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RELATÓRIO CIRCUNSTANCIAL
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4. O Museu dos Baleeiros, afeto à estrutura do Museu do Pico [com estatuto de Museu
Regional], é a entidade responsável pela definição e desenvolvimento das políticas do
Património Baleeiro dos Açores, designadamente responsável pelo seu estudo,
inventariação, classificação, gestão, recuperação, preservação, promoção e
divulgação.
5. Não há dúvida quanto ao excelente trabalho realizado nesta área, visível pela
concretização de inúmeros projetos de recuperação, manutenção e preservação de
botes, lanchas, fábricas, casas de botes, portos e ancoradouros, particularmente
concentrados no grupo central [ver anexos]. O investimento nesta área foi de tal
ordem que recentemente vingou uma “asserção oficial” de que o Pico é a ilha da
baleia. Não é questionável a importância da ilha na actividade baleeira, seja no
domínio da construção naval [dos botes e lanchas, no caso particular], na quantidade e
diversidade das pessoas envolvidas, no impacto económico e social que produziu, no
facto de ter sido a última a abandonar a caça à baleia (1996), etc.
6. A razão que justifica a predominância tem a ver com “opções políticas” uma vez que,
na perspetiva do processo recente de desenvolvimento da Região, o Governo dos
Açores determinou [a certa altura] identificar as ilhas de acordo com eventuais
aptidões e/ou características supostamente intrínsecas. São Miguel seria a ilha do
ananás, do chá e das lagoas; enquanto a Terceira seria do património mundial das
touradas; o Faial seria dos veleiros e do mar; o Pico seria a ilha das baleias…
7. A opção, ainda que legítima, é extraordinariamente discutível por variadíssimas
razões. Desde logo, o facto de as ilhas serem, por razões históricas, geográficas,
sociais e culturais, um conjunto diversificado, mas claramente complementar. Existe
uma estrutura funcional arquipelágica que produz dinâmicas internas e externas que
são necessárias acautelar e promover, consubstanciadas nas relações entre as ilhas, as
comunidades e as pessoas, muito mais evidentes antes da disseminação dos
transportes tal como conhecemos hoje. Contudo, o impacto mais visível destas
políticas [desajustadas] resultou em assimetrias no direito de todos os Açorianos, de
todas as ilhas, preservarem o seu Património e, consequentemente, a sua Memória e
Identidade, como aconteceu com a ilha de São Miguel.
8. O certo é que o Pico possui um Museu dos Baleeiros [o mais visitado dos Açores!],
um Museu da Indústria Baleeira, a antiga fábrica da SIBIL recuperada em núcleo
museológico, várias casas de botes, tudo isto com recurso ao financiamento público.
O Faial [através do OMA - Observatório do Mar dos Açores] recuperou a Fábrica de
Porto Pim (ainda recentemente foi anunciado pelo Governo um investimento de 800
mil euros na sua qualificação). A Fábrica do Boqueirão, na ilha das Flores, foi
recuperada e também transformada em museu. Todo este trabalho foi importantíssimo
para as respetivas ilhas, e para os Açores no seu conjunto. Não deverá existir
quaisquer dúvidas quanto a isto. Todos os Açorianos devem orgulhar-se do enorme
sucesso deste processo, que deve ter continuidade no investimento e na sua promoção
e divulgação.
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9. No entanto, o património das restantes ilhas ficou completamente fora deste processo.
Caso mais chocante é, sem qualquer hesitação, a ilha de São Miguel. A destruição
recente da fábrica da baleia nas Capelas não motivou qualquer diligência oficial
conhecida (estudo, parecer, embargo, inquérito) que acautelasse o seu eventual
potencial interesse público e cultural, seja por iniciativa da Direção Regional da
Cultura ou proposta do Museu dos Baleeiros, ou da Comissão Consultiva do
Património Baleeiro ou da Câmara de Ponta Delgada, ou da Junta de Freguesia…
10. O trabalho desenvolvido [e publicado] pelo OMA relativo ao Inventário do
Património Baleeiro Imóvel da Região resultou na publicação de um “Roteiro do
Património Baleeiro de São Miguel e Santa Maria” (ver anexo). Neste documento,
pode constatar-se efectivamente a existência de sítios, portos, ancoradouros, vigias,
estações baleeiras e fábricas na ilha de São Miguel, sem que tivesse havido qualquer
investimento no seu estudo, preservação e aproveitamento cultural e turístico.
11. Ação meritória, digna de registo, foi a iniciativa do Museu Carlos Machado com a
aquisição do bote baleeiro “SANTA JOANA”. Esta embarcação integrou a extensa
frota dos botes baleeiros da União das Armações Baleeiras de São Miguel. A sua
preservação/classificação veio a revelar um facto importantíssimo porque destaca o
«design micaelense» no contexto da afirmação do Bote Baleeiro Açoriano. Muito
embora o projecto inicial da aquisição do “SANTA JOANA” pelo Museu Carlos
Machado tenha sido a sua recuperação e utilização [referência: Comunicar
InterMuseus, Outubro 2014, pág. 5)], o facto é que prevaleceu a opção de o manter
«no contexto original (?)»,abdicando da possibilidade de o recuperar em condições de
navegabilidade. O bote encontra-se exposto no Centro Comercial Parque Atlântico,
no âmbito de um protocolo de cooperação com a Sonae Sierra, beneficiando de
grande visibilidade, embora o efeito inicial de curiosidade esteja a ser gradualmente
substituído por uma certa indiferença, razão que explicará as condições precárias da
sua apresentação.
PATRIMÓNIO MICAELENSE
Ponto de Situação
5
< antes
depois >
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quanto à viabilidade do seu aproveitamento cultural, pedagógico e turístico no contexto do
Património Baleeiro dos Açores. O anterior Secretário Regional da Cultura propôs a
classificação da chaminé [única parte que resistiu ao ímpeto destruidor], o que não constitui
qualquer benefício e não tem suporte técnico-científico. Esta foi a primeira fábrica da baleia a
ser construída nos Açores e representa a fase mais pujante da industrialização baleação,
promotora de inovações tecnológicas associadas à actividade (referencias: “A Baleação e o
Estado Novo: industrialização e organização corporativa, 1938-1958”, Francisco Henriques)*
*
Livro a publicar no âmbito do Prémio de Humanidades Daniel de Sá 2014/Governo Regional dos Açores - 1ª Menção
Honrosa.
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e modernização da indústria baleeira na Região. Consequências deste processo está o
surgimento do «modelo de bote micaelense».
Falta de estratégia global, desinteresse das entidades locais e regionais, desconhecimento
público da história e dos factos contribuíram para que os botes de São Miguel caíssem no
esquecimento, abandonados, destruídos, «arrebatados» e vendidos para várias Instituições
fora da região. Para além do registo oficial que consta nas capitanias e nos arquivos da
UABSM [ambos necessário estudar em profundidade!], sabe-se da existência dos
seguintes botes:
CONCLUSÃO
De acordo com o disposto no Artigo nº 3, da Lei 39/80, de 5 de Agosto, no que concerne aos
objectivos fundamentais do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos
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Açores, na obrigação dos seus órgão próprios de promoverem a identidade e os valores
Açorianos; a salvaguarda o património histórico; o fomento a coesão económica e os laços
sociais e culturais de todos os Açorianos; cumulativamente com o respeito pela participação
livre e democrática dos cidadãos e a efetivação dos seus direitos constitucionalmente
consagrados pelo Artigo 48º, alínea 2, do CAPÍTULO II da CRP; coadjuvado no DLR
21/99/A, que define o regime jurídico dos conselhos de ilha, assinaladamente no que refere a
alínea f) do n.º 2 do Artigo 18º, vimos mui respeitosamente dirigir o presente documento que
visa REQUERER ao Exmo. Sr. Presidente do Conselho de Ilha de São Miguel a inclusão do
seguinte ponto na ordem de trabalhos da próxima reunião da assembleia do CISM:
Tratando-se de um tema específico e para favorecer uma análise e debate sérios e produtivos,
recomendamos a distribuição antecipada do presente Relatório Circunstancial pelos
digníssimos membros do CISM, sugerindo ainda que V. Excia. solicite informação previa à
Direcção Regional da Cultura, incidente nos seguintes pontos:
1. Reconhece o Governo dos Açores o estado de abandono a que foi sujeito o Património
Baleeiro, móvel e imóvel, da ilha de São Miguel? Que medidas se preconizam para alterar
a situação?
2. Qual a proporcionalidade das verbas atribuídas à ilha de São Miguel, no âmbito do
Programa de Recuperação do Património Baleeiro dos Açores [DRC], desde 1998 até
hoje?
3. É do conhecimento do Governo dos Açores a existência de um modelo construtivo,
designado por «bote micaelense», específico de São Miguel e que se diferencia esta ilha
no contexto do Bote Baleeiro Açoriano?
4. É do interesse do Governo dos Açores o estudo, preservação, recuperação e reconstrução
destes «botes micaelenses», pelo seu caracter distintivo e enriquecedor para o Património
Baleeiro da Região? Qual a prioridade que lhe será dado?
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Miguel Cravinho José Paulo Bolarinho
Secção do Bote Baleeiro Presidente da Direção
Clube Naval de Vila Franca do Campo Clube Naval de Vila Franca do Campo
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