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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do 18º Juizado Especial Cível e das

Relações de Consumo da Comarca de Recife do Tribunal de Justiça de Pernambuco

PROCESSO n.º 0012366-97.2019.8.17.8201

Mônica Maria dos Santos, já devidamente qualificada nos autos da AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DE INDENIZAÇÃO
MORAL COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA, em face “COMPANHIA
ENERGÉTICA DE PERNAMBUCO S.A.”, por seus procuradores, vem respeitosamente
à presença de Vossa Excelência oferecer

CONTRARRAZÕES AO RECURSO INOMINADO

interposto, na forma do artigos. 42, § 2º da Lei nº 9.099/95, requerendo a remessa dos


autos para a superior instância para a manutenção da respeitável sentença recorrida.

Termos em que
pede deferimento.

Recife, 30 de setembro de 2019

Hugo Leonardo Alves Paolla Barbosa Xavier Wendy Anushika


Lima OAB/PE 48.250 Alves Cavalcanti
OAB/PE 48.013 OAB/PE 38.496
CONTRARRAZÕES DO RECURSO INOMINADO

PROCESSO n.º 0012366-97.2019.8.17.8201

18º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo da Comarca de Recife do


Tribunal de Justiça de Pernambuco

Recorrente: COMPANHIA ENERGÉTICA DE PERNAMBUCO S.A.


Recorrida: Mônica Maria dos Santos

EGRÉGIO COLÉGIO RECURSAL


COLENDA TURMA
ÍNCLITOS JULGADORES

Merece ser mantida integralmente a respeitável sentença recorrida, em razão da correta


apreciação das questões de fato e de direito, conforme restará demonstrado ao final.

1. Da síntese processual

A embargante, Mônica Maria, promoveu AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DE INDENIZAÇÃO MORAL COM PEDIDO DE
TUTELA DE URGÊNCIA, cujos objetos são o reconhecimento da não subsistência de
débito perante a CELPE, devido ser uma cobrança ilegal, como ainda a indenização por
dano moral em razão da conduta lesiva.

A ação foi julgada no seguinte sentido:

[a]nte o exposto, tenho por CONSOLIDADA A TUTELA antecipadamente


concedida e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para
condenar a ré a, no prazo de 05 dias, desconstituir as faturas emitidas nos
valores de R$ 3.724,91 e de R$ 7.195,76, com vencimento em 01/03/2019 e
reemitir novas faturas de cobrança com base nos valores obtidos pela média de
consumo no semestre anterior ao da realização da vistoria e com nova data de
vencimento, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais).

Nesse prisma, tendo em vista que o magistrado determinou diversamente aquilo


que fora requerido pela embargante em sua petição inicial (isto é, requestou-se pela
declaração de inexistência de débito, e não a emissão de novas faturas, quando já houve
o pagamento pela consumação de energia elétrica), opôs-se embargos de declaração, os
quais foram acolhidos, consoante pode se observar do dispositivo da sentença referente à
irresignação recursal oposta:

“[a]nte o exposto, acolho os presentes embargos declaratórios, corrigindo o


erro material da sentença, passando a parte dispositiva a ter a seguinte redação:
“Ante o exposto, tenho por CONSOLIDADA A TUTELA antecipadamente
concedida e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDO para
condenar a ré a, no prazo de 05 dias, desconstituir as faturas emitidas nos
valores de R$ 3.724,91 e de R$ 7.195,76, com vencimento em 01/03/2019, sob
pena de multa diária de R$ 100,00” (sic)

Assim sendo, justa e equânime foi a decisão do magistrado de primeiro grau, uma
vez que pode-se perceber que houve a correta apreciação das questões de fato e de direito,
de modo que se espera a sua confirmação pelos seus próprios e jurídicos fundamentos.

2. Do direito

2.1 Da preliminar (INOVAÇÃO RECURSAL: da extinção do processo por


incompetência ante a necessidade de prova pericial)

Conforme pode se observa da irresignação recursal apresentada pela CELPE, esta


recorrente, tão somente no recurso inominado, arguiu pela necessidade de perícia técnica
na presente demanda. Nesse sentido, tendo em vista que a perquirição técnica
consubstancia como um meio de prova elaborado e complexo, sustentou sua assimetria
com os princípios que norteiam os Juizados Especiais Cíveis, na medida em que, segundo
o art. 3º, da lei n. 9.099/95, esse órgão teria tão apenas competência para julgamento de
causas de menor complexidade.

Pois bom. Antes de tudo, é imprescindível examinar que a CELPE, em seu


recurso, praticou atitude processualmente ilícita ao inovar nos argumentos trazidos
na peça apelatória. Afinal, a recorrente, em sua contestação, em nenhum momento
sustentou a necessidade de realização de perícia técnica no caso concreto, quando, na
verdade, nem há. Assim, a atitude contrária ao direito restou configurada, pois foi tão
somente, no recurso inominado, que houve a arguição da CELPE no sentido da
indispensabilidade da perquirição técnica como prova necessária para o deslinde desta
ação.

Nesse prisma, trata-se de “inovação recursal”, conduta essa vedada pelo nosso
ordenamento. Afinal, como é cediço, a Constituição Federal assegura o contraditório e
ampla defesa. Entrementes, não são garantias absolutas. Para tanto, é imprescindível que
as partes, seja como autor na petição inicial, seja como réu na contestação, apresentem,
desde o início da ação, todos os argumentos e fatos necessários para lastrear, ratificar e
comprovar a subsistência ou não de um direito.

É, inclusive, sobre o material fático apresentado pelos litigantes que o juiz fica
adstrito ao julgar a causa, sendo vedado, consequentemente, considerar fatos alheios aos
existentes no processo. O próprio art. 128, do CPC determina que o “[o] juiz decidirá a
lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não
suscitadas, a cujo respeito à lei exige a iniciativa da parte.”

Nesse sentido, por exemplo, não é permitido à parte aduzir fato ou documento
novo quando da interposição de eventual recurso; salva exceção contida no art. 1.014, do
CPC a qual possibilita quando se trata da existência de fatos novos relativos à matéria que
deixaram comprovadamente de ser arguidos no juízo a quo ou em instância originária por
motivo de força maior.

A inovação recursal se configura quando a parte, em sede recursal, utiliza-se


de argumentos não apresentados e nem discutidos em primeira instância. Tal
situação macula, veemente, os princípios da ampla defesa, do contraditório e do duplo
grau de jurisdição, afinal, surpreendente e tardiamente, são trazidos fundamentos novos
que sequer foram analisados pelas outras partes e pelo magistrado.

Ora, é imprescindível examinar, inclusive, que os arts. 9º e 10, do CPC de 2015


deram guarida (consolidaram) o “princípio da não surpresa” com a função precípua de
garantir a lealdade processual, de modo que a validade da decisão jurídica resta
dependente de que todos argumentos trazidos ao processo possam ser devidamente objeto
de análise de todos por aqueles que compõem a relação jurídico processual (via de regra,
juiz e partes).

Desse modo, se o processo civil zela pela colaboração de todos e por um


julgamento substancial do mérito, óbvio que suprimir, no momento inicial do processo,
argumentos para serem apresentados posteriormente numa oportunidade recursal se
revela conduta desleal, pois as partes adversárias e o juiz de primeiro grau, nesse caso,
são desprezados enquanto sujeitos indispensáveis à consubstanciação do devido processo
legal.

Nesse esteira, preceitua o Ilustre Professor José Carlos Barbosa Moreira: “O


sistema contrário, ou seja, o da permissão de inovar no procedimento da apelação,
estimularia a deslealdade processual, porque propiciaria à parte que guardasse suas
melhores provas e seus melhores argumentos para apresentá-los somente ao juízo recursal
de segundo grau.” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de
processo civil, vol. V. Rio de Janeiro: Forense, 2017, n. 248. Págs. 452 a 454) (original
sem destaques)

Portanto, caso a matéria não tenha sido arguida no primeiro grau ou em


instância originária, salvo se a parte comprovar que não podia fazê-lo por motivo
de força maior, caracterizada estará a preclusão, tendo em vista a inovação recursal
ser vedada.

Esse, inclusive, é o entendimento sedimentado na jurisprudência pátria:

APELAÇÃO - INOVAÇÃO RECURSAL - NÃO CONHECIMENTO.

Regra geral, é vedado à parte inovar no juízo de apelação, não podendo


ser conhecida sua insurgência sobre tais questões.

(TJ-MG - AC: 10477130009533001 MG, Relator: Selma Marques, Data de


Julgamento: 30/09/2014, Câmaras Cíveis / 6ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 10/10/2014) (original sem destaques)

E mais:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INOVAÇÃO


RECURSAL. COISA JULGADA. AUSÊNCIA DE INTERESSE.
1. Não pode ser conhecida, em grau recursal, matéria não deduzida e
apreciada na instância singela, porquanto a inovação recursal ofende os
princípios do duplo grau de jurisdição e da dialeticidade.
2. É vedado às partes debaterem questões decididas definitivamente,
acobertadas pelo manto da coisa julgada, sob pena de violação ao artigo 5º,
inciso XXXVI, da Constituição Federal/88, bem como, ao artigo 502 do Novo
Código de Processo Civil.
3. Carece de interesse recursal a parte que recorre de matérias em que não
restou sucumbente. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.
(TJ-GO – Apelação Cível (CPC): 04459592720128090051, Relator: ORLOFF
NEVES ROCHA, Data de Julgamento: 04/04/2019, 1ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ de 04/04/2019) (original sem destaques)

Isso posto, tendo em vista que a CELPE aduziu argumentos novos no seu
recurso inominado e, portanto, praticou conduta processualmente ilícita (“inovação
recursal”), REQUESTA-SE que não seja acolhida a presente preliminar.

Ademais, conforme é cediço e se pôde observar, inovação recursal se trata de


comportamento desleal, o que caracteriza conduta temerária e, portanto, litigância de má-
fé, conforme pondera o art. 80, inciso V, do CPC.

Nesse sentido, REQUESTA-SE que a CELPE (recorrente) seja condenada a


pagar multa no valor de 10% do valor corrigido do valor da causa, por litigância de má-
fé, na medida em que tal percentagem se mostra como cifra em harmonia com princípios
da razoabilidade e proporcionalidade no que diz respeito ao seu caráter pedagógico
(repressivo e inibitório).
Em razão do princípio da eventualidade, caso os julgadores entendam que
não se trata de hipótese de subsunção de “inovação recursal” (o que não se acredita),
deve a preliminar arguida pela CELPE não ser acolhida, sob o fundamento de
desnecessidade de perícia técnica.
Afinal, discute-se, primeiramente, invalidade do “termo de ocorrência e inspeção”
(TOI), o qual foi ilegal pois não se observou os princípios de ampla defesa e de
contraditório. Ou seja, fato que não requer a realização de uma perícia técnica.
E mais, ainda em virtude do princípio da eventualidade, ainda que se entenda pela
validade do “termo de ocorrência e inspeção” (TOI), este apenas constatou a ausência do
selo (“mediação violada”), fato esse insuficiente para predicar fraude no equipamento de
aferição e, portanto, afirmar a subsistência de desvio de energia elétrica. Ora, questão essa
que, igualmente, não carece da realização de uma perícia técnica.
Assim, REQUESTA-SE que não seja acolhida a preliminar, tendo em vista ser
desnecessária a perícia técnica, na medida em que a celeuma jurídica circunscreve-se
quanto à invalidade do “termo de ocorrência e inspeção” (TOI) e à ausência do selo do
não configurar fraude.
2.2 Da fundamentação jurídica

Consoante se verifica do recurso interposto pela CELPE, esta apenas se limitou a


aduzir que “no que diz respeito a suposta unilateralidade do procedimento, é oportuno
destacar que a inspeção foi devidamente acompanhada”.
Ora, o “termo de ocorrência (TOI)” é, justamente, inválido por este ter sido
acompanhado por pessoa estranha à relação contratual de consumo, de modo que resta
caracterizada a sua unilateralidade, o que conspurcou os princípios do devido processo
legal, da ampla defesa e do contraditório.

A fundamentação quanto à unilateralidade do “termo de ocorrência (TOI)”foi bem


exposta na petição inicial:

No “termo de ocorrência e inspeção” n. 4402838077, datado em


07/12/2018, na aba “usuário encontrado”, foi escrito o nome da Senhora
Mônica Maria dos Santos INDEVIDAMENTE, pois esta, conquanto seja
a titular da relação de consumo quanto ao fornecimento de energia, não
mora no imóvel, não tem o apartamento em questão como domicílio na
acepção do Código Civil, ela é apenas a locadora e, obviamente, não se
encontrava no local, pois quem mora no referente imóvel logrado na Rua Dr.
Devaldo Borges, Jardim São Paulo, é a locatária, a senhora Gilmara Regueira
da Silva Braga.

E mais, observa-se que, no “termo de ocorrência e inspeção” em


epígrafe, houve o acompanhamento por pessoa TOTALMENTE ESTRANHA
à relação jurídica de consumo. Sabe-se lá quem é a senhora “Maria José da
Silva”! Ela possivelmente era uma transeunte, menos síndica, pois o edifício
onde se encontra o apartamento não possui sequer a convenção de condomínio
registrada, consoante determina o art. 9º, § 1º, da lei n. 4.591/64, como poderia,
portanto, falar em síndica?

Nesses termos, a ilegitimidade e, portanto, a nulidade do termo de


ocorrência e inspeção restam claras quando “Maria José da Silva” não é
nem a senhora Mônica Maria dos Santos, titular da relação de consumo
frente à CELPE (isto é, a responsável pela unidade consumidora
judicialmente), quando não é também nenhum morador do imóvel locado
à senhora Gilmara Regueira da Silva Braga, (pessoas as quais foram
delegadas a responsabilidade para usufruir do consumo).
Ora, é regra, inclusive insculpida como princípio na Constituição
Federal (art. 5º, inciso LIV), que o devido processo legal, administrativo ou
judiciário, é munido da necessidade de que as partes envolvidas sejam
legítimas, tenham amparo jurídico para compor a relação processual.

Seria um absurdo ao Estado Democrático de Direito como à segurança


jurídica que qualquer pessoa viesse poder vir a participar de relações jurídicas
processuais jurídicas ou administrativas alheias, razão pela qual a
jurisprudência pátria já determinou que o entendimento do art. 129, da
resolução n. 414/2010 que coaduna com os princípios de Direito é aquele
no qual o “TOI” (termo de ocorrência e inspeção) se consubstancia como
um procedimento válido tão somente se o titular da relação jurídica ou
algum morador do imóvel acompanhar o referido processo.

Esse entendimento é deveras pacífico, consoante pode se examinar:

APELAÇÃO. Ação declaratória de anulação de débito julgada procedente.


Prestação de serviços. Alegação de fraude em equipamento medidor de energia
elétrica. Termo de ocorrência de irregularidade (TOI) lavrado
unilateralmente. Inspeção realizada sem o acompanhamento do
responsável pela unidade consumidora (UC). Inobservância dos
procedimentos previstos na Resolução nº 414/2010 da ANEEL.
Equipamento retirado do local, inviabilizando a realização de perícia judicial.
Fraude não comprovada. Débito inexigível. Sentença mantida. Recurso não
provido.
(TJ-SP 10154313920168260344 SP 1015431-39.2016.8.26.0344, Relator:
Silveira Paulilo, Data de Julgamento: 28/07/2018, 21ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 28/07/2018) (original sem destaques)

E mais:

AO PROCESSO Nº 0009827-15.2016.8.14.0000. ÓRGÃO JULGADOR: 3ª


CÂMARA CÍVEL ISOLADA RECURSO: AGRAVO DE INSTRUMENTO
COMARCA: SOURE (VARA ÚNICA DA COMARCA DE SOURE)
AGRAVANTE: CELPA REDE CENTRAIS ELETRICAS DO PARA SA
(ADVOGADO: LUIS OTÁVIO LOBO RODRIGUES OAB 4670)
AGRAVADO: HILARIO FILHO SOUZA SENA (DEFENSOR PÚBLICO:
FLAVIA CHRISTINA MARANHAO CAMPOS GOMES OAB 6399)
RELATORA: DESA. NADJA NARA COBRA MEDA EMENTA: AGRAVO
DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO. COBRANÇA
PELO CONSUMO IRREGULAR DE ENERGIA ELÉTRICA.
IRREGULARIDADE NO MEDIDOR. COBRANÇA DA DIFERENÇA DE
CONSUMO NÃO FATURADO REFERENTE AO PERIODO DE 03 ANOS.
TERMO DE OCORRÊNCIA DE INSPEÇÃO - TOI. PERICIA
ELABORADA DE FORMA UNILATERAL PELA PRÓPRIA
EMPRESA FORNECEDORA DE ENERGIA ELÉTRICA.
IMPOSSIBILIDADE. ILEGALIDADE. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.
I. A empresa agiu de forma totalmente unilateral e abusiva, vez que a
irregularidade constatada decorreu de procedimento unilateral, sem o
devido processo legal que consiste na realização de inspeção pericial com
real possibilidade de acompanhamento direto e concomitante pelo
consumidor, potencializando assim, um possível corte abusivo no
fornecimento de energia elétrica e cobrança ilegal do débito questionado.
II. A Concessionária não pode imputar a responsabilidade pelo consumo
irregular no medidor de energia do agravado com base em vistoria
realizada por seus próprios funcionários, sem garantir o exercício do
contraditório e a ampla defesa, pelo que não foi dado ao consumidor a
oportunidade de no momento da inspeção contar com profissional de sua
confiança para assisti-lo.
III. Com base no que está disposto na resolução nº 456/2000 da ANEEL em
seu artigo 72, caput, inciso II e III, o Termo de Ocorrência de Inspeção TOI,
lavrado unilateralmente pela concessionária, e não corroborado por outras
provas nos autos, não serve de suporte à cobrança da dívida, pois, vale reforçar
que trata-se de prova unilateral feita pela própria empresa agravante, ferindo o
critério da imparcialidade. O TOI não é uma prova absoluta e irrefutável, mas
apenas uma das providencias que devem ser adotadas pela empresa
concessionária de energia elétrica.
IV. RECURSO CONHECIDO E IMROVIDO.
(TJ-PA - AI: 00098271520168140000 BELÉM, Relator: NADJA NARA
COBRA MEDA, Data de Julgamento: 06/12/2016, 3ª CÂMARA CÍVEL
ISOLADA, Data de Publicação: 07/12/2016) (original sem destaques)

(...)
Nesse prisma, concordar com a interferência de terceiro em
relações jurídicas estranhas ao titular é, outrossim, macular toda e
qualquer possibilidade de defesa, ferindo, mais uma vez, horrivelmente o
princípio do devido processo legal, ainda mais porque, no caso, o
verdadeiro titular é extirpado e impedido de proceder a qualquer defesa
possível.

Por conseguinte, a nulidade do “termo de ocorrência e inspeção” já


se revela clara, a partir do momento que Mônica Maria dos Santos como
titular da relação jurídica de consumo não estava presente e não foi
notificada para se fazer presente no referido procedimento, quando tais
situações são necessárias para qualificar de validade o “termo de
ocorrência e inspeção”.

Ora, se já foi um absurdo pessoa estranha ter acompanhado o “termo de


ocorrência e inspeção”, mais absurdo ainda foi a senhora Mônica Maria
dos Santos não ter sido avisada da “avaliação técnica do equipamento de
medição em laboratório” (para se fazer presente ou levar assistente
técnico de sua confiança), como também não ter podido requerer a perícia
técnica, consoante faculta o art. 129, § 4º, da resolução normativa
414/2010, da ANEEL, pois não tinha conhecimento nenhum da realização
do toi.

Ou seja, por parte da CELPE, percebe-se o total desdenho em seguir a


legalidade, como ainda em observar os princípios que norteiam um Estado de
Direito Democrático. O desprezo pelo princípio do devido processo legal
solta aos olhos, visto que a senhora Mônica Maria em nenhum momento
pode se defender, quanto mais usar dos instrumentos de defesa ao seu
dispor pelo ordenamento.

Nesse sentido, é falsa a afirmação que a recorrida, Mônica Maria, tenha sido
participado do “termo de ocorrência e inspeção” (TOI) e tenha sido devidamente
notificada para comparecer à suposta inspeção realizada na SERVLOG, pois quem
assinou o citado termo foi um tal de Maria José que Deus sabe lá quem é, e, obviamente,
não é a titular da relação jurídica de consumo. Logo, não resta outra conduta a não ser
considerar como inválido o “termo de ocorrência e inspeção” em questão.
Demais disso, é importante verificar que só há como se falar em enriquecimento
sem causa se não houver a desconstituição das faturas (isto é, se houver a cobrança
das faturas), pois, se não houve, fraude e desvio de energia, cobrar da recorrida
aquilo que ela não consumira é se locupletar indevidamente.
Faz-se necessário examinar que a titular da relação jurídica, Mônica Maria, e a
locatária residente no imóvel, Gilmara Regueira, em nenhum momento, adulteraram o
medidor de consumo, ou seja, fraudaram o equipamento. O contador de energia elétrica
apenas estava sem o selo, fato esse que não caracteriza a fraude e o desvio de energia.
Na petição inicial, tal fundamento foi bem exposto:
Impera analisar, outrossim, que, embora o “termo de ocorrência e
inspeção” seja nulo pelas razões já expostas, se hipoteticamente considerasse
pela sua validade, faz-se necessário examinar que não houve a constatação de
adulteração do equipamento de energia, como também não se constatou o furto
de energia elétrica.

Simplesmente o que se verificou foi a ausência do selo de aferição,


fato este que por si só não é capaz de determinar que houve a
contabilização errônea da consumação de energia, de sorte que, por mais
um motivo, revela-se ilícita a cobrança efetuada pela presente companhia
energética; isso porque, INEXISTE PROVA A DEMONSTRAR TER A
COMPANHIA ENERGÉTICA SUPORTADO ALGUM PREJUÍZO,
COMO AINDA SEQUER FORA A SENHORA GILMARA REGUEIRA
DA SILVA BRAGA RESPONSÁVEL PELA AUSÊNCIA DO SELO.

Esse entendimento, inclusive, encontra-se deveras sólido na


jurisprudência pátria:

ADMINISTRATIVO - AÇÃO ORDINÁRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO - ENERGIA ELÉTRICA - MEDIDOR - NÃO COMPROVAÇÃO
DE CONSUMO A MENOR - COBRANÇA ILEGÍTIMA - ANULAÇÃO -
RECURSO PROVIDO.
Só é legal a cobrança presumida de energia elétrica quando há
comprovação de fraude no medidor que registra consumo inferior ao
efetivamente ocorrido, não bastando, para tanto, a simples constatação da
ausência e/ou rompimento de selos do medidor.
(TJ-MG - AC: 10035091431896001 MG, Relator: Elias Camilo, Data de
Julgamento: 27/03/2014, Câmaras Cíveis / 3ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 22/04/2014) (original sem destaques)

E mais:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - SUPOSTA CONSTATAÇÃO


DE IRREGULARIDADE PELA CEMIG NO MEDIDOR DE ENERGIA
ELÉTRICA - PROVA DA DIFERENÇA DE CONSUMO - AUSÊNCIA -
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
1. A despeito da presunção de veracidade do ato administrativo quanto à
ocorrência de fraude no medidor de energia elétrica, não restando
demonstrado nos autos que a violação do selo do medidor na unidade
consumidora teria ocasionado irregularidade na aferição do consumo,
mostra-se desarrazoada a cobrança perpetrada pela concessionária de
energia elétrica.
2. Recurso desprovido.
(TJ-MG - AC: 10024101448546002 MG, Relator: Teresa Cristina da Cunha
Peixoto, Data de Julgamento: 07/02/2013, Câmaras Cíveis Isoladas / 8ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/02/2013) (original sem destaques)

E ainda:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.COMARCA DE


CANÁPOLIS. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. FORNECIMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA DE DIFERENÇAS. DEVIDO
PROCESSO LEGAL. VIOLAÇÃO DO SELO. SUPOSTO ERRO DE
MEDIÇÃO. ÔNUS DA PROVA DA CONCESSIONÁRIA. REVISÃO DE
FATURAMENTO. NULIDADE DA COBRANÇA. DANO MORAL. NÃO
CONFIGURADO.
- A mera irregularidade configurada pelo rompimento do selo de medição
ou aferição é insuficiente para motivar a revisão do faturamento e a
cobrança de diferenças de consumo.
- Recai sobre a prestadora de serviços o ônus de demonstrar a ocorrência
de faturamento inferior ao correto ou que não houve qualquer
faturamento.
- Os princípios da boa-fé objetiva, da transparência e o dever de informar que
recaem sobre o fornecedor impede a cobrança de diferenças por supostos erros
de medição quando não estiver inequivocamente demonstrado que o consumo
real foi superior à contraprestação exigida.
- Não havendo interrupção do serviço de energia elétrica, resta afastado o dano
moral pleiteado pelo autor, pois a configuração da responsabilidade civil
depende do estabelecimento do nexo causal entre a atuação da prestadora de
serviços e o dano injustamente sofrido pelo usuário.
- Recurso parcialmente provido.
(TJ-MG - AC: 10118130022213001 MG, Relator: Kildare Carvalho, Data de
Julgamento: 18/05/2017, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 23/05/2017) (original sem destaques)

Portanto, resta evidente que a ausência do selo de aferição jamais poderia se


consubstanciar por si como elemento a definir uma leitura de consumação
equivocada por parte do contador de energia.

Desse modo, diante do fato que apenas o citado contador estava sem o selo,
medida que se impõe categoricamente é a compreensão pela leitura normal,
visto que não houve alteração no aparelho de leitura em questão.
Em síntese, na medida em que o “termo de ocorrência (TOI)” foi realizado sem a
notificação e presença de Mônica Maria como titular da relação jurídica, medida que se
impõe é o reconhecimento de sua invalidade. E, eventualmente, caso não reconheça sua
invalidade, impera observar que a ausência do selo não caracteriza a subsistência de
fraude e, no caso, portanto, a existência de desvio de energia.
Sendo assim, por questão de direito, imprescindível se revela a manutenção da
sentença dos embargos de declaração, reconhecendo a invalidade das duas faturas (fatura
n.045296411 R$ 3.724,91 e fatura n. 045296410 R$ 7.195,76)

3. Do pedido

Diante de todo o exposto, REQUER-SE que essa Egrégia Turma Recursal não
acolha, primeiramente, a preliminar arguida pela “COMPANHIA ENERGÉTICA DE
PERNAMBUCO S.A.”, em razão de se tratar de inovação recursal, e, se eventualmente
não for o caso, em razão de se tratar de hipótese de desnecessidade de perícia técnica.

E, demais disso, REQUER-SE que negue provimento ao recurso inominado


interposto pelo “COMPANHIA ENERGÉTICA DE PERNAMBUCO S.A.” e que, por
conseguinte, seja mantida a respeitável sentença do juiz de primeiro grau em todos os
seus termos, como forma de inteira justiça.

Por fim, REQUER-SE, ainda, a condenação da “COMPANHIA ENERGÉTICA


DE PERNAMBUCO S.A.” ao pagamento de 10% do valor da causa corrigido, por razão
de litigância de má-fé, conforme preceitua o art. 80, inciso V, do CPC e a condenação ao
pagamento de honorários advocatícios em 20% sobre o valor corrigido da causa.

Termos em que
pede deferimento.

Recife, 30 de setembro de 2019

Hugo Leonardo Alves Paolla Barbosa Xavier Wendy Anushika


Lima OAB/PE 48.250 Alves Cavalcanti
OAB/PE 48.013 OAB/PE 38.496

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