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ESZS 025 – Máquinas de Fluxo

Aula 2 – Revisão de conceitos da Termodinâmica

Prof. Dr. Marcelo Tanaka Hayashi


Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Federal do ABC
ESZS 025 – Máquinas de Fluxo
Formas de energia

• Existem inúmeras formas de energia (térmica, mecânica, elétrica, ...).


• A soma de todas elas constitui a energia total (E) de um sistema. Assim:
E
e= (1)
m
é a energia total específica de um sistema de massa m.
• É conveniente separar as diversas formas de energia em 2 grupos:
(a) Macroscópicas formas de energia que um sistema possui como um
todo, com relação a algum referencial externo. Ex.: Energia potencial,
cinética e magnética.
(b) Microscópicas formas de energia relacionadas à estrutura e ao grau
de atividade molecular de um sistema. São independentes de refe-
renciais externos. Ex.: Energia térmica, química e nuclear.
• A soma de todas as formas microscópicas de energia é chamada de energia
interna (U) de um sistema.

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Formas de energia

• Energia cinética (EC): é a parcela de energia que um sistema possui como


resultado de seu movimento relativo a algum referencial. Quando todas
as partes de um sistema de massa m se movem com a mesma velocidade V :
mV 2
EC = (2)
2
ou, por unidade de massa:
V2
ec = (3)
2
• Energia potencial (EP ): é a parcela de energia que um sistema possui como
resultado de sua posição em um campo gravitacional. Para um sistema
de massa m, cujo centro de massa está elevado de uma cota z em relação a
algum referencial escolhido arbitrariamente:
EP = mgz (4)
ou, por unidade de massa:
ep = gz (5)
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Formas de energia

• Os efeitos magnéticos, elétricos e de tensão superficial são significativos


apenas em alguns casos específicos e, geralmente, podem ser desprezados.
Na ausência de tais efeitos, a energia total de um sistema é dada por:
mV 2
E = U + EC + EP = U + + mgz (6)
2
ou, por unidade de massa:
V2
e = u + ec + ep = u + + gz (7)
2

Observação
A Termodinâmica trata apenas da variação da energia total de um sistema, não
de seu valor absoluto. Assim, é possível atribuir o valor zero (E = 0) à energia
total de um sistema com relação a algum ponto de referência conveniente. A
variação da energia total de um sistema não depende do referencial escolhido.
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Trabalho de fluxo (ou energia de escoamento)

A
F –
V
p F
p –C
V
m

Pistão
imaginário

Na ausência de aceleração:


Wfluxo = F L = pAL = pV (8)

ou, por unidade de massa:


wfluxo = pv (9)
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Energia total de um fluido escoando (θ)

• Vimos que a energia total específica (e) de um sistema é composta por 3


partes: energia interna (u), cinética (ec) e potencial (ep) dada pela eq. (7).
• O fluido que entra ou sai de um V
– C possui uma forma adicional de energia,
a energia de escoamento (pv). Então, a energia total específica (θ) de um
fluido escoando é:

θ = pv + e = pv + (u + ec + ep) (10)

Definindo a entalpia, h = u + pv, tem–se:


V2
θ = h + ec + ep = h + + gz (11)
2
• Ao utilizar a entalpia ao invés da energia interna para representar a energia
total de um fluido escoando, não é necessário se preocupar com o trabalho
de fluxo. A entalpia leva em conta automaticamente a energia necessária
para "empurrar" o fluido para dentro ou para fora do V– C.

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O trabalho específico interno (w)

1 2
1 Face de sucção
ṁgeradora –C
V ṁgeradora

2 Face de pressão
Máquina de Fluxo
ṁmotora ṁmotora

Wgeradora Wmotora

O trabalho específico interno de uma máquina de fluxo é dado por:



V22 − V12
w = θ2 − θ1 = (h2 − h1 ) + + g (z2 − z1 ) (12)
2

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Carga hidráulica (H)

• Em máquinas de fluxo que trabalham com escoamentos incompressíveis, é


usual utilizar o conceito de carga hidráulica (H), medida em metros (SI):

w = gH (13)

onde g representa a aceleração da gravidade local.


• Substituindo (12) em (13), tem–se:

(h2 − h1 ) V22 − V12
H= + + (z2 − z1 ) (14)
g 2g

• Assim, a variação da energia total entre os flanges de entrada e de descarga


pode ser medida por:
(
Altura de elevação (Bombas)
∆H = HD − HE = (15)
Altura de queda (Turbinas)

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Escoamentos incompressíveis (máquinas de fluxo hidráulicas)
• É possível demonstrar que, para substâncias incompressíveis:
cp = cv = c (16)
• Por definição:
 
∂u
cv = (17)
∂T v
 
∂h
cp = (18)
∂T p
• Mas, os calores específicos de substâncias incompressíveis dependem so-
mente da temperatura. Assim:
du
c(T ) = ⇒ du = c(T )dT (19)
dT
• A integração da eq. (19) entre dois estados 1 e 2 pode ser facilitada se
adotarmos um valor médio de calor específico:
u2 − u1 ∼= c(T2 − T1 ) (20)
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Escoamentos incompressíveis (máquinas de fluxo hidráulicas)
• Utilizando a definição de entalpia e observando que v = const. para um
fluido incompressível, tem–se:
0
h = u + pv ⇒ dh = du + vdp + p dv
>= du + vdp
 (21)
• Ao integrar a eq. (21) entre 1 e 2 , obtém–se:
(h2 − h1 ) = (u2 − u1 ) + v (p2 − p1 ) (22)
• Substituindo (20) em (22), tem–se:
h2 − h1 ∼= c (T2 − T1 ) + v (p2 − p1 ) (23)
• Para líquidos, são encontrados comumente 2 casos especiais:
1. Processos a pressão constante (∆p = 0), como em aquecedores:
h2 − h1 = u2 − u1 ∼
= c (T2 − T1 ) (24)
2. Processos a temperatura constante (∆T = 0), como em bombas:
h2 − h1 = v (p2 − p1 ) (25)
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Escoamentos incompressíveis (máquinas de fluxo hidráulicas)

• Substituindo (25) em (12) e lembrando que ρ = 1/v, tem–se:



(p2 − p1 ) V22 − V12
w= + + g (z2 − z1 ) (26)
ρ 2

• Em geral, nas máquinas de fluxo hidráulicas:


1. Variações de energia potencial são desprezíveis (∆ep ∼
= 0).
2. Variações de energia cinética são desprezíveis1 (∆ec ∼
= 0).
• Logo, a eq. (26) se resume a:

(p2 − p1 )
w = h2 − h1 = (27)
ρ

1
Apesar da velocidade dos escoamentos na maioria das turbinas serem altas e o fluido
sofrer variações significativas de sua energia cinética, essa variação é, em geral, muito
pequena em relação à variação da entalpia e, portanto, pode ser desprezada.
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Gases ideais (máquinas de fluxo térmicas)
• Em um gás ideal, temperatura (T ), pressão (p) e volume específico (v) estão
relacionados pela equação de estado:
pv = RT (28)
• É possível mostrar que para um gás ideal, u = u(T ).
• Utilizando a definição de entalpia e a eq. de estado (28), tem–se:
)
h = u + pv
h = u + RT (29)
pv = RT
• Como R = const. e u = u(T ) ⇒ h = h(T ):
• Logo, das definições dos calores específicos:
 
∂u du
cv = ⇒ cv (T ) = ⇒ du = cv (T )dT (30)
∂T v dT
 
∂h dh
cp = ⇒ cp (T ) = ⇒ dh = cp (T )dT (31)
∂T p dT

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Gases ideais (máquinas de fluxo térmicas)

• Utilizando um valor médio dos calores específicos para integrar as eqs. (30)
e (31) entre 1 e 2 , tem–se:
u2 − u1 ∼
= cv (T2 − T1 ) (32)
h2 − h1 ∼
= cp (T2 − T1 ) (33)
• Em geral, para máquinas de fluxo térmicas:
1. Variações de energia potencial são desprezíveis (∆ep ∼
= 0).
2. Variações de energia cinética não podem ser desprezadas (∆ec 6= 0).
• Assim, a eq. (12) se resume a:
V22 V12
   
w = h2 + − h1 + = h02 − h01 (34)
2 2
ou ainda:
 
T02
w = cp (T02 − T01 ) = cp T01 −1 (35)
T01

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Processo isentrópico
• A entropia de um sistema pode variar devido a:
1. Transferência de calor.
2. Irreversibilidades.
• Logo, a entropia de um sistema não pode variar quando passar por um pro-
cesso adiabático e reversível. Tal processo é chamado isentrópico (∆s = 0).
• Em máquinas de fluxo:
1. Operação é essencialmente adiabática.
2. Melhor desempenho quando as irreversibilidades são minimizadas.
3. Processo isentrópico pode servir de modelo para os processos reais.
4. Processos isentrópicos permitem definir eficiências de processos com
o intuito de comparar o desempenho real desses dispositivos ao de-
sempenho sob condições idealizadas.
• Por definição:  
δQ
dS = (36)
T int. rev.

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Processo isentrópico
• A forma diferencial da eq. de conservação da energia para um sistema simples
fechado, estacionário, contendo uma substância compressível simples, pode
ser expressa para um processo internamente reversível por:
δQint.rev.,e − δWint.rev.,s = dU (37)
• Mas,
δQint.rev.,e = T dS (38)

δWint.rev.,s = p dV (39)
• Logo, substituindo (38) e (39) em (37), tem–se:
– ⇒ T ds = du + pdv
T dS = dU + pdV (40)
Equação de Gibbs
• Associando a eq. (40) com a definição de entalpia, tem–se:

dh = du + pdv + vdp
dh = T ds + vdp ⇒ T ds = dh − vdp (41)
T ds = du + pdv
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Processo isentrópico (líquidos)

• Líquido ⇒ Escoamento incompressível. Portanto:


dv ∼=0 (42)
• Substituindo (42) em (40), tem–se:
du c dT
ds = = (43)
dT T
• Utilizando um calor específico médio constante na eq. (43) e integrando–a
entre 1 e 2 , obtém–se:
Z2  
dT ∼ T2
s2 − s1 = c = c ln (44)
T T1
1

• Portanto, para um processo isentrópico:


 
T2
c ln = 0 ⇒ T1 = T2 (45)
T1

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Processo isentrópico (gás ideal)

• Substituindo du = cv dT e p = RT /v na eq. (41), tem–se:


dT dv
ds = cv +R (46)
T v
• A variação de entropia para um processo é obtida pela integração entre os
estados inicial e final:
Z2  
dT v2
s2 − s1 = cv + R ln (47)
T v1
1

• Novamente, utilizando o método aproximado (cv é um valor médio constante):


   
∼ T2 v2
s2 − s1 = cv ln + R ln (48)
T1 v1
• Uma outra relação é obtida ao substituir dh = cp dT e v = RT /p na eq. (41):
dT dp
ds = cp −R (49)
T p
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Processo isentrópico (gás ideal)

• Integrando a eq. (49) entre 1 e 2 e admitindo cp = const., tem–se:


   
T2 p2
s2 − s1 ∼
= cp ln − R ln (50)
T1 p1

• Uma relação entre cp e cv pode ser obtida pela diferenciação da eq. (29):

dh = du + R dT (51)

• Substituindo (30) e (31) em (51), tem–se:

cp dT = cv dT + R dT ⇒ cp = cv + R (52)

• Dividindo a eq. (52) por cp :

cv R
1= + (53)
cp cp

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Processo isentrópico (gás ideal)

• Definindo a razão de calores específicos (γ):


cp
γ= (54)
cv
• Substituindo (54) em (53), tem–se:
γR
cp = (55)
γ−1
• Utilizando a relação (55), para um processo isentrópico, as eqs. (48) e (50)
resultam:
   γ−1
T2 v1
= (56)
T1 s=const. v2
    γ−1
T2 p2 γ
(57)
=
T1 s=const. p1

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