelo quer através do humor das personagens
do auto vicentino faz-se uma crítica ao lado mais negro dos Descobrimentos.

[119 palavras]

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