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Cadernos PDE
PRODUÇÃO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
CASCAVEL – PR
2013
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
CADERNO PEDAGÓGICO:
PROFESSOR ORIENTADOR:
Me. German Adolfo Ocampo Sterling
CASCAVEL – PR
2013
01- FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
Disciplina/Área: HISTÓRIA
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................... 8
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 14
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 23
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 25
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 33
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 35
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 46
ENCONTRO 04 - Os condicionantes do capitalismo nos processos pedagógicos
da escola ....................................................................................................................... 47
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 48
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 62
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 66
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 80
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 84
APROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 92
PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 96
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO ........................................................................ 97
BREVE INTRODUÇÃO
12
PRÁTICA INICIAL
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a) Existe uma cor predominante;
b) Que sensação a imagem / ilustração ou desenho nos transmite?
c) Por que certos objetos estão presentes?
d) As personagens estão fazendo algo?
e) O que o rosto das personagens expressa?
f) A obra está relacionada a um estilo específico? Qual?
g) Que relação existe entre essa obra e o período em que foi produzida?
h) Qual seria a possível visão do autor sobre aquele evento representado?
i) A que conclusões o grupo pôde chegar a respeito da imagem / ilustração?
PROBLEMATIZAÇÃO
14
g) O título da atividade contribui para explicar nossas atuais condições de vida?
Por quê?
04- Realizada a socialização das respostas, será exibido o vídeo “Etnocentrismo”.
04.1- Encerrada a exibição, questionar: (de acordo o tempo de duração, o vídeo pode
ser exibido mais de uma vez)
a) Considerando a totalidade do vídeo, quais foram suas impressões sobre o mesmo?
b) O que aborda (ou não explicita) o vídeo?
c) Existem aspectos do cotidiano sendo discutidos no vídeo?
d) Qual a ideia ou mensagem central do vídeo?
e) Qual seria sua conclusão sobre o vídeo?
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
O fardo do homem
branco Tomai o fardo do Homem Branco - Tomai o fardo do Homem Branco!
As guerras selvagens pela paz - Acabaram-se seus dias de criança
Tomai o fardo do Homem Branco - O louro suave e ofertado
Encha a boca dos Famintos,
Envia teus melhores filhos O louvor fácil e glorioso
E proclama, das doenças, o Venha agora, procura sua virilidade
Vão, condenem seus filhos ao exílio cessar; Através de todos os anos ingratos,
Para servirem aos seus cativos; E quando seu objetivo estiver perto Frios, afiados com a sabedoria
Para esperar, com arreios (O fim que todos procuram) amada
Com agitadores e selváticos Olha a indolência e loucura pagã O julgamento de sua nobreza.
Seus cativos, servos obstinados, Levando sua esperança ao chão.
Metade demônio, metade criança. [...]
[...]
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05.1 – Leitura do texto, observações importantes:
a) É necessário ler pelo menos duas vezes o texto. A primeira para ter contato
com o assunto; a segunda para compreender as ideias principais, as secundárias
e os argumentos apresentados.
b) Se ler atentamente, encontrará em cada parágrafo, a ideia mais importante
(tópico frasal).
c) Escrever, ao lado de cada parágrafo, ou de cada estrofe, a ideia mais
importante contida neles.
d) Não levar em consideração o que o autor quis dizer, mas sim o que ele
EFETIVAMENTE disse, escreveu. Desta forma, você estará separando as
inferências das deduções e interpretações.
e) Interpretação de texto – consiste em saber o que se infere (conclui) do que
está escrito. O enunciado normalmente é encontrado da seguinte maneira:
O texto possibilita o entendimento de que...
Com apoio no texto, infere-se que...
O texto encaminha o leitor para...
Pretende o texto mostrar que o leitor...
O texto possibilita deduzir que...
05.2 - O texto / poema será lido, a princípio, individualmente e depois o mediador
irá sugerir a leitura coletiva ou individual de partes do mesmo.
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Organizar grupos com 04 (quatro) componentes cada para analisar o texto
de fundamentação. Disponibilizado a seguir: (o texto será impresso
antecipadamente, sendo entregue para cada componente do grupo)
EUROCENTRISMO E ETNOCENTRISMO: O
DESENVOLVIMENTO DO “OUTRO” COMO PERIFERIA
1
Luiz Carlos kanigoski
1
Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
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A partir do acervo histórico da humanidade, se fazem notar deferentes ideologias
utilizadas para estabelecer territorialização, domínio político e classificação das
populações instaladas em diferentes espaços geográficos.
O domínio político e a classificação, aliados à cultura e à ciência produziram
denominações tais como: Etnocentrismo e Eurocentrismo.
Ao examinar essas nomenclaturas, podemos perceber que o Etnocentrismo,
como elemento de diferenciação e classificação, está no princípio da produção
histórica, tendo em vista que as primeiras comunidades produtivas já estabeleceram
modelos, escolhas e sociabilidades que as distinguiam.
Analisar a elaboração de conceitos não é trabalho fácil, devido suas variantes,
polissemias, suas intenções políticas, ideológicas, históricas e socioculturais.
O Etnocentrismo, embora exista a partir do princípio das organizações sociais
humanas, encontra-se respaldo na razão científica, ciência esta entendida como única
e universal. Sendo universal estabelece verdades e requisitos próprios. A partir desses
requisitos se estabelecem modelos sociais de desenvolvimento.
Essa concepção, no decorrer da história do pensamento científico, cristalizou a
universalidade e a homogeneidade como requisitos indispensáveis. Garcia explica que:
19
Quando as desqualificações e justificativas ideológicas fracassam, os
etnocentristas buscam disfarces, camuflagens, imitações e formas benignas de
visualizar e interessar-se pelo “outro”, como bem expõe Meneses:
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mesmo antigas, e que nos séculos seguintes se tornou mundialmente
hegemônica percorrendo o mesmo fluxo do domínio da Europa burguesa.
Sua constituição ocorreu associada à específica secularização burguesa do
pensamento europeu e à experiência e às necessidades do padrão mundial de
poder capitalista, colonial/moderno, eurocentrado, estabelecido a partir da
América...” (QUIJANO 2005, pág 115)
21
O Eurocentrismo e o Etnocentrismo negaram a diferença legítima que existe
entre as diversas populações. Sendo assim, modelou um “outro” estereotipado,
incivilizado, estranho, inculto e periférico. Esse modelo se cristalizou e o “outro”, como
escreveu Bhabha “[...] perde seu poder de significar, de negar, de iniciar seu desejo
histórico, de estabelecer seu próprio discurso” (BHABHA, 2007, p. 59).
É importante que descolonizemos nossas mentes. Para realizar tal fato, faz-se
necessário que superemos o Eurocentrismo, através da contestação das estruturas de
poder e o modelo cultural que nos foram impostos.
A descolonização da mente envolve todos os sujeitos do processo educativo,
principalmente os(as) professores(as) e os(as) estudantes, como também outros
profissionais da educação que atuam no ambiente escolar / educacional, as entidades
mantenedoras da Educação e a totalidade da sociedade.
Para descolonizar, é tarefa necessária da sociedade, da escola e dos
professores desafiar e transgredir os conhecimentos influenciados ou determinados
pelo Eurocentrismo. Para tanto, faz-se imprescindível analisar, refletir e re-elaborar os
currículos, tendo como referência a realidade sociocultural em que nossas instituições
de ensino estão localizadas.
É também na Escola que desenvolvemos nossa identidade individual e coletiva,
então que ela seja livre da estrutura de poder e descolonizada.
Referências:
22
GARCIA, C. B. As cidades e suas cenas. Ijuí : Editora Unijuí, 1999
APROPRIAÇÃO
07- Após o término das atividades, o mediador irá solicitar um trabalho individual
(Texto / Redação) sobre a temática a partir do texto disponibilizado. Esse trabalho
será desenvolvido pelo participante no intervalo de tempo entre o encontro
realizado e o próximo.
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ENCONTRO 02 - Colonialismo ou colonialidade passado ou
presente?
BREVE INTRODUÇÃO
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PRÁTICA INICIAL
01.1 - Para mostrar as muitas realidades do Brasil, será exibido o videoclipe: “Brasis”.
Compositores - Seu Jorge/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano, interpretado por Seu Jorge.
Os participantes receberão a letra da música impressa. (de acordo o tempo de duração
o vídeo, pode ser exibido mais de uma vez)
PROBLEMATIZAÇÃO
02- Após a discussão proposta, o mediador irá pedir aos participantes que
organizem grupos com quatro compenentes e cada grupo deverá ficar
responsável por representar um contraste brasileiro presente na letra. (a letra da
música já foi entregue na atividade anterior) Podem ser sugeridos os seguintes:
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
Como posso tocar se cortam minhas mãos? e quem me protegia era meu carrasco
Como posso ver se apagam as luzes? Fui adotado pelo Deus Cristão
Como posso amar se não tenho mais um mas nunca herdei nada
coração? meu reino estava em minha solidão
3.1- O mediador irá solicitar que os participantes leiam individualmente o poema. Após
a leitura, o mediador irá solicitar que um participante leia em voz alta o poema na
íntegra. Realizada a leitura, o mediador irá solicitar que outros participantes leiam em
voz alta cada estrofe do poema.
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3.2- Feita a leitura, os participantes serão interpelados da seguinte forma:
04- Após a socialização das respostas sobre o poema, bem como discussões e
reflexões, que porventura surgirem, será exibido o vídeo: “Colonialidade do Saber
e do Poder” (de acordo o tempo de duração o vídeo, pode ser exibido mais de uma
vez)
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=jhtJlffi_bE.
Acessado em 13 / 11 / 2013.
27
4.2 – O mediador irá solicitar aos participantes que em duplas procurem no texto a
seguir relacionado, conceitos, elementos frases, citações e explicações que elucidem
suas dúvidas. Caso o participante não tenha dúvida, deve escolher uma parte do texto
a qual lhe é significativa e explicá-la para os demais participantes. (o texto será
impresso antecipadamente, sendo entregue para cada componente do encontro)
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Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
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A eficiência do colonialismo não dependia apenas da exploração econômica e
comercial da colônia. A colônia era submetida a uma dependência de capitais, artigos
manufaturados e bens culturais.
Através de imposições ideológicas e culturais, grande parte dos colonizados
aceitava a situação de inferioridade, dominação, opressão e exploração com
naturalidade e até certa docilidade.
A metrópole também contava com o apoio de alguns segmentos coloniais (a
chamada elite / aristocracia colonial), pois conseguiu a cooptação e alienação dos
mesmos em troca de alguns privilégios coloniais.
Esse modelo de dominação e exploração perdurou por todo período histórico
denominado Moderno (Século XV - 1492), contudo Enrique Dussel atenta que.
Empiricamente. nunca houve uma História mundial até 1492:
Antes dessa data, os impérios ou sistemas culturais coexistiam entre si. Apenas
com a expansão portuguesa desde o século XV, que atinge o extremo oriente
no século VXI, e com o descobrimento da América hispânica, todo o planeta se
torna o “lugar” de uma só história Mundial. [...] (DUSSEL, 2005 P.61)
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segue-se o modelo da Europa, caso o bárbaro reagir ao processo civilizador à
orientação moderna postula que se deve praticar a guerra justa colonial.
Apesar das elaborações teóricas sobre uma época pós-colonial as estruturas
organizadas, as subjetividades e o imaginário da colonização ainda estão presentes
através da colonialidade.
Sobre Colonialismo e Colonialidade Nelson Maldonado-Torres faz uma
significativa e esclarecedora distinção:
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b) Colonialidade do Ser – É a experiência vivida da colonização e seus efeitos
na vida e na mente do colonizado. É a negação de sua humanidade.
c) Colonialidade do Saber – É a repressão de outras formas de produção não-
europeus. Nega o legado intelectual e histórico de povos. Reduzindo-os à
categoria de primitivos e irracionais.
Nessa perspectiva, podemos concluir que a escrituração da história ocidental
aponta para duas elaborações: a história da modernidade europeia e, de outro, a
História silenciada da colonialidade europeia. A primeira dos feitos e sucessos
europeus e a segunda de negação, segregação e invisibilidade.
Corroborando com a perspectiva anterior temos a “Carta de Caminha”. A carta é
um olhar hegemônico do colonizador. O documento deu importância à terra e
desprezou sua gente. Portanto, fundamenta a organização da nação e do nacionalismo
de forma edênica.
Em outra perspectiva, a “Carta de Caminha”, com a celebração da “Primeira
Missa”, divulga a ideia de contato harmonioso entre colonizador e colonizado. Seu
relato é um discurso que outorgava uma identidade, mas trazia colonização, bem como
caracterizava a terra de forma fantasiosa.
O colonialismo e por sua vez colonialidade organizaram um modelo e
mecanismos que permitiram dominação, subjugação e exploração que perduraram por
séculos. Para o êxito desses sistemas, aparatos ideológicos e culturais organizaram
imaginários que invisibilizaram boa parte da população colonizada, bem como seus
conhecimentos próprios, e ainda propiciaram a hegemonia do projeto organizado pelo
colonizador.
Avançando no processo histórico brasileiro até chegar ao contexto atual é óbvio
que não estamos mais enredados pelo colonialismo, porém permanece a colonialidade,
apesar de, muitas vezes ambos, se integrarem. Colonialidade formata a mente e os
corpos, produzindo na maior parte da população passividade, subserviência,
desagregação e conformismo, mesmo depois da emancipação política do país.
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As classes abastadas (elites políticas e econômicas) que foram privilegiadas com
o projeto de colonialismo e seu desenvolvimento continuam a se impor com a
permanência da colonialidade.
Essas elites políticas e econômicas utilizam-se da colonialidade para estabelecer
seu projeto político de nação, o qual está articulado com o sistema capitalista e a
sociedade burguesa corporativista. A maior parte da população, incluindo
principalmente índios e negros, é deixada de fora do projeto, mas é explorada como
mão de obra.
Com um projeto bem articulado de hegemonia, as elites assumem o governo do
país. Através de suas resoluções governamentais, muitas vezes disfarçadas em um
discurso social, impedem - bem como desmobilizam - a população para organização de
um projeto coletivo de nação e sociedade. E ainda, perniciosamente, promovem a
cooptação da população na defesa de seu projeto político.
Instituições educacionais e seus profissionais articulados com a sociedade
organizada devem prepar-se para fazer um discurso e uma prática que desarticule a
colonialidade ainda persistente no meio social, nos currículos e nas práticas
pedagógicas.
Descolonizar as mentes faz-se necessário para acabar com passividade,
subserviência, conformismo, desmobilização e desagregação provocada pela
colinialidade sobre a população em geral. Descolonização ou decolonialidade, ambas
são significativas, pois representam uma estratégia que vai além da transformação da
descolonização, ou seja, propõem-se também como construção e criação. Sua meta é a
reconstrução radical do ser, do poder e do saber.
Referências:
LOPEZ Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. 4ª ed. Porto alegre: Mercado Aberto,
1985.
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DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e Eurocentrismo. En libro: A colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Edgardo
Lander (org). Colección Sur, CLACSO, Buenos Aires/ Argentina, setembro 2005.
APROPRIAÇÃO
5.1 – Elabore 10 (dez) frases respaldado pelo conteúdo do texto. As frases devem
conter elementos de colonialidade presente em nosso cotidiano social em relação ao
poder, ao ser e ao saber.
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ENCONTRO 03 - Educação brasileira configurada a partir de
um projeto de monoculturalidade, homogeneidade e
universalização de conceitos de dominação
BREVE INTRODUÇÃO
PRÁTICA INCIAL
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=BD4MMZJWpYU
Acessado em 18 / 11 / 2013.
PROBLEMATIZAÇÃO
Disponível em:http://api.ning.com/files/blmOCTD-
NCMke3i93QgEirYdueZJyJpI3qi86NtsFp-x8l5Vrc*-
tETlHrrkhB7M3NwiYXAEwMenWwEJgyPXkdo4BsWjc/Quandoaescoladevidro.pdf. 35
Acessado em 13 /10 / 2013.
Quando a escola é de vidro
Ruth Rocha
Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.
Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter
no vidro.
É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!
O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
[...]
[...]
Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir às aulas sem estar dentro do vidro.
O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas
mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
E os professores não gostavam nada disso...
Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós...
E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele
espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.
Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro. [...]
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2.1 – Inferências sobre o texto:
a) O mediador do encontro irá solicitar aos participantes que livremente leiam em voz
alta uma parte do texto, iniciando pelo primeiro parágrafo.
b) Após a realização da leitura, o mediador irá solicitar que livremente o participante leia
uma parte do texto ou frase que lhe foi significativa ou lhe chamou a atenção e explique
por que escolheu especificamente esse trecho ou essa frase. Na sequência, será
solicitado que outros participantes façam o mesmo. Aos participantes que se abstiverem
da leitura, será solicitada que manifestem suas impressões sobre um trecho que foi lido
por outro participante.
h) Quem são os estudantes que não cabem nos vidros ou não têm vidro? O que
acontece com eles no cotidiano escolar? Quais são suas atitudes / seus procedimentos
em relação aos mesmos?
i) É possível acabar com a escola de vidro? O que seria necessário? Quais seriam os
impedimentos?
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REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
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03- Mediador apresentará o documento (Caderno Escolar) abaixo aos
participantes para análise e leitura de seu conteúdo:
Sobre o documento:
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h) Você conhece como se produziu o modelo educacional brasileiro configurado
a partir da homogeneidade, universalidade e monoculturalidade?
i) Existem outras percepções as quais queiram manifestar sobre o documento?
3.2 – A partir da última questão formulada na atividade anterior, o mediador irá discutir,
analisar, refletir com os participantes aspectos pontuais do texto, que explicam o
desenvolvimento de uma educação que reproduz homogeneidade, universalidade e
monoculturalidade.
3.3 – Antes de trabalhar os aspectos pontuais será solicitado aos participantes que
examinem o texto para encontrar possíveis explicações de homogeneidade
universalidade e monoculturalidade e sua reação com processos pedagógicos e
educativos.
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Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
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Grande parte dos profissionais da educação, bem como os envolvidos com os
processos educativos conhecem os avanços realizados no sistema, na legislação
educacional brasileira, nas políticas públicas voltadas à educação, nos métodos e
metodologias de aprendizagem e ensino. Mas em educação nunca são suficientes as
mudanças, análises, os debates e as reflexões, pois se vive um constante devir político,
econômico, sociocultural e de luta de classes, considerando o sistema econômico no
qual estamos inseridos.
Conhecemos também as contribuições e a doutrinação dos Jesuítas no
desenvolvimento do processo educativo brasileiro do século XVI. Entretanto também
devemos atentar para a influência eurocentrada que influenciou a organização do
sistema de ensino no período.
Com o processo de colonização do Brasil e seus objetivos bem definidos, nosso
sistema educacional não era preocupação do colonizador. Assim não experimentamos
uma organização educacional própria, mas imposta pela metrópole. Nessa imposição
foram desconsiderados as gentes, seus conhecimentos específicos e sua rica cultura.
Com o tempo fomos desenvolvendo um imaginário que não era nosso. Aprendemos a
com a História universal europeia a qual silenciou as contribuições da História
americana e brasileira há milhares de anos já desenvolvidas.
A educação desenvolvida a partir do chamado período colonial brasileiro, bem
como nos períodos subsequentes, determinou a monoculturalidade (também chamado
de multiculturalismo conservador), pois envolve relações de poder. Kincheloe e
Steimberg escrevem sobre esse aspecto localizado também em pleno século XX:
De fato o monoculturalismo, a forma que tem adquirido nas duas ou três últimas
décadas do século XX, existe como reação à crescente influência dos não
brancos e das mulheres na educação e outras instituições, influência propiciada
pelo movimento de direitos civis e pelo movimento de mulheres. (KINCHELOE
e STEIMBERG 1999, p. 26)
Vera Maria Candau vem contribuir explicitando o objetivo dos envolvidos neste
projeto de monoculturalidade:
41
[...] os defensores do multiculturalismo conservador trabalham no sentido de
homogeneizar a cultura e de construir um projeto comum, em nome do qual
“deslegitima” dialetos, saberes, línguas, crenças, valores diferentes,
pertencentes aos grupos subordinados, considerados inferiores. (CANDAU
2002, p. 83)
42
princípio da homogeneidade. Existe um único saber útil a qualquer lugar e a qualquer
cultura.
Os elementos apresentados nos fazem concluir que no decorrer do processo
histórico brasileiro, bem como no contexto atual, sociedade e escola são submetidas
aos parâmetros de monoculturalidade, universalidade e homogeneidade. Esses
parâmetros podem, na maioria dos casos, impor uma violência epistemológica e
simbólica.
Sobre esse tipo de violência Walter Praxedes nos escreve assim:
43
A relação entre cultura e educação não foi questionada pela modernidade
porque se aceitava que havia uma base comum à que todos os sujeitos
deveriam ter acesso via educação para que pudessem se tornar “cultos”. Essa
base comum não foi colocada em xeque porque era reconhecida como
universal. Entretanto, é preciso lembrar sempre que os supostos valores
universais e superiores não possuem essas características por uma questão
ontológica, mas por uma questão política. Tornaram-se “superiores” pelas
disputas de poder travadas nos campos social, cultural e científico. (BECKES e
PAVAN 2011, p.110)
Referências:
45
ESTEBAN, M. T. Diferença e (des) igualdade no cotidiano escolar. In MOREIRA, A.
F. B.; PACHECO, J.; GARCIA, R. L.(orgs.). Currículo: pensar, sentir e diferir. Rio de
Janeiro: DP&A, p.159-177. 2004.
APROPRIAÇÃO
46
ENCONTRO 04 - Os condicionantes do capitalismo nos
processos pedagógicos da escola
BREVE INTRODUÇÃO
47
que ditam a organização social e apontam para uma crescente e inevitável
massificação cultural.
PRÁTICA ANICIAL
01- Será exibido aos participantes o vídeo: “Capitalismo”. (de acordo o tempo de
duração, o vídeo pode ser exibido mais de uma vez).
PROBLEMATIZAÇÃO
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
02- Para desenvolver o conteúdo que envolve capitalismo e escola, o mediador irá
exibir o vídeo: “A Educação” com Viviane Mosé. (de acordo o tempo de duração, o
vídeo pode ser exibido mais de uma vez).
3.1 – A cada grupo será entregue um pedaço de papel, contendo uma tarefa:
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A EDUCAÇÃO
VIVIANE MOSÉ4
4
Poetisa, filósofa, psicóloga psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas.
Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005 pela editora
Civilização Brasileira. Hoje é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento, comentarista do programa
Liberdade de Expressão, na Rádio CBN, com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéu e palestrante.
51
Atualmente, presenciamos vários desafios contemporâneos, entre eles desafios
na Educação, na Arte, no Trabalho, no Pensamento, entre outros.
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
52
A ESCOLA COMO FÁBRICA
53
espaço de reflexão, análise e discussão. Agindo dessa forma, perde-se o conjunto de
unidade e de relacionamentos.
Assim, a escola além de repetição e passividade, é um espaço isolado. A
característica desse modelo é colocar todas as crianças, os adolescentes e os jovens
na escola. Não estamos defendendo que não se devem colocar todos na escola, pelo
contrário, devem frequentá-la, mas não apenas para afastá-los da rua, da violência e
das drogas. A escola é culpada por tudo? Isso é trabalho da escola? Cadê o
pensamento, a reflexão, a discussão e a produção de conhecimento? Diante disso,
estar na escola é quase uma penalidade para os estudantes.
Concebendo a escola como um espaço isolado, fragmentado e voltado para a
disciplina, com hierarquia extrema, como os estudantes vão aprender ética e
cidadania?
Cidadania exige que as pessoas vivam na cidade, mas a escola não vai à
cidade, não frequenta parques, museus, estações ecológicas, entre outros. Não é
possível desenvolver um cidadão isolado em quatro paredes.
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Esse processo de abstração do pensamento na escola, que privilegia a palavra
se unindo a uma escola fragmentada, segmentada, isolada da sociedade e que também
privilegia a passividade e o acúmulo de conhecimentos, produz o cidadão que nós
temos hoje.
Exemplificando: Para falar de meio ambiente devemos entender o todo (as
consequências e a quem prejudica jogar papel na rua e poluir a água), quando não
percebemos o todo fazemos um discurso vazio, decorar a importância de não jogar
papel na rua torna os estudantes paranoicos. Na verdade, o estudante continua a
pensar fragmentado, continua acreditando que é um ser isolado.
Como pensar o todo numa sociedade e escola fragmentada, sem nominar quem
a fragmentou? Não se pode procurar culpados, isso é parte de um processo, é um jogo
imenso de influências e que gerou a fragmentação.
A pessoa que vive deslocada da totalidade, pois acredita que é um fragmento,
como essa pessoa vai se relacionar com o mundo? Conteúdos devem ser
socializados com cuidado afetivo, pensando nas consequências que pode causar.
Hoje temos o problema do meio ambiente, mas temos também a violência.
Outrora a violência era a guerra (como território), hoje a violência é pontual, ninguém
sabe onde vai acontecer o imprevisto, isso gerou instabilidade, questões universais e
globais que promovem sensação de impotência e incapacidade de se resolver.
Considerando que os problemas hoje são universais e globais e as pessoas são
desenvolvidas para a fragmentação, como enfrentar os problemas? Impotência,
passividade e ausência de atitude. Mas o que é atividade? É ser uma pessoa. Será que
somos uma pessoa ou somos pedaços colados? Quando nos deparamos com um
problema global, a qual pedaço do eu vamos recorrer?
Essa escola que foi organizada, baseada numa linha de montagem, na disciplina
e na ausência de vida tem uma função, preparar pessoas para o mercado, mas nem
isso faz. Vive-se uma crise de lideranças, pessoas só sabem fazer o trabalho sendo
mandadas, não temos pessoas que sabem liderar. Liderar não é oprimir o outro, é
coordenar um processo que pode ser ético e respeitoso.
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A escola não está preparando o ser humano para a sociedade e para os desafios
que ela vive, sendo assim somos imaturos, políticos e sociais.
Precisamos de uma mudança conceitual. A escola já está se transformando, há
muito tempo tem um grupo de pessoas (organismos governamentais, universidades,
professores, entre outros) pensando a escola. Mas grande mudança conceitual pode
ser re-aprender a ver, ouvir e a pensar.
Todas as ações que exercemos não estão em nosso domínio, nós participamos
da ação, contribuímos, incentivamos e estimulamos a ação. Ninguém está privilegiado
em nossa sociedade, o pensamento fragmentado afasta o ser humano da única coisa
que existe a vida.
Agredimos todas as espécies de vida, agredimos a nós mesmos, não há uma
separação. Já fomos unidos ao meio, mas perdemos isso em nome de um modelo
mental racional e lógico que acredita que o homem é produto de sua própria ação.
O nosso individualismo contemporâneo, como produto de toda uma estrutura de
pensamento faz com que pisemos no outro, então ser ético é prestar atenção nas
coisas, ético é o ser humano que entende os gestos atitudinais-procedimentais e que
tem um desdobramento infinito e que esse desdobramento, a qualquer momento, vai
recair sobre a totalidade da sociedade. Ético é o ser humano entendendo que não há
nada isolado e por isso presta atenção nas pequenas coisas.
Precisamos aprender um novo modelo de homem e mulher. Então nosso modelo
mental é pensar em uma coisa de cada vez e criticamos os jovens que pensam várias
coisas ao mesmo tempo. Precisamos reconstruir essa complexidade interna e a
complexidade da percepção.
A educação não deve ser pensada isolada como um problema dos professores,
mas pensada como um todo, um problema da sociedade. Ela é política, é atuação na
sociedade.
Professor não deve pensar que ensina, mas que estimula; ninguém ensina aquilo
que o outro não perceba, se aprende aquilo que nos é significativo, efetivo, e humano,
aquilo que nos move. Ninguém ensina aquilo que o outro já não esteja pronto para
aprender ou se interesse em aprender.
56
Educador não é aquele que precisa saber tudo, mas sim é aquele que tem
interesse por tudo. Nossos princípios se baseiam na identidade: o que é? E, deveria ser
os princípios de instabilidade, todo saber é provisório.
Acúmulo de conteúdos não faz pensar. Pensar significa vazio à reflexão.
Reflexão exige vazio. E isso é não saber, nós só aprendemos quando não sabemos,
porque quando sabemos, nós não aprendemos, nós estamos cheios.
Crises não são negativas, pois nos possibilitam pensar. Com conteúdos
significativos e pertinentes, há possibilidade de desenvolver o pensamento, a escola
passa a refletir, o professor é produtor de sua ação, abre-se espaço para o professor. O
professor deve sentir-se vivo e alegre no processo de aprendizagem e ensino.
A escola deve construir um ambiente democrático, os professores devem ser
respeitados, os estudantes devem ser respeitados, assim como os funcionários devem
ser respeitados e ouvidos. A escola é um espaço democrático de convívio ético e
respeitoso, aberto ao seu entorno, devendo haver discussão de problemas da
comunidade, pois se o estudante entende o processo de exclusão social, vai saber
defender-se do mesmo.
Educação é um ato político e os estudantes precisam saber refletir, analisar e
discutir por meio do incentivo ao debate de autores e teorias, de construções históricas
e sociais que determinam identidades e territorializações.
A escola precisa incentivar a cultura, a Arte, a Dança, a Música e a Festa,
ampliando seus círculos sociais para ser um espaço alegre, pois a cultura é algo que
conecta todas as coisas, integra através do lúdico. Pessoas sensíveis esteticamente
são pessoas éticas e respeitosas.
A escola não é problema da escola; é problema da sociedade. Deve-se criar uma
sociedade educativa, pois do contrário não teremos nem cidade, nem sociedade e nem
ser humano.
57
Referências:
GLOBALIZAÇÃO X EDUCAÇÃO
5
Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná, especialista em Psicopedagogia e História da Educação Brasileira.
Texto produzido em Abril de 2013. E-mail: maristeladm75@gmail.com.
58
global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na
área econômica e social.
Referências:
APROPRIAÇÃO
62
ENCONTRO 05 - Multiculturalidade e a Produção de
Conceitos
BREVE INTRODUÇÃO
63
Não se pensou na riqueza dessa multiplicidade cultural, nas intersubjetividades
que poderiam desenvolver e outras visões de realidade e de mundo, portando as
diferenças e os diferentes foram vistos como um mal a ser extirpado.
No atual contexto de desenvolvimento, essa multiplicidade cultural ou
multiculturalidade se impõe como um desafio inescapável. As populações e as culturas
outrora segregadas, articuladas com uma problemática referente à desigualdade social
e econômica, não podem mais ser ignoradas.
Os movimentos organizados da sociedade (Sindicatos, Ongs, Mulheres, Negros,
Movimentos quilombolas, Movimentos de trabalhadores rurais e urbanos, Comunidades
tradicionais indígenas, Movimento LGBT, ou GLBTT, entre outros), com suas
manifestações, organizações e reivindicações específicas passaram a requisitar
visibilidade e reconhecimento por parte das autoridades governamentais constituídas.
As autoridades, nem com reconhecimento da legitimidade dos movimentos
organizados, publicaram leis de reconhecimento das diferenças e dos diferentes.
Mesmo com a publicação de leis, há muito o que se fazer para que tal reconhecimento
seja efetivado e implementado como nos escreve Emanuel Henrich Reichert (2012,
p128) “um canetaço, mesmo que bem intencionado, não tem o dom de solucionar
deficiências do dia para a noite”.
PRÁTICA INICIAL
01.2- Em seguida, o mediador distribuirá aos participantes a letra da música para uma
análise, reflexão e discussão sobre alguns versos, tais como:
Até quando você vai ficar usando Você tenta ser feliz, não vê que é Muda que quando a gente muda
rédea?! deprimente o mundo muda com a gente
Rindo da própria tragédia
O seu filho sem escola, seu velho A gente muda o mundo na
Até quando você vai ficar usando
rédea?! tá sem dente mudança da mente
Pobre, rico ou classe média Cê tenta ser contente e não vê E quando a mente muda a gente
Até quando você vai levar que é revoltante anda pra frente
cascudo mudo? Você tá sem emprego e a sua E quando a gente manda
Muda, muda essa postura filha tá gestante ninguém manda na gente!
Até quando você vai ficando Você se faz de surdo, não vê que Na mudança de atitude não há
mudo?
é absurdo mal que não se mude nem
Muda que o medo é um modo de
fazer censura. Você que é inocente foi preso em doença sem cura
flagrante! Na mudança de postura a gente
[...] É tudo flagrante! É tudo fica mais seguro
flagrante!! Na mudança do presente a gente
molda o futuro!
[...] [...]
a) Quais são suas impressões sobre a letra da música? O que mais lhe chamou a
atenção ou foi significativo?
b) Existem outras percepções as quais queiram manifestar sobre o texto?
65
PROBLEMATIZAÇÃO
[...] [...]
[...]
a) Você é a personagem da imagem, como agiria? Qual seria sua atitude e seu
procedimento? Reflita também sobre as diferentes pessoas e estudantes que são
submetidos a esses eventos/ expedientes.
b) O mediador solicitará aos participantes dos grupos que também reflitam e produzam
uma argumentação sobre a frase do ator estadunidense Morgan Freeman: ”O dia em
que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca e nos
preocuparmos com consciência humana, o racismo desaparece.” (Disponível em:
66
https://www.google.com.br/search?q=sinonimo+de+ap%C3%B3s&source=lnms&tbm=is
ch&sa=X&ei=pouMUrDzMYe3kQfFzICQCQ&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1093&bih=522
#q=consci%C3%AAncia+negra+morgan+freeman&tbm=isch&imgdii=_ Acessada em 20
/11 / 2013).
03.1 - Quais são suas impressões sobre o vídeo? O que mais lhe chamou a atenção
ou foi significativo?
REFLEXÃO INSTRUMENTALIZAÇÃO
67
4.4- Proceder a socialização dos conceitos, a partir de uma intercalação entre os
grupos;
4.5 – Após o grupo apresentar o conceito respaldado pelo texto, solicitar que o
grupo ou o participante faça sua tradução / interpretação do conceito.
MULTICULTURALIDADE E A PRODUÇÃO DE
CONCEITOS
6
Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
68
Mesmo constatada essa multiplicidade de manifestações culturais, tivemos por
muitos anos um padrão cultural pré-estabelecido e que perdura no processo histórico
brasileiro. A multiplicidade cultural foi inviabilizada e silenciada devido às relações de
poder e ideologia estabelecida e por um projeto hegemônico pensado no momento da
organização da nação. Esse projeto constituiu-se, em sua maioria, a partir de
elementos estranhos a nossa realidade, conjugando componentes como: o cristão, os
europeus, o homem e a etnia branca.
Não se pensou na riqueza dessa multiplicidade cultural, nas intersubjetividades
que poderiam desenvolver e outras visões de realidade e de mundo, portando as
diferenças e os “diferentes” foram vistos como um mal a ser extirpado.
No atual contexto de desenvolvimento, essa multiplicidade cultural ou
multiculturalidade se impõe como um desafio inescapável. As populações e as culturas
outrora segregadas, articuladas com uma problemática referente à desigualdade social
e econômica não podem mais ser ignoradas.
Os movimentos organizados da sociedade (Sindicatos, Ongs, Mulheres, Negros,
Movimentos quilombolas, Movimentos de trabalhadores rurais e urbanos, Comunidades
tradicionais indígenas, Movimento LGBT, ou GLBTT, entre outros), com suas
manifestações, organizações e reivindicações específicas passaram a requisitar
visibilidade e reconhecimento por parte das autoridades governamentais constituídas.
As autoridades em reconhecimento da legitimidade dos movimentos organizados
publicaram leis de reconhecimento das diferenças e dos diferentes. Mesmo com a
publicação de leis, há muito que se fazer para que tal reconhecimento seja efetivado e
implementado como nos escreve Emanuel Henrich Reichert (2012, p128) “um canetaço,
mesmo que bem intencionado, não tem o dom de solucionar deficiências do dia para a
noite”.
As publicações no campo educacional (PCNs) versam a respeito da diversidade.
No entanto, o professor conhece pouco ou nada, os estudantes não conhecem nada, o
autor do livro conhece pouco ou nada, então se exclui. Em função disso, cria-se
estereótipos, que Emanuel Henrich Reichert (2012, p133) relaciona como sendo
“momentos informes de constatação de uma mente colonizada”.
69
Não podemos esperar que os documentos educacionais (PCNs) sozinhos façam
a visualização da diversidade, mesmo porque a palavra diversidade é problemática,
pois coloca as diferenças e os diferentes como se fosse uma coisa só, tudo é
diversidade. É necessário observar também que não são os PCNs, que estabelecem os
conteúdos é a “tradição” do mercado que incluem ou excluem conteúdos.
Para visualização da multiculturalidade presente em nossa sociedade é preciso
desenvolver uma des-construção da norma padrão estabelecida, num movimento que
Cortesão e Stoer (1996, p36) denominam de “anti-positivista, anti-universal e anti-
idealista” e porque não citar também anti-eurocentrista/etnocentrista, pois também de
acordo com escritos de Cortesão e Stoer (1996, p 41) “a presença da diversidade na
escola dão corpo a muitas tonalidades do “arco-íres” cultural”.
Assim entendemos que não se trata de defender gênero, etnia e culturas
específicas, mas sim compreender os saberes e as estratégias construídas para que a
hierarquia de valores se consolide. Pois, Douglas Kellner (2001, p128) nos escreve [...]
o multiculturalismo crítico não implica a afirmação de que há diferenças; ao contrário,
mostra que há forças comuns de opressão, estratégias comuns de exclusão,
estereotipagem e estigmatização dos grupos oprimidos [...].
É imprescindível atentar para uma prática disfarçada de multiculturalidade.
Nesse sentido ressaltamos que o que Sylvia Duarte Dantas escreve:
70
folclóricos e pontuais, como receitas típicas, festas, dias especiais – dia do
Índio, por exemplo), até perspectivas mais críticas (também chamadas de
multiculturalismo crítico ou perspectiva intercultural crítica, em que o
questionamento da construção dos preconceitos e das diferenças é o foco do
trabalho). (CANEN 2007, p 93)
73
mesmo direito a identidades particulares não são reconhecidos pela maior parte
da população mundial. (Santos 2006, p 68)
74
A palavra racismo (prática) é usada com vários sentidos. A conceituação comum
de racismo tem suas bases no caráter ideológico, ou seja, é a imputação de
características negativas reais ou supostas a um determinado grupo social - nesse caso
os negros. (NOGUEIRA, 2002, p. 55).
O racismo é uma ideologia que prescreve a divisão da humanidade em grandes
grupos chamados raças comparadas que têm características físicas hereditárias
comuns. No Brasil, o racismo por muito tempo foi camuflado em uma ideologia oficial
que divulgou uma harmonia inter-racial. Em função disso, criou-se um racismo ao estilo
brasileiro enredado no mito da democracia racial. Nesse sentido, Abdias do Nascimento
nos escreveu o seguinte:
76
Vinda do verbo latino colere, que tem o sentido de “cultivar”, “criar”, “tomar
conta” e “cuidar, cultura significava, na antiguidade romana, o cuidado do
homem com a natureza – donde agricultura. Tinha o sentido também de
“cuidado dos homens com os deuses” – donde vem a palavra culto para se
referir aos rituais religiosos -, e o de “cuidado com a alma e o corpo das
crianças”, com sua educação e formação – donde a palavra puericultura (em
latim, puer significa “menino” e puera, “menina”). Nessa última acepção, cultura
era o cultivo ou a educação do espírito das crianças para tornarem-se membros
excelentes ou virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e refinamento das
qualidades naturais (caráter, índole, temperamento). Com esse sentido, cultura
correspondia ao que os gregos chamavam de paidéia, a formação ou educação
do corpo e do espírito dos membros da sociedade (de paidéia vem a nossa
palavra pedagogia). (CHAUÍ 2003, p 245)
Referências:
77
CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. Editora Ática. 13ª Edição. São Paulo: 2003.
LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro,
2004.
78
MUNANGA, Kabengele (org.) – Superando o Racismo na Escola, 2ª edição.
Ministério da Educação, Secretaria da Educação e Diversidade, 2005.
79
APROPRIAÇÃO
Algumas vias para entretecer o pensar e o agir. Patricia Lupion Torres (org.)
Curitiba: SENAR-PR, pp 155 a 188, 2027.
Exemplos:
80
5.1 – O mediador solicitará que, em duplas, os participantes reúnam estratégias para
elaborar um plano de aula em uma nova perspectiva, sem as determinações do modelo
hegemônico eurocentrado, universal e monocultural de educação. O plano de aula
deverá ser socializado no último encontro.
81
ENCONTRO 06 - Interculturalidade: o respeito e o diálogo
com a diferença e os “diferentes”
BREVE INTRODUÇÃO
82
A interculturalidade não é tolerar o outro, pois tolerar é uma situação de
superioridade. É necessário respeitar as diferenças e o “diferente”, como constituintes
de uma humanidade diversa rica em trocas culturais.
A educação intercultural constitui-se, atualmente, um grande desafio. Pois somos
resultado de uma história universal, de um conjunto ideológico e de uma ciência que se
autodenominaram como corretas, verdadeiras. Esses elementos criaram currículos
impregnados de Eurocentrismo e Etnocentrismo e, por sua vez silenciaram e
invisibilizaram diferentes populações. Cabe então à sociedade, aos profissionais da
educação e aos que trabalham com processos educativos, rever e re-significar os
processo histórico e cultural e elaborar outra perspectiva, livre das determinações
universais e homogeneizantes.
PRÁTICA INICIAL
01.1 - Quais são suas impressões sobre o videoclipe? O que mais lhe chamou a
atenção ou foi significativo?
01.2 - O que são classificações? Você pode nominar quem são inclassificáveis
presentes na letra da música do videoclipe? Por que são inclassificáveis? Quem
determina as classificações sociais, históricas e culturais? Quem se beneficia
com isso e quem é prejudicado?
84
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
FICHA DE LEITURA:
a) O texto nos remete a uma analogia: “arco-íris cultural”. O que isso significa? É possível
que nessa perspectiva exista também o “daltonismo cultural”?
b) Qual a sua compreensão sobre educação intercultural? Como o texto se refere a esse
aspecto?
85
INTERCULTURALIDADE: O RESPEITO E O DIÁLOGO COM A
DIFERENÇA E OS “DIFERENTES”
7
Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
86
A interculturalidade não é tolerar o outro, pois tolerar é uma situação de
superioridade. É necessário respeitar as diferenças e o “diferente”, como constituintes
de uma humanidade diversa rica em trocas culturais.
A educação intercultural constitui-se, atualmente, de um grande desafio, pois
somos resultado de uma história universal, de um conjunto ideológico e de uma ciência
que se autodenominaram como corretas e verdadeiras. Esses elementos criaram
currículos impregnados de Eurocentrismo e Etnocentrismo e, por sua vez ,silenciaram e
invisibilizaram diferentes populações. Cabe então à sociedade, aos profissionais da
educação e aos que trabalham com processos educativos, rever e re-significar os
processo histórico e cultural e elaborar outra perspectiva, livre das determinações
universais e homogeneizantes.
Luiza Cortesão e Stepfhen Stoer nos trazem uma analogia muito interessante
para a respeito da interculturalidade:
[...] o mundo é um “arco-íres de culturas. Ora partindo deste conceito para uma
(eventualmente arriscada) analogia, e admitindo que é importante ser capaz de
“ver” este e outros conjuntos de cores, podemos recordar que algumas
pessoas, apesar de disporem de um aparelho visual morfologicamente bem
constituído, não são capazes de discernir toda uma gama de tonalidades que
compõem o arco-íris. Alguns fixam-se por uma reduzida capacidade de
identificação de tons cinzentos: são os daltônicos. A analogia proposta aqui é a
de que a não consciencialização da diversidade cultural que nos rodeia em
múltiplas situações, constituiria uma espécie de “daldonismo cultural”
(CORTESÃO e STOER 1996, p.38)
87
trabalham com a ideia que interculturalidade é uma mesclagem ou hibridismo. Mozart
Linhares da Silva, assim nos explica:
Dessas acepções, podemos ressaltar o que nos escreve Homi Bhabha sobre
diferença cultural:
Assim sendo, não se trata de indicar culpados, mas até se poderia, pela
insistência em se divulgar um modelo cultural padrão amparado pela homogeneidade.
O que se pretende é elucidar os mecanismos que nos conduziram a uma perspectiva
única da realidade. Devemos questionar as representações, que durante séculos,
estiveram a serviço da cultura hegemônica, a fim de conhecer o porquê outro foi
inventado como inferior.
A questão da interculturalidade na sociedade brasileira pode ser buscada na
década de 80, do século XX, que foi o momento das discussões para elaboração da
Constituição Federal de1988. Nesse sentido, houve também as lutas históricas dos
movimentos indígenas, dos movimentos afro-brasileiros, dos movimentos feministas,
entre outros. Vale ressaltar (BHABHA 2007, P 4) “[...] que os ‘limites’ epistemológicos
daquelas idéias etnocêntricas são também as fronteiras enunciativas de uma gama de
outras vozes e histórias dissonantes, até dissidentes – mulheres, colonizados, grupos
minoritários [...]”.
88
Muitas vezes ao se interrogar alguns componentes da sociedade, profissionais
da educação e os que trabalham com processos educativos sobre como lidam ou
convivem com a diferença, a resposta é quase unânime, de forma normal. Beckes e
Pavan (2011, p.114) assim pronunciam-se sobre isso “a normalidade está articulada
com estratégias eficazes de referir-se ao outro, sem que este outro seja efetivamente
visto, tenha rosto, seja capaz de falar, enfim, que tenha um corpo”.
Assim, o tratamento igual ou normal não garante os direitos dos diferentes, pois:
89
(2007, p.98) escreve que os grupos “podem terminar por construir “guetizações” e
universalizar os particularismos”.
Assim entendemos que se deve atentar para as diferentes perspectivas que
envolvem o interculturalismo. Tais perspectivas são demostradas da seguinte forma por
Alice C. R. Lopes:
Tanto pode se referir a uma perspectiva assimilacionista, em que uma cultura
dominante objetiva assimilar uma cultura minoritária (...) como pode ser
multiétncia, um instrumento para diminuir preconceitos de uma sociedade para
com as minorias étnicas, ou ainda associada a um pluralismo cultural, em que
se busca proporcionar visões plurais da sociedade e de suas elaborações.
Pode-se citar, igualmente, o enfoque relativista, segundo o qual toda, e
qualquer perspectiva cultural é igualmente válida (LOPES, 2000, p. 95)
Referências:
91
ESTEBAN, Maria T. Diferença e (des) igualdade no cotidiano escolar. In MOREIRA,
A. F. B.; PACHECO, J.; GARCIA, R. L.(orgs.). Currículo: pensar, sentir e diferir. Rio de
Janeiro: DP&A, p.159-177, 2004.
APROPRIAÇÃO
05- Após o término das atividades, o mediador irá solicitar um trabalho individual
sobre a temática. Esse trabalho será desenvolvido pelo participante no intervalo
de tempo entre o encontro realizado e o próximo.
92
ENCONTRO 07 - A constituição das identidades dos
estudantes na pós-modernidade
BREVE INTRODUÇÃO
93
(2006, p.24) “a cultura se laicizou, as sociedades passaram a ser movidas pelo Estado
burocrático e pela empresa capitalista”.
Como o desenvolvimento do processo moderno é de boa parte da chamada
contemporaneidade, o novo homem que se sentia livre agora está submetido a novos
imperativos, nova razão e ciência, novo estado burocrático, novos princípios capitalistas
de produção, entre outros.
Esses novos imperativos desenvolveram um homem e uma sociedade baseados
na tecnologia, no consumo, na fragmentação, no brilho intenso, na valorização do
efêmero, entre outros. Assim, a partir de 1945, tem início uma nova etapa no
desenvolvimento social e humano, a qual foi chamada de “Pós-modernidade”.
Conceituar o pensamento pós-moderno não é tarefa simples, pois como afirma
Netto (2002, p97) “esse pensamento não pode ser sumariamente equalizado”. Para o
autor, “inexiste a teoria pós-moderna, existem concepções pós-modernas” [...].
Confirmando essa perspectiva Jair Ferreira Santos, assim nos escreve sobre a
pós-modernidade:
O pós-modernismo é um ecletismo, isto é, mistura várias tendências e estilos
sob o mesmo nome. Ele não tem unidade; é aberto, plural e muda de aspecto
se passamos da tecnociência para as artes plásticas, da sociedade para a
filosofia. Inacabado, sem definição precisa [...] (SANTOS, 1986: p.18-19)
94
Essas ideias de identidades são cristalizações de um modelo que reside nos
imaginários e representações individuais e coletivas, do que se esperado de
determinados segmentos que compõem o processo pedagógico / educacional escolar.
O que está velado é que, em muitos casos, determinadas atribuições de função
respondem ao modelo padrão imposto por deliberado período histórico, dogmas morais
e sistemas produtivos.
Daí há necessidades de verificarmos como surgem determinadas identidades. A
composição dessas identidades é espontânea. Configuradas no relacionamento das
intersubjetividades do convívio social, ou são identidades determinadas
ideologicamente e constituídas para atender determinado objetivo das convenções,
políticas, sociais, culturais, religiosas e do sistema econômico vigente.
PRÁTICA INICIAL
01- Para colher as ideias prévias dos participantes sobre as identidades dos
estudantes, o mediador irá exibir o videoclipe: “Metamorfose ambulante social”.
(de acordo o tempo de duração o vídeo pode ser exibido mais de uma vez).
1.2. Após exibir o videoclipe o mediador irá propor que os participantes façam
depoimentos a partir das questões colocadas abaixo:
a) Quais são suas impressões sobre o videoclipe?
b) Você como professor, já passou por metamorfoses na vida pessoal e profissional?
c) Passar por metamorfoses é possível, é fácil, é difícil, é necessário?
d) Quais as atuais identidades dos estudantes?
e) A que tipos de metamorfoses o estudante vem passando no atual contexto social?
Como você tem trabalhado com esse aspecto pessoal e social?
f) Existem outras percepções as quais queiram manifestar sobre o videoclipe?
95
PROBLEMATIZAÇÃO
“Em minha calça está grudado um nome Onde terei jogado fora
Que não é meu de batismo ou de cartório Meu gosto e capacidade de escolher,
Um nome... estranho. Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida, [...]
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
[...]
[...]
Disponível em:
E bem à vista exibo esta etiqueta http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/
Acessado em: 10 / 10 / 2013.
[...]
96
a) Quais são suas referências para formar sua identidade ou você acredita que sua
identidade já está consolidada?
b) Quais os elementos e mecanismos que possibilitam ou interferem no
desenvolvimento das identidades pessoais e sociais?
c) Os estudantes estão passando por esse processo de formação de identidade
pessoal e social? O que os influenciam? Como você percebe isso?
d) Como você denominaria o período histórico, social e cultural que estamos
vivenciando?
e) O período que você acaba de denominar é uma elaboração humana ou é fruto de um
sistema ideológico ou econômico? Argumente.
02.2- O mediador irá solicitar que os participantes organizem duplas e elaborem duas
estrofes com quatro versos cada sobre: “Eu também sou etiqueta?”
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
97
04- O mediador irá entregar aos participantes textos, versando sobre aspectos
pertinentes ao título que nomina toda essa atividade.
8
Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
98
A “modernidade” significou uma revolução cultural, ocorrida apenas no
ocidente, que acompanhou e tornou possível a expansão europeia pelo mundo
e, internamente, a constituição de uma nova ordem política (Estado
burocrático), uma nova ordem econômica (ética do trabalho e empresa
capitalista) e uma nova ordem social (não-fraternidade religiosa). Esse conceito
designa uma consciência secularizada, mais fascinada do que atemorizada pela
experiência do tempo sublunar. (REIS 2006, p. 22)
101
O que está velado é que, em muitos casos, determinadas atribuições de função
respondem ao modelo padrão imposto por deliberado período histórico, dogmas morais
e sistemas produtivos.
Daí a necessidade de verificarmos como surgem determinadas identidades. A
composição dessas identidades são espontâneas, configuradas no relacionamento das
intersubjetividades do convívio social ou são identidades determinadas ideologicamente
e constituídas para atender determinado objetivo das convenções, políticas, sociais,
culturais, religiosas e do sistema econômico vigente.
A partir dessas considerações, faz-se necessário compreender como ocorre a
constituição das identidades. Assim, recorremos a Márcia Regina Barroso:
Então, é possível afirmar que as identidades estão sempre em crise. Crise esta
provocada por mudanças que estão deslocando estruturas e processos centrais da
sociedade, abalando as referências que ancoravam o indivíduo de forma estável no
mundo social. Sendo assim, o modelo hegemônico imposto, na maioria das vezes,
102
utiliza-se dessas circunstâncias para veicular tradições inventadas com o intuito de
privilegiar determinado contexto político, econômico e sociocultural.
Muitas vezes, percebemos mudanças repentinas nos sujeitos históricos, pessoas
próximas, bem como com os estudantes. Essas mudanças, muitas vezes, nos tiram dos
ajustes aos quais estamos acostumados e causam estranhamento. A explicação de
Stuart Hall (1997, p.14) para esse fato consiste no seguinte: “à medida que os sistemas
de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das
quais poderíamos nos identificar ao menos temporariamente”.
Na perspectiva das identidades como conceito sempre em constituição, a partir
das constantes interações sociais com a diferença, relaciona a concepção de Stuart
Hall (1997, p.10) a respeito das mesmas: “sujeito do iluminismo” – identidade fixa,
“sujeito sociológico” – identidade pela interação e “sujeito pós-moderno” – identidades
instáveis móveis.
Mesmo considerando as diferentes constituições identitárias, presenciamos a
veiculação ou estabelecimentos de estereótipos que determinam lugares fixos e
relações de poder específicas, a partir de um modelo hegemônico. É importante
ressaltar que estereótipos são momentos informes de constatação de uma mente
colonizada. Comentam Machado e Pageaux (1981, p.45) “o estereótipo levanta o
problema de uma hierarquia de culturas: ele distingue o EU do Outro e, quase sempre,
valoriza o primeiro em detrimento do segundo”.
O ambiente educacional / escolar é um espaço de convivência e socialização de
diferentes identidades e manifestações culturais. Sendo assim, é um espaço propício
para constituição de identidades. Então, que essas identidades sejam livres da tutela de
modelos determinados por uma cultura universal e dominante.
Para que as diferenças e as subjetividades presentes no ambiente escolar sejam
respeitadas e valorizadas, faz-se necessária a prática da alteridade. A alteridade no
contexto atual recebeu diferentes conceitos / interpretações. Para a Psicologia
(Dicionário de psicologia 1973, p.75), a alteridade se refere ao “o conceito que o
indivíduo tem segundo o qual os outros seres são distintos dele”. Já para a filosofia
103
(ABBAGNANO, 1998 p. 34-35): “do latim alteritas; ser outro, colocar-se ou constituir-se
como outro”.
A alteridade constitui-se um campo muito importante de interação das diferenças,
conforme expõe Reinaldo Fleuri (2003, p.497) “Trata-se do desafio de se respeitar as
diferenças e de integrá-las em uma unidade que não as anule, mas que ative o
potencial criativo e vital da conexão entre diferentes agentes e entre seus respectivos
contextos”.
Considerando o sistema econômico praticado em nossa sociedade, o
desenvolvimento da alteridade não é uma tarefa fácil, pois as imposições do capitalismo
sempre conduzem os sujeitos à prática da individualidade, da competição e da
segregação. Assim, nos coloca Jonathan de Oliveira Molar sobre os desafios da
alteridade:
104
Nessa perspectiva, é possível pensarmos em outras possibilidades
emancipatórias de nossas subjetividades. O desenvolvimento da alteridade pode ser
uma delas, pois o meu “eu” em interação com o “outro”, com “diferente” e a diferença
pode resultar em uma alternativa ao modelo de exclusão e segregação imposto pelo
sistema econômico capitalista.
Outro aspecto a ser considerado na constituição das identidades e
subjetividades é a instituição das representações. As representações coletivas e
individuais que se desenvolvem e se naturalizam em nossa sociedade e que, na
maioria das vezes, possibilitam a invenção do “outro” como inferior e,justificam domínio,
são de aculturação e extermínio.
Para compreender o que são representações, recorremos a Frangella e Barreiros
(2008, p.4). “As representações são construções sociais, portanto, políticas,
entendendo-se a política como [...] uma ação contingente, conflituosa, discursiva e
dialógica que permite aos sujeitos assumir posições dentro dos discursos identitários,
num universo democrático-pluralista completo de lutas e negociações” e, corroborando
com os autores, temos a contribuição de Silva:
105
significado aos mais fracos e, além disso, impõem a estes seus significados
(COSTA 1999, p. 42-43)
106
Os elementos, anteriormente, relacionados acabam se refletindo no ambiente
escolar, possibilitando fragmentação, meritocracia, competição, invisibilidade,
silenciamento e segregação. Porém esses elementos não deveriam fazer parte do
processo pedagógico educacional, pois o processo é o espaço de socialização do
conhecimento. Conhecimento este que deve ser utilizado no sentido de emancipação
humana e não adestramento de mentes em prol de um projeto econômico dominante
que não oferece igualdade de condições.
O ambiente escolar sendo um espaço de socialização por excelência deve
comprometer seu projeto pedagógico com a causa da emancipação das identidades e
promoção da alteridade. E, como espaço de socialização de conhecimentos acervados
pela humanidade promova a constituição de identidades livres, a partir da análise,
reflexão e debates fraternos sobre as diferenças, os diferentes e a sociedade tal como
se apresenta, sendo capazes de inferir sobre os diferentes aspectos políticos,
econômicos, sociais e culturais, não para sua reprodução; mas para sua transformação.
Referências:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
107
COSTA, M. V. (1999). Currículo e política cultural. In COSTA, M. V. (org.). O currículo
nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, p.37-68.
108
PAULO NETTO, José. Georg Lukács: um exílio na pós-modernidade. In: PINASSI,
M; LESSA, S. (Org.). Lukács e a atualidade do marxismo. São Paulo: Boitempo, p. 77-
101, 2002.
SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2001.
aos mesmos.
109
APROPRIAÇÃO
110
ENCONTRO 08 - Cultura das mídias: produção de sentidos,
identidades e necessidades dos jovens e adolescentes
BREVE INTRODUÇÃO
111
do meio natural, competição, ganância e lucros. É claro que o homem, desde a
comunidade primitiva, travou diferentes conflitos pela posse da produção material, bem
como conflitos ideológicos e religiosos. Mas atualmente presenciamos outros conflitos
em nossa sociedade.
Esses conflitos em muitos casos assemelham-se com já ocorridos. Os novos
conflitos do século XXI envolvem muita tecnologia, apesar de já terem aparecido em
outros momentos históricos, como comunicação e equipamentos bélicos ou não, de alta
resolução que provocam destruição física, bem como do caráter, da identidade e da
personalidade humana
Articulando-se a esses elementos apresentados, temos a rede mundial de
computadores e a cultura da mídia que proporcionam comunicação em tempo real.
Sua atuação não se resume apenas à comunicação, envolve a produção de
identidades, necessidades, sentidos, consumo e veiculação de produtos proibidos pela
legislação configurando assim, na maioria das vezes, um cenário desolador.
PRÁTICA INICIAL
a) Quais são suas impressões sobre o videoclipe? O que mais lhe chamou a atenção
ou foi significativo?
b) Qual a sua atitude / procedimento diante de uma propaganda?
c) Em relação à propaganda em qual das analogias você se adapta?
d) Existe um convencimento ideológico na propaganda? Como você o descreveria?
112
e) Existem outras percepções as quais queiram manifestar sobre o videoclipe?
PROBLEMATIZAÇÃO
a) Quais são suas impressões sobre o videoclipe? O que mais lhe chamou a
atenção ou foi significativo?
b) Quanto do seu tempo diuturno você dispensa a mídia, a seus aplicativos e
seus programas? Por quê?
c) Em sua vida pessoal e profissional você já fez um estudo sobre mídias?
Quando? Por quê? O que você concluiu deste?
d) Considerando seus conhecimentos sobre mídias, quais seriam funções na
vida pessoal da população e para a sociedade?
e) As manipulações desenvolvidas pelas mídias visam somente o incentivo ao
consumo. Argumente.
f) Quais sentidos do ser humano são configurados ou desconfigurados pelas
mídias? Como isso acontece?
g) O fenômeno das mídias é algo do contexto atual da sociedade?Explique.
h) Como as expressões “Sim Senhor!” e “Não senhor!”, presentes no videoclipe,
podem ser interpretadas no cotidiano pessoal e social?
i) As mídias produzem medidas de valor, riqueza e propriedade. Quais são
elas? Como isso se operacionaliza / concretiza?
113
j) A cultura das mídias é um conteúdo oportuno a ser trabalhado com os
estudantes? Como isso contribuiria com a personalidade, caráter e
identidade dos mesmos?
k) Lista algumas palavras de ordem presentes ou utilizadas pela mídia para
atrair / aliciar a população?
l) Existem outras percepções as quais queiram manifestar sobre o videoclipe?
REFLEXÃO / INSTRUMENTALIZAÇÃO
05- Para iniciar as discussões, análises e reflexões sobre a cultura das mídias, o
mediador irá exibir o videoclipe: “Indústria cultural”. Objetivando introduzir as
discussões sobre esse conceito.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=XjFtPYEKJWQ
Acessado em: 11 / 10 / 2013.
114
04- Na sequência o mediador entregará aos participantes o texto abaixo
relacionado.
115
CULTURA DAS MÍDIAS: PRODUÇÃO DE SENTIDOS,
IDENTIDADES E NECESSIDADES DOS JOVENS E
ADOLESCENTES
Luiz Carlos Kanigoski 9
9
Professor de História da Rede Estadual do Paraná. Texto elaborado para Produção Didática do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014.
116
apresentado serve, modestamente, para atestar que homem em sua prática de
autopreservação ou exploração econômica sempre interfere na natureza, a qual sempre
apresenta consequências. As consequências são diversificadas e, envolvem destruição
do meio natural, competição, ganância e lucros. É claro que o homem, desde a
comunidade primitiva, travou diferentes conflitos pela posse da produção material, bem
como conflitos ideológicos e religiosos. Mas atualmente presenciamos outros conflitos
em nossa sociedade.
Esses conflitos, em muitos casos, assemelham-se com já ocorridos. Os novos
conflitos do século XXI envolvem muita tecnologia, apesar de já terem aparecido em
outros momentos históricos, como comunicação e equipamentos bélicos ou não, de alta
resolução que provocam destruição física, bem como do caráter, da identidade e da
personalidade humana
Articulando-se a esses elementos apresentados, temos a rede mundial de
computadores e a cultura da mídia que proporcionam comunicação em tempo real.
Sua atuação não se resume apenas à comunicação, envolve a produção de
identidades, necessidades, sentidos, consumo e veiculação de produtos proibidos pela
legislação, configurando assim, na maioria das vezes, um cenário desolador.
Até esse momento muitos leitores podem pensar que o texto quer refutar o
desenvolvimento tecnológico e os diferentes meios da comunicação. Não se trata disso,
o que se quer é atentar para uma reflexão, análise, crítica, avaliação e debate fraterno
sobre a tecnocultura. Mesmo por que nas sábias palavras de Paulo Freire (1996, p. 33)
não podemos “divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência, é uma forma altamente
negativa e perigosa de pensar errado”.
A partir desse trecho do texto nos dedicaremos à cultura da mídia, suas
fórmulas, seus códigos, seus discursos, seus mitos, sua postura ambígua e suas
imagens espetaculares que constituem identidades, modelam visões de mundo, criam
terrenos de disputas, veiculam ideologias rivais e trazem os indivíduos para o embate.
Assim sendo, formulamos uma pergunta, há muito tempo já mencionada: É a
mídia que faz o público ou é o público que faz a mídia? Vejamos o que Maria da Graça
Setton nos responde a esse respeito:
117
[...] essa é uma falsa questão. [...] o verdadeiro problema é o do diálogo entre o
sistema de produção das mensagens e as necessidades cultuais dos
consumidores. Nesse sentido, a cultura de massa conversa com a audiência.
Com seu aparato produtivo de técnicos, psicólogos, jornalistas e publicitários
cria estratégias de conhecer os interesses de seu público para moldá-los
segundo seus interesses. (SETTON 2011, p 59)
Quando nos referimos à cultura da mídia, não queremos nos referir ao termo
cultura. A cultura é muito mais que isso. Segundo Maria da Graça Setton (2011, p.19),
cultura expressa “um conjunto de condições sócias de produção de sentidos e valores
que ajudam na produção das relações entre os grupos que auxiliam na transformação e
na criação de novos e outros sentidos e valores”.
Assim entendemos que, as culturas, e entre elas, a cultura das mídias, devem
ser vistas enquanto um processo; devem ser vistas nos “atos de produção, nos atos
que envolvem a divulgação e nos atos de promoção das mensagens, bem como nos
118
atos de recepção daquilo que é produzido [...] quatro etapas que se entrecruzam para
realizar o fenômeno da criação da cultura midiática” (SETTON 2011, p.19).
As mídias, hoje, têm ocupado cada vez mais espaço em nossa sociedade.
Tornaram-se grandes agentes de socialização e passaram a ocupar um papel
educativo na contemporaneidade. Articuladas com família, religião e escola operam
como divulgadoras de “valores, padrões e normas de comportamento e também servem
como referências identitárias.” (SETTON 2011, p. 8)
Em relação à cultura das mídias, é importante atentar que a mesma vem
ocupando espaços antes utilizados pelas matrizes de referência como a religião, a
escola, a família, pois estas instituições estariam revelando profundas transformações.
As mídias, a partir de processo de investigação e produção, articulam-se ao
sistema econômico vigente e agem com objetivos determinados, impor ideologias e
padrões dominantes. Dessa forma, é um obstáculo a democratização da sociedade,
pois seus projetos midiáticos, na maioria das vezes, estão carregados de racismo,
segregação, discriminação, conservadorismo político, sexismo, heterossexismo,
preconceitos étnicos, entre outros.
Segundo Maria da Graça Setton (20011, p.21) [...] “a cultura, enquanto um
sistema simbólico é um veículo de sentido”. A mesma autora continua nos explicando a
esse respeito em relação às mídias:
119
Como já relacionado anteriormente, a cultura da mídia articula-se com o sistema
econômico vigente, ou seja, as mídias são uma produção do sistema capitalista. Maria
da Graça Setton, assim nos situa a esse respeito:
120
vínculos reais, mas a outros ficcionais e artificialmente inventados. Sua
operacionalização ocorre no momento do planejamento da pauta dos programas.
c) Padrão da inversão – proposital reordenação das partes dos fatos e
acontecimentos. Destrói a realidade original e cria uma realidade artificial. O
secundário é apresentado como principal. Há ênfase na forma em detrimento do
conteúdo, apresenta-se uma versão no lugar do fato acorrido, utilização de
frases ou pedaços de frases, estabelecimento de uma versão oficial e
substituição da informação pela opinião.
d) Padrão de indução – a população é excluída da possibilidade de ver e
compreender a realidade objetivada. A grande maioria da população é induzida a
consumir outra realidade artificialmente inventada.
e) Padrão global ou o padrão específico do jornalismo de televisão e rádio – o
jornalismo de radiodifusão (TV e rádio) passa por todos os quatro tipos gerais de
padrões de manipulação, mas ainda apresenta outro que lhe é específico,
embora haja pequenas diferenças entre o radiojornalismo e o telejornalismo, o
padrão global é o mesmo para ambos, grosso modo. A expressão global é aqui
empregada com o sentido de total, completo ou “redondo”, isto é, do problema à
sua solução. I – Exposição do fato; II – A sociedade fala e III – A autoridade
resolve.
Penso ser significativo, em se tratando da cultura das mídias, desenvolvemos
alguns conceitos a respeito dessa temática. Isso se faz necessário, pois os conceitos
dos quais lançamos mão podem denunciar o nosso conhecimento ou desconhecimento
sobre os fenômenos do mundo que nos cerca.
Para dispor alguns conceitos relacionados à cultura das mídias utilizaremos as
explicações de Maria da Graça Setton:
Por meio de comunicação de massa entendemos um termo que designa os
meios tecnológicos, eletrônicos, digitais, etc que propiciam a mediação entre
mensagem (um filme) e o receptor (um jovem de camada popular). Isto é, são
os veículos responsáveis pela transmissão de alguma expressão cultural.
(SETTON 2011, p.34)
121
Também por meio da contribuição de Maria da Graça Setton (2011, p 35)
relacionamos a compreensão sobre cultura de massa [...] “é um termo que designa um
tipo de cultura produzida longe de seus consumidores para a sua fruição e
entretenimento”.
Outro aspecto muito relevante, em se tratando de cultura das mídias, é a
expressão indústria cultural muito refletida e discutida no contexto atual. Conceito
criado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, autores da escola de Frankfurt, um
Instituto de Pesquisa Social, situado em Frankfurt, Alemanha, nos de 1930, que passam
a questionar sobre os novos mecanismos de produção dos bens culturais. Para esses
autores, as práticas sociais da cultura, como a música, por exemplo, são apropriadas
por empresas capitalistas (como a Indústria Fonográfica) e transformadas em produto,
que como um produto industrial, é produzido em larga escala, padronizado,
promovendo a massificação da cultura. O principal objetivo dessas empresas é o de
criar uma cultura de lucro.
Assim, entendemos que grande parte dos bens / produtos culturais são frutos da
indústria cultural articulada ao sistema econômico vigente que visa à acumulação e ao
lucro. Esse aspecto é percebido quando as festas folclóricas locais, regionais ou
nacionais são transformadas em grandes eventos, ou que o lazer não é mais repouso e
recuperação física, mas sim ter uma vida consumidora de ilusões e prazeres. Para que
a indústria cultural atinja a todos, produz-se uma segmentação para dividir o público
consumidor em grupos ideais de consumo.
Outro aspecto já percebido, manipulado e utilizado pela cultura das mídias é a
descrença de grande parte da população com a eficácia da religião e com as
personalidades públicas, diante dessa ausência; buscam modelos. Referente a esse
aspecto, Maria da Graça Setton (2011, p.62) assim se posiciona “a cultura das mídias
cria heróis modernos nas figuras das celebridades. Artistas de novelas, cantores ou
esportistas podem vir a se transformar nos heróis de nossa época”.
É necessário ressaltar também que as novas mídias (MSN, Orkut, Facebook,
entre outros) que se popularizaram entre grande parte da população, sem considerar
idades específicas, são divulgadas como grandes instrumentos de comunicação. Isso é
122
uma grande ilusão, pois não nos comunicamos, apenas trocamos informações. E mais
uma vez, recorrendo a Maria da Graça Setton (2011- p.95) a respeito dessas novas
mídias a autora assim posiciona-se [...] “elas estariam prolongando nosso corpo, seriam
uma espécie de prótese de nossos sentidos, extensão de nosso sistema nervoso
central”.
O texto desenvolvido não é uma bandeira de não utilização dos meios de
comunicação ou da cultura das mídias. Em momento algum se fez menção a não
utilização das diferentes tecnologias, mesmo por que em nosso atual contexto de
desenvolvimento isso seria impossível. O que se propõe é que devemos atentar sempre
para as mensagens, os sentidos, as necessidades, os mitos, os códigos, as
segmentações e manipulações propostas pelos meios de comunicação, pelas
tecnologias e pela cultura das mídias e a partir disso refletir, analisar, criticar, avaliar e
debater de forma fraterna tal fenômeno. Sociedade, escolas e profissionais da
educação devem possibilitar sempre e oportunamente a discussão dessa temática para
que assim sejam desenvolvidos sujeitos históricos capazes de inferir criticamente em
suas realidades, consumindo consciente e emancipadamente os bens culturais
produzidos pela sociedade, pela tecnologia e pelo homem.
Referências:
123
MARTINS, Guilherme Paiva de Carvalho e AMARAL, Marcela Carvalho Martins.
Indústria cultural, mídia e cibercultura. Revista Desenredos, ano III, nº 9, Teresina,
ISSN 2175-3903, abril, maio, junho, 2011. Disponível em:
http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/9_-_Artigo_-_Cibercultura_-_Guilherme_-
_Marcela.pdf. Acessado em: 12 / 11/ 2013.
SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2001.
APROPRIAÇÃO
06- Após o término das atividades, o mediador irá solicitar que os participantes se
manifestem oralmente sobre o proposto a seguir:
cenário desolador
124
nossas crianças, nossos adolescentes, jovens e por que não dizer,
estudantes, doentes.
125
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
126
a “constituição do sentido da experiência no tempo[...]”. (RÜSEN 2001, p. 58
apud PARANÁ, 2008, p.57)
127
Assim, cada encontro contempla temáticas diferentes metodologicamente, de
forma que os professores e demais profissionais da Educação possam compreender
como ocorre a escrituração do conhecimento histórico, formando uma consciência
histórica, por meio do trabalho com fontes históricas, da fundamentação na
historiografia, da problematização do conteúdo e de uma organização estruturada por
narrativas históricas produzidas pelos sujeitos.
São disponibilizados nesse Caderno Pedagógico 08(oito) encontros visando à
compreensão do conhecimento histórico a respeito das diferentes temáticas. Os
encontros são compostos por seções específicas como:
Breve introdução – Momento em que, de forma sucinta, a temática é relata a
partir de alguns elementos específicos em relação sua totalidade.
Prática inicial - O mediador do encontro apresenta a temática e recolhe os
conhecimentos prévios a respeito da mesma.
Problematização - Deve detectar que questões precisam ser resolvidas no
âmbito da prática social e, em consequência, que conhecimento é necessário dominar.
Reflexão / instrumentalização - É o caminho pelo qual a temática do encontro é
sistematizada é posta à disposição dos participantes (partir dos textos disponibilizados)
para que o assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em instrumento de
construção pessoal e profissional.
Apropriação – Momento síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do
prático a que o participante chegou, marcando sua nova posição em relação à temática
em discussão e à forma de sua construção social e a sua reconstrução na escola.
Nesse momento também é solicitada uma atividade individual ou de grupo,
empregando uma nova perspectiva / possibilidade a respeito da temática.
É importante ressaltar que muitos dos elementos que fazem parte das
seções desse Caderno Pedagógico podem ser empregados pelos professores e sua
prática pedagógica no ambiente escolar.
128
Podemos inferir assim que a multiplicidade de culturas é um fato em nosso país.
Algo que não se pode negar ou inviabilizar em nome de um projeto hegemônico de
nação que privilegia um grupo específico e dominante da sociedade.
A escola, como espaço de socialização do conhecimento acervado pela
humanidade, precisa a partir dos professores, com mentes descolonizadas, conduzir
seus estudantes a uma emancipação por meio da apropriação de um conhecimento
livre da influência de um modelo imposto que exclui, segrega e invisibiliza as diferenças
e os “diferentes”.
129
REFERÊNCIAS:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. Editora Ática. 13ª Edição. São Paulo: 2003.
131
COSTA, M. V. (1999). Currículo e política cultural. In COSTA, M. V. (org.). O currículo
nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, p.37-68.
132
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra 1996.
133
LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro,
2004.
LOPEZ Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. 4ª ed. Porto alegre: Mercado Aberto,
1985.
134
MOLAR, Jonathan de Oliveira. Alteridade: uma noção em construção. Disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/493_215.pdf. Acessado
em: 07/11/2013.
135
OLIVEIRA, J. F., LIBÂNEO, J. C. A educação escolar: sociedade contemporânea. In:
Revista Fragmentos de Cultura, v. 8, n. 3, p. 597-612, Goiânia: IFITEG, 1998.
136
http://www.ces.uc.pt/myces/UserFiles/livros/309_Art7%202007%20eurocentrismo%20id
ent%20livro%20unicamp.pdf Acessado em 01/011/2013.
SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2001.
TORRES, Patricia Lupion. (org.) Algumas vias para entretecer o pensar e o agir.
Curitiba: SENAR-PR, pp 155 a 188, 2027.
137