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CARL VON CLAUSEWITZ

Fundação Educacional de Penápolis - FUNEPE


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Carla Cristina Wrbieta Ferezin
Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos
Anna Carolina Monéia Farias

CARL VON CLAUSEWITZ


© 2020 Editora FUNEPE
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Editor-Chefe:
Prof. Me. Thiago Mazucato
thiago@funepe.edu.br

Comissão Editorial:
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Conselho Editorial:
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Profa. Dra. Fabiana Ortiz Tanoue de Mello Prof. Dr. Wanderli Aparecido Bastos
Prof. Me. Luiz Antonio Albertti

Coleção Clássicos & Contemporâneos


Organizador: Prof. Me. Thiago Pereira da Silva Mazucato

Carl von Clausewitz / autores: Carla Cristina Wrbieta Ferezin; Rodrigo


F349c Duarte Fernandes dos Passos; Anna Carolina Monéia Farias; organi-
zador: Thiago Mazucato ── Penápolis: Editora FUNEPE, 2020.
73 p.

ISBN: 97885-93683-31-2

1. Ciências Socias. 2. Clausewitz, Carl von. I. Título.

CDD: 300 (20a)


CDU: 30

ISBN: 97885-93683-31-2

Editora FUNEPE
Avenida São José, 400 - Vila Martins - Penápolis/SP - (18) 3654-7690
www.funepe.edu.br/editora - editora@funepe.edu.br
Sumário

Apresentação da Coleção, 7

Introdução, 9

Trajetória profissional e intelectual, 11

O desenvolvimento da teoria, 25

Leituras sobre Clausewitz, 57

Referências, 69
Apresentação da Coleção

A coleção "Clássicos & Contemporâneos" surge na Editora FUNEPE


como resultado de um processo de intensificação da prática da pes-
quisa dentro da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
(FAFIPE/FUNEPE). Mais especificamente, vinculado ao Centro de Edu-
cação e Ciências Humanas (CECH) o Grupo de Pesquisa "Sociologia, Po-
lítica e Cidadania" vem produzindo diversas pesquisas de iniciação ci-
entífica, assim como a pós-graduação (especialização) "Diversidade,
Inclusão e Cidadania", no âmbito da disciplina Pensamento Político
Brasileiro e Cultura Política Brasileira, realizam, dentre outras ativida-
des de ensino e pesquisa, estudos sobre pensadores clássicos e con-
temporâneos.

Neste sentido, a instituição, por meio da Editora FUNEPE, sen-


sibilizada por este conjunto de ações de ensino e pesquisa, procurou
articular uma rede de pesquisadores no campo mais amplo das Huma-
nidades, para que escrevessem sobre autores específicos que tivessem
trabalhado em suas pesquisas. A linha editorial traçada para esta cole-
ção consistiu em produzir materiais bibliográficos de excelência, que
pudessem ser utilizados tanto por estudantes de graduação em está-
gios iniciais, quanto pelo público leitor mais amplo.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

A Coleção Clássicos & Contemporâneos, devido à sua caracte-


rística de possuir um escopo temático bastante amplo dentro das Hu-
manidades, procurará trazer publicações das mais diversas áreas —
Sociologia, História, Filosofia, Política, Antropologia, Geografia, Litera-
tura, Psicologia, Educação, Economia, Direito, e tantas outras áreas
correlatas.

O seu fio condutor será sempre o de apresentar ao leitor uma


trajetória do autor que dá nome a cada título da coleção: tanto em
sentido biográfico quanto em sentido intelectual, apresentando sem-
pre as principais ideias e teses do autor retratado.

Thiago Mazucato
Organizador da Coleção Clássicos & Contemporâneos

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Introdução

Passados cerca de 200 anos da publicação de sua obra maior,


o general prussiano Carl von Clausewitz continua a ser uma das maio-
res referências entre pesquisadores dedicados a temática da guerra,
da estratégia, da política e da história militar. Vom Kriege, título na lín-
gua alemã, ou Da Guerra, tradução para a língua portuguesa, traz um
denso conjunto de ideias sobre a natureza da guerra. Distintamente
de outros pensadores da sua época, os quais priorizaram construir te-
orias rígidas para compreender a guerra, Clausewitz tinha interesse no
processo de análise e compreensão dos aspectos históricos, sociais,
econômicos e políticos de uma sociedade para o desenvolvimento de
uma teoria mais próxima da realidade. Na perspectiva do prussiano, a
guerra deveria ser pensada a partir de uma lógica complexa, direta-
mente conectada com os processos históricos. Nesse ponto, é impor-
tante notar como sua teoria se construiu em consonância com a sua
experiência no meio militar, marcada pelas campanhas napoleônicas
(1792-1815) e as transformações da Revolução Francesa (1789-1799).

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Cabe destacar também a importância que o general prussiano dispen-


sou à pesquisa das guerras passadas, considerando suas dinâmicas e
as cotejando com as guerras de seu tempo. Isto posto, é crível dissertar
que os diversos conceitos expostos nas obras de Clausewitz são pro-
dutos de estudos sistemáticos da história da guerra e da sua prática
como militar.
Com o objetivo de trazer uma versão sucinta e introdutória so-
bre Clausewitz, suas principais obras, concepções e sua circulação, or-
ganizamos o presente livro em quatro partes. Considerando a impor-
tância da conjuntura histórica vivida por Clausewitz, a primeira seção
tem como propósito trazer elementos biográficos e contextuais fun-
damentais para a compreensão da construção de sua teoria. Na se-
quência, a segunda seção aborda as obras do prussiano, com destaque
para Da Guerra. Logo após, na terceira seção, trata-se dos conceitos
fundamentais elaborados pelo general, principalmente a discussão so-
bre o nexo entre a guerra e política. Na quarta e última seção, deli-
neiam-se diversos tipos de leitura sobre a teoria clausewitziana no de-
correr do tempo, notando como as visões e interpretações sobre o ho-
mem e sua obra se transformaram significativamente, sobretudo nas
conjunturas marcadas por guerras e conflitos.

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Trajetória profissional e intelectual:
o contexto de criação da teoria clausewitziana

Carl Philipp Gottlieb von Clausewitz nasceu em 1 de julho de


1780 em Burg, uma pequena cidade na região de Magdeburg, no an-
tigo Reino da Prússia e atual Alemanha. Tanto seu nome quanto a sua
data de nascimento passaram por distintas mudanças no decorrer do
tempo, não sendo nada incomum encontrar uma dissonância de infor-
mações. Por vezes, Gottlieb é substituído por Gottfried, assim como
Carl por Karl. O sobrenome da família, e pelo qual o general é mais
reconhecido, sugere origem polonesa, no entanto, descende, segundo
o mesmo, de seus ancestrais na Alta Silésia, região pertencente à Prús-
sia naquela época. Sua data de seu nascimento é igualmente marcada
por contradição. O dia primeiro de junho se tornou a data mais aceita
como a de seu nascimento e é inclusive a que consta em sua lápide na
cidade de Burg, por mais que os registros mencionem primeiro de ju-

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

lho como o dia oficial. Tais dubiedades e contrassensos suscitaram di-


versas conjecturas, contudo, permanecem sem respostas concretas
(STOKER, 2014)1.
Sob a mesma incógnita, pouco se sabe sobre a vida de Clausewitz
no período precedente ao seu ingresso no exército prussiano. Filho de
Friedrich Gabriel von Clausewitz e Frederike Dorothea Charlotte Sch-
midt, Clausewitz teve cinco irmãos, todos nascidos na mesma cidade.
Seu pai entrou para o exército em 1759, como oficial de baixa patente
e conheceu Frederike em uma das paradas do regimento em Burg,
onde vieram a se casar, em 1767. Após anos no exercício militar, Frie-
drich se tornou cobrador de impostos e viveu em uma casa confortável
com a sua esposa e filhos (BELLINGER, 2016; STOKER, 2014).
Para que fosse possível adentrar à carreira militar naquele mo-
mento, era preciso provir de família nobre, contudo, Friedrich Gabriel
não tinha nenhuma ligação direta e sua família era composta por pas-
tores e teólogos; inclusive, seu pai, Benedict Gottlieb Clausewitz, era
um renomado professor de teologia na cidade de Halle. No entanto,
diante da necessidade de forças na Guerra dos Sete Anos (1756-1763),
o Rei Friedrich II, o Grande, permitiu a entrada no exército de alguns
não-nobres, assim, Friedrich Gabriel pode ser integrado como oficial
de baixa patente. Sobre a nobreza dos Clausewitz, um dos elementos

1 Uma hipótese é que a alteração da data de nascimento se deu para que Clausewitz

pudesse ter a idade suficiente para ser aceito no processo de alistamento no exército
nas vésperas de uma grande campanha (BELLINGER, 2016, p. 28).

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

centrais para que fosse possível acessar o meio militar prussiano, foi a
tese, sustentada por Friedrich Gabriel, de que a família provinha da
nobreza da Silésia, mas que após a Guerra dos 30 anos (1618-1648),
os títulos haviam sido arquivados. Nesse ponto é necessário destacar
que mesmo com as políticas de maior abertura aos não-nobres, a par-
ticipação era ainda muito pequena, de modo que sem essa ligação,
Clausewitz não poderia entrar com facilidade no exército. Em 1764, a
avó viúva de Carl casou-se com Gustav Detlof von Hundt, comandante
do 34º Regimento de Infantaria e de origem nobre, podendo dessa
forma estabelecer (ou restabelecer, como provavelmente pensava
Friedrich Gabriel) vínculos da família Clausewitz com a nobreza. Assim,
quando o rei morreu e o novo rei foi coroado, os três filhos mais novos
de Friedrich Gabriel foram então comissionados (BELLINGER, 2016;
STOKER, 2014).
Naquela época, não era nada incomum que na Prússia e em
outras nações, os homens iniciassem suas carreiras militares muito jo-
vens, com casos de soldados aos nove anos de idade. Dois dos cinco
irmãos de Clausewitz entraram logo cedo no exército, já Carl, diferen-
temente de outros aspirantes que ingressavam como oficiais, ingres-
sou no exército, aos doze anos de idade, como cadete, Fahnenjunker,
no 34º Regimento de Infantaria do Príncipe Ferdinand. Um ano depois,
aos treze anos, em 1793, vivenciou seu primeiro combate, contra a Fran-
ça, em trincheiras sitiando Mainz. Presenciou ali não apenas o embate

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

de dois exércitos, mas também um choque entre doutrinas militares


(CORMIER, 2016; STRACHAN, 2008; STOKER, 2014).
Quando Clausewitz entrou para o exército, três anos se passa-
vam do início da Revolução Francesa, um dos principais marcos da His-
tória, e também um dos pilares para a futura teoria da guerra do prus-
siano. Mais de que um intenso conflito no cerne do país, a revolução
constituiu uma novidade histórica em diferentes aspectos sociais,
econômicos e políticos não só entre os franceses, como também para
as nações que vieram a enfrentar a fúria azul, branca e vermelha. O
Antigo Regime retratava o poder da nobreza e do clero, que juntos
formavam os estados mais altos, mas que correspondiam a uma pe-
quena parcela da sociedade, enquanto, do outro lado, havia uma
imensa massa a quem recaia as atribuições do Estado. O povo, insatis-
feito com a ordem política vigente, se uniu para derrubar o governo,
passando de uma condição passiva para a de agentes políticos (BIAN-
CHI, 2014).
É, então, a partir da identificação com os propósitos da revo-
lução, embalados pelos lemas de “liberdade, igualdade e fraterni-
dade”, que o movimento ganhou cada vez mais adesão popular, resul-
tando na ideia de uma Nação francesa. Com isso, logo difundiu-se a
imagem de cidadãos livres, com direitos iguais e agentes de si próprio,
o que refletiu diretamente no estado de espírito dos mesmos na guer-
ra. A paixão revolucionária dos franceses transformou-se em uma
enorme superioridade psicológica nos campos de batalha.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

Pela primeira vez, observava-se um profundo envolvimento do


povo pelas causas da guerra e, consequentemente, na sua disposição
a qualquer infortúnio. O exército francês era composto majoritaria-
mente por cidadãos, nacionalistas, um exército de massa, sendo ainda
alguns de seus generais de origem plebeia. Possuíam exércitos três ve-
zes maiores, principalmente durante as guerras napoleônicas. No auge
do exército francês em 1812, la Grande Armée de Napoleão contava
com 600.000 homens, um número muito superior a ordem militar eu-
ropeia tradicional. Grande parte dos exércitos monárquicos absolutis-
tas do século XVIII – entre esses o próprio exército do qual Clausewitz
fazia parte – eram organizações pequenas, profissionalizadas, coman-
dadas por aristocratas e formadas por soldados mercenários. O povo
na Prússia era um povo sem os mesmos direitos como na França; logo,
era um povo que não se identificava com as causas do Estado e, assim,
evidenciava-se as diferenças entre os exércitos (CORMIER, 2016; HO-
WARD, 1983).
O fenômeno da guerra, até então, era um assunto de gover-
nos, dos reis, e não do povo. O levée em masse francês rompeu com
essa tradição, levando milhares de pessoas a campo, especialmente,
durante as campanhas napoleônicas, com grande mobilização de re-
cursos, sem observar rituais cavalheirescos e travando batalhas deci-
sivas de enorme intensidade e com forte desejo em destruir total-
mente o inimigo. Como Clausewitz observava, era a “paixão do povo”
o elemento central na capacidade em lutar com grande afinco. Ao

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

passo que a guerra se manifestava agora não mais limitada por con-
tenções tradicionais, sem uma perspectiva limitadora da violência, as
táticas e doutrinas militares também se transformaram. Afinal, os
exércitos franceses tinham uma proporção muito maior do que já se
havia tido, de modo que a própria manutenção de si, no sentido orga-
nizacional das forças, não seria possível se fosse mantido o sistema an-
terior (STOKER, 2014).
Logo na sua primeira experiência, Clausewitz pode sentir a
força e a disposição francesa. Foi em janeiro de 1793, quando as forças
prussianas partiram para o encontro das forças francesas no Reno. O
regimento de Clausewitz bombardeou a cidade de Ginsheim, locali-
zada no entorno de Mainz, onde ele, ainda muito jovem, vivenciou a
intensidade da batalha. Com os tratados de Basiléia (1795), a Prússia
se retirou da guerra, o que fez com que Clausewitz passasse a se dedi-
car à sua educação. O seu autodidatismo e interesse pelo conheci-
mento fez com que passasse longos períodos na biblioteca do Príncipe
Heinrich para estudar além de temas militares, ciências, filosofia e ar-
tes (HOWARD, 1983).
Com as guerras revolucionárias ficou evidente a necessidade
de que o exército prussiano passasse por uma reforma, levando à cria-
ção da Escola Geral de Guerra de Berlim, a Berliner Allgemeine Kriegschule,
por Gerhard von Scharnhorst. Em 1801, Clausewitz foi admitido na re-
cém-inaugurada escola, onde conheceu Scharnhorst, quem seria seu

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

grande mentor e amigo. Pelo seu bom desempenho, tendo sido o pri-
meiro de sua turma em 1803, Clausewitz foi designado como tutor do
príncipe August von Preußen, ainda na primavera de 1803. O príncipe
tinha 24 anos e era filho do chefe do regimento de Clausewitz, Ferdi-
nand, e primo do rei. Com esta nova função, Clausewitz pode se apro-
ximar cada vez mais da alta sociedade prussiana (BASSFORD, 1994;
STRACHAN, 2008).
Foi nestes círculos aristocráticos que Clausewitz conheceu Ma-
rie von Brühl, sua futura esposa e a figura mais importante na publica-
ção das suas obras. A família de Marie, ainda que não fosse rica, era
de origem nobre, de modo que a relação com um capitão do exército
sem títulos contasse com certa resistência. Somente sete anos depois,
no dia 17 de dezembro de 1810, Clausewitz e Marie se casaram na
Igreja de Santa Maria, tendo vivido longos períodos separados devido
as atribuições militares de Clausewitz (BELLINGER, 2016). As cartas tro-
cadas entre o casal dão uma visão muito importante não só sobre as-
pectos da vida privada de Clausewitz – por exemplo, seus dilemas com
o “ser nobre” –, mas também constatam o desenvolvimento progres-
sivo de suas ideias sobre a guerra (ARON, 1986a; STOCKER, 2014).
De volta a trajetória profissional, entre os anos de 1803 a 1805,
Clausewitz passou a refletir sobre a guerra e sobre o que vivera, de-
senvolvendo ideias que seriam muito importantes para a produção fu-
tura do livro Da Guerra. Em 1806, ainda como seu tutor, Clausewitz

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

participou como aide-de-camp do príncipe August e foi preso na bata-


lha de Auerstedt contra os franceses, assim como outros 25 mil solda-
dos, sendo levado juntamente ao príncipe August para Berlim e, pos-
teriormente, à França. As batalhas de Auerstedt e Jena retalharam o
exército prussiano. Tal experiência fomentou em Clausewitz uma pro-
funda aversão aos franceses. Entretanto, referia-se a Napoleão como
um “Deus” ou “monstro” da guerra. Da mesma forma que o rejeitava,
pensava na necessidade de haver um grande homem, tal qual ele, para
o exército prussiano. Nesse ponto é importante ressaltar que os movi-
mentos nacionalistas dos franceses ecoaram em toda a Europa, de
modo que isso se traduziu entre muitos intelectuais prussianos – prin-
cipalmente após a catástrofe de Jena – em ideias de unificação da Ale-
manha e do nacionalismo, alimentado pelo Romantismo Alemão (BI-
ANCHI, 2014; HOWARD, 1983; LUTZ; RINK; VON SALISCH, 2010).
No outono de 1807, Clausewitz retorna à Prússia e, no ano se-
guinte, se encontra novamente com Scharnhorst e se une ao movi-
mento reformista. Durante quatro anos, Clausewitz, Von Scharnhorst,
von Gneisenau, von Boyen e von Grolman se dedicaram a reformular
as estruturas militares tradicionais do exército moldado por Friedrich
II, o Grande, e a propor mudanças em toda a sociedade e economia da
Prússia. Para Scharnhorst, as derrotas do exército prussiano na guerra
se davam pela sua ordem obsoleta e pela falta de envolvimento do
governo e do povo no conflito. Como já se havia notado, a força e as

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

paixões do exército francês não poderiam ser combatidas com as táti-


cas e estruturas arcaicas do exército tradicional prussiano. Suas expe-
riências em campo o fizeram compreender a importância do elemento
povo na guerra, quebrando as concepções de guerra travadas por reis,
príncipes e exércitos. Em outras palavras, Scharnhorst observava que
as transformações sociais, políticas e econômicas na França incidiram
diretamente na esfera militar e seriam necessárias mudanças internas
na Prússia para que pudessem derrotá-los (STOCKER, 2014).
Clausewitz, tendo em Scharnhorst o seu “pai intelectual”, pas-
sou a levantar a ideia da ineficiência de se conter o exército francês
por meio do tipo de “guerra diplomática”, uma vez que o exército tra-
dicional não estava preparado para esse novo tipo de guerra e seria –
assim como os austríacos em Austerlitz (1805) e os prussianos em Jena
(1806) –, totalmente destruído. Com vistas a transformar tal realidade,
o movimento reformista previa exames, treinamentos e, principal-
mente, educação aos seus oficiais. Segundo os reformadores, seria
preciso construir um exército de massa, baseado no alistamento uni-
versal, criar um exército de reserva, Krümpersystem, assim como fazer
mudanças no treinamento dos soldados, na promoção de oficiais, nas
penas militares e nas táticas do exército. O grupo de reformistas tam-
bém buscava, em campo, maior poder de fogo e flexibilidade na bata-
lha. Contudo, mais do que somente propor reformas para o exército,
os reformadores indicavam a imprescindibilidade de mudanças nas ques-

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

tões de liberdade e igualdade. Era evidente a eles a falta de identifica-


ção do povo para com a luta. Naquela conjuntura, enquanto os fran-
ceses tinham uma grande força moral e patriótica, na Prússia, existia
um povo sem direitos, com uma mínima participação na vida política
e fortemente desprendido de motivações (HOWARD, 1983; LUTZ,
RINK, VON SALISCH, 2010; SOUCHON, 2007). Isto é, a proposta era im-
plementar uma série de reformas não exclusivamente no exército,
mas também na administração do Estado e no sistema educacional.
Mas, as proposições não foram bem recebidas pela elite conservadora
e não puderam ser plenamente implementadas.
No ano de 1810, Clausewitz tornou-se professor da Allgemeine
Kriegsschule e tutor do príncipe herdeiro, o futuro Friedrich Wilhelm
IV, a quem dedicou o tratado militar conhecido como Princípios da
Guerra. Em 1812, o rei firma aliança com os inimigos franceses, conce-
dendo a ocupação da Prússia pelo exército francês e o fornecimento
de 20 mil homens. Scharnhorst tentou sua demissão, mas foi afastado
por licença, enquanto Clausewitz deixou, em 6 de junho de 1812, o
exército prussiano para vestir o verde russo e se juntar ao Imperador
Alexandre I da Rússia no combate a Napoleão. Por mais que não ti-
vesse domínio da língua russa, o prussiano serviu como assessor no
Estado-Maior e lutou toda a Campanha da Rússia (Mozhaisk, Borodino,
Smolensk e Vitebsk – 1812) e as Guerras de Libertação (1813-1814).
Após o rei da Prússia desfazer a aliança com Napoleão, no ano
de 1813, Clausewitz decidiu voltar ao exército prussiano, mas ainda

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

sem função de comando. Na visão do rei, a conduta de Clausewitz ha-


via sido desleal e somente no ano seguinte foi readmitido. Clausewitz
tornou-se assessor do General August von Gneisenau e, em 1815,
chefe de Estado-Maior do III Corpo do Exército da Prússia e impediu
que as forças do general Grouchy se unissem às de Napoleão em Wa-
terloo, contribuindo, assim, para sua derrota. Em 1818, Clausewitz é pro-
movido a major-general pelo rei e a diretor administrativo da Allgemeine
Kriegschule, em Berlim. Nesse período, suas tarefas eram basicamente
administrativas, de modo que pode dedicar mais tempo para seus es-
tudos que viriam a compor a sua principal obra, Da Guerra.
Diante de insurreições irrompidas no continente europeu,
Clausewitz é convocado para voltar à ativa, como comandante de um
grupo de artilharia na região oriental da Prússia, Breslau, no ano de
1830. Quando as revoluções na França e na Polônia se desenvolveram,
uma nova guerra na Europa parecia cada vez mais iminente e, então,
Clausewitz recebeu o cargo de chefe de gabinete junto ao marechal
Gneisenau e se dirigiu com o exército de observação para a fronteira
polonesa. Os levantes não levaram a uma guerra, contudo, um outro
mal assolou o leste europeu na época: a epidemia de cólera. Clausewitz
recebeu o encargo de organizar um “cordão sanitário”, uma contenção
para evitar a disseminação da doença. Gneisenau, marechal responsá-
vel pela campanha, faleceu decorrente de cólera, no mês de agosto do
ano de 1831, e Clausewitz assumiu o comando da operação, sendo, no
entanto, logo substituído por outro marechal de campo, Karl Friedrich

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

von dem Knesebeck. Clausewitz retornou para Breslau, porém, assim


como Gneisenau, sucumbiu à cólera no ano de 1831, mais precisa-
mente no dia 16 de novembro, aos 51 anos de idade (BASSFORD, 1994;
HOWARD,1983).
Como discípulo de Scharnhorst, Clausewitz considerou os fa-
tores políticos, econômicos, históricos e sociais nas guerras, pois os
mesmos impactavam diretamente a esfera militar, mas eram pouco
pensados naquele tempo. Uma das vias para questionar a teoria de
guerra vigente na época veio por meio das experiências vividas du-
rante a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas, tempo de gran-
des rupturas e transformações no continente europeu. Somado a prá-
tica militar e o conhecimento das guerras passadas, o prussiano pas-
sou a refutar a teoria encontrada nos livros, e passou a desenvolver
uma nova teoria, mais conexa com a realidade e que permitisse com-
preender todos os tipos de conflitos. Isso não quer dizer que Clausewitz
tivesse intenção de criar um manual de guerra, pois era uma das críti-
cas centrais às teorias de guerra elaboradas por seus antepassados e
também contemporâneos, mas sim elaborar uma teoria mais pro-
pensa a pensar a guerra a partir da perspectiva humana e histórica.
Conhecer, ainda que brevemente, a biografia de Clausewitz, possibilita
conhecer a conjuntura em que estava inserido e sua trajetória profis-
sional. Nessa direção, a próxima seção do presente livro tratará sobre
as suas obras principais, com destaque para Da Guerra, pontuando

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

como o contexto exposto impactou o desenvolvimento de sua teoria


e sua produção intelectual.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

24
O desenvolvimento da teoria:
a produção intelectual de Clausewitz

O contexto da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas


constituíram marco expressivo para a história mundial e para a vida de
Clausewitz, tal como foi explorado. Sua experiência – seja nas guerras
ou nas instituições educacionais militares – proporcionou o desenvol-
vimento de reflexões de suma importância para a compreensão da
guerra como um fenômeno humano e social complexo. Contudo, é im-
portante pontuar que suas percepções somente vieram a público de-
pois de seu falecimento, uma vez que o general não publicou nenhuma
de suas obras principais em vida. Marie von Clausewitz é quem se de-
dicou a tarefa de compilar e divulgar suas ideias; isto é, em pleno sé-
culo XIX, sua companheira se responsabilizou por organizar e divulgar
seus escritos e proporcionou a Clausewitz, principalmente por Da
Guerra, obter o status de clássico do pensamento político e militar.
Marie, além de editar e publicar as obras do prussiano, também tem
um papel central no pensamento de Clausewitz, uma vez que as mais

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

de trezentas cartas trocadas pelo casal compreendem, além de relatos


pessoais do casal, pensamentos importantes sobre a guerra, a teoria e
a arte.
Clausewitz, no seu primeiro trabalho publicado, de forma anô-
nima, no ano de 1805, examinou a construção teórica produzida pelo
militar e escritor prussiano Adam Heinrich Dietrich von Bülow, reco-
nhecendo a utilidade de parte de suas ideias, mas criticando seu mé-
todo de análise e suas conclusões, julgando-as, em poucas palavras,
como não realistas. Indo além da síntese trivial, é possível notar que
Clausewitz criticava Bülow em três temas: sua definição sobre estraté-
gia e tática; o fato de desconsiderar os notáveis efeitos psicológicos e
físicos do combate armado; e o cerceamento da teoria estratégica a
partir, exclusivamente, da análise de elementos matemáticos e geo-
gráficos (ARON,1986a). Clausewitz tinha a convicção de que a teoria
de Bülow era limitada, pois não elencava todos os elementos possíveis
para o entendimento da teoria da guerra (PARET, 2001). O general
prussiano não tolerava a certeza que Bülow quis dar ao fenômeno da
guerra. A seu ver, a guerra era mais do que cálculos e probabilidades,
esta “colocava em jogo sorte e forças morais, criando assim suas pró-
prias possibilidades” (STRACHAN, 2008, p, 56). Não obstante, mais do
que criticar Bülow, Clausewitz se levantava contra uma corrente teó-
rica consolidada a seu tempo, fundamentada nos pontos criticados no
seu artigo. Notaremos adiante que tais divergências serão essenciais
para a construção de sua obra maior, Da Guerra.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

No ano de 1810, como citado, Clausewitz passou a lecionar


na Allgemeine Kriegsschule e ao mesmo tempo, se responsabilizou
pela tutoria militar do príncipe herdeiro da Prússia, Friedrich Wilhelm
(posteriormente rei, 1840-1858). Dois anos depois, ou seja, no ano de
1812, o prussiano escreveu o manuscrito militar Die Wichtigsten Grundsätze
de Kriegführens zur Ergänzung meines Unterrichts bei Sr. Königlichen
Hoheit dem Kronprinzen, traduzido como Os princípios mais importan-
tes da arte da guerra para completar o meu curso de instrução para
sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro, mais tarde publicado sob os títulos
Princípios da Guerra ou Instrução para o Príncipe Herdeiro. Nesse su-
cinto livro, Clausewitz versou sobre os princípios mais importantes
para se conduzir as guerras, com base nas experiências vividas por Fre-
derico, o Grande, e nas guerras da França revolucionária (BASSFORD,1994).
Clausewitz observava o caráter conciso do texto – não obstante ser
baseado em vasta pesquisa sobre a história da guerra – e o caracteri-
zava como uma leitura reflexiva para o príncipe; em suas palavras:

Estes princípios, apesar de resultantes de meditações pro-


longadas e de um estudo perseverante da história da
guerra, não tiveram, entretanto, mais que uma redação im-
provisada. Assim, não poderiam resistir a uma crítica rigo-
rosa quanto à forma. Além disso, dentre uma multidão de
assuntos, somente os mais importantes foram destacados,
porque era necessário, sobretudo, ser sucinto. Estes princí-
pios são, pois, destinados menos a servir de instrução com-
pleta a Vossa Alteza Real do que a ser um estímulo e guia
para as suas reflexões. (CLAUSEWITZ, 1947, p. 36)

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Princípios representa uma etapa incipiente no processo de


construção da teoria clausewitziana. No entanto, muitos dos leitores
de Clausewitz tratam o livro como um resumo de Da Guerra, o que não
é, sendo apenas um “precursor bastante primitivo” (BASSFORD,1994,
p. 10). No mais, Princípios tem sido muito popular no campo militar,
pois versa, em grande parte, sobre temas táticos, isto é, sobre o em-
prego das forças armadas em batalha.
Outros dois escritos de Clausewitz, não tão populares, mas não
menos importantes, são baseados na sua experiência pessoal com as
guerras napoleônicas, sendo eles: Der Feldzug von 1812 in Russland,
traduzido como A Campanha de 1812 na Rússia (iniciado no ano de 1814
e concluído no ano de 1824), e Der Feldzug von 1815 in Frankreich, tradu-
zido como A Campanha de 1815 na França (finalizado no ano de 1827).
Assim como Princípios, A Campanha de 1812 na Rússia e A Campanha
de 1815 na França são passos intermediários no progresso das ideias
de Clausewitz e trazem elementos importantes para compreender a
evolução de seu pensamento e de sua teoria (BASSFORD, 1994).
Da Guerra, o destaque da produção intelectual clausewitziana,
é o livro mais denso e que traz a tese final do prussiano, o nexo entre
guerra e política. Mas, por ser uma obra inacabada e complexa, Da
Guerra suscitou diversas críticas ao autor – como já previsto pelo prus-
siano em suas notas sobre o texto. Com vistas a elucidar Da Guerra e,
posteriormente os conceitos contidos neste, no próximo tópico nos
concentraremos no longo processo de desenvolvimento do texto, com-

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

preendendo as proximidades e as divergências teóricas, os distintos


períodos de escrita e a metodologia utilizada pelo prussiano.

Da Guerra: uma nova abordagem do fenômeno da guerra

Dentre todos os trabalhos de Clausewitz, este é, sem dúvida,


o de nível literário mais profundo. O prussiano demorou anos – inter-
rompidos pelos períodos em batalhas – para finalizar, ou melhor, não
finalizar sua principal obra, uma reunião de oito livros. Em uma nota
de 1827 e outra supostamente escrita em 1830, Clausewitz se mos-
trava insatisfeito com o seu trabalho, considerando-o inacabado. Na
primeira nota, ele expunha a necessidade de revisar e reescrever os
seis primeiros livros para que suas ideias ganhassem maior clareza. Já
a segunda nota tem importância fundamental para a compreensão de
Da Guerra e da teoria clausewitziana, pois nela, Clausewitz enfatiza
considerar exclusivamente o primeiro capítulo do Livro Um como ple-
namente finalizado (CORMIER, 2016).
O Livro Um discorre sobre a Natureza da Guerra, trazendo logo
no início importantes conceitos da teoria, de modo que as ideias con-
tidas nesse trecho servem de indicação para a revisão que o prussiano
pretendia fazer em todo o livro, mas que com a sua morte repentina,
aos 51 anos, não houve tempo. O segundo livro versa sobre a Teoria
da Guerra, sendo este um dos preceitos para Clausewitz pensar uma

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

teoria que fugisse do modelo esquemático de doutrinas militares de


sua época. O terceiro livro trata da Estratégia; o quarto do Engaja-
mento; o quinto das Forças Militares; o sexto da Defesa; o sétimo do
Ataque; e, por fim, o oitavo sobre Planos de Guerra, no qual iniciou a
análise (igualmente interrompida pelo seu falecimento) sobre a duali-
dade da guerra. Na visão dos comentadores do general prussiano, os
livros I, II e VIII são os mais elaborados (BASSFORD, 1994).
Nessa perspectiva, é preciso, ao ler uma obra tão densa
quanto Da Guerra, saber que Clausewitz escreveu o texto em distintos
períodos, suscitando, em determinadas circunstâncias, uma falta de
coerência entre palavras que manifestam novos significados, conse-
quência direta de cada contexto no qual estava inserido no tempo da
escrita. Nesse ponto é importante novamente sublinhar, Da Guerra é
a reunião de oito livros e 124 capítulos escritos por muitos anos (entre
doze a quatorze anos), dos quais somente um capítulo passou por uma
revisão mais expressiva.
Clausewitz não explicita diretamente os pensadores e as cor-
rentes teóricas que inspiraram sua trajetória intelectual, mas sua bio-
grafia e, também seus escritos, nos permite levantar conjecturas. No
período que esteve em Berlim, o prussiano estabeleceu contato com
vários círculos de debate, inclusive, movimentos interessados em se
distanciar do pensamento Iluminista alemão, Aufklärung, e se associar

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

ao Romantismo, propensos a negar o excesso do racionalismo e posi-


tivismo e considerar o impacto dos fatores emocionais2. Uma série de
outras correntes e pensadores marcaram a formação do pensamento
de Clausewitz, dentre os quais citamos: Maquiavel, Montesquieu,
Kant, Fichte, Montecuccoli, Maurício de Saxe, Puységur, Guilbert Lloyd
e Berenhorst. Clausewitz também não menciona nenhum pensador
militar de sua época com o qual concordasse, mas era um crítico con-
tundente de teóricos populares naquele tempo, em especial, Bülow,
já aludido neste livro, e o franco-suíço Antoine-Henri Jomini (COR-
MIER, 2016; STRACHAN, 2008).
O processo de evolução do pensamento de Clausewitz em Da
Guerra é um ponto controverso entre seus estudiosos: uma linha sus-
tenta a tese da simples maturidade pessoal do general, já outro grupo
traz a ideia de “níveis dialéticos” e o conhecimento de novas aborda-
gens metodológicas pelo prussiano. Uma discussão recente sobre a
metodologia utilizada por Clausewitz tem sido, ainda que pouco explo-
rada pela literatura, relevante na compreensão da obra como um todo
(CORMIER, 2016). Clausewitz não faz nenhuma discussão profunda so-
bre os métodos utilizados, no entanto, distintas ferramentas metodo-
lógicas e correntes de pensamento são mais evidentes, como exemplo,
o seu método dialético. A dialética é complexa e diversa, lida com um

2 Ver SOUCHON (2007).

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

sistema de paradoxos por definição, buscando a compreensão através


do contínuo diálogo entre as partes.
Escrita por longos anos, a própria intenção de Clausewitz para
com Da Guerra se transformou, ganhou novos significados e, princi-
palmente, uma profundidade filosófica sobre a guerra. Assim, é impor-
tante compreender como o raciocínio de Clausewitz em Da Guerra se
constituiu, pois, além dos seus conceitos, a forma de pensar a guerra
é também uma novidade para o pensamento militar.
Na tentativa de desenvolver uma teoria de guerra, o primeiro
problema – e o primeiro momento dialético segundo Cormier (2016) –
era justamente uma contradição: como elaborar uma teoria de guerra
que evitasse o pragmatismo dos teóricos em voga? Clausewitz criti-
cava as vertentes que objetivavam compreender a natureza da guerra
à época: aqueles que se dedicavam a narrar as histórias das guerras,
pois mesmo tendo valor histórico, não eram elementares para teoria;
ou aqueles que tratavam especificamente de questões práticas da
guerra, sobre tópicos como abastecimento e armamentos; ou ainda,
os negacionistas dos “princípios da guerra” e das teorias, visto a guerra
depender da propensão dos homens e, consequentemente, ser uma
prática natural do ser humano. O prussiano considerou que parte do
argumento da terceira vertente estava mais próximo à verdade, uma
vez que, a seu ver, a guerra pertence realmente ao domínio da vida so-
cial.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

Do ponto de vista epistemológico, para Clausewitz, a guerra


está inserida nas relações sociais e humanas, em que é o próprio ser
humano o responsável pelos conflitos, recusando qualquer explicação
mística ou naturalística da guerra, como por ora poderia ser tratado.
Clausewitz compreende a guerra como um duelo em larga escala, um
choque de vontades antagônicas em que os oponentes se esforçam
para que o outro ceda à sua vontade; ou seja, é uma ação entre corpos
animados e responsivos, uma interação bi-multilateral, na qual as par-
tes agem reciprocamente diante do instinto de vingança e retaliação.
Logo, uma teoria de guerra, para Clausewitz, seria válida, desde que
considerasse o elemento social e humano, e igualmente, reconhecesse
e valorizasse o conhecimento já adquirido.
Diante disso, a corrente de estudiosos mais numerosa nos tem-
pos de Clausewitz é também a que ele mais criticava. Isto porque a
intenção desses pensadores era estudar a guerra como uma ciência
exata, propondo princípios imutáveis e fixos que levariam, por meio
de sistemas, à vitória das batalhas. Consoante com a tradição Ilumi-
nista do final do século XVIII, tal corrente procurava sistematizar os
estudos dos fenômenos, visando criar verdades universais – como as
certezas das ciências exatas – para as áreas do conhecimento humano.
O “dogmatismo geométrico”, com especial destaque para as ideias dos
já mencionados teóricos Bülow e Jomini, receberam duras críticas de
Clausewitz (CORMIER, 2016; HOWARD, 1983).

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Devido as suas experiências com as guerras e os ensinamentos


de Scharnhorst, Clausewitz não poderia ignorar o peso do fator hu-
mano na teoria da guerra. Não seria lógico propor princípios de guerra,
no sentido tático e estratégico, sem levar em conta os aspectos que
não podem ser mensurados, por exemplo, as forças morais. Clausewitz
não negava a ciência em si, pelo contrário, entendia a ciência de forma
racional; discordava das tentativas dos pensadores iluministas em bus-
car a ciência a todo custo, pois, a seu ver, o seu uso dogmático levava
a uma teorização sem fundamentos reais. Conforme supracitado, a
corrente criticada por Clausewitz destacava, essencialmente, os ele-
mentos físicos e científicos, desconsiderando um fato imprescindível:
na guerra tudo é variável e inconstante. Isto tornaria, portanto, qual-
quer teoria rígida inaplicável na realidade.
De tal forma, Clausewitz pôde perceber que a conduta da guer-
ra não deve ser regida por leis, tais quais as leis universais das ciências
exatas, uma vez que os fenômenos que envolvem a guerra são com-
plexos e volúveis. Com isso, a teoria deveria ser um estudo e não uma
doutrina, de forma que as variações das condições e peculiaridades de
cada época fossem assim consideradas. Em outras palavras, o prussi-
ano entende que a teoria deve servir como um auxílio na compreensão
e na condução da guerra e não um manual a ser fielmente seguido.
Sendo assim, a teoria que Clausewitz desenvolve no Da Guerra
é adaptativa, dá espaço às variáveis históricas e ressalta a importância
dos elementos humanos, sociais e políticos na guerra. O pensamento

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

de Clausewitz é baseado, como pontuado até aqui, na observação dos


fatos históricos, bem como na sua experiência pessoal e nos seus apren-
dizados durante os anos de guerra. O diálogo entre teoria, prática e
análise crítica viabilizou a criação de uma teoria real, na qual os con-
ceitos e os princípios podem ser analisados seguindo o estudo histó-
rico. Sintetizando, quanto mais distante de uma doutrina categórica,
mais provável de ser aplicável às guerras. Clausewitz é, nesse sentido,
o pensador que mais aprofundou o estudo tanto da história, como da
análise para entender a guerra e as forças atuantes na sua conduta. É
frente a isso que ele propõe uma teoria limitada, com conceitos adap-
táveis, mas que forneceria um auxílio efetivo na análise e na conduta
das guerras (CLAUSEWITZ, 2010; CORMIER, 2016; HOWARD, 1983;
STRACHAN, 2008).
Considerado, portanto, como se deve pensar uma teoria de
guerra e elucidado a ideia de que na guerra tudo é variável, o segundo
ponto em Da Guerra surge frente ao questionamento ontológico: O
que é a guerra? Qual a natureza da guerra? Como teorizar a guerra
frente as suas distintas manifestações? Analisar esses tópicos exigiria
mais do que simplesmente abordar os métodos na guerra (tática e es-
tratégia) e as formas de se atingir a vitória, mas sim compreender a
guerra em todas as suas variações e suas fluências, a coisa em si (COR-
MIER, 2016).

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Os pontos supracitados colocam em xeque um ponto central


da teoria de Clausewitz: poderia um único conceito de guerra conglo-
merar todas as suas diferentes manifestações, desde uma observação
armada até uma guerra de aniquilação? Com sua experiência nos cam-
pos de batalhas contra os franceses, presenciando o vigor e a violência
que nunca se havia visto, levaram Clausewitz a perceber que as guer-
ras estariam inseridas não apenas em uma forma conceitual unitária,
mas sim entre dois polos mutuamente excludentes e dependentes,
construídas sob um paradoxo, o que ele nomeou de guerra absoluta e
guerra real.
Na perspectiva de Clausewitz, as guerras reais são aquelas sus-
cetíveis aos acasos, imprevistos e probabilidades, provenientes da pró-
pria realidade e que a diferem de uma perspectiva abstrata e teórica.
As suas diversas variações frente as eventualidades fazem com que
neguem qualquer esquematismo e entendimento dentro de modelos
matemáticos. Isto posto, para o general prussiano, os pensadores –
como Bülow – que construíam sistemas geométricos para ganhar ba-
talhas, tinham contribuições inúteis ou pouco práticas. Do outro lado,
a guerra absoluta é compreendida como um conceito analítico, elabo-
rada em termos abstratos e com uso extremo da violência. Nessa con-
cepção, a guerra deve ser pensada em um plano onde não há limites
para restringi-la, isto é, um conceito para analisar as guerras em casos
de intenso uso da força. Na guerra absoluta, a lógica escalatória entre

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

os inimigos levaria a utilizar o máximo de suas forças, reciprocamente,


em direção aos extremos da violência.
Clausewitz observou em seu tempo que as disposições dos fran-
ceses em travar batalhas decisivas com grande uso da violência e com
um exército jamais visto antes seria, pela primeira vez na história, uma
demonstração de guerra que se aproximou da feição absoluta. Conexo
a isso, também aprendeu com Scharnhorst que todo aquele movimen-
to estava fortemente relacionado com a participação do povo na polí-
tica, e mesmo naquela cena em que o uso da violência se deu em níveis
intensos, a política foi a sua principal condutora. O prussiano conclui
então que o elemento político seria o moderador e o impulsionador
do uso da violência, isto é, a política seria, portanto, o elo que conecta
os dois polos opostos, a guerra absoluta e a guerra real. Clausewitz
chega a seu pensamento mais aprimorado sobre a guerra, o qual levou
anos para compreender e ainda assim, em virtude da sua morte pre-
matura, só pôde abordar em um único capítulo de sua obra maior.
Clausewitz registrou, em uma nota antes de falecer, que Da Guerra
deveria passar por uma grande revisão, como já foi citado, para que
pudesse trabalhar mais essa concepção; no entanto, não pôde cumprir
seu anseio. Da Guerra é, portanto, um retrato do aprendizado e do
desenvolvimento de uma teoria não acabada, mas que traz uma com-
preensão valiosa sobre a guerra.
Certamente a falta de aprofundamento em certas questões –
como o próprio nexo entre guerra e política – coloca lacunas na obra

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

que dão margem à diversas interpretações; assim, Da Guerra deve ser


lido e pensado pelo o que é: uma obra com ricas reflexões para a lite-
ratura militar, mas que não pôde ser completamente revisada, care-
cendo de uma leitura atenta e, não menos importante, contextuali-
zada. Da Guerra traz diversos aspectos, principalmente nas discussões
sobre as táticas de guerra, que não são mais aplicáveis, mas que para
aqueles que tiverem em mente que se trata de uma obra do século
XIX, compreendendo e respeitando suas limitações, poderá acessar
conceitos e ensinamentos relevantes para pensar a guerra. Com isso
em mente, passamos à próxima parte deste livro, na qual versaremos
mais minuciosamente sobre os conceitos centrais da teoria clause-
witziana.

Os principais conceitos clausewitzianos: os tipos de guerra e o nexo


entre guerra e política

O objetivo deste tópico é expor os principais conceitos de


Clausewitz, tendo como centralidade a sua abordagem sobre a guerra.
Dela decorrem formulações que justificam em certa medida a relevân-
cia do pensador em tela. Os conceitos do próximo parágrafo guiarão o
argumento desta seção.
Clausewitz, como já tratado neste livro, define a guerra como
um ato político destinado a impor nosso objetivo sobre o oponente.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

Seu fim é cessar a vontade do inimigo combater usando como meio


para tal a violência. Como um fenômeno social e histórico variável –
“um verdadeiro camaleão”, conforme uma metáfora clausewitziana –
e ligado às relações humanas, a guerra se adapta para cada caso espe-
cífico de sua manifestação. Em termos de sua definição totalizante, a
guerra segue e se equilibra entre as tendências dominantes expressas
em uma trindade paradoxal central para a sua definição. São elas: a) a
violência e a inimizade como forças naturais cegas, ligadas ao povo; b)
o acaso e a probabilidade como livre espírito criativo ligado ao coman-
dante e seu exército e c) a subordinação à política como instrumento
de um Estado. Conforme a classificação de Clausewitz, a guerra pode
ser real ou absoluta.
Desenvolveremos em partes esta definição da guerra. Come-
çar-se-á pelo entendimento da guerra como um ato político, como já
exposto, uma das ideias que Clausewitz tomou como base para a mo-
tivação de reescrever e revisar Da Guerra, conforme registrou pouco
antes de morrer em suas notas. Outra ideia que orientaria a reescrita
e a revisão seria a tipologia das guerras, composta pela guerra real e
pela guerra absoluta – igualmente já supracitada –, a qual será abor-
dada mais detalhadamente no tópico subsequente, quando será tra-
tado o caráter histórico, social e a definição trinitária do fenômeno mi-
litar pesquisado pelo prussiano.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

A guerra é um ato político

A guerra é um ato político. Mas não somente isto. A guerra é


a continuação da política por outros meios (CLAUSEWITZ, 1984). Este
é o mote mais famoso e mais citado de Clausewitz. É provavelmente
também a assertiva de sua autoria menos compreendida.
Dentre os argumentos comuns que exemplificam esta incom-
preensão encontram-se aqueles que mencionam Clausewitz e suas
formulações, mas sustentam ao menos um destes pontos: a) o encer-
ramento de uma guerra foi uma saída política; b) de que um lado en-
volvido em uma guerra teve vitória militar, mas uma derrota política;
c) Clausewitz foi um defensor incondicional do uso da violência e por-
tador da formulação de que a guerra é um fim em si própria, como um
fenômeno autônomo, norteado pura e simplesmente pela violência,
ponto que o credenciou como defensor da guerra total; d) as ideias de
Clausewitz sustentaram a ofensiva e o ataque frontal a qualquer preço,
sendo exemplificadoras as táticas e doutrinas militares de choque
frontal com as trincheiras executadas durante a I Guerra Mundial. Ve-
jamos o sentido destes equívocos.
Em primeiro lugar, toda e qualquer manifestação da guerra e
os distintos contextos que a cercam têm necessariamente um vínculo
com a política. Os seus objetivos e aspectos militares não podem ser
separados dos mesmos de ordem política. A consecução dos objetivos
políticos na guerra não possui uma fórmula única, o que significa não

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

estar condicionada a uma vitória ou a um fato específico. Portanto,


cada encerramento de um conflito militar ou a sua manutenção en-
volve ações, fatos com contextos e significados próprios, sem jamais
prescindir do nexo com a política. A continuidade de uma guerra não
significa o seu afastamento da política. Nesta mesma linha, a avaliação
de um conflito jamais pode separar os aspectos militares dos congê-
neres políticos, como se uma vitória militar pudesse ser considerada
sem a concretização dos objetivos políticos. A política em suas diferen-
tes possibilidades orienta a guerra e por vezes diminui a intensidade
de sua violência, ponto que será melhor explorado mais adiante em
termos conceituais. Por ora, alguns casos podem ser mencionados
como exemplificação do nexo orgânico entre guerra e política.
Um primeiro caso remete ao primeiro conflito militar mais sig-
nificativo no contexto da Guerra Fria. Na Guerra da Coreia (1950-1953),
cogitou-se por parte do governo e dos comandantes militares dos Es-
tados Unidos da América em vários momentos a opção pelo arma-
mento nuclear (FRIEDRICH, 2011). Mas o temor de gerar uma guerra
mundial que levasse à destruição completa do planeta, restrições por
parte dos Estados aliados que compunham a força expedicionária da
ONU comandada pelos Estados Unidos, o contexto envolvendo a ONU
(Organização das Nações Unidas), limitações das forças armadas esta-
dunidenses e de seus aliados e os aspectos da política interna norte-
americana referentes às eleições presidenciais frearam tal ímpeto. O
fim deste conflito não marcou uma vitória completa de nenhum dos

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

lados, tendo a península coreana permanecido dividida em dois Esta-


dos. Importa também para este caso específico uma fala marcante
proferida durante o curso das hostilidades pelo comandante das for-
ças norte-americanas e da ONU neste conflito entre 1950 e 1951, ge-
neral Douglas MacArthur: “Na guerra, não há substituto para a vitória”
(apud BRODIE, 1973, p. 4 – tradução nossa). A fala em questão, a insu-
bordinação ao Comandante-em-Chefe – o presidente norte-ameri-
cano Harry Truman –, e a defesa de um plano que aumentaria a esca-
lada de violência do conflito, com o risco de causar uma nova guerra
mundial, levaram à exoneração do comando de MacArthur do teatro
de operações na península coreana. O plano em questão era o uso de
meio milhão de reservistas de Taiwan, o bombardeio nuclear de 30 a
50 bases estratégicas na Manchúria e, após a vitória, a construção de
uma cerca radioativa de cobalto na fronteira sino-coreana na altura do
rio Yalu (RICUPERO, 2004). Evidentemente que todos os aspectos po-
líticos mencionados se sobrepuseram a uma perspectiva de vitória em
tais termos, até porque a possibilidade de uma guerra nuclear seria
não somente um suicídio coletivo, como o fim da própria política com
a destruição do planeta.
Outro exemplo também diz respeito a um dos conflitos mais
marcantes da Guerra Fria. Uma avaliação sobre a hipótese de um en-
volvimento mais intenso na Guerra do Vietnã (1955-1975) pelos Esta-
dos Unidos foi muitas vezes acompanhado de um temor de entrada da
China e da possibilidade de uma maior escalada de violência naquele

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

conflito. É importante enfatizar que as divergências envolvendo a Re-


pública Popular da China, por um lado, e por outro, a União Soviética
e seu aliado naquele conflito, a então República Democrática do Vi-
etnã, não eram tão claramente reconhecidos e identificados no início
dos anos 1960 pelo governo norte-americano (PROENÇA; DINIZ; RAZA,
1999). Todavia, os pontos mais importantes que levaram à diminuição
do envolvimento estadunidense e a posterior retirada de suas tropas
foram o desgaste da posição dos Estados Unidos perante seus aliados
e no conjunto do cenário internacional e, principalmente, a fortíssima
oposição àquela guerra no interior de sua sociedade. De um ponto de
vista mais amplo, várias das operações e batalhas aparentemente vi-
toriosas dos Estados Unidos no conflito não puderam ser separadas de
todos os aspectos que contribuíram para impedir a consecução dos
seus objetivos políticos. Ademais, é comum em diferentes versões e
narrativas sobre batalhas e guerras ambos os lados se autoproclama-
rem vitoriosos sem que seja elaborado um argumento mais substan-
tivo sobre a consecução dos objetivos políticos em jogo.
Outro exemplo digno de menção aponta para o confronto en-
tre Egito e Síria, apoiados pelos soviéticos, e Israel, apoiado pelos
norte-americanos em 1973: a guerra do Yom Kippur, com fatos impor-
tantes que só vieram a público recentemente. No auge da ofensiva do
Egito e da Síria sobre Israel na Guerra do Yom Kippur, a então Primeira-
Ministra israelense Golda Meir ordenou a preparação de ataque nu-
clear ao Cairo e a Damasco, que começou a ser executado a despeito

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

da oposição de seus líderes militares. Foi demovida de suas intenções


e se curvou às negociações diplomáticas não somente porque Israel
reverteu a desvantagem, mas também em função de outras questões
políticas, do risco de maior escalada envolvendo as superpotências e,
de um episódio pouco conhecido de dissuasão implementado pela
União Soviética: o então caça soviético MIG-25 era secreto, desconhe-
cido. Um deles invadiu o espaço aéreo israelense, não sendo alcan-
çado nem interceptado pelos caças Mirage e Phantom F-4 e mísseis
israelenses, em desvantagem de alcance e de velocidade. O caça sovi-
ético voou ao dobro da velocidade de seus oponentes e a uma altitude
muito maior. A perplexidade tomou conta da cúpula israelense, avali-
ando que até então os árabes nada tinham parecido com isto. Tal epi-
sódio acentuou a percepção da posição vulnerável de Israel (SPUTNIK
NEWS, 2018). O fim deste conflito se deu rapidamente através de ne-
gociações diplomáticas e gerou desdobramentos, como um acordo de
paz entre Egito e Israel.
Os exemplos supracitados mostram questões políticas influen-
ciando o curso das hostilidades militares. Clausewitz também atentou
para tal nexo nas guerras sobre as quais pesquisou e das quais partici-
pou durante sua vida. Neste sentido, formulou que a ligação do fenô-
meno bélico com a política está presente em todas as guerras, tenham
elas intensidade mais fraca ou mais forte de violência, variando desde
o grau de uma observação armada até aquela de extermínio. A violên-
cia seria a natureza própria da guerra, a sua gramática e a política a sua

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

lógica (PASSOS, 2014a). Mesmo a mais violenta manifestação da guer-


ra não a separa da política, mesmo que assim aparente. Assim, a guer-
ra jamais pode ser considerada um fenômeno autônomo, guiado so-
mente pela violência. Estas ponderações dão ensejo a importantes de-
finições sobre o nexo entre a guerra e a política.
É importante ressaltar que o nexo entre guerra e política é
muito mais complexo do que esta definição e exemplos iniciais. En-
volve uma dialética guerra e paz em moldes não tradicionais.
Conforme dito, a guerra é a política com o acréscimo dos meios
violentos. Tal definição subentende que a política pode ter meios pa-
cíficos e meios violentos. A guerra faz parte da política e possui ele-
mentos em comum com ela, mas também possui diferenças. Entre-
tanto, não há uma clara delimitação entre a política violenta – a saber,
a guerra – e a política pacífica, ou seja, as relações políticas pacíficas,
dentre elas, as ações diplomáticas.
O emprego efetivo da violência não é o único critério distintivo
da guerra, considerando que a possibilidade futura, ou a ameaça de
seu uso, igualmente a caracteriza na forma da referida observação ar-
mada. Em outras palavras, e usando um exemplo em alguma medida
similar: em um assalto, um indivíduo aponta uma arma para outro e
anuncia que dê sua carteira ou algum objeto, ou o mata. Guardadas as
devidas diferenças e proporções, em escala mais ampla da aplicação
deste raciocínio, a caracterização da guerra envolve um cálculo de um
dos lados sobre aceitar o uso da violência do oponente e revidá-la, o

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

que implica, por vezes, submeter-se sem o recurso efetivo à referida


violência quando a avaliação é de uma eminente derrota. É o que
ocorre quando um Estado, ou lado, se submete ao ultimato de rendi-
ção do oponente sem combate. Contudo, tal situação também pode
ser considerada como referente à paz, mas sem uma exclusão de seu
pertencimento também à guerra. Esta dialética na qual não se define
com rigorosa precisão a delimitação da guerra e da paz, evidencia a
complexidade da temática. Por um lado, a guerra pertence à política e
possui elementos em comum com ela. Ao mesmo tempo, guerra e po-
lítica possuem elementos profundamente diferentes entre si. Porém,
este dado não implica numa diferenciação absoluta entre a guerra
como política violenta e com a paz como política pacífica. Como vimos,
a guerra pode se situar nas duas possibilidades.
Deve ser acrescentado a este argumento que a própria obser-
vação e pesquisa histórica das guerras efetuada por Clausewitz levou-
o a concluir que a ocorrência formal ou informal de negociações diplo-
máticas, tréguas, ocorrem simultaneamente à continuidade das hosti-
lidades. Este ponto também reforça a dificuldade de delimitação entre
guerra e paz.
A guerra tem na violência, no cálculo, ou na avaliação do uso
da violência, uma de suas principais peculiaridades. Decorre disto, e
do já explicado vínculo com a política, que a guerra e a violência como
sua particularidade não são fins em si mesmas. Não cabem raciocínios
da guerra pela guerra ou da violência pela violência. Dito isto, não cabe

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

conceder a formulação do conceito guerra total a Clausewitz, e desta-


camos dois pontos importantes: não existe a expressão “guerra total”
no conjunto da obra de Clausewitz; a concepção mencionada é de au-
toria do general Erich Ludendorff – segundo militar na hierarquia de
comando do Exército Alemão durante a I Guerra Mundial –, citada pela
primeira vez no livro de título homônimo, publicado somente no ano
de 1935 (LUDENDORFF, 1935). Nas palavras de Ludendorff, Clausewitz
seria um autor ultrapassado, pois a política deve servir à guerra e não
o inverso. Assim, a guerra total seria a mobilização total como pré-re-
quisito para o êxito na guerra visando a sobrevivência da nação e a
total aniquilação das demais. Tal conceito certamente se ligava às ex-
periências de Ludendorff ao final da I Guerra Mundial, quando avaliou
que as fraquezas e divisões internas na Alemanha levaram à derrota
naquele conflito (LUDENDORFF, 1919).
Por último, mas não menos importante, a menção à I Guerra
Mundial suscita uma associação decorrente deste conflito entre o pen-
samento de Clausewitz e a opção incondicional pelo derramamento de
sangue em termos de um choque frontal, sem manobra com as trin-
cheiras. Tal ligação deixou marcas indeléveis na interpretação e apro-
priação de Clausewitz que perduram até a atualidade, pintando um
retrato caricato de suas ideias como um apologista da destruição e da
mortandade em massa. Grosso modo, o caminho que levou a tal inter-
pretação começou com a popularização de uma caricatura de suas
ideias quando o chefe do Estado-Maior prussiano, Helmut Von Moltke,

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

atribuiu a vitória na guerra franco-prussiana (1870-1871) aos preceitos


de Clausewitz. A partir daí, as doutrinas militares dos futuros Estados
beligerantes da Grande Guerra incorporariam formulações como o
choque frontal às trincheiras, a ofensiva incondicional e a superiori-
dade do ataque sobre a defesa, formulações jamais sustentadas por
Clausewitz (ARON, 1986a; ARON, 1986b; HOWARD, 1997).
De modo diverso, Clausewitz legou formulações em sua obra
que sugerem a manobra, o flanqueamento (CLAUSEWITZ, 1984). Mui-
to provavelmente marcado pela malsucedida invasão francesa à Rús-
sia, em 1812, em que a conquista de Moscou sob o comando de Na-
poleão Bonaparte não possibilitou a capitulação russa, Clausewitz ar-
gumentou em favor da superioridade da defesa sobre o ataque como
uma importante característica da guerra.
O desconhecimento e ausência de leitura dos textos de Clau-
sewitz, tal como serão melhor exploradas na próxima seção, em parti-
cular o conjunto do conteúdo de Da Guerra, somada a tal vulgarização
de suas formulações, tiveram como símbolos para a imagem negativa
do general prussiano a historiografia militar de dois oficiais e ex-com-
batentes da I Guerra, o major-general britânico John Frederick Charles
Fuller (1920) e o capitão britânico Basil Henri Liddell Hart (1997). Este
último historiador em particular, de forte influência no meio militar e
acadêmico, teceu não somente uma demonização de Clausewitz como
pai intelectual das táticas e doutrinas do conflito de 1914-1918, como
também estabeleceu uma falsa oposição. Sua premissa envolveu por

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

um lado, Clausewitz como o teórico da guerra sem manobra, do cho-


que frontal e do derramamento de sangue e, por outro, Sun Tzu, o
teórico da guerra de manobra, flanqueamento e aproximação indireta.
É evidente que existem aproximações e diferenças entre Clausewitz e
Sun Tzu – pensador que não é foco deste livro –, mas não se pode to-
mar o pensamento do general prussiano por mais uma caricatura de
suas formulações.

A guerra como fenômeno social e histórico e sua definição trinitária

Uma das grandes inovações e distinções de Clausewitz em re-


lação a outras abordagens sobre a guerra, como já mencionado, foi a
sua preocupação em situá-la como um fenômeno de natureza social e
histórica, aspecto fundamental para que sua definição mais ampla do
fenômeno bélico não se caracterizasse como mais um modelo esque-
mático, mecânico, típico das teorizações militares da sua época. Logo,
o prussiano enfatizou que as manifestações da guerra se ligam às trans-
formações históricas e das sociedades, não havendo um único formato
e modelo, sempre se adequando às particularidades de cada momen-
to, um verdadeiro camaleão (CLAUSEWITZ, 1984).
Clausewitz, como supracitado, possuía a intenção de fazer
uma grande revisão em Da Guerra a partir dos elementos contempla-

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

dos no capítulo 1 do livro I, a única passagem que considerava efetiva-


mente pronta e revista. Dentre os diversos pontos que destacava em
tal extrato, encontra-se justamente a assertiva da guerra como um fe-
nômeno histórico. Neste diapasão e exemplificando, a particularidade
histórica da Revolução Francesa foi um dado decisivo para a sua con-
ceituação da guerra.
Também compõe a preocupação de Clausewitz definir a guer-
ra como algo pertencente às relações humanas e sociais, muito mais
que entendê-la como uma ciência ou arte. Conforme o general prussi-
ano, o termo “ciência” é mais adequado àquelas disciplinas que dis-
põem de um objeto dotado de um conhecimento puro, como a astro-
nomia e a física, embora a guerra guarde discretamente um nexo com
tal perspectiva.
A guerra, para Clausewitz, se adequaria à classificação de “ar-
te”, termo, que a seu ver, se aplica a todo conhecimento que envolve
habilidade criativa. Mas, a guerra como arte está longe de ser um en-
quadramento completamente apropriado. Diversamente do que ocor-
re em determinadas circunstâncias na arte, o uso da violência se dá
sobre um ente animado que reage. Assim, a guerra deve ser tratada
como pertencente às relações humanas e sociais.
Semelhante a outros conflitos sociais, a guerra é um choque
entre interesses maiores, tendo como ponto diferenciador o derrama-
mento de sangue. Nos termos de uma analogia ou alegoria mais sim-

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

ples, a guerra seria comparável a um duelo ou ao comércio. Seria aná-


loga ao comércio – outra forma de conflito de interesses e atividade
humana –, ou a um duelo em maior escala, um meio diferente das dis-
tintas sociedades se manifestarem e se relacionarem com as outras.
No mais, recorrendo a outras metáforas clausewitzianas, seria um ato
do intercurso humano e a política seria a base na qual a guerra se de-
senvolveria em suas formas elementares, tal como os embriões já car-
regam as características dos seres vivos (CLAUSEWITZ, 1984).
Clausewitz buscou não só definir a guerra por meio de uma
perspectiva histórica, mas também tratou de delineá-la em um caráter
mais totalizante, a partir de três tendências – violência, acaso e pro-
babilidade e subordinação à política, as quais, cabe destacar, não re-
presentam características fixas, absolutas, mecânicas e esquemáticas
–, a notória trindade clausewitziana. Tal enunciação é fundamental
para se contrapor, inclusive, às críticas a Clausewitz que o acusam de
sua concepção sobre a guerra não atentar para a sua manifestação sob
outros aspectos, como aqueles referentes às suas expressões em dife-
rentes culturas ao desenvolver as tendências mencionadas acima
(KEEGAN, 1996).
À luz de uma análise crítica mais contemporânea, é verdade
que no tocante à cultura Clausewitz tem traços eurocêntricos e et-
nocêntricos problemáticos, referentes a elementos de um pensamen-
to que parece entender povos não europeus ou “selvagens” de uma
forma menor, inferior. Isto porque sustenta que os povos selvagens

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

possuem predominantemente intenções hostis e os povos não civiliza-


dos tem na sua maior parte sentimentos hostis como motivações para
a guerra (CLAUSEWITZ, 1984). Contudo, mesmo com tais ressalvas e
com alguns limites, o nexo da guerra com distintas culturas está con-
templado nas formulações clausewitzianas, ainda que de forma implí-
cita e não sistemática.
Sobre as tendências dominantes da guerra, introduzimos a pri-
meira na definição trinitária: a violência. Para compreender esta ten-
dência, recorre-se à tipologia das guerras empregadas por Clausewitz,
pois a distinção entre guerra real e guerra absoluta passa em boa me-
dida – mas não somente – pela avaliação do grau da violência na guer-
ra. Neste sentido, a guerra real, como é sugestivo, diz respeito ao fe-
nômeno bélico na sua manifestação concreta, complexa, repleta de
acasos, probabilidades, dificuldades e imprevistos – estes chamados
por Clausewitz de fricção – e pela manifestação limitada e em peque-
nos espasmos da violência. A complexidade e imprevisibilidade da
guerra fez Clausewitz evocar vagamente um paralelo com uma névoa,
outra de suas metáforas. Por sua vez, a guerra absoluta foi original-
mente concebida por Clausewitz como um conceito teórico e abstrato.
A guerra absoluta é uma única e instantânea manifestação extrema da
violência que aniquila o oponente. O sentido de Clausewitz ter consi-
derado este conceito teórico está na intenção de articular todas as dis-
tintas expressões de violência referentes à guerra (PARET, 1985). As
diferentes intensidades de violência nas ocorrências históricas da guerra

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

devem ser analisadas a partir do parâmetro da extremidade lógica de


sua manifestação, ainda que seja um indicador teórico, ou ainda, no
dizer de Clausewitz, “uma fantasia lógica” (CLAUSEWITZ, 1984).
O nexo deste raciocínio referente à violência e a inimizade
como forças naturais cegas, ligadas ao povo, como uma tendência, se
expressa no próprio contexto vivenciado e analisado por Clausewitz
durante as guerras napoleônicas. Conforme sua avaliação, a guerra
atingiu um novo patamar histórico na Revolução Francesa e nos seus
desdobramentos imediatos. Em termos históricos, pela primeira vez, a
guerra se tornou um assunto de todo o povo, de todos os cidadãos.
Em termos históricos, a guerra atingiu um grau de mobilização jamais
visto antes. No seu dizer, a guerra se aproximou pela primeira vez da
sua feição absoluta, sob o comando de Napoleão Bonaparte. Vejamos
as razões para tal.
Primeiramente, a liderança de Napoleão capitalizou a entrega,
a mobilização, o furor e o entusiasmo revolucionário, resultando em
motivação psicológica ou elevado moral, retomando o léxico especí-
fico de Clausewitz. A maioria das batalhas vitoriosas da França alcan-
çaram um patamar de vida ou morte e foram executadas quase sem
trégua até o inimigo sucumbir, sempre buscando o enfrentamento de-
cisivo. Considerando uma relativa paridade de recursos técnicos e de
adestramento, tais elementos fizeram a diferença em favor da França,
pelo menos em um primeiro momento. Deve ser acrescentado a isto

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

uma enorme conscrição mobilizada que proporcionou enormes exér-


citos, sem precedentes, que lutaram em enormes distâncias de seu
território originário. Além disto, havia uma busca de alimentos e supri-
mentos fora do corpo do exército com severa e rígida expropriação de
recursos dos territórios inimigos em níveis jamais observados outrora
(STRACHAN, 2008, p. 146, 160).
Já a segunda tendência dominante da guerra diz respeito ao
acaso e a probabilidade como livre espírito criativo ligado ao coman-
dante e seu exército. Nenhum plano de guerra está livre de ocorrên-
cias imprevistas proporcionadas pelo acaso. Todos os eventos da guer-
ra estão envoltos em imponderabilidades, imprevistos, ou em uma né-
voa, para evocar a metáfora clausewitziana. Todas as dificuldades da
guerra na sua manifestação concreta, a já formulada noção de fricção,
estão presentes nesta linha de raciocínio. Tais pontos se ligam ao livre
espírito criativo do comandante e seu exército. Dois comandantes são
mencionados como uma espécie de modelo por Clausewitz, o impera-
dor prussiano Frederico II e, principalmente, Napoleão Bonaparte. Ca-
be destaque a Napoleão, aludido como “Deus” ou “monstro” da guer-
ra, que teve como maior mérito como comandante dotado de confi-
ança e certeza, a capacidade de corrigir as deficiências técnicas de seu
exército e galvanizar toda a energia revolucionária para a guerra e bus-
car, na sua fase vitoriosa, as oportunidades para as batalhas decisivas.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

Por fim, mas não menos importante, a subordinação à política


como instrumento de um Estado é a última das três tendências da trin-
dade clausewitziana, tratada com pormenores no tópico anterior
desta seção.
Buscou-se ao longo desta seção sistematizar uma sumária e
não exaustiva definição da guerra conforme Clausewitz. É importante
ressaltar que a definição de guerra ligada às questões históricas, soci-
ais, políticas e humanas compõe apenas uma pequena parte de várias
formulações existentes em Da Guerra e no conjunto de sua obra. Con-
forme já reiterado, o formato conhecido do livro em questão não con-
templou a reescrita e a revisão pretendidas por Clausewitz que toma-
riam por base o livro I de seu capítulo 1. Mesmo inacabado, Da Guerra
obteve sucesso em se tornar um clássico do pensamento político e mi-
litar, conquistando diversos leitores e recebendo distintas interpreta-
ções no decorrer do tempo. Logo, na próxima seção nos debruçaremos
sobre as leituras e interpretações da teoria clausewitziana desde o lan-
çamento de Da Guerra até o período pós-Guerra Fria.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

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Leituras sobre Clausewitz

A obra maior de Clausewitz, Da Guerra, foi pouco lida fora da


Prússia logo após a sua publicação no ano de 1832. Um dos principais
motivos foi o desafio do idioma original, o alemão. Esta é uma questão
muito importante até os dias de hoje. Isto porque Da Guerra tem sido
traduzido para diversas línguas no decorrer do tempo, o que é, sem
dúvida, muito importante para a sua disseminação, no entanto, car-
rega também a complexidade em traduzir – ou melhor, não conseguir
traduzir – sutilezas do idioma original. O fato de ser uma obra redigida
em alemão, em um contexto muito diferente do dos últimos anos,
bem como por ser inacabada e dispor de uma análise aberta a possibi-
lidades e atualizações, as reflexões clausewitzianas dão ensejo para
múltiplas interpretações. Como lembra Strachan (2008, p.32), um im-
portante comentador de Da Guerra, “cada geração leu Clausewitz de
uma maneira diferente”. Assim, é importante considerar não só os im-
passes da tradução, mas também o contexto vivido e os anseios dos
leitores.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Da Guerra só passou a ter reconhecimento fora da Prússia


quando o exército prussiano ganhou notoriedade a partir das vitórias
sobre a Áustria, em 1866, e sobre a França, em 1870-1871, em que os
escritos do general foram considerados como inspirações que orienta-
ram à vitória. O oficial responsável pelas vitórias da Prússia sobre a
Áustria e a França, o marechal de campo Helmuth von Moltke, elencava
Da Guerra entre os livros que o haviam inspirado, lançando Clausewitz à
glória entre os militares alemães. O conceito clausewitziano dissemi-
nado por Moltke era o da aniquilação do inimigo (HOWARD, 1983).
Os franceses, principalmente após sua derrota para a Prússia,
passaram a se interessar pelo estudo de Clausewitz e sua obra Da Guer-
ra. No ano de 1885, Lucien Cardot promoveu um curso sobre o pensa-
mento de Clausewitz no Colégio Militar, e pouco depois, mais especi-
ficamente entre 1886 e 1887, o coronel Vatry fez uma nova tradução
de Da Guerra, destacando que essa nova tradução só abarcava os Li-
vros III a VI, “aqueles mais relacionados à guerra napoleônica e em que
o próprio Vatry considerava que os princípios estratégicos estavam
enunciados de forma mais clara” (STRACHAN, 2008, p. 20)3. Ferdinand
Foch, o oficial que em 1918 iria conduzir as forças aliadas francesas,
britânicas e norte-americanas no front ocidental da I Guerra Mundial,
era um dos ouvintes de Cardot e Valtry no Colégio Militar.

3 Nos anos de 1849 a 1852, o comandante belga Jean N. Neuens realizou a primeira

tradução da obra Vom Kriege para o francês (ARON, 1986b).

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

O principal preceito do general prussiano para as guerras mo-


dernas, na percepção de Foch, era o aniquilamento do exército rival,
por meio da batalha e da força. A seu ver, era imprescindível que o
conceito de guerra absoluta, como tinha proposto Clausewitz, fosse
retomado (SCHNEIDER, 1975). Foch, assim como Moltke, enfatizou a
importância da destruição do adversário: “daqui para frente, você tem
que ir aos limites extremos para encontrar o propósito da guerra. Co-
mo o lado vencido nunca reconhece a “derrota antes de ser privado
de todos os meios de reação, o que você deve ter em mente é a des-
truição daqueles meios” (FOCH, 1903, apud HOWARD, 1983, p. 57, tra-
dução nossa).
Como pode ser notado, na Alemanha e na França entre a dé-
cada de 1870 até a eclosão da I Guerra Mundial, o conceito clause-
witziano mais citado era o do “aniquilamento do inimigo”. No contexto
de gradativa tensão na Europa, os novos planos de guerras alemão e
francês passaram a se concentrar cada vez mais na ofensiva e, assim,
a concepção de “destruição do inimigo” de Clausewitz parecia a mais
útil para o período. Ou seja, as leituras de Clausewitz na Alemanha e
na França podem ser classificadas como instrumentalistas, utilizadas
para determinadas ensejos, nesses casos, promover a ideia da ofensiva
e da aniquilação do inimigo (FEREZIN, 2017).
Uma das críticas mais veementes a Clausewitz, e talvez uma
das mais difundidas no pós-I Guerra Mundial, partiu do historiador e
estrategista militar britânico Basil Henry Liddell Hart. Culpando Carl

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

von Clausewitz pelo massacre da I Guerra Mundial, Liddell Hart escre-


veu: ‘O princípio da força de Clausewitz, sem limite e sem cálculo de
custo, convém unicamente a uma turba enlouquecida pelo ódio. É a
negação da arte de governar – e da estratégia inteligente que procura
servir aos fins da política’ (LIDDELL HART, 1933, p. 122, apud STRA-
CHAN, 2008, p. 22). Liddell Hart estigmatizou o teórico alemão como
o “gênio do mal do pensamento militar”, o “apóstolo da guerra total”,
e o “defensor incansável da ofensiva” (BASSFORD, 1994). A seu ver,
Clausewitz e seus “discípulos” eram os culpados pelas barbáries vistas
entre os anos de 1914 a 1918 nos fronts da I Guerra Mundial. Clausewitz,
dizia Liddell Hart, era um autor obscuro, de abordagem metafísica, de
generalizações abstratas e de intricada compreensão. A imagem que
Liddell Hart promoveu de Clausewitz foi uma das mais poderosas no
período entre guerras. Suas palavras hostis ecoaram profundamente
entre os militares britânicos de sua geração e posteriores (BASSFORD,
1994).
No Exército alemão do pós-I Guerra, os exames sobre as cau-
sas da derrota na guerra levaram a considerar a lição dos clássicos mi-
litares, entre eles, Clausewitz, para a construção da sua nova doutrina
de guerra (SCHNEIDER, 1975). O conceito da estratégia ofensiva se
manteria central nos novos planos de guerra dos alemães, no entanto,
as novas tecnologias bélicas – aviões, carros e novas armas – também
teriam papel de destaque. Já na França, a população criou uma ojeriza

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

à guerra, devido aos altos custos advindos da I Guerra. O Exército fran-


cês caiu em certo imobilismo com a recusa da sociedade em custear
as despesas para renovação dos equipamentos bélicos, ocasionando
sérios problemas para o país na II Guerra Mundial.
No pós-I Guerra, Clausewitz passou a despertar atenção no
meio militar dos Estados Unidos da América, mas ainda incipiente-
mente, possivelmente em razão do estudo extensivo de técnicas ale-
mãs nas escolas militares do país. Já nos tempos da II Guerra Mundial,
no ano de 1943, Clausewitz alcançou proeminência entre os intelectu-
ais acadêmicos estadunidenses com a publicação de uma marcante
obra da teoria estratégica, Makers of Modern Stategy – from Machia-
velli to the Nuclear Age, compilada por Edward Mead Earle.
Clausewitz também despertou o interesse dos nazistas. Adolf
Hitler o citava constantemente em prol de sua campanha de guerra;
em uma das menções ao prussiano, Hitler declarou em uma conferên-
cia em Munique, no dia 9 de novembro de 1934: “Nem todos vocês
terão lido Clausewitz, e, se o leram, não o compreenderam ou perce-
beram como aplicá-lo no futuro” (HITLER, 1934, apud STRACHAN, 2008,
p. 26). Outro militar do regime nazista se debruçou sobre a obra de
Clausewitz, o general Ludwig Beck. Beck leu Clausewitz para criticar
os planos de guerra de Hitler, pois para o general era clara a centrali-
dade da política na guerra. O general Beck também negou o conceito
de guerra total atribuído erroneamente a Clausewitz, na direção con-
trária do pronunciado por outros oficiais alemães na época.

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

Na era de Stálin, Clausewitz não teve espaço na então União


Soviética, pois o líder soviético o considerava um autor ultrapassado,
sem valor para as guerras vividas naquele tempo. Com o término da II
Guerra Mundial, mais precisamente a partir de 1956, Clausewitz pas-
sou a ser novamente empregado pelo pensamento militar soviético.
Mas, os soviéticos parecem ter se utilizado das leituras de Lenin sobre
Clausewitz (STRACHAN, 2008)4. O interesse dos soviéticos em Clause-
witz girava em torno da ideia da guerra como um instrumento da po-
lítica. Na visão dos militares soviéticos, a política, como um produto
dos fatores sociais de cada tempo, deveria ser entendida para que se
formulasse a melhor estratégia para as guerras (HOWARD, 1983).
Uma nova geração de tecnologias bélicas, sobretudo as armas
nucleares, provocaram uma discussão ainda mais intensa sobre a vali-
dade da teoria clausewitziana para aquela conjuntura. No pós-II Guer-
ra diversos intelectuais militares debateram como Clausewitz poderia
se adaptar aos novos tempos, as novas guerras e as novas estratégias.
Nesse tempo, têm-se mais leitores interessados na relação entre guer-
ra e política, na guerra limitada, do que na concepção de guerra abso-
luta e sua dita apologia à violência ilimitada e sem moral (BASSFORD,
1994). Com o início da Guerra Fria (1945-1989), Clausewitz conquistou
novos críticos fervorosos, mas também pesquisadores entusiasmados

4 O debate sobre a leitura de Clausewitz por marxistas, principalmente Lenin, é

extensa e pode ser vista sob distintas perspectivas em: Aron (1986b), Rapoport (1979),
Howard (1983), Strachan (2008), Passos (2014b) e Passos (2015).

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

em criar uma nova frente de investigação sobre as ideias do general


prussiano.
Muito expressiva é a literatura militar iniciada a partir dos anos
1970, com Raymond Aron, Bernard Brodie, Peter Paret e Michael Ho-
ward, abarcando pesquisas que se dedicaram a compreender os ensi-
namentos de Clausewitz, tendo em consideração a sua historicidade,
a luz da conjuntura do pós-guerra. O uso de bombas atômicas em Hi-
roshima e Nagasaki, ainda que não representassem uma guerra, mas
somente um ataque, fomentaram a discussão acerca do que uma guerra
naquelas proporções poderia ser, uma vez que a violência empregada
é tamanha que resultaria em uma aniquilação do planeta Terra. Diante
dessa conjuntura, tais pensadores, particularmente Brodie, remetem
à teoria de Clausewitz, e em especial ao conceito de guerra absoluta,
apresentado como uma forma de guerra com manifesto extremo do
uso da violência para compreender o que poderia ser uma guerra nu-
clear5. O emprego de uma arma com tamanho poder de destruição co-
locava em xeque os próprios objetivos políticos a serem alcançados,
afinal, uma guerra com armas nucleares representaria nada mais do
que uma “estratégia do suicídio” (FARIAS, 2016).
Representativo do período e da nova abordagem sobre a teo-
ria clausewitziana é uma nova tradução para o inglês da obra Da Guer-
ra, produzida por Peter Paret e o também historiador Michael Howard,

5 Ver BRODIE (1946, 1959, 1973).

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Coleção Clássicos & Contemporâneos

pela Princeton University Press. No contexto do pós-Guerra do Vietnã,


a missão da tradução dos historiadores estadunidenses era a de indu-
zir os soldados a leitura de On War (STRACHAN, 2008). Talvez por isso
Howard (1983) tenha escrito que Clausewitz era “acima de tudo um
soldado profissional escrevendo para seus colegas de profissão, não
um acadêmico proferindo uma palestra numa faculdade de Ciência Po-
lítica” (HOWARD, 1983, p.1, tradução nossa). Talvez seja plausível di-
zer que Paret e Howard obtiveram sucesso em conquistar novos leito-
res, pois até o início da década de 1990, a nova tradução já havia ven-
dido em torno de quarenta mil cópias (BASSFORD, 1994)6.
Com o fim da Guerra Fria e o aumento de conflitos entre ato-
res não-Estatais, a teoria de Clausewitz passou a ser novamente ques-
tionada quanto a sua validade. Afinal, alguns autores defendiam que
as “novas guerras” seriam significativamente diferentes daquelas ana-
lisadas pelo general, desde suas motivações, estratégias, táticas e for-

6 No ano de 1873, o coronel James J. Graham traduziu Vom Kriege pela primeira vez

para a língua inglesa. Reeditada em 1908 pelo coronel F. N. Maude, recebeu críticas
por suas imprecisões e pouca atenção, como sugeriu Paret em “Bibliographical Sur-
vey” (1965). Contudo, a tradução de Howard e Paret também não é unânime entre os
pesquisadores de Clausewitz. Strachan (2008) criticou a tradução de Paret e Howard
por interpretarem as palavras de Clausewitz consoante as aspirações da época. Na
percepção de Strachan (2008), tal processo lhes proporcionou clareza sobre Da
Guerra, mas “ocasionalmente gerou imprecisão e mesmo erros de interpretação”
(STRACHAN, 2008, p.131). Bassford (1994) também fez críticas à tradução de Howard
e Paret e indicou como a melhor versão de Vom Kriege para a língua inglesa a tradução
realizada por Jolles no ano de 1943.

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CARL VON CLAUSEWITZ | Ferezin, Passos & Farias

mação dos exércitos (FARIAS, 2019). Nessa linha, citamos dois impor-
tantes representantes da tese de que a guerra moderna estaria pas-
sando por uma intensa transformação de sua configuração associada
a lógica de guerra entre Estados e, assim, Clausewitz não teria mais
utilidade: Mary Kaldor com a obra New and Old Wars (1999) e Martin
van Creveld, The Transformation of War (1991). Em linhas gerais, o
conceito fundamental de Kaldor (1999) e Creveld (1991) é que a teoria
de Clausewitz foi superada, pelo menos em dois pontos: (1) a guerra
não seria mais um fenômeno da política interestatal e cada vez mais
há a possibilidade de que aconteça sem o controle do Estado; (2) as
guerras do século XXI não mais conjecturariam, em sua dinâmica in-
terna, a trindade clausewitziana, seja pela inserção de novas tecnolo-
gias bélicas, ou, em virtude das novas guerras não serem mais empre-
endidas por um Povo, um Exército e um Governo, que estes pensado-
res também designaram como a trindade de Clausewitz (STRACHAN,
2008; SILVA, 2003).
Do lado oposto, sustentando a importância de Clausewitz para
pensar as guerras no século XX e XXI temos: Christopher Bassford,
Clausewitz in English: The Reception of Clausewitz in Britain and Ame-
rican (1994) e Hew Strachan, Sobre a Guerra de Clausewitz [uma bio-
grafia] (2008). Sintetizando, a ideia central de Bassford (1994) e Stra-
chan (2008) é que Clausewitz foi lido, muitas vezes, de forma seletiva,
o que impediu que vários leitores alcançassem a compreensão exata
da teoria clausewitziana. Cada geração se predispôs a ler Clausewitz

65
Coleção Clássicos & Contemporâneos

segundo as apreensões de seu contexto, desconsiderando a conjun-


tura histórica na qual viveu o general prussiano, o que certamente im-
plica em uma leitura enviesada de Clausewitz. Outros ainda leram
Clausewitz a partir de outros escritores, sem contato direto com as obras
do próprio autor, o que leva, muitas vezes, a confusão e “mistura” das
ideias de terceiros com a de Clausewitz. A advertência de Bassford
(1994) e Strachan (2008) é simples: temos que retornar a leitura do
próprio Clausewitz, inserindo-o em seu próprio contexto histórico e
não no nosso. Considerado isso, são inúmeros os ensinamentos da
obra empregados na contemporaneidade.
Dentre os objetos encontrados em um dos esconderijos da Al-
Qaeda, no Afeganistão, estava uma cópia de Da Guerra, demons-
trando não apenas o interesse atual pela obra de Clausewitz, como
também o seu alcance global. Mesmo a Al-Qaeda, como um grupo que
age principalmente por meios terroristas e a qual, distante dos exérci-
tos tradicionais dos Estados, não se poderia imaginar ser a destinação
de uma obra como Da Guerra, está sujeita às forças físicas e morais
presentes nos conflitos e, em específico, no terrorismo – ainda que
distinto da configuração de guerra em termos clausewitzianos. Isto
posto, é preciso enfatizar que a natureza humana é a base do estudo
de Clausewitz e, no fim, esta permanece a mesma (FARIAS, 2019).
O ideário clausewitziano tem o seu valor não por determinar
o que é guerra, mas sim por guiar a reflexão de como pensar a guerra,

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mesmo diante de um cenário tão distante do que Clausewitz havia vi-


vido e imaginado. Há aspectos em Da Guerra que são datados e que
podem não fazer sentido nos dias atuais, como a própria questão da
tecnologia e suas transformações para o campo bélico. Mas, nesse
ponto é importante destacar um dos recursos metodológicos centrais
na obra de Clausewitz: o historicismo. Por mais que a tecnologia tenha
alcançado melhores resultados na previsão de cenários e transfor-
mado táticas e estratégias, a compreensão de Clausewitz sobre a guer-
ra parte de uma visão histórica que considera a teoria da guerra como
uma teoria viva, adaptável em diferentes circunstâncias. Isto é, sua
concepção permite compreender a maior parte das guerras, tendo
como base os seus preceitos centrais sobre a natureza da guerra, re-
jeitando análises feitas a partir de princípios fixos e imutáveis. Frente
a isso, a teoria clausewitziana abre espaço para que diversos outros
conflitos sejam estudados e analisados por sua ótica.

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