Você está na página 1de 3

Ficha 3

Grupo II
No centenário da morte
Ramalho Ortigão e os destinos da crítica

José Duarte Ramalho Ortigão de quem se comemora este ano o centenário da


morte, ocorrida a 27 de setembro de 1915, teve uma vida feliz e uma carreira
condicente. Talvez também por isso, a sua obra esteja quase na totalidade esquecida, e a
evocação do seu nome praticamente circunscrita a uma rua movimentada da cidade de
Lisboa.
Merecia contudo muito melhor destino, como alguns – poucos – de nós não se
cansam de repetir. A figura atlética, que respirava energia, as feições regulares, mesmo
belas, a toilette de dandy, o ar seguro com que andava e se exprimia, contrastavam com
o perfil já então interiorizado da imagem do intelectual: ar sofrido, tez amarelecida,
passo titubeante, angústia excessiva a transpirar dos poros da vestimenta
convenientemente desalinhada. A Ramalhal figura não “parecia” um intelectual:
suspeito que Antero de Quental – que Ramalho admirava e com quem se bateu em
duelo, por razões literárias, a propósito da Questão coimbrã – o teria em pouca
consideração; Guerra Junqueiro chamou-lhe “repórter de génio”, em evidente intento
depreciativo.
A cumplicidade com Eça de Queirós, amigo de sempre, também não ajudou: a
crítica sempre apostada em processos binários auto exclusivos, declarou-se rendida a
um, para melhor diminuir o outro. O século XX confirmou à sociedade a tendência:
enquanto Eça é estudado, aclamado, justamente amado, Ramalho Ortigão surge como
um sucedâneo menor, pouco lido, raramente comentado, com a obra esgotada – mesmo
no ano de centenário – sem que surja, por parte de individualidades públicas ou
privadas, qualquer vontade de o editar de novo. Ensombrado pelo génio do amigo
Queirós, suspeito de demasiada saúde e otimismo por parte da intelligentsia, Ramalho
Ortigão teve ainda que arrostar com a verdadeira má-fé de quem, apostado em salvar a
revolucionária Geração de 70 do perigo efetivo de aburguesamento, o escolheu a ele
como paradigma do retrocesso ideológico que a geração de 90 viria a refletir, como se
tivesse sido ele o único a abandonar o incêndio dos 20 anos, para se tornar o bombeiro
dos 40.

Maria João Lello, Ortigão de Oliveira, Jornal de Letras, 23 de dezembro a 5 de janeiro, 2015, p. 8.

Leitura /Gramática
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.
1.1.Ramalho Ortigão
A. é uma personalidade pouco reconhecida da Geração de 90.
B. foi um autor muito estudado durante o século XX.
C. foi contemporâneo de Eça de Queirós.
D. foi o líder da Geração coimbrã.
1.2. A utilização de travessões na frase: “Merecia contudo muito melhor
destino, como alguns – poucos – de nós não se cansam de repetir.” delimita
A. uma explicação.
B. uma enumeração.
C. um comentário.
D. um exemplo.
1.3. A personalidade em análise
A. tem uma rua com o seu nome em Lisboa.
B. tem uma obra vasta muito estudada no século XIX .
C. tem uma obra vasta muito estudada no século XX .
D. tem sido objeto de variados estudos.
1.4. A frase: “A Ramalhal figura não ‘parecia’ um intelectual” (l.xx)
A. salienta o lado exótico de Ramalho Ortigão.
B. realça, de forma crítica, o desvio que a aparência física de Ramalho
Ortigão tinha face ao estereótipo do intelectual da época.
C. salienta a oposição entre o lado físico e intelectual da personalidade.
D. realça, de forma jocosa, o desvio que a aparência física de Ramalho
Ortigão tinha face ao estereótipo do intelectual da época.
1.5. A expressão: “em evidente intento depreciativo” (l.xx)
A. apresenta um exagero.
B. evidencia uma crítica irónica.
C. revela um elogio.
D. traduz um insulto.
1.6. A expressão: “que respirava energia” (l.xx) desempenha a função sintática de
A. modificador.
B. modificador do nome apositivo.
C. sujeito.
D. modificador do nome restritivo.
1.7. O narrador refere que Ramalho Ortigão tem a sua obra esgotada
A. para realçar o facto de ser um autor muito lido.
B. para salientar a importância do autor.
C. para realçar o facto de ser um autor pouco lido.
D. para realçar a comemoração do centenário da sua morte.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas na


frase: “José Duarte Ramalho Ortigão de quem se comemora este ano o centenário da
morte, ocorrida a 27 de setembro de 1915, teve uma vida feliz e uma carreira
condicente.” (l.xx).
2.2.Classifica as oração: “enquanto Eça é estudado” (l.xx).
2.3. Delimita na frase a oração subordinada substantiva completiva: “suspeito que
Antero de Quental – que Ramalho admirava e com quem se bateu em duelo, por
razões literárias, a propósito da Questão coimbrã – o teria em pouca consideração”
(l.xx).

Você também pode gostar