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inteiramente puras, e que retêm alguma coisa da forma

RESUMO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E DE PLATÃO


forçadas a errar nesses lugares, aonde levam a pena de
Seleção de trechos por Allan Kardec (Cf. O Evangelho segundo o Espiritismo, “Introdução”, traduzido literalmente de modo a manter a escrita
reconduzam a um corpo; e então elas retomam, sem dú
versão original constante desta obra).
XXX.] 
Foram acrescentadas as referências às obras de Platão de onde os trechos foram retirados. 
 
 
V. Após nossa morte, o gênio (daimon1, d
I. O homem é uma alma encarnada. Antes de sua encarnação, ela existia unida aos tipos primordiais, às ideias ao Hades
ser conduzidos do verdadeiro,
2
 para do bemjulgados.
aí ser e do belo;
Asdeles
alm
separa em se encarnando e, recordando seu passado, ela é mais ou menos atormentada pelo desejo de aí voltar. períodos.
[ [PLATÃO, Fédon, LVII.]
1
   Daimon: no latim daemon, no árabe djin
Deidade, espírito, podendo o termo servir tanto para um
II. A alma se desgarra e se perturba quando se serve do corpo para considerar algum objeto; ela tem vertigens 2 como se estivesse ébria, porque se lig
 Hades: literalmente, o “Invisível”; mund
coisas que são, por sua natureza, sujeitas a mudanças; ao passo que, quando contempla sua própria essência, ela se dirige para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo
 
mesma natureza, aí permanece ligada por tão longo tempo quanto o possa; então seus desgarramentos cessam, porque ela está unida ao que é imutável, e esse estado
alma é o que se chama sabedoria. [PLATÃO, Fédon, XXVII.]  VI. Os demônios preenchem o intervalo q
em comunicação direta com o homem, é pelo intermé
 
[PLATÃO, Banquete, 202b-203.] 
III. Enquanto nós tivermos nosso corpo e a alma se encontrar mergulhada nesta corrupção, jamais possuiremos o objeto de nossos desejos: a verdade. C
 
efeito, o corpo nos suscita mil obstáculos pela necessidade em que estamos de tomar cuidado dele; ademais, ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de
VII. Aenquanto
quimeras e de mil tolices, de maneira que com ele é impossível ser sábio um instante. Mas, se é possível nada conhecer puramente preocupação constante
a alma do ao
está unida filósofo
corpo
senão um
preciso de duas coisas uma, ou que não se conheça jamais a verdade, ou que se a conheça depois da morte. Libertados da instante, do corpo,
loucura do que emnós
vista da eternidade.então,
conversaremos Se a aé

se esperar, com homens igualmente livres, e conheceremos por nós mesmos a essência das coisas. É por isso que os verdadeiros
  filósofos se exercitam para morrer,
morte não lhes parece de nenhum modo temível. [PLATÃO, Fédon, XI.] 
VIII. Se a alma é imaterial, ela deve ir,
  retorna à matéria. Somente importa bem distinguir a a
menosmanchada
IV. A alma impura, nesse estado, é pesada e arrastada de novo para o mundo visível pelo horror de impurezas
do que é invisível e imaterial;materiais
ela erra que a impedem
então, diz-se,
(final).] 
torno dos monumentos e dos túmulos, perto dos quais se têm visto por vezes fantasmas tenebrosos, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem es
  quando dela nasce o bem. [PLATÃO, Primeiro Alcibíades

IX. Se a morte fosse a dissolução do homem todo inteiro, seria um grande ganho para os maldosos, após sua  morte, ser libertos ao mesmo tempo de
corpo, de sua alma e de seus vícios. Aquele que ornou sua alma, não de um enfeite estranho, mas do que lhe é próprio, só esteXIV.
poderá
A esperar
riquezatranquilamente a hora de
é um grande perigo. To
partida para o outro mundo. [PLATÃO, Fédon, excertos de LVII e LXIII.]  estranha do que o que está nele. [PLATÃO, Primeiro Alci
   
X. O corpo conserva os vestígios bem marcados dos cuidados que se tomou com ele ou dos acidentes que provou;
XV. éAsdamais
mesma
belasforma com
e osa mais
alma;belos
quan
preces
ela é despojada do corpo, leva os traços evidentes de seu caráter, de suas afeições e as impressões que cada um coisa
dos atos de que
sua os
vida aí deixou. Assim,
maisa consideração
maior infelicidp
grave deuses tivessem
que possa acontecer ao homem é ir para o outro mundo com uma alma carregada de crimes. Vês, Cálicles, quenão, nem tu,hánem Pólus, nem Górgias saberíeis provar
não de verdadeiramente justos e sábios senãoque
aq
deve levar uma outra vida que nos será útil quando estivermos lá embaixo. De tantas opiniões diversas, a únicaAlcibíades,
que permanece inabalável é que
XIII (150a).] 
cometer uma injustiça, e que, antes de todas as coisas, deve-se aplicar, não em parecer homem de bem, mas em sê-lo. (Diálogos de Sócrates com seus discípulos em
 
prisão). [PLATÃO, Górgias, síntese de LXXX e LXXXIII.] 
XVI. Eu chamo homem vicioso a esse am
 
nossa inteligência; é encontrado até no movimento dos a
XI. De duas coisas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou ela é a passagem de uma almaperfumes.
a um outro lugar.o Se tudo deve
dá asepaz
extinguir, a morte
É ainda amor que aos homens, a cas
como uma dessas raras noites que nós passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Mas se a morte não é senão uma mudança de morada, a passag
 
a um lugar onde os mortos devem se reunir, que bem-aventurança de aí reencontrar aqueles que se conheceu! Meu maior prazer seria examinar de perto os habitan
dessa morada e aí distinguir, como aqui, aqueles que são sábios daqueles que creem sê-lo e não o são. Mas é tempo de nosXVII. A virtude
deixarmos, não pode
eu para ser vós
morrer, ensinada; el
para viv
(Sócrates a seus juízes). [PLATÃO, Apologia de Sócrates, excertos de XXIX e XXX.]   
  XVIII. É uma disposição natural a cada u
XII. Não é preciso jamais retribuir injustiça por injustiça, nem fazer mal a ninguém, por mais mal que se nos   tenha feito
admitirão esse princípio, e as gentes que estão divididas sobre isso não devem senão se desprezar umas às outras. [
XIX. Se os médicos fracassam na maior
  que a parte se porte bem. [PLATÃO, Cármides, síntese de
XIII. É pelos frutos que se reconhece a árvore*. É preciso qualificar cada ação segundo o que ela produz: chamá-la
  má quando dela provém o mal, b
XX. Todos os homens, a começar desde a infância, fazem muito mais mal do que bem. [PLATÃO A contento, fiz uma tradução de todo o enorme
disponibilizado pela Gallica - site da Bibliothèque natio
  português. Também ali coloco o link para o original fran
é uma excelente leitura sobre a vida e obra do grande filó
XXI. Há a sabedoria em não acreditar saber o que tu não sabes. [PLATÃO, Teeteto, XLIV.] 

Tentemos torná-los, de início, se é possível, mais honestos em palavras; se não, não nos importemos com eles
nos instruir, mas não nos injuriemos. [PLATÃO, O Sofista, XXXIII (246d); Laques, 195a.] 

Primeiro e Segundo Alcibíades,


Fédon,

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Nota:
 * Embora não haja ainda encontrado a referência platônica desta frase, ao menos da maneira como está escrita, o sentido próximo da passagem, associado
imagens da árvore e dos frutos, encontra-se em Xenofonte (Memoráveis, 4:6) e Platão (Fedro, 260c; República

Depois de anos de pesquisa em documentos digitais franceses, concluí, com boa dose de certeza, que Allan Kardec, na Introdução do seu
Espiritismo, no "Resumo da doutrina de Sócrates e Platão", utilizou a exposição da vida e obra de Platão que consta da
recuados até nossos dias [Nouvelle biographie générale depuis les temps les plus reculés jusqu'a nos jours
publicada pela Firmin Didot Frères, em Paris, 1862. O verbete “Platão”, escrito pelo próprio Hoefer, traz exatamente os trechos platônicos citados por Kardec (que Hoe
tirou da edição das obras platônicas de Stallbaum). Mas, entre as citações de Platão, Kardec incluiu alguns comentários do próprio Hoefer e neles se inspirou para escre
certas ideias sobre a filosofia antiga. A frase “É pelos frutos que se reconhece a árvore” se encontra no mesmo local, logo antes da citação do
Hoefer, mas como comentário dele a essa citação. A meu ver, Kardec provavelmente incluiu o comentário de Hoefer, tanto pela pertinência dele, quanto pela perfe
ocasião de conciliação da doutrina platônica com a cristã (e, consequentemente, com a espírita, objetivo de sua obra
parece-me despropositado continuar procurando de qual obra platônica Kardec tirou esta frase cristã, pois é suficiente descobrir sua (altamente) provável fonte de pesqu
e nela encontrar a famosa frase. 

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