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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


Faculdade de Filosofia
Beatriz Samuel Chilaùle
Raquel João Razão
Vanessa Vasco Furruma

A Retórica na Idade Antiga


(Licenciatura em Filosofia)

Maputo
Maio de 2020
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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


Faculdade de Filosofia

Beatriz Samuel Chilaùle


Raquel João Razão
Vanessa Vasco Furruma

A Retórica na Idade Antiga


(Licenciatura em Filosofia)

Trabalho de pesquisa apresentado à disciplina de


Retórica, da Faculdade de Filosofia da
Universidade Eduardo Mondlane, como
exigência de avaliação.

Docente:
Dra. Linda Abdul
Mestres Kazadi Meji

Maputo

Maio de 2020
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Índice
INTRODUÇÃO...............................................................................................................3

1. Conceptualização da Retórica.......................................................................................4

2. Retórica na Idade Antiga...............................................................................................5

2.1. Retórica dos sofistas...............................................................................................5

2.2. A retórica com Platão e Isócrates (críticos dos sofistas)........................................6

CONCLUSÃO..................................................................................................................8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................9
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INTRODUÇÃO
No presente trabalho temos como tema: A retórica na Idade Antiga. Este trabalho pode
ser relevante porque nos ajuda a compreender o contexto do surgimento da retórica e o
debate desenvolvido na época antiga, entre sofistas, Platão e Isócrates. Em geral a
retórica é a arte de utilizar a linguagem em um discurso persuasivo, por meio do qual
visa-se convencer e persuadir um auditório.

O trabalho tem como problema: Sobre que pressupostos surge e se desenvolveu a


retórica na Idade Antiga?

Sendo a retórica uma disciplina de caracter científico, que tem como objecto de estudo,
elaboração e criação de discursos com fins persuasivos. Desta forma, o presente
trabalho tem como objectivo geral: Analisar a retórica na idade antiga e temos como
objectivos específicos: Contextualizar a génese da retórica; Explicar a retórica na idade
antiga e Esclarecer a retórica Sofistica, Platónica e de Isócrates.

Este trabalho é fundamentado pela leitura dos textos de Mosca com título: Retóricas de
ontem e hoje; a obra de Mateus com o título: A Retórica do sec. XXI e por fim a obra de
Fioreto com o título: Retórica e argumentativo, estes são unânimes em dizer que a
retórica trata de discursos que tem como fins persuadir e são unanimes em dizer que a
retórica nasceu em Sicília, uma cidade grega e que foi transferida a cidade de Atenas
por Górgias.

O trabalho obedeceu o método indutivo, a pesquisa bibliográfica suportada pelas


técnicas de comparação de obras e manuais que reflectem sobre a retórica na idade
antiga, e também temos a técnica hermenêutica que consiste na análise e interpretação
de textos.

O presente trabalho está estruturalmente organizado em títulos e subtítulos, que são:


conceptualização da retórica na idade antiga e retórica nos Sofistas, Platão e Isócrates.
Nestes títulos e subtítulos, discute-se o conceito da retórica, visto que possui várias
definições, contudo, de forma genérica, a retórica é entendida como a arte de bem falar.
A retórica nos sofistas era entendida como a arte relativa aos discursos, que tinha a sua
força no seu artífice e na persuasão discursiva. Em Platão e Isócrates estão preocupados
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com uma retórica que valoriza a verdade e não a verossimilhança, mas sim com um
discurso justo, desta forma, se apresentam como críticos dos Sofistas.

1. Conceptualização da Retórica

A questão da definição do termo retórica tem sido problemática, dada a sua


complexidade sendo que os estudos sobre ela incluem um vasto campo complexo e
multidisciplinar visto que ela abrange a persuasão, argumentação e o discurso. Segundo
Japiassú e Marcondes (2001: 167) Etimologicamente o termo Retórica provém do grego
Rhetorike literalmente significa a arte ou técnica oratória; de re-tor: orador. Assim é
legítimo afirmar que a retórica é a arte de utilizar a linguagem em um discurso
persuasivo, por meio do qual visa-se convencer um auditório da verdade de algo.

Quando um orador usa a retórica tem em vista convencer o seu auditório tornando-se
eloquente e persuasivo no discurso moldando a maneira de agir, ensoar, as crenças e os
pensamentos do auditório. “A retórica é a arte de bem falar e demostrar loquacidade e
expressividade diante de um auditório com o objectivo de ganhar a adesão para a sua
causa”.(Quintiliano apud Mateus, 2018: 21). Quando um orador procura convencer seja
num discurso oral ou escrito, implica um carácter argumentativo na medida em que a
adesão se baseia na apresentação discursiva e racional de teses devidamente justificadas
perante uma situação.

A retórica é em Aristóteles a faculdade de descobrir em todo o assunto o que é


capaz de persuadir […] O termo persuadir origina-se de persuadir e
(per+sudere) per, como prefixo, significa de modo completo, Sueder e equivale
a aconselhar[…] Persuadir contem em si o convencer(cum+vincere)[…]
persuadir, mover pelo coração, [ela exploração o lado emocional(as paixões).
(De Lima, 2001: 26)

A retórica é polissémica visto que ela é de carácter complexo na medida em que está
aberto a dúvidas e ao relativismo, daí que Aristóteles define a retórica como a
capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim de persuadir. A arte
retórica é teoria e se desdobra a partir da natureza humana. A retórica não é meramente
uma habilidade nem um simples talento, mas sim, um método teórico e prático que guia
o desenvolvimento de uma dada relação comunicativa, pode ser aprendido desenvolvido
e modificado, portanto, é um método evolutivo que se dedica a usar a persuasão no
discurso para interpelar uma determinada questão tida como problemática.
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2. Retórica na Idade Antiga

De acordo com Mateus (2018: 59), a retórica nasce, não em Atenas, mas na Sicília
grega, em 465 A.C, e possui uma origem judiciaria dado que o objectivo era de
defender assuntos jurídicos. A retórica surge intimamente associada a reivindicação da
propriedades. Ela aparece, pela primeira vez, como instrumento de poder, técnica de
domínio através da linguagem. Por ocasião de decretos de Hierão e Gelão, dois tiranos,
que decidiam a deportação e expropriação de inúmeras propriedades, a população
siciliana reclamou os seus bens iniciando uma guerra civil a qual se seguiam imensos
conflitos em tribunal. Contudo, não se conhecia a figura do profissional de advogado
como se conhece nos dias actuais, de forma que os cidadãos deviam buscar a solução de
seus conflitos no judiciário, providenciar por si mesmos a sustentação de suas teses.

O nascimento da retórica é tradicionalmente atribuído ao siciliano Córax, seu discípulo


Tísias e remonta pelos sofistas em Atenas nos meados do séc. V. a.C. “A base da
Retórica de Córax e de Tísias era a procura do verossímil e, portanto, a sua Retórica
devia ser de tipo caracteristicamente probatório, de procura de provas, tipo que depois
seria referido e discutido por Aristóteles. (FIORETO, 2005:33). Nesse momento, a
retórica, era entendida como a arte de persuadir e era usada principalmente na área
jurídica, em que, a causa vencedora em um conflito judicial não tinha que ser
necessariamente a mais justa, mas com certeza, a mais eficientemente sustentada em
juízo, o que permite a observação de que a retórica não argumenta a partir do
verdadeiro, mas do verossímil.

2.1. Retórica dos sofistas

A retórica chega a Atenas por meio de um sofista chamado Górgias. Nesta época,
Atenas era o centro do mundo e oferecia incríveis oportunidades aqueles que fossem
bem-falantes, argutos e capazes de argumentar em publico, o sistema politico era
democrático “A democracia é a condição indispensável ao desenvolvimento da
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eloquência; reciprocamente, a eloquência é a qualidade superior do individuo que


pertence a uma democracia: nenhum dos dois pode passar sem o outro”(TODOROV
apud MATEUS, 2018: 61). A partir disso, pode se afirmar que na Antiguidade Clássica,
a atribuía-se à Retórica uma função essencial na vida política e cultural das sociedades,
na educação dos jovens e na vida cívica e geral dos cidadãos na medida em que, para
participar na vida politica era necessário falar eloquentemente.

A retórica consolida-se definitivamente em Atenas por obras dos sofistas, estes que se
autodenominavam sábios, aqueles que professam a sabedoria. Os mais importantes
foram Protágoras e Górgias. Importa salientar que os sofistas abrem as primeiras escolas
de retorica, nas quais se ensinavam, entre outras coisas a fazer belos discursos sobre
qualquer assunto e cobravam pelos seus ensinamentos. “A Retórica com Górgias era a
arte relativa aos discursos, que tinha a sua força no seu artífice e na persuasão
discursiva ou seja, arte criadora de uma crença, e não de ensinamentos”( FIORETO,
2005: 35). Aqui, nota-se que o sofista não se importava com a veracidade dos discursos
apenas importava-se em ensinar a fazer discursos aparentemente verdadeiros.

Os sofistas professavam o ceticismo ( não achavam que se podia chegar


a certeza), consideravam verdade e justiça como relativas e, em
consequência, treinavam seus alunos a defender quaisquer dos lados de
uma questão, não importando se justo ou injusto, cobiçando apenas
ganhar a causa, sem levar em conta os aspectos éticos. (idem: 37).

O que os sofistas professavam, foi devido as muitas viagens que fizeram e por esse
motivo, conheciam diversos usos e costumes e isso lhes dava uma visão de mundo
muito mais abrangente do que tinham os outros e lhes permitia mostrar a seus alunos
que uma questão podia admitir diferentes pontos de vista e é isso que levou Protágoras a
afirmar que o homem é a medida de todas as coisas, que o levou, inclusive, a afirmar
que o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstancias em
que elas se inserem e não aquele que pretende expressar verdades absolutas.

2.2. A retórica com Platão e Isócrates (críticos dos sofistas).


O pensamento retórico de Platão surge para criticar o pensamento retórico dos sofistas,
é a partir deste pressuposto que, pode-se entender o pensamento Platónico. Importa
salientar que, Platão foi discípulo de Sócrates, este que travava batalhas contra os
sofistas por possuírem pensamentos diferentes sobre vários assuntos.
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O que na verdade distingue a pesquisa socrática dos sofistas esta


firmado no facto de que a primeira, tendo como objectivo de constituir
uma ciência moral, tenta chegar a proposições morais de uma verdade
universal, absolutamente aceites por todos, enquanto a pesquisa sofista,
apesar de revelar interesse também por questões morais, filosóficas e
politicas, tem como fim precípuo o ensino da retorica .( MOSCA,
2001: 101).

A crítica que Platão faz para os sofistas surge na medida em que, segundo ele não se
pode almejar somente falar eloquentemente, deve-se ter em conta os aspectos éticos isto
é, a veracidade dos discursos. De acordo com Mateus (2018: 67), Platão afirma que a
retórica dos sofistas esta somente interessada nas crenças acerca da justiça e não na
própria justiça em si. O problema da retórica e dos sofistas é que em vez de se
dedicarem a virtude e a verdadeira sabedoria, eles inventam definições convenientes de
justiça de acordo com aquilo que lhes for mais conveniente.

Platão acredita que a retórica dos sofistas é má. A partir deste pressuposto, Platão
apresenta duas retóricas: a dos sofistas que ele considera má (logográfica) e a boa que
ele considera filosófica que tem um caracter mais pedagógico e educativo em relação a
dos sofistas.

De acordo com Dos Santos (1962: 8), a retórica má ou logográfia, actividade que
consiste em escrever qualquer discurso, seu objecto é a verossimilhança, a ilusão, é a
retórica dos retores, das escolas, de Górgias, dos sofistas. A boa, ele denomina de
retorica de direito, é a verdadeira retórica, a retórica filosófica ou ainda dialéctica, seu
objecto é a verdade, Platão a chama de psicagogia (formação das almas pela palavra). A
retórica Platónica afasta o escrito e busca a interlocução pessoal, a adhominatio, o modo
fundamental do discurso é o diálogo entre o mestre e o discípulo, unidos pelo amor
inspirado, pensar em comum, tal poderia ser a divisa da dialéctica. A retórica é um
diálogo do amor.

De acordo com Fioreto (2005: 39), Isócrates defende a ideia de que a sabedoria ou
filosofia, de nada vale sem a retórica, assim como esta nada vale sem a sabedoria. Nas
suas palavras, a retórica se faz uma arte de bem pensar, bem viver e bem falar. Para ele,
a palavra é um dom divino pois, a arte da palavra não é um mero exercício formal, mas
uma técnica que, ao mesmo tempo, é educação e desenvolvimento do homem. Nota-se
que embora Isócrates tenha criticado os sofistas, ele não radicalizou a sua critica isto é,
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ele levou em conta o pensamento dos sofistas na construção do seu próprio pensamento
retórico e tentou conciliar as duas retóricas: retórica sofistica e filosófica.

CONCLUSÃO

Este trabalho tem como tema: Retórica na Idade Antiga. No decurso da história da
retórica nota-se que ela teve a sua génese na cidade de Sicília estando ligado a
reivindicação de propriedades, a retórica foi transferida para a cidade de Atenas pelo
sofista Górgias e foi onde a retórica encontrou um terreno fértil para o seu
desenvolvimento, já que a democracia era o regime iminente naquela cidade, isto é, em
Atenas todos (excepto mulheres, crianças, escravos e estrageiros) podiam participar da
vida política bastasse que tenha domínio da palavra (oratória).

Os sofistas olhavam para a retórica como arte de construir discursos tendo como
finalidade convencer e persuadir o público e que esta arte poderia ser ensinada, assim
para os sofistas, a retórica não importava-se a veracidade dos discursos mas sim, fazer
discursos eloquentes, estes que aparentavam ser verdadeiros, por essa razão, os sofistas
foram alvos de críticas por parte de filósofos como Sócrates, Platão entre outros, estes
que discordavam dos sofistas pois, para eles, a retórica não deve preocupar-se somente
em construir discursos persuasivos e eloquentes, mas também deve preocupar-se com a
veracidade dos mesmos discursos. Deste modo, a retórica na idade antiga apresenta-se
como uma fase preparatória da retórica, o debate era preliminar, contudo, a retórica
antiga representa-se em parte como uma retórica que se preocupa somente com a
eloquência e por um lado, se apresenta como discurso ou um diálogo pedagógico, e os
discursos deviam ser não apenas eloquentes como faziam os sofistas, mas também
legítimos e verdadeiros.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE LIMA, Marcos Aurélio. (2011). A retórica em Aristóteles: Da orientação das


paixões ao aprimoramento da eupraxia. Natal, IFRN.

DOS SANTOS, Mário Ferreira. (1962). Curso de Oratória e Retórica. 9ª.ed., São
Paulo, Logos.

FIORETO, Thissiane. (2005). Retórica e argumentatio: uma disputa entre MEM de Sá e


Cururupeba. São Paulo, UNESP.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. (2001). Dicionário Básico de Filosofia.


Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

MATEUS, Samuel. (2018). A Retórica no SÉC. XXI. Portugal, Covilhã.

MOSCA, Lineide de Lago Salvador. (2001). Retóricas de Ontem e Hoje. 2ª.ed.,[s. l, s.


n].

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