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N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

O Salto dos Órfãos: o pós-modernismo sem


modernismo da dramaturgia peruana atual
Alfredo Bushby 1
Tradução: Juliano Borba

Resumo

gurou como um
movimento inexistente, principalmente pela falta de um “pai”
que a introduzisse na modernidade, que a encaminhasse numa
continuidade da tradição, que desse aos novos dramaturgos
a sensação de possibilidade. No entanto, é precisamente essa
“orfandade” que há feito com que a dramaturgia peruana pós-
moderna desse um salto quantitativo e qualitativo não visto
durante todo o século XX. A falta do “pai” nos tempos em que os
patrocínios se desmantelam ou já não interessam, pode ser um
impulso antes que um obstáculo.

Palavras-chave: dramaturgia latino-americana; dramaturgia


peruana; modernidade/pós-modernidade

Abstract

Modern Peruvian dramaturgy can be seen as almost non-


gure that could
have introduced this dramaturgy into modernity and established
certain continuity with tradition giving the new dramaturgs a
sense of possibility. However, it is precisely this condition of being
orfan that has allowed Peruvian postmodern dramaturgy to make
a leap in quantity and quality unexperienced during the twentieth
gure can be a stimulus more than
an obstacle in times where all kinds of patronage are being
dismantled or remain of little interest.

Keywords: Latin-american dramaturgy; Peruvian


dramaturgy; Modernity/Postmodernity

1 Estudou literatura na Pontifícia Universidade Católica do Peru e fez pós-graduação em Teatro e Literatura Latino-americana na Universida-
de de Austin no Texas. Ganhou prêmios como dramaturgo e entre suas obras se destaca História de um Gol Peruano.

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O SALTO DOS ÓRFÃOS: O PÓS-MODERNISMO SEM MODERNISMO DA DRAMATURGIA PERUANA ATUAL
U rdimento N° 20 | Setembro de 2013

Uma Ignorância Documentada ca foram publicados. Era parte do plano,


porém, por alguma razão, decidiu-se sus-
Nos primeiros anos da década de no- pender o projeto antes da saída à luz destes
venta, o Centro de Documentação Teatral dois últimos volumes.
do Ministério da Cultura da Espanha, a So- Para quem crê que a marginalização do
ciedade Estatal Quinto Centenário e o Fun- Peru na antologia mencionada é um caso
lial Espanha) isolado que responde à ignorância de nos-
empreenderam a publicação de antologias sa dramaturgia por parte dos editores es-
de dramaturgia contemporânea de todos os trangeiros, devo mencionar o caso de outra
países ibero-americanos. O projeto se jus- antologia, dessa vez peruana.
cava plenamente devido à riqueza que A partir de 2001, a Pontifícia Univer-
havia mostrado o que podemos chamar sidade Católica do Peru assumiu a tarefa
de momento modernista da dramaturgia de publicar diversos volumes de obras dra-
latino-americana, cujo desenvolvimento máticas peruanas. O projeto contemplava
foi desde a década de cinquenta até a dos a publicação por etapas históricas: Teatro
oitenta do século XX. Estas antologias re- quéchua, Teatro colonial: séculos XVI-
colhiam obras escritas desde 1950 e foram XVII, Teatro colonial: Século XIII, Teatro
reunidas cerva de 15 obras por volume. republicano: Século XIX, Teatro republi-
Um volume que correspondia a casa país cano: Século XX-1 e Teatro republicano:
ibero-americano... ou quase. Século XX-2. O penúltimo volume aqui
No plano de publicação, havia dois mencionado termina com a obra Atusparia
volumes com obras de não um, mas sim de Julio Ramón Ribeyro de 1981. O seguin-
de vários países: o primeiro destes com te volume, pois, deveria incluir aos auto-
obras de Bolívia, Equador, Paraguai, e res mais jovens que Julio Ramón Ribeyro,
Peru; o segundo, obras da Costa Rica, que nasceu em 1929; é dizer, para aqueles
Guatemala, Honduras, El Salvador, Nica- dramaturgos que podiam ser selecionados
rágua, Panamá, e Rep. Dominicana. To- na antologia do Centro de Documentação
dos os demais países tinham seu próprio Teatral e companhia. Porém, precisamen-
volume. Não se pode deixar de pensar te no momento em que esse tomo iria ser
que os países que compartilhavam volu- editado, se decidiu suspender ou cancelar
mes eram uma sorte de “resto”, os que o projeto, de maneira que esse volume Sé-
não mereciam um volume próprio: países culo XX-2 nunca saiu.
quais não se podia tirar catorze ou quin- Uma revisão dos autores que seriam in-
ze obras dramáticas de qualidades nos cluídos no último volume da antologia da
últimos quarenta e tantos anos. Universidade Católica pode nos dar uma
O caso do Peru é particular, pois é um chave do miolo do problema: a ausência de
país grande em território e população en- um momento modernista na dramaturgia
tre estes últimos. Uruguai, país com uma peruana. E esta falta tem como indicar a e
população de três milhões e meio de ha- causa a ausência de um “pai” em dita dra-
bitantes, tinha seus quinze dramaturgos maturgia.
“antologados”, cada qual com sua corres- Explicarei o conceito de “pai” mais
pondente obra e comentário introdutório; adiante. Por agora, é necessário dizer que
Porto Rico, com pouco mais de quatro mi- os autores do volume frustrado da anto-
lhões de habitantes, país nem sequer inde- logia peruana não eram, em sua maioria,
pendente, tinha seu próprio volume com dramaturgos dedicados principalmente ao
obras inscritas com justiça no momento ofício da dramaturgia; isto é, a maioria dos
modernista. Porém o Peru, com seus quase autores que haviam aparecido eram escri-
trinta milhões estava de certa maneira de tores dedicados primariamente a outros
lado. E a sensação de haver sido ignorado gêneros: poesia e narrativa, gêneros, que
se incrementa pelo fato de que os dois vo- como veremos mais adiante, no Peru sim
lumes que compartilhavam os países nun- têm um “pai” como carta de apresentação.
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E o mesmo havia ocorrido com o volume nos a uma realidade inegável.


prévio; os autores “antologados” em Tea- Um livro pioneiro em estudos sobre
tro republicano: Século XX-1 são, em sua dramaturgia latino-americana foi “Drama-
maioria, poetas e narradores que também tistis in Revolt” publicado em 1976. Trata-se
escreveram obras dramáticas. Somente nos de uma serie de ensaios de diversos espe-
casos de Leonidas Yerovi, Juan Ríos, Enri- cialistas na qual se dedica um ensaio para
que Solari Swayne, Sebastián Salazar Bon- cada autor. A tese do conjunto é que a “re-
dy y Hernando Cortés, se pode dizer (ainda volta”, isto é, o caráter político contestató-
que com muitas reservas em alguns casos) cador dos dramaturgos
que se trata de dramaturgos dedicados contemporâneos na America Latina. São
cio da dramaturgia. estudados quatro argentinos, três brasilei-
Os demais são Enrique Lopez Albújar (nar- ros, três chilenos, dois cubanos, dois me-
rador), Abraham Valdelomar (narrador e xicanos, dois porto-riquenhos. Na mesma
poeta), Ventura García Calderón (narra- linha temática que “Dramatists in revolt”,
dor e ensaísta), Cesar Vallejo (poeta) Jorge ainda que mais radical em sua proposta
Eduardo Eielson (poeta e artista plástico) está “Violent Acts” (1991) de Severino Joao
e Julio Ramón Ribeyro (narrador) (Silva- Albuquerque, cuja tese é que a “violência”
Santisteban 2002). é o elemento constante na dramaturgia úl-
Há (ou havia até pouco tempo) uma tima deste continente. Nenhum peruano
ança no que podem está mencionado nem sequer como refe-
fazer os dramaturgos peruanos contem- rência distante. A lista metacrítica poderia
ro-me aos escritores cujo seguir com os estudos de Daniel Zalacaín
gênero mais abordado é o teatro, não aos (1985) e Gerardo Luzuriaga (1990), com
que “também” escrevem para o teatro. a compilação de ensaios de Ileana Azor
Como veremos com outros exemplos, (1995), com a antologia de Howard Rov-
salvo exceções, as publicações, os con- -
cursos, os artigos e livros de pesquisa, os mo número de artigos dedicados ao teatro
diretores de teatro, as alusões da cultura (nem dizer da dramaturgia) peruano em
popular, tudo parece revelar uma igno- revistas especializadas, entre outros, po-
rância (e uso essa palavra tanto no sen- rém creio que, pelo momento (porque ha-
tido de “falta de conhecimento” quanto verá outros exemplos) o caso está feito: nos
no de “pouca importância dada”) sobre estudos da dramaturgia latino-americana
o trabalho realizado pelos dramaturgos em geral, o número de peruanos comenta-
peruanos contemporâneos. dos não é zero, mas tende a...
É certo que há sido uma queixa fre- Quero destacar, não obstante, o livro
quente dos dramaturgos latino-america- “Theater in Lateinamerika. Ein Handbuch”
nos, que os ignorem em comparação com (1991). Também aqui encontramos uma
outros gêneros. Osvaldo Dragún falava lá coleção de ensaios nos quais se faz um re-
por 1979 que nenhuma universidade ar- sumo da atividade teatral de cada país lati-
gentina tinha curso de teatro argentino. no-americano, também aproximadamente
“Colômbia, repetiu-se demasiado, tem desde os anos 50.
sido terra de poetas e narradores; nunca, se Claro, Peru tem seu ensaio corres-
insiste, há sido pródiga de dramaturgos.” pondente em que Barbara Panse começa
(Gonzales Cajao 1992, p.13) Porém é tam- sinalando que, nas entrevistas à gente de
bém certo que esta ignorância, no caso pe- teatro peruana realizada entre os anos cin-
ruano, é mais notória. quenta e setenta, uma pergunta parecia ser
E, novamente, para quem pense que constante: Existe tal coisa como um “teatro
as antologias peruana e internacional fo- peruano”? Continua informando que as
ram casos isolados de descuidos, ai estão respostas, longe de serem otimistas, indi-
as publicações acadêmicas (especialmente cavam que, a duras penas, até a data, um
as aparecidas fora do Peru) para devolver- teatro nacional peruano não era mais que
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nal Os “pais” da literatura peruana


do artigo, a grande conclusão que se de- moderna: Vallejo e Vargas Llosa
preende da pergunta inicial formulada por
Panse é que, se bem que há muita ativida- Se for possível argumentar que a ig-
de teatral dispersa, a noção de um teatro norância sobre a dramaturgia peruana se
nacional peruano é ainda distante, ainda deve à falta de um “pai”, com justiça se-
quando tudo parece indicar que, desde a ria possível perguntar à que se deveu, di-
década de oitenta há uma transformação gamos, a falta de tal “pai”; se for possível
em direção a sua consolidação. Tenha-se argumentar que se deveu, digamos, à uma
presente que o estudo de Panse busca dar ausência no Peru de uma classe media ilus-
conta da totalidade da atividade teatral pe- trada que demandara e consumira (e pro-
ruana das décadas de cinquenta a oitenta duzira) a dramaturgia de autor ou, mais
(grupos, montagens, entidades, estatais, prosaicamente, à carência do apoio do Es-
teatro universitário, teatro camponês, etc), tado. Logo, a que se deveu esta carência
não somente da dramaturgia. A dramatur- de apoio, esta ausência de uma burguesia
gia sim é tomada em conta no artigo, porém ilustrada? E assim até o Big Bang... A falta
somente como uma forma de curiosidade, de “pai” é consequência de muitas variá-
quase como um comentário parentético ou veis, porém, me interessa ressaltar como
nota de margem. São mencionados Sebas- essa falta é indicadora e causa (não única,
tián Salazar Bondy, Enrique Solari Swayne, porém sim fundamental) da ausência de
Sara Joffré, Gregor DÍaz, Hernando Cor- um marcado momento modernista e da ig-
norância sobre a dramaturgia peruana de
tés, Juan Rivera Saavedra, Victor Zavala e
autor descrita no apartado anterior.
Alonso Alegría, fora os onipresentes César
O “pai” que venho me referindo não é
Vallejo e Mario Vargas Llosa.
tal coisa como um mentor ou um mestre;
Aqui creio necessário indicar que a fal-
tampouco é, necessariamente, um autor
ro e seguirei re-
uenciado, por sua temática
ferindo é respeito à dramaturgia de autor,
ou estilo, na temática ou no estilo das obras
não do teatro em geral no Peru; dada a ínti-
de gerações de autores que o sucederam.
ma relação entre uma e outra, o teatro feito
Com o conceito de “pai” que aqui utili-
no Peru é muito menos ignorado do que a gura que, em determinada
sua dramaturgia. Somente como exemplo comunidade (por exemplo, um país) e para
da diversidade de aproximações, vejam determinada atividade (digamos, a drama-
Hopkins 1986, Salazar Del Alcázar 1990, turgia) cumpriu e vem cumprindo uma trí-
Castro Uriostre 1999 e 2002, Jofree 2001, plice função. Primeiro, o “pai”, através de
Rubio 2001, Balta 2001 e Peirano 2007. E é, suas obras na mencionada atividade e o re-
talvez, em parte graças a estes fortes esfor- conhecimento universal à estas, introduziu
ços, que as coisas começaram a se transfor- para essa comunidade a modernidade. Se-
mar na dramaturgia a partir dos noventa. gundo, este “pai” marca uma continuidade
Os dramaturgos peruanos são cada vez na tradição de sua atividade em dita comu-
mais; o público que assiste teatro cresceu; nidade; é parte de uma tradição anterior e
a ignorância (em todas as suas acepções) é precipita uma nova tradição. Seja para imi-
agrante. tá-lo fragrantemente, seja para renová-lo
O grito de Sara Joffré (dramaturga, ou adaptá-lo às novas circunstâncias, seja
pesquisadora e promotora peruana) lá em para rechaçá-lo com fúria (incluso para ten-
1978 é revelador: “De repente tomamos gu-
consciência de que havia dramaturgos pe- ra um referente iniludível, sempre presen-
ruanos: por ali se davam ao luxo de dizer: te, de sua tradição. Por último, devido ao
rmavam: anterior, esse “pai” criou o que se poderia
o único autor que há sou eu” (Joffré, 1978, p.5; chamar de uma sensação de possibilidade;
itálico no original). isto é, a impressão, seja verdadeira ou não,
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de que os membros dessa comunidade têm narradores peruanos contemporâneos. Ha-


o potencial de aceder também à moderni- verá quem argumente, por exemplo, que
dade e ao reconhecimento que tem esse José María Eguren, Martín Adán ou Jorge
“pai”; e esta impressão (sensação de pos- Eduardo Eielson são melhores ou mais
sibilidade) se manifesta nos níveis exterior uentes ou mais modernos que Vallejo.
(entre os membros de outras comunidades, Haverá quem diga o mesmo de Jose Ma-
outros países), interior (entre os membros ría Arguedas ou Alfredo Bryce Echenique
de uma mesma comunidade) e íntimo (na (“mais nosso”, “mais terno”) respeito à
consciência ou inconsciência das mesmas Vargas Llosa. Tudo isso pode ser certo. No
pessoas que realizam dita atividade – os entanto, nas funções de “pai” que trato de
dramaturgos). Introdução à modernidade, descrever (modernidade, tradição, possi-
continuidade de uma tradição, sensação bilidade), são Vallejo e Vargas Llosa quem
de possibilidade, cada uma inseparável da cumprem um papel mais destacado, para
outra, são as três funções que determinam não dizer, único. Estes autores pertencem e
gura de um “pai”. niu a modernidade
nição se entenda mais (e o modernismo) nas artes literárias: po-
com exemplos concretos. A dramaturgia esia de vanguarda e “boom” da narrativa
peruana contemporânea nunca teve um hispano-americana, respectivamente. Gra-
“pai”; porém outros gêneros literários sim ças a eles, porém não somente por eles, o
guras de Cesar Vallejo e Peru há sido posto no mapa da poesia e da
Vargas Llosa sim cumprem este papel na narrativa mundiais do século XX. Vallejo e
poesia e na narrativa peruana, respectiva- Vargas Llosa, pois, cumprem com as fun-
ro às pessoas reais, ao ções de modernidade, tradição do “pai”; e,
poeta que morreu em Paris e ao narrador como veremos, também cumprem a função
ro-me à repre- de gerar a sensação de possibilidade e con-
sentação mental (ou simbólica) de Vallejo lhos” e aos estranhos.
e Vargas Llosa em relação ás funções “pa- Se bem que há existido e seguem exis-
ternas” anteriormente descritas. Ambas as tindo concursos de dramaturgia no Peru,
guras estão sempre presentes na comu- ança nos outros
nidade peruana em relação às atividades gêneros são os grandes concursos de cria-
de poeta e narrador. São iniludíveis. As ção literária do nosso meio: estão principal-
edições e traduções de suas obras, os es- mente dirigidos aos poetas e narradores.
tudos, cursos, simpósios a nível nacional e Faz já alguns anos que Petroperú organiza
internacional, os nomes de universidades, seus concursos Copé nos quais ano a ano se
institutos, distritos, ruas e times de futebol alterna a narrativa e a poesia. Desde cer-
(este último no caso de Vellejo; talvez, o ca de dois anos, a Pontifícia Universidade
mesmo ocorra com Vargas Llosa depois de Católica do Peru convoca ao seu Concurso
sua morte), a candidatura para presidência Nacional para três gêneros literários: poe-
da República e ao Prêmio Nobel (no caso sia, narrativa e ensaio. O Banco Central de
de Vargas Llosa), as leituras favoritas das Reserva tem também seu concurso para
candidatas nos concursos de beleza, as fra- narrativas curtas. Até os orales de
ses que se tornaram célebres, etc., mostram colégios e universidades privilegiam os gê-
gura destes neros não dramáticos em sua convocatória.
escritores tanto nos campi quanto nas ruas. Como se para um setor do universo cultu-
ca um juízo de ral peruano a presença de um dramaturgo
valor das obras desses escritores, espe- lho,
cialmente, em comparação com outros es- de quem é? Os poetas e narradores têm,
ca, necessa- querendo ou não, inscrito o estigma “Sou
riamente, que Vallejo seja o melhor poeta lho de Mario”
peruano do século XX nem que, necessaria- lhinho)”. Com a multiplica-
mente Vargas Llosa seja o melhor entre os ção de publicações e concursos de ensaio (e
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ainda, com a pós-moderna “elevação” ou Seu estudo aborda obras escritas desde as
“degradação” do ensaio a gênero literário), décadas de quarenta até os oitenta. Parece-
também se poderia dizer que um grupo de ria alentador que no estudo de Meléndez,
lho agora sim, uma das obras analisadas é de
de José Carlos”, pois efetivamente Mariá- um autor peruano; no entanto, a sensação
nição de se evapora ao ver que a obra se trata de A
“pai” para os que buscam através da não senhorita de Tacna de Mario Vargas Llosa.
cção, interpretar a realidade peruana. Novamente a ideia de que não há drama-
Em nível internacional e em nível na- turgos peruanos que mereçam estudo; em
cional há existido então, um reconheci- todo caso, há reconhecidos narradores (ou
mento de poetas e narradores peruanos poetas) que “também” escrevem para tea-
(paralelo à ignorância sobre o trabalho dos tro. A impressão de “orfandade” mais que
dramaturgos). Porém, há um nível mais su- nal se
til no qual a ausência de um “pai” pode ha- daria, digamos, com uma edição crítica e
ver deixado uma marca: no nível íntimo. A comentada do teatro completo do Cesar
ança dos “antologadores”, crí- Vallejo por uma instituição de prestigio. E
ticos, organizadores dos concursos e públi- efetivamente a espetada se deu com os três
ança volumes publicados pela Universidade
dos mesmos autores. Jovens que iam des- Católica (Vallejo, 1990). Com os múltiplos
cobrindo na escrita um meio de expressão estudos e publicações dedicados à drama-
e uma vocação vislumbraram uma sorte de turgia de Vallejo e Vargas Llosa é difícil ca-
sensação de possibilidade nos triunfos de racterizar aos dramaturgos peruanos como
Vallejo e Vargas Llosa que pode os haver “sobrinhos” ou “enteados” destes “pais”.
levado a desenvolver os gêneros da poesia Uma mais: “Pós-modernismo e teatro na
e da narrativa. No entanto, tais triunfos, ou America Latina” de Beatriz J. Rizki (2007) é
eram muito sutis ou eram muito isolados um dos livros melhor documentado, mais
na dramaturgia; e isto pode haver deter- lúcidos e reveladores dos últimos anos res-
minado que estes jovens não tentem suas peito ao tema que promete o título. Sem
expressões escritas pelo canal da drama- contar as obras de criação coletiva nem das
turgia (outra forma notória de ignorância). adaptações (isto é, somente enquanto peças
Talvez fez falta uma espécie de orgulho de autor), se analisam dez obras cubanas
nacional similar ao que se dá quando Cien- (mais duas cubano-estadounidenses), oito
ciano ganha a Copa Sul-americana, quan- mexicanas, seis argentinas, quatro vene-
do Pavarotti nomeia Juan Diego Flórez seu zuelanas, três chilenas, dois dominicanas,
sucessor, quando Kola Real bate recordes duas equatorianas, uma porto-riquenha e
a Mu- uma uruguaia. A ausência da dramaturgia
lanovich se torna a campeã mundial de de autor peruana apenas se vê compensa-
surf, circunstâncias que, muito provavel- da pelos dois parágrafos dedicados a No me
mente, impulsionaram jovens a se dedicar toquen ese valse (sic) de Yuyachkani, grupo
ao futebol, ao canto lírico, ás empresas, e ás que, de poderia dizer, cumpre certas fun-
pranchas. Jovens escritores ou futuros es- ções de “pai” no teatro peruano moderno...
critores não tiveram visto na dramaturgia porém não em sua dramaturgia de autor.
peruana uma modernidade ou uma tradi-
ção da qual sentir-se parte, ainda que seja Argentina, México e Colômbia;
para rechaçá-la ou ser parte de uma irman- odiosas comparações
dade que liquide o “pai”. Outra forma de entender melhor a falta
A porto-riquenha Priscila Meléndez de modernidade, tradição e possibilidade,
(1990), em sua tese doutoral, descreveu isto é, a ausência das funções de um “pai”
como a teatralidade e a autoconsciência – na dramaturgia peruana é observar os
eram elementos mais destacáveis da dra- casos de outros países latino-americanos.
maturgia latino-americana do século XX. Já mencionei que, com todos os riscos e li-
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mitações que implica toda generalização, a obras, e como parâmetro usam o teatro do
dramaturgia latino-americana iniciou seu absurdo, sinto uma espécie de estranha-
momento modernista aproximadamente uencia
até meados do século XX. Este foi o gru- minha obra. Porém, sim há certos elemen-
po de autores recompilados pela edição tos no meu teatro que vêm do grotesco
do Centro de Documentação Teatral, estu- (Giella, Roster e Urbina, 1983, p.13).
dados desde “Dramatists in Revolt” (1976) O grotesco, e sua posterior evolu-
adiante, já não como “curiosidades para ção e desenvolvimento também podem
gringos” senão como uma proposta com ser encontrados em obras de muitos dos
implicações globais e modernas: obras dramaturgos argentinos mais reconhe-
exitosas em cenários mundiais. Este é mo- cidos de seu momento modernista. E é
mento em que a participação do Peru foi uência que se pode reconhecer a
praticamente ignorada. quem poderia ser o “pai” da dramaturgia
Porém, ainda com o “descobrimento” argentina moderna: Armando Dicépolo
do momento modernista da dramaturgia (1887-1991). Discépulo gerou, a partir do
latino-americana, a crítica – especialmente sainete, um tipo de obra que foi chamada
a não latino-americana – em seus primei- de “grotesco criollo”, que é o tipo que se re-
ros anos, baseava seus estudos na compa- ferem Dragún, Gambaro e outros ao falar
uência uências.
que pudera haver das distintas correntes
teatrais europeias do século XX. Dois dos (Do “grotesco criollo”), em maior ou
dramaturgos mais representativos do mo- menor medida, em um sentido ou em
dernismo argentino – Osvaldo Dragún e outro, se reconhecem devedores ou
herdeiros todos os autores teatrais
Griselda Gambaro – expressaram seu mal
argentinos da segunda metade do
estar com esse tipo de aproximação. Dra-
século XX. Enquanto o sainete não
gún expressou seu mal estar pela facilida- transcende, em geral, o mais exterior
de com que a crítica norte-americana se e pitoresco da imigração europeia, o
dedica somente a “pensar em Ionesco, em grotesco discepoliano [...] se serve
Beckett ou no Teatro da Crueldade para dos tipos identificadores do sainete,
nir qualquer autor latino-americano” porém afunda nas individualidades e
(Giella, 1981, p.30). Momentos antes da seus íntimos desgarros [...] A través
mesma entrevista, havia dito: das mínimas histórias de derrota pes-
soal... (Fernández, 1992, p.18).
...Para mim, a influência do grotesco
parece fundamental. Entendo o gro- uencia au-
tesco como o deforme, e o grotesco tores posteriores, se não que é também her-
no teatro, como o deforme da socie- deiro das formas do sainete que transfor-
dade. O deforme em uma sociedade ma. É dizer, como “pai”, Discépolo, através
é o antinatural. Então o antinatural da sua obra, faz uma engrenagem na tra-
produz deformidade que no fundo dição dramática e teatral de seu país. E os
não é nada mais que animalização
autores modernos estão ansiosos de ser
(...) Eu insisto muito sobre este con-
ceito porque me parece a influência
parte e continuar essa tradição seguindo
mais importante sobre todo o teatro o modelo do “pai”. Discépolo provou que
latino-americano e especialmente so- era possível fazer uma dramaturgia que
bre o teatro argentino...(Giella, 1981, enraizada no argentino, tivera ressonância
p. 14-15). a nível nacional e internacional.
“Estou totalmente convencido de que
Por sua parte, Gambaro se manifestou: eu criei o teatro mexicano” (Adler e Scmi-
A mim, particularmente, o sainete, o gro- dhuber, 1991, p.157). Com essa citação de
tesco é o que mais me interessa, e quando Rodeolfo Usigli (1905-1971) de 1938 se ini-
eu escuto que fazem analise das minhas cia o artigo dedicado ao teatro no México

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de “Theater in Lateinamerika”. Por sua par- midhuber, 1991, p.163).


te, Gerardo Luzuriaga inicia seu capítulo Usigli buscou sempre se manter longe
correspondente chamando a Usigli “auto- dessa polêmica. Por ele ser mexicano de
denominado ‘o primeiro dramaturgo serio primeira geração (pai italiano, mãe austro-
e apaixonado do país’” (Luzuriaga, 1990, húngara), ou, talvez, devido à isso, em mui-
p. 21). Como se pode ver, este dramatur- tos de seus textos explorou e reinterpretou
go tinha a consciência (talvez a ilusão) de as passagens mais conhecidas da história
que com ele se fundava a modernidade na mexicana em busca do que parece haver
dramaturgia mexicana, tinha a convicção sido uma constante das letras do século XX
de ser o “pai” dessa manifestação artística. nir “o mexicano”. Luzuria-
Usigli foi sem dúvida o mais aberto e claro ga menciona como Octávio Paz “vangloria
enquanto ao que devia ser a dramaturgia a perspicácia de Usigli em atribuir ao mexi-
mexicana; em seus múltiplos ensaios, arti- cano a simulação como um de seus atribu-
gos, prólogos sobre o tema (escritos desde tos característicos” (Luzuriaga, 1990, p. 22).
os anos trinta até os sessenta) foi delinean- Paz se refere principalmente ao drama O
do uma teoria do teatro de seu país que de- gesticulador no qual um pobre trabalhador
via (como imperativo) culminar na tragé- de escritório do interior se transforma em
dia mexicana do futuro. Ele pôs em prática um cruel ditador devido uma combinação
algumas de suas teorias em suas próprias de ambições, piadas e confusões.
obras, algumas das quais, como O gesticula- As três Coroas tratam (ou revisam) te-
dor (1973) e a trilogia Coroa de sombra (1943), mas da história mexicana: os imperadores
Coroa de fogo (1960) e Coroa de luz (1963) são Maximiliano e Carlota, a conquista do Mé-
clássicos da dramaturgia mexicana moder- xico pelas forças espanholas e as aparições
na, e, efetivamente, marcam uma ruptura da Virgem de Guadalupe. O mesmo autor
com o teatro espanholado que vinha pre- ca estas peças como “anti-históri-
dominando no México. cas”, pois como mencionei, se tratava de
Usigli tentou estar por cima da polêmi- uma visão dos momentos históricos que
ca entre Teatro Ulises e Teatro de Ahora que cial. Pelo entusias-
se deu nas primeiras décadas de formação mo e a lucidez de seus dramas e ensaios,
da modernidade teatral do México. Em este autor marcou o inicio da independên-
1928, com Xavier Villarrutia na cabeça, se uência
formou na Cidade do México o Teatro Uli- ança em uma
ses, cujos principais objetivos residiam em dramaturgia autenticamente mexicana. Por
trazer o mundo teatral (Ibsen, O’Neill, Pi- outro lado, um adiantamento do pós-mo-
randello, entre outros) ao teatro mexicano, dernismo se encontra em uma obra tardia
tanto a través da representação das obras do Usigli, Estreia na Broadway, o que longe
uência para cá-lo com “pai” do momento
novos dramaturgos mexicanos. Teatro de ança mais nessa função.
Ahora, fundado pouco depois que o Teatro Rizk descreve assim esse caso:
Ulises, buscou por em cena um teatro de
agitação fundado nas lutas de camponeses Um raro exemplo vamos encontrar
e trabalhadores mexicanos até o presente. no monólogo tardio [...] do mexicano
Uma mostra da polêmica entre estas duas Rodolfo Usigli, Estreia na Broadway,
publicado e estreado em 1992-1994,
tendências são as declarações de Mauricio
mas escrito em 1969-1970. Na peça
Magdaleno, um dos fundadores do Teatro
rechaça o autor todos os alinhamen-
de Ahora, em clara alusão ao Teatro Ulises: tos políticos e culturais prevalecen-
“Que nos interessam os triângulos amo- tes do momento a favor do homem à
rosos afrancesados, os problemas sexuais secas, de sua experiência vivencial.
das famílias burguesas, quando lá fora, no É, pelo demais, um grito solitário de
campo, massas famintas trabalham dura- um dramaturgo, ao parecer frustrado
mente pelo pão de cada dia?” (Adler e Sc- ante as inovações estéticas vigentes

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ALFREDO BUSHBY | TRADUÇÃO: JULIANO BORBA
N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

em sua época [...] De fato, o breve epicentro que mancam um momento


monólogo há sido considerado uma de inflexão na dramaturgia america-
espécie de epílogo autobiográfico de na de nosso idioma” (Pérez Coterillo,
sua carreira nos palcos. O “autor”, 1992, p. 9).
protagonista do mesmo (quem se des-
creve como “um velho autor novato”) Há um comum acordo que a criação co-
deixando de lado qualquer ressabio letiva há sido o “grande aporte da Colôm-
de tipo colonialista ou “assimilista”2
bia para a cena da America Latina” (Luzu-
e materializando aparentemente seu
riaga, 1990, p. 89) e que teve seu momento
profundo anseio de “chegar” a Broa-
dway” (Luzuriaga, 1992), de maior impulso e resposta de público nos
anos sessenta, “ao ponto que chegou a se
se consola ante o tumultuoso aplau- dizer o teatro na Colômbia podia compe-
so que a sua obra recebe no dia de sua tir favoravelmente com a popularidade do
nal temos a im- Futebol” (Luzuriaga, 1990, p. 89). Porém,
pressão de que a ação tem lugar tão so- a pesar da quantidade de grupos teatrais
mente em sua imaginação). Este êxito o que se formaram na Colômbia, foram dois
faz reconsiderar os aportes de autores e uencia foi
diretores como Ionesco, Beckett, Albee, maior: o Teatro Experimental de Cali (TEC)
Weiss, Arrabal e “sobre tudo” Brecht, que (fundado em 1955) e o Teatro da Candelaria
ca de “quebra-cabeça sem cora- de Bogotá (em 1966). Seus diretores não
ção”, porque houveram esquecido que “o apenas foram e são diretores de cena, se
teatro é o homem, que o homem é o teatro não que também são dramaturgos e teó-
uma vez que o que falta é um fundo vivo, ricos de técnicas dramatúrgicas e teatrais
novo” [...] adiantando-se várias décadas que até agora são seguidas em diversos pa-
m do íses: Enrique Buenaventura (TEC) e Santia-
século (Rizk, 2007, p. 40). go García (La Candelaria) também podem
Os casos de Usigli e Discépolo, com to- considerar-se os “pais” da dramaturgia co-
das as suas diferenças (por exemplo, o pri- lombiana moderna.
meiro antecipou o modernismo, pertenceu Ambos, através da experimentação
m; o segundo somente o an- empírica e do estudo de métodos “estran-
tecipou), são exemplos de “pais” que intro- geiros” criaram veredas técnicas de criação
duziram na modernidade as dramaturgias coletiva que mais adiante seriam imitadas
de seus países. Talvez seus casos bastem e revisadas em todo o continente. No que
gura do “pai” que trato ambas as técnicas coincidem é a conside-
de explicar e seu contraste com sua ausên- ração que a arte teatral deve cumprir uma
cia no Peru. No entanto, não quero deixar função social, mais ainda, uma função polí-
de mencionar o caso da Colômbia por suas tica que comente, critique e busque subver-
singulares características. Comecemos com ter uma ordem injusta. Ambos poderiam
uma opinião de Moisés Pérez Coterillo: compartilhar a “paternidade” da drama-
turgia colombiana pese a que, mais adian-
Durante muitos anos, criação cole- te, alguns culpariam a esta tendência da
tiva e teatro colombiano têm sido aplicação automática de fórmulas de cria-
termos intercambiáveis. A radicali- ção coletiva pelo pouco desenvolvimento
dade e a contundência desde modo da dramaturgia colombiana de autor. Isto
de entender a prática cênica teve no mostra como a “paternidade” pode ser
movimento teatral colombiano e em compartilhada (ou discutida) e como pode
seus nomes mais ilustres, o Teatro ser uma instituição (não necessariamente
Experimental de Cali e o Teatro da
uma pessoa) que a tenha.
Candelaria de Bogotá, um poderoso
De certa forma, sim houve dramatur-
2 Assimilismo (asimilismo): partido que propõe uma política que pretende suprimir as pe- gia de autor no Peru desde os anos cin-
culiaridades dentro de una sociedade para favorecer a homogeneidade. Fonte: RAE
(Diccionario de la Real Academia Española – www.rae.es (n. de t.).
quenta até os oitenta; e houve dramaturgia

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O SALTO DOS ÓRFÃOS: O PÓS-MODERNISMO SEM MODERNISMO DA DRAMATURGIA PERUANA ATUAL
U rdimento N° 20 | Setembro de 2013

de grande qualidade. Dois autores perua- dos anos cinquenta) que o Centro de Docu-
nos ganharam o premio Casa das Américas: mentação Teatral buscou “antologar” em
César Veja Herrera com Ipacankure (1968, seus volumes no início dos anos noventa.
menção honrosa) e Alonso Alegría com A Foi esse modernismo o que, no meu en-
Cruzada sobre o Niágara (1969, primeiro prê- tender, não teve um “pai” no Peru, razão
mio). Os nomes de muitos dos autores ci- pela qual os atuais dramaturgos peruanos
tados por Barbara Panse (Sebastián Salazar tiveram que cortar caminho diretamente à
Bondy, Sara Joffré, Gregor Díaz, Juan Rive- pós-modernidade.
ra Saavedra e Alonso Alegría) são mostra
da intensa atividade dos dramaturgos pe-
ruanos. A propósito, Gregor Díaz escreveu Modernidades e
uma interessante e breve crônica sobre os pós-modernidades (e modernismos)
dramaturgos peruanos dos anos cinquen-
ta aos anos oitenta (precisamente aqueles Venho usando com alguma despreocu-
anos do modernismo da dramaturgia lati- pação os conceitos “modernidade”, “mo-
no-americana). Recorro a duas de suas im- dernismo” e “pós-modernidade”. Dada a
pressões mais reveladoras: quantidade de estudos que existem sobre
esses temas (em muitos casos, contraditó-
...esta década (os setenta) se caracte- rios entre si), é necessário nesse ponto que
riza pela aparição de uma verdadeira
ro com
frente de escritores que, contraria-
mente a seus antecessores, cerca 90% esses termos, para, mais adiante, explicar
são gente de teatro. [...] A realidade como funcionam esses conceitos a respeito
nacional já não será de maldizer ou da dramaturgia latino-americana contem-
mal ver, nem teremos que disfarçar porânea, e, particularmente, respeito do
para que suba ao cenário; se há con- processo peruano.
solidado o estilo realista, com todas A modernidade é uma tendência cultu-
as suas variantes (Díaz, 1998, p. 184). ral em direção à busca e obtenção de certos
ideais sobre a base de conceitos e possibili-
Porém, sobre a década de oitenta, Díaz dades que a humanidade mesma há gera-
quase se lamenta de que: do. A etapa moderna se caracteriza por um
distanciamento (progressivo e paulatino)
...a criação cênica e a expressão cor- de imperativos ditados desde instâncias
poral (saltos, giros, etc.) limitou o tea-
distantes ao que os próprios seres humanos
tro à categoria de “espetáculo cênico”;
a década de noventa oferece com êxito – seres humanos livres – considerem que
uma variante da mesma, uma sorte de cáveis e convenien-
colagem, de revista musical, varie- tes. Já não há um deus que dite os impe-
dades, show de baile e algo de circo. rativos, já não há um grupo de poderosos
Nesta expressão também a dramatur- privilegiados que determinam o que está
cou de lado” (Díaz, 1998, p. 183). bem e o que está mal; em todo caso, se exis-
tem privilegiados, são os membros ilustra-
Por alguma razão, o momento moder- dos da humanidade, aqueles que, através
nista peruano se frustrou, e estes drama- de um exercício livre, racional, e, às vezes,
turgos não tiveram a projeção de Vallejo solidário, vão interpretando, em nome da
ou Vargas Llosa, de Discépulo, de Usigli, humanidade e para ela, a forma de pensa-
Buenaventura ou García...de Yuyachkani. mento e de vida mais adequados. Entre os
Os “pais” latino-americanos antecipa- ideais principais que a modernidade pro-
ram ou estiveram nos inícios da grande põe estão progresso, justiça e liberdade. A
eclosão moderna da dramaturgia do con- modernidade buscou estender a consecu-
tinente. Foi este grande momento moder- ção de estes ideais a toda humanidade (ain-
nista (o de autores que escreveram a partir da que alguns sustentem que o pós-mo-

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ALFREDO BUSHBY | TRADUÇÃO: JULIANO BORBA
N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

dernismo não é outra coisa que a extensão destruição. Se trata de abolir o fetichismo
dos ideais modernos aos “outros”), e criar artístico, a separação hierárquica da arte e
um “homem novo”, o cidadão. O cidadão da vida em nome do homem total, da con-
é livre e paulatinamente, vai exigir mais e tradição, do processo criador, da ação, do
mais liberdade (alguns argumentam que é azar. Sabemos que os surrealistas, Artaud
uma “ilusão” de liberdade), porém está su- e logo os happenings, as ações de anti-arte,
jeito a uma série de deveres; estes deveres, buscaram assim mesmo superar a oposição
no entanto, não emanam de uma entida- da arte e da vida. Porém cuidado, esse ob-
de superior inalcançável, são deveres im- jetivo constante do modernismo, e não do
postos pelo mesmo conjunto de cidadãos pós-modernismo [...] não é a insurreição do
através do livre exercício de participação desejo, a revanche das pulsações contra a
na opinião e no poder (participação que se quadriculada vida moderna, é a cultura da
foi instalando e aperfeiçoando progressi- igualdade a que arruína inexoravelmente
vamente em algumas regiões) ou nas pró- a sacralidade da arte e revaloriza correla-
prias normas não escritas de convivência. tivamente o fortuito, os ruído, os gritos, o
Em muitos de seus aspectos, a moder- cotidiano” (Lipovetsky, 2002, p. 89-90).
nidade, ao menos até o século XX, é uma Não há ruptura com a modernidade
tendência que inspirava entusiasmo nas nalmente, os ideais da
possibilidades do ser humano e esperança caram de pé, ainda que,
em seu futuro. No entanto, a modernidade talvez, cambaleantes. O que ocorreu foi
também expurgava, aqui e acolá, a angus- um processo duplo. Por um lado, o moder-
tia do ser humano por ser o criador de seu cou levar até as suas últimas
próprio destino: não há deus, não há seres consequências os ideais da modernidade;
superiores, agora o que fazemos? Por outro isto é, levar a um extremo as possibilida-
lado, os grandes ideais que a modernidade des de desenvolvimento, de justiça (atra-
tentava promover – progresso, justiça e li- vés da igualdade que fala Lipovetsky) e da
berdade – apareciam, segundo as interpre- liberdade e da criatividade, de fazer o que
tações, contraditórios entre si. cada um puder e quiser fazer; não foi uma
Muitas vezes, quando se falava de mo- troca de rumo se não uma exageração do
dernidade ou modernismo se alude exclu- mesmo rumo. Por outro lado, este levar as
sivamente à tendência (sobretudo visível coisas a um extremo, delatou mais os pro-
nas artes) que se desenvolveu desde, apro- blemas que traíam os ideais modernos: se
ximadamente Ubú Rei (1899) até chegar zeram mais claras as contradições entre
ao seu pico, com Esperando Godot (1954). alguns destes ideais; e, ainda mais, se viu
A ruptura das convenções artísticas tradi- nições de alguns de seus termos
cionais, o gosto da novidade pela novida- eram opostas (o que é igualdade para um
de em si mesma, a indagação em formas é o oposto para outros; o que é justiça para
alternativas de expressão caracterizaram uns, seu antônimo para outros, etc.). Assim
esta última etapa da modernidade, que orou a angustia pela falta de
Jameson prefere chamar de alto modernis- gura a ditar ordens; viu-se que ser
mo para distingui-lo do momento anterior, humano estava sozinho com sua liberdade;
modernismo (Jameson, 1991); e o impacto e com essa liberdade havia causado duas
foi tal que alguns o perceberam já como guerras mundiais e uma “fria” que pôs a
uma nova etapa. No entanto, como o vê humanidade à beira do desaparecimento.
Lipovetsky, nessa última etapa, com toda Outra forma de vê-lo é equiparando
sua renovação, o modernismo é ainda mo- o modernismo com a supernova da mo-
dernidade: dernidade. A supernova, essa emissão in-
“Incluso os ataques contra as Lumières tensíssima de luz quando a estrela esta ao
por parte das vanguardas são ainda ecos ponto de esgotar seus recursos energéticos
da cultura democrática. Com Dada, a pró- é, dada a liberação de energia que impli-
pria arte se funde em si mesmo e exige sua ca, o anuncio da morte da estrela. E dura
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O SALTO DOS ÓRFÃOS: O PÓS-MODERNISMO SEM MODERNISMO DA DRAMATURGIA PERUANA ATUAL
U rdimento N° 20 | Setembro de 2013

can- de Tom Stoppard, obra ambientada duran-


te em termos da vida de uma estrela) para te a Guerra Fria diz: “Para vocês, “liberda-
car nebulosa. Igual como a superno- ca “deixem-me em paz”; para
va, com a modernidade, a maior emissão ca “me dê um pão”. Com toda
de energia se dá momentos antes de sua a sua simplicidade a frase resume a gran-
desaparição e transformação em nebulosa de diferença entre um e outro processo. A
(pós-modernidade). modernidade na América latina se deu no
Nesta etapa da modernidade (este mo- contexto de projetos das chamadas esquer-
dernismo, esta supernova) é na que, uns das. Com distintos graus de radicalismo
anos depois, se inscreve a dramaturgia la- e diversas interpretações do socialismo,
tino-americana da qual tenho falado, esta a ilustração latino-americana do século
que se origina nos anos cinquenta e que XX, em sua grande maioria, interpretava
chamou a atenção de críticos, “antologado- a liberdade com o ideal que levaria se não
res” e público a partir de então. prosperidade, ao menos a igualdade e a
O pós-modernismo (cuja data de ori- satisfação das necessidades mínimas para
gem varia, segundo distintos autores, des- todos. Novamente se trata de uma gene-
m da Segunda Guerra Mundial até ralização inevitavelmente limitada, porém
maio de 68) é precisamente o desencanto boa parte dos artistas da modernidade la-
por essa modernidade depois da eclosão tino-americana esteve comprometida, em
nais do alguma etapa de sua carreira, com projetos
século XIX. É também um desencanto pelas de esquerda. A dramaturgia não foi dis-
ideologias que sustentavam esses ideais, tante disso. Encontrou-se na interpretação
desde o liberalismo até o marxismo (cada e reinterpretação (e revisão) do marxismo
uma, a sua maneira, propunha desenvolvi- um sustento para a busca dessa liberdade.
mento, justiça e liberdade sem deuses). Foi Não obstante, é certo que, às vezes, de tra-
uma sorte de consciência de que as contra- tava simplesmente de uma preocupação
dições eram insuperáveis. Porém, diferen- pelas desigualdades e sofrimentos (a im-
temente da etapa anterior, esta consciência pressão de que algo não anda muito bem),
de contradição ou ausência de um deus que e um desejo de reverter o status sem muita
pusera ordem não causou nenhuma angús- sustentação teórica, a dramaturgia latino-
tia. É um momento de desencanto, porém americana moderna teve, em geral, um
não se deve entender por isto que se trata caráter de “revolta”, como bem viram os
de um período pessimista, pois, ao lado do editores de Dramatists in Revolt já em 1976.
desencanto, há uma “desangustia” (sic). O anterior é algo distinto à liberdade
Os ideais passados foram perdidos, porém econômica, política e individual que pre-
surgiu o ideal do indivíduo sem angústia. dominava na Europa ocidental (e que na
Na América Latina, e particularmente America latina há sido esporádica ou nula),
na sua dramaturgia, se deu um processo porém, como disse, o processo é análogo:
car como busca dos mesmos ideais baixo um susten-
“análogo” ao descrito anteriormente. Va- to racional.
riou em suas datas e em suas durações e E esta analogia pode ser percebida
ni- melhor no processo do modernismo em
ção dos termos que nomeavam os ideais. ambas as dramaturgias. Tomemos como
Porém os ideais, ao menos em sua super- exemplo o Teatro do Absurdo. Enquanto
fície, eram os mesmos. E creio que nisso cou um extremar a liber-
radica a grande diferença entre o processo dade artística e suas formas de expressão,
modernidade – pós-modernidade latino- na America Latina foi um retrato (às vezes,
ni- caricaturesco) de situações da vida social,
ção de seus ideais, particularmente, no de política e domestica. Segundo Howard
“liberdade”. Quackenbush:
Um personagem do drama Rock & Roll ...não se transportam ao pé da letra

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ALFREDO BUSHBY | TRADUÇÃO: JULIANO BORBA
N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

(as formas de) o Teatro do Absurdo mentos, sobre o objetivo da história,


europeu à América de língua hispâni- influenciando os objetivos de um país
ca. O estudioso sempre tem que ter e a inter-relação que se dá entre os
presente que, desde uma perspectiva dois. (Giella, 1981, p. 12-13).
latino – americana, o absurdo (o ir-
racional, o inumano, o sofrido, o ca- Dado que já havia formas de teatro
ótico, o ininteligível) forma parte da “brechtianas” antes das teorizações de
vida social diária de uma multiplici-
Brecht, o mesmo Brecht dava essa “luci-
dade de gente nos países latinos. Não
dez” aos projetos políticos de esquerda do
é necessário que se inventem irracio-
nalismos, porque muitos já os expe- teatro latino-americano; os dramaturgos
rimentam regularmente nas situações se advertiram que o que haviam estado
e intercâmbios humanos da vida co- fazendo tinha um sustento político-ideo-
tidiana. Em varias partes da America lógico.
Latina o Teatro do Absurdo reflete Porém também esse modernismo
a realidade da existência (Quacken- teve seu desencanto; e marcou o inicio
bush, 1987, p.10). da pós-modernidade latino-americana. O
desencanto com os projetos políticos de
O Teatro do Absurdo estava com- esquerda, obviamente foi paulatino e teve
prometido também com a transformação distintos ritmos e cadências nos diversos
social: buscava outorgar um sentido aos países; o continente e o mundo pareciam
“irracionalismos” através da revolta e da irremediavelmente predestinados ao que
violência (Albuquerque, 1991) e da sub- se veio chamar de “neoliberalismo”.
versão. Em 1968, Dois velhos pânicos, obra do
Assim como muitos dos primeiros es- cubano Virgílio Piñera, ganhou o prêmio
tudos da dramaturgia latino-americana teatral Casa de las Américas de Cuba. O prê-
moderna caiam na simplicidade de etique- mio que era oferecido (e ainda é ofereci-
tar muitas obras como Teatro do Absurdo do) à escritores de distintos gêneros literá-
uen- rios, era parte do entusiasmo cultural da
cias alternativas, também algumas aproxi- primeira década da Revolução Cubana,
zeram o mesmo com outras for- a década em que, para muitos intelectu-
mas da dramaturgia europeia: Pirandello, ais e artistas latino-americanos, Cuba era
Teatro da Crueldade, criação coletiva, etc. o modelo a seguir, o território “livre” da
Simplesmente, se enquadrava os drama- América. Em 1969, a obra Dois velhos pâ-
turgos latino-americanos nas categorias nicos foi proibida em Cuba; seu caráter
uencia que, cassem
sim, merece menção principalmente por com o tipo de arte decadente da socieda-
sua relação com o modernismo da drama- de burguesa e já não como “uma visão re-
turgia e os projetos de esquerda: o Teatro volucionária da realidade no sentido que
Épico de Bertold Brecht. E quiçá o mesmo comentam os efeitos que produze a Re-
Osvaldo Dragún que em 1979 melhor ar- volução no indivíduo” (Palls, 1978, p. 27)
uência” de Brecht sobre ele e como se deu de 1959 a 1969. O entusiasmo
seus contemporâneos: havia terminado. O mesmo Terry L. Palls,
que no artigo citado trata fazer coincidir
Também seguramente, há tido in- os ideais da revolução cubana com os do
fluência no teatro latino-americano
teatro do absurdo, como em uma utopia
dos últimos anos o teatro de Bertold
Brecht, porque poderíamos dizer que contranatural em que o compromisso po-
todos os aportes formais de Brecht já lítico e o artístico vão harmoniosamente
estavam no teatro latino-americano... de mãos dadas, se vê obrigado a concluir
[...] muito antes de Brecht havia te- sua nota com um parágrafo que parece
atro épico... [...]. O que sim aportou contradizer toda a sua tese:
Brecht é a sua lucidez sobre os senti- Como post datum, quero assinalar

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O SALTO DOS ÓRFÃOS: O PÓS-MODERNISMO SEM MODERNISMO DA DRAMATURGIA PERUANA ATUAL
U rdimento N° 20 | Setembro de 2013

que depois de 1969 o teatro do absur- ticas que sejam. [...] Sou já crescido
do desapareceu quase por completo para “despetalar margaridas” (Pavlo-
do cenário cubano. Os intelectuais vsky, 2004b, p. 131-132).
que creem que a arte deve refletir
concretamente o compromisso polí- E não posso deixar de mencionar a res-
tico do autor houveram ocupado os posta de Pavlovsky à Augusto Boal, criador
postos administrativos nas agremia-
nitivamente
ções artísticas, as casas editoriais e
o “pai” da dramaturgia brasileira, no que
mesas diretivas dos concursos e hou-
veram instituído restrições temáticas o argentino acusa o brasileiro de haver
para a arte (Palls, 1978, p. 30-31). aceitado a subvenção oferecida ao Teatro
do Oprimido pela Fundação Ford, Banco
Virgílio Piñera, “pai” da dramaturgia Mundial, Conselho Britânico e Secretaria
cubana (em grande parte pela sua Electra de Cultura do Rio de Janeiro:
Garrigó), colaborador da revolução cubana “O que se pode criticar Boal é que ele
desde seus inícios, escritor de obras “ab- baseou sua identidade cultural na luta con-
surdistas” anteriores às de Beckett e Iones- tra o imperialismo cultural e muitos jovens
co, ganhador (como mencionei) do prêmio o seguiram na década de 70. [...] ...ditos
Casa de las Américas, foi sutilmente conde- jovens hoje reconhecidos diretores [...] me
nado ao isolamento e ao silêncio em seu expressaram este ano a decepção pelas ati-
país nos últimos anos de sua vida, não ape- tudes do mestre” (Pavlovsky, 2004a, p. 65).
nas devido às características decadentes de É um processo no qual os dramatur-
sua obra, senão à sua condição homosse- gos (se recorde de Estreia na Broadway de
xual, outro “achaque” da “agonizante so- Usigli) foram deixando de escrever obras
nitiva- de “revolta” para escrever textos com um
mente podre na Dinamarca... maior conteúdo intimista (talvez outro tipo
Talvez haja sido o giro da revolução de revolta). A modernidade e a sua super-
cubana de 1969 que marcou o inicio do nova modernista eram agora uma pláci-
paulatino desencanto das esquerdas (a mo- da nebulosa a que bem se pode aplicar a
dernidade) na América Latina (ver mais a observação de Jameson: “Os últimos anos
respeito em Castro Urioste 1999). O neoli- foram marcados por um milenarianismo3
beralismo, mesmo com tentativas isoladas invertido em que premonições do futuro,
de seus profetas, não conseguiu substituir cas ou redentoras, foram trocadas
o encanto; e mais, segundo Beatriz Rizk m disso e daquilo” (Jame-
“encheu ainda mais de ceticismo os intelec- son, 1991, p.1). E mais diretamente relacio-
tuais e artistas(...) sem que se vislumbrem nado com a dramaturgia latino-americana:
alternativas coerentes para sair desta nova, “Entender a criação coletiva como supe-
como colossal, crise” (Rizk, p.49). Certa- ração da criatividade individual, como a
mente, o processo de desencantamento foi materialização da célula socialista no meio
largo; poderia se dizer que ainda não ter- de um sistema capitalista ferido de morte,
minou, basta para isso revisar os artigos do trouxe como consequência um empobreci-
dramaturgo Eduardo Pavlovsky, especial- mento do teatro, um maniqueísmo estéril e,
mente “Che, Fidel” escrito em 2003: com o tempo, frustração e desencanto” (Pé-
rez Coterillo, 1992, p. 10). Se bem o autor se
Ante certa “ambiguidade” de certos refere ao teatro colombiano, os elementos
intelectuais latino-americanos, que m de algo” que apresenta poder ser
parecem jogar contigo como moçoi- análogos aos outros processos de transi-
las a “despetalar margaridas” à raiz ção do modernismo ao pós-modernismo
dos últimos acontecimentos – neces- na América Latina, aquele modernismo no
sito definir-me politicamente. [...] Eu
te apoio Fidel em tudo. Tenho fé em
3 Milenarianismo: ciclo de mil anos; crença por grupos religiosos, sociais e políticos na
todas as tuas medidas por mais drás- transformação da sociedade na virada do milênio (fonte:Wikipedia: millenarianism)
(N.deT.)

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ALFREDO BUSHBY | TRADUÇÃO: JULIANO BORBA
N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

qual a dramaturgia peruana careceu de um No entanto, a diferença do que per-


“pai” e de sua correspondente antologia na cebiam então La Torre e Eidelberg, hoje a
edição do Centro de Documentação Teatral dramaturgia e o teatro peruano sim alu-
do Ministério de Cultura da Espanha et al. dem aos seus contextos imediatos. Os dra-
maturgos peruanos atuais sim conseguem
Os indícios do salto reverter o que La Torre exigia: “O tempo
Em 1986, Alfonso de La Torre, em um imediato dos acontecimentos pode ser len-
artigo de título revelador (“Para que serve tamente assimilado ao tempo analítico do
o teatro no Peru?”), se queixava da defasa- teatro” (La Torre, 2007, p. 59).
gem que percebia entre a realidade políti- É certo que as características dos tem-
ca e social peruana e as montagens teatrais pos (1986-91-92 e primeiros anos do sé-
que se exibiam em Lima. As notícias das culo XXI) são diferentes, mas não assim o
fossas comuns, dos massacres do Sendero vertiginoso das transformações. Os atuais
Luminoso e do Exercito, toque de reco- dramaturgos peruanos têm sabido manter-
lher; Segundo La Torre, a realidade avan- se ao ritmo das transformações políticas,
çava em um ritmo demasiado vertiginoso sociais e tecnológicas dos últimos tempos
e o teatro não podia manter-se ao dia com (no plano nacional e no internacional),
estes acontecimentos: “a realidade supera tempos pós-modernos em que muitos re-
tudo o que a cena pode, em temas e situa- ferentes culturais de um ano são obsole-
ções, alcançar a transmutar criticamente” tos no ano seguinte. Uma boa parte desses
(La Torre, 2007, p. 56). Comenta La Torre dramaturgos estreia suas obras no mesmo
três montagens teatrais de então (março de ano da escritura (longe dos “vinte anos de-
1986); vê que “La Chunga” e “Encontro de pois” que se queixara La Torre), sem que,
zorros” tratam temas de literatura escritas por isso, percam sua universalidade tem-
há mais de duas décadas antes. Algo simi- poral. Somente dois exemplos: primeiro,
lar diz de “O terno branco”: salvo por A dor por tua ausência, de Jaime
Nieto (escrita em 2003 e estreada em 2004)
Vejo “O terno branco” (...) que resgata todas as outras seis obras do autor foram
um texto escrito por Alonso Alegría há à cena no ano de suas escrituras; segundo,
dez anos sobre um tema escrito por Ray não transcorre mais de um ano desde que
ca Mariana Althaus escreve uma obra até que
estadunidense, dez anos antes. Esse re- a estreia. Este, a meu ver, é um dos mais
trocesso ao passado “pesca” de manei-
fortes indícios de que existe uma geração
ra tangencial nossos dilemas de hoje,
porém o faz reinterando tudo o que os
de dramaturgos pós-modernos no Peru,
economistas, sociólogos e jornalistas dramaturgos com a urgência de expressar
veem estado esclarecendo nestes últi- o que ocorre ao seu redor o antes possível,
mos vinte anos. É assombroso e sinto- dramaturgos para os que a paciência mo-
mático que um autor peruano assuma a derna não é uma virtude. Certamente, o
“verdade” peruana em um tema estadu- anterior não quer dizer que as obras destes
nidense, e que vinte anos depois Telba grupos de dramaturgos se ambientem no
o atualize” (La Torre, 2007, p. 58). “aqui e agora”, porém o “aqui e agora” é
perfeitamente retratado tanto no Japão da
Talvez, a indignação de La Torre era segunda Guerra Mundial (Kamikaze! ou A
excessiva. Menos dura, porém igualmente história do covarde japonês de César de María
amarga e receosa é a resenha sobre a tem- (DE MARÍA 1999)) como em 2015 depois
porada teatral de Lima de 1991 e 1992 que da hecatombe nuclear (Zoelia e Gronelio de
faz Nora Eidelberg que começa com uma María Teresa Zúñiga (Zúñiga, 2004)) so-
oração desalentadora: “Ao chegar a Lima mente para dar um par de exemplos.
em Julio passado, busquei as ofertas de te- Porém, ao meu parecer, o indicador
atro no jornal e me disseram que já não as mais notável da reversão na tendência (a
publicavam” (Eidelberg, 1993). ignorância) das últimas décadas sobre a
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dramaturgia peruana contemporânea foi cisamente essa “orfandade” que há feito


o I Concurso de Dramaturgia Peruana que com que a dramaturgia peruana pós-mo-
convocou a Associação Cultural Peruano- derna dê um salto quantitativo e qualitati-
Britânica. Uma novidade desse concurso vo não visto durante todo o século XX. Já
era que, além dos prêmios em dinheiro, o não se necessita de um “pai”. É o mesmo
ganhador obteria a produção para monta- espírito da época pós-modernista que faz
gem para 2008. Apresentaram-se noventa e com que não se requeira alguém que seja
oito dramaturgos, uma cifra inimaginável modelo, interpreta a realidade e a moral ou
há uma década (em outro concurso, patro- dite ordens. A tendência moderna que exi-
cinado por ESAN em 2000, com prêmios gia uma série de imperativos para a criação
de dinheiro muito mais alto, somente se do cidadão (ou do revolucionário) já não é
apresentaram ao redor de trinta obras, e tal; cada indivíduo se apresenta na socie-
isso que, a diferença do concurso da Asso- dade por si mesmo tal como agora estão se
ciação Peruano-britânica, o da ESAN sim apresentando os dramaturgos nacionais. E
permitia mais de uma obra por autor). Isto em certo sentido, a “orfandade” pode ser
é, existem, ao menos, noventa e oito dra- inclusive uma vantagem. O narrador Iván
maturgos peruanos em atividade e ansio- Thays comentou: “a presença de Vargas
sos para dar suas obras ao conhecimento Llosa e Bryce chegou a pesar demais para
do público. Outra novidade foi uma peti- essa geração e praticamente a silenciou”
ção do jurado do concurso: “O jurado este- (Jarque, 2003). Se bem que Thays se refere
ve integrado pelos dramaturgos nacionais à produção narrativa dos anos setenta e oi-
Veleste Viale, César de María e Roberto rmar que a “sombra”
Ángeles. Eles pediram, ao ver a qualidade desses “pais” segue afetando (sombrean-
das obras, que no lugar dos dois prêmios do) a narrativa peruana atual; e o mesmo
estipulados previamente, se admitira um rmar de Vallejo (morto em 1938)
terceiro” (Agencia Andina, 2007). A quali- repeito à poesia. A falta do “pai” nos tem-
cação das pos em que os patrocínios se desmantelam
bases. E por último, no que a novidades se ou já não interessam, pode ser um impulso
refere, os três prêmios foram adjudicados a antes que obstáculo.
dramaturgos bastante jovens: Gino Luque Diz Rizk à propósito da pós-moderni-
(27 anos), Lucero Medina (27 anos) e Ma- dade: “Dessa maneira se dá a passagem da
riana de Althaus (33 anos). “práxis” à “ação”, entendendo a “práxis”
As novidades desse concurso – a mon- como levar a cabo projetos de acordo com
tagem, a quantidade de participantes, a um cânone cultural estabelecido e a “ação”
qualidade das obras, a juventude dos ga- adora a
nhadores – é um indicador mais de que há qualquer cânone estabelecido e aceito como
uma nova promoção de dramaturgos no tal” (2007: 39). Longe de ser um desencan-
Peru, uma promoção de escritores nasci- to que leva a inação, é um ceticismo que
dos desde a década de setenta (e que pro- leva a ação do indivíduo, com a liberdade
duz em ritmo acelerado) que, consciente de que não há que cumprir com ninguém,
ou inconscientemente, há decidido supe- não há que estar à altura de ninguém, pois
rar a ausência do “pai” que os introduzira cou duvidosa.
à modernidade e ignorar a ignorância que Mencionei que um indicador dos novos
sofreram momentos anteriores. Há uma tempos pós-modernos da dramaturgia pe-
promoção (atualmente com menos de 50 ruana pode-se ver no concurso da Associa-
anos) que, como uma horda de órfãos, há ção Peruano-Britânica. Outro indicador é
saltado, sem permissão de ninguém nem que, a partir da década de noventa, alguns
complexas heranças, diretamente à pós- diretores peruanos de grande prestígio co-
modernidade. meçaram a assumir o risco de montar obras
Por outro lado, se pode dizer que é pre- de jovens dramaturgos peruanos. São pou-

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cos, porém estão ai: Alberto Isola, obras de não é somente desde o exterior, uma curio-
Rafael Dummett (Números reais, 1994), Ma- sidade para gringos, ou, desde o exterior,
riana Althaus (Turquesa 2003) e César Ma- uma crítica impressionista de patrocínios
ría (O último barco, 2004). Roberto Ángeles, e inimizades, invejas e adulações; já exis-
uma obra de César María (Kamikazi, 1999); te a intenção, na tradição de Alfonso de La
Luis Peirano, uma obra de Alfredo Bushby Torre e Hugo Salazar del Alcázar, de anali-
(História do gol peruano, 2003); Ruth Escude- sar seriamente sua obra como parte de um
ro, obras de César María (Escorpiões olhando processo do qual não podem ser excluídos.
o céu, 1993) e de Eduardo Adrianzén (O dia A numeração dos indícios poderia se-
da lua, 1998); Marisol Palacios, duas obras guir com as publicações das obras (mesmo
com a dramaturgia de Mariana Althaus (A que ainda, na sua maioria, por editoriais
viagem, 2001 e Vinho, bate e chololate, 2004) “independentes”) e, nesse sentido, são des-
e uma de Aldo Miyashiro (Água, 2003). tacáveis as “Mostras” impulsionadas por
Também estão os diretores jovens apostan- Sara Joffré e as antologias lançadas por Ro-
do em seus contemporâneos dramaturgos. berto Ángeles.
Os exemplos de Óscar Carrillo (com obras Porém baste dizer que, por onde se
de César María e Vitor Falcón) e Diego la olhe, a dramaturgia peruana atualíssima há
Hoz (com obras de Juan Carlos Méndez, dado um salto por sobre o modernismo e
Gonzalo Rodríguez Risco, Claudia Sacha está já bem instalada na pós-modernidade.
e Eduardo Andrianzén) são somente dois ca por averiguar as caracterís-
exemplos desta tendência. E certamente, ticas particulares desta pós-modernidade
também estão os jovens dramaturgos que peruana da dramaturgia: Deixou alguma
optam por dirigir ou codirigir (e às vezes “pegada” a ausência de “pai”? Há, toda-
até produzir) eles mesmos as suas obras via, uma tensão ou uma nebulosa entre a
para eles mesmos apresentarem para a so- “práxis” e a “ação”? E o mais importante:
ciedade sem o patrocínio de ninguém: Cé- Que feridas ou desencantos deixaram nes-
sar bravo, María Tereza Zúñiga, Jaime Nie- ito interno e a re-
to, Mariana de Althaus e Aldo Miyashiro presentação de quando seus autores eram
entre outros. crianças, adolescentes ou jovens? Não per-
Alguns desses autores começam já a ca o próximo capítulo...
ser estudados nas universidades (na Ponti-
fícia Universidade Católica do Peru; cursos
da Especialidade de Literatura incluíram
obras de César de María, Eduardo Adrian-
zén, Rafael Dummet desde 1993; em 2008
um curso de Mestrado de Literatura His-
panoamericana cobriu, além dos autores an-
teriores, estudos sobre as obras de Jaime
Nieto, Mariana Althaus e Aldo Miyashiro).
ca del
Sur ministrado por Santiago Soberón os in-
cluem na última etapa da “História crítica
do teatro peruano”. Diz o programa que o
curso culminará com autores últimos como
De María, Adrianzén, Miyashiro, De Al-
ca del Sur,
2007). Há já um interesse crescente sobre
esses dramaturgos (ver Soberón, 2005). E
a atenção aos atuais dramaturgos perua-
nos por parte da comunidade acadêmica já

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