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Contabilidade Social

Universidade do Sul de Santa Catarina


O livro Contabilidade Social apresenta um
importante marco conceitual e prático para o
estudante, evidenciando uma relação tênue entre
indicadores econômicos e a política
macroeconômica. A partir da compreensão e

Contabilidade
análise da estrutura das contas nacionais, o
estudante, futuro profissional no mercado, obterá

Contabilidade Social
um diferencial competitivo e estratégico, que
permitirá antecipar movimentos da economia, em

Social
especial por parte do governo e de grandes
empresas, garantindo sempre a melhor alocação
dos recursos disponíveis, seja em
organizações públicas, seja em
organizações privadas.

w w w. u n i s u l . b r
Universidade do Sul de Santa Catarina

Contabilidade
Social

UnisulVirtual
Palhoça, 2014

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Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt

Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão


Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
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Diretor
Fabiano Ceretta

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Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica
Eliza Bianchini Dallanhol

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Thiago Paulo Silva de Oliveira

Contabilidade
Social

Livro didático

Designer instrucional
Marcelo Tavares de Souza Campos

UnisulVirtual
Palhoça, 2014

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Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2014 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professor conteudista Diagramador(a)


Thiago Paulo Silva de Oliveira Fernanda Fernandes

Designer instrucional Revisor(a)


Marcelo Tavares de Souza Campos Smirna Cavalheiro

Projeto gráfico e capa ISBN


Equipe UnisulVirtual 978-85-7817-671-6

339.381
O52 Oliveira, Thiago Paulo Silva de
Contabilidade social : livro didático / Thiago Paulo Silva de
Oliveira ; design Instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. –
Palhoça : UnisulVirtual, 2014.
162 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-671-6

1. Contabilidade social. 2. Contas nacionais – Brasil. I. Campos,


Marcelo Tavares de Souza. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Sumário

Introdução | 7

Capítulo 1
Contabilidade social: conceitos, utilização e
limitações | 9

Capítulo 2
Contas nacionais | 41

Capítulo 3
Contas nacionais no Brasil | 81

Capítulo 4
Balanço de pagamentos | 111

Considerações Finais | 157

Referências | 159

Sobre o Professor Conteudista | 161

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Introdução

Economistas e estudantes de economia já estão acostumados com uma série de


indicadores e índices econômicos, principalmente em assuntos relacionados à
macroeconomia, economia monetária, economia internacional e econometria.

Embora seja rotina em nossos estudos e noticiários econômicos, creio que


raramente nos perguntamos de onde surgem esses indicadores. Como eles são
elaborados? Como são consolidados? Qual a importância de compreender a
metodologia de cálculo? Entre outros questionamentos.

São muitos os indicadores e índices econômicos, como, por exemplo, renda,


produto, consumo, depreciação, investimento, poupança, taxa de câmbio,
entre outros. Assim, o estudo da contabilidade social tem por objetivo mostrar
a pesquisadores, profissionais e estudantes como os números daqueles são
agregados e, principalmente, a relevância para a macroeconomia.

Não temos dúvidas quanto a importância da macroeconomia para a


elaboração de políticas econômicas. Entretanto, a questão a ser considerada
é que as equações e relação dos agregados macroeconômicos precisam,
necessariamente, ser referenciados em dados da economia real. Ou seja,
precisamos de dados e indicadores fiéis da economia.

Neste sentido, pouco eficaz seria o avanço dos estudos na área de teoria
econômica e macroeconomia caso não houvesse séries temporais que pudessem
ser utilizadas no processo de decisão do governo e das empresas, por exemplo.
Assim como escassas seriam as teorias que não pudessem ser comprovadas por
meio da análise da evolução dos principais indicadores econômicos.

Questões econômicas primordiais poderiam ficar comprometidas. Por exemplo,


como definir políticas de estímulo ao consumo se não houver dados atualizados
sobre essa variável? Como mensurar o impacto de políticas econômicas se não
houver séries temporais que permitam analisar a evolução de indicadores?

Conforme podemos perceber, a teoria econômica, em especial a macroeconomia,


é dependente de dados e indicadores para que seu uso seja efetivo. E é sobre
esses indicadores que vamos estudar neste livro.

Sendo assim, vamos estudar cada detalhe de indicadores e índices econômicos


na medida em que avançamos em nossos estudos, bem como analisar a

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forma como eles se relacionam. Por exemplo: Como é calculado o produto da
economia? Quais variáveis se relacionam? Quais são as fontes de renda de uma
família? Quais são as contas de despesa de um governo?

Sabidamente, vivemos em uma sociedade em que números são fundamentais


para qualquer área de estudo e a contabilidade social assume importante função
de mensuração do movimento econômico de uma nação.

Contudo, não trataremos apenas de números, uma vez que vamos estudar
conceitos, teorias e metodologias para o cálculo do produto em uma economia.
Nosso objetivo é o estudo do sistema de contas nacionais e a forma como eles se
relacionam com o conjunto dos agregados macroeconômicos.

Por fim, ao término de nossos estudos vamos compreender não somente a


metodologia de cálculo dos indicadores econômicos, como também analisar
a evolução da economia de um país e, principalmente, a forma como ele se
relaciona com os demais países do mundo e a importância desse relacionamento
para o desenvolvimento econômico.

Bom estudo!

Professor Thiago

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Capítulo 1

Contabilidade social: conceitos,


utilização e limitações

Habilidades Por meio deste capítulo você desenvolverá a


habilidade de identificar os conceitos básicos de
contabilidade social a partir do uso de métodos
das ciências contábeis associados à teoria
econômica, e, ainda, aplicar esses métodos na
construção de indicadores básicos de um país, em
especial produção e renda. Por fim, desenvolverá
a habilidade de interpretar a metodologia de
mensuração do produto e do fluxo circular da renda
na economia.

Seções de estudo Seção 1:  A origem e evolução da contabilidade


social

Seção 2:  Conceitos básicos de contabilidade social

Seção 3:  Fluxo circular da renda

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Capítulo 1

Seção 1
A origem e evolução da contabilidade social

1.1 A origem da contabilidade social


A contabilidade social se constitui pela necessidade de o governo mensurar a
atividade econômica de forma estruturada. Sua história remonta ao século XVII,
com estudos e ensaios econômicos dos fisiocratas e sua primeira proposta para
estimar a renda nacional. Embora muito restrita, pois só considerava a formação
de produto no setor primário (agrícola), esta foi a primeira iniciativa de quantificar
o produto de um país e ocorreu na França.

Sendo assim, cabe destacar que a etapa inicial de estudos e aplicação dos
primeiros instrumentos da contabilidade social compreende o período entre a
segunda metade do século XVII até a década de 1930, conforme afirma Rossetti
(1992, p. 21):

A primeira etapa abrange um período relativamente longo.


Inicia-se com alguns trabalhos pioneiros desenvolvidos na
segunda metade do século XVII. Atravessa toda a era clássica
do pensamento econômico, que se estende pelos séculos XVIII
e XIX, e se prolonga até a década de 30, à época em que se
acelerou o desenvolvimento da análise econômica agregativa.

Rossetti ainda classifica os principais momentos históricos da contabilidade


social, os quais são apresentados por meio do quadro a seguir:

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Contabilidade Social

Quadro 1.1 – Evolução da contabilidade social

Autor Ano Contribuição

William Petty 1665 Estimativa de renda nacional da Inglaterra.

Adam Smith 1776 Revisão do conceito fisiocrata de produção e renda


com a publicação de “A riqueza das nações”.

George Tucker 1843 Estimativa de riqueza, renda por setor e região dos EUA.

Alfred Marshall 1890 Esclarecimento sobre os conceitos de produção e


renda com a publicação de “Princípios econômicos”.

Irving Fisher 1906 Estabelecimento básico do sistema de contabilidade


social com a publicação da obra “A natureza do
capital e da renda”.

John Maynard Keynes 1936 Lançou as bases da visão moderna econômica


agregativa com a publicação da obra “A teoria geral
do emprego, do juro e da moeda”.

Organização das 1952 Divulgação do System of National Accounts 52


Nações Unidas (SCN-52), que propõe uma metodologia básica para
cálculos de contabilidade social.

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992, p. 41).

Entre os eventos demonstrados, a contabilidade social assume papel de


relevância com a mensuração de agregados macroeconômicos mais recentes,
em especial:

•• produto;
•• renda; e,
•• dispêndio.

Nesta nova fase, apoiada pelos estudos macroeconômicos de Keynes, a


Produtores,
contabilidade social tem por objetivo mensurar os
consumidores, agregados macroeconômicos, a inter-relação entre os
governos e economia agentes econômicos e o estudo do comportamento entre
externa.
transações econômicas.

É importante observar que a crise de 1929, e a lenta recuperação das economias


de diversos países até o período pós-guerra, representou uma fase importante
da economia mundial, pois foi nessa época que os estudos de Keynes tiveram
grande influência na condução de políticas econômicas.

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Capítulo 1

Segundo Blanchard (2001), após a crise de 1929, não havia qualquer indicador
confiável nos Estados Unidos capaz de mensurar movimentos do mercado,
emprego, rendimento das famílias norte-americanas ou qualquer outra importante
variável econômica.

Blanchard (2001, p. 22) também comenta que “para compreendermos a crucial


importância dessa previsão e consistência, basta examinar as estatísticas de
países que ainda não desenvolveram um sistema de contabilidade nacional”. Para
o autor, nesses países, números que deveriam se agregar não são agregáveis, o
que impede qualquer tentativa de elaboração de políticas econômicas.

O estudo referente à contabilidade social foi aprofundado, tendo como foco


a mensuração da atividade econômica e social, por meio da criação de
sistemas contábeis e estatísticas econômicas que permitiram fácil análise e
compreensão da atividade econômica em determinado espaço temporal.

É comum haver certa confusão com o conceito de contabilidade social, pois


muitas pessoas imaginam ser uma área de estudo das ciências contábeis e que
trabalha com indicadores para a área social. Na verdade, a contabilidade social
trata de estratégicos e complexos indicadores de uma economia. Diante deste
contexto, muitos autores, como Paulani e Braga (2007) e Rosseti (1992), preferem
tratar desta área como sendo contabilidade nacional.

Desse modo, enquanto a macroeconomia acompanha os movimentos de


medidas agregadas, a contabilidade social se preocupa com a mensuração
dos mesmos. Assim, compete à macroeconomia a caracterização dos agentes
econômicos, suas formas de relacionamento e a identificação dos fluxos entre
eles, ao passo que cabe à contabilidade social estruturar um sistema que seja
capaz de mensurar as transações observadas pelos modelos macroeconômicos
(ROSSETTI, 1992).

Nesse sentido, a contabilidade social procura agregar instrumentos de


mensuração que permitam quantificar o movimento de uma economia nacional
em determinado período de tempo.

A contabilidade social levanta questões do tipo: Qual foi a produção


nacional? Qual foi o consumo? Quanto há de poupança? Qual foi o
investimento em formação bruta de capital fixo? Qual foi o saldo da balança
comercial?

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Contabilidade Social

Já a macroeconomia trabalha com indicadores agregados como, por exemplo:

•• consumo agregado;
•• investimento agregado;
•• renda nacional, etc.

Entretanto, esses indicadores são analisados de forma macro, não havendo


qualquer análise qualitativa ou descritiva dos mesmos. Por exemplo, não se sabe
qual o setor da economia com maior participação, qual o percentual do consumo
atribuído às famílias, etc.

Assim, a contabilidade social permite analisar, de forma mais cirúrgica,


importantes indicadores da economia, dotando os economistas de maior eficácia
no processo de intervenção, visto a possibilidade de verificar e analisar a
evolução e o comportamento da economia de um país. Ou seja, não mensurando
apenas o resultado final da renda, consumo, produto, investimento e poupança,
mas conferindo uma dimensão sistêmica e analisando a relação entre esses
agregados e o sistema econômico existente.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 4),

a partir dos primeiros esforços para fechar logicamente o sistema


de contas nacionais, a teoria macroeconômica e a contabilidade
social experimentaram desenvolvimentos conjuntos,
beneficiando-se mutuamente.

1.2 O uso de métodos das ciências contábeis


É importante observar que não há uma relação entre a contabilidade social e
a área de ciências contábeis, contudo, a primeira utiliza o método de registro
de contas da segunda. Assim, em vez de lidar, por exemplo, apenas com
informações referentes à saúde financeira de uma empresa, a contabilidade
social surge com um escopo mais amplo, com a produção de estatísticas
sistematizadas para variáveis agregadas, servindo de arcabouço estatístico e
matemático para verificação empírica de teorias e sentenças macroeconômicas,
em especial no que diz respeito aos modelos relacionados ao produto e à renda.

Outro método importante das ciências contábeis utilizado pela contabilidade


social é conceito de partidas dobradas. Este método de controle tem como base
teórica a necessidade de qualquer operação contábil registrar um débito com um
correspondente em um crédito equivalente, ou seja, a soma dos valores de todos
os débitos deve ser sempre igual à soma dos valores de todos os créditos. Em
resumo, não há débito sem crédito correspondente.

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Capítulo 1

O quadro a seguir ilustra essa relação:

Quadro 1.2 – Modelo genérico de partidas dobradas

Débito Crédito

Aplicação dos Recursos Origem dos Recursos

Total Débito Total Crédito

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Na contabilidade social, essa exigência de partidas dobradas é fundamental


para a mensuração dos agregados macroeconômicos, bem como o estado de
equilíbrio entre eles e os diferentes agentes econômicos.

Além desse equilíbrio, o método de partidas dobradas permite exatidão na


mensuração e acompanhamento da evolução dos agregados, uma vez que por
meio dele fica perceptível identificar a evolução dos agregados e a correlação
entre as contas.

O método de partidas dobradas tem como conceito o equilíbrio entre as


contas de débito e crédito, enquanto para a macroeconomia pós-keynesiana
o referido método tem como objetivo o equilíbrio dos mercados por meio da
análise dos efeitos das decisões dos agentes econômicos (microeconomia)
sobre os resultados para a economia como um todo.

Nesse contexto, os estudos da contabilidade social visam à perspectiva de


mercado de equilíbrio, sendo que este se refere à relação existente entre o que
é produzido e o que é consumido, ou seja, toda produção tem como destino
um mercado consumidor, “zerando” as relações pertinentes no mercado em
determinado período de tempo.

Sendo assim, a contabilidade social refere-se ao conjunto de dados e estatísticas


econômicas preparado e organizado em sistemas que tenham como objetivo
possibilitar uma visão quantitativa da economia de um país. Nada mais é que
uma síntese contábil dos indicadores que caracterizam a atividade econômica de
um país em determinado período de tempo (BLANCHARD, 2001).

Dando continuidade à análise conceitual de contabilidade social, cabe a seguinte


pergunta:

Como está inserida a produção de bens e serviços no contexto do sistema


contábil proposto pela contabilidade social?

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Contabilidade Social

A produção de bens e serviços visa a atender a demanda dos consumidores e


compreende um processo que se desdobra no tempo, sendo conduzido pelas
empresas, e estando intimamente relacionado à geração de renda, tornando iguais
os fluxos de produção e renda, desde que mensurados em um mesmo período.

É importante observar que a produção tem como destino o mercado, em que


bens e serviços são demandados para consumo final ou para investimento e,
segundo Rossetti (1992, p. 58), “dentre as três categorias básicas da atividade
econômica (produção, consumo e acumulação), a produção é considerada como
atividade fundamental, sem a qual as outras não existiriam”.

Assim, a contabilidade social refere-se ao sistema contábil que permite avaliar


a atividade econômica em um determinado período de tempo, mensurando a
produção, a renda, o consumo e a acumulação e seu principal objetivo é nortear
os agentes econômicos no processo de tomada de decisão, em especial o
governo, em seu processo de formulação de políticas públicas.

Dessa forma, assim como acontece em uma empresa, a contabilidade social


permite aos agentes econômicos, sejam eles consumidores, empresários ou
governo, ajustar suas decisões com base na análise de informações consolidadas
pela contabilidade social.

De forma abrangente, a contabilidade social permite que a economia de


um país seja analisada como se fosse uma grande empresa.

Da mesma forma com que a contabilidade contribui para o desenvolvimento


das empresas, a contabilidade social fornece um balanço dos indicadores
econômicos mais importantes de um país e, por padronização, sua elaboração
final compreende o período de um ano, o qual é demonstrado por meio de contas,
balancetes e lançamentos contábeis.

No presente estudo, apesar de abordarmos apenas questões relacionadas à


contabilidade social, é importante compreender que há outros instrumentos de
contabilidade que consolidam um sistema de contas nacional e, principalmente,
que há conexão entre todos eles. O balanço de pagamento e o sistema monetário,
por exemplo, são peças-chave para compreender e analisar a economia de um
país, conforme veremos na sequência.

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Capítulo 1

1.3 A participação da Organização das Nações Unidas para a


evolução da contabilidade social
Atualmente, a metodologia de contabilidade social é um sistema padronizado
ao redor do mundo, sendo que houve especial participação da unidade da
contabilidade nacional da Organização das Nações Unidas (ONU) em sua
elaboração.

A ONU prestou assistência e apoio aos países membros com o intuito de


implementar uma metodologia de sistema de contabilidade social padronizada
que permitisse a qualquer agente a comparação de indicadores econômicos de
diferentes países utilizando a análise da sua contabilidade.

Segundo Rossetti (1992, p. 35),

[...] o Sistema de Contas Nacionais das Nações Unidas (ou, de


maneira abreviada, SCN-52) forneceu uma estrutura coerente
para os trabalhos de levantamento e apresentação dos principais
fluxos relacionados à produção, consumo, acumulação,
atividades econômicas do governo e transações econômicas
com o exterior.

Embora a ONU tenha padronizado o sistema de contabilidade social, há, no


mundo, alguns outros modelos que foram desenvolvidos para integrar um
sistema de contas nacionais que permite mensurar, em termos de estoque, todos
os ativos e passivos de um país em determinado período.

Segundo Bresser-Pereira e Nakano (1972), entre os sistemas, destacam-se:

•• Sistema de Contas Nacionais: É o sistema mais antigo e comum,


desenvolvido na Inglaterra e definido pelo registro sistemático dos
eventos econômicos realizado pelos agentes de um país. A principal
vantagem deste sistema é estar intimamente associado à análise
macroeconômica.
•• Sistema Input-Output: Este sistema define o estudo empírico das
inter-relações existentes entre os diferentes setores e agentes de
uma economia nacional. Enquanto o Sistema de Contas Nacionais
preconiza a atividade econômica com base na produção, consumo
e acumulação, o sistema Input-Output considera apenas a produção
ou transformação de bens.
•• Fluxos Financeiros: Este sistema visa a descrever a atividade
econômica por meio do conceito monetário e financeiro, sendo
contabilizadas apenas as transações que envolvam moeda ou
crédito. Essas contas registram todas as compras e vendas de bens

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Contabilidade Social

e serviços, além das entradas e saídas de créditos, capital e sua


variação nos encaixes monetários.
•• Balanços Nacionais: Este sistema é semelhante ao balanço
patrimonial de uma empresa, com base na quantificação dos ativos
e passivos de uma economia, em especial os valores relacionados
à depreciação, estoque de matéria-prima e produto em fase de
transformação.

Rossetti (1992) resume a contabilidade social com base nos seguintes tópicos:

•• uma técnica, não uma ciência;


•• uma síntese;
•• unidades monetárias; e,
•• transações econômicas.

Esse entendimento decorre de que a contabilidade social é uma técnica de


registro e de mensuração de um conjunto interligado de grandezas e de variáveis
definidas pela ciência econômica. Os sistemas usuais da contabilidade social
têm, em comum, a característica de não se preocuparem com o excessivo
detalhamento das transações econômicas verificadas em determinado país, por
isso, trabalham com a síntese.

A utilização como padrão monetário confere à contabilidade social uma forma


especial de estatística econômica, pois é a única unidade de medida que se
aplica sobre dados primários da economia.

Por último, a contabilidade social não revela a situação econômica ou patrimonial


dos diferentes tipos de agentes que transacionam em determinado país em um
dado momento.

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Capítulo 1

Seção 2
Conceitos básicos de contabilidade social

2.1 Os primeiros conceitos de contabilidade social


Os conceitos básicos de contabilidade social visam a auxiliar nosso entendimento
a respeito de um sistema de contas nacionais e, principalmente, o conceito base
do processo de estruturação desse sistema.

Se auferir a saúde financeira de uma empresa, que tem um raio de atuação limitado
e facilidade no acesso à informação, já é algo complexo, imagine fazer o mesmo
com a economia de um país, consolidando e mensurando todas as informações
econômicas dos seus agentes.

Assim como acontece em uma empresa, as informações, neste caso aquelas


dos agentes econômicos de um país, precisam ter credibilidade, uma vez que o
trabalho envolvido é complexo e, no caso de dados e informações “manipuladas”,
haveria pouca ou nenhuma serventia, visto que decisões e políticas
macroeconômicas são elaboradas com base em indicadores gerados por meio
das referidas informações.

Nesse sentido, esses tais indicadores precisam ser elaborados com base em
uma padronização que permita a avaliação sistêmica de todas as transações
realizadas na economia de um país. Este ponto é estratégico, pois há diversos
agentes em uma economia, cada um com diferentes características, que
executam diversas atividades que, por sua vez, podem ser encontradas em vários
estágios de produção.

Paulani e Braga (2007, p. 6) nos fornecem um pequeno exemplo de quão


complexa é essa questão:

Como agregaríamos, por exemplo, toneladas de bananas, metros


de tecido, toneladas de fios, unidades de camisas, unidades
de aparelhos de TV, unidades de automóveis, cabeças de boi,
unidades de apartamentos, toneladas de aço, toneladas de
fertilizantes, pés de alface, litros de leite, quilowatts de energia,
dúzias de ovos, horas de aula, horas de serviços médicos, horas
de serviços de segurança, horas de serviços de telefonia e horas
de trabalho de atores de teatro?

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Contabilidade Social

A resposta para essa pergunta nos remete ao primeiro conceito importante de


contabilidade social: a moeda. Como é sabido, a moeda possui diversas funções.

De acordo com Mishkin (2000), entre elas destacam-se as seguintes:

•• instrumento de troca;
•• meio de pagamento;
•• reserva de valor; e,
•• denominação comum de valores.

A moeda representa o direito de um agente econômico sobre riquezas existentes,


sendo que esta riqueza está lastreada em algum bem ou serviço já prestado por
outro agente. Essa possibilidade permite que a moeda seja acumulada, e, uma
vez acumulada, a moeda tem o poder legal de liberação de débitos, pois ela é um
meio de pagamento de alta liquidez.

Além da função de meio de pagamento e reserva de valor, a moeda tem


uma importante função: ser utilizada como meio de troca, tornando possível
a mensuração de preços em uma unidade de valor amplamente aceita.

Nesse aspecto, a moeda tem função central na contabilidade social, pois ela
permite agregar diversos setores, bens e serviços em apenas uma unidade, de
fácil compreensão e mensuração, adquirindo o papel de denominação comum
de valores (ROSSETTI, 1992).

Cabe destacar que mais importante que mensurar, padronizar todos os bens e
serviços em apenas uma medida de valor, a moeda permite o uso de métodos de
análise e, principalmente, acompanhar a sua evolução ao longo do tempo.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 7):

No sistema econômico em que vivemos, tudo pode ser


avaliado monetariamente, de modo que toda a imensa gama
de diferentes bens e serviços que uma economia é capaz de
produzir pode ser transformada em algo de mesma substância,
ou seja, moeda ou dinheiro.

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Capítulo 1

O uso da moeda como denominação comum de valores e padrão também nos


permite analisar a identidade corresponde a uma relação econômica entre dois
ou mais agentes econômicos. A mais comum, sem dúvida, é a relação de compra
e venda. Nesta identidade, fica implícito que para alguém comprar deve haver
alguém que queira vender. Um comprador sem um vendedor ou um vendedor
sem um comprador não resulta em uma transação econômica entre agentes.

Outro ponto importante da função da moeda corresponde às operações de troca,


ou seja, havendo um comprador e um vendedor, precisamos de um meio de troca
comum entre eles. No caso de uma operação de compra e venda, por exemplo, o
vendedor troca um produto por um valor monetário, enquanto o comprador troca
um valor monetário por um produto.

Esse conceito de trocas está intimamente relacionado ao método das partidas


dobradas, ou seja, quando um agente econômico realiza uma transação, ele está
realizando uma troca de valores iguais, havendo, portanto, um débito e um crédito.
Vamos supor que um comerciante venda uma camisa pelo valor de 100 unidades
monetárias. Ao realizar a venda, ele está trocando um produto, no caso estoque,
por um valor monetário, no caso caixa.

Vejamos o exemplo:

Quadro 1.3 – Troca de produto por valor monetário

Débito Crédito

Camisa: 100 unidades monetárias Caixa: 100 unidades monetárias

Total Débito: 100 Total Crédito: 100

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Paulani e Braga (2007, p. 8) lembram que “apesar de bastante simples e


mesmo intuitiva, é essa ideia básica que preside a constituição de identidades
macroeconômicas, ainda que elas não sejam tão óbvias, nem tão visíveis”.

É importante destacar que as relações de troca não ocorrem apenas em


transações de compra de venda. Elas também ocorrem quando alguém troca
o direito de algo no presente pelo direito de algo no futuro. O exemplo mais
claro desta transação é quando um agente econômico faz uma poupança, ou
seja, quando ele opta por não consumir. Neste caso, ele está trocando um valor
monetário presente por um valor monetário futuro, que será maior em termos
nominais. Ele troca um consumo presente por um consumo futuro.

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Contabilidade Social

Esta transação nada mais é que a troca de um valor monetário por um


documento oficial de uma instituição financeira, atestando que ele tem o direito
de receber o valor do principal mais uma remuneração do mesmo.

Inserindo mais variáveis neste raciocínio, imagine que um agente econômico


precisa comprar um bem que demanda certo período de tempo para ser
produzido e não tem a pronta entrega. Vamos supor que uma empresa demanda
um novo sistema de gestão para suas atividades. Este sistema precisa ser
desenvolvido por uma empresa, que pediu um prazo de seis meses para sua
produção e entrega.

Como há uma promessa de entrega do produto, o comprador paga antecipado


um valor para o início da produção, pagando o restante apenas quando o sistema
for entregue. Neste caso, para desenvolvimento completo do sistema, a empresa
contratada recebe parte do valor para pagar seus funcionários e a parte restante ela
capta em instituições financeiras por meio de linhas de crédito de capital de giro.

Ampliando um pouco mais o raio de ação, há um cenário com mais agentes


envolvidos. Há uma transação de compra e venda, captação de recursos para
investimentos e a promessa de entrega futura de um produto. Ao falarmos
em antecipação de valor, estamos, obrigatoriamente, falando de poupança e
investimento e todo este ciclo deve respeitar, criteriosamente, o método das
partidas dobradas, incorrendo em equilíbrio entre todos os débitos e créditos.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 8),

da mesma forma que não pode ocorrer uma compra sem que
vejamos do outro lado uma venda, também não pode haver
uma produção que não constitua um dispêndio e não seja
simultaneamente geração de renda. Similarmente, poupança
implica necessariamente investimento, e investimento não
pode ser entendido sem que o consideremos, em contrapartida,
como poupança.

Esta identidade – produto, renda e dispêndio – é central na contabilidade social,


pois é a partir dela que é criado o fluxo circular da renda, quando mais agentes e
transações são inseridas no sistema econômico, refletindo um ambiente real com
agentes que realizam milhões de transações diariamente.

Precisamos, também, compreender que as identidades não geram uma relação de


igualdade. Por exemplo, no caso da identidade entre poupança e investimento, pode
parecer lógico afirmar que o nível de poupança explica um nível de investimento, mas
há muitos fatores envolvidos na relação entre poupança e investimento, sendo que a
identidade entre eles é apenas contábil para fins de equilíbrio interno das partidas
dobradas, não havendo uma relação de causa e efeito entre eles.

21

contabilidade_social.indb 21 02/10/14 15:24


Capítulo 1

Paulani e Braga (2007, p. 9) concluem que, por essa razão,

a forma mais adequada para expressar as identidades é a


utilização do símbolo de identidade ( ) em vez do símbolo de
igualdade (=), pois uma identidade contábil AB não implica
nenhuma relação de causa e efeito da variável A para a variável B
ou vice-versa.

2.2 A identidade produto renda dispêndio


Qualquer estudo em uma determinada área de conhecimento, seja técnico ou
científico, deve ser precedido de uma série de suposições e hipóteses que
permita melhor análise dos dados e informações sob avaliação. O mesmo
também é válido para os estudos em economia, sejam mais superficiais, como
no caso da graduação, como em estudos mais complexos, como nos casos de
doutorado e pós-doutorado.

Sendo assim, nos estudos de uma economia tradicional, ao todo, são quatro os
agentes econômicos a serem considerados: as unidades familiares, as empresas,
os governos e o resto do mundo.

Segundo Rossetti (1992), em uma economia tradicional há:

1. Unidades familiares: O conceito de unidades familiares engloba os


indivíduos que se encontram diretamente empregados, fornecendo
recursos para o processamento das atividades primárias,
secundárias ou terciárias de produção.
2. Empresas: Nesta categoria enquadram-se todas as unidades que
compõem o aparelho de produção de uma economia. Reúnem-se
aqui as empresas que se dedicam a atividades primárias, secundárias
ou terciárias, produzindo os bens e serviços que atendem às
necessidades de consumo e de acumulação da sociedade.
3. Governo: O governo destaca-se como um dos mais importantes
agentes ativos do sistema, devido às particularidades especiais que
envolvem as suas ações econômicas, pois atua como centro de
produção de bens e serviços de usos coletivos.
4. Resto do mundo: Esta categoria destina-se a registrar as transações
econômicas entre unidades familiares, empresas e governo do país
com semelhantes agentes pertencentes a outros países.

22

contabilidade_social.indb 22 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

No sentido de melhor compreendermos a identidade entre produto, renda e


dispêndio, vamos, na sequência, apresentar um exemplo de funcionamento da
economia com os referidos agentes bem como a simulação de transação entre eles.

Inicialmente, vamos assumir que vivemos em uma economia “Z” e que esta é uma
economia fechada e sem governo, ou seja, não há qualquer relação econômica
com o exterior, nem cobrança de impostos e gastos pelo governo. Esta economia
é estritamente agrícola e possui apenas quatro setores, ilustrados pelo quadro a
seguir, que são responsáveis pela produção de um único bem, o vinho.

Quadro 1.4 – Produtos de uma economia fictícia

Setor Produto

Setor 1 Sementes

Setor 2 Uva

Setor 3 Concentrado de uva

Setor 4 Vinho

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Nesse exemplo há apenas uma empresa em cada um desses setores e elas


estão enquadradas em uma cadeia produtiva integrada, realizando transações
responsáveis pelo desenvolvimento do produto da economia. Vamos considerar
que essa economia, ao final do ano 1, tenha realizado as seguintes transações
entre as empresas:

Quadro 1.5 – Transações de uma economia fictícia

Produtor Produto Preço de venda Comprador

Setor 1 Semente $ 50 Setor 2

Setor 2 Uva $ 150 Setor 3

Setor 3 Concentrado de uva $ 250 Setor 4

Setor 4 Vinho $ 300 Consumidores

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A informação desse quadro consiste em uma breve contextualização de como


é calculado o produto de um país. É uma contextualização simples, porém nos
ajuda a compreender a metodologia de cálculo desse importante indicador.

23

contabilidade_social.indb 23 02/10/14 15:24


Capítulo 1

Qual foi a produção total dessa economia no período?

Intuitivamente, poderíamos somar todos os valores e ter, no resultado, o valor


total da produção na economia. Teríamos, então: produção total: $ 50 + $ 150 +
$ 250 + $ 300 = $ 750. Por este cálculo, a produção dessa economia no período
analisado foi de $ 750.

Esse valor não estaria errado, caso a análise fosse do balanço patrimonial de uma
empresa. Contudo, esse não é o método correto no caso de soma da produção
de um país. Assim, é importante analisar um ponto especial nesse cálculo, uma
vez que existe integração na cadeia produtiva e uma empresa se utiliza da
matéria-prima de outro setor durante seu processo de produção. Logo, o produto
final do setor 3, por exemplo, utilizou o produto fabricado pelo setor 2.

A lógica é simples. Na fabricação do vinho, por exemplo, o primeiro passo é a


produção da semente. O segundo corresponde ao plantio da semente para extrair
a uva (setor 2). Posteriormente, são agregadas outras matérias-primas (setor 3)
para, só então, termos o vinho (setor 4).

Isso quer dizer que todos esses setores se utilizam de produtos dos setores que
os precedem na cadeia produtiva, apenas adicionando valor ao que está sendo
produzido (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

Desta lógica, surge um conceito importante: o de valor bruto de produção.

De acordo com Paulani e Braga (2007, p. 11),

a primeira distinção importante que temos de fazer para entender


corretamente o que significa o produto de uma economia num
dado período de tempo corresponde àquilo que chamamos
anteriormente de valor total da produção e denomina-se, mais
rigorosamente, de valor bruto da produção e indica o valor
de tudo que foi produzido, inclusive daquilo que foi utilizado
como insumo na produção de outros bens, ou seja, inclusive o
chamado consumo intermediário.

O consumo intermediário, no nosso caso, corresponde às sementes de uva,


à uva e ao concentrado de uva. Este consumo intermediário é a chave para
descobrimos a real produção de uma economia. O valor do produto em uma
economia corresponde apenas ao montante agregado por cada setor.

Vejamos os dados expressos na tabela a seguir:

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contabilidade_social.indb 24 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Tabela 1.1 – Consumo intermediário de uma economia fictícia

Setor Produto Valor inicial Valor final

1 Semente $0 $ 50

2 Uva $ 50 $ 150

3 Concentrado de uva $ 150 $ 250

4 Vinho $ 250 $ 300

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Verificamos nessa tabela que o valor inicial do setor 1 é $ 0 e o valor final é $


50, uma vez que utiliza da terra e do trabalho para produzir o primeiro produto, a
semente. Logo, o valor adicionado pelo setor 1 é de $ 50.

No caso do setor 2, ele comprou a semente do setor 1 por $ 50, adicionou mais
$ 100 e vendeu para o setor 3 por $ 150. O setor 3, por sua vez, adicionou mais
$ 100 ao produto comprado do setor 2 e o vendeu para o setor 4 por $ 250. Por
fim, o setor 4 adicionou $ 50 ao produto vendido pelo setor 3 e vendeu para o
consumidor final por $ 300.

Bresser-Pereira (1972) comenta que o valor bruto de produção consiste na soma


do valor final dos produtos de cada setor, enquanto o valor do produto de uma
economia corresponde ao valor total adicionado por todos os setores. Nesse
nosso exemplo, corresponde a $ 300.

Entretanto, cabe observar que há uma maneira mais simples de calcular o valor
do produto em uma economia. Basta considerar apenas o valor do produto final
ao consumidor. Ou seja, o valor final do vinho ao consumidor, que é de $ 300, que
corresponde ao total de valor adicionado por todos os setores; contudo, esta
regra é válida apenas para economias que não tenham estoques.

Em nosso exemplo hipotético, estamos considerando que tudo o que é produzido


é vendido; que só há um produto; que não existe governo; que não há comércio
com o exterior e que há apenas uma empresa em cada setor.

E se considerarmos que nem tudo que é produzido é vendido, como fica o


nosso cálculo de produto para essa economia?

Vamos supor que a empresa do setor 2 não venda toda sua produção para o
setor 3. Suponhamos que a empresa vendeu apenas $ 100 dos $ 150 que tinha
sob seu poder, ou seja, teve uma receita de $ 100 e está com um estoque de $ 50.

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Capítulo 1

Como não havia matéria-prima suficiente, o setor 3 também não conseguiu


vender os $ 250 para o setor 4 que, por sua vez, também teve a produção
afetada e não conseguiu vender os $ 300 para o consumidor final.Nessa hipótese,
notamos que nem tudo o que foi produzido foi vendido, havendo assim formação
de estoques na economia.

Mas como fica nosso exemplo em um cenário mais real, quando há formação de
estoques?

Vejamos, por meio dos dados da tabela a seguir, como fica nosso cálculo, então.

Tabela 1.2 – Criação de estoques em uma economia fictícia

Setor Produto Valor inicial Valor final Estoque

1 Semente $0 $ 50 $0

2 Uva $ 50 $ 100 $ 50

3 Concentrado de uva $ 100 $ 166,67 $0

4 Vinho $ 166,67 $ 200 $0

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A conclusão a que chegamos, de acordo com essa tabela, é que o valor


adicionado dessa economia é de $ 200. Mas o valor final dos produtos não
é mais igual ao valor adicionado, uma vez que o setor 2 vendeu ao setor 3
apenas 66,67% da sua produção. Logo, o setor 3 também teve uma baixa na
sua produção, produzindo apenas 66,67% do inicial. E, por fim, o setor 4, que
também teve o mesmo problema, produziu apenas 66,67% do inicial.

Nesse caso, então, o valor do produto da economia corresponde ao valor


final dos produtos, que corresponde a $ 200, mais o valor do estoque, que
corresponde a $ 50, totalizando um valor de $ 250.

E por que $ 250 e não $ 300? $ 250, pois o setor 3 e o setor 4 não
agregaram valor sobre o que foi produzido pelo setor 2, logo, o valor é menor.

Estamos diante de mais uma importante concepção na área de contabilidade


social. A noção de que, para a contabilidade social, não importa a natureza de um
produto: pode ser uma matéria-prima, um produto intermediário ou um produto
final (BRESSER-PEREIRA, 1972).

26

contabilidade_social.indb 26 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Para cálculos de contabilidade social, se um bem for produzido, mesmo


que seja intermediário, mas não foi consumido, então ele deve ser parte
integrante do cálculo do produto final.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 12), “todo bem que, por sua natureza, é final,
deve ter seu valor considerado no cálculo do valor do produto, mas nem todo bem
cujo valor entra no cálculo do produto é um bem final por natureza”. Esta forma
de analisar a produção de uma economia recebe o conceito de ótica, que tem o
dispêndio como base da metodologia de agregação de valor na economia.

A ótica do dispêndio, como é conhecida, reforça a ideia de que, para produzir,


uma economia precisa de insumos, sejam eles matéria-prima, capital, terra ou
força de trabalho e que o resultado final do produto é a constante agregação de
valor entre esses fatores.

De acordo com os princípios de microeconomia, conforme Pindyck e Rubinfeld


(2010), os fatores de produção são os seguintes:

•• terra;
•• trabalho;
•• capital;
•• tecnologia;
•• capacidade empresarial.

Embora sejam esses os fatores de produção, vamos considerar apenas trabalho


e capital, adicionando os demais à medida que seguimos adiante.

Pela ótica do dispêndio, entende-se que o consumo é decorrente de uma


necessidade humana de consumir, neste caso, caracterizada pelo “ato de
aquisição do produto final pelo consumidor” (ROSSETTI, 1992, p. 61).

No primeiro caso de nosso exemplo, os agentes econômicos despenderam os


recursos disponíveis para a produção do vinho e, no segundo, despenderam os
recursos disponíveis para a produção de vinho e de uva, que será utilizada em um
momento posterior nesta economia. Embora a uva, que ficou em estoque, não
seja utilizada neste momento, ela pode ser utilizada em uma produção futura.

Fica evidente a importância da conversão monetária, a qual só


conseguimos quantificar a produção econômica quando todos os bens são
convertidos em moeda.

27

contabilidade_social.indb 27 02/10/14 15:24


Capítulo 1

No primeiro cenário de nosso exemplo hipotético, sabemos que a economia


produziu o equivalente a $ 300, e não “x” quantidade de vinho, o que tornaria
inviável sua quantificação e possível comparação com outras economias que
tenham diferentes produtos.

De forma resumida, a ótica do dispêndio considera o produto de uma economia


com base na soma monetária de todos os bens e serviços produzidos por ela e que
não foram absorvidos como fator de produto, no caso, o estoque (Rossetti, 1992).

Em virtude de estarmos falando de contabilidade, e como a contabilidade social


faz parte do campo de estudos das ciências econômicas, convém analisar outras
formas de obter o mesmo resultado sobre o nível de produção de uma economia.

Neste primeiro momento, apresentamos a ótica do produto renda dispêndio.


Num segundo momento, apresentaremos outra forma de chegar ao mesmo resultado.

2.3 A identidade produto renda produto


A identidade produto renda produto é também chamada de ótica do produto
e tem como foco o valor adicionado na economia.

Na ótica do dispêndio, avaliamos tudo o que foi consumido pela economia em


determinado período. Agora, vamos avaliar o lado da produção, concentrando
a análise em tudo o que foi adicionado pelo produtor em seu processo de
fabricação.

Para este caso, devemos nos atentar a analisar cada setor, empresa por empresa,
o valor da compra e o valor final da venda. No nosso caso, como temos apenas
uma empresa por setor, o exemplo fica de mais fácil compreensão.

Voltamos ao nosso exemplo hipotético, quando não há estoques.

Tabela 1.3 – Transações uma economia fictícia

Setor Produto Valor inicial Valor final

1 Semente $0 $ 50

2 Uva $ 50 $ 150

3 X $ 150 $ 250

4 Vinho $ 250 $ 300

Fonte: Elaboração do autor (2014).

28

contabilidade_social.indb 28 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Podemos verificar nesta tabela que o setor 1, referente à produção de sementes,


foi responsável pela produção de $ 50 em sementes. Podemos ainda considerar
este setor 1 como extrativista, uma vez que não há qualquer matéria-prima para
sua produção. Logo, neste caso, temos um valor inicial de $ 0 e um valor final de
$ 50, que nos revela um valor adicionado de $ 50.

Já o setor 2, ao término de sua produção, vendeu seu produto para o setor 3 por
$ 150. Mas quanto foi a produção do setor 2? Em princípio, podemos imaginar
que também tenha sido de $ 150. Contabilmente, caso fôssemos considerar
apenas a estrutura contábil da empresa, a produção foi realmente de $ 150.

Entretanto, esse raciocínio não está correto no caso de mensuração do produto


de uma economia, visto que é importante lembrar que o setor 2 se utilizou de
insumos produzidos pelo setor 1 em processo de produção.

Logo, a produção final foi de $ 150. Mas, destes, $ 50 correspondem ao que foi
produzido pelo setor 1. Nesse sentido, a real produção, ou valor adicionado, pelo
setor 2 equivale ao valor final menos o valor inicial, ou aquele valor pago ao setor
1. No caso, $ 150 – $ 50, que nos confere um valor adicionado de $ 100.

A diferença de $ 100 corresponde a outros fatores de produção utilizados no


processo, como mão de obra e terra, por exemplo. Se ampliarmos esta mesma
lógica para toda a economia, teremos a seguinte tabela:

Tabela 1.4 – Exemplo de valor adicionado em uma economia fictícia

Setor Produto Valor inicial Valor final Valor adicionado

1 Semente $0 $ 50 $ 50

2 Uva $ 50 $ 150 $ 100

3 X $ 150 $ 250 $ 100

4 Vinho $ 250 $ 300 $ 50

Fonte: Elaboração do autor (2014).

O produto total ou o produto adicionado por essa economia corresponde aos


somatórios de todos os valores adicionados, sendo:

Valor adicionado: $ 50 + $ 100 + $ 100 + $ 50: $ 300.

Conforme podemos constatar, esse resultado é o mesmo da ótica do dispêndio.

29

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Capítulo 1

Qual a diferença entre a ótica do valor adicionado e a ótica do produto?

Em uma primeira análise, quando não há estoques, chegamos à mesma


conclusão. Na verdade, este ponto reforça a hipótese de que, por meio de óticas
diferentes, conseguimos chegar ao mesmo resultado.

Mas e quando há estoques?

Em nosso segundo exemplo temos a seguinte tabela:

Tabela 1.5 – Exemplo de valor adicionado com estoques

Setor Produto Valor inicial Valor final Estoque

1 Semente $0 $ 50 $0

2 Uva $ 50 $ 100 $ 50

3 Concentrado de uva $ 100 $ 166,67 $0

4 Vinho $ 166,67 $ 200 $0

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Nesse exemplo, a empresa do setor 2 não vende a totalidade de sua produção,


deixando parte da sua produção, ou $ 50, em estoque.

Esta retenção de estoque pela empresa interfere em toda a economia. Contudo,


não devemos nos ater aos motivos hipotéticos que levaram a empresa a não
vender a totalidade da sua produção, mas sim ao fato de que a decisão desta
empresa tem um impacto negativo na produção total da economia.

Em virtude de a empresa do setor 3 receber menor quantidade de matéria-prima


do setor 2, ela terá menor quantidade de matéria-prima para agregar valor; logo,
haverá menos dispêndio de mão de obra e terra e, por consequência, menor
quantidade de produtos.

Teremos assim um ciclo a partir deste ponto, sendo que os demais setores
também receberão menor quantidade de matéria-prima e, consequentemente,
menor será a sua produção ou valor adicionado final.

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contabilidade_social.indb 30 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Expandindo o exemplo, teremos:

Tabela 1.6 – Exemplo completo de valor adicionado com estoques

Valor
Setor Produto Valor inicial Valor final Estoque adicionado

1 Semente $0 $ 50 $0 $ 50

2 Uva $ 50 $ 100 $ 50 $ 50

3 X $ 100 $ 166,67 $0 $ 66,67

4 Vinho $ 166,67 $ 200 $0 $ 33,33

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Se formos considerar o valor final consumido, chegaremos ao valor de $ 200.


Pela ótica do produto, a mensuração do produto total da economia consiste,
efetivamente, no valor adicionado no processo produtivo, sendo que o valor final
corresponde ao somatório do valor adicionado por empresa, ou seja, também $ 200.

É importante destacar que, qualquer que seja o método de cálculo, o produto


final de uma economia pode ser mensurado por meio do valor final ao consumidor
ou do somatório do valor agregado (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

2.4 A ótica da renda


Já analisamos a ótica do produto renda dispêndio e a ótica do produto
renda produto.

Resta analisar a terceira ótica, a ótica da renda. A ótica da renda vai proporcionar
o mesmo resultado do produto de uma economia, se comparada às outras duas
óticas analisadas.

Além disso, a ótica da renda é a base da metodologia para compreensão do


fluxo circular da renda, outro conceito fundamental para a contabilidade social.
Vale lembrar que a geração de renda é um processo que ocorre paralelamente à
produção, sendo indispensável ao processo de consumo e acumulação de capital
(ROSSETTI, 1992).

A renda corresponde à remuneração de um fator de produção fundamental


de uma economia, a mão de obra. Se analisarmos os nossos exemplos,
podemos notar que alguns fatores de produção são essenciais para o
processo produtivo.

31

contabilidade_social.indb 31 02/10/14 15:24


Capítulo 1

Além da matéria-prima, as empresas também se utilizam de máquinas,


equipamentos e, principalmente, mão de obra. É por meio da ação conjunta
desses fatores que elas adicionam valor à matéria-prima comprada de empresas
que as precedem na cadeia produtiva de uma economia.

Em nosso exemplo hipotético, o processo de produção do vinho é composto pela


perfeita sincronia entre as empresas do setor, havendo em cada uma delas uma
exata integração entre os fatores de produção necessários à fabricação do vinho.

Cabe destacar que o valor adicionado corresponde à remuneração dos referidos


fatores, sendo que para a produção de vinho foram consumidas horas de trabalho
de mão de obra, o uso de máquinas e equipamentos, além da capacidade do
empresário e do uso do seu capital no processo produtivo.

O trabalho corresponde ao esforço dos recursos humanos durante o


processo produtivo, já o capital corresponde às máquinas e equipamentos
disponíveis aos recursos humanos durante o processo produtivo
(PINDYCK; RUBINFELD, 2010).

Cada um desses fatores de produção tem papel central no processo produtivo.


Sozinhos, eles não seriam capazes de gerar ganhos para uma economia. Desta
forma, o produto final de uma economia é resultado da combinação entre
trabalho e capital, e eles precisam ser remunerados pela sua participação.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 22):

Na sociedade em que vivemos, a forma encontrada para distribuir


o produto gerado pela economia entre os diferentes fatores
de produção é atribuir a cada um deles uma remuneração
determinada monetariamente. À remuneração do fator trabalho
damos o nome de salário e à remuneração do fator capital damos
o nome de lucro.

Como consideramos que existem apenas dois fatores de produção, temos que
o valor adicionado ao produto corresponde à remuneração dos mesmos. Ou
seja, o valor adicionado corresponde ao custo de produção do produto, aqui
representado pela remuneração do trabalho, pelo salário, e à remuneração do
capital, neste caso, representado pelo lucro.

Logo, o somatório das duas remunerações deve igualar o valor auferido pelo
produto de uma economia. Salário e lucro são considerados fonte de renda,
sendo a base da ótica que vamos analisar agora.

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contabilidade_social.indb 32 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Voltemos ao nosso exemplo hipotético.

Tabela 1.7 – Exemplo de remuneração de fatores

Setor Produto Valor adicionado Salário Lucro

1 Semente $ 50 $ 35 $ 15

2 Uva $ 100 $ 70 $ 30

3 X $ 100 $ 70 $ 30

4 Vinho $ 50 $ 35 $ 15

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Em virtude de assumirmos apenas dois fatores de produção, o valor adicionado


na economia precisa ser dividido entre eles. Nesse caso, vamos usar uma
proporção de 70% para os salários e 30% para o lucro. Mantendo a hipótese de
apenas dois fatores de produção, diferentes proporções entre eles manteriam
idêntico o somatório do produto.

É evidente, por meio desse exemplo, que o somatório da remuneração dos


fatores de produção é igual à produção da economia. Por dedução, o produto
total gerado por uma economia é igual à renda total gerada por ela. No nosso
caso, a soma das remunerações também equivale ao produto, ou seja, o valor
adicionado pelo setor mais a matéria-prima comprada.

Tabela 1.8 – Exemplo de remuneração do trabalho e capital

Setor Produto Valor inicial Valor final Valor adicionado Salário Lucro

1 Semente $0 $ 50 $ 50 $ 35 $ 15

2 Uva $ 50 $ 150 $ 100 $ 70 $ 30

3 X $ 150 $ 250 $ 100 $ 70 $ 30

4 Vinho $ 250 $ 300 $ 50 $ 35 $ 15

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Essa tabela consolida as três óticas apresentadas neste estudo. Nela, podemos
perceber que, independente da ótica utilizada, todas apresentam o mesmo
produto final de uma economia. Cada uma com uma característica diferente,
entretanto, com resultados iguais.

33

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Capítulo 1

Conforme Paulani e Braga (2007, p. 25), podemos concluir que,

a identidade produto dispêndio renda significa que, se


quisermos avaliar o produto de uma economia num determinado
período, podemos somar o valor de todos os bens finais
produzidos (ótica do dispêndio) ou, alternativamente, somar
os valores adicionados em cada unidade produtiva (ótica do
produto) ou, ainda, somar as remunerações pagas a todos os
fatores de produção (ótica da renda).

Ao apresentar as três óticas, concluímos o conceito base da contabilidade


social, ponto de partida para estudos mais complexos utilizados por governos na
atualidade.

Seção 3
Fluxo circular da renda

3.1 Agentes e setores do fluxo circular da renda


O fluxo circular da renda corresponde ao conjunto de transações realizadas entre
a economia real (produtos) e a economia monetária, especificando os fluxos reais
e monetários de uma economia. Compreender seu funcionamento é fundamental
para avançarmos nos estudos de contabilidade social.

Conforme observamos nos exemplos anteriores, as empresas realizaram


produção necessária para atender à demanda do consumidor. Embora fosse
um exemplo, e por esta razão tudo o que era produzido também era consumido,
em uma economia real as empresas produzem bens e serviços para atender à
demanda dos consumidores, todos trabalhadores desta própria economia.

Assim a produção será, então, uma resultante da demanda do mercado em


função da produtividade da mesma, ou seja, talvez nem toda demanda seja
atendida em razão da escassez de fatores de produção necessários ao processo
(ROSSETTI, 1992).

Em economias de mercado, então, a produção será determinada pela


concorrência, responsável pela oferta, e pelo sistema de preços, que vai
limitar a demanda pelo produto.

34

contabilidade_social.indb 34 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Para compreendermos o funcionamento de um sistema econômico, vamos adotar


um exemplo simplificado da realidade. Do lado da produção, conforme Rosseti
(1992), existem as empresas divididas em três grandes setores produtivos,
responsáveis pela produção econômica de acordo com a demanda e tecnologia
existente, sendo eles:

1. Setor primário: Abrange as atividades que se realizam próximas às


bases dos recursos naturais, como: atividade agrícola, pesqueira,
pecuária e extrativista.
2. Setor secundário: Inclui atividades industriais, mediante as quais
são transformados os bens.
3. Setor terciário ou de serviços: Reúne as atividades direcionadas
a satisfazer necessidades de serviços produtivos que não se
transformam em material, como: comércio, transportes, saúde,
sistema financeiro, segurança, educação, lazer, entre outros.

Do outro lado, existem as famílias, que são ao mesmo tempo consumidoras e


detentoras dos fatores do produção.

De acordo com Paulani e Braga (2007, p. 18),

os membros que constituem a sociedade aparecem duas vezes


no jogo de sua reprodução material e desempenham dois papeis
distintos: num determinado momento, são produtores; no outro,
surgem como consumidores daquilo que foi produzido.

Qualquer ser humano pode assumir o papel consumidor em uma economia e é


nesse aspecto que ele demanda produtos nas diversas áreas.

Entretanto, para ser produtor, algumas variáveis devem ser respeitadas. A


principal variável é dispor de algum fator de produção necessário ao processo
econômico, incluindo a mão de obra. Neste caso, qualquer ser humano
economicamente ativo é também um detentor de meio de produção.

Pelo lado da produção, a organização dos fatores de produção leva o


nome de unidade produtiva, ou empresa. Pelo lado do consumidor, damos
o nome de lâminas.

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contabilidade_social.indb 35 02/10/14 15:24


Capítulo 1

É esta relação que garante o funcionamento sistêmico da economia. As empresas


produzem para que as famílias possam consumir os bens e serviços produzidos.
O que garante que esses bens e serviços revertam para o consumo das famílias é
o fato de que os consumidores, ou seja, as famílias, são também os proprietários
dos fatores de produção (PAULANI; BRAGA, 2007).

As famílias cedem a mão de obra e são remuneradas. Por isso, e é nesse


processo de ceder um importante fator de produção, que as famílias são
inseridas no mercado consumidor, garantindo que sua participação no processo
produtivo seja revertido, mais tarde, no acesso aos bens e serviços produzidos
pela economia.

Resumidamente, existem:

•• Famílias: Correspondem aos agentes econômicos que consomem


bens e serviços e têm a importante função de ofertar mão de obra
para as empresas.
•• Empresas: Este setor é caracterizado pela produção de bens e
serviços da economia e que demanda a mão de obra ofertada pelas
famílias.

3.2 Fluxo circular da renda


A figura a seguir exemplifica melhor essa relação entre famílias e empresas em uma
economia sem moedas. Por isso, vamos concentrar nossa análise no fluxo real.

Figura 1.1 – Fluxo circular da renda


Fluxos monetários

Receita de venda Mercado de


de bens e serviços bens e serviços

Oferta de bens
e serviços

Fluxos reais
Empresas Famílias
Empresas

Força de trabalho
Remuneração do Mercado de
fator trabalho trabalho

Fluxos monetários
Fonte: Marques (2011, p. 21).

36

contabilidade_social.indb 36 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Vamos analisar a figura anterior com base nas óticas do produto, do dispêndio e
da renda.

Pela ótica do produto, os agentes econômicos são também produtores, ou seja, as


famílias também são produtoras na economia, visto a disposição da força de trabalho.

Pela ótica do dispêndio, as famílias assumem o papel de consumidor por


meio da oferta de bens finais e serviços. Vamos concentrar a análise apenas no
retângulo central, que não envolve o uso de moedas.

Analisando a figura, temos:

•• as famílias transferem os fatores de produção (trabalho e capital) às


empresas;
•• as empresas combinam os fatores de acordo com o processo
produtivo, que resultam em bens e serviços;
•• os bens e serviços são transferidos às famílias; e,
•• as famílias consomem os bens e serviços.

O consumo é uma atividade interna às famílias e esta relação fica mais bem
compreendida se introduzirmos a moeda neste fluxo. Como não vivemos em uma
economia de escambo, fatores de produção não são trocados diretamente entre
si. Nesse sentido, na economia todos os fatores de produção e produtos têm seu
comércio intermediado por dinheiro.

Desse modo, além do fluxo real de bens e serviços, também existe um fluxo
monetário responsável pela contrapartida da transação econômica. Inserindo a
moeda nessa relação, temos:

•• as famílias cedem os fatores de produção às empresas e, em troca,


são remuneradas por meio de moedas, e não de bens, por esta
transação;
•• as empresas combinam os fatores de acordo com o processo
produtivo, que resultam em bens e serviços;
•• com a renda recebida por ceder os fatores de produção, as famílias
adquirem os bens e serviços produzidos pelas empresas; e,
•• as famílias consomem os bens e serviços.

Nesse exemplo fica evidente a existência de dois fluxos. O primeiro deles é


caracterizado pelo fluxo de bens e serviços representados pelos fatores de
produção (trabalho e capital) das famílias em direção às empresas e do fluxo

37

contabilidade_social.indb 37 02/10/14 15:24


Capítulo 1

monetário das empresas retornando às famílias, sob a forma de remuneração


(salários e lucros).

O segundo corresponde ao fluxo de bens e serviços produzidos pelas empresas


em direção às famílias que, por sua vez, têm uma contrapartida em um fluxo
monetário em direção às empresas.

Ampliando um pouco mais nosso exemplo, podemos considerar como atividade


econômica os investimentos realizados pelas empresas para manutenção e
ampliação da sua capacidade produtiva, visando a tornar mais eficiente a
aplicação de seus recursos e, consequentemente, elevar os lucros.

Da mesma forma, podemos considerar que nem toda renda auferida pelas
famílias seja transformada em consumo, logo surge um importante integrante: a
poupança. A poupança nada mais é que abrir mão do consumo presente pelo
consumo futuro, desde que haja expectativa de que este seja superior àquele.

Inserindo essas duas novas variáveis em nosso fluxo circular da renda, temos o
seguinte:

•• Mercado de fundos de capital para as famílias recorrerem para


investir em recursos não consumidos, sendo remuneradas por
isso e para as empresas que demandam recursos para os seus
investimentos, que pagam juros.
•• Mercado de bens de investimento para as empresas que demandam
por bens de capital.

Esta relação é exemplificada por meio da seguinte figura:

Figura 1.2 – Fluxo circular da renda ampliado

Mercado de 
bens de 
investimento

Receita de venda  Mercado de 
Máquina e  de máquinas e  bens finais e  Receita de venda de 
equipamentos equipamentos serviços bens finais e serviços 
Demanda de 
recursos  Oferta de bens 
financeiros finais e serviços

Mercado de 
Empresas Famílias
fundos de 
Oferta de  capital Juros
recursos 
financeiros
Força de trabalho
Remuneração do 
Mercado de 
fator trabalho
trabalho

Fonte: Marques (2011, p. 24).

38

contabilidade_social.indb 38 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Como ressalva desse modelo, cabe lembrar que na economia real as decisões
de investimento não dependem somente da disponibilidade de poupança, mas
também da acumulação de recursos próprios e da contratação de crédito.

Após todos esses exemplos, precisamos reforçar os conceitos necessários à


melhor compreensão da contabilidade social:

•• a ótica da renda considera os agentes econômicos como os


proprietários dos meios de produção. As transações ocorrem entre
empresas e famílias envolvendo dois fluxos, um de produtos e
serviços e outro monetário;
•• a ótica do produto considera a atividade dos agentes econômicos
como produtores na economia; e,
•• a ótica do dispêndio está relacionada com a atuação dos agentes
econômicos enquanto consumidores dos bens e serviços
produzidos.

Paulani e Braga (2007, p. 22) concluem que,

além da percepção de que há uma identidade entre produto,


dispêndio e renda, uma outra forma de considerar o conjunto
das atividades e transações efetuadas por uma economia é
precisamente notar que a variação de bens e serviços concretos
e de dinheiro orquestrado pelas trocas conforma um fluxo a
que se da o nome de fluxo circular da renda. Trata-se de fluxo
porque expressa um movimento, ou seja, um trânsito, e é circular
porque passa sempre, ainda que em momentos diferentes e em
condições diferentes, pelos mesmos pontos.

Chama-se fluxo circular da renda por ele ser baseado nas transações monetárias
que envolvem as transações com os produtos e, ao contrário do mercado de
bens, o dinheiro tem livre circulação, pois o dinheiro que remunera os fatores de
produção é o mesmo utilizado pelas famílias no momento do consumo dos bens
e serviços produzidos.

Os fatores de produção, por sua vez, fazem uma única viagem. Por exemplo, não
temos como reutilizar uma hora de trabalho já despendida no processo produtivo,
assim como não temos como reutilizar uma matéria-prima já utilizada no referido
processo. O mesmo é válido para os bens e serviços produzidos. Eles são
consumidos apenas uma vez pelas famílias.

39

contabilidade_social.indb 39 02/10/14 15:24


Capítulo 1

Podemos chegar a importantes conclusões ao analisar esse fluxo, quais sejam:

•• estamos utilizando a ótica do dispêndio ao analisar a entrada de


moeda nas empresas;
•• estamos utilizando a ótica da renda ao analisar a remuneração dos
fatores de produção; e,
•• estamos utilizando a ótica do produto ao analisar monetariamente a
atividade produtiva das empresas.

No nosso exemplo, utilizamos a análise a partir de um ponto X até o ponto Y e


assumimos que esse movimento começou do zero. Mas, na economia real, esta
tarefa se torna inviável, pois estamos falando de um fluxo contínuo, que não cessa.

Isso quer dizer que não temos como iniciar uma análise de um ponto zero; o
correto é definir um período de tempo e, a partir dele, fazer as observações
acerca da produção da economia.

O tamanho do fluxo também tem relação direta com o crescimento econômico:


quanto maior o fluxo, maior a produção, renda e consumo. Logo, maior o
crescimento desta economia. O contrário também é válido: quanto menor esse
fluxo, menor o crescimento de uma economia.

40

contabilidade_social.indb 40 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Contas nacionais

Habilidades Neste capítulo você desenvolverá a habilidade de


aplicar conceitos relacionados à elaboração das
contas nacionais em uso pelos principais países
do mundo, em especial a metodologia básica
de contabilidade social e as formas de equilíbrio
entre as diversas contas de um país. Desenvolverá
também a habilidade de interpretar os elementos
que compõem as contas nacionais de qualquer
país, entendendo sua essência e extraindo os
resultados de sua análise, bem como de associar
os estudos de contabilidade social com aqueles
referentes à macroeconomia.

Seções de estudo Seção 1:  Contas nacionais

Seção 2:  Contabilidade social e macroeconomia

Seção 3:  Matriz insumo-produto

41

contabilidade_social.indb 41 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Seção 1
Contas nacionais

1.1 Considerações iniciais sobre contas nacionais


O Produto Interno Bruto (PIB) de um país pode ser mensurado a partir de três
óticas distintas: do produto, da renda e do dispêndio. Entretanto, apesar de
ser possível chegarmos ao mesmo resultado do PIB pela simples avaliação de
diferentes variáveis, existe um fator limitante quando o assunto é comparação
entre indicadores, uma vez que não há padronização entre eles.

Os países, ao calcularem sua produção nacional utilizando diferentes


métodos de cálculo, chegam ao mesmo resultado, mas podem limitar a
comparação entre indicadores de outros países, principalmente aqueles
relacionados aos conceitos básicos de contabilidade social.

Diante desse contexto, cabe ressaltar que a padronização da metodologia


utilizada para elaboração das contas nacionais pode ser a melhor alternativa para
resolver este problema de comparações.

Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seu
escritório de Sistema Nacional de Conta, criou um documento padrão com
recomendações básicas com o intuito de padronizar o processo de elaboração
das contas nacionais.

O principal fundamento para essa padronização, segundo Paulani e Braga (2007, p.


113), é “apresentar um sistema de contas que, embora mantendo os fundamentos
dos anteriores, seja atualizado, flexível e harmônico”. Entretanto, apesar dessas
diretrizes, não há 100% de garantia quanto à padronização na elaboração das
contas nacionais entre países, pois cada um utiliza conceitos básicos que melhor
se adaptam ao método que atende de forma mais efetiva suas necessidades.

Podemos citar como exemplo o modelo de cálculo brasileiro de contas nacionais,


o qual se difere do de muitos países, embora sua base conceitual seja a mesma.
Desse modo, fica claro que, apesar de os países utilizarem a mesma base
conceitual, é possível, a partir de análises mais detalhadas, montar uma mesma
estrutura de contabilidade social para diferentes países.

Na sequência vamos estudar três casos distintos para elaboração de contas


nacionais, utilizando como exemplo uma economia fechada e sem governo,
uma economia aberta e sem governo e, por fim, um modelo completo com
economia aberta e com governo.

42

contabilidade_social.indb 42 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

1.2 Contas nacionais para uma economia fechada e sem governo


Neste primeiro caso vamos partir da análise de um conceito básico, considerando
apenas quatro setores, com uma empresa em cada um deles, em uma economia
sem estoques e sem renda, avançando no conteúdo de acordo com o grau de
complexidade exigido por cada caso.

É importante que tenhamos sempre em mente que a produção é o principal


movimento de uma economia, pois sem ela não há geração de renda e,
consequentemente, não há como os agentes econômicos satisfazerem suas
necessidades.

A análise real das contas nacionais de uma economia sem governo e sem
transações com o exterior, economia fechada, é improvável, uma vez que a
primeira hipótese de uma economia sem governo é praticamente nula. Entretanto,
a segunda, de uma economia sem transações com o exterior, pode ser assumida
em nosso mundo real, como é o caso da Coreia do Norte, que tem relações
apenas com a China.

Contudo, mesmo que na prática seja improvável, vamos imaginar um cenário


econômico em que não haja governo nem corrente de comércio. Desse modo,
algumas contas serão desnecessárias para as contas nacionais dessa economia,
como gasto de governo, impostos de exportação e importação, entre outros.

Como, então, calcular o PIB dessa economia?

O PIB diz respeito a tudo aquilo que foi produzido em uma economia,
independente se chegou a ser consumido ou não durante o período analisado.
Segundo Paulani e Braga (2007, p. 13), no processo de mensuração do produto
de uma economia deve ser considerada a “soma dos valores de todos os bens e
serviços produzidos no período que não foram destruídos (ou absorvidos como
insumos) na produção de outros bens e serviços”.

O conceito da ótica do dispêndio, em que o valor do produto corresponde ao


consumo das famílias mais o estoque, é o conceito que devemos utilizar no
processo de mensuração do PIB de uma economia.

Por vezes, quando estudamos as particularidades do dispêndio, nos deparamos


com exemplos em que todos os produtos fabricados são consumidos no
processo produtivo e pelo consumidor final. Contudo, sabemos que este cenário
em questão não corresponde à realidade e, por esta razão, também devemos
considerar que há estoques de produtos acabados.

43

contabilidade_social.indb 43 02/10/14 15:24


Capítulo 2

1.2.1 Formação de estoques


Os produtos em estoque, caso não sejam consumidos ou utilizados no processo
produtivo do período em análise, certamente serão considerados em um período
futuro. É isso que determina a sua inclusão já no período analisado, uma vez que,
se não houvesse esse embasamento, a mensuração da produção nos períodos
subsequentes ficaria comprometida.

A partir dessas premissas temos que a mensuração do PIB deve partir do


princípio de que tudo o que é produzido é consumido ou serve de formação de
estoque para períodos subsequentes (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).
Todavia, neste aspecto é preciso que tenhamos especial atenção ao calcular a
produção de produtos e serviços em uma economia.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 31),

não existe nenhum ponto zero do qual se possa partir e, portanto,


quando se contabilizam as variáveis integrantes do sistema de
contas é preciso, em alguns casos, considerar o saldo que as
contas, ou melhor, algumas de suas rubricas, “carregam” de um
período para outro.

Conforme podemos observar em uma economia real, não há possibilidade de


iniciar a contabilidade nacional a partir do zero. Assim, para o cálculo do período
em análise, é preciso que fiquemos atentos ao saldo dos períodos anteriores.
Essa atenção é necessária em virtude de o valor do estoque do período anterior
ser considerado no cálculo do produto para o período seguinte.

Para facilitar nossa compreensão a respeito do cálculo da atividade econômica


de um determinado país, vamos imaginar que esse cálculo inicie no dia 1° de
janeiro do ano subsequente ao atual.

Ao fazer as contas, é evidente que chegaremos a valores bastante destoantes da


realidade produtiva do período em análise em razão de ele apresentar o valor dos
estoques do período anterior. Dessa forma, somente pela análise dos indicadores
pode parecer que a economia teve uma produção volumosa, quando, na verdade,
não teve qualquer produção, pois o valor obtido pelo cálculo corresponde ao
estoque do período anterior.

Nesse caso, para efetuarmos o cálculo correto da produção nacional, é preciso


calcular a variação do estoque, subtraindo do valor do estoque final o valor
do estoque inicial do período. Por essa razão, de agora em diante, quando
falarmos de estoque, vamos considerar a variação de estoque. Em alguns
casos, principalmente em artigos ou livros, podemos nos deparar com o termo
“formação de estoque”.

44

contabilidade_social.indb 44 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Cabe destacar que o conceito de formação de estoque não é errado; contudo,


pode prejudicar a compreensão do conceito de estoque, visto que variações
negativas deste também seriam consideradas “formação de estoque”, que, na
verdade, não ocorreu, pois houve uma redução e não formação (ROSSETTI, 1992).

Com base no exposto, podemos considerar que a produção de uma economia


corresponde, então, ao consumo de famílias mais a variação do estoque. Vencida
a etapa conceitual sobre a variação de estoque, vamos abordar mais um
importante conceito de contabilidade nacional, os investimentos.

1.2.2 Investimentos
Existem diferentes formas para se conceituar investimento, sendo uma delas
utilizando o estoque como suporte em que temos a troca do consumo presente
pelo consumo futuro. Esse entendimento fica mais claro quando aplicamos esse
conceito a um exemplo monetário.

Quando deixamos de consumir parte da nossa renda e a deixamos


aplicada em uma conta poupança, estamos fazendo um investimento, uma
vez que trocamos um consumo X no período Y por um consumo X + N no
período Y + 1.

Nesse caso, o estoque representa mercadorias que serão consumidas no futuro.


Logo, a variação positiva de estoques se constitui uma forma de investimento
pelas empresas. Entretanto, vale lembrar que nem todo estoque constitui
investimento, sendo a natureza do produto é que determinará a sua classificação.

Assim, a referida classificação dependerá, basicamente, da função que o produto tem


no processo produtivo. Vamos estreitar nosso exemplo direcionando-o a um processo
produtivo específico: a fabricação de vinho, que consome os seguintes fatores de
produção: terra, força de trabalho e capital, além da matéria-prima. O produto final, o
vinho, é a resultante da combinação desses quatro fatores de produção.

Contudo, temos que reconhecer que nem todos os fatores de produção são
100% consumidos durante o referido processo produtivo. A semente, por
exemplo, é consumida no plantio; já a uva, no processo de fabricação, assim
como as máquinas de fermentação, pois são elas que fermentam a uva para
fabricação do vinho e, ao final, o próprio vinho é consumido.

Assim, temos por definição que estoque é tudo aquilo que é deixado para
consumo futuro, e se traduz em investimento. Logo, a semente, a uva e o vinho,
quando em estoque, podem ser considerados investimento.

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contabilidade_social.indb 45 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Mas e a máquina de fermentação?

A máquina de fermentação não é totalmente consumida em um só processo de


fabricação, pois, ao contrário das matérias-primas básicas, ela corresponde a um
bem durável, com vida útil relativamente superior aos demais fatores de produção,
sendo utilizada em outras safras.

Dessa forma, enquanto a semente e a uva podem ser consumidas em apenas um


processo, a máquina de fermentação pode ser utilizada em vários processos de
fabricação, configurando-se como um estoque, pois sua vida útil permite que ela
seja utilizada no futuro, tornando viável a produção de mais vinho no futuro.

É importante observar que, ao contrário dos outros fatores de produção, os quais


podem ser utilizados em apenas um processo de fabricação de vinho, a máquina
de fermentação pode ser utilizada em mais de um processo; todavia, não de
forma infinita, pois ela, em função de seu uso, tem um desgaste natural que
intervém em sua vida útil.

Essa diferença entre o consumo dos fatores de produção durante o processo de


fabricação é fundamental para compreendermos o contexto de dois importantes
conceitos da contabilidade social.

O primeiro refere-se à variação de estoques, a qual corresponde aos produtos


não consumidos durante o processo produtivo e que serão utilizados e totalmente
consumidos no próximo processo. O segundo diz respeito à formação bruta de
capital fixo, que corresponde aos produtos, tal como máquinas e equipamentos,
que não são totalmente consumidos durante o processo produtivo e que tem
maior vida útil, podendo ser consumidos em outros processos (ROSSETTI, 1992).

Paulani e Braga (2007, p. 33) reforçam esse entendimento ao afirmarem que,

o investimento costuma ser dividido em variação de estoques,


que congrega os bens cujo consumo ou absorção futuros irão
se dar de uma única vez, e a formação bruta de capital fixo, que
agrega os bens que não desaparecem depois de uma única
utilização e possibilitam a produção (e, portanto, o consumo) ao
longo de um determinado período de tempo, ou seja, possibilitam
a produção de um fluxo de bens e serviços.

O conceito de formação bruta de capital fixo não se limita apenas a máquinas


e equipamentos das empresas, uma vez que também está relacionado a uma
série de outros fatores de uma economia, em especial as residências das famílias,
estradas, pontes, aeroportos, hospitais, entre outros.

46

contabilidade_social.indb 46 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Tal conceito consiste então em tudo aquilo que possibilite o consumo futuro,
seja em forma de produto, como é o caso das máquinas e equipamentos, seja
em forma de serviço, como é o caso das moradias, estradas, etc. Entretanto, há
produtos que têm um tratamento dúbio quanto à sua classificação, como, por
exemplo, computadores, automóveis e motocicletas.

Esses três produtos podem ser considerados estoques ou formação bruta de


capital fixo, enquadramento que penderá do tipo de agente econômico envolvido
no processo. Isso ocorre em virtude de aqueles produtos apresentarem uma
vida útil superior aos bens alimentícios, por exemplo, sendo, por essa razão,
classificados como bens de consumo durável.

Contudo, se forem bens de consumo, não poderão ser considerados como


formação bruta de capital fixo. Assim, no caso das famílias em que esses
produtos são utilizados para consumo, eles devem sim ser considerados
produtos destinados ao consumidor final e, com isso, classificados no critério
de variação de estoques. Agora, em se tratando das empresas que utilizam
esses produtos em seu processo produtivo, eles deverão ser classificados como
formação bruta de capital fixo, pois eles são consumidos durante o tal processo,
e em diferentes períodos em virtude de sua vida útil.

Com relação às empresas, a formação bruta de capital fixo e a variação de


estoques pode ser compreendida de maneira simples. A formação bruta de capital
está relacionada aos bens produção, e, com isso, ao planejamento da empresa em
comprar novas máquinas ou construir novas fábricas, sendo uma variável da qual a
empresa tem total controle. Já a variação de estoques é decorrente de estratégias
de mercado, tal como formação de preço, definição de área de atuação e público-
alvo. Ou seja, a empresa tem domínio sobre a estratégia, mas é o consumidor final
quem dita o ritmo do mercado e, com isso, a variação de estoques é uma variável
da qual a empresa não detém total controle (ROSSETTI, 1992).

A principal diferença entre um produto classificado como estoque e outro como


formação bruta de capital fixo é o fato de o mesmo ser totalmente consumido
em processo produtivo ou não. Entretanto, além dessa classificação, há também
outras para finalidades distintas. Por exemplo, no Brasil, para um mesmo produto
temos a classificação convencionada pela Diretoria de Pesquisas (DPE) e
Coordenação de Contas Nacionais (CONAC), ambas ligadas ao Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).

No caso das máquinas e equipamentos, por exemplo, sabemos que eles são
consumidos inúmeras vezes, mas não infinitas vezes. Essa lógica é clara, uma
vez que, embora sejam considerados bens duráveis, todos têm um prazo limite
de uso, pois seu uso contínuo provoca desgastes que, como o tempo, reduz
a produtividade. Essa redução da vida útil dos bens duráveis também é um
conceito relacionado à contabilidade social, que se denomina depreciação
(BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

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contabilidade_social.indb 47 02/10/14 15:24


Capítulo 2

1.2.3 Depreciação
Para melhor compreender esse conceito, vamos utilizar como exemplo de bens
duráveis o automóvel. Imagine que sejamos donos de uma locadora de veículos.
Por quanto tempo podemos dispor de um veículo para locação? Dois, três anos?

Um automóvel, quando adquirido zero quilômetro, seu preço é X. No entanto,


em seu primeiro ano de uso, dependendo do modelo e valor, seu novo preço,
por exemplo, é de X – 20% = Y. No segundo ano de uso seu o preço volta a cair,
sendo que o novo preço é de Y – 15% e assim sucessivamente, até um ponto em
que a depreciação, em termos percentuais, se estabiliza.

No caso de máquinas e equipamentos este processo é muito semelhante. Em um


processo de fabricação de vinho a máquina de fermentação tem, por exemplo, a
capacidade de fermentar X litros de vinho por mês. Com o seu uso e o desgaste
natural dos equipamentos, sua capacidade de fermentação reduz de X para Y
litros de vinho por mês.

Vamos supor que a vida útil dessa máquina seja de cinco anos, ou seja, que
ela deprecie constantemente 20% ao ano sob o preço inicial. Para manter a
produção no mesmo nível o empresário precisa substituí-la ao final de cinco anos.

Ampliando um pouco mais o nosso exemplo, vamos supor que o empresário


tenha cinco máquinas em sua unidade fabril. Se cada máquina foi adquirida ao
preço de 100 unidades monetárias, a formação bruta de capital fixo contabilizada
nesta empresa é de 500 unidades monetárias. Ao final do primeiro ano, com a
depreciação de 20% de cada uma delas, o valor contábil para essas máquinas é
de 400 unidades monetárias.

Assim, mantendo todas as demais variáveis constantes, se não houver qualquer


investimento em formação bruta de capital fixo, o produto final desta economia
estará em queda pelo simples fato de a depreciação corroer o valor dos
investimentos das empresas.

Desse modo, para manter o nível de formação bruta de capital de fixo, o


empresário do ramo da viticultura deverá adquirir uma nova máquina por
ano, visando a reduzir o impacto da depreciação em sua contabilidade. Se
direcionarmos esse exemplo para uma economia de um país, vamos perceber a
importância do investimento privado para o crescimento econômico.

É importante observar no conceito de formação bruta de capital fixo a existência


da palavra bruta, a qual deve ser considerada no cálculo de um determinado
produto. Conceitualmente, há uma distinção entre bruto e líquido. A formação
bruta corresponde ao resultado inicial, enquanto a formação líquida de capital fixo
corresponde à formação bruta menos a depreciação (ROSSETTI, 1992).

48

contabilidade_social.indb 48 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Nesse caso, ao contabilizar o produto interno bruto de uma economia devemos


considerar o valor da máquina de fermentação do vinho, mas quando quisermos
calcular o produto líquido devemos descontar a depreciação.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 35),

para obter o valor do produto líquido de uma economia num


determinado período é preciso deduzir, do valor total produzido,
ou seja, do valor do produto bruto, aquela parcela meramente
destinada à reposição da parte desgastada do estoque de capital
da economia, a que se dá o nome de depreciação.

1.2.4 Modelo de contas nacionais para uma economia fechada e sem governo
A partir do estudo dos principais conceitos que compõem a contabilidade social vamos
apresentar, no quadro a seguir, o primeiro modelo de uma economia sem governo e
sem comércio exterior, com a devida organização contábil entre débito e crédito.

Quadro 2.1 – Economia sem governo e sem comércio exterior

Débito Crédito

Produto líquido Consumo das famílias

Depreciação Variação de estoques

Formação bruta de capital fixo

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Conforme podemos perceber, são lançadas a débito as variáveis de produto


líquido e depreciação, que, somadas, correspondem ao PIB de uma economia.
Em contrapartida, temos o consumo das famílias, a variação de estoques e a
formação bruta de capital fixo.

Por que essa estrutura de débito?

Essa estrutura está relacionada à ótica do dispêndio, em que o produto de uma


economia corresponde ao dispêndio total em um processo produtivo até chegar
ao consumidor final. Por essa razão, o produto líquido e a depreciação fazem
parte da conta débito.

Já o lado do crédito corresponde ao destino final do produto, ou seja, tudo


aquilo que foi gerado por meio da produção. Nesta conta, fica clara a relação do
que não é consumido é investido, neste caso gerando variação de estoque ou
formação bruta de capital fixo (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

49

contabilidade_social.indb 49 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Diante desse contexto podemos constatar que a contabilidade social emprega


o método de partidas dobradas das ciências contábeis e, por esta razão, esse
primeiro modelo de contabilidade social tem essa disposição, visto que deve
haver igualdade de valores entre débito e crédito. Sem fazer uso de valores,
podemos fazer um exercício simples para comprovar esta afirmação.

O principal objetivo de um processo produtivo é gerar um bem para satisfazer


a necessidade de um agente econômico, sendo que durante o processo a
remuneração dos fatores de produção corresponde ao salário, pago às famílias e
ao lucro, que é a remuneração do capital.

Neste sentido, o salário é gasto no consumo e o lucro pode ser utilizado para
investir na em formação bruta de capital fixo da empresa. O que não é vendido é
variação de estoques. Logo, a produção bruta equivale ao consumo mais variação
de estoques e também a formação bruta de capital fixo (ROSSETTI, 1992).

O único fator diferente desta conta é a depreciação, visto que ela não aparece no
cálculo da ótica do produto, renda ou dispêndio, sendo, por esta razão, que na
coluna de débitos é inserido o produto líquido, em cuja soma mais a depreciação nos
fornece o produto bruto. Esse é o primeiro critério do método das partidas dobradas.

O segundo critério corresponde ao fato de um valor de débito sempre ter um


mesmo valor correspondente em crédito em cada uma das contas, ou seja,
todas as contas devem estar equilibradas entre si, o que chamamos de equilíbrio
interno, e não apenas a conta final entre débito e crédito, o que chamamos de
equilíbrio externo (ROSSETTI, 1992).

Dessa forma, em um primeiro momento, conseguimos facilmente perceber a


produção líquida de uma economia por meio da conta de produção. Contudo,
esse método tem outra importante função, a qual evidencia a produção como
responsável pela geração de renda em uma economia.

Expandindo um pouco mais nossos conceitos, podemos perceber que, assim


como a produção, a renda também pode ser dividida entre renda bruta e renda
líquida. Neste caso, parte da depreciação da conta de débito pode corresponder
também à depreciação da renda e não somente da formação bruta de capital fixo.

Assim, incluindo a conta depreciação na renda, temos a possibilidade de refazer


nossos cálculos do produto com base no somatório das remunerações dos
agentes econômicos. Todavia, para o cálculo das contas nacionais devemos
expandir um pouco mais nosso modelo.

Para fins de simplificação, utilizamos, em nosso exemplo, apenas o salário e o


lucro como remunerações dos fatores de produção. Entretanto, é evidente que
existem outras importantes fontes de renda em uma economia, em especial os

50

contabilidade_social.indb 50 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

aluguéis, que correspondem à remuneração pela propriedade de imóveis e os


juros, que remuneram o capital dos agentes econômicos, uma vez que assim
como há diferença de classificação entre os bens duráveis para empresas e
famílias, também há uma substancial diferença entre as contas de rendimento de
aluguel e juros.

Nesse sentido, é preciso estar atento aos cálculos, pois, no caso das famílias, o salário
é a renda gerada pelo fator de produção trabalho, enquanto os aluguéis correspondem
à remuneração do fator de produção terra, os juros correspondem à remuneração do
fator de produção capital. Para as famílias, todas essas remunerações sempre devem
ser somadas para se obter a renda total (ROSSETTI, 1992).

No caso das empresas é um pouco diferente, pois a remuneração da terra e a


remuneração do capital já estão contabilizadas na receita total da empresa. Por
esta razão, quando temos a receita total de uma empresa, não devemos somar a
ela quaisquer outros tipos de remuneração.

Vale lembrar que há uma exceção a essa regra, a qual corresponde apenas às
empresas do setor financeiro, visto que o capital é o seu principal produto e,
portanto, apenas no caso da remuneração do capital, a conta de juros deve ser
utilizada como fonte de cálculo de valor adicionado, sendo que o valor adicionado
total corresponde à diferença entre os juros pagos pelos clientes e os juros pagos
aos clientes (PAULANI; BRAGA, 2007).

Feito mais esse avanço, vamos agregar, conforme mostra o próximo quadro,
algumas contas no nosso exemplo.

Quadro 2.2 – Expansão das variáveis de uma economia sem governo e sem comércio exterior

Débito Crédito

Salários Consumo pessoal

Lucros Variação de estoques

Aluguéis Formação bruta de capital fixo

Juros

Depreciação

Produto Nacional Bruto Despesa bruta

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

51

contabilidade_social.indb 51 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Fica evidente que esse quadro demonstra a identidade produto renda dispêndio,
que é a base de todo o sistema de contas nacional. A partir desse exemplo,
temos total clareza de como funciona o sistema em uma economia e temos
condições de avançar e aprofundar mais o exemplo.

Vamos expandir esse exemplo aprofundando nosso estudo na conta de


apropriação, cuja análise é focada nos rendimentos dos agentes econômicos
durante o processo produtivo. Assim, enquanto na conta de produção os agentes
econômicos são envolvidos nas atividades de produção, na conta de apropriação
eles são classificados como agentes de dispêndio, pois fazem uso da renda
recebida para o consumo dos bens e serviços produzidos.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 38),

o motivo da conta trazer, do lado do débito, a rubrica poupança


líquida, que indica a parcela de renda que as famílias decidiram
não consumir e sim poupar. Nesse sentido, os próprios lucros
retidos devem ser entendidos como uma espécie de poupança
compulsória imposta às famílias, já que eles constituem uma
renda que não foi distribuída aos proprietários de fatores, ficando
retida nas empresas.

Cabe destacar que a conta de apropriação, ao contrário da conta de produção,


tem a missão de demonstrar o rendimento, lucros e perdas dos agentes
econômicos durante o processo produtivo. Não devendo ser confundida, jamais,
com a própria conta de produção (ROSSETTI, 1992).

A função da conta de apropriação é demonstrar como a renda foi utilizada e quais os


rendimentos auferidos nesta economia. O quadro a seguir exemplifica essa conta:

Quadro 2.3 – Conta de apropriação em uma economia sem governo e sem comércio exterior

Débito Crédito

Consumo Salários

Poupança líquida Aluguéis

Juros

Lucros distribuídos

Lucros retidos

Utilização da Renda Nacional Líquida Renda Nacional Líquida

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

52

contabilidade_social.indb 52 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Conforme podemos observar no quadro anterior, todos os rendimentos dos


fatores de produção são lançados na conta de crédito, enquanto o uso dos
mesmos é lançado na conta débito; ou seja, na conta crédito são lançadas todas
as fontes de renda dos agentes econômicos, enquanto a débito são lançadas as
formas de uso da mesma: consumo ou poupança líquida.

Esta conta é chamada de conta de apropriação por demonstrar a forma


como os agentes econômicos se apropriam do rendimento dos fatores de
produção, sendo que as famílias são os principais agentes dessa conta.

Também é possível notar nesta conta que o método das partidas dobradas foi
respeitado, pois, pelo lado do crédito, temos todos os rendimentos das famílias
na economia, enquanto pelo lado do débito temos o consumo e a poupança,
lembrando que a poupança deve ser vista como consumo futuro das famílias.

Embora sejam as famílias os principais agentes econômicos da conta de


apropriação, não podemos nos esquecer de que as empresas têm papel central
em uma economia, pois viabilizam a produção, promovendo a geração de renda
e, consequentemente, o consumo (ROSSETTI, 1992).

Além de viabilizar a produção, as empresas também consomem fatores de produção


durante o processo produtivo. No caso da conta de apropriação, o pagamento pelos
fatores de produção corresponde às remunerações pagas aos agentes econômicos,
enquanto o recebimento corresponde ao consumo das famílias.

Em virtude de considerarmos as empresas em nosso exemplo de economia


sem governo e sem comércio exterior, precisamos analisar outras importantes
variáveis correspondentes ao processo produtivo, principalmente aquelas que são
necessárias à conta para a produção, como é o caso da variação de estoques e a
formação bruta de capital fixo.

O seguinte quadro apresenta a estruturação dessas importantes variáveis, a qual


leva o nome de conta de capital.

Quadro 2.4 – Conta de capital em uma economia sem governo e sem comércio exterior

Débito Crédito

Variação de estoques Poupança líquida

Formação bruta de capital fixo Depreciação

Investimento bruto Poupança bruta

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

53

contabilidade_social.indb 53 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Verificamos nesse quadro que a parte de débito da conta de capital corresponde


à conta de débito da conta de apropriação, com especial atenção ao consumo
das famílias, neste caso representado pela variação dos estoques.

A conta de capital finaliza nosso exemplo e consolida o sistema de economia


fechada e sem governo. Essa conta também é responsável por demonstrar uma
das identidades macroeconômicas mais importantes. A identidade investimento 
 poupança demonstra que a variação de estoques e a formação bruta de capital
fixo são uma forma de poupança das empresas, pois permitem seu consumo
futuro (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

Ela também demonstra os esforços produtivos de uma sociedade no que


se refere à preocupação não apenas como o consumo presente, mas
também com o consumo futuro por parte das empresas e famílias.

Essa identidade é demonstrada, também, pela relação entre débito e crédito.


A poupança das empresas corresponde aos créditos existentes, enquanto o
investimento é classificado, obrigatoriamente, como um débito, pois corresponde
ao consumo futuro, o qual também deve ser classificado como débito.

A principal preocupação, entretanto, corresponde ao valor do investimento e da


poupança em uma economia. Obrigatoriamente, para ocorrer um investimento,
deve haver uma poupança prévia, sendo que esta poupança corresponde um
crédito de todos os agentes da economia (BLANCHARD, 2001).

Pelo lado da família, temos a renda não consumida no presente e, pelo lado das
empresas, temos os lucros retidos por elas. Entretanto, é fundamental ter em
mente que investimento sempre será igual à poupança.

1.3 Contas nacionais para uma economia aberta e sem governo


Quando analisamos a estrutura de uma economia fechada e sem governo,
devemos focar no estudo nas atividades produtivas internas e no consumo das
famílias. Contudo, quando expandimos nossa análise, e passamos a estudar uma
economia aberta e sem governo, devemos incluir mais contas.

Nesse caso em especial, vamos incluir a conta de transações com o


exterior, ou seja, todas as movimentações de produtos e serviços com o
exterior e o impacto desse relacionamento na economia local, lembrando
que o governo não está incluso nesse estágio.

54

contabilidade_social.indb 54 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

As principais premissas para uma economia aberta e sem governo correspondem


ao fato de que tudo o que é produzido internamente pode ser totalmente
consumido pelas famílias ou então pode ser comercializado com o resto do
mundo. Da mesma forma que tudo o que é consumido internamente pode ter
correspondente em alguma produção de outro país (ROSSETTI, 1992). Estamos
falando, portanto, de importação e exportação.

1.3.1 Balança comercial


Quando nos referimos à importação e exportação estamos falando de um dos
principais indicadores de uma economia, a balança comercial, a qual corresponde
ao saldo de tudo o que é comprado e vendido pelo país para o resto do mundo
em determinado período de tempo.

É importante ressaltar que há duas modalidades de balança referentes às


transações com o exterior. A primeira delas é a balança comercial propriamente
dita, que corresponde ao saldo final entre importações e exportações. A segunda
diz respeito à balança de serviços, que corresponde às transações referentes aos
serviços, em especial o pagamento de fretes, juros e royalties.

O produto nacional corresponde a tudo aquilo que é produzido por empresas e


pessoas de determinada nacionalidade, independente da sua posição geográfica.
Ou seja, se é uma empresa multinacional brasileira com uma filial na China, os
lucros gerados pela operação nesse país fazem parte do produto nacional, mas
não do produto interno, o qual só considera aquilo que é produzido dentro do
espaço geográfico do país em análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

Outra consideração a ser feita corresponde à diferença entre produto e serviço,


visto que tais conceitos serão utilizados na elaboração das contas nacionais e
têm diferentes classificações de acordo com a origem das transações.

O conceito de produto, por exemplo, corresponde aos bens tangíveis utilizados


no processo de produção ou para o consumo final, enquanto os serviços
correspondem aos bens intangíveis que, da mesma maneira, são utilizados no
processo de produção ou para o consumo final. No caso dos serviços, além de
fretes e seguros, o capital para financiamento também é considerado.

No que se refere ao cálculo do produto, é importante mensurar o saldo de todas


essas operações. Com relação a esses conceitos, Paulani e Braga (2007, p. 42)
concluem que:

[...] enviar liquidamente renda ao exterior significa que, no período


em questão, utilizou mais fatores de produção estrangeiros (de
não residentes) do que foram utilizados os fatores de produção
de seus residentes pelas economias de outros países. Nesse

55

contabilidade_social.indb 55 02/10/14 15:24


Capítulo 2

caso, seu produto (ou renda) interno vai apresentar um valor


maior do que seu produto (ou renda) nacional. Por outro lado, se
o país recebe liquidamente renda do exterior, seu produto (ou
renda) interno vai apresentar um valor menor do que seu produto
(ou renda) nacional.

Diante desse contexto vamos refletir, a fim de entendermos a finalidade, sobre o


motivo pelo qual alguns países, como, por exemplo, o Brasil, divulgam o seu PIB
e não o seu Produto Nacional Bruto (PNB).

O Brasil possui um número limitado de empresas nacionais em atuação no


exterior, entretanto, grande parte das empresas que atuam no Brasil são
multinacionais, principalmente dos Estados Unidos e da Europa.

Logo, em termos comparativos, a renda enviada ao Brasil pelas empresas


nacionais brasileiras com atividades no exterior é substancialmente inferior à
renda enviada pelas empresas multinacionais estrangeiras aos seus respectivos
países. Nesse sentido, o saldo da transação é sempre é deficitário para o Brasil.

Desse modo, o governo brasileiro divulga o PIB, em virtude de ele, em termos


monetários, ser superior ao PNB. Pelo lado inverso, a maior parte dos países
desenvolvidos faz uso do PNB como principal indicador de produção, visto que
possui maior disponibilidade de capital e empresas multinacionais, o que faz o
saldo da conta de capital ser positivo.

Além desse aspecto, muitos desses países estão à frente do processo de


inovação global, o que confere a eles maior produtividade operacional nas
empresas, independentemente do território de atuação, auferindo maior renda,
por serem exportadores líquidos de serviços e fatores de produção (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2001).

A utilização de indicadores para a mensuração das contas nacionais pode


ser feito a partir do cálculo do PIB ou do PNB, sendo que a opção a ser
utilizada como indicador de produção fica a critério da equipe de governo.

Por ser uma metodologia padrão, a conversão de PNB para PIB é muito simples,
basta deduzir a renda líquida enviada ao exterior, ou, se for o caso, adicionar a
renda líquida ao PIB.

1.3.2 Conta de comércio exterior


Feitas as devidas e importantes considerações, precisamos inserir mais uma
conta em nosso sistema de contas nacionais, visto o ingresso das transações
com o exterior. Desse modo, além das contas nacionais de produção, de

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contabilidade_social.indb 56 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

apropriação e de capital, quando estudamos uma economia aberta e sem


governo devemos incluir mais uma conta, que é a de transações com exterior.

Essa nova conta tem por objetivo a mensuração da renda líquida enviada ou
recebida do exterior, e apresenta uma particularidade especial em relação às
demais contas que integram o sistema de contas nacionais, as quais têm uma
contrapartida entre débito e crédito, ou seja, ao lançar um débito em uma conta
temos um crédito de igual valor.

Mas, no caso da conta de transações com exterior, como fica? Utilizando a


mesma lógica das demais contas, poderíamos supor que para existir total
equilíbrio entre as contas seria necessário o país importar e exportar a mesma
quantidade de bens e serviços, correto? Em princípio, sim. Contudo, esse cenário
é difícil, para não dizer impossível de se estabelecer, visto a enorme quantidade
de bens e serviços, a diferentes preços, que são transacionados anualmente
entre os países.

Logo, esse saldo, que será positivo ou negativo, deve fazer parte do sistema
de contas das transações com o exterior. Caso o resultado seja positivo, temos
por conceito que houve um superávit da balança comercial, mas caso seja um
resultado negativo, então temos por conceito que houve um déficit na balança
comercial (ROSSETTI, 1992).

Podemos observar que é o superávit ou o déficit na balança comercial que irá


garantir o equilíbrio entre débitos e créditos da conta de transações com o exterior.
Assim, contabilmente, devemos lançar a débito as exportações de bens e serviços
de não fatores de produção de propriedade de residentes no país, enquanto na
conta crédito são lançadas as importações dos mesmos bens e serviços.

O quadro na sequência mostra a disposição das variáveis da conta de transações


com o exterior.

Quadro 2.5 – Conta de comércio exterior em uma economia sem governo

Débito Crédito

Exportações de bens e serviços não fatores Importações de bens e serviços não fatores

Superávit ou déficit no balanço de Renda líquida enviada ao exterior


pagamento em transações correntes

Total: Débitos Total: Créditos

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

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contabilidade_social.indb 57 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Cabe destacar que, ao contrário das demais contas do sistema nacional, as


variáveis da conta de transações correntes já são informadas de acordo com
o seu valor final e o saldo total das transações correntes nada mais é que o
somatório de todos esses valores.

Paulani e Braga (2007, p. 44) fazem uma importante ressalva quanto à estrutura
da conta de transações correntes, a saber:

[...] no caso das transações envolvendo fatores de produção,


elas já aparecem, registradas pelo saldo, do lado do crédito da
conta, e esse saldo é definido como envio líquido e não como
recebimento líquido, o qual também pode acontecer.

Nesse caso, os autores estão considerando uma economia, em geral, de um


país subdesenvolvido, como é o caso do Brasil, que é importadora líquida de
capitais. No caso inverso, caso haja um recebimento de renda líquida, deve
ser considerada a mesma estrutura de contas com a diferença de, em vez de
lançarmos um valor positivo, vamos lançar um valor negativo.

Em nosso modelo de conta de transação corrente, deixamos descrito o registro


de um superávit ou déficit na parte dos débitos. Entretanto, se o país for um
importador de renda líquida, então devemos utilizar o déficit como parâmetro
nesta conta. Caso contrário, sendo um país um exportador, devemos utilizar o
superávit (ROSSETTI, 1992).

Finalizando nosso estudo sobre a conta de transações com exterior, temos que
as contas de produção e conta de capital são diretamente impactadas com
a inclusão das exportações e importações em nossos modelos. Na conta de
produção fica evidente que a inclusão de transações com exterior tem impacto
direto no valor total da produção, pois, além de contabilizar a produção nacional,
ela contabiliza também o valor de produção e fatores dos não residentes. Nesse
cenário, o resultado final desta conta corresponde ao cálculo do PIB.

Esse modelo implica afirmar que, pelo lado do débito, a conta de produção
apresentará o PIB mais as importações de bens e serviços e, do lado contrário,
deve consolidar a demanda por tais bens e serviços. Como estamos falando de
uma economia aberta, essa demanda corresponde ao consumo interno e externo.

1.3.3 Conta de produção e de capital para um modelo de contas nacionais para


uma economia aberta e sem governo
A partir dessas relações apresentadas, temos um novo modelo da nossa conta de
produção, conforme ilustra o quadro a seguir:

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Contabilidade Social

Quadro 2.6 – Conta de produção em uma economia aberta e sem governo

Débito Crédito

Importações de bens e serviços não fatores Exportações de bens e serviços não fatores

Renda líquida enviada ao exterior Consumo pessoal

Salário Variação de estoques

Juros Formação bruta de capital fixo

Aluguéis

Lucros

Depreciação

Total: Oferta Total: Demanda

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Ao analisar esse quadro notamos que houve a necessidade de realizarmos mais


uma alteração visando ao equilíbrio externo do sistema. O débito da conta de
importações foi necessário para compensar o crédito na conta do setor externo,
pois ele não demonstra mais aquilo que foi produzido pela economia, mas sim a
oferta total da economia, da mesma forma que as exportações são lançadas na
conta do crédito, responsável pela demanda total da economia.

É importante observar que para o sistema de contas ser completo, no que diz
respeito a uma economia aberta e sem governo, há necessidade de fazer a
introdução de uma nova conta, pois fizemos um lançamento a débito referente
ao superávit/déficit da balança comercial. O próximo quadro mostra a conta de
capital quando incluímos aquele novo lançamento.

Quadro 2.7 – Conta de capital em uma economia aberta e sem governo

Débito Crédito

Variação de estoques Poupança líquida

Formação bruta de capital fixo Depreciação

Superávit/déficit do balanço de pagamento

Total: Investimento bruto Total: Poupança bruta

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Nesse caso a conta de capital tem a importante função de identidade entre


investimento e poupança. Assim, a inclusão do superávit ou déficit na referida conta
corresponde à transação de exportação (superávit) ou importação (déficit) de capital.

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contabilidade_social.indb 59 02/10/14 15:24


Capítulo 2

1.4 Contas nacionais: um modelo completo

1.4.1 Um modelo mais realista


Um modelo completo de contas nacionais diz respeito à inserção de um
importante agente no contexto das referidas contas, o governo, o qual é o
principal agente de uma economia, pois suas decisões interferem diretamente
nela. Por exemplo, o aumento de gastos do governo, de investimentos, de
tributos, entre outros, tem total interferência no curto e longo prazo na economia
(BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972).

1.4.2 A importância do governo


O governo, além de consumidor, também é um importante produtor na economia.
Mas não tanto um produtor de bens e serviços, como ocorrera há décadas em
muitas economias, quando o Estado tinha papel importante no sistema produtivo.

Hoje, enquanto produtor, o governo se concentra no fornecimento de


serviços à população, em especial a prestação de serviços na área de
saúde, educação e segurança. Embora ao longo das atividades produtivas
o governo possa, a partir de decisões sobre impostos e subsídios, interferir
diretamente na formação de preço dos produtos, o que, conforme mostra
os estudos microeconômicos, alteram o preço e a quantidade de equilíbrio
do mercado (PINDYCK, 2010).

Com base no exposto podemos verificar que o governo é um importante agente


econômico e, por esta razão, precisamos criar uma conta específica para ele em
nosso sistema de contas nacionais, conforme mostra o seguinte quadro.

Quadro 2.8 – Conta de governo em uma economia completa

Débito Crédito

Consumo do governo Impostos diretos

Subsídio Impostos indiretos

Transferências Outras receitas correntes líquidas

Saldo do governo

Total: Utilização da receita Total: Receita

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

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contabilidade_social.indb 60 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Podemos constatar nessa conta que os impostos são as principais receitas do


governo e, por esta razão, estão dispostos na conta de crédito, enquanto suas
despesas e consumos estão dispostos na conta de débito. Percebemos aqui
certa semelhança entre a conta do governo e a conta de apropriação.

Do mesmo modo que a conta de apropriação tem a função de contabilizar


as fontes de receita e os gastos das famílias, a conta do governo tem como
função contabilizar a receita total do governo e os seus gastos. Uma única
particularidade corresponde ao lançamento da conta “saldo do governo”, que
permite o equilíbrio interno entre débito e crédito dessa conta (ROSSETTI, 1992).

A lógica da conta de governo é muito simples: o governo arrecada receita por


meio de impostos e outras fontes de receita, tal como aluguéis, multas e juros. De
outro lado, utiliza parte dessa receita para custear sua estrutura administrativa,
em especial o pagamento de salários aos funcionários públicos e a compra de
bens e serviços necessários à execução de suas atividades mais básicas.

Além do salário do funcionalismo público, o governo também tem duas


importantes despesas, que são classificadas como transferência. A primeira
delas corresponde ao pagamento de aposentadorias e a segunda corresponde ao
pagamento de juros da dívida pública.

Vale observar que parte da receita também pode ser utilizada como subsídio ao
setor produtivo, em especial ao setor agrícola, como, por exemplo, na garantia
de preço mínimo para produção de algum produto, como milho, soja, trigo, entre
outros. Assim, caso, no momento da venda da safra o preço de mercado seja de
um produto agrícola seja X e o governo tenha garantido X + Y, o governo pagará ao
produtor rural o valor correspondente ao Y, para garantir o preço mínimo ao produtor.

A diferença entre essas receitas e despesas corresponde ao saldo do governo


em suas transações correntes. É importante destacar que essas contas envolvem
apenas receitas e gastos correntes, ou seja, não envolvem qualquer despesa de
capital ou formação de estoque por parte do governo (PAULANI; BRAGA, 2007).

Por exemplo: Caso o governo esteja construindo uma nova ponte, aos valores
desse investimento correspondem a uma despesa de capital e não corrente, a
qual corresponde também empréstimos e financiamentos.

Assim como no caso das famílias, tudo o que governo arrecada e não gasta
corresponde à poupança. Em outras palavras, o governo foi superavitário em
suas transações correntes. No caso inverso, se ele gastou mais do que arrecadou,
então o governo é deficitário e deve financiar o excedente dos seus gastos com
poupança do setor privado.

61

contabilidade_social.indb 61 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Desenvolvendo um pouco mais os estudos sobre as receitas do governo, temos


que elas se concentram basicamente na arrecadação de impostos, sendo que
esses, por sua vez, são classificados como diretos ou indiretos.

Os impostos diretos são aqueles cobrados sobre a renda ou a propriedade dos


agentes econômicos. No caso do Brasil, o Imposto de Renda (IR) é o principal
exemplo de imposto direto, que é cobrado pelo governo federal. Outros dois impostos,
cobrados pela propriedade, são de responsabilidade do Estado, como é o caso do
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), e de responsabilidade
municipal, como é o caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

Os impostos indiretos, por sua vez, correspondem àqueles pagos no ato de


compra de um bem ou serviço. No caso brasileiro, o Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), que é cobrado pelo governo federal, o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado pelos governos estaduais
e, por fim, o Imposto sobre Serviços (ISS), cobrado pelos municípios.

Cabe observar que todos esses impostos já estão embutidos no preço dos
produtos e serviços e qualquer variação da alíquota pode ter interferência direta
no preço.

Pelo lado das despesas, fica fácil compreender o que é consumo do governo e
o que é subsídio. Contudo, no caso das transferências, há certas características
que podem dificultar a compreensão. Principalmente se levarmos em
consideração que o pagamento do funcionalismo público é uma despesa, e que o
pagamento de aposentadoria é transferência.

Qual a diferença entre essas duas despesas?

Conceitualmente, o pagamento de salário corresponde à remuneração dos


funcionários públicos pelos seus serviços prestados, enquanto o pagamento da
aposentadoria não tem uma contrapartida. Ou seja, o aposentado, neste caso,
não prestou qualquer serviço ao governo (ROSSETTI, 1992).

Embora o aposentado tenha contribuído para sua aposentadoria, essa


contribuição foi em anos anteriores ao do recebimento, e como a contabilidade
social só mensura o produto em um período X, não há como mensurar o
pagamento da previdência e o recebimento da aposentadoria no mesmo período,
logo, este custo é tratado como transferência.

Podemos ampliar esse raciocínio e citar, no caso do Brasil, o Programa


Bolsa Família, que é um programa de transferência de renda. Outros auxílios
trabalhistas também são considerados transferência, tal como seguro-
desemprego, auxílio doença e salário-maternidade.

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Contabilidade Social

Outra importante transferência feita pelo governo corresponde ao pagamento


de juros da dívida que, assim como no caso da aposentadoria, corresponde à
remuneração do capital feito em um período anterior ao que se está mensurando.
Logo, se enquadrada na faixa de transferência.

Paulani e Braga (2007, p. 50) fazem uma importante observação sobre essas
operações:

[...] todas essas operações assemelham-se no seguinte


ponto: em todas elas há um efetivo deslocamento de recursos
monetários das mãos do governo para as mãos dos beneficiários.
O governo, assim, devolve ao setor privado parte daquilo que ele
recolhe como impostos.

Com relação aos subsídios, além de um pagamento direto ao produtor, como é


caso da garantia do preço mínimo, o governo também pode atuar por meio da
desoneração fiscal para determinados produtos, tornando-os mais baratos ao
consumidor final.

No caso também do Brasil, as recentes políticas de desoneração do IPI para


automóveis e linha branca de eletrodomésticos é um exemplo bastante claro da
referida política, pois em todos esses casos há subsídio e, embora o governo não
esteja pagando, ele está deixando de receber uma parcela referente aos impostos
de sua responsabilidade.

O governo, em virtude de ser um agente econômico que tem total poder sobre
as variáveis macroeconômicas, principalmente por meio de sua política tributária,
é capaz de interferir diretamente na geração de renda líquida e nos preços dos
produtos (BLANCHARD, 2001). De um lado, o governo tem poder para elevar o
preço dos produtos e serviços a partir dos ajustes dos impostos, e, de outro, ele
é capaz de dar subsídios e reduzir o preço dos mesmos.

Como registrar essas variações tributárias ou políticas de subsídios em


nossa conta governo?

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 51),

para resolver o problema foram criados dois conceitos de


produto: o produto a preços de mercado, que inclui o valor dos
impostos indiretos compensados dos subsídios, e o produto a
custo de fatores, que não considera esse valor adicional.

63

contabilidade_social.indb 63 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Compreender essas questões de impostos diretos e indiretos, transferências e


subsídios é o primeiro passo para lançarmos a base teórica da nossa conta de
governo, visto que essas são as variáveis mais importantes da conta do governo.

1.4.3 Conta de produção em uma economia completa


Anteriormente, comentamos sobre o PIB e o PNB, mas devemos ter em mente
que há diferentes tipos de PIB. Por exemplo, o PIB calculado e amplamente
divulgado como principal indicador econômico é o PIB a preços de mercado.
Nesse sentido, vamos construir, por meio do quadro a seguir, a versão final das
contas de produção e de apropriação.

Quadro 2.9 – Conta de produção em uma economia completa

Débito Crédito

Salários Consumo pessoal

Aluguéis Consumo do governo

Juros Variação de estoques

Lucros retidos Formação bruta de capital fixo

Lucros distribuídos Exportações de bens e serviços não fatores

Depreciação

Saldo dos impostos pagos pelas empresas


menos as transferências recebidas por elas

Outras receitas correntes líquidas

Impostos indiretos menos subsídios

Renda líquida enviada ao exterior

Importação de bens e serviços não fatores

Total: Oferta de bens e serviços Total: Demanda de bens e serviços

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Podemos observar uma nova conta produção, que consolida o lançamento


dos impostos diretos pagos pelas empresas, já descontadas as transferências
governamentais recebidas. Da mesma forma, observamos que a parte do valor
adicionado corresponde ao valor equivalente ao pagamento de impostos diretos
pelas empresas. O pagamento de lucros, também, deve ser considerado em seu
valor líquido, ou seja, livre do pagamento de impostos.

64

contabilidade_social.indb 64 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Pelo lado do crédito temos o lançamento do consumo do governo, que terá valor
idêntico ao valor do item consumo do governo da conta governo, conforme mostra
o quadro na sequência referente às contas do governo em uma economia completa.

O governo foi introduzido na conta de produção em razão do mesmo


contribuir para o consumo total, a formação bruta de capital fixo e variação
de estoques, além de ser estar presente nas transações com o exterior.

1.4.4 Conta de apropriação em uma economia completa


Apresentamos a seguir a versão final das contas de apropriação, governo,
comércio exterior e de capital.

Quadro 2.10 – Conta de apropriação em uma economia completa

Débito Crédito

Consumo pessoal Salários

Impostos diretos (empresas) Aluguéis

Impostos diretos (famílias) Juros

Poupança líquida do setor privado Lucros

Outras receitas correntes líquidas Transferências totais

Impostos diretos líquidos

Outras receitas correntes líquidas do


governo

Total: Uso da renda nacional líquida a Total: Renda nacional líquida a custo de
custo de fatores mais transferências fatores mais transferências

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Nesse caso da conta de apropriação, as principais variáveis incluídas


correspondem aos impostos diretos e indiretos pelo lado do débito. Ambas,
conforme observamos no quadro a seguir são referentes à conta do governo em
uma economia completa, e têm uma contrapartida em crédito.

Essas duas variáveis foram incluídas com o objetivo de demonstrar a existência


de um governo na economia e na necessidade dos agentes econômicos em
reservar parte da sua renda ou receita para o pagamento de impostos.

65

contabilidade_social.indb 65 02/10/14 15:24


Capítulo 2

1.4.5 Conta de governo em uma economia completa


A conta de governo em uma economia completa é de fácil compreensão, sendo
que a crédito são lançadas todas as fontes de receita do governo, com maior
relevância para os impostos diretos das famílias e empresas.

Quadro 2.11 – Conta do governo em uma economia completa

Débito Crédito

Consumo do governo Impostos diretos (famílias)

Transferências às famílias Impostos diretos (empresas)

Transferência às empresas Impostos indiretos

Subsídios Outras receitas correntes líquidas

Saldo do governo em conta-corrente Transferências totais

Impostos diretos líquidos

Outras receitas correntes líquidas do


governo

Total: Uso da receita Total: Receita

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Na análise desse quadro é preciso ficar atento, apenas, à questão das


transferências, pois é feito um lançamento de transferência a crédito e outro a
débito, sendo que esses têm conceitos diferentes.

A transferência a crédito corresponde às transferências recebidas pelo governo,


em qualquer uma das suas esferas, enquanto as transferências, pelo lado o
débito, correspondem a repasses do governo a famílias ou empresas.

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contabilidade_social.indb 66 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

1.4.6 Conta de comércio exterior em uma economia completa


A conta de comércio exterior é outra importante conta do nosso modelo completo
de contas nacionais.

Quadro 2.12 – Conta de comércio exterior em uma economia completa

Débito Crédito

Exportação de bens e serviços não fatores Importação de bens e serviços não fatores

Déficit no balanço de pagamentos em Renda líquida enviada ao exterior


transações correntes

Total: Débito Total: Crédito

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

Como podemos notar, esse quadro não se modifica se comparado ao que


estudamos no modelo de economia aberta e sem governo. Não há alteração, pois
não há separação entre o que é importado ou exportado por agente econômico.
É um quadro consolidado com transações das famílias, empresas e governo.

1.4.7 Conta de capital em uma economia completa


A conta de capital também é importante para a análise do modelo completo
de contas nacionais, principalmente pela sua identidade entre investimento e
poupança.

Quadro 2.13 – Conta de capital em uma economia completa

Débito Crédito

Variação de estoques Poupança líquida do setor privado

Formação bruta de capital fixo Depreciação

Déficit do balanço de pagamentos em


transações correntes

Saldo do governo em conta-corrente

Total: Uso da receita Total: Receita

Fonte: Adaptação de Rosseti (1992).

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contabilidade_social.indb 67 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Nesta conta, podemos observar na conta de capital a inclusão do saldo do


governo em conta-corrente, que tem uma contrapartida idêntica a débito na
conta do governo e demonstra que o governo ao lado do setor privado e setor
externo correspondem à terceira fonte de geração de poupança e, por identidade,
de investimento.

1.4.8 Consolidando siglas


À medida que desenvolvemos nossos estudos, incluímos uma série de siglas e
conceitos que são necessários à compreensão. Para melhor assimilação, vamos
fazer uma pequena lista com todas elas:

Quadro 2.14 – Legenda de conceitos econômicos

Sigla Significado

P Produto

I Interno

B Bruto

N Nacional

L Líquido

PM Preços de mercado

CF Custo de fatores

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Com relação a esse quadro, é preciso ficar claro duas relações importantes. A
primeira, corresponde à depreciação. Sempre que um indicador destacar o
conceito de bruto, então ele está considerando a depreciação em seu cálculo.
Exemplo: Produto Interno Bruto. Para saber o Produto Interno Líquido, basta
deduzir a Depreciação.

O segundo corresponde ao conceito de Interno e Nacional. Tudo o que é


produzido dentro do território geográfico é considerado interno. Ele é nacional
quando considera apenas a produção de empresas nacionais, seja no território
geográfico, seja em outros países.

68

contabilidade_social.indb 68 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

1.5 Considerações e limitantes do sistema de contas nacionais


O sistema de contas nacionais, assim como a matriz insumo-produto, também
possui alguns limitantes. Rossetti (1992) enumera os principais, os quais são
apresentados na sequência:

1. Deflacionar: Elaborar o sistema de contas nacionais e, em especial,


quando se quer comparar contas de uma mesma classificação,
é preciso estar atento ao fator de deflação. Caso contrário, a
comparação entre eles não será viável, pois não podemos comparar
indicadores de diferentes períodos desconsiderando a inflação que
incorreu no período.
2. Juros: Assim como ocorre na questão dos valores dos bens e
serviços, também é preciso fazer a distinção entre juros reais e
juros nominais, pois a inflação incide sobre o valor dos ativos
financeiros, sendo utilizado, nesse caso, o juro nominal.
3. Com relação aos agregados macroeconômicos, a inflação incorre
apenas sobre a distribuição de renda e não sobre os demais
agregados.
4. Em caso de inflação, a renda nominal será sempre superior à renda
real, pois esta desconta a inflação.
5. A comparação entre as contas dos países é limitada em razão da
tarifa cambial, visto que as contas precisam estar na mesma base
monetária. Contudo, não basta, por exemplo, apenas fazermos a
conversão cambial; também é preciso analisar as políticas tarifárias
e de subsídios aos produtos.
6. A contabilidade social também não tem condições de incorporar
ao seu método indicadores relacionados à economia informal e às
expectativas dos agentes.
7. Há fatores intangíveis na economia e no qual não há uma
formalização do valor. Logo, a contabilidade social estima esses
valores como se houvesse alguma transação no mercado. Um
exemplo clássico é o valor de uma marca, a qual se valoriza ou
desvaloriza no ano, mas sem transações econômicas.
8. As questões ambientais são difíceis de serem contabilizadas, em
especial quando se tratar de estoque de matéria-prima bruta, como
os minerais. Nesse caso, há dificuldade de mensurar o estoque.
9. Não há qualquer contabilidade relacionada às perdas ambientais
decorrentes de algum tipo de desastre, como um desmoronamento
de terra, derramamento de petróleo, etc.

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Capítulo 2

Seção 2
Contabilidade social e macroeconomia

2.1 A sinergia entre contabilidade social e a macroeconomia


Existe uma acentuada sinergia entre os estudos recentes da contabilidade social
e da macroeconomia, a qual teve início com a publicação da obra Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda pelo economista John Maynard Keynes.

Keynes contribuiu de forma efetiva na condução dos estudos dos


agregados macroeconômicos, uma vez que é por meio desses agregados
que chegamos ao ponto de partida para as contas nacionais.

Se considerarmos que o principal indicador de uma economia é o seu produto, fica


fácil assimilar a importância da contabilidade social para a macroeconomia,
principalmente para aqueles fatores não tão aprofundados por esta, como é o caso
da formação bruta de capital fixo, variação de estoques e relações com o exterior.

A principal contribuição de Keynes consistiu em explicar que a crise econômica


de 1929 correspondia à inexistência de um regulador automático do mercado, ou
a mão invisível, como teorizam os economistas clássicos David Ricardo e Adam
Smith. No estudo publicado por Keynes, fica evidente
Desemprego
friccional corresponde que o desemprego gerado por aquela crise correspondia
ao tempo em que um à queda na oferta de trabalho, e não por questões de
trabalhador leva entre a desemprego friccional.
demissão do emprego
e admissão em outro. Para melhor compreender esse contexto, vamos analisar
Compreende o período
de tempo despedido na
alguns estudos na área de Macroeconomia, Economia
busca por emprego. Monetária e Economia Internacional, a fim de demonstrar a
relação direta entre a macroeconomia e a contabilidade social.

Para essa análise devemos ter como premissa que o estudo de variáveis
macroeconômicas demanda a condição coeteris paribus, conhecido termo
da economia que deve ser utilizado para analisar variáveis de mercado sem
a influência de outras variáveis, ou seja, mantendo todas as demais variáveis
constantes, sem sofrer alterações.

Também é importante observar que a condução de políticas macroeconômicas


requer dos governos especial atenção na manutenção da demanda efetiva que,
em seu conceito primário, corresponde ao ponto de encontro entre a demanda e
a oferta agregada.

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contabilidade_social.indb 70 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Neste ponto, o preço da demanda agregada corresponde ao rendimento que


os empresários esperam receber ao ofertar determinado volume de um bem
produzido por número específico de trabalhadores, enquanto o preço da
oferta agregada corresponde ao rendimento mínimo para que os empresários
ofertem determinado volume de um bem produzido por número específico de
trabalhadores. Nesse contexto, o preço da oferta deve cobrir, ao menos, os
custos da contratação.

Basicamente, é sobre este cenário que as políticas macroeconômicas agem,


buscando deslocar a curva da demanda agregada com vista ao aumento
da taxa de emprego e, consequentemente, aumento da renda e do PIB, que
correspondem a duas importantes variáveis de contas nacionais.

O nível de atividade econômica e de emprego é determinado pela demanda


agregada, pois a decisão de investimento depende da expectativa de retorno do
empresário. Porém, a produção é um processo ex-ante e seu nível pode ser maior,
igual ou menor que a demanda agregada, pois depende também dos estoques e
do lucro residual.

Nesse sentido, as flutuações do emprego dependem principalmente do investimento


produtivo, que é uma função da oferta agregada, uma vez que há um rendimento
mínimo que deve ser atingido para que o empresário decida pela contratação.

O mercado é representado pela curva Investment Saving (IS), mercado de


bens, responsável pela definição da renda em uma economia aberta. Contudo,
há outra importante curva para o equilíbrio do curto prazo, a curva Liquidity
preference Money supply (LM), mercado monetário, a qual representa a base
monetária, que é composta pelo montante de dinheiro mantido pelos agentes
econômicos. No caso das pessoas, corresponde ao papel moeda, no caso dos
bancos, corresponde aos estoques e reservas.

O M1 é o símbolo do agregado monetário mais conhecido, pois é o meio de


pagamento que corresponde ao papel moeda em poder do público, acrescido dos
depósitos à vista em bancos comerciais. A moeda, nesse caso, é o fator-chave
para mensuração da produção, pois ela funciona como meio de troca padrão.

Cabe destacar que o equilíbrio da economia ocorre por meio da interação entre
o mercado de bens e o mercado monetário. Para melhor compreender os efeitos
das políticas públicas e analisar o modelo, precisamos compreender alguns
axiomas relacionados ao mercado de bens, os quais são elencados a seguir:

•• O investimento é endógeno.
•• O consumo é função da renda disponível.
•• Para determinada taxa de juros, a demanda agregada funciona
como função crescente do produto.

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contabilidade_social.indb 71 02/10/14 15:24


Capítulo 2

•• A curva da demanda agregada não é linear.


•• A inclinação da demanda agregada continua sendo menor que 1.

Já no caso dos mercados financeiros, assumem-se as seguintes premissas:

•• Demanda real por moeda.


•• Renda real.

A curva IS representa todas as combinações entre a taxa de juros e níveis de


produção (ou renda), aos quais os gastos planejados são iguais à renda. Já a
curva LM, por sua vez, representa todas as combinações entre a taxa de juros e
renda que são necessárias para satisfazer o equilíbrio no mercado financeiro.

2.2 Curva IS
De acordo com Blanchard (2007), no curto prazo, a curva IS simplificada é
representada pela equação a seguir:

IS = Y = C (Y) + I (Y, i) + G + X (E, Y) – M (E, Y).

Em que:

IS: Mercado de bens.


Y: Produto ou renda agregada.
C: Consumo.
I: Investimento.
i: Taxa de juros.
G: Gastos do governo.
X: Exportações.
E: Taxa real de câmbio.
M: Importações.

Na sequência, vamos analisar essas variáveis que compõem a equação da curva IS.

2.2.1 Consumo
Na mencionada equação o consumo é uma variável da renda real do trabalhador,
ou seja, um aumento na renda real faz aumentar também, o consumo. O aumento
na renda real pode ocorrer por meio do aumento da própria renda ou pela
redução de impostos.

C = C (Riqueza total, Yfutura – Tfutura).

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contabilidade_social.indb 72 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

As expectativas de mercados futuros afetam diretamente o consumo quando


há alguma variação na equação apresentada, que é calculada por meio da taxa
de valor presente, ou seja, o que o consumidor espera receber menos o que ele
espera pagar.

As referidas expectativas também afetam, de forma indireta, o valor dos ativos


financeiros e imobiliários, interferindo na riqueza total. No que diz respeito ao
consumo, ele pode ser alterado, mesmo que a renda atual não se modifique, visto
as expectativas de renda maior no futuro.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 59),

dado um determinado nível de renda, as famílias consomem


boa parte dela, mas também poupam uma parte. Obviamente,
a propensão a consumir é muito maior nas famílias de baixa
renda (no limite, as famílias de renda extremamente baixa não
poupam nada de sua renda, consumindo-a integralmente) e
proporcionalmente menor nas famílias de renda mais elevada.

2.2.2 Investimento
Com relação ao investimento, ele também tem relação direta com a renda,
uma vez que a elevação da renda proporciona um aumento dos investimentos,
enquanto, no caso da taxa de juros, a relação é inversa, pois uma redução da
taxa de juros aumentará o investimento. Nesse caso estamos nos referindo,
obviamente, a investimento produtivo e não a mercados financeiros.

I = I (Y, i).

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 60),

o investimento depende de variáveis extremamente sujeitas à


flutuação, devido às sempre presentes incertezas em relação
ao futuro. Essas variáveis são a preferência pela liquidez e as
expectativas quanto ao rendimento futuro esperado dos bens de
capital.

No que diz respeito aos gastos do governo, não há um padrão de


comportamento, pois são definidos, justamente, pelas políticas de governo,
sendo então uma variável exógena.

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Capítulo 2

2.2.3 Exportação e importação


As exportações são dependentes de outras variáveis, como a taxa de câmbio e
da renda. Assim, por exemplo, quanto maior a taxa de câmbio, maior será o nível
de exportação e quanto maior a renda, menor será o nível de exportação, em
razão do consumo interno. Com relação às importações, quanto maior a taxa
de câmbio corrente, menor será a taxa de importação, e quanto mais elevada a
renda, maior o nível de importações.

Temos assim saldo em conta-corrente definido pela seguinte equação:


X (E, Y) – M (E, Y).

Se analisarmos todas as equações apresentadas, podemos evidenciar a


presença de importantes variáveis, tais como: renda, produto, gastos do governo,
exportação, importação, investimento e poupança, compreendendo melhor o
significado de agregados macroeconômicos.

É importante destacar que quando falamos sobre as variáveis consumo, impostos,


renda, investimentos, governo, exportações e importações, elas terão diferentes
significados de acordo com o enquadramento dado. No caso da macroeconomia,
sua preocupação está em relacionar todos esses agregados, enquanto a
contabilidade social se preocupa em quantificar esses indicadores.

2.3 Curva LM
Para fechar nosso modelo de IS-LM, vamos analisar a equação da curva LM
apresentada por Blanchard (2007):

MS = L (Y, i).

Em que:

MS: Mercado monetário.


L: Base monetária.
Y: Renda.
i: Taxa de juros.

Embora não esteja descrita formalmente na contabilidade social, a LM também


possui importantes variáveis, como é o caso da renda, que tem relação direta
com a demanda por moeda e a taxa de juros, que também tem relação com o
consumo, poupança e investimentos.

Nesse caso, a oferta de moeda depende da função da base monetária. Assim,


em um cenário econômico de aumento da renda, teremos maior demanda por
moeda, então o governo deve elevar a oferta de moeda para garantir os juros no
seu patamar.

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Contabilidade Social

Por sua vez, o aumento da taxa de juros reduz a demanda por moeda, visto que
as pessoas deixam de consumir para realizarem investimentos produtivos ou
financeiros, demandando, assim menos moeda (meios de pagamento).

O equilíbrio de mercados ocorre no ponto em que a curva IS corta a curva


LM. Neste ponto, a taxa de juros e o nível de renda satisfazem os agentes
econômicos e, consequentemente, há condições de equilíbrio em ambos
os mercados.

2.4 Intervenção do governo na economia


A intervenção do governo na economia poderá ocorrer com base em duas estratégias:
contracionista e expansionista, tanto na política monetária quanto na fiscal.

2.4.1 Política monetária contracionista


A política monetária contracionista corresponde à redução da oferta de moeda,
o que eleva a taxa de juros e reduz os investimentos no setor privado. Essa
modalidade da política monetária é aplicada quando a economia está sendo
afetada pela alta da inflação, visando dessa forma a reduzir a demanda agregada
e, consequentemente, o nível de preços.

2.4.2 Política monetária expansionista


A política monetária expansionista consiste em aumentar a oferta de moeda,
ocasionando a redução da taxa de juros básica e estimulando investimentos
majoritariamente no setor privado. Essa política é adotada em épocas de
recessão visando a aumentar a demanda agregada e gerar novos empregos.

Cabe destacar que no curto prazo a expansão monetária ocasiona queda na taxa
de juros e a depreciação da moeda. Por sua vez, este movimento gera aumento
na demanda dos produtos e consequente elevação de preços. No médio e longo
prazo a política monetária é neutra, pois as variações no estoque de moeda
provocam aumento proporcional dos preços, o que, em termos reais, deixa
inalterado o produto e o desemprego.

2.4.3 Política fiscal expansionista


A política fiscal expansionista corresponde ao aumento nos gastos do governo e tem
relação direta com o aumento da renda, conforme demonstra a equação da IS ou por
meio da redução de tributos, que tem relação inversa com o consumo. Assim, quanto
menor o tributo maior o consumo e, consequentemente, maior o produto.

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contabilidade_social.indb 75 02/10/14 15:24


Capítulo 2

Temos como resultados da referida política os seguintes cenários. No curto


prazo, o déficit orçamentário – gastos superiores às receitas tendem a aumentar
a demanda e, consequentemente, o produto. Contudo, não podemos fazer essa
mesma afirmação quanto ao investimento. No médio prazo, o produto já retorna
ao seu estágio natural, mas a taxa de juros permanece elevada, contraindo o
investimento. Já no longo prazo, como há menor estoque de capital, em razão da
alta taxa de juros, o produto, consequentemente, é menor.

Há uma regra básica para a política fiscal expansionista, se os gastos do governo


permanecem inalterados ou até sofrerem alguma elevação, qualquer redução
de impostos no presente ocasionará aumento de tributos no futuro. Sendo que,
quanto maior for a demora em ajustar os tributos, maior será sua elevação.

Desse modo, visando a estabilizar a economia, os governos precisam gerar déficit


em períodos de recessão; entretanto, devem estar atentos a gerar superávit
em períodos de crescimento acelerado. A relação dívida/PIB é um importante
indicador, assim como a taxa de crescimento da dívida.

2.4.4 Política fiscal contracionista


A política fiscal contracionista corresponde, em geral, ao aumento dos tributos
pelo governo, pois essa medida é de maior e mais rápido impacto, se comparada
com a redução dos seus gastos. Porém, ela não é simples, uma vez que é preciso
manter o alto nível de emprego, crescimento do PIB, estabilidade dos preços, da
taxa de juros, do mercado financeiro e do câmbio. Isso é uma tarefa complexa,
mas fundamental para a melhor capacidade de planejamento de uma economia,
visto a melhor definição de valores correntes para despesas futuras do governo.

Todas essas considerações são importantes em razão do consenso quanto


aos prepostos keynesianos e, em especial, no funcionamento das economias
capitalistas. No entanto, embora haja muito debate quanto a economia
keynesiana, neoclássica ou da escola austríaca, citando os mais importantes, não
houve qualquer alteração quanto ao consenso relacionado à forte sinergia entre
macroeconomia e o sistema de contas nacionais. Dessa forma, há um consenso
dos métodos de contabilidade social, independente da corrente de pensamento
econômico adotada por um governo.

Conforme podemos constatar, as identidades macroeconômicas não apontam


apenas relações de causalidades entre todas as variáveis que constituem a
equação do produto, mas também a importância da contabilidade social para
a condução de políticas econômicas, pois os indicadores da contabilidade
social e o equilíbrio interno e externo das contas são a base dos estudos para a
elaboração das políticas fiscal, monetária e cambial do governo.

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Contabilidade Social

Seção 3
Matriz insumo-produto

3.1 Uma alternativa a contabilidade nacional


A matriz insumo-produto diz respeito à origem e evolução da contabilidade social.
Assim, da mesma forma que as contas nacionais são fundamentais para a análise
e elaboração de políticas macroeconômicas, a matriz insumo-produto é um
importante instrumento para a elaboração de políticas setoriais. Ela é, de certo
modo, uma maneira diferente de se atingir os mesmos resultados das contas
nacionais (ROSSETTI, 1992).

Cabe destacar que a compreensão da metodologia matriz insumo-produto é


complexa por ter como principal objetivo a descrição de relações técnicas e
quantitativas entre setores produtivos de uma economia, centralizando sua
abordagem nas transações inter e intrassetoriais, em que cada setor produtivo
desenvolve atividades utilizando produtos originados de outros setores produtivos.

Entretanto, a mencionada metodologia torna-se mais clara quando centramos


nossa análise na demanda por matéria-prima para o desenvolvimento das
atividades do processo produtivo, logo esta matéria-prima pode ter origem no
mesmo setor ou em setores diferentes.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 70),

tecnicamente, a matriz insumo-produto implica a desagregação,


por ramo de atividade, de vários dos agregados presentes num
sistema usual de contas nacionais, particularmente aqueles que
aparecem na conta de produção. Mas, além do valor adicionado
e da demanda final, a desagregação atinge também a demanda
intermediária (ou consumo intermediário).

Dessa forma, conseguimos estimar por meio da mencionada matriz o impacto


setorial sobre o emprego e o produto caso o governo adote políticas setoriais
ou políticas macroeconomias que tenham impacto direto nos setores em análise.
Também podemos observar a realização de trocas entre os setores produtivos,
conforme mostra o quadro a seguir no qual as colunas resumem os pagamentos
que um setor transfere ao outro setor e as linhas resumem as receitas que um
setor recebe do outro.

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Capítulo 2

Quadro 2.15 – Matriz insumo-produto

Agricultura Indústria Serviços

Agricultura P1 x A11 P1 x A12 P1 X A13

Indústria P2 X A21 P2 X A22 P2 X A23

Serviços P3 X A31 P3 X A32 P3 X A33

Trabalho W1 X TR1 W2 X TR2 E3 X TR3

Capital I1 X C1 I2 X C2 I3 X C3

Terra R1 X T1 R2 X T2 R3 X T3

Estado E1 E2 E3

Externo PM1 X EM1 PM2 X EM2 PM3 X EM3

Total P1 X A1 P2 X A2 P3 X A3

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A título de esclarecimento, cabe informar que “A” representa uma transação entre
setores, em que o número 1 representa o setor agrícola, 2 o setor industrial e
3 o setor de serviços. E que o primeiro número representa o que se vende e o
segundo o que se compra.

Por exemplo, na coluna de serviços e linha da indústria temos o A23, que


representa a venda do setor industrial para o setor de serviços. O “P” representa
o preço praticado pelos setores.

Genericamente, na relação Aij tem-se a indicação da quantidade de produto que


o setor “i” gasta pelo setor “j”; com “Pi” o preço do produto do setor “i”; e, o
resultado da multiplicação representa o pagamento que o setor “j” faz ao setor “i”.

Podemos, por exemplo, apresentar a relação do setor agricultura com ele próprio
(A11) ou com o setor indústria (A12), ou seja, o “i” refere-se ao setor da primeira
coluna e o “j” da coluna corresponde à relação estabelecida.

A matriz de insumo-produto pode ser considerada um instrumento de


contabilidade social que permite conhecer os fluxos setoriais de bens e
serviços produzidos destinados ao abastamento de insumos a outros
setores e para atendimento a demanda final (ROSSETTI, 1992).

Hoje em dia, essa matriz é considerada um instrumento muito útil para análise
de choques estruturais na economia, assim como para projeções sobre o
comportamento da atividade econômica (FEIJÓ, 2006).

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Contabilidade Social

Dessa forma, o uso dos dados da matriz insumo-produto permite, em conjunto


com outras estimativas, capturar interações entre os diversos agentes
econômicos, simulando o comportamento de uma economia de mercado,
em especial por meio do uso de abordagens mais modernas obtidas com o
desenvolvimento de técnicas computacionais denominadas de modelos de
equilíbrio geral computável.

O Brasil, a exemplo, também faz uso da matriz de insumo-produto, sendo que a


responsabilidade da elaboração é do IBGE e sua publicação é quinzenal, servindo
de base para a construção do conjunto de contas nacionais do país.

3.2 As limitações da matriz insumo-produto


Embora a matriz seja um importante instrumento para auxiliar os profissionais
e gestores de políticas econômicas, cabe ressaltar que ela também apresenta
limitantes, entre os quais podemos destacar três, que são o retorno constante de
escala, os coeficientes técnicos e a oferta dos fatores.

Em primeiro lugar, a matriz assume retornos constantes de escala. Assim, para


qualquer quantidade produzida serão utilizadas as mesmas combinações
relativas de fatores produtivos.

Em segundo lugar, assume-se que os coeficientes técnicos não mudam ao longo


do tempo. Isso significa que não são consideradas quaisquer alterações em
termos de mudanças de preços ou avanços tecnológicos.

Em terceiro lugar, assume-se que a oferta dos fatores de produção seja infinita e
perfeitamente elástica, bem como a utilização desses recursos seja maximizado
durante o processo produtivo.

Além de tais limitações e entraves quanto à sua elaboração, os quais prejudicam


seu maior uso, em especial pela necessidade de grandes entradas de dados
para os mais diversos setores da economia, ainda se perde muito tempo entre a
elaboração e a evolução dos indicadores econômicos.

Desta forma, ao finalizar uma matriz, muitos dos seus coeficientes podem estar
defasados e haveria dúvidas quanto à eficácia do seu uso. Entretanto, no caso
das variáveis se manterem inalteradas, há grande potencial de uso dessa matriz.

Mesmo diante desse cenário, o conceito da matriz insumo-produto é bastante


útil, e mesmo sendo de complexa elaboração ela não foi abandonada por
economistas. Não vamos nos aprofundar neste aspecto, uma vez que nosso
objetivo aqui foi o estudo dos agregados macroeconômicos.

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contabilidade_social.indb 80 02/10/14 15:24
Capítulo 3

Contas nacionais no Brasil

Habilidades Neste capítulo vamos, por meio da análise do


processo de elaboração das contas nacionais
do Brasil, desenvolver a habilidade de interpretar
o método de mensuração do produto e renda
no país, além dos mecanismos auxiliares, a fim
de construirmos uma visão analítica e crítica
do processo, principalmente com relação aos
indicadores resultantes. Desenvolveremos também
a habilidade de análise crítica das contas nacionais
do Brasil, identificando possíveis problemas
ou sucessos referentes à condução da política
econômica do país.

Seções de estudo Seção 1:  Os primeiros estudos de contabilidade


nacional do Brasil

Seção 2:  O cálculo do Produto Interno Bruto no


Brasil

Seção 3:  Contas econômicas integradas

Seção 4:  Tabela de recursos e usos do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística

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Capítulo 3

Seção 1
Os primeiros estudos de contabilidade nacional
do Brasil

1.1 A importância da Organização das Nações Unidas para as


contas nacionais do Brasil
A estrutura das contas nacionais da maioria dos países, de forma genérica, é
baseada na teoria macroeconômica e nos padrões adotados pela Organização das
Nações Unidas (ONU). Entretanto, cada país tem sua padronização, sendo raras as
estruturas que se apresentam 100% convergentes ao modelo proposto pela ONU.

Além dessa falta de padronização, também temos questões relacionadas aos


dados disponíveis. Os países mais desenvolvidos, no sentido tecnológico,
têm maior qualidade e transparência dos dados, o que permite maior
confiabilidade dos dados e melhor uso da estrutura das contas nacionais.

Cabe destacar que o próprio desenvolvimento da economia de um país pode


ser um fator limitador da padronização das contas nacionais, visto a maior
dificuldade em mensurar e comparar, por exemplo, economias com mais
participação do agronegócio com economias de maior participação do setor de
serviços. Ou seja, como comparar duas economias que têm bases tão distintas
com relação à formação de seu produto?

Também podemos citar fatores sociais e de censo demográfico como


especificidades relacionadas à adaptação da estrutura padrão das contas
nacionais a realidade econômica do país. Segundo Paulani e Braga (2007, p. 104),
“não há um padrão único de contas para todos os países, com uma estrutura
absolutamente idêntica aquela derivada da metodologia de referência”.

Essa metodologia diz respeito ao modelo padrão de contas nacionais,


desenvolvido pelo System of National Accounts (SNA-ONU), e que teve sua
última alteração substancial em 1993, incorrendo em mudanças significativas nos
modelos utilizados pelos países membros.

82

contabilidade_social.indb 82 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

1.1.1 Modelo de contas nacionais brasileiro


No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o responsável
pela elaboração e levantamento das contas nacionais. Historicamente, os
esforços para mensuração das contas nacionais tem início em 1947, em um
cenário pós-guerra que demandava confiáveis fontes de indicadores para nortear
as políticas de desenvolvimento e crescimento da economia brasileira.

Inicialmente, o Núcleo de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) foi a


instituição responsável pelo cálculo das contas nacionais do Brasil. Seu objetivo
não correspondia apenas à mensuração da renda nacional, mas também ao
acompanhamento dos preços e elaboração do balanço de pagamentos.

Entre os anos de 1947 e 1952 o Brasil desenvolveu seu próprio modelo de


mensuração da renda, o qual foi aprimorado em 1952 com as recomendações e
sugestões metodológicas fornecidas por meio do primeiro modelo desenvolvido
pela ONU (ROSSETTI, 1992). Feitos os ajustes com base na metodologia da ONU,
em 1956 o Brasil teve sua primeira e completa estrutura de contas nacionais e
balanço de pagamentos.

Desde então, atribui-se à FGV a função não apenas de mensurar os principais


agregados macroeconômicos da economia brasileira, mas também a imperiosa
missão de detalhar esses agregados e publicar séries estatísticas mais
específicas, tal como aquelas relacionadas ao mercado de trabalho e inflação, as
quais servem de subsídio para as tomadas de decisões estratégicas pelo governo.

Até aquele ano o Brasil dispunha de poucos dados e indicadores econômicos,


ficando a cargo da mencionada instituição privada realizar esse estratégico
trabalho. Talvez se essa atribuição tivesse ficado sob a responsabilidade de
alguma entidade de governo o Brasil não teria avançado tanto quanto avançou na
época (ROSSETTI, 1992).

Entretanto, tal responsabilidade só vigora até o ano de 1986, quando o IBGE


assume a função de mensurar as contas nacionais, ficando sob a atribuição da
FGV a elaboração da matriz insumo-produto. A base metodológica adotada pela
FGV consistia nas determinações feitas pela ONU em 1956 e depois em 1968.

Quando o IBGE assume a responsabilidade de mensurar as contas


nacionais ele promove uma nova revisão metodológica com base em
estudos e padronizações fornecidos pela ONU em 1977 e 1984.

No caso brasileiro, houve a substituição de cinco contas por apenas quatro, sendo
que as atividades do governo não estavam destacadas em conta própria, mas
diluídas nas contas restantes (PAULANI; BRAGA, 2007). Ou seja, apenas as contas
de produção, apropriação, capital e transações correntes foram consideradas.

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contabilidade_social.indb 83 02/10/14 15:24


Capítulo 3

Cabe destacar que, posteriormente, além dessas quatro contas, também se


criou a conta-corrente das atividades da administração pública. Tal estrutura se
manteve praticamente inalterada até 1993, quando o System of National Accounts
fez sua última grande alteração metodológica, que incorreu em mudanças na
estrutura de contas nacionais do Brasil, vigorando até 1996, quando houve uma
nova reformulação nas contas nacionais brasileiras (ROSSETTI, 1992).

Seção 2
O cálculo do Produto Interno Bruto no Brasil

2.1 A metodologia adotada até 1996 pelo Brasil


A Fundação Getúlio Vargas, responsável pela elaboração das contas do produto
nacional brasileiro até 1986, utilizou como base metodológica as sugestões do
SNA/ONU, a qual era composta pelas seguintes contas:

•• Conta de produção.
•• Conta de apropriação.
•• Conta de governo.
•• Conta de capital.
•• Conta de transações correntes.

Por meio do conjunto dessas cinco contas era possível demonstrar claramente
as atividades econômicas do Brasil, cobrindo as transações realizadas pelos
agentes econômicos, em especial o governo e o comércio exterior.

Contudo, o IBGE, ao assumir a responsabilidade pela elaboração das contas


nacionais, reformula a mencionada estrutura e altera o uso das cinco contas,
passando a utilizar apenas quatro, uma vez que a conta de governo, de número
3, é excluída, sendo que as transações econômicas desse agente econômico
passaram a ser agregadas em um item de conta-corrente da administração pública.

O quadro a seguir mostra a estrutura do sistema de contas nacionais do governo


brasileiro compreendido entre o período de 1986 e 1996. Com relação à conta do
Produto Interno Bruto (PIB), temos:

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contabilidade_social.indb 84 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Quadro 3.1 – Conta do PIB

Débitos Créditos

1.1 – PIB a custo de fatores (2.4) 1.4 – Consumo final das famílias (2.1)

1.1.1 – Remuneração dos empregados 1.5 – Consumo final das administrações


(2.4.1) públicas (2.2)

1.1.2 – Excedente operacional bruto (2.4.2) 1.6 – Formação bruta de capital fixo (3.1)

1.2 – Tributos indiretos 1.7 – Variação de estoques (3.2)

1.3 – Menos: subsídios (2.8) 1.8 – Exportação de bens e serviços

1.9 – Menos: Importações de bens e


serviços (4.5)

PIB a preços de mercado Dispêndio correspondente ao PIB

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

Podemos observar nesse quadro números indicadores antes de cada variável,


aos quais devemos ficar atentos, e sempre que possível identificar um indicador
correspondente em outra conta nacional. Essa ligação entre indicadores é o que
permite o equilíbrio externo dentre todas as contas relacionadas às contas nacionais.

Por exemplo, a conta de PIB a custo de fatores corresponde ao débito (1.1) da


conta do PIB, mas também corresponde ao crédito (2.4) na conta de Renda
Nacional Bruta (RNB), apresentada no próximo quadro.

Quadro 3.2 – Conta da RNB

Débitos Créditos

2.1 – Consumo final das famílias (1.4) 2.4 – PIB a custo de fatores
2.2 – Consumo final da administração 2.4.1 – Remuneração dos empregados (1.1.1)
pública (1.5)
2.3 – Poupança bruta (3.3) 2.4.2 – Excedente operacional bruto (1.1.2)
2.5 – Remuneração de empregados, líquida,
recebida do resto do mundo (4.2 – 4.6)
2.6 – Outros rendimentos líquidos, recebidos do
resto do mundo (4.3 – 4.7)
2.7 – Tributos indiretos (1.2)
2.8 – Menos: Subsídios (1.3)
2.9 – Transferências unilaterais, líquidas, recebidas
do resto do mundo (4.4 – 4.8)
Utilização da renda nacional Apropriação da renda nacional disponível
disponível bruta bruta

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

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Capítulo 3

Nessa conta da RNB, o maior destaque é para a formação de poupança, lançada


a débito, além de todos os tributos sobre a renda, subsídios e transferências, que
são relacionados ao uso ou fonte de renda por um agente econômico.

Com relação à conta de capital, temos:

Quadro 3.3 – Conta de capital

Débitos Créditos

3.1 – Formação bruta de capital fixo 3.3 – Poupança bruta (2.3)

3.1.1– Construção 3.4 – Menos: saldo em transações correntes


com o resto do mundo (4.9)

3.1.1.1 – Administração pública

3.1.1.2 – Empresas e famílias

3.1.2 – Máquinas e equipamentos

3.1.2.1 – Administração pública

3.1.2.2 – Empresas e famílias

3.1.3– Outros

3.2 – Variação de estoques (1.7)

Total da formação bruta de capital fixo Financiamento da formação bruta de


capital fixo

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

A conta de capital consolida todas as despesas e investimentos das famílias,


empresas e governo, cujo indicador mais importante compreende a formação
bruta de capital fixo, que está associada ao investimento e à formação de
poupança, necessária ao financiamento do investimento.

Por fim, integram as contas nacionais a conta de transações correntes com o


resto do mundo, em que temos:

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Contabilidade Social

Quadro 3.4 – Conta de transações correntes

Débitos Créditos

4.1 – Exportação *FOB de bens e serviços 4.5 – Importação FOB de bens e serviços
(1.8) (1.9)

4.2 – Remuneração dos empregados 4.6 – Remuneração de empregados paga ao


recebida do resto do mundo (2.5 + 4.6) resto do mundo (4.2 – 2.5)

4.3 – Outros rendimentos recebidos do resto 4.7 – Outros rendimentos pagos ao resto do
do mundo (2.6 + 4.7) mundo (4.3 – 2.6)

4.4 – Transferências unilaterais recebidas do 4.8 – Transferências unilaterais pagas ao


resto do mundo (2.9 + 4.8) resto do mundo (4.4 – 2.9)

4.9 – Saldo das transações correntes com o


resto do mundo (3.4)

Recebimentos correntes Utilização dos recebimentos correntes

*FOB – É um conceito de comércio internacional, no qual o comprador assume os riscos e custos com a logística da
mercadoria, sendo o vendedor obrigado a transportar a mercadoria até o porto escolhido pelo comprador.
Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

Essa conta de transações correntes engloba todas as transações do país com o


exterior.

É importante observar que embora a estrutura das contas nacionais brasileira


tenha apenas quatro contas de mensuração das atividades econômicas em vez
de cinco, ela contempla praticamente os mesmos princípios do modelo com
cinco contas, uma vez que a conta de governo foi diluída nas demais contas do
Sistema de Contabilidade Nacional (SCN).

A não inclusão de uma conta específica de governo nas contas nacionais


não prejudica o SCN brasileiro adotado até 1996. A única ressalva a ser
considerada é que com essa estrutura de contas há maior consolidação
das contas de governo, o que prejudica maior transparência do
consolidado das contas públicas.

Além da inexistência da conta de governo, também temos pequenas alterações


metodológicas que não comprometem o resultado final gerado pelas
recomendações e sugestões metodológicas do modelo desenvolvido pela ONU
para as contas nacionais.

Por exemplo, a primeira conta, do PIB, tem uma alteração com relação ao
lançamento das importações, que são lançadas como débito na conta de crédito,
visando a manter o equilíbrio interno da conta, em razão existência da oferta total
de bens e serviços (ROSSETTI, 1992).

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Capítulo 3

Já a conta de produção resulta no PIB a preços de mercado (PIBpm), que


considera, além da produção, o valor dos impostos e subsídios. Esta conta, pelo
lado do débito, nos fornece o PIBpm, enquanto o lado do crédito nos fornece
o dispêndio correspondente ao PIB, ou simplesmente o que conhecemos por
demanda agregada da economia.

2.2 A conta de apropriação


A demanda agregada é um dos principais indicadores para a formulação de
políticas econômicas, e é por meio dela que o governo ajusta o nível de emprego,
investimentos e onde o mercado ajusta seu nível de preços. Em termos de
política fiscal, este é o principal indicador fornecido pela contabilidade social.

Com relação à demanda agregada, Paulani e Braga (2007, p. 109) fazem as


seguintes observações:

O lançamento correspondente ao consumo do governo, que vai


ter sua contrapartida a débito na conta renda nacional disponível
bruta, já que não existe nesse formato a conta-corrente do
governo. A segunda observação é que a rubrica excedente
operacional bruto dá conta do montante total de lucros, aluguéis
e juros pagos.

Como a demanda agregada está associada com a conta de apropriação, temos


que ela nos apresenta o consolidado da renda bruta disponível da população,
e, assim como a conta de produção, também possui algumas alterações. Entre
essas alterações estão a inclusão do consumo do governo, a substituição da
renda líquida pela renda bruta e a troca da poupança líquida pela poupança bruta,
que inclui a poupança das famílias, empresas e governos (NOGAMI, 2012).

A conta de apropriação também fornece a renda a preços de mercado, em que


a renda é apresentada a custo de fatores, sendo necessário incluir os impostos
indiretos líquidos e subsídios a crédito, visando ao equilíbrio interno da conta.

Cabe apenas uma ressalva quanto à soma das contas de remuneração líquida
dos empregados recebida do resto do mundo e outros rendimentos líquidos
também recebidos do resto do mundo, que nos fornece a geração de renda de
residentes e fatores de produção de residentes no exterior: no caso brasileiro,
que é importador de capital, a soma dessas contas será negativa (PAULANI;
BRAGA, 2007).

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Contabilidade Social

2.3 A conta de capital


Com relação à conta de capital, podemos notar que, assim como na conta de
produção e apropriação, há uma conta relacionada às despesas de capital da
administração pública. Pelo lado do crédito, temos a chamada “Menos: saldo
em transações correntes com o resto do mundo”, que corresponde ao saldo do
balanço de pagamentos do país em transações correntes com o resto do mundo.

Nesse indicador devemos ficar atentos ao termo “menos”, o qual remete à


necessidade de lançar o valor em seu formato original, ou seja, se o saldo for
negativo, esta rubrica somará no crédito; contudo, caso seja positiva, em razão
do uso do “menos”, ela será lançada a débito.

Quando o referido indicador apresentar valor negativo, o país é exportador líquido


de capitais, uma vez que sua poupança interna é capaz de suportar o nível de
investimentos da economia sem a necessidade de importar capital.

No entanto, no caso de possuir um valor positivo, o nível de investimentos


interno foi superior à capacidade da economia na geração de poupança, sendo
necessário importar capital. Em ambos os cenários devemos sempre considerar a
identidade entre investimento e poupança.

Vale observar que há também na conta capital uma importante diferenciação na


rubrica de débito, que se refere à descrição do que é formação bruta de capital fixo
do governo e o que é formação bruta de capital fixo das empresas. Esse indicador
corresponde à soma da formação bruta de capital fixo das empresas e governo.

2.4 A conta de transações correntes


Com relação à conta de transações correntes, temos transações correntes com o
resto do mundo lançadas como débito, enquanto no caso brasileiro essa conta é
lançada no crédito sob a nomenclatura de saldo de transações correntes com o
resto do mundo.

Ao lançar como saldo, que pode ser tanto negativo quanto positivo, fica garantido
o equilíbrio interno das contas do SCN brasileiro. Em caso de déficit, essa conta
deve ser lançada com sinal negativo. Assim, a estrutura de contas se apresenta
de forma mais intuitiva para a metodologia utilizada pelo Brasil. Se houver
superávit, obviamente, deve ser lançada com o sinal positivo (ROSSETTI, 1992).

Também há uma consideração a ser feita com relação à rubrica de renda líquida
enviada ao exterior, sendo que pagamentos e recebimentos de todas as montas
estão lançados nas contas de crédito e débito, respectivamente.

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Capítulo 3

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 111),

essa forma mostra-se mais versátil e mais útil se levarmos


em conta o aumento da magnitude dos fluxos de renda
(principalmente devido ao fator capital) decorrente do
crescimento da liquidez internacional e da desregulamentação
que marcam a fase atual do capitalismo.

A forma como essas rubricas estão dispostas no sistema de contas nacionais


brasileiro permite melhor análise do relacionamento financeiro do Brasil com
o exterior, incluindo a facilidade de identificar possíveis problemas de alto
endividamento de curto prazo. Cabe observar que a estrutura básica desse
modelo também contém uma conta complementar para uso e controle do
governo quanto aos itens relacionados à sua atividade.

2.5 A conta complementar do governo


O quadro a seguir apresenta os indicadores da conta complementar do governo.

Quadro 3.5 – Conta complementar do governo

Débitos Créditos

Consumo final das administrações públicas Tributos indiretos

Salários e encargos Tributos diretos

Outras compras de bens e serviços Outras receitas correntes líquidas

Subsídios Outras receitas correntes brutas

Transferências de assistência e previdência Menos: outras despesas de transferência

Juros da dívida pública interna Transferências governamentais

Poupança em conta-corrente Transferências intergovernamentais

Transferências ao setor privado

Transferências ao exterior

Utilização total da receita corrente Total da receita corrente

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

Esta conta não tem qualquer relação contábil com as demais contas do sistema
nacional, ou seja, não há qualquer necessidade de garantir o equilíbrio externo com
as demais contas, visto que esta é uma conta auxiliar e tem as rubricas detalhadas.

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contabilidade_social.indb 90 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

As rubricas mais importantes para termos de controle financeiro correspondem ao


pagamento dos juros da dívida pública interna e o recebimento dos tributos. No
caso do pagamento dos juros, até 1996 eles eram lançados na conta-corrente e
transferências do governo, o que prejudicava a melhor análise e transparência na
análise do pagamento da dívida pública.

A conta complementar de governo engloba os débitos e receitas do


governo, em todas as suas esferas: municipal, estadual e federal, incluindo
todas as autarquias e fundações.

A conta complementar, em virtude de incluir dados de municípios, que


sabidamente possuem menor controle e transparência com relação às suas
despesas e receitas, pode apresentar certas divergências, mas nada que
comprometa a fidelidade final dos dados (ROSSETTI, 1992).

Ao contrário da conta de apropriação, a conta complementar descrimina os principais


gastos do governo da conta de débito, conforme mostra o quadro a seguir:

Quadro 3.6 – Conta a débito complementar do governo

Consumo final Gastos com salários e encargos

Compras de bens e serviços

Gastos com subsídios

Gastos com transferências

Gastos relativos ao pagamento dos juros da


divida interna

Fonte: Adaptação de Rossetti (1992).

Diante desse contexto, cabe destacar que há necessidade de se analisar com


mais prudência três rubricas dessa estrutura complementar de governo, sendo
elas: transferências governamentais, transferências intergovernamentais e
transferências ao setor privado.

Essa atenção especial se faz necessária em razão da possibilidade de dupla


mensuração das rubricas, ou seja, o governo federal, por exemplo, lançar uma
transferência de um valor X para um município e este mesmo município também
lançar o recebimento do governo federal.

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contabilidade_social.indb 91 02/10/14 15:24


Capítulo 3

Em virtude de existir apenas uma rubrica de “transferências


governamentais”, há o risco de haver dois lançamentos iguais que podem
resultar em dois erros: o primeiro é a anulação contábil dos valores, ou seja,
uma esfera lança a débito e outra a crédito, o que zera o valor total. Ou
ambas lançarem a crédito ou a débito, o que dobra o valor.

Diante dessa hipótese, devemos ficar atentos e realizar apenas um lançamento,


preferencialmente da esfera superior, ou seja, seguindo a ordem: federal, estadual
e municipal, respectivamente.

A conta complementar do governo também permite melhor análise sobre as


principais fontes de financiamento daquelas esferas de governo, bem como da
participação do governo federal como importante gerador de receita para os
Estados e municípios.

De uma forma geral, essa conta complementar é utilizada pelo governo federal
para acompanhar suas metas fiscais, o pagamento de juros e o grau de
dependência das esferas municipais e estaduais relativas à necessidade de
transferências do governo federal (NOGAMI, 2012).

2.6 A construção de um modelo completo de contas nacionais


para o Brasil
Como temos feito desde o início dos estudos, iniciamos apresentando um
exemplo simples e vamos aprofundando nossos estudos com a inclusão de
novas variáveis. A mesma didática é utilizada para apresentar a evolução das
contas nacionais no Brasil e o impacto dessas metodologias na estruturação das
contas brasileiras.

Até 1986, quando a FGV era responsável pela elaboração das contas nacionais
e a estrutura utilizada muito se assemelhava ao padrão estabelecido pela ONU.
Entretanto, quando o IBGE assume a responsabilidade, as contas nacionais do
Brasil ganham um novo formato, sendo que entre 1986 e 1996 esse Instituto
adotou a mesma estrutura em utilizada pela FGV. Contudo, entre 1996 e 1998
iniciou um processo de pesquisa e reformulação das contas, concebendo um
modelo que está em vigência até hoje, o qual passou a ser implementado em
1997 e teve sua finalização metodológica e prática em 1998.

Ao contrário dos primeiros modelos de contas nacionais, que foram


elaboradas exclusivamente com base nas sugestões do SNA, da ONU,
este novo modelo teve, além da participação do SNA, a participação ativa
do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão das Comunidades
Europeias (CCE), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e do Banco Mundial (BM).

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Contabilidade Social

É importante observar que em meados da década de 1990, mais precisamente


em 1994, o plano real entrou em vigor e, desde então, o controle inflacionário se
tornou uma realidade no Brasil. Diante dessa estabilidade da economia e também
da dependência do capital externo, em especial do FMI e do Banco Mundial, se
fez necessário adaptar a metodologia das contas nacionais brasileiras para essa
nova fase do capitalismo.

Por essa razão, além da SNA, o governo brasileiro utilizou na elaboração da


referida metodologia a contribuição de importantes instituições de crédito
internacional visando a obter maior transparência do
Default corresponde
à probabilidade de um
controle das contas públicas brasileiras, o que permitiu
país dar o calote e não antever um possível default do pagamento dos juros ou
pagar os juros da dívida amortização da dívida.
externa. Seu principal
indicador é o risco país,
Além dessa premissa, houve também a preocupação do
publicado pelo banco
governo em alinhar as contas nacionais ao novo estágio
John Pierpont Morgan
(J.P. Morgan). da globalização, uma vez que o Brasil no início daquela
década promoveu, de forma mais intensa, a abertura
de suas fronteiras econômicas e, em razão disso, abriu
caminho para o desenvolvimento de seu mercado financeiro.

A reformulação metodológica das contas nacionais também se deu


em razão das séries históricas do FMI e Banco Mundial, alinhando tal
metodologia àquela utilizada por eles, evitando assim problemas de
incompatibilidade entre as séries em casos de relacionamentos entre o
governo brasileiro e as referidas instituições (IBGE, 2011).

Essas mudanças promovidas pelo IBGE respeitaram a base conceitual aplicada


até então pela FGV. Contudo, há uma acentuada alteração na forma como as
contas passaram a ser apresentadas, uma vez que foram excluídos os termos
crédito e débito, passando-se a utilizar recursos e usos.

Também há dois pontos em especial que serão apresentados na sequência. O


primeiro refere-se ao conceito das Contas Econômicas Integradas (CEI), que
tem base no conceito do sistema de contas nacionais do Brasil, porém aprofunda
as relações entre os agregados macroeconômicos, permitindo analisar de
forma mais clara o desempenho de setores da economia, incluindo indicadores
relacionados às atividades das esferas municipal, estadual e federal. O segundo
diz respeito à Tabela de recursos e usos de bens e serviços (TRU).

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Capítulo 3

A CEI compreende a nova estrutura de contas nacionais do Brasil, e a TRU um


instrumento auxiliar. Segundo descrição do portal do IBGE:

As Contas Econômicas Integradas representam o núcleo


central do Sistema de Contas Nacionais, que consiste em uma
sequência de contas de fluxos inter-relacionadas, detalhadas por
setor institucional, incluindo empresas financeiras, empresas não
financeiras, administração pública e famílias. Mostram, também,
as relações entre a economia nacional e o resto do mundo. As
Tabelas de Recursos e Usos fornecem estimativas, a preços
correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda
de bens e serviços desagregadas por produtos. As tabelas
de produção e de consumo intermediário mostram os bens e
serviços produzidos e consumidos pelas atividades econômicas.
As tabelas de recursos e usos contêm os componentes do
valor adicionado e o total de pessoas ocupadas, por atividade
econômica, a partir de estatísticas primárias (demografia,
agropecuária, indústria, comércio, serviços, construção civil,
transportes, etc.), originárias do IBGE e de outras instituições.
(IBGE, 2014).

Esse texto reafirma a alteração dos termos de crédito e débito para recursos ou usos.

Seção 3
Contas econômicas integradas

3.1 A atual estrutura das contas nacionais do Brasil


O sistema de contas integradas consolida, basicamente, as mesmas rubricas do
modelo de contas nacionais, com exceção da forma como estão dispostas, uma
vez que há ausência de um razonete contábil e também das contas de produção,
apropriação, governo, capital e transações com o exterior.

Embora não tenhamos os mesmos razonetes do sistema de contas nacional,


em momento algum essas cinco contas devem estar desprovidas de equilíbrio
interno e externo. Essa máxima também é válida para a estrutura de contas
integradas. O quadro a seguir apresenta a estrutura das contas econômicas
integradas e o seu lançamento como recursos ou usos.

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contabilidade_social.indb 94 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Quadro 3.7 – Produção

Recursos Operações e saldos Usos

X Produção

X Importação de bens e serviços

X Imposto sobre produtos

X Imposto de importação

X Demais impostos sobre produtos

Consumo intermediário X

Consumo final X

Formação bruta de capital fixo X

Variação de estoques X

Exportação de bens e serviços X

Total

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Podemos verificar que o quadro apresentado contém informações estritamente


relacionadas ao processo de produção de uma economia, incluindo todas as
suas relações com o exterior. Ele sintetiza de maneira muito simples tudo o que
foi produzido e consumido pelo mercado interno, bem como tudo aquilo que foi
transacionado com o restante do mundo e dos impostos gerados por essas operações.

3.2 O quadro do PIB


Na sequência apresentamos uma relação de quadros, os quais permitem uma
análise mais detalhada sobre as contas referentes aos cálculos do PIB, renda
nacional bruta e a conta de capital.

Quadro 3.8 – Produto Interno Bruto

Usos Operações e saldos Recursos

Produção X

X Consumo intermediário

Imposto sobre produtos X

X Produto Interno Bruto

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

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Capítulo 3

Esse quadro apresenta os pontos necessários à elaboração do PIB. Nele


temos que a produção total é lançada como recursos, o consumo intermediário
corresponde às matérias-primas utilizadas durante o processo produtivo e, por
fim, os impostos que incidiram sobre a produção.

Quadro 3.9 – Excedente Operacional Bruto

Usos Operações e saldos Recursos

Produto Interno Bruto X

X Remuneração dos empregados

X Impostos líquidos de subsídios

X Excedente operacional bruto, inclusive rendimento de autônomos

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

No mesmo sentido que no quadro do PIB, o quadro apresentado consolida


a remuneração dos empregados, a qual é fundamental para o consumo da
economia. Assim como ocorre na produção, também temos relacionado os
impostos que incidem sobre a remuneração do trabalhador, que resulta no
excedente operacional bruto.

Quadro 3.10 – Renda Nacional Bruta

Usos Operações e saldos Recursos

Excedente operacional bruto, inclusive rendimento de autônomos X

Remuneração dos empregados X

Impostos sobre a produção e importação X

Subsídios à produção X

X Rendas de propriedades enviadas e recebidas do resto do mundo

X Renda nacional bruta

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Cabe destacar que as três macrocontas presentes nos quadros Produto Interno
Bruto, Excedente Operacional Bruto e Renda Nacional Bruta Excedente estão
relacionadas com a forma como a renda nacional de uma economia é consumida,
tendo por princípio mensurar a renda nacional a partir do valor do PIB, com o
diferencial de explicar a renda por meio das variáveis de consumo e poupança.

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Contabilidade Social

3.3 A renda disponível bruta


Essa conta tem como função demonstrar a forma como a renda foi recebida
pelos agentes econômicos, incluindo a renda externa e o resultado final em renda
disponível bruta.

Quadro 3.11 – Renda disponível bruta

Usos Operações e saldos Recursos

Renda nacional bruta X

X Transferências correntes enviadas e recebidas do resto do mundo X

X Renda disponível bruta

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Em virtude de haver transações com o resto do mundo, a conta de renda


disponível bruta também deve considerar ainda todas as transferências envidas e
recebidas do resto do mundo.

Quadro 3.12 – Poupança bruta

Usos Operações e saldos Recursos

Renda disponível bruta X

X Consumo final

X Poupança bruta

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Pela lógica, sabemos que o que não é consumido é poupado e assim encerramos
a sequência de contas referentes à renda, sendo que ela especifica a forma como
a renda bruta foi alocada entre o consumo e a formação de poupança bruta.

3.4 O investimento
Por identidade, sabemos que a poupança é necessária ao investimento de
uma economia. Sem poupança, não há como viabilizar investimentos. Então,
precisamos também quantificar a necessidade de financiamento.

97

contabilidade_social.indb 97 02/10/14 15:24


Capítulo 3

Quadro 3.13 – Necessidade de financiamento

Usos Operações e saldos Recursos

Poupança bruta X

X Formação bruta de capital fixo

X Variação de estoques

X Necessidade de financiamento

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Essa conta novamente nos remete à identidade e poupança, com a função


de informar se o país teve condições de financiar internamente todos os seus
investimentos ou se houve necessidade de captação externa de poupança.

3.5 Transações com o resto do mundo


Cabe ressaltar que este modelo é para uma economia aberta, o que inclui todas
as transações com o resto do mundo e, não apenas transações comerciais, mais
também as que envolvem capital.

Quadro 3.14 – Transações com o resto do mundo

Usos Operações e saldos Recursos

X Exportação de bens e serviços

Importação de bens e serviços X

X Remuneração dos empregados não residentes X

X Rendas de propriedades enviadas e recebidas do resto do mundo X

X Transferências correntes enviadas e recebidas do resto do mundo X

Saldo de operações correntes com o resto do mundo X

Fonte: Adaptação de Paulani e Braga (2007).

Essa conta de transações com o resto do mundo tem como função registrar as
operações correntes com economias internacionais. Seu objetivo é registrar o
resultado final das operações e, em especial, informar se o país foi importador ou
exportar de líquido de capitais.

98

contabilidade_social.indb 98 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Diante do exposto, finalizamos a parte de contas econômicas integradas,


evidenciando a forma como essas contas estão relacionadas em sua base
conceitual com as contas de produção, apropriação, governo, capital e
transações com o exterior.

As contas integradas econômicas têm como objetivo apoiar a tomada de


decisão de formadores de políticas econômicas e setoriais no Brasil, pois seu
uso, em conjunto com a Tabela de Recursos e Usos desenvolvida pelo IBGE,
permite maior e melhor análise de uma grande quantidade de informações.

A combinação entre CIE e TRU propicia, por exemplo, que um analista mensure
o PIB brasileiro por meio das óticas da renda dispêndio e valor adicionado, além
de fornecer ricas informações sobre as atividades das três esferas do governo e o
relacionamento entre elas, conforme estudaremos na sequência.

Seção 4
Tabela de recursos e usos do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística

4.1 TRU: Um instrumento auxiliar


A tabela de recursos e usos do IBGE é um eficiente instrumento de mensuração
da produção nacional, que nos fornece importantes indicadores por setor e
produto na economia, permitindo assim mensurar de maneira pontual e direta o
desempenho dos mesmos, bem como verificar a evolução daqueles indicadores
em cada setor.

Segundo o IBGE (2008, p. 27),

o principal objetivo das TRU é a análise dos fluxos de bens


e serviços e dos aspectos básicos do processo de produção
(estrutura de insumos e estrutura de produção de produtos
por atividade e a geração da renda). Resultam, portanto,
dois elementos fundamentais na sua construção: atividades
econômicas (conjuntos de agentes do processo de produção) e
produtos (conjunto de bens e serviços).

99

contabilidade_social.indb 99 02/10/14 15:24


Capítulo 3

Para fins de cálculo da tabela de recursos e usos, devemos considerar que uma
unidade produtiva corresponde ao espaço físico onde se realiza uma atividade
econômica, seja ela a produção de um bem ou o fornecimento de um serviço.

Nesse sentido, um setor corresponde à agregação de atividades econômicas que


tenham em si alguma relação homogênea quanto ao seu fim, ou seja, quanto ao
fornecimento de um produto ou serviço ao consumidor final.

Esta definição pode parecer lógica, mas há um ponto muito importante que
precisa ser destacado. Quando falamos em unidades de produção, podemos
incluir nessas unidades diferentes atividades desempenhas por uma mesma
empresa, ou seja, uma empresa pode ao mesmo tempo ser responsável pela
produção de um produto, pela sua embalagem e pelo seu transporte.

Diante desse contexto, ao elaborar a tabela de usos e recursos, devemos fazer a


devida divisão desses processos, mensurando cada atividade de acordo com o
produto ou serviço prestado e não simplesmente mensurando o produto final da
empresa em um único setor.

Vamos imaginar, por exemplo, uma empresa que produza roupas. Nesse caso, o
produto “roupa” deve ser mensurado no setor de vestuário, enquanto o produto
embalagens no setor de embalagens e os transportes no setor de logística.
Segundo o IBGE (2008, p. 27),

mesmo desenvolvendo uma única atividade, as unidades locais


podem produzir acessoriamente, por necessidade de ordem
técnica ou questões de mercado, produtos típicos de outras
atividades; neste caso, são classificadas em função de sua
produção principal, resultando, assim, uma produção secundária
de produtos não característicos de sua atividade principal.

Cabe destacar que a tabela de usos e recursos do IBGE é composta por seis
quadrantes que consolidam informações sobre importantes variáveis nas contas
do cálculo do PIB, sendo elas: oferta, que é duplicado, produção, importação,
consumo intermediário e demanda final. Por sua vez, esses quadrantes são
subdivididos conforme mostra a figura na sequência, IBGE (2008, p. 25).

100

contabilidade_social.indb 100 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Figura 3.1 – Recursos e usos

Tabela de recursos e usos

I - Tabela de recursos de bens e serviços

Oferta Produção Importação

A = A1 + A2

II - Tabela de usos de bens e serviços

Oferta Consumo Intermediário Demanda Final

A = B1 + B2

Componentes do valor adicionado

Fonte: IBGE (2008).

Como podemos notar, a tabela demonstra a oferta total de produtos em uma


economia, sendo que, logicamente, ela é composta pela produção total da
economia mais o que foi importado durante o período de análise. Pela mesma
lógica, nós também temos a tabela de usos de bens e serviços, onde a oferta
total corresponde ao consumo intermediário mais a demanda final.

Sendo assim, a parte superior da Tabela I (recursos de bens e serviços) separa


por origem a oferta total de produtos em uma economia, os quais são divididos
entre nacional e importado. O primeiro quadrante (A) nos fornece a oferta total
da economia determinada a preços de mercado para o consumidor, além das
margens praticadas pelo comércio, transporte e a soma de todos os impostos
sobre o produto.

Dessa forma, temos duas diferentes margens. Uma para o comércio, que
corresponde ao valor adicionado ao produto para venda ao consumidor final, e

101

contabilidade_social.indb 101 02/10/14 15:24


Capítulo 3

a segunda que diz respeito à margem do transporte. Esta diferenciação é feita


com base no conceito que o transporte também corresponde a uma atividade de
adição de valor.

Segundo o IBGE (2008, p. 59),

um bem situado num determinado local é reconhecido como


tendo uma qualidade diferente do mesmo bem em outro local, de
modo que transporte de um local para outro é um processo de
produção no qual ocorre uma transformação, economicamente
significativa, mesmo que o bem não sofra alterações.

Assim, quando há transporte, existe uma diferenciação quanto à formação


de preço do produto final, separando no componente preço o que é margem
referente ao produto e o que é custo e margem de transporte.

Quanto aos impostos, como parece lógico, corresponde ao percentual do preço


referente ao somatório de todos os impostos incidentes sobre o produto ofertado
ao consumidor final.

O segundo quadrante (A1) nos fornece a produção interna da economia. Já


no terceiro quadrante (A2) temos a contabilidade das importações separadas,
primeiro, pela simples importação de bens e serviços e, segundo, pela
importação de bens e serviços sem emissão de notas de câmbio.

Como estamos falando em comércio exterior, convém lembrar que podemos


classificar as transações com exterior de acordo com a forma de contabilidade,
sendo a Cost, Insurance and Freight (CIF) ou Free On Board (FOB). A partir dessa
classificação, temos que os produtos do quadrante A2 podem ser divididos de
acordo com o quadro a seguir, segundo IBGE (2008, p. 26):

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contabilidade_social.indb 102 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Quadro 3.15 – Informações de CIF e FOB

Importações CIF e FOB (System of National Accounts 1993, cap. 15)

15.68 Nos Sistemas de Contas Nacionais, o total das importações é valorado a


preços FOB. Contudo, nos dados sobre fluxos detalhados de importações das
estatísticas de comércio exterior (por produto), as importações são geralmente
avaliadas a preços CIF. Para conciliar as diferentes valorações utilizadas na
importação total e na sua desagregação por produtos, procede-se a um
ajustamento global CIF/FOB nas importações.

15.69 O registro no quadro dos recursos da importação e do ajustamento CIF/ FOB


efetua-se da seguinte forma:

(a) As importações de bens, detalhadas por produtos, são avaliadas a preços CIF.

(b) Todos os serviços de transporte e de seguro relativos à importação, prestados


por produtores residentes e não residentes e incluídos no valor CIF da importação
por produtos são globalmente deduzidos (ver a coluna das importações de bens
e a linha do ajustamento CIF/FOB relativo às importações).

Então, no Sistema de Contas Nacionais, o total da importação de bens é sempre


registrado a preços FOB no quadro.

(c) Os serviços de transporte e seguro relativos à importação que são prestados


por produtores não residentes são registrados como importações de serviços
(sendo parte do montante inscrito nas linhas para serviços de transporte e
serviços prestados às empresas inscritos na coluna da importação de serviços).

(d) Os serviços de transporte e seguro relativos à importação que são prestados


por produtores residentes estão incluídos na produção de serviços de transporte
e seguros dos ramos correspondentes (parte das entradas nas linhas dos
serviços de transporte e serviços prestados às empresas nas colunas da
produção dos respectivos ramos de atividade).

(e) A oferta interna e importada de serviços de transporte e seguro relativos à


importação – isto é, (c) e (d) – não é reportada aos utilizadores como serviços de
transporte e seguros porque o valor desses serviços relativos à importação já está
incluído no valor CIF da importação de bens e, portanto, não se deve incluir na
oferta total de serviços de transporte e seguros. Assim, os serviços de transporte
e seguros relativos à importação prestados por produtores residentes e não
residentes têm que ser retirados da oferta total desses serviços no quadro dos
recursos (na coluna do ajustamento CIF/FOB sobre a importação nas linhas dos
serviços de transporte e serviços prestados às empresas).

(f) Esses serviços são registrados na linha do ajustamento CIF/FOB, de forma que
os totais da linha e da coluna de ajustamento são iguais a zero.

Fonte: IBGE (2008).

103

contabilidade_social.indb 103 02/10/14 15:24


Capítulo 3

Por sua vez, a Tabela II, de usos de bens e serviços, disposta na parte inferior da
figura recursos e usos nos fornece os indicadores de equilíbrio entre a oferta e
demanda, além da estrutura de custos por atividade econômica, detalhadas de
acordo com o setor e produto.

Assim como na Tabela I, o primeiro quadrante nos fornece a oferta total da


economia. Contudo, em vez de apresentar a oferta total e as importações,
conforme a Tabela I, a Tabela II nos fornece por meio do quadrante B1 todos os
insumos que foram utilizados no processo produtivo das atividades descritas.

Já o quadrante seguinte, B2, nos apresenta o saldo final correspondente


à demanda, sendo dividido por categoria de consumo de acordo com as
características dos agentes econômicos e destinação final do produto, sendo eles:

1. Consumo final das famílias.


2. Consumo final das administrações públicas.
3. Formação bruta de capital fixo.
4. Variação de estoques.
5. Exportações.

Por fim, temos o último quadrante (C), que nos fornece os custos de produção
incorridos durante o processo produtivo, em especial a remuneração dos
empregados e todos os impostos aplicados durante tal processo, extinguindo-se
os impostos aplicados no produto ao consumidor final. Essa conta é finalizada
com a apresentação do rendimento misto bruto e do excedente operacional bruto.

Para melhor exemplificar o funcionamento da tabela de usos e recursos, a figura


na sequência traz uma demonstração prática, segundo IBGE (2011, p. 78).

104

contabilidade_social.indb 104 02/10/14 15:24


Figura 3.2 – Tabela I – Oferta de bens e serviços

contabilidade_social.indb 105
Oferta de bens e serviços

Total de
Descrição do produto Oferta total Outros imp-
Margem de Margem de Imposto de impostos Oferta total a
a preço de IPI ICMS ostos menos
comércio transporte importação líquidos de preço básico
consumidor subsídios
subsídios
Contabilidade Social

Agropecuária 314.224 36.473 3.416 148 0 7.401 5.252 12.801 261.534

Indústria extrativa 176.212 4.376 3.813 10 0 1.371 1.388 2.769 165.254

Indústria de transformação 2.688.252 433.563 43.584 15.659 27.719 140.514 72.872 256.765 1.954.341

Produção e distribuição de eletricidade 214.926 0 0 0 0 29.598 8.754 38.352 176.574


e gás, água, esgoto e limpeza urbana

Construção civil 292.241 0 0 0 0 0 7.819 7.819 284.422

Comércio 17.446 -474.412 0 0 0 0 0 0 491.858

Transporte, armazenamento e correios 246.957 0 -50.813 0 0 7.306 10.107 17.413 280.357

Serviços de informação 255.488 0 0 0 0 27.791 11.909 39.700 215.788

Intermediação financeira, seguros e 341.609 0 0 0 0 0 25.505 25.505 316.104


previdência complementar e serviços
relacionados

Atividades imobiliárias e aluguéis 311.912 0 0 0 0 0 3.039 3.039 308.873

Outros serviços 763.726 0 0 0 0 12.921 27.942 40.863 722.863

Administração, saúde e educação 663.620 0 0 0 0 0 0 0 663.620


públicas e seguridade social

Ajuste CIF/FOB 0 0 0 0 0 0 0 0 0

105
Total 6.286.613 0 0 15.817 27.719 226.902 174.587 445.026 5.841.588

Fonte: IBGE (2011).

02/10/14 15:24
Capítulo 3

Conforme podemos verificar, essa primeira tabela demonstra a oferta total da


economia a preços de mercado ao consumidor, além das margens praticadas
pelo comércio, transporte e a soma de todos os impostos sobre o produto. Sua
primeira coluna corresponde aos preços praticados ao consumidor, enquanto a
última corresponde aos preços básicos.

Quando falamos em produção, também nos referimos em valor adicionado, ou


seja, do consumo intermediário necessário ao processo produtivo. Por exemplo,
para confecção de uma roupa se faz necessário algodão, que é demandando
do setor agrícola, bem como botões, que são demandados do setor industrial.
Assim, além de conhecer a produção, é de fundamental importância conhecer a
dinâmica econômica, em especial o consumo intermediário por setores que, no
nosso exemplo, está descrito na Tabela II, a qual é expressa pela figura a seguir.

106

contabilidade_social.indb 106 02/10/14 15:24


Figura 3.3 – Tabela II de consumo intermediário por setores

contabilidade_social.indb 107
Consumo intermediário das atividades
Produção Interme-
e distri- diação Administra-
Trans-
buição de financeira, Atividades ção, saúde
Descrição do produto Agro- Indústria Con- porte,
Indústria eletricidade Comér- Serviços de seguros e imobil- Outros e educação Total do
de trans- strução armaze-
pecuária extrativa e gás, água, cio informação previdência iárias e serviços públicas e produto
formação civil namento e
esgoto e complemen- aluguéis seguridade
Contabilidade Social

correios
limpeza tar e serviços social
urbana relacionados
Agropecuária 26.639 0 166.855 0 0 0 0 0 0 0 3.575 675 197.744
Indústria extrativa 2.063 8.816 104.421 7.207 5.678 0 0 0 0 0 62 51 128.298
Indústria de 82.153 22.985 728.268 15.741 112.153 33.821 74.834 18.304 11.355 3.184 140.993 45.206 1.288.997
transformação
Produção e distribuição 1.595 3.547 42.260 42.850 618 10.286 3.666 2.894 2.192 374 17.275 15.642 143.199
de eletricidade e gás,
água, esgoto e limpeza
urbana
Construção civil 0 2.100 2.222 19 6.389 278 31 1.090 1.683 6.570 3.734 19.067 43.183
Comércio 0 0 5.432 0 66 9.040 0 0 0 0 15 0 14.553
Transporte, 3.590 13.277 48.536 3.400 1.686 24.640 24.467 4.966 2.731 425 10.772 4.882 143.372
armazenamento e
correios
Serviços de informação 756 3.578 17.102 2.350 673 6.862 3.253 38.756 18.944 749 47.623 39.229 179.875
Intermediação 2.168 3.225 59.983 2.421 3.383 13.371 8.873 7.722 43.260 2.130 8.840 37.876 193.252
financeira, seguros
e previdência
complementar e
serviços relacionados
Atividades imobiliárias e 167 11.347 10.023 762 1.111 15.030 2.775 7.107 2.095 1.315 11.702 13.265 76.699
aluguéis
Outros serviços 84 10.684 43.422 9.332 6.753 30.828 18.770 25.986 26.458 5.214 46.168 53.491 277.190
Administração, saúde 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
e educação públicas e

107
seguridade social

Total 119.215 79.559 1.228.524 84.082 138.510 144.156 136.669 106.825 108.718 19.961 290.759 229.384 2.686.362

Fonte: IBGE (2011).

02/10/14 15:24
Capítulo 3

A tabela anterior mostra qual o consumo intermediário das atividades, ou seja, qual
foi o dispêndio por setor para seu processo produtivo. Ainda no que diz respeito
à Tabela II, ela nos fornece o relacionamento e equilíbrio entre a oferta e demanda,
de acordo com os setores da economia, além da estrutura de custos por atividade
econômica, também por setor e produto, conforme mostra a próxima figura.

Por sua vez, também temos a demanda final dos produtos resultantes do
processo produtivo, que também são descritos pela tabela de usos e recursos.

108

contabilidade_social.indb 108 02/10/14 15:24


Figura 3.4 – Tabela II – Demanda final

contabilidade_social.indb 109
Oferta de bens e serviços

Descrição do produto Consumo da


Exportação Consumo Consumo Variação de Demanda Demanda
Exportação administração FBCF
de serviços das ISFLSF das famílias estoques Final total
pública

Agropecuária 36.477 0 0 0 63.701 16.907 -605 116.480 314.224


Contabilidade Social

Indústria extrativa 47.951 0 0 0 735 0 -772 47.914 176.212

Indústria de transformação 216.745 0 6.302 0 874.198 308.104 -6.094 1.399.255 2.688.252

Produção e distribuição de 1.957 0 0 0 69.770 0 0 71.727 214.926


eletricidade e gás, água, esgoto
e limpeza urbana

Construção civil 0 1.508 0 0 0 247.550 0 249.058 292.241

Comércio 0 2.893 0 0 0 0 0 2.893 17.446

Transporte, armazenamento e 0 6.074 0 0 97.511 0 0 103.585 246.957


correios

Serviços de informação 0 1.288 0 0 74.325 0 0 75.613 255.488

Intermediação financeira, 0 2.893 2.094 0 143.370 0 0 148.357 341.609


seguros e previdência
complementar e serviços
relacionados

Atividades imobiliárias e aluguéis 0 3.046 0 0 222.164 10.003 0 235.213 311.912

Outros serviços 0 34.821 14.985 39.229 394.748 2.753 0 486.536 763.726

Administração, saúde e 0 0 663.620 0 0 0 0 663.620 663.620


educação públicas e seguridade
social

109
Total 303.130 52.523 687.001 39.229 1.940.522 585.317 -7.471 3.600.251 6.286.613

Fonte: IBGE (2011).

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Capítulo 3

A Tabela II também nos fornece a demanda final pelo produto, incluindo a parte
referente ao comércio exterior, a parte referente ao consumo das famílias, a formação
bruta de capital fixo e a variação de estoques, todos esses indicadores importantes e
estratégicos, que também são mensurados pela conta econômica integrada.

Conforme podemos notar, o somatório da demanda total da Tabela II, que


corresponde a R$ 6.286.613,00 é exatamente igual à oferta total de bens e
serviços a preços do consumidor, descritos na Tabela I.

Ao contrário das contas econômicas integradas, a tabela de usos e


recursos é um instrumento fundamental para avaliação de políticas
econômicas setoriais, em especial a evolução do comércio exterior e a
importância de cada setor da economia na formação do PIB.

Por fim, cabe destacar que a tabela de usos e recursos não substitui, de
maneira alguma, o sistema de contas nacionais, sendo apenas um instrumento
complementar para auxiliar os formuladores de políticas econômicas.

110

contabilidade_social.indb 110 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Balanço de pagamentos

Habilidades No presente capítulo você desenvolverá a


habilidade de identificar a estrutura do balanço de
pagamento de um país, bem como interpretar seu
funcionamento. Desenvolverá ainda as habilidades
de analisar cenários que descrevam a realidade
de uma economia de modo a auxiliar empresas
na formulação de suas estratégias gerenciais e na
tomada de decisões, e de compreender de maneira
mais direta a relação entre a contabilidade social e a
macroeconomia.

Seções de estudo Seção 1:  O balanço de pagamentos

Seção 2:  Estrutura do balanço de pagamentos

Seção 3:  Convergência entre contabilidade social e


balanço de pagamentos

Seção 4:  O balanço de pagamentos no Brasil

111

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Capítulo 4

Seção 1
O balanço de pagamentos

1.1 O balanço de pagamentos e a globalização


O balanço de pagamentos figura entre os principais e também os mais
complexos indicadores de uma economia, em virtude do número de variáveis
necessárias à sua elaboração, principalmente em relação ao adiantado
processo de globalização experimentado hoje pela maioria dos países do globo.
O fenômeno da globalização fez nascer a divisão internacional do trabalho,
acontecimento que é associado à livre mobilidade de capital e que favoreceu
o surgimento das empresas multinacionais, sendo elas as responsáveis por
investimentos produtivos no mundo (CASTELLS, 1999).

Ao analisar economias capitalistas mais desenvolvidas, notamos que elas se


relacionam com dezenas de países ao redor do globo. Em geral, esses países
transacionam diariamente uma série de recursos, em especial bens e serviços,
fatores de produção e, principalmente, ativos financeiros.

Uma relação comercial é fundamental para o desenvolvimento da economia


interna, seja pela necessidade de matéria-prima, o que condiciona a dependência
de insumos produtivos, seja pela necessidade de exportação, para garantir o nível
de emprego e renda.

Esse movimento, chamado de comércio exterior, que corresponde à soma das


exportações e importações, configura-se como importante indicador econômico,
em especial pelo fato de suas atividades constituírem importantes indicadores para
os agregados macroeconômicos, uma vez que muitos países são extremamente
dependentes de exportações e importações, sendo que a corrente de comércio
tem destaque especial na mensuração do Produto Interno Bruto (PIB).

A globalização hoje está presente em todos os países, inclusive naqueles


de economia mais fechada, como, por exemplo, a Coreia do Norte, que
mantém relações comerciais com alguns países, em especial a China.

Por essa razão, não é possível mensurarmos o produto em uma economia sem
considerar a produção em outros países do globo. Assim, da mesma forma
que as transações comerciais entre países constituem importante variável de
análise, o relacionamento financeiro entre eles também deve ser analisado com
maior nível de detalhes, principalmente por questões de nível de poupança e, por
identidade, do investimento.

112

contabilidade_social.indb 112 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Nesse sentido, ao analisar o balanço de pagamentos de um determinado país,


devemos considerar que a “existência de transações econômicas internacionais
produz inúmeras implicações não só para as contas nacionais, como para a
própria teoria macroeconômica” (PAULANI; BRAGA, 2007, p. 132).

Cabe destacar que as cinco contas relacionadas ao sistema de contas nacionais


estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que são Produção,
Apropriação, Capital, Governo e Transações com o Exterior, mensuram, em
especial a última, não apenas as atividades internas, como também todos os
lançamentos correspondentes ao relacionamento comercial com o resto do
mundo. As exportações, importações e renda líquida enviada ao resto do mundo
são as principais rubricas da conta de transações com exterior.

Nesse contexto, o balanço de pagamento é uma expansão refinada da conta de


transações com exterior, sendo por meio dela que conseguimos mensurar não
somente a produção interna, mas também o desempenho da economia local em
relação ao restante do mundo.

1.2 Globalização e o avanço tecnológico


Em tempos de globalização, analisar e mensurar o balanço de pagamento constitui
um diferencial, em especial para a economia de um país, pois permite observar
as principais dependências econômicas com o exterior, bem como as principais
vantagens comparativas da economia nacional em relação às demais economias.

O avanço das tecnologias da informação proporcionou uma ligação


praticamente instantânea entre todas as economias do mundo, além do
rápido processamento de informações, que auxilia o tomador de decisão
na hora de lidar com as complexas transações que o mercado estabelece.

Tal avanço, combinado com as correntes ideológicas que pregavam a


desregulamentação dos mercados e a liberalização econômica, proporcionou
a formação de uma nova conjuntura econômica e geopolítica em nível mundial,
que ao mesmo tempo que possibilitou a mobilidade do capital se criou uma
dependência econômico-financeira entre os países, não sendo mais possível uma
tomada de decisão sem repercussões de âmbito mundial.

Essa livre mobilidade do capital facilitou os investimentos produtivos, embora eles


sejam fracionários comparados aos investimentos de portfólio, muitos deles apenas
especulativos, não gerando emprego nem produto. Com o apoio das tecnologias,
as empresas passaram a atuar de forma global, em que as instituições trabalham
regidas pela dinâmica “escala planetária” (CASTELLS, 1999).

113

contabilidade_social.indb 113 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Não há dúvidas de que o avanço da tecnologia permitiu maior integração


entre as economias, denotando a necessidade de um instrumento econômico
capaz de mensurar a relação entre os países. Por essa questão o balanço de
pagamento assume papel central na elaboração de indicadores e organização
das contas nacionais.

Seção 2
Estrutura do balanço de pagamentos

2.1 A definição de agentes econômicos residentes e os não


residentes
A estrutura do balanço de pagamentos permite registrar todas as transações de
uma economia nacional com o restante do mundo. Se considerarmos a essência
dessas transações, concluímos que, de forma geral, elas são constituídas por
agentes econômicos residentes que se relacionam com não residentes.

Essa relação de transações de uma economia nacional com o restante


do mundo se constitui entre um residente de um país, que representa
uma família, empresa ou governo, e um residente de outro país, aqui
caracterizado por não residente, em que ambos efetuam alguma transação.

Em termos conceituais são considerados residentes toda pessoa que, ao residir em


um país, o constitui como principal motriz econômica. A partir dessa base, temos
que residentes são todos aqueles que possuem residência fixa em um país, bem
como todas as empresas que constituem suas atividades no país. Nessa categoria
temos, inclusive, as empresas multinacionais com filiais no país. Entretanto, além
de pessoas e empresas, também temos o governo (KPMG, 2012).

Única exceção para esse terceiro caso são as embaixadas e consulados do país
residente nos demais países. Por exemplo: a embaixada do Brasil em qualquer
país é considerada residente do Brasil. No mesmo sentido, pessoas em viagem
de turismo ou negócios a outros países são considerados residentes do Brasil.

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contabilidade_social.indb 114 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

No caso brasileiro, segundo a KPMG (2012), o residente é definido por:

1. Aquele que resida em caráter permanente no Brasil.


2. Que se ausente do Brasil para prestar serviços assalariados a
autarquias ou repartições do governo brasileiro situados no exterior.
3. Estrangeiro com visto permanente, estrangeiro com visto
temporário para trabalhar com vínculo empregatício ou estrangeiro
com visto temporário que complete 184 dias (consecutivos ou não)
de permanência no Brasil em um período de até doze meses.
4. Brasileiro que adquiriu condição de não residente no Brasil com
retorno definitivo.
5. Brasileiro que se ausente do país sem entregar a comunicação de
saída definitiva ao órgão responsável durante os primeiros doze
meses consecutivos de sua ausência.

Desta forma, os não residentes são constituídos, basicamente, por turistas


temporários e por qualquer outro exemplo que não se enquadre nas
especificações anteriores.

Além dessas definições, devemos lembrar que todas as transações de comércio


exterior são, obrigatoriamente, efetuadas em base no dólar dos Estados Unidos
da América (US$). Embora países possam realizar transações em diferentes
moedas, como o Euro, por exemplo, para fins de lançamento no balanço de
pagamento devemos sempre considerar o dólar americano.

2.2 O balanço de pagamentos no Brasil


Desde 2001, tanto o Brasil quanto o resto do mundo tem procurado divulgar o
balanço de pagamentos alinhado aos critérios convencionados na 5ª edição do
Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nesse manual foram feitas algumas importantes alterações nos critérios de


classificação das transações e na nomenclatura das contas. O Banco Central do
Brasil (Bacen) elenca essas principais alterações, as quais são apresentadas a seguir:

1. Nas transações correntes, há uma nova classificação das contas:


bens, serviços, renda e transferências correntes.
2. Introdução da “conta capital” com o intuito de registrar as
transações unilaterais de patrimônio de migrantes e a aquisição/
venda de bens não financeiros não produzidos (marcas e patentes).

115

contabilidade_social.indb 115 02/10/14 15:24


Capítulo 4

3. Criação da “conta financeira”, substituindo a antiga conta de


capital, para registrar a formação de ativos e passivos externos:
investimento direto, investimentos em carteira, derivativos e outros
investimentos.
4. Inclusão no item investimentos diretos dos empréstimos
intercompanhias de qualquer prazo (empresas do mesmo grupo).
5. Reclassificação de todos os instrumentos de portfólio, inclusive,
bônus, notes e commercial papers, para a conta de “investimento
em carteira”.
6. Criação da conta para registro das operações com derivativos
financeiros, anteriormente alocadas na conta serviços e capitais de
curto prazo.
7. Estruturação da “conta de rendas” para evidenciar as receitas e
despesas geradas por cada uma das modalidades de ativos e
passivos externos contidos na conta financeira (salários, juros,
lucros e dividendos). (BACEN, 2003).

Podemos notar que, por meio do quadro a seguir, o balanço de pagamentos tem
uma estrutura muito robusta e detalhada com relação às transações econômicas
com o resto do mundo. Notamos também que ele mantém mesmo princípio das
partidas dobradas.

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contabilidade_social.indb 116 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Quadro 4.1 – Estrutura básica do balanço de pagamentos

Balanço pagamentos

1. Balança comercial

1.1 Exportações

1.2 Importações

2. Balança de serviços

2.1 Transportes: fretes, seguros, etc.

2.2 Turismo e viagens internacionais

2.3 Rendas de capital: remessa de lucros, lucros reinvestidos e juros

2.4 Serviços governamentais

2.5 Diversos

3. Transferências unilaterais

4. Saldo do balanço de pagamentos em transações correntes: 1 + 2 + 3

5. Movimento de capitais

5.1 Investimentos diretos

5.2 Reinvestimentos

5.3 Empréstimos e financiamentos

5.4 Amortizações de empréstimos

5.5 Capitais de curto prazo

5.6 Empréstimos de regularização

5.7 Outros capitais

6. Erros e omissões

7. Saldo total do balanço de pagamentos: 4 + 5 + 6

8. Variação das reservas

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Essa estrutura apresentada corresponde ao modelo básico de um balanço de


pagamentos. Contudo, se analisarmos com calma, vamos perceber que grande
parte das rubricas deste modelo está presente nas cinco contas do sistema de
contas nacional.

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contabilidade_social.indb 117 02/10/14 15:24


Capítulo 4

É importante ressaltar que o balanço de pagamentos se divide em seis grandes


grupos de contas que têm a função de mensurar, de acordo com o bem ou
serviço transacionado, todas as operações realizadas pela economia nacional
com o exterior. Entre os referidos grupos de contas temos: a balança comercial,
a balança de serviços, as transferências unilaterais, o saldo do balanço de
pagamentos em transações correntes, o movimento de capitais e os erros e
omissões, as quais serão apresentadas na sequência.

2.2.1 Balança comercial


O primeiro grupo corresponde à conta balança comercial, que é a mais conhecida
de todas. Diariamente são divulgados no noticiário econômico dados a respeito
da balança comercial de diferentes países, mais especificamente sobre questões
relacionadas à exportação, importação e, principalmente, seu saldo.

O saldo da balança comercial nada mais é que diferença entre exportações


e importações. Contudo, devemos observar que a balança comercial
registra o movimento apenas de mercadorias (produtos e bens tangíveis).

No lançamento das contas para o cálculo do mencionado saldo, em virtude da


necessidade de respeitar o princípio do equilíbrio interno, as exportações são
lançadas na conta de crédito, enquanto as importações na conta de débito. A
diferença entre elas nos fornece o saldo. Caso o saldo seja positivo, então temos
um superávit na balança comercial. Caso contrário, temos um déficit.

Para a elaboração desse cálculo, tanto exportações quanto importações podem


ser contabilizadas de duas maneiras: a primeira delas é chamada Free On Board
(FOB), que registra apenas o valor de embarque da mercadoria; a segunda delas
é a Cost, Insurance and Fright (CIF), que além do valor de embarque ainda inclui
despesas como transporte e seguro.

Como visto, o saldo da balança comercial é dado pelo valor das exportações
menos o valor das importações, porém vale lembrar que ambos são
contabilizados pelo conceito FOB, pois despesas com transporte e seguro se
constituem um serviço, não uma mercadoria.

No caso brasileiro, a balança comercial é uma conta importante, pois ela pode
definir se o país será ou não superavitário em suas contas, uma vez que o
superávit pode compensar eventuais déficits nas demais contas do balanço.

118

contabilidade_social.indb 118 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

2.2.2 Balança de serviços


Além das mercadorias, o balanço de pagamentos também precisa registrar as
transações em termos de serviços. Nesse caso, a conta balança de serviços agrega
todos aqueles bens intangíveis que não foram mensurados na balança comercial.

Nesse sentido, a conta de serviços mensura receitas e despesas na área de


transportes, viagens internacionais, envios ou recebimentos de juros e lucros,
despesas consulares e diplomáticas e, por fim, receitas e despesas com patentes
e royalties que, no caso do Brasil, está lançado na rubrica de “diversos”.

Entretanto, Paulani e Braga fazem (2007, p. 135) uma relevante observação sobre
a balança de serviços:

é uma conta extremamente importante do ponto de vista do


cálculo dos agregados, pois a utilização de fatores de produção
de propriedade de não residentes obriga a que se faça uma
distinção entre a renda e o produto nacional e a renda e o
produto interno.

É importante destacar que, da mesma forma que a conta balança comercial, a


balança de serviços também tem suas especificidades. A rubrica de turismo e
viagens internacionais, por exemplo, é uma das mais importantes nessa conta.
Nesse caso, seguindo a mesma lógica da balança comercial, é feito um lançamento
na conta de crédito quando recebemos divisas decorrentes de atividades turísticas,
ou seja, quando um não residente realiza gastos no país. No caso inverso, quando
um residente viaja ao exterior, seus gastos são lançados na conta de débito.

Assim como a balança comercial divide sua metodologia de cálculo em FOB e


CIF, a conta da balança de serviços também pode ter seu lançamento dividido
em duas categorias. Os serviços mensurados por essa conta podem ser divididos
entre serviços de fatores e serviços de não fatores.

Os serviços de não fatores correspondem, basicamente, aos serviços de


transporte e seguro. Já a categoria dos serviços de fatores corresponde às
despesas referentes ao pagamento ou recebimento pelo uso de fatores de
produção. Nesse caso, o principal fator de produção é o capital e o pagamento
ou recebimento desse fator corresponde aos juros ou lucro.

Com relação ao pagamento de juros, temos um importante indicador


governamental para mencionar: o superávit/déficit primário, o qual é o resultado
das contas do governo, quando mensuradas todas as receitas e despesas do
governo, mas desconsideradas as despesas com pagamento dos juros. No entanto,
ao passo que são mensuradas junto com os juros, temos o resultado operacional.
Nesse cenário, teremos um superávit caso haja um resultado positivo das contas
do governo, incluindo os gastos com juros da dívida (interna e externa) de todo o
setor de serviços. Porém, se o resultado for negativo teremos um déficit.

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contabilidade_social.indb 119 02/10/14 15:24


Capítulo 4

2.2.3 Transferências unilaterais


Dando prosseguimento ao grupo de contas do balanço de pagamentos temos
a conta de transferências unilaterais, que tem um conceito mais simples por
registrar apenas o pagamento ou recebimento de mercadorias e/ou serviços.

As transferências se constituem, basicamente, no recebimento de renda


enviada por familiares que trabalham em outros países e, em um exemplo
mais macro, em ajudas humanitárias.

No caso do Brasil, a conta de transferências, a partir de 2004, sofreu grande


impacto em razão do alto custo de manter tropas brasileiras na missão de
humanitária de pacificação do Haiti.

2.2.4 Saldo do balanço de pagamentos em transações correntes


O saldo do balanço de pagamentos em transações correntes é obtido por meio
da soma do saldo das três primeiras contas, o qual também é chamado de saldo
em conta-corrente.

No mesmo sentido que nas demais contas, o resultado nos permite conhecer
o saldo final em transações correntes. Quando o recebimento de recursos é
superior ao envio, nós temos um superávit, caso contrário, seguindo sempre a
mesma lógica, teremos um déficit.

O balanço de pagamentos deve respeitar o equilíbrio interno. Ou seja, no


caso de haver superávit ou déficit, devemos ter alguma outra conta que
nos permita equilibrar os fundamentos do balanço.

Analisando o caso brasileiro, a história recente nos mostra que o país é


superavitário no mencionado saldo com relação à balança comercial, porém é
deficitário na balança de serviços. No que se refere às transferências, visto seu
volume limitado, não causam tanto impacto àquele saldo.

2.2.5 Movimento de capitais


No Brasil, é muito comum o saldo das transações correntes no balanço de
pagamentos ser deficitário em razão do pagamento de juros dos títulos públicos,
e, se houver um déficit, devemos estar atentos à necessidade de financiamento.

O que fazer para garantir o equilíbrio interno em caso de saldo deficitário


nas transações correntes?

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contabilidade_social.indb 120 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

A resposta está nas próximas contas do balanço de pagamentos, em especial na


conta de movimento de capitais e na conta de variação de reservas. Entretanto, a
primeira alternativa corresponde à contratação de financiamento para equilibrar o
saldo nas transações correntes. O modelo é similar ao de uma empresa, ou seja,
o país negocia um empréstimo e o mesmo é lançado na conta de capitais.

A conta de movimento de capitais registra todas as movimentações relacionadas


aos investimentos, empréstimos e financiamento entre países, a qual é dividida
em sete rubricas:

1. Investimentos diretos;
2. Reinvestimentos;
3. Empréstimos e financiamentos;
4. Amortizações de empréstimos;
5. Capitais de curto prazo;
6. Empréstimos de regularização;
7. Outros capitais.

Para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, os investimentos


diretos são extremamente relevantes para a criação de emprego e renda. Nesta
conta consideramos todos os investimentos relacionados a aquisições e vendas
de empresas, sendo também conhecido como Investimento Direto Externo (IDE) e
tem por objetivo o investimento produtivo.

Em virtude da importância dessas rubricas, vamos, na sequência, aprofundar


nossos estudos a respeito do papel de cada uma delas.

2.2.5.1  Investimento direto externo


O investimento direto externo ocorre quando uma empresa estrangeira
detém participação majoritária em empresa nacional, tornando-se assim uma
multinacional, caso ainda não possua essa posição.

Esse conceito de IDE é altamente vinculado ao controle da empresa nacional,


pois “o investimento externo direto envolve a compra de cotas ou ações em
empresas no exterior com o propósito de exercer controle sobre a empresa
receptora do investimento” (GONÇALVES, 1998, p. 123).

A ocorrência do IDE geralmente se concretiza por motivos estratégicos,


relativos ao mercado e recursos necessários à produção. Ele pode ser dividido
basicamente em dois tipos: fusões/aquisições e greenfield. O IDE via fusões e
aquisições ocorre quando o controle da empresa nacional é passado à empresa

121

contabilidade_social.indb 121 02/10/14 15:24


Capítulo 4

estrangeira via compra das ações, de maneira que o parque produtivo tão
somente muda seu detentor legal. Já o IDE greenfield é um investimento novo,
no qual uma organização estrangeira ingressa no país com capital e constrói um
parque produtivo do zero.

A decisão de uma empresa sobre o investir ou não em países está muito mais
vinculada à estratégia multinacional e organização industrial que a questões de
comércio internacional.

A princípio, as empresas buscam obter algumas vantagens no IDE, como


a vantagem de propriedade, que evita transtornos advindos do comércio
e reduz custos de transação, vantagem locacional referente à redução de
custos de logística, redução de tarifas de comércio internacional e a vantagem
de internalização, trazendo estratégias de verticalização para empresas
multinacionais, quando a empresa engloba outra etapa da cadeia produtiva, ou
internaliza a produção de algum produto no qual tenha interesse, diminuindo
seus riscos. Outro ponto relevante corresponde a fatores conjunturais. Esse é
certamente um ponto considerado por uma empresa estrangeira ao realizar um
investimento em outro país.

Entretanto, esses fatores não são capazes de determinar, sozinhos, o


investimento direto externo realizado. Tais fatores influenciam, porém não
determinam o investimento direto externo, uma vez que todas as variáveis reais
da economia, taxa de câmbio, inflação, juros (quando relativamente estáveis) não
influem tanto na decisão do IDE quanto fatores estruturais.

Os fatores estruturais possuem grande influência. Variáveis reais como


crescimento econômico, volume de comércio, fundamentos econômicos,
fatores culturais e infraestrutura geram uma expectativa de retorno, a qual é
o ponto-chave da decisão a respeito da realização do IDE.

Debênture é um título No caso do investimento de portfólio (ações, títulos


de dívida de médio ou públicos, debêntures, entre outros), a lógica seria
longo prazo emitido
inversa, uma vez que interessam nessa ótica os fatores
por empresas e que
confere ao detentor um conjunturais, as taxas de juros e de câmbio, pois são
direito de crédito contra esses indicadores que vão determinar o lucro no futuro.
a empresa emissora.
Quem investe em
debêntures se torna
Na prática, a diferença fundamental entre o investimento
credor da empresa. No externo direto e o de portfólio corresponde ao foco do
Brasil, as debêntures primeiro na questão produtiva do segundo na questão
são uma das formas
financeira. Dessa forma, o IDE está muito mais relacionado
mais antigas de
captação de recursos à estratégia de atuação das empresas multinacionais e à
privados. teoria da organização industrial e suas estratégias.

122

contabilidade_social.indb 122 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Cabe destacar que são três os fatores determinantes para o IDE: busca de
mercado, busca de recursos naturais e busca de eficiências. A busca de mercado
determina um investimento a partir do momento em que se percebe que há
uma demanda local que justifique o investimento, uma vez que os custos com
o comércio internacional será abandonado, tornando mais viável a produção
local. Esse fator determinante é semelhantemente à busca por recursos naturais
e matéria-prima, pois o IDE pode reduzir substancialmente os custos com
aquisição e logística de insumos produtivos.

No que se refere à busca por eficiência, ela está relacionada à lógica econômica
de vantagem absoluta e vantagens comparativas, ou seja, sobre a maior
eficiência de um país para produzir determinado produto de acordo com um
conjunto de fatores locacionais, pela disponibilidade de recursos e de uma
estrutura de apoio já existente.

A busca pela eficiência também está relacionada à utilidade marginal de um


recurso (fator produtivo), a qual é maior onde ele é mais escasso, em especial
quando esse recurso for capital ou tecnologia.

Conforme Gonçalves (1998, p. 114),

em termos gerais, o deslocamento de um fator de produção de


uma economia onde ele é relativamente abundante para outra em
que é relativamente escasso significa um aumento da produção e
da produtividade no país destino [...].

Há, ainda, outro fator determinante do IDE: o ambiente institucional, que pode ser
considerado uma vantagem locacional. Essa abordagem institucional considera o
ambiente formado pelas instituições como uma vantagem locacional e, portanto,
deverá constituir-se em uma peça central na explicação dos fluxos de IDE. Esse
ambiente institucional inclui:

•• Instituições políticas e o sistema judicial.


•• Instituições econômicas.
•• Fatores culturais.

Os efeitos do IDE em um país são geralmente benéficos no curto prazo,


gerando uma dinamização da economia e aumento da poupança interna,
desde que o investimento estrangeiro não se constitua num monopólio ou
não afete incisivamente a estrutura de mercado preexistente.

123

contabilidade_social.indb 123 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Não há muitos impactos negativos relacionados ao IDE no aspecto econômico.


Nesse cenário apenas as variáveis ambientais e sociais precisam ser mais bem
detalhadas, caso a caso, para saber o IDE ou o investimento tipo greenfield, os
quais serão benéficos para a sociedade. Segundo Sodersten (1979, p. 440),

a essência dos investimentos diretos é que faz com que um


dos três fatores de produção, a capacidade de gerenciamento
ou a eficiência organizacional (M) trabalhe com os outros dois.
Portanto, a produtividade marginal do trabalho e do capital
aumenta no país em que o investimento é efetuado. Isso leva ao
aumento dos salários para os trabalhadores e ao acréscimo do
retorno de capital em função do investimento estrangeiro.

Em síntese o que se busca ao realizar um IDE é o aumento de retorno sobre


o capital investido ou diluição dos riscos envolvidos no negócio, os quais
consistem basicamente em formulação de estratégias empresariais, de modo que
a empresa buscará geralmente uma verticalização ou diversificação concêntrica
aproveitando sinergias e redução de gastos com impostos ou comércio.

2.2.5.2 Reinvestimento
A rubrica de reinvestimento consolida todo capital de empresas multinacionais
que, ao invés de retornar ao país de origem sob a forma de remessa de lucro,
permanecem na economia interna em forma de investimento das operações da
empresa. Ou seja, há um reinvestimento, visto que o IDE se refere à primeira
rodada de investimentos.

Partindo do princípio que a remuneração do capital ocorre por meio do lucro,


o reinvestimento nada mais é que utilizar o lucro para reinvestir na empresa.
Contudo, em se tratando de lucro não reinvestido, o mesmo é remetido sob a
forma de remessa de lucros, sendo inserido no item rendas de capital do balanço
de pagamentos.

2.2.5.3  Empréstimos e financiamentos


A rubrica de empréstimos e financiamentos consolida todas as dívidas contraídas
por residentes no exterior ou por meio de financiamentos no mercado externo.
Nesse caso, em especial, as grandes empresas são responsáveis pelo movimento
dessa rubrica.

É importante observar que algumas dessas empresas captam investimentos


emitindo debêntures no exterior, já outras fazem essa captação por meio de
fundos de investimento privado. No entanto, independentemente da forma como
os recursos são captados, todas essas movimentações devem ser registradas na
rubrica de empréstimos e financiamentos.

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contabilidade_social.indb 124 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Contudo, essa conta não registra apenas movimentações tipicamente financeiras.


Ela também registra operações comerciais em que a forma de pagamento não
é vista. Ou seja, quando um importador compra um carregamento, mas não
paga a mercadoria em sua totalidade no momento da entrega, ele também está
financiando, indiretamente, parte da sua operação e o saldo entre a diferença
entre o que foi pago à vista e o que deve ser pago deve ser registrado na rubrica
da mencionada conta.

2.2.5.4  Amortizações e empréstimos


Quando um agente econômico contrai um empréstimo ele precisa, primeiro,
pagar pelo valor principal contraído, o que chamamos de amortização, e, além de
amortizar o empréstimo, ele precisa pagar pelos juros.

Nesse sentido, temos a presença da rubrica de amortizações de empréstimos


na estrutura do balanço de pagamentos. Nesse caso, registrando todos os
desembolsos de residentes ligados ao pagamento do principal de uma dívida
contraída no exterior.

Cabe ressaltar que, no caso de amortização da dívida, esta operação sempre


será lançada nesta rubrica. Caso seja o pagamento de juros, ela deve ser lançada
na conta de serviços. A questão é lógica, empréstimos e financiamentos são
serviços financeiros, logo, sua remuneração é contabilizada por meio daquela
rubrica, enquanto o principal é registrado na conta amortizações e empréstimos.

2.2.5.5  Capital de curto prazo


A rubrica de capital de curto prazo é mais vinculada às obrigações do governo, pois o
capital de curto prazo é uma espécie de capital de giro para o país, que vende títulos
com prazo de duração curto, em especial aqueles com prazo de um ano, fazendo
uso dos recursos captados para equilibrar o saldo do balanço de pagamentos.

Esse capital de curto prazo, da mesma forma que o cheque especial, pode
comprometer a renda de uma pessoa, pode ter efeitos nefastos na economia
caso a conjuntura em que o país se encontrava no momento da contratação da
dívida não melhore e o país seja obrigado a rolar a dívida.

2.2.5.6  Empréstimos de regularização


A rubrica de empréstimos de regularização está associada à contratação de
crédito junto às instituições de auxílio financeiro global, em especial o Fundo
Monetário Internacional.

Ao contrário do capital de curto prazo, ou da rubrica de empréstimos e financiamentos,


o país, ao solicitar apoio ao FMI, precisa, antes de receber os recursos, adequar sua
política fiscal e monetária para ter acesso à linha de financiamento.

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contabilidade_social.indb 125 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 140),

o país que desejar obter esse tipo de ajuda tem de se submeter


a uma série de exigências, em termos de condução da política
econômica e obtenção de resultados, impostas pelos organismos
internacionais, dos quais o FMI é certamente o mais importante,
embora haja outros, como o Bank for International Settlements
(BIS) e o Clube de Paris.

2.2.5.7  Outros capitais


Por fim, a última rubrica da conta movimento de capitais se refere aos outros
capitais, ou seja, tudo aquilo que não se enquadra nas definições das rubricas
anteriores, mas que precisa, obrigatoriamente, ser contabilizado.

2.2.6 Erros e omissões


Prosseguindo com nossa análise, temos conta de erros e omissões. Realizar a
contabilidade de um país não é algo simples, muito menos exata e transparente,
uma vez que há milhões de transações anualmente, sendo que ao final do
exercício fiscal precisamos realizar o equilíbrio interno das contas.

Assim, em virtude dessa tarefa não ser simples, e também diante da


impossibilidade de um país conseguir fechar com exatidão o seu balanço de
pagamentos, a conta de erros e omissões surge como alternativa para garantir o
equilíbrio interno e assim zerar o saldo entre débito e crédito na conta de balanço
de pagamentos.

2.2.7 Saldo final no balanço de pagamentos


Somando o saldo total das transações correntes, o saldo do movimento
de capitais e os erros e omissões, chegamos ao saldo final do balanço de
pagamentos.

Paulani e Braga (2007, p. 141) resumem muito bem qual é o resultado final das
operações descritas no balanço de pagamentos. Segundo as autoras,

se é positivo, o país, ao longo de suas operações de compra


e venda de bens e serviços, fatores e não fatores, levadas a
efeito durante o período, acumulou divisas, ou seja, produziu
mais desses recursos do que deles necessitou. Assim, ou o país
utilizou esse superávit para realizar investimentos em outras
economias, ou lhes concedeu empréstimos, ou, simplesmente,
decidiu aumentar as reservas em divisas do país. Ao contrário, se
o resultado for negativo, isso significa que no mesmo período, e

126

contabilidade_social.indb 126 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

contando com suas operações correntes, o país não foi capaz de


gerar os recursos necessários para honrar seus compromissos
em moeda estrangeira.

Cabe destacar que, caso o país seja deficitário, ele tem a opção de recorrer aos
empréstimos, ao capital de curto prazo ou, em um movimento mais extremo, ao FMI.

2.2.8 Variação de reservas


A variação de reservas diz respeito à última conta que integra o balanço de
pagamentos, a qual tem como finalidade fazer o ajuste entre a necessidade ou
não de capital para o fechamento do balanço de pagamentos em um país.

Desse modo, caso o país seja superavitário, a conta variações nas reservas deve
ser lançada a débito, com sinal negativo, uma vez que o equilíbrio interno deve
ser mantido, zerando o balanço de pagamentos. No mesmo sentido, um déficit
no balanço de pagamentos deve ter um valor correspondente a crédito nas
variações de reserva, com sinal positivo.

No caso de um país que seja deficitário em suas contas, ele necessitará de


recursos para manter seu relacionamento com o exterior. Ou seja, não há
possibilidade de um país se “autofinanciar” para fazer frente as despesas. Logo,
em caso deficitário, o país utiliza suas reservas, que são sempre em dólar, para
fazer frente às necessidades de capital estrangeiro para operacionalizar as
operações comerciais e financeiras com os demais países.

Segundo Passos e Nogami (2001, p. 440), as medidas mais comuns para atração
de capital e compor as reservas, são:

1. Desvalorizações reais da taxa de câmbio.


2. Redução do nível de atividade econômica.
3. Restrições tarifárias ou quantitativas às importações.
4. Subsídios às exportações.
5. Aumento da taxa interna de juros.
6. Controle da saída de capitais e de rendimento para o exterior.

É importante observar que não há como existir déficit em um balanço de


pagamentos se o país não tiver reservas ou se o país não tiver acesso a linhas de
financiamento. No caso do Brasil, já houve um momento recente em que o nível
de reservas praticamente chegou a zero, havendo a necessidade de empréstimo
junto ao FMI e a adoção de algumas medidas para conter o déficit do balanço de
pagamentos, conforme veremos na sequência.

127

contabilidade_social.indb 127 02/10/14 15:24


Capítulo 4

2.2.8.1  A crise dos Tigres Asiáticos e a variação de reservas do Brasil


Para compreender melhor a questão referente ao uso das reservas internacionais,
vamos citar um exemplo da economia brasileira em 1999. O Brasil, assim
como México, Rússia, Tigres Asiáticos e Argentina sofreram fortes turbulências
econômicas entre meados e final da década de 1990.

No ano de 1994, o Brasil adotou o regime de câmbio fixo como forma de controle
inflacionário, uma vez que, associada à abertura do mercado, tal regime colocava
os bens produzidos internamente em concorrência direta contra os produtos
de outros países, onde prevaleceria o preço do produto mais barato, contendo
qualquer pressão inflacionária decorrente do aumento dos custos no Brasil.

O Brasil, por ser um país emergente, poucos anos após o início do processo de
estabilização econômica, sofreu diretamente com os efeitos das crises anteriores,
uma vez que não havia grandes discrepâncias na política macroeconômica que
pudessem levar os investidores internacionais a tomar alguma atitude avessa ao
risco. Segundo o Boletim do Dieese de 1998, ano da crise que afetou Rússia e
Tigres Asiáticos:

A crise atual é, sem dúvida, a maior no que diz respeito à


gravidade e ao número de países atingidos. Com efeito,
ela deslanchou no Sudeste asiático em 1997, em seguida
desestabilizou o Japão para depois se generalizar em outros
países emergentes da Europa (Rússia) e a seguir na América
Latina (Brasil). Não há dúvida de que ela afetará profundamente a
economia mundial, a começar pelos Estados Unidos e os países
da União Europeia. Trata-se, pois, de uma crise sistêmica global
porque não se reduz a um acidente financeiro, mas atinge as
bases profundas do crescimento mundial. (DIEESE, 1998).

Os efeitos da crise e desconfiança internacional foram intensos no Brasil, levando


o governo a elaborar um pacote de estabilização da econômica. O período em
questão, outubro de 1998, foi marcado por uma forte política de elevação da taxa
de juros, a fim compensar os riscos de um investimento em um país emergente,
visto por muitos como a “bola da vez”.

Entretanto, a política não teve o resultado esperado, e o Brasil acabou tendo


uma perda do nível das reservas internacionais na ordem de US$ 24,9 bilhões
entre os meses de agosto e outubro de 1998, muito mais por desconfiança dos
investidores que pela baixa rentabilidade dos investimentos, até porque o retorno
era extremamente alto, se comparado a outros países.

Essa crescente perda de reservas, e a consequente pressão sobre o câmbio


ainda fixo, levou o governo brasileiro a recorrer a empréstimo ao FMI, que exigiu o
comprometimento do país com a taxa de câmbio vigente e o equilíbrio das contas

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Contabilidade Social

públicas. Tal empréstimo era necessário, pois seria impossível manter o câmbio
valorizado tendo déficit nas contas externas e altas taxas de juros.

Entre as medidas de curto prazo, o Brasil compromete-se a reduzir os gastos


orçamentais na ordem de 20%, equivalendo a R$ 8,7 bilhões, além de cortes
nos investimentos de empresas estatais na ordem de R$ 2,7 bilhões, o governo
compromete-se a combater de forma mais austera a sonegação e a renúncia
fiscal, o que poderia resultar em uma receita adicional de R$ 2 bilhões ao ano.

A previdência social também precisava ter suas contas ajustadas. Assim, foi
criada uma cota de contribuição de 11% para funcionários públicos inativos
e aposentados, além de uma taxação maior para aqueles contribuintes que
ganhassem mais de R$ 1.200,00 na época. Essas medidas gerariam receita de R$
4,4 bilhões para o governo.

O governo promove, também, um aumento dos impostos, como é o caso da já


extinta Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores
e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF), que passou de 0,30 para
0,38% e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS), que
passou de 2 para 3%. Ainda foram adotadas medidas de médio e longo prazo
que incluiriam reforma administrativa, trabalhista, previdenciária e tributária.

Em paralelo a tais medidas, em janeiro de 1999, em decorrência da


impossibilidade de manter a política econômica apoiada em âncoras de câmbio
valorizado a altos juros, o governo promove a desvalorização do real. Inicialmente
uma desvalorização de aproximadamente 8,5%, em que a relação entre o real e o
dólar passou a ser de R$ 1,32/ US$ 1,00.

Entretanto, em virtude do ataque especulativo não ter cessado e a fuga de


capitais continuasse ocorrendo, o Banco Central do Brasil promoveu uma nova
desvalorização, pois, para manter o câmbio no patamar anterior, era necessário
“queimar” boa parte das reservas internacionais para aumentar a oferta de dólares
no mercado, o que não era mais possível em decorrência do baixo nível de
reservas do Brasil. Tal medida gerou uma desvalorização da moeda brasileira no
mês de janeiro de 1999 em torno 50%.

Esse exemplo deixa evidente a relação que o Brasil teve com FMI no final da
década de 1990 e demonstra, principalmente, a importância das reservas
internacionais de um país para contornar uma crise econômica sem alterar
profundamente sua política cambial, além, ainda, da necessidade dessas reservas
para garantir a operacionalização do balanço de pagamentos.

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Capítulo 4

2.3 A relação entre balanço de pagamentos e reservas


De forma resumida, podemos considerar, que:

Balanço de pagamentos = – Reservas.

Ou seja, o valor final do balanço de pagamentos deve ser igual ao da variação de


reservas, mas ambos precisam ter sinal trocados.

Expandindo, temos:

Balanço de pagamentos + Reservas = 0.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 142),

um saldo positivo no balanço de pagamentos implica um saldo


negativo na conta de variação de reservas, lembrando que um
saldo negativo significa uma elevação das reservas do país.
Percebe-se também que o resultado do balanço de pagamentos
em transações correntes (TC) é igual ao sinal inverso da soma
do resultado do movimento de capitais (MC) com o saldo das
variações de reservas (R).

Diante desse contexto, é importante compreender que um déficit no balanço de


pagamentos, como foi o caso do Brasil no final da década 1990, impõe ao país
a necessidade de obter recursos no exterior por meio de operações financeiras
de modo a fazer frente à necessidade de moeda estrangeira para manter seu
relacionamento com o exterior.

Por essa razão, há tamanha correlação entre a soma do movimento de capitais e o


saldo das variações de reservas. Assim, a conta de variação de reservas evidencia
a necessidade de financiamento, no caso de um déficit, para garantir as operações
internacionais do país. E em virtude de a mensuração das contas de um país não
ser precisa, logo haverá a necessidade do uso da conta de erros e omissões.

Essa conta é necessária para assumirmos nossa última prova real do balanço de
pagamentos, uma vez que, se somarmos o saldo do movimento de capitais ao
saldo do balanço de pagamentos em transações correntes e a conta de erros
e omissões, teremos então o saldo total do balanço de pagamentos. A conta
de variação de reservas, nesse caso, deve demonstrar o mesmo resultado para
garantir o equilíbrio final do balanço de pagamentos.

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Contabilidade Social

2.4 A relação entre governos e empresas e o impacto no


balanço de pagamentos
De uma forma geral, as principais variáveis do balanço de pagamentos estão
relacionadas ao comércio internacional, representados pela balança comercial, e
conta de capital, em especial ao financiamento público necessário para financiar
o déficit do governo.

Pelo lado da balança comercial, devemos compreender que as empresas estão


em constante processo de análise e que mercados em potencial podem levar
empresas a decisões de investimento direto no país.

A balança comercial e os investimentos diretos são indicadores importantes


para compreender a maturidade do mercado e, principalmente, a
expectativa de crescimento econômico para o país, bem como a geração
de renda e competitividade.

As empresas com sede nos países desenvolvidos são responsáveis pela maior
parte do investimento direto externo no mundo. Em grande parte, tais empresas
buscam mercados ainda inexplorados com grande expectativa de rentabilidade.
Elas buscam, também, espaços regionais que possam apresentar alguma
vantagem comparativa, seja para a produção destinada ao mercado interno ou
externo, além de facilidades fiscais concedidas por alguns governos.

Por outro lado, temos a conta de capital, referente à questão da dívida pública,
que tem início com o déficit orçamentário, ou seja, quando os gastos do governo
excedem sua receita fiscal. Nesse caso, quando uma administração se depara
com um déficit orçamentário, surge um questionamento.

Mas como o déficit orçamentário será financiado?

Existem algumas alternativas de financiamento do déficit orçamentário, sendo as


principais o financiamento monetário e o financiamento pelo endividamento público.

O financiamento monetário implica em um imposto inflacionário, ou seja, o


próprio governo cria novas moedas com intuito de financiar seu déficit, lançando
assim mais dinheiro no mercado e, consequentemente, inflacionando-o.

Já o financiamento pelo endividamento público consiste praticamente na emissão


de títulos da dívida pública, e em empréstimos de intermediários financeiros
internacionais, lançados no balanço de pagamentos. Segundo Dornbusch e
Fisher (1991, p. 688):

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Capítulo 4

Quando o tesouro financia seu déficit pelo empréstimo do


público, ele se engaja em um financiamento pela dívida. As
pessoas e as firmas, incluindo bancos comerciais e outras
instituições financeiras, pagam pelos títulos com cheques. Os
cheques são depositados tanto nas contas do Tesouro nos
bancos privados (“contas de imposto e financiamento”) quanto
no Banco Central. Os fundos podem então ser gastos pelo
Tesouro da mesma forma que as receitas fiscais.

Vale ressaltar que todo Estado está alicerçado sobre uma receita orçamentária
originada de uma carga tributária, a qual é extraída de seus residentes e de
transações econômicas com o resto do mundo. São diversas as maneiras
pelas quais o Estado arrecada sua receita, sendo a principal delas a tributação
incidente sobre a renda de seus residentes e as tarifas e alíquotas que incidem
sobre as exportações.

Nesse contexto surge o orçamento fiscal, que mostra a relação entre a receita
tributária arrecadada pelo governo e as suas respectivas despesas, sendo
caracterizado superávit fiscal ou orçamentário, quando o governo arrecada mais
do que o montante destinado às suas despesas, e déficit fiscal ou orçamentário
quando ocorre o oposto.

2.4.1 Déficit orçamentário


Num cenário econômico em que um governo possua um déficit orçamentário,
ele necessitará de mais recursos para saldar esse déficit. Para isto lançará no
mercado financeiro títulos da dívida pública, ou seja, ele emite certificados
de endividamento que renderão dividendos ao portador, ou então tomará
empréstimos junto a organismos financeiros internacionais.

Esses empréstimos, via títulos ou organismos financeiros internacionais,


formam a dívida pública, que nada mais é que o montante dos déficits
fiscais anteriores, acumulados e corrigidos monetariamente.

Um déficit orçamentário pode surgir em diferentes contextos, como, por exemplo,


uma política macroeconômica ineficiente ou então com gastos exacerbados
do governo – como os que ocorreram em períodos de guerras. Entretanto,
independentemente do motivo de sua origem, ele provoca vários impactos negativos
na economia, uma vez que reduz o valor dos fundos emprestáveis, os quais são
destinados aos empréstimos para financiar os novos investimentos da economia.

Essa redução de valor nos fundos diminui também o nível geral de investimentos
das empresas, em especial as multinacionais, pois a poupança nacional que é a

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Contabilidade Social

fonte da oferta dos fundos emprestáveis, é composta pela poupança privada e


pela poupança pública. A poupança privada diz respeito à renda que fica para as
famílias após terem pago os impostos e o consumo, já a poupança pública é a
receita tributária que fica para o governo depois de ter pago suas despesas.

Concluímos então que um déficit fiscal representa uma poupança pública


negativa que, por sua vez, causa a redução nos fundos emprestáveis, e,
consequentemente, uma alteração no equilíbrio do mercado desses fundos,
pois a alteração negativa na poupança pública resulta na diminuição da oferta
de fundos emprestáveis, elevando assim a taxa de juros e, consequentemente,
diminuindo os investimentos na economia.

Segundo Mankiw (2001, p. 574),

quando o governo reduz a poupança nacional mediante um


déficit orçamentário, a taxa de juros aumenta e o investimento
se reduz. Como o investimento é importante para o crescimento
econômico de longo prazo, o déficit orçamentário do governo
reduz a taxa de crescimento da economia.

2.4.2 Superávit orçamentário


Os superávits orçamentários funcionam de forma perfeitamente oposta ao déficit.
Num cenário desse superávit a arrecadação tributária é superior aos gastos do
governo, a poupança pública sofre um aumento e, consequentemente, acontece
também um crescimento da poupança nacional, que resultará em mais fundos
emprestáveis, redução da taxa de juros e retomada do crescimento econômico
de longo prazo, uma vez que esse crescimento necessita de fundos destinados
ao seu investimento.

Nesse sentido, todo governo, que se encontra obtendo déficits fiscais, luta
para a sua extinção. A maneira mais comum e mais adotada para alcançar esse
objetivo é a contenção de despesas e o aumento da carga tributária, medidas
que incorrem também em restrições para o crescimento econômico, mas que não
cabem ser discutidas neste momento.

Cabe destacar que a partir do momento em que o governo passa a administrar


um superávit surgem algumas alternativas para sua utilização, como mostra
Mankiw (2001, p. 800): “Quando os formuladores da política econômica se
deparam com superávits orçamentários têm três opções: reduzir os impostos,
aumentar as despesas ou reduzir a dívida pública”.

A escolha entre essas três opções não é fácil, porém, a solução de reduzir a
dívida pública se torna uma alternativa mais sustentável a longo prazo, apesar de
apresentar prós e contras.

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Capítulo 4

2.5 A dívida pública e os impactos no balanço de pagamentos


A dívida pública inicia-se com o déficit orçamentário, mais precisamente com as
medidas tomadas para solucioná-lo. Porém, no longo prazo, essa dívida terá de
ser quitada ou será aprofundada constantemente, rendendo juros ao financiador
e implicando vários atrasos no crescimento econômico do país, pois reduz o
montante de recursos que poderiam ser gastos com benefícios à nação.

No entanto, diante da possibilidade de obtenção de superávits e do


endividamento em que se encontra o governo, surge a possibilidade de redução
da dívida pública, amortizando-a com os superávits orçamentários, e com isso
reduzir o ônus sobre os futuros contribuintes. Como afirma Mankiw (2001, p. 798):

O efeito mais direto da dívida pública é colocar um ônus sobre as


futuras gerações de contribuintes. Quando essas dívidas e os juros
acumulados chegarem ao vencimento, os futuros contribuintes se
verão diante de uma escolha difícil. Podem pagar impostos mais
altos, desfrutar de menores despesas do governo, ou ambas as
coisas, a fim de tornar disponíveis os recursos necessários ao
pagamento da dívida e de seus juros. Ou podem adiar o dia da
verdade e aprofundar ainda mais o endividamento do governo
para pagar a dívida antiga e seus encargos. Em essência, quando
o governo incorre em um déficit orçamentário, ele permite que os
atuais contribuintes transfiram parte do pagamento das despesas
correntes do governo aos futuros contribuintes.

Assim, a solução de utilizar o superávit fiscal para reduzir a dívida pública se


mostra interessante no aspecto em que protege as futuras gerações de cargas
tributárias intensificadas, porém, como já mencionamos, a dívida pública nada
mais é que déficits orçamentários acumulados originados por outra administração
em outros tempos.

Frente a esse contexto surge a seguinte indagação: Será justo utilizar o superávit
atual para reduzir a dívida pública e proteger as futuras gerações de tributos
intensos, em vez de devolvê-lo à população atual – sua fonte, sob a forma de
redução de tributos ou assistências públicas como educação, saúde, lazer, etc.?

Uma das formas mais democráticas de darmos fim a essa indagação é a consulta
popular, pois é a geração atual quem contribui e origina os superávits. Assim,
nada mais justo que a mesma decidir como utilizá-lo, sendo para reduzir a dívida
pública ou para reduzir a carga tributária que incide sobre suas rendas.

No caso brasileiro, a partir de 1991 foi iniciado um processo de substituição da


dívida externa pela dívida pública interna, sendo que a dívida externa líquida foi
reduzida pela acumulação de reservas internacionais, as quais foram utilizadas
para a compra de títulos da dívida pública, ocasionando uma remuneração

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Contabilidade Social

que, convertida em dólares, era muito superior à obtida a partir das reservas em
bancos no exterior.

No entanto, quando o governo adquiria títulos da dívida pública com as reservas


internacionais, aumentava, consequentemente, sua dívida pública interna, e como
o governo não conseguia realizar superávits fiscais suficientes para o pagamento
dos juros dos títulos de sua dívida (dívida esta realizada com a compra de títulos
utilizando as reservas internacionais), o aumento da dívida interna foi muito
superior à redução da dívida externa.

Assim, diante dessa política e da globalização financeira mundial, e com as crises


ocorridas nos Tigres Asiáticos e Rússia, a entrada de capitais externos no país
caiu bruscamente devido ao efeito cascata nas bolsas de valores e à perda de
confiabilidade no mercado brasileiro, reduzindo assim as reservas internacionais.

Em virtude disso, o governo não conseguiu mais honrar com os seus


compromissos assumidos internamente, e assim reverteu o processo de
substituição da dívida, ocasionando um decréscimo na dívida interna
acompanhada de um acréscimo na dívida externa.

Esses fatos demonstram que o balanço de pagamentos e a contabilidade


social caminham juntos, e que as atividades do governo podem impactar
diretamente no balanço de pagamento e, em especial, em contas que afetam a
competitividade internacional do país.

Seção 3
Convergência entre contabilidade social e
balanço de pagamentos

3.1 A estrutura de débito e crédito no balanço de pagamentos


O balanço de pagamentos é fundamental para compreendermos a economia
de um país. Sua estrutura possui lançamentos a débito e a crédito e, portanto,
carecem da necessidade de equilíbrio final. O quadro a seguir apresenta a
estrutura contábil do balanço de pagamentos com o lançamento de cada uma de
suas contas e respectivas rubricas.

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Capítulo 4

Quadro 4.2 – Estrutura contábil do balanço de pagamentos

Balanço de pagamentos

1. Balança comercial

Exportações: Crédito

Importações: Débito

2. Balança de serviços

Exportação de serviços: Crédito

Importação de serviços: Débito

Lucros reinvestidos: Débito

3. Transferências unilaterais

Operação com recebimento de recursos ou mercadorias: Crédito

Operação com fornecimento de recursos ou mercadorias: Débito

5. Movimento de capitais

Ingresso de recursos: Crédito

Saída de recursos: Débito

8. Variação de reservas

Aumento das reservas: Débito

Redução das reservas: Crédito

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Para melhor compreendermos essa estrutura, vamos exercitar nosso aprendizado


por meio do seguinte exemplo prático: Supondo que uma empresa produtora de
aço realize a venda de uma carga para uma empresa da China, cujo valor dessa
venda seja de US$ 5 milhões. Nesse caso, teremos um lançamento a crédito na
balança comercial, na rubrica de exportação.

Entretanto, precisamos respeitar o método das partidas dobradas, ou seja, fazer


aquele lançamento a débito para o equilíbrio interno das contas. Nesse cenário,
teremos duas opções.

A primeira opção, se a venda foi à vista, é debitar o valor de US$ 5 milhões na


parte de variação de reservas, pois houve o ingresso de US$ 5 milhões no país.
A segunda opção é que, se a venda não tenha sido totalmente à vista, podemos
dividir esse lançamento, desde que o somatório de todas as contas também seja
de US$ 5 milhões. Assim, se essa negociação for executada com parte do valor

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Contabilidade Social

à vista e parte a prazo, teríamos uma situação com dois lançamentos. Um, na
variação de reservas e outros na rubrica de empréstimos e financiamentos.

Nesse sentido, supondo que a referida operação seja 50% à vista e 50% a prazo,
teríamos então US$ 2,5 milhões lançados na variação de reservas e outros US$ 2,5
milhões lançados a débito, na saída de recursos, pois configura um empréstimo.

Apesar de simples, esse exemplo demonstra como é analisar e montar uma


operação no balanço de pagamentos. Entretanto, em virtude de estarmos
tratando de teoria econômica, nem tudo é tão simples quanto parece, uma vez
que sempre teremos uma série de exceções a todas as regras.

3.2 Exceções ao conceito de balanço de pagamentos

3.2.1 Lucros reinvestidos


A primeira exceção referente ao balanço de pagamentos corresponde à rubrica
de lucros reinvestidos, pois precisamos fazer mais de uma operação para realizar
os lançamentos contábeis. No caso da exportação, como mostrado no exemplo
anterior, fizemos apenas o lançamento da exportação e a contrapartida em débito.

No entanto, em se tratando de uma remessa de lucros, precisamos, primeiro,


debitar o valor da conta de rendas de capital e creditar na conta de variação
de reservas. Depois, precisamos creditar o valor correspondente na conta de
investimentos e debitar na conta de variação de reservas.

Nesse caso, cabe ressaltar que, embora houvesse dois lançamentos, em


momento algum houve movimentação de capital, sendo apenas um movimento
contábil e não um fluxo financeiro, não se concretizando, portando, a saída de
recursos do país.

3.2.2 Transferências unilaterais


A outra exceção corresponde às transferências unilaterais. No caso de
recebimento de renda do exterior, desde que tenha sido enviada, por exemplo,
por um residente morando no exterior, devemos lançar a conta a crédito em
transferências unilaterais e a débito na conta de variação de reservas.

Entretanto, se essa operação envolver algum bem, como no caso de uma


ajuda humanitária, por exemplo, devemos fazer esse lançamento a crédito na
exportação, na hipótese de um país que esteja auxiliando outro, e debitando na
conta de transferências unilaterais, sem fazer qualquer movimentação na conta
de variação de reservas.

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Capítulo 4

3.3 Exemplo de elaboração de balanço de pagamentos


Na sequência vamos analisar outro exemplo simples referente à elaboração do
balanço de pagamentos. A tabela a seguir mostra um exemplo hipotético de uma
economia.

Tabela 4.1 – Exemplo de elaboração de balanço de pagamentos

Operação Valor Pagamento

Exportação US$ 500 milhões À vista

Exportação US$ 300 milhões Prazo

Importação US$ 150 milhões À vista

Importação US$ 90 milhões Prazo

Turismo no exterior US$ 145 milhões -

Recebimento de turismo US$ 400 milhões -

Remessa de lucros US$ 9 milhões -

Reinvestimento US$ 4 milhões -

Pagamento de juros US$ 5 milhões -

Investimento direto US$ 35 milhões -

Amortização US$ 10 milhões -

Recebimento de transferências US$ 1 milhão -

Empréstimos US$ 3 milhões -

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Vamos, na sequência, construir nosso exemplo de acordo com cada operação


apresentada no quadro anterior, realizando os devidos lançamentos a crédito e a débito.

A primeira operação é contabilizada na balança comercial do país em estudo, sendo


um lançamento a crédito na rubrica de exportação no valor de US$ 500 milhões e um
lançamento a débito na conta de variação de reservas, no mesmo valor.

A segunda operação segue a mesma lógica; contudo, nesse caso temos um


lançamento a crédito de US$ 300 milhões na rubrica de exportações e um
lançamento a débito com o mesmo valor na conta de empréstimos e financiamentos.

A terceira operação é inversa à segunda, pois como é uma importação, lançamos


um débito no valor de US$ 150 milhões na conta de importações e um crédito do
mesmo valor na conta de variação de reservas.

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Contabilidade Social

No mesmo sentido, só que neste caso é uma operação de longo prazo, a


quarta operação tem um lançamento a débito no valor de US$ 90 milhões na
conta de importação e um lançamento a crédito do mesmo valor na rubrica de
empréstimos e financiamentos.

No que diz respeito ao turismo no exterior, ou seja, de residentes daquele país


fazendo turismo em outros países, temos um lançamento a débito na rubrica de
turismo no valor de US$ 145 milhões e um lançamento a crédito na variação de
reservas, no mesmo valor.

Já no caso de o país receber turistas, temos um lançamento a crédito de US$


400 milhões na mesma conta de turismo e um lançamento a débito na conta de
variação de reservas, no mesmo valor.

Com relação à remessa de lucros, em virtude de o país estar remetendo lucros ao


exterior, então devemos debitar US$ 9 milhões da conta de rendas de capital e
creditar o mesmo valor na conta de variação de reservas.

No que se refere ao reinvestimento, os lançamentos devem ser feitos de duas


formas: o primeiro lançamento de US$ 4 milhões deve ser feito a débito na
rubrica de renda de capitais, e um segundo lançamento de mesmo valor na conta
de variação de reservas. Depois, um terceiro lançamento a crédito na rubrica de
investimentos e um quarto lançamento a débito na conta de variação de reservas.
Ambos, também no valor de US$ 4 milhões.

No caso do pagamento de juros, realizamos um lançamento a débito na rubrica


de rendas de capital, no valor de US$ 5 milhões, e um lançamento a crédito na
conta de variação de reservas no mesmo valor.

Quando a operação é de investimentos diretos, realizamos um lançamento a


débito na variação de reservas no valor de US$ 35 milhões e um lançamento a
crédito de mesmo valor na rubrica de investimentos.

No caso da amortização, temos um lançamento a débito no valor de US$ 10


milhões na rubrica de amortização e um lançamento a crédito no valor de mesmo
valor na conta de variação de reservas.

Quando o país recebe transferências de residentes no exterior, então realizamos


um lançamento a débito no valor de US$ 1 milhão na variação de reservas e uma
contrapartida a crédito de mesmo valor na conta de transferências unilaterais.

Por fim, em nosso exemplo, temos um empréstimo que deve ser contabilizado
com um lançamento a débito na conta de variação de reservas no valor de US$ 3
milhões e uma contrapartida a crédito de mesmo valor na rubrica de empréstimos
e financiamentos.

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Capítulo 4

Consolidando os dados e lançamentos apresentados de acordo com nossa


estrutura do balanço de pagamentos, temos o seguinte resultado:

Tabela 4.2 – Resultado da elaboração do balanço de pagamentos

Balanço de pagamentos

1. Balança comercial: + $ 560

1.1 Exportações: + $ 500 + $ 300

1.2 Importações: – $ 150 – $ 90

2. Balança de serviços: + 246

2.1 Transportes: fretes, seguros, etc.

2.2 Turismo e viagens internacionais: – $ 145 + $ 400

2.3 Rendas de capital: remessa de lucros, lucros reinvestidos e juros – $ 9

2.4 Serviços governamentais

2.5 Diversos

3. Transferências unilaterais: + $ 1

4. Saldo do balanço de pagamentos em transações correntes: + $ 807

5. Movimento de capitais: – $ 183

5.1 Investimentos diretos: + $ 35

5.2 Reinvestimentos: + $ 4

5.3 Empréstimos e financiamentos: – $ 300 + $ 90 – $ 5 + $ 3

5.4 Amortizações de empréstimos: – $ 10

5.5 Capitais de curto prazo

5.6 Empréstimos de regularização

5.7 Outros capitais

6. Erros e omissões

7. Saldo total do balanço de pagamentos: – $ 183

8. Variação das reservas: – $ 500 + 150 + 145 – 400 + 9 – 1 – 35 – 4 + 5 – 3 + 10: – $ 624

Fonte: Elaboração do autor (2014).

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Contabilidade Social

Ao analisarmos esse resultado do balanço de pagamentos, podemos notar que:

Este país hipotético é superavitário em sua balança comercial e de serviços.


Contudo, deficitário em sua conta de movimento de capitais. Isso indica que o
país, além de forte exportador de mercadorias, também é um grande credor do
comércio internacional.

No mesmo sentido, em razão do seu baixo volume de empréstimos e


amortizações, podemos considerar que este país é pouco endividado, o que
pode representar uma economia mais desenvolvida.

Nesse caso, o país é superavitário em seu balanço de pagamento, não havendo


a necessidade de contratação de crédito para equilibrar as contas. Ou, em
casos mais extremos, não é necessário contratar serviços de financiamento
internacional, tal como FMI, para fazer frente as necessidades de financiamento
do balanço de pagamentos.

3.4 Considerações sobre a taxa de câmbio


Os lançamentos de nosso exemplo foram todos realizados em moeda
internacional, no caso do dólar, que é a moeda de conversão oficial para a
mensuração do balanço de pagamentos de um país. Entretanto, é importante
fazermos as seguintes considerações.

Primeiro, a taxa de câmbio é o preço em moeda nacional de uma unidade de


moeda estrangeira, ou seja, é o valor da moeda estrangeira no mercado interno.

Segundo, a desvalorização nominal da taxa de câmbio corresponde à elevação


do valor da moeda estrangeira no mercado interno. Por exemplo, antes de uma
desvalorização é possível comprar US$ 1,00 com R$ 2,00. Após a desvalorização,
são necessários mais de R$ 2,00 para comprar o mesmo US$ 1,00.

Já a valorização nominal tem efeito contrário, ou seja, a moeda estrangeira perde


valor perante a moeda doméstica. Por exemplo, antes da valorização é possível
comprar US$ 1,00 com R$ 2,00. Após a valorização é necessário menos de
R$ 2,00 para comprar o mesmo dólar.

A valorização e a desvalorização atingem diretamente as transações entre


residentes e não residentes. Utilizando as transações unilaterais como exemplo,
podemos notar que uma mesma quantidade de uma moeda estrangeira qualquer
enviada por não residentes pode vir a ter valores diferentes no mercado interno
de acordo com a taxa de câmbio.

141

contabilidade_social.indb 141 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Por exemplo, R$ 3,00 = US$ 1,00 com uma desvalorização da taxa de câmbio,
R$ 3,50 = US$ 1,00, fazendo com que o residente receba uma quantia superior
ao esperado, ao contrário de uma valorização, em que o residente receberia
menos R$ 2,50 = US$ 1,00.

A taxa de câmbio também tem influência direta no desempenho da balança


comercial, em que a desvalorização estimula a exportação, já que torna mais
barato o preço do produto nacional no mercado mundial. Em contrapartida,
desestimula as importações, ao contrário da valorização, que torna os produtos
de outros países mais competitivos, estimulando as importações e, em
contrapartida, desestimulando as exportações.

Cabe ressaltar que na taxa de câmbio nominal não consideramos os índices


de preços sendo essa uma conta simples. Já na taxa de câmbio real inclui-se
a inflação, tanto a interna quanto a externa (do país pelo qual se deseja obter o
valor da taxa de câmbio) e que tem como fórmula:

E = e(P*/P).

Em que:

E: Taxa de câmbio real.


e: Taxa de câmbio nominal.
P*: Índice de preços externo.
P: Índice de preços interno.

Segundo Paulani e Braga (2007, p. 153),

a partir do conceito de taxa real de câmbio assim definida,


estamos considerando tanto a inflação o interna quanto a
externa. A ideia é simples. A inflação interna tende a encarecer
os produtos de exportação e tornar mais baratos os produtos
importados. Já a inflação externa tende a encarecer os produtos
que importamos e estimular nossas exportações.

Diante deste contexto é de suma importância compreender o conceito de taxa


real de câmbio por meio do estudo da política cambial, pois é através dela que
investidores e empresas decidem pela alocação do seu capital ao redor do mundo.

3.5 Política cambial


A política cambial tem forte correlação com o desenvolvimento e a estabilidade
econômica. Um aumento do poder de compra do país em relação ao restante
do mundo resulta, no médio e longo prazo, no aumento da produtividade e,
consequentemente, na redução da taxa de câmbio.

142

contabilidade_social.indb 142 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

No curto prazo, por medidas artificiais, um aumento da taxa de câmbio pode


resultar no aumento do PIB, em razão da redução do preço dos produtos
nacionais em termos de moeda externa, e a consequente redução do preço para
exportação (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).

O regime de bandas A política cambial tem como objetivo garantir uma taxa
cambiais é um sistema nominal e real de câmbio dentro das bandas cambiais
econômico utilizado
por Bancos Centrais
definidas pelo governo, tendo assim impacto direto nas
para estabelecer contas do balanço de pagamentos, uma vez que esse
uma faixa de preço balanço também contabiliza as transações feitas com
onde o câmbio flutue
o exterior. Para fins de política econômica, a taxa real
livremente, sem
intervenção do governo. de câmbio tem maior importância, a qual depende da
diferença entre a inflação interna e externa.

A conta-corrente do balanço de pagamentos é estratégica para o país, pois


é um importante indicador da competitividade dos produtos nacionais no
mercado internacional. Essa conta é composta pela balança comercial e de
serviços, que registram as atividades de exportação e importação de um país.

Segundo Leite (1994, p. 304), “o saldo desse balanço é o resultado final de


um complexo conjunto de forças e políticas econômicas que determinam a
capacidade comercial do país”.

Por essa razão, os instrumentos de política cambial são estratégicos para a


economia de um país, uma vez que a taxa de câmbio representa os preços da
economia nacional frente aos compradores internacionais, além de representar o
custo dos produtos importados frente aos compradores nacionais.

Segundo Cleto e Dezordi (2002, p. 21),

o mercado de câmbio (divisas) é formado pelos diversos agentes


econômicos que compram e vendem moeda estrangeira,
conforme suas necessidades. Empresas que vendem
mercadorias ou ações no exterior estão aumentando a oferta de
moeda estrangeira, em particular o dólar, pois sua receita ocorre
em moeda estrangeira. Empresas que compram bens ou ações
do exterior estão demandando moeda estrangeira (dólar), pois
seus gastos ocorrem em dólares.

Sendo assim, o preço da moeda estrangeira em relação à moeda nacional é


determinado por meio das transações no mercado câmbio, cujo preço final
recebe o nome de taxa de câmbio (R$/US$).

143

contabilidade_social.indb 143 02/10/14 15:24


Capítulo 4

É importante destacar que todas as relações econômicas, comerciais e


financeiras dos agentes econômicos com o exterior são registradas no balanço
de pagamentos, e eventuais déficits correspondem à saída de dólares superior ao
seu ingresso.

As empresas brasileiras, por exemplo, que exportam e importam são dependentes


da taxa de câmbio e, principalmente, das políticas adotadas pelo governo. Por essa
questão, compreender o funcionamento desse mercado é fundamental. Segundo
Cleto e Dezordi (2002, p. 24), podemos ter três políticas básicas:

a. Regime de câmbio flutuante: Neste caso não há intervenção do


Banco Central (BC) no mercado de câmbio. O preço da moeda
estrangeira, ou a taxa de câmbio, é determinado exclusivamente
pela interação entre oferta e demanda.
No regime de câmbio flutuante o Banco Central não compra e não
vende dólares. Esse regime cambial é adotado nos principais países
desenvolvidos. No Brasil, após a desvalorização do real frente ao
dólar em 1999, o país adotou um regime híbrido de câmbio, que
mais se aproxima do câmbio flutuante.

b. Regime de câmbio fixo: Este regime representa um caso


extremo de controle do mercado pelo Banco Central, o qual regula
constantemente o mercado. Assim, caso haja um excesso de
procura/demanda por dólares, o BC vende dólares ao mercado
para que o câmbio não se desvalorize.
Em um cenário oposto, em que ocorra um excesso de oferta de
dólares no mercado, o Banco Central compra o excesso para
que o câmbio não se valorize. Alguns países da América Latina,
tais como Equador e Uruguai, também adotam ou adotaram esse
sistema, sendo que a Argentina adotou esse regime durante a
década de 1990.

Esses países buscavam uma alternativa para controlar o nível de


preços internos, fortalecendo a moeda nacional, pois ela estava
atrelada a uma taxa determinada de câmbio. Controlar o mercado de
câmbio exige do Banco Central certo nível de reservas internacionais
(cambiais), uma vez que, se a economia do país sofrer uma fuga
significativa de capitais (dólares), o BC perderá muitas reservas e,
consequentemente, pode desvalorizar a moeda local.

c. Formas híbridas de câmbio: Formas híbridas de câmbio são


maneiras de o Banco Central atuar sobre este. É uma mistura entre
o câmbio fixo e o câmbio livre ou flutuante.

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contabilidade_social.indb 144 02/10/14 15:24


Contabilidade Social

Existem inúmeras maneiras intermediárias de se atuar sobre o câmbio entre o


câmbio fixo e o câmbio livre; contudo, vamos destacar duas delas pelo fato de
terem sido utilizadas na economia brasileira no período de 1994 até 2002, sendo
elas o regime de bandas cambiais e dirty float (flutuação suja).

Segundo Cleto e Dezordi (2002, p. 25),

O Regime de Bandas Cambiais, que foi utilizado na economia


brasileira para o período de 1994 a 1999, adota uma flutuação
para a taxa de câmbio dentro de determinados limites, ou
seja, estabelece um teto e um piso. Esta forma de câmbio é
considerada híbrida, porque entre os parâmetros, superior e
inferior, o câmbio flutua livremente, aproximando-se dessa forma
do câmbio livre. Todavia, quando a taxa de câmbio aproxima-se
ou ultrapassa as bandas, as autoridades intervêm no mercado
comprando ou vendendo divisas (dólares) até que a taxa retorne
aos patamares estabelecidos. Sendo assim, podemos considerar
essa taxa fixa dentro de determinados valores.

É muito comum um país definir bandas de variação do câmbio e intervir sempre


que a cotação da moeda estrangeira ultrapassar alguma dessas bandas, pois o
impacto na economia nacional pode ser muito forte, principalmente em setores
exportadores ou setores que dependem de produtos importados.

3.6 Déficits e superávits no balanço de pagamentos


A palavra déficit, isoladamente, é assustadora. Entretanto, como estudiosos em
economia, devemos analisar a essência da questão, refletindo sobre os motivos
que levam um país a ser deficitário em seu balanço de pagamentos.

Países em desenvolvimento, principalmente aqueles que estão


reformulando suas plantas industriais, tendem a apresentar déficits no
balanço de pagamentos no curto prazo, principalmente na balança
comercial, quando o volume de importações ultrapassa o volume de
exportações (BLANCHARD, 2007).

A questão central entre um déficit ter impacto positivo ou negativo depende,


exclusivamente, de um conceito temporal: curto prazo. Caso seja um déficit de
curto prazo, então não há maiores problemas econômicos envolvidos e, dessa
forma, a maior preocupação do governo deve ser em equilibrar as contas internas
do balanço de pagamentos.

145

contabilidade_social.indb 145 02/10/14 15:24


Capítulo 4

No entanto, caso o déficit se apresente consistente e com tendências de longo


prazo, então o governo deve promover reformas ou políticas capazes de conter a
corrosão das contas externas. Dentre os principais ajustes, citamos:

1. Desvalorização cambial.
2. Elevação das tarifas de importação.
3. Estabelecimento de cotas de importação.
4. Concessão de subsídios às exportações.
5. Imposição de restrições à saída de capitais e à remessa de recursos
ao exterior.
6. Redução no nível de atividade da economia.
7. Elevação da taxa interna de juros.

A desvalorização cambial atua sobre as transações correntes e tem como


características os estímulos para as exportações e um decréscimo nas
importações, além de elevar o valor das viagens internacionais fazendo com que
o dinheiro circule dentro do mercado interno (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

No que diz respeito à elevação das tarifas de importação, no curto prazo restringe
as importações e com isso reduz o grau da abertura comercial. Já o
estabelecimento de cotas para importação limita a quantidade para a entrada de
produtos estrangeiros no país.

Com relação aos subsídios às exportações, eles fornecem isenções fiscais e


Dumping é uma tornam o produto nacional mais competitivo no mercado
prática comercial externo, estimulando as exportações. Esses subsídios são
relacionada a uma conhecidos como dumping.
ou mais empresas
venderem seus No que se refere às restrições, a saída de capitais e
produtos, mercadorias
ou serviços em
remessas de renda ao exterior têm como objetivo
mercados internacionais aumentar o saldo de movimento de capitais.
por preços abaixo dos
praticados no mercado Em se tratando da redução no nível de atividade econômica
interno. interna, esta tem como objetivo reduzir o consumo por bens
de consumo ou de capital importado e gerar um aumento
nas exportações, já que o desaquecimento do mercado interno faz com que os
produtores tendam a vender seus produtos no mercado externo.

Por fim, a elevação na taxa interna de juros, que tem como objetivo captar
capitais de curto prazo no mercado financeiro externo, eleva o saldo de capitais
no curto prazo.

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Contabilidade Social

Seção 4
O balanço de pagamentos no Brasil

4.1 O FMI e o balanço de pagamentos no Brasil


O Brasil adotou, na formulação da estrutura de seu balanço de pagamentos,
instruções e sugestões do FMI. Embora as diretrizes desse órgão tenham sido
publicadas em 1993, apenas em 2001 o Brasil reformula sua metodologia de
elaboração do balanço de pagamentos.

As principais alterações em relação ao modelo anterior correspondem à inclusão


das contas de operações de regularização, justamente para separar das demais
contas de capital qualquer aporte realizado por instituições financeiras de auxílio
ao país, como é o caso do FMI, e a inclusão da conta denominada “atrasados” no
saldo final do balanço de pagamentos.

4.2 A atual estrutura do balanço de pagamentos no Brasil


O balanço de pagamentos brasileiro é elaborado pelo Bacen e publicado
mensalmente no Boletim Mensal do Banco Central do Brasil, disponível em seu
portal na web. Até hoje, o balanço divulgado respeita a metodologia reformulada
em 2001, quando o país passou a mensurar suas transações com o exterior
através por meio de contas recomendadas pelo FMI.

Segundo o Bacen (2001), a estrutura de balanço de pagamento do Brasil é a


seguinte:

147

contabilidade_social.indb 147 02/10/14 15:24


Capítulo 4

Quadro 4.3 – Estrutura do balanço de pagamentos do Brasil

1. Balanço comercial

Exportação

Importação

2. Serviços rendas

Serviços

Viagens

Transportes

Seguros

Serviços governamentais

Royalties e licenças

Serviços financeiros, computação e informação

Construção

Comunicações

Serviços empresariais, profissionais e técnicos

Pessoais, culturais e recreação

Serviços diversos

Rendas

Salários e ordenados

Rendas de investimentos diretos (lucros e dividendos)

Rendas de investimentos em carteira (juros)

Rendas de outros investimentos (juros)

3. Transferências unilaterais correntes

Donativos de bens

Moeda para consumo interno

4. Saldo em conta-corrente do balanço de pagamentos (1 + 2 + 3 )

5. Conta de capital e conta financeira

Conta capital

Transferência unilateral de capital de migrantes

Alienação/aquisição de bens não financeiros, não produzidos (patentes e marcas)

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Contabilidade Social

Conta financeira

Investimento direto

No exterior (Participação no Capital/Empréstimos intercompanhias)

No Brasil (Participação no Capital/Empréstimos intercompanhias)

Investimento em carteira

Renda fixa

Renda variável

Derivativos

Swap

Opções

Futuro

Outros investimentos

Empréstimos e financiamentos (inclusive os empréstimos de regularização)

Moeda e depósito

Atrasados

Outros investimentos

6. Erros e omissões

7. Saldo total do balanço de pagamentos (4 + 5 + 6)

8. Variação das reservas ou haveres da autoridade monetária = (-9)

Fonte: Banco Central do Brasil (2001).

Conforme podemos observar no comparativo entre a metodologia brasileira e a


apresentada no quadro de nosso exemplo hipotético: resultado da elaboração do
balanço de pagamentos, esta tem algumas peculiaridades que, de forma geral,
denotam a importância do capital estrangeiro no país, principalmente em um
período em que o Brasil atravessava mais uma crise, estando na iminência de
quebrar após a crise da Argentina em 2002.

A primeira observação que temos corresponde à separação da conta de


serviços em duas contas. A primeira conta continua com o nome de serviços e
tem a função de registrar o ingresso e a saída de todos os fatores de produção,
enquanto a conta renda corresponde apenas ao ingresso ou saída de recursos
exclusivamente transacionados sob a condição de serviços (BACEN, 2001).

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Capítulo 4

As demais contas da parte de transação corrente permanecem iguais, não


havendo qualquer mudança metodológica significativa que precise ser explorada
por nós. Depois, temos a conta de capital e financeira, também com mudanças
metodológicas.

A conta de capital, assim como a conta de renda apresentada nas transações


correntes, tem como objetivo registrar as transferências de capital do exterior para
a economia interna com o propósito de aquisição ou alienação de bens intangíveis.

Segundo Luz (2010, p. 114),

houve a introdução da conta financeira em substituição a


antiga conta de capitais para registrar as transações relativas
à formação de ativos e passivos externos, como investimentos
diretos, investimento em carteira, derivativos e outros
investimentos. A conta financeira foi, portanto, estruturada de
forma a evidenciar as transações ativas e passivas, as classes de
instrumento financeiros de mercado e os prazos de transações.

A conta de investimento em carteira contabiliza os títulos de renda fixa


(debêntures) e de renda variável (ações) negociados no mercado externo e a
conta de derivativos que, como o próprio nome diz, corresponde às operações de
derivativos da empresa, em especial as relacionadas ao dólar, como as operações
de swap e no mercado de futuros.

Por fim, temos os haveres com as autoridades monetárias, que representam a


variação de reservas internacionais do país, no conceito de liquidez internacional,
deduzidos os ajustes referentes à valorização ou desvalorização das moedas
estrangeiras em relação ao dólar americano e o ganho ou perda relativos a
flutuações nos preços dos títulos e do ouro (BLANCHARD, 2007). Um sinal
negativo indica aumento nos haveres.

Podemos perceber, a partir dessa análise econômica brasileira, que a evolução


do balanço de pagamentos ocorreu devido às constantes mudanças do regime
de política econômica, as quais foram implementadas apenas após a estabilidade
econômica garantida pelo Plano Real.

Nesse sentido, somente após esse equilíbrio tornou-se possível analisar as


condições dos principais impactos das contas externas no PIB do país, bem
como analisar quais os principais entraves e as melhorias que precisam ser feitas
na economia para garantir maior equilíbrio das contas externas (BACEN, 2001).
As contas são:

1. Conta-corrente, que agrega a balança comercial, a balança de


serviços, rendas e as transferências unilaterais correntes líquidas; e

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Contabilidade Social

2. Conta capital e financeira, que agrega os investimentos diretos e


em carteira de estrangeiros no país e de brasileiros no exterior, além
de operações com derivativos e outros investimentos.

A soma do saldo final dessas duas grandes contas nos fornece o resultado final
do balanço de pagamentos.

4.3 A evolução do balanço de pagamentos no Brasil


O Bacen é responsável pela elaboração do balanço de pagamentos no Brasil, e
toda sua série histórica pode ser encontrada no portal web dessa instituição. Na
tabela a seguir temos a evolução do balanço de pagamentos desde 2002, cujos
valores consolidam os números do balanço de pagamentos desde 2002 até 2013.

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Tabela 4.3 – Evolução do balanço de pagamentos do Brasil
Balanço de Pagamentos
US$ milhões
Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Balança comercial (FOB) 13121 24794 33641 44703 46457 40032 24836 25290 20147 29793 19395 2558
Exportação de bens 60362 73084 96475 118308 137807 160649 197942 152995 201915 256040 242578 242179
Importação de bens -47240 -48290 -62835 -73606 -91351 -120617 -173107 -127705 -181768 -226247 -223183 -239621
Serviços e rendas (líquido) -23148 -23483 -25198 -34276 -37120 -42510 -57252 -52930 -70322 -85251 -76489 -87296
Serviços -4957 -4931 -4678 -8309 -9640 -13219 -16690 -19245 -30835 -37932 -41042 -47523
Receita 9551 10447 12584 16047 19476 23954 30451 27728 31599 38209 39864 39118
Despesa -14509 -15378 -17261 -24356 -29116 -37173 -47140 -46974 -62434 -76141 -80905 -86642
Rendas -18191 -18552 -20520 -25967 -27480 -29291 -40562 -33684 -39486 -47319 -35448 -39772
Receita 3295 3339 3199 3194 6462 11493 12511 8826 7405 10753 10888 10071
Despesa -21486 -21891 -23719 -29162 -33942 -40784 -53073 -42510 -46892 -58072 -46335 -49843
Transferências unilaterais correntes 2390 2867 3236 3558 4306 4029 4224 3338 2902 2984 2846 3364
TRANSAÇÕES CORRENTES -7637 4177 11679 13985 13643 1551 -28192 -24302 -47273 -52473 -54249 -81374
Capítulo 4

CONTA CAPITAL E FINANCEIRA 8004 5111 -7523 -9464 16299 89086 29352 71301 99912 112381 70010 73778

152
Conta capital 433 498 372 663 869 756 1055 1129 1119 1573 -1877 1194

contabilidade_social.indb 152
Conta financeira 7571 4613 -7895 -10127 15430 88330 28297 70172 98793 110808 71886 72583
Investimento direto 14108 9894 8339 12550 -9380 27518 24601 36033 36919 67689 68093 67541
Investimento brasileiro direto -2482 -249 -9807 -2517 -28202 -7067 -20457 10084 -11588 1029 2821 3496
Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

contabilidade_social.indb 153
Participação no capital -2402 -62 -6640 -2695 -23413 -10091 -13859 -4545 -26782 -19533 -7555 -14760

Empréstimo intercompanhia -81 -187 -3167 178 -4789 3025 -6598 14629 15195 20562 10377 18256

Investimento estrangeiro direto 16590 10144 18146 15066 18822 34585 45058 25949 48506 66660 65272 64045
Contabilidade Social

Participação no capital 17118 9320 18570 15045 15373 26074 30064 19906 40117 54782 52838 41644

Empréstimo intercompanhia -528 823 -424 21 3450 8510 14994 6042 8390 11878 12434 22401

Investimentos em carteira -5119 5308 -4750 4885 9081 48390 1133 50283 63011 35311 8770 25830

Investimento brasileiro em carteira -321 179 -755 -1771 6 286 1900 4125 -4784 16858 -7764 -8913

Ações de companhias estrangeiras -389 -258 -121 -831 -915 -1413 257 2582 6211 8801 -2275 -1462

Títulos de renda fixa 67 437 -633 -940 921 1699 1643 1542 -10995 8057 -5489 -7451

Investimento estrangeiro em carteira -4797 5129 -3996 6655 9076 48104 -767 46159 67795 18453 16534 34742

Ações de companhias brasileiras 1981 2973 2081 6451 7716 26217 -7565 37071 37671 7174 5600 11635

Títulos de renda fixa -6778 2156 -6076 204 1360 21887 6798 9087 30124 11278 10934 23107

Derivativos -356 -151 -677 -40 41 -710 -312 156 -112 3 25 110

Ativos 933 683 467 508 482 88 298 322 133 252 150 382

Passivos -1289 -834 -1145 -548 -441 -799 -610 -166 -245 -249 -125 -271

Outros investimentos -1062 -10438 -10806 -27521 15688 13131 2875 -16300 -1024 7805 -5001 -20898

Outros investimentos brasileiros -3211 -9752 -2085 -5035 -8416 -18552 -5269 -30376 -42567 -39005 -24550 -40550

Outros investimentos estrangeiros 2150 -686 -8721 -22486 24104 31683 8143 14076 41543 46810 19549 19652

ERROS E OMISSÕES -66 -793 -1912 -201 628 -3152 1809 -347 -3538 -1271 3138 1670

153
RESULTADO DO BALANÇO 302 8496 2244 4319 30569 87484 2969 46651 49101 58637 18900 -5926

Fonte: Banco Central do Brasil (2014).

02/10/14 15:24
Capítulo 4

Conforme podemos notar, nessa tabela não temos a conta de variação de


reservas ou haveres da autoridade monetária. Contudo, sabemos que, para
garantir o equilíbrio interno, essa conta de variação de reservas deve ser do
mesmo valor do resultado do balanço, porém, com sinal invertido. Sendo assim,
essa conta teria o seguinte resultado:

Tabela 4.4 – Evolução da variação de reservas do balanço de pagamentos do Brasil

Balanço de pagamentos

US$ milhões

Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Haveres da -302 -8496 -2244 -4319 -30569 -87484 -2969 -46651 -49101 -58637 -18900 5926
autoridade
monetária ou
variação de
reservas

Fonte: Banco Central do Brasil (2014).

Podemos verificar a partir desse exemplo que o balanço de pagamento do Brasil


correspondente ao período entre 2002 e 2013 teve, em 11 dos 12 anos, resultado
positivo. Cenário esse que é construído pelo aumento das reservas, cujo
lançamento deve ser feito a débito na conta de variação de reservas.

Analisando o balanço de pagamento do Brasil, conta por conta, é possível


constatar que a situação de suas contas externas se enquadra no perfil das
contas de países em desenvolvimento.

Nota-se que em todos os anos analisados a balança comercial apresentou um


saldo positivo. Porém, há um forte aumento da importação no ano de 2010 em
diante, o que pode comprometer o saldo da balança comercial brasileira, que é
uma conta estratégica para o equilíbrio do balanço de pagamentos.

Verificando a conta de serviços e rendas, vamos perceber que essa conta


é extremamente deficitária e grande parte desse resultado corresponde ao
pagamento de “serviços do exterior”, nesse caso compreendendo o pagamento
de juros.

O Brasil, basicamente, é deficitário em transações correntes em 2002 em


razão de conjunturas políticas que tiveram impacto direto na economia,
pois havia certa desconfiança do mercado em razão da vitória do Partido
dos Trabalhadores (PT) nas eleições presidenciais.

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Contabilidade Social

Entretanto, passada a fase de conturbações e reestabelecida a confiança


dos investidores, o Brasil navegou em águas calmas até 2008, ano da crise
monetária internacional. Esse período foi caracterizado por uma fuga de capitais
de investidores estrangeiros no Brasil, demandando do governo uma série de
medidas para manter o dólar no país.

No que se refere à conta capital e financeira do Brasil ela é superavitária,


principalmente em razão do investimento direto e investimento estrangeiro direto, o
que representa o interesse de empresas multinacionais em se restabelecer no país.

Por fim, temos o resultado do balanço de pagamentos. Conforme podemos


verificar na tabela evolução do balanço de pagamentos do Brasil, a queda
abrupta do saldo da balança comercial teve impacto direto no saldo do balanço
de pagamentos de 2013.

O saldo da balança comercial teve redução de US$ 19,395 bilhões em


2012 para US$ 2,558 bilhões em 2013. Nesses mesmos anos, o saldo do
balanço de pagamentos reduziu de US$ 18,9 bilhões em 2012 para – US$
5,926 bilhões em 2013.

Diante do exposto podemos constatar que é possível tirar uma série de


conclusões sobre a economia de um país a partir da análise do balanço de
pagamento, desde que tenhamos compreendido todos os conceitos utilizados
em sua elaboração.

Por fim, cabe destacar que o balanço de pagamento é um dos mais importantes
instrumentos de gestão de política econômica de um país, não havendo
possibilidade de uma economia nacional proporcionar mais competitividade de
suas empresas sem antes estabelecer uma política, em especial cambial, voltada
à promoção do produto interno no exterior.

Nesse sentido, saber analisar o balanço de pagamentos e as implicações das


políticas econômicas é uma área central para um profissional que atua na área
de economia, visto que toda economia é afetada por variações positivas ou
negativas do saldo do balanço de pagamentos.

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Considerações Finais

Caro(a) estudante,

Nesse estudo você teve a oportunidade compreender a importância da


contabilidade social, principalmente a dos indicadores por ela produzidos para
subsidiar no processo de tomada de decisão dos agentes econômicos, visando a
futuras intervenções na economia de um determinado país.

A compreensão desse contexto é fundamental para os profissionais que atuam na


área econômica a fim de saber analisar o funcionamento e as relações do balanço
de pagamentos, assim como as relações entre seus principais indicadores.

Um profissional que conhece muito bem o balanço de pagamentos e as contas


nacionais, além do conhecimento em estatística e econometria, é um profissional
capacitado e muito demandando pelo mercado para elaboração de expectativas
que são utilizadas pelo governo e corporações em seu processo de decisão.

Assim, fazer projeções sobre o Produto Interno Bruto (PIB), consumo interno, nível
de investimentos, taxa de câmbio, inflação é uma das principais competências
do profissional em economia, o que faz a contabilidade social ser um tema
fundamental para sua formação profissional, sendo sua plena assimilação fator de
destaque no mercado de trabalho.

Diante desse contexto, por meio da estrutura que foi organizado esse livro
didático, você percebeu que a “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”,
de Keynes, lançou os agregados macroeconômicos fundamentais para análise
e mensuração de uma economia, pelos quais a contabilidade social lança suas
bases, revelando a existência de importantes identidades e sua relação com os
agregados macroeconômicos.

Constatou que o método de partidas dobradas é uma importante metodologia


para mensuração do PIB de uma economia, no qual um débito precisa ter,
obrigatoriamente, um crédito correspondente de mesmo valor. O equilíbrio interno
entre débito e crédito é fundamental para a contabilidade social.

Analisou as três óticas que permeiam a base de cálculo do PIB e que, por meio
delas, é possível igualmente mensurar o produto e, obrigatoriamente, elas devem
fornecer o mesmo valor de produto, independente da ótica utilizada.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

A ótica da renda, por exemplo, considera que os agentes econômicos são os


proprietários dos meios de produção. As transações se dão entre empresas e
famílias envolvendo dois fluxos: um de produtos e serviços e outro monetário. A
ótica do produto considera a atividade dos agentes econômicos como produtores
do processo produtivo das empresas. Já a ótica do dispêndio está relacionada
com a atuação dos agentes econômicos enquanto consumidores dos bens e
serviços produzidos.

Desse modo, você percebeu que, além de desempenhar o papel de


consumidores, as famílias também são proprietárias de fatores de produção, e
é por meio da venda do fator trabalho que muitas delas garantem o acesso ao
mercado de bens e serviços produzidos pelas empresas.

No decorrer dos estudos foi abordado o fluxo circular da renda, que é baseado
nas transações monetárias que envolvem produtos e, ao contrário do mercado
de bens, o dinheiro tem livre circulação, pois, além de remunerar os fatores de
produção, ele é utilizado pelas famílias no momento do consumo dos bens e
serviços produzidos.

Também foram abordadas questões essenciais relacionadas às contas nacionais,


em especial a metodologia de cálculo no Brasil, bem como as contas integradas
econômicas, essas que têm como objetivo apoiar a decisão de formadores de
políticas econômicas e setoriais, sendo que seu uso em conjunto com a tabela
de recursos e usos é estratégico, uma vez que permite maior e melhor análise de
uma grande quantidade de informações.

Por fim, você estudou que o balanço de pagamentos permite registrar todas as
transações de uma economia nacional com o restante do mundo que, de forma
geral, são constituídas por residentes que se relacionam com não residentes.

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Referências

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_______. Sistemas de contas nacionais do Brasil. Rio de Janeiro, 2011.

KPMG. Bitributação de Residentes e Não Residentes no Brasil. Transnational


Tax Services Ltda., uma sociedade simples brasileira, de responsabilidade
limitada, e firma-membro da rede KPMG de firmas-membro independentes e
afiliadas à KPMG International Cooperative (“KPMG International”), uma entidade
suíça. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil, 2012.

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LEITE, José Alfredo A. Macroeconomia: teoria, modelos e instrumentos de


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MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e


macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 831p.

MARQUES, Eduardo Lopes Contabilidade social : livro didático / Eduardo Lopes


Marques ; design instrucional Gislaine Martins, Melina de la Barrera Ayres. –
Palhoça : UnisulVirtual, 2011.

MISHKIN, Frederic S. Moedas, bancos e mercados financeiros. 5. ed. Rio de


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PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. 3. ed.


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Sobre o Professor Conteudista

Thiago Paulo Silva de Oliveira


É economista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006),
mestre em Engenharia do Conhecimento (2009) pela mesma instituição,
formulador de estratégias em Governo Eletrônico certificado pela Organização
dos Estados Americanos (OEA), Coordenador em Práticas de Civismo e
Informação certificado pela Organização Universitária Interamericana. Consultor
na área de engenharia e gestão do conhecimento aplicado à administração
pública. Analista de investimentos com experiência em finanças, estratégia
empresarial, inteligência de mercado, viabilidade de projetos e plano de negócios.
É sócio diretor da EPSC Investimentos, gestora de recursos small caps value
investing, sediada em Florianópolis-SC. No campo da pesquisa, possui dezenas
de artigos aprovados em eventos internacionais, já participando de alguns na
condição de autor e apresentador.

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Contabilidade Social
Universidade do Sul de Santa Catarina
O livro Contabilidade Social apresenta um
importante marco conceitual e prático para o
estudante, evidenciando uma relação tênue entre
indicadores econômicos e a política
macroeconômica. A partir da compreensão e

Contabilidade
análise da estrutura das contas nacionais, o
estudante, futuro profissional no mercado, obterá

Contabilidade Social
um diferencial competitivo e estratégico, que
permitirá antecipar movimentos da economia, em

Social
especial por parte do governo e de grandes
empresas, garantindo sempre a melhor alocação
dos recursos disponíveis, seja em
organizações públicas, seja em
organizações privadas.

w w w. u n i s u l . b r

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