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Pedras Rolantes Não Criam Limo - A História Impopular dos Rolling Stones

Livro 1 - Brian Jones


Afora a lucidez de uma pequena parcela de hippies, nome que deriva da gíria beatnick "hip"
para determinar alguém consciente ou "por dentro das coisas", a grande nação hippie, na
prática, era bastante alienada, apesar do seu discurso sobre "uma consciência universal".
Como confirmaria John Lennon no final daquela década, com iluminada precisão, "O sonho
acabou." Quanto ao quinhão dos Rolling Stones, qual a sua parte e como é que tudo iniciou?

A História do Trem

A dupla Jagger e Richards começou em uma manhã de Outubro no ano de 1960, quando Keith
Richards reparou um garoto na estação de trem em Dartford com discos debaixo do braço. Em
uma época em que a industria fonográfica sobrevivia basicamente por causa dos compactos,
pois LP's eram raros de se achar e caros para se comprar, fica então fácil entender porque
Keith foi atraído pelos discos como que metal por um imã. Ele imediatamente reconheceu que
o rapaz que segurava os álbuns The Best of Muddy Waters e One Dozen Berries de Chuck
Berry, entre outros, era ninguém menos que Michael, seu velho amigo dos tempos de jardim de
infância. Não fossem os discos, ele provavelmente teria dito no máximo um "olá" de longe. Mas
por causa dos LP's, Keith não titubeou, "Bom vê-lo, Mick. Onde você arrumou os discos"? Se
tornariam praticamente inseparáveis a partir daí.

Praticamente todas as crianças da sua idade no Reino Unido sofreram um choque com o filme
Rock Around The Clock. Michael Phillip Jagger, filho de um instrutor de ginástica e uma
imigrante Australiana, foi afetado por aquela música. Pouco depois, aos 13 anos de idade,
quando skiffle se tornou uma mania entre os adolescentes, Mick começou a andar com Dick
Taylor, um colega de classe que tocava violão e, como ele, gostava de rhythm n' blues.
Tocavam skiffle, rock n' roll e o que estivesse nas paradas de sucesso daquela semana. Mick,
que então ainda era apenas Michael ou Mike, era bom aluno, querido pelo seus professores, e
não tinha um pingo de rebeldia dentro dele. Pelo contrario, era extremamente passivo às
exigências dos mais velhos, como Taylor bem recorda. Ele era igual a qualquer outro menino,
fora o fato de ser irrequieto e ter uma incrível capacidade de observar e imitar praticamente
qualquer pessoa. Essa habilidade foi mais tarde direcionada aos cantores nos discos que ele
ouvia. Assim, com duas ou três audições, Michael era capaz de cantar uma canção com toda
letra correta e as entonações idênticas ao artista que ele acabara de ouvir. Outro dom que
demonstrava ter, e que causava admiração nos colegas, era sua capacidade de convencer as
meninas a irem com ele para o matinho, para as usuais descobertas de adolescentes.

Dick Taylor, por outro lado, não tinha um maior compromisso com os estudos e por causa disso
acabou tendo que mudar de escola, indo para a Sidcup Art School, um antro de alunos
problemáticos. A instituição tinha como maior preocupação manter os adolescentes fora das
ruas. No ano seguinte, ele conheceria o novato da turma, de nome Keith Richards, chamado
por todos de Ricky.

Keith Richards é cinco meses mais novo que Mick. Em Fevereiro de 1951, aos seis anos de
idade, os dois se conheceram no jardim de infância, sendo amigos, além de vizinhos. Mick,
comentando sobre essa época, recorda que Keith já falava claramente que queria ser um
cowboy como Roy Rogers e tocar um violão. Depois a família Jagger se mudou para outra
parte de Dartford e o contato se perdeu. Seu pai era um engenheiro, e queria que seu filho
seguisse a sua carreira. Mas Keith nunca quis nada com escola. Em 1957 foi escoteiro, mas
não aceitou a disciplina e logo saiu. Sempre foi lembrado como um garoto perigoso, daqueles
que as mães mandam evitar. Foi expulso de duas escolas antes de parar na Sidcup Art School.

Nunca se interessou por nada até assistir Rock Around The Clock. De novo, é a música que
impulsiona seu interesse, e logo percebe que poderia tocar aquele tipo de música se tentasse.
Aos quinze anos ganhou seu primeiro violão. Seu avô nos anos trinta era membro de uma Big
Band, portanto Keith foi direto a ele implorar aulas. Uma vez entendendo os fundamentos mais
rudimentares do instrumento sentou e malhou o violão até aprender a dominá-lo. Em pouco
tempo estava tocando Chuck Berry, nota por nota. Era fã incondicional também de Elvis
Presley e Little Richard. Na escola nova, andava sempre vestido de camisa púrpura de mangas
compridas e jeans, sapatos pontiagudos e uma jaqueta jeans. Tudo sempre desarrumado.
Gostava de furtar coisas das lojas e arrumar brigas. Outro detalhe é que vez por outra tomava
comprimidos de Midol, um relaxante, só de onda. Foi na escola, especificamente no
banheiro, que conheceu Dick Taylor, que ia às aulas levando seu violão para tocar no pátio.
Dick e Keith se tornaram grandes amigos e começaram a tocar juntos. Depois, com mais outro
colega, Michael Ross, decidiram formar uma banda de country & western.

Após a abordagem no trem, Keith foi convidado por Mick a visitá-lo em casa para ouvir toda
sua coleção de discos. Depois deste encontro, Keith procurou Dick para falar dos discos que
ouvira na casa deste velho amigo e descobre que todos se conhecem a anos. Resolveram
então tocar juntos, ora na casa do Mick, ora de Dick. Em tempo juntou-se ao trio Bob Beckwith
e Allen Etherington. Keith começou a fazer a cabeça das pessoas para seus heróis, Chuck
Berry e Bo Diddley, como também da possibilidade de ganhar dinheiro no futuro, tocando essas
músicas. Ninguém levou a hipótese do colega muito a sério.

Os Blues Boys

Mick acabou batizando o grupo de Little Boy Blue and The Blue Boys. Não havia muitas
pessoas que ouvissem blues na Inglaterra nesta época, e foi uma surpresa e tanto quando, no
final de Março de 1962, Keith Richards e Dick Taylor abriram o jornal Melody Makers e
acharam o anúncio de uma banda de blues que tocava todo sábado à noite em um clube em
Ealing. Allen pediu o carro emprestado ao seu pai e levou a tropa para assistir Alexis Korner &
the Blues Incorporated, talvez a primeira banda de blues inglês de qualidade a se destacar.
Anos mais tarde, em retrospecto, Alexis Korner, seria chamado de "o grande pai do blues
branco inglês", definição e glória que ele nega. Ficaram extasiados com o show e poucos dias
depois estavam gravando uma fita demo para mandar para Alexis. Foram gravadas as canções
"Around And Around", "La Bamba", "Reelin' And Rockin' " e "Bright Lights, Big City". Um detalhe
é que a versão de Mick de "La Bamba" estava repleta de palavras em pseudo-espanhol,
palavras que soavam espanhol sem serem palavras de verdade. Fizeram um embrulho e
mandaram a fita pelo correio.

Naquela mesma semana, no dia 07 de Abril, antes da fita chegar ao seu destino, voltaram ao
clube como passariam a fazer todos os sábados. Mas aos poucos, eles se mostravam mais
críticos em relação ao blues que estava sendo tocado ali. O Blues Incorporated apresentava
blues pelo seu lado mais jazzístico e a cada vez que o saxofone solava, todos na mesa ficavam
deprimidos. "Parece coisa de Big Band" resmunga Keith. Mas foi quando Cyril Davis anuncia
Paul Jones para cantar "Dust My Broom", uma música de Elmore James, que o mundo passou
a girar diferente. Não que Paul Jones tivesse cantado assim tão espetacularmente. Mick
prestou muita atenção pois este número era um dos seus favoritos, e achou a versão de Paul
um pouco mais comercial do que a sua com os Blues Boys. Mas o acompanhamento de slide
guitar foi como ninguém nunca ouvira antes. Lá estava um loiro, da idade deles, tocando
igualzinho a Elmore James. Keith, que nunca vira alguém tocando slide antes, ficou tão
atordoado com a execução que logo que a música acabou, subiu no palco e trouxe o loirinho
para beber com eles à sua mesa. Assim conhecem Brian Jones.

Crescendo em Cheltenham

Lewis Brian Hopkin-Jones herdou sua veia musical da família. A sua mãe era professora de
piano, e ele logo mostrou desenvolvimento tocando extremamente bem já aos 10 anos de
idade. Estudou o clarinete aos doze, sendo capaz de executar com maestria, "Concerto para
Clarinete" de Werber, enquanto sua mãe o acompanha ao piano. Se tornou o clarinetista
principal da orquestra da escola em apenas dois anos. Quando conheceu jazz em 1955, ele se
tornou um fanático e praticamente abandonou o clássico. O jazz também foi a causa de seu
interesse por musica experimental. Ao ouvir Charlie Parker, imediatamente passou a implorar a
seus pais que lhe comprassem um sax alto. Portador de um QI de 137, Brian tinha um dom
natural para entender qualquer instrumento musical. Em semanas já dominava bem seu sax,
embora, para sua frustração, não conseguisse soar nada como seu ídolo. Com 15 anos Brian
estava fazendo dinheiro, tocando todo fim de semana em uma banda de jazz.

No ano seguinte, ele engravidou sua namorada Valerie, de apenas 14 anos de idade. Dentro
de uma pequena cidade do interior como Cheltenham, a notícia se espalhou rapidamente e
alienou Brian de seus colegas de escola. Ao mesmo tempo, a menina imatura não quis mais
saber dele. Brian, apesar das boas notas, era um rebelde na escola, não aceitando os padrões
estabelecidos, e após completar o segundo grau resolveu não seguir para a faculdade, para a
tristeza dos seus pais, que passaram a ver o jazz como uma influência negativa. Tomado por
um pavor perante a responsabilidade e peso da paternidade, Brian juntou dinheiro, seu sax, e
fugiu para a Escandinávia, enquanto ela entrava no nono mês. Nasceu um menino que foi
chamado de Mark, o primeiro dentre cinco filhos que ele teria, cada um com uma mãe
diferente. Brian permaneceu na Escandinávia por alguns meses, tocando e morando nas ruas.
Ele recordaria esse período como o mais feliz de toda sua vida. Depois retornou à Inglaterra, e
novamente para o circuito de jazz, que era a única música disponível para se trabalhar. Ao
assistir uma banda no Wooden Bridge Hotel em Guildford, conheceu uma mulher casada de 23
anos que acabou levando para cama. Nasceria no dia 4 de Agosto de 1960 uma menina, fruto
desta noitada.

O Beatnick de Cheltenham

Freqüentador dos cafés universitários locais, vivendo a vida de um Beatnick, Brian conheceu
Pat Andrews, de 16 anos, que logo percebeu esse rapaz como sendo diferente. Eles iniciariam
um romance que duraria, entre rompimentos e voltas, três anos. Uma de suas colegas de sala
era Valery, mãe de seu primeiro filho, e Pat via Brian em sua romântica fantasia, como um
Romeu Shakesperiano local. Além de diversos empregos que ia perdendo ou por furtar algo ou
por puro desinteresse pelo que fazia, Brian tocava em basicamente duas bandas de jazz, John
Keen's Traditional Band e Bill Nile's Delta Jazzband. Meninas viviam dependuradas ao redor
dos músicos, e Brian, enquanto namorava Pat, iniciava e dispensava diversos romances. Sua
rotina sexual era vista pelos amigos como animalesca, um apetite somente igualado pelo seu
interesse por música.

Lonnie Donegan, membro do Chris Barber Jazz Band, lançou em 1954 o skiffle, uma espécie
de uptempo folk, quase um rock, que rapidamente virou uma mania nacional. Anos mais tarde,
Chris Barber traria da América alguns blueseiros autênticos. No ano de 1960, em uma dessas
ocasiões, Brian foi assistir Chris Barber e acabou conhecendo Sonny Boy Williamson. A música
o tocou fundo e a partir daí, Brian sentiu-se entediado com a monotonia do jazz tradicional.
"Jazz que não era jazz de verdade", diria, "apenas uma versão inglesa do que gente como
Parker, Gillespie e muitos outros faziam". Começou então a ouvir e estudar obsessivamente a
música de gente como Sonny Boy Williamson, Jimmy Reed, Howlin' Wolf e Robert Johnson.

No início de 1961, Brian juntou-se a outro amante de jazz e blues, o amigo Dick Hattrell, além
de mais dois universitários, dividindo um apartamento. Pat passou a dormir regularmente com
ele e acabou engravidando. Para quem acabara de conquistar sua independência dos pais, a
vinda de uma criança não era noticia boa, mas Pat recusou abortar. Para selar a paz, ele a
levou para o cinema para assistirem "Rebel Without A Cause", rindo do paralelo entre o
personagem de James Dean e sua própria vida. No final de 1961, Brian e Hattrell foram
novamente assistir The Chris Barber Jazz Band. Entre os músicos da banda de Barber desta
vez estavam Alexis Korner e Cyril Davies. Os quatro conversaram sobre jazz e blues e Alexis
ofereceu seu telefone para que os meninos o procurassem quando estivessem em Londres.

Brian perdera o interesse por Pat e começou a namorar várias outras meninas, enquanto ela
tentava ignorar os avisos das amigas. Morando com os pais, Pat apareceu um dia
inesperadamente no apartamento dos rapazes e encontrou Brian com outra menina. Entrou em
crise e na semana seguinte deu a luz a um menino, à meia noite do dia 22 de Outubro de 1961.
Pat estava certa de que nunca mais o veria de novo, mas Brian romanticamente vendeu alguns
discos de sua amada coleção e comprou um bouquet de flores para ela, passando o dia no
hospital a seu lado. Batizaram o menino de Julian Mark. Brian escolheu Julian em homenagem
ao saxofonista Julian "Cannonball" Adderley.

Brian então seguiu seu caminho, viajando a Londres para procurar Alexis, e lá se apaixonou
imediatamente por sua coleção de discos, sendo especialmente comovido pela música de
Elmore James. Tanto, que quando voltou para Cheltenham, comprou logo uma guitarra elétrica
e aprendeu a tocá-la, inclusive com a técnica de slide à la Elmore, quase da noite pro dia. Brian
eventualmente procurava seu amigo Gordon Harper. Mostrou-lhe um disco de Muddy Waters e
contou que queria formar uma banda para tocar este tipo de música. Depois convidou-o a
entrar na banda, mas Gordon recusou. Brian voltaria a convida-lo mais algumas vezes, todas
recusadas. Não encontrando músicos dispostos a tocar o blues em Cheltenham, mudou-se
para Londres, sendo seguido por uma nova namorada de 14 anos que arrumara. Lá conheceu
e fez amizade com Paul Pond, que mudaria seu nome para Paul Jones e muito mais tarde
ajudaria a formar The Manfred Mann.

Paul & Elmo

Paul convidou Brian a ser o guitarrista de sua banda, Thunder Odin's Big Secret. Brian recusou
ser membro, pois queria montar sua própria banda, já tendo um conceito musical definido em
sua cabeça, mas aceitou ficar tocando com eles enquanto não encontrassem alguém pro lugar.
Esses ensaios estreitariam a amizade entre os dois. O amor pelo blues fez com que gravassem
uma fita demo, batizando o duo de Paul & Elmo, Elmo Lewis se tornando o novo nome artístico
que Brian escolheu, homenageando Elmore James. Em 17 de Março de 1962, Alexis Korner
Blues Incorparated estreou no Ealing Club, e tanto Brian quanto Paul estavam lá para assistir,
com a fita demo em mãos. Conversam rapidamente com Alexis antes do set e Brian logo se
convida para tocar na banda. Na semana seguinte, dia 24 de Março, Paul & Elmo estavam
estreando no Blues Inc. A banda na ocasião consistia de Alexis Korner na guitarra, Cyril Davies
na gaita, Dave Stevens no piano, Dick Heckstall-Smith no sax tenor, Jack Bruce no baixo e
Charlie Watts na bateria. Brian e Paul faziam um numero aparte, "Dust My Broom". Duas
semanas depois Brian conheceu Taylor, Jagger e Richards.

Brian ficou surpreso e feliz em descobrir que existiam outros caras da sua idade que gostavam
e conheciam tanto de blues. Tanto Mick quanto Keith estavam encantados com ele. Os dois,
embora na faixa de 18 a 19 anos, se faziam de vividos, mas ainda moravam com seus pais,
enquanto Brian, apenas um ano mais velho, se virava sozinho a tempos, custeados por
empregos diversos e suas noites tocando com algumas bandas de jazz, além do seu gig com o
Blues Inc. Na cabeça dos dois, Brian passou a simbolizar a síntese do que deveria ser um
verdadeiro músico barra pesada vivendo a vida selvagem. Keith tenta impressionar contando
sobre as brigas em que ele havia se metido ou como roubara inutilidades de alguma loja. Mas
até Keith ficou chocado quando Brian casualmente mencionou sobre seus dois filhos (não
sabendo ainda da existência de sua filha) sem estar casado com nenhuma das mães. Mick e
Keith estavam tomados por admiração e em muitas maneiras, eles queriam ser como Brian.

A Estreia na Ribalta

Cyril Davies chegou à mesa ligeiramente bêbado, com uma caneca de cerveja na mão. Keith
maliciosamente retrucou, "Pô Mick, se aquele cara Paul pode cantar, você também tem bala
para cantar aqui". Cyril tomou um longo gole, olhou para Keith e explicou que se ele queria
tocar, podia. "Sério?!" Cyril continua, "Meu amigo, só um maluco subiria nesse palco para
encarar esse público sem estar preparado. Se vocês dois se acham prontos, vão em frente."
Mick, com sua habitual timidez, não falou nada, e foi arrastado por um empolgado Keith
Richards até o palco. Keith fez um sinal e disse "Around And Around" se referindo a canção de
Chuck Berry, seu herói. Cyril anunciou a nova atração e pegou sua gaita enquanto o baterista
do Blues Inc. voltava ao seu posto. Ele é um futuro amigo, Charlie Watts. Esta é a primeira vez
que Mick e Keith sobem em um palco de verdade, o primeiro gosto da ribalta.

Aos primeiros acordes da guitarra, as pessoas fazem cara feia. O público era de blues e não
conhecia, nem se interessava em conhecer a música de Chuck Berry. Pelo contrario, rock n'
roll ali, era palavrão. Mas quando Mick começa a cantar, a sua voz, com um quê de negro,
agrada. Sua entonação lembrava mais Big Bill Broonzy e Muddy Waters do que Chuck Berry.
Todo duro na frente do palco, Mick cantava segurando seu microfone na mão, e só sua cabeça
grande se mexendo, fazendo seus cabelos compridos balançarem freneticamente. Alexis, que
até então nunca havia reparado nesses garotos, se aproxima do palco para observar. Mick
Jagger estava causando uma tremenda boa impressão, mas ao terminar, só algumas pessoas
aplaudem educadamente. "Boa voz garoto" falou Cyril ao descer do palco, ignorando Keith.
Mais tarde Cyril e Alexis convidam Mick para um set regular com os Blues Inc., que passaria a
cantar três números: Bad Boy, Ride 'Em On Down e Don't Stay Out All Night.
Enquanto isso, Pat em Cheltenham descobre que Brian está morando com outra menina e
resolve fazer suas malas, arrumar o Julian e procurá-lo em Londres. Embora com pouco
dinheiro, no dia 21 de Abril, pega um ônibus e acaba por bater à sua porta, Brian quase
desmaiando de susto ao vê-la. Passam a morar juntos, porém o relacionamento dos dois volta
a estagnar rapidamente. Brian quer novidade e Pat lhe parece excessivamente simplória como
as típicas meninas do interior. Ela acabava por representar tudo aquilo de que ele tentava fugir
quando saiu de Cheltenham. Para piorar o engodo, Pat também não compartilhava do seu
interesse pela música, o que acabava por transforma-la em alguém para cuidar da casa, fazer
a comida e oferecer sexo caseiro. Por causa dos choros de Julian, acabaram sendo solicitados
a entregar o apartamento pelo senhorio, se mudando então para Notting Hill Gate.

Procura-se Músicos

Em Maio, Brian colocou um anuncio no Melody Maker convocando pessoas que queiram se
juntar a ele e formar uma banda de rhythm & blues. O primeiro a aparecer foi um pianista
chamado Ian Stewart. Stewart era um Escocês criado em Surrey, na Inglaterra. Durante o dia
trabalhava como vendedor de uma firma de exportações. Nunca ouvira falar de Elmore James,
Jimmy Reed ou Blind Lemon Fuller mas tocava boogie-woogie como poucos na Grã Bretanha,
o que impressionou Brian. Outro que entrou na banda foi Andy Wren, um pianista que queria
ser cantor. Experimentaram várias formações e conforme foram aparecendo pessoas melhores
para o som que Brian queria, ele ia descartando os demais. Depois de Ian Stewart, somente
Geoff Bradford realmente faria algum tipo de impressão. Geoff Bradford era um excelente
guitarrista que já se apresentara ao lado de Alexis Korner. Ele era um purista, só permitindo-se
a tocar blues de negro, e o que não fosse, ele se recusava terminantemente a tocar. Esse tipo
de seriedade e compromisso com sua música serviu de modelo para Brian, e se tornaria a
principal política dentro dos Stones.

Com Geoff veio Brian Knight, seu amigo para tocar a gaita. Brian então passou a tentar
convencer Paul Jones a cantar para a banda mas este recusou. Paul estava dividido entre o
Blues Incorporated e os estudos, e a banda de Brian exigiria uma dedicação que ele não
estava em condições de oferecer naquele momento. Brian, depois de sucessivas recusas de
Paul, convida então Mick Jagger que só aceita participar se Keith Richards puder tocar
também. Logo Dick Taylor também estaria ensaiando com eles. A banda fica então com sua
primeira estrutura montada com Brian Jones, Ian Stewart, Geoff Bradford, Brian Knight, Mick
Jagger, Keith Richards, Dick Taylor e Bob Beckwith, outro ex-Blues Boy que inicialmente
tocava guitarra enquanto Taylor tocava bateria.

Keith e Brian se tornaram grandes amigos e passaram algumas noites tocando juntos, fora
ensaios. Brian não respeitava muito gente como Chuck Berry ou Bo Diddley e Keith fez questão
de fazer sua cabeça para aqueles que ele acreditava serem músicos fenomenais. Uma vez
entrando na onda, Brian aprendeu rápido diversos números. Mick Jagger, por sua vez,
ensaiava com a turma mas se mantinha envolvido com o Blues Inc. Com o tempo, suas
apresentações em Ealing e depois no Marquee Club, começavam a chamar mais a atenção do
público para sí, do que para a música, atraindo assim, a inveja de alguns membros da banda.
Com esse clima ruim que começava a surgir, Mick larga o Blues Inc. perto do final de Junho, e
passa a se dedicar a banda nova do Brian em tempo integral. Keith se impressionou com Ian
Stewart que vinha para os ensaios de bicicleta. Em função disso, tocava sempre ao lado da
janela para vigiar seu meio de transporte. Comentava as coisas que via passando pela rua,
enquanto tocava, sem nunca errar uma nota sequer.

Porque Rollin' Stones?

Geoff começava a se irritar com a banda, pois na sua opinião, gente como Chuck Berry e Bo
Diddley eram oportunistas fazendo música comercial. Ele queria tocar apenas Muddy Waters,
Sonny Boy Williamson, Howlin' Wolf e Elmore James. Brigou com Mick e Keith diversas vezes,
mas quando Brian começou a gostar e defender o material que Keith insistia em introduzir, ele
preferiu sair da banda, Knight saindo com ele. Beckwith, mais preocupado com seus estudos
também saiu. Algum tempo depois, Brian batiza sua banda de The Rollin' Stones em
homenagem à canção Rollin' Stone de Muddy Waters. "Por que Rollin' Stones?" alguém
perguntou. "Por que uma pedra que rola não cria limo" foi a resposta, repetindo as palavras
sábias do mestre Muddy Waters ("A rollin' stone gathers no moss").
Brian tenta persuadir Charlie Watts a largar o Blues Incorporated e assumir a bateria dos Rollin'
Stones, mas este aceita apenas ajudar em alguns ensaios enquanto não arrumam outro
baterista. O dinheiro do Blues Inc. era certo, já os Rollin' Stones não tinham nada para oferecer
a Watts. Brian botou outro anuncio na Melody Makers, desta vez solicitando um baterista.
Quem respondeu foi um vendedor chamado Tony Chapman. A entrevista foi na casa do Mick,
que colocou o disco "Jimmy Reed at Carnagie Hall" e disse "É este o som que queremos que
você toque".

A banda passa a ter então sua primeira formação oficial depois de batizada, com Brian Jones e
Keith Richards nas guitarras, Dick Taylor agora definitivamente no baixo, Ian Stewart no piano,
Tony Chapman na bateria e Mick Jagger nos vocais.

Sendo os ensaios no fim da tarde, nem sempre Chapman conseguia marcar presença, faltando
por estar em outra parte da cidade tentando fechar uma venda. Assim Steve Harris passou a
preencher a lacuna na suas ausências, mas nunca ameaçando tomar o posto, uma vez que ele
tinha problemas em assimilar o "feeling" necessário para se tocar rhythm & blues. As
constantes ausências de Chapman possibilitou a outro baterista adicionar os Rolling Stones ao
seu currículo. Mick Avory foi o baterista na estréia da banda ao vivo, no dia 12 de Julho, uma
quinta-feira, tocando para um salão com menos de dez curiosos no Marquee Club, enquanto a
atração normal das quintas, The Blues Incorporated, estava em outra parte da cidade tocando
para um programa da rádio BBC. Quando Avory saiu, Chapman estava lá para reassumir seu
posto. Mais tarde, Mick Avory teria uma longa carreira no rock como baterista dos Kinks.
Tocaram nesta noite, "Kansas City", "Honey What's Wrong", "Confessin' The Blues", "Bright
Lights, Big City", "Dust my Broom", "Down The Road Apiece", "I Want To Love You", "Bad Boy",
"I Ain't Got You", "Hush, Hush", "Ride 'Em On Down", "Back In The USA", "Up All Night", "Tell
Me That You Love Me" e "Happy Home". Um belo contraste em relação com o hit parade da
época que continha músicas de Frank Ifield, Pat Boone, Helen Shapiro, Bobby Fury, Neil
Sedaka e Bobby Darin.

Mudanças

Conta-se uma historia, que certo dia Mick fora procurar Brian em sua casa. Brian não estava e
Mick, bêbado, força uma relação sexual com Pat que depois disso volta a Cheltenham para
morar com os pais. O incidente cria problemas com o senhorio e Brian acaba expulso do
apartamento passando a morar em Beckenham, em um lugar que Mick lhe arruma. Pouco
depois Keith terminaria seu segundo grau em Sidcup e não voltaria a estudar nem procuraria
emprego. Passa a morar não oficialmente com Brian que já arrumara uma nova namorada.

Antes do final do mês, os Stones fazem seu segundo show, desta vez no Ealing Jazz Club,
lugar onde Mick, Dick e Keith conheceram Brian. Na bateria, estava lá Tony Chapman. Em
Agosto, Mick aluga um apartamento em Edith Grove e convida Brian e Keith a morarem lá
também, dividindo as despesas. Dick Hattrell de Cheltenham, amigo de Brian, também passa a
morar com eles a partir de Setembro.

Embora todos os relatos tratem Dick Hattrell como um amigo bondoso e sincero, Brian o tratava
cruelmente. Sua insegurança de parecer caipira e provinciano perante Mick e Keith fez com
que ele abusasse e destratasse Hattrell durante toda sua estada em Edith Grove. Brian
obrigaria Hattrell a pagar comida para todos, comprar-lhe cordas novas para a guitarra e,
depois, uma guitarra nova. Hattrell pagaria o concerto de um amplificador e compraria diversas
gaitas de afinações variadas, tudo para agradar Brian, que tomaria seu casaco, deixando o
amigo sentindo frio no seu lugar. Hattrell aceitava tudo sem criar maiores atritos.

Havia poucos clubes para se tocar, pois o circuito de jazz não aceitava a música dos Stones,
sendo eles mal vestidos, cabeludos e mal vistos de maneira geral. Os três moradores de Edith
Grove tentavam juntar dinheiro e guarda-lo em uma lata, mas Brian vivia roubando da tal
latinha. Quando Brian conseguia um emprego, acabava demitido por furto, e por pouco não foi
processado por roubo. Os Stones, nesta época, conseguiam tocar apenas uma ou duas vezes
por mês, geralmente no Ealing.
Dick Taylor resolveu então que era hora de fazer uma escolha. Estava dividido entre os
estudos no Royal College of Art e sua música. Concluiu que se ele pretendia continuar a
estudar, precisaria dedicar mais tempo para os estudos imediatamente. Saiu então da banda e
continuou afastado da música por um ano. Em 1963 voltaria ao rock formando uma banda de
rhythm & blues sua, chamado Pretty Things, homenagem a canção do Bo Diddley, "Pretty
Thing" e com eles, conseguindo uma razoável notoriedade.

Os Rollin' Stones arrumaram um baixista chamado Ricky Fensen, que mais tarde passaria a
atuar com o nome artistico de Ricky Brown, e outro baterista para as eventuais ausências de
Chapman chamado Carlo Little, ambos membros dos Savages. No outono, Stu compra um
velho Rover fabricado antes da guerra, que passou a levar o equipamento e a banda para as
poucas gigs que arrumavam.

Sem Potencial Comercial

Dentro do relacionamento doméstico, Brian e Keith ficavam a cada dia mais camaradas,
deixando Mick se sentindo um pouco de fora e enciumado. No apartamento que consistia em
um quarto e sala, cozinha e banheiro, na sala ficava uma cama de beliche. Hattrell, Brian e
Keith dormiam ali, com Mick dormindo sozinho no quarto menor, onde ele podia estudar, uma
vez que ainda estava cursando faculdade de economia no London School of Economics. O
lugar além de imundo era uma zona completa.

Mick tentava a tempos aprender a tocar a gaita e estava tendo muita dificuldade. Brian certo dia
pegou o instrumento largado sobre a mesa e quase que instantaneamente começou a fazer
música. Sorriu ao ver Mick boquiaberto e se ofereceu a ensiná-lo. Keith comenta que lembra
chegar em casa no fim do dia e Brian estava arrebentando na gaita, instrumento que nunca
tocara antes. A partir daí, Brian começou a procurar Cyril Davies para aprender mais sobre a
gaita. Passavam horas tocando juntos e ouvindo discos, Brian estudando e apurando a técnica
de torcer ou achatar uma nota. Ele que havia começado a tocar o piano, trocando para o
clarinete, depois o saxofone, para finalmente ir a guitarra, estava agora em plena metamorfose
passando a se interessar apenas pela gaita, que carregava consigo para onde quer que fosse.

No dia 27 de Outubro a banda, Mick, Brian, Keith, Stu e Tony, se junta no Curley Clayton
Studio, perto do campo de futebol do Arsenal, para gravar um demo, naquela época, um disco
de acetato. Com apenas um microfone, a equalização era feita mantendo os instrumentos em
distancias estratégicas. O piano que era pregado no chão ficou praticamente inaudível.
Gravaram em quatro horas "You Can't Judge A Book By It's Cover" de Bo Diddley, "Soon
Forgotten" de Muddy Waters e "Close Together" de Jimmy Reed. Mandaram uma copia para a
EMI, que rejeitou, e outra para Decca, que respondeu positivamente dizendo "A banda é ótima,
mas livrem-se do cantor."

Com poucos shows ou "gigs", como passaram a ser chamados, no geral o inverno foi frio e a
fome era negra. Brian e Mick passaram a ocasionalmente dormir com Judy, do andar de baixo,
uma farmacêutica não muito vistosa, que arrumava algumas compras e café para ajudar os
rapazes. De vez em quando Judy subia e arrumava um pouco a casa. Algumas vezes
roubavam batatas para ajudar a aliviar a fome. Mick chegou a dizer que se algum dia tivesse
dinheiro, nunca mais comeria uma batata enquanto estivesse vivo. Brian vendeu vários de seus
discos para Carlo Little, usando o dinheiro para poder comer. Stu dava seus tickets de refeição
que recebia da firma para ajudar os rapazes, que estavam de fato passando fome e frio. Dick
Hattrell acaba tendo uma crise de apêndice e volta para Cheltenham. Keith também fica
bastante debilitado com febre e suspeita de amigdalite. Volta para a casa dos pais, mas,
doente ou não, toca com a banda no Piccadilly Jazz Club no dia 30 de Novembro.

Nanker Pheldge

Como as despesas ficavam pesadas divididas por três, o pessoal não agüentou a barra e logo
Mick passou a anunciar em uma das apresentações, a disponibilidade do espaço. Após um
show, um rapaz chamado Jimmy Pheldge, topou entrar no racha. De manhã na cozinha,
enquanto engraxava os sapatos, Brian e Keith entram e começam as provocações: "Para que
engraxar os sapatos se logo estarão sujos novamente?" perguntava Keith. "Tem que engraxar
os sapatos e limpar as cuecas, senão o patrão briga." goza Brian. Phelge percebe que precisa
rapidamente ganhar o respeito desses dois ou não terá sossego. "Você já trabalhou alguma
vez Keith?" perguntou. "Já, uma manhã nos correios. Achei um saco, saí para almoçar e nunca
mais voltei." Com isso Brian está às gargalhadas. "Antes eu estudava em Sidcup Art School"
Keith conclui. Pheldge responde "É mesmo?" vira pro lado, mira e escarra à meia altura na
parede. Vira novamente para Keith como se nada tivesse acontecido e continua, "E como foi
lá?" Os dois congelaram em espanto. "Você viu o que ele fez!?" caindo na gargalhada em
seguida. Mick entra na cozinha e recebe a noticia, "Esse cara escarrou no meio da parede".
Jimmy responde "É, mas este vai pro teto" e manda outro. Mick olha aquilo enojado, "Putz,
esse cara serve para ser nosso agente." Pheldge em seguida pega um lapis, circula os
escarros e batiza, "esse é Humphrey Amarelo e este Jenkins Scarlat."

Essa passou a ser uma das muitas brincadeiras nojentas realizadas no cotidiano de Edith
Grove. Outras seriam urinar ou jogar lixo pela janela, como também fazer uma fogueira na
sacada da frente do apartamento. Keith e Brian tinham uma gíria para caretas e atitudes sujas
ou grosseiras que batizaram de "nanker". Logo Jimmy Pheldge passaria a ser chamado de
Nanker Pheldge. Depois, durante um período da carreira, quando uma canção é composta por
todo grupo, passou-se a creditar a canção a Nanker Peldge. Fundam então a Nanker Pheldge
Inc. que cuidaria do recolhimento e distribuição dos direitos autorais dessas canções. Alguns
exemplos são Stoned, Play With Fire e I'm All Right.

Final do Pior Ano

Com apenas uma gig nas terças em Ealing e uma ou outra ocasional durante o fim de semana,
somados ao frio do inverno e à falta de dinheiro, a banda começa a ficar realmente deprimida.
Para piorar, Brian tem que lidar com a eterna instabilidade da cozinha de sua banda. Sem ter
um baixista que assuma ficar com a banda, desde a saída de Dick Taylor, e sem um baterista
em que se possa confiar que vá aparecer em todos os ensaios ou shows, tudo parece
conspirar contra.

Apesar de Ricky Brown e Carlo Little serem realmente muito bons, não querem ficar presos a
uma banda como os Rollin' Stones que não tem meios ainda de gerar um mínimo de lucro
financeiro. Especialmente Carlo Little que, infinitamente superior a Chapman, não tocava por
filantropia. Little, já um baterista respeitado no circuito, foi o primeiro e grande professor de
Keith Moon em 1961. Assim, Chapman tem seu lugar assegurado na banda mais uma vez. É
irônico que quando começam a discutir abertamente sobre quais rumos a tomar, é justamente
Tony Chapman quem fala de um baixista experiente, chamado William Perks, que tem um bom
equipamento e que poderia ser bem útil a todos.

William Perks

William George Perks, nascido no dia 24 de Outubro de 1936, tem o orgulho de nascer no
mesmo ano que Elvis Presley, Buddy Holly e Jerry Lee Lewis. Sete anos mais velho do que os
demais Stones, Bill lembra claramente da Segunda Guerra Mundial, tendo que correr para casa
da escola enquanto aviões metralhavam as ruas e depois com as outras crianças, passando a
catar as balas espalhadas pelo chão. Ou de se esconder no porão com sua avó, com quem
morou, quando soava a sirene de ataque aéreo. Ouviam os bombardeios e depois descobriam
metade da vizinhança em escombros. Tudo era uma grande aventura. Só entenderia a
magnitude dos eventos quando na escola soube que duas colegas foram mortas.

Sua família era tão pobre que, a cada noite, seu pai botava de castigo um ou dois dos cinco
filhos, sem jantar, para que os demais tivessem o suficiente pra comer. Bom aluno, e por isso
ganhando uma bolsa para uma ótima instituição de ensino, a poucos meses antes de se formar
no segundo grau, seu pai o tirou da escola para trabalhar como book keeper, anotando
apostas. Por causa deste serviço, Bill teria problemas para conseguir outro tipo de emprego no
futuro. Ficou três anos no exército, iniciados em Janeiro de 1955, servindo na Alemanha. Lá,
conheceu muito rock n' roll, que ouvia no rádio através das estações dos aliados americanos.

Assim conheceu pela primeira vez Elvis Presley, Fats Domino, Bill Haley e Little Richard. Bill
ouve skiffle através de Lonnie Donahue e o Chris Barber Band e, em Julho de 1956, compra
seu primeiro violão, pois como ele mesmo diria, estava alucinado por Elvis Presley. Ajuda a
montar uma banda de skiffle com outro soldado, Casey Jones, que mais tarde, entre outras
bandas que formaria, teria uma com Eric Clapton. É no exército que ele conhece Lee Whyman,
que abastecia os aviões da força aérea de combustível, além de ser um excelente jogador de
futebol. Mas foi o seu senso de estilo e bom gosto em roupas, que impressionou Bill a ponto de
ele mais tarde homenageá-lo com o seu nome artístico, Bill Wyman.

Os Cliftons

Bill, ao sair do exercito no final do ano, vai ao cinema e assiste o filme "Rock, Rock, Rock".
Como ele confessaria mais tarde, tudo estava normal até aparecer Chuck Berry cantando "You
Can't Catch Me". Nada o afetara como Chuck Berry, e a partir daí, William Perks se torna um
roqueiro. Nesse período ele conhece Diana Cory, de 18 anos, com quem casaria em Outubro
de 1959 aos 23 anos. Trabalhando como auxiliar de contador durante o dia, ele forma uma
banda com alguns amigos. Ensaiam regularmente e resolvem levar a sério o suficiente para
investir dinheiro em equipamentos. Logo conseguiram algumas apresentações e uma pequena
notoriedade. The Cliftons, como eram chamados, perdeu seu baterista original e este foi
substituído por Tony Chapman. O repertório girava em torno de Coasters, Sam Cooke, Jerry
Lee Lewis, Chuck Berry, Lloyd Price, Larry Williams, Fats Domino, Ray Charles e Little Richard.

No ano seguinte, ao assistir um show de Barron Knight em Agosto de 1961, Bill se apaixonou
pelo som do baixo. Naquela semana, com a ajuda de Tony, comprou um baixo de segunda
mão e um amplificador Linear-Concorde de 30watts, além de um alto falante Goodman de 8
polegadas para os graves. A caixa de som para o alto-falante, ele mesmo construiu com
madeira e cimento. Tentando ajeitar o baixo, tirou os trastes e descobriu que gostava mais do
som dele assim, se tornando possivelmente o primeiro baixista fretless de seu país. Com dois
ou três shows por semana, o dinheiro que entrava pagava pelo equipamento comprado à
prestação. Em 29 de Março de 1962 , nasce seu filho Stephan Paul Wyman.

Paralelo ao trabalho com os Cliftons, já no segundo ano de existência, Wyman, Chapman e um


terceiro rapaz no piano, faziam o circuito de bares, tipo 'happy hour' o que ajudava a angariar
um dinheiro extra. Em Setembro, pouco depois de Bill investir uma grana em um baixo novo de
qualidade, a banda tomou alguns canos, tocando e não sendo pagos. Deprimidos, o vocalista e
o saxofonista saem da banda e The Cliftons implode.

Aprendendo o Blues

Em Dezembro, Tony Chapman começa a conversar com Bill sobre uma outra banda em que
ele toca, os Rollin' Stones. Sexta-feira, dia 07 de Dezembro de 1962, levado por Tony, Bill
conversa com Stu, a quem conheceu dois dias antes. Este apresenta Mick, que é sempre
cordial, depois Brian e Keith, encostados no bar. As diferenças de roupa e cabelo, sem falar em
idade, entre os dois Stones e este baixista era tanta que ninguém ficou impressionado com o
outro. Bill, bem alinhado, com um corte de cabelo à lá Tony Curtis, batia de frente com as
roupas rotas e cabelos longos e despenteados dos dois. Mas as atitudes mudaram quando Bill
e Tony, ajudados por Stu, tiraram seu equipamento do carro. Entre os amplificadores havia um
Vox Ac30 que Bill prontamente informou ser seu reserva, portanto, "podem usar". Comparando
com o equipamento que a banda tinha, agora eles poderia realmente "fazer um barulho!" E
quando Bill começou a tocar, ficou evidente que ele conhecia seu instrumento bem. Mas será
que ele poderia tocar o blues?

Essa pergunta perdurou por mais de um ensaio. É claro que Bill conhecia Chuck Berry, mas
Muddy Waters, Elmore James e Bo Diddley eram músicos ainda muito obscuros, alguns até
mesmo na América. No caminho de casa naquela noite, Bill deve ter ficado se perguntando,
"Como é que essa turma se reuniu e resolveram tocar essa música de 'uma minoria étnica',
com tanta convicção?" Durante o decorrer do ano de 1962, gradualmente um número cada vez
maior de pessoas passaram a se interessar em ouvir blues e rhythm & blues na Grã Bretanha.
Prensagens inglesas de discos surgiam, passando a ser encontradas nas lojas com maior
facilidade. Além dos Rollin' Stones, nasceram o Mann-Hugg Blues Brothers, Blues By Six, Cyrill
Davies & the All Stars, sem falar no pai de todos, The Blues Incorporated, a essa altura sem
Davies ou Baldrey, mas com Art Wood, irmão mais velho de um ainda adolescente Ron Wood,
e que formaria posteriormente a banda Artwoods com John Lord e Keef Hartley.

Mudança Na Cena Musical Londrina

Aos poucos, os clubes haviam feito a transição de apresentar somente jazz tradicional para
blues e rhythm & blues. Com isso, começou a ficar mais fácil achar trabalho. Ao final do ano,
Brian que já desistiu de tentar persuadir Carlo Little a entrar na sua banda, passa a
praticamente implorar a Charlie Watts para assumir a bateria.

Charlie Robert Watts, um ano mais velho que Brian Jones, aos 14 anos comprou um banjo mas
não conseguia toca-lo. Resolveu desmontá-lo para ver como funcionava e acabou se divertindo
batucando com uma escova, no corpo do instrumento que tem o formato de um pandeiro. Sua
mãe então lhe comprou uma bateria velha, na qual Charlie passou todo o seu tempo disponível
praticando. Desenvolveu sua técnica ouvindo discos de jazz e assistindo bateristas. Depois
passou a vender seus discos para comprar pratos de melhor qualidade. Os vizinhos
reclamavam, mas sua dedicação mostrava aos seus pais que valeria a pena defendê-lo.
Terminando o segundo grau em 1957 aos 17 anos, ele passou a estudar no Harrow School of
Arts.

Em 1960 começou a trabalhar na Charles, Hobson And Gray, uma firma de propaganda,
inicialmente servindo chá, e depois como desenhista gráfico. Era o mais alinhado de uma firma
que residia ao lado da Christian Dior. Vez por outra namorava alguma modelo, mas além de um
grande senso de estilo, Charlie tinha para sua idade, uma excessiva preocupação em ter
recursos financeiros para manter esse padrão de elegância. Tocava em diversas bandas de
jazz, geralmente por pequenos períodos de tempo. Em um gig no Troubador Club, Alexis
Korner o assiste e convida para tocar em sua banda. Charlie declina o convite, indo para a
Dinamarca tocar com o saxofonista americano Don Byas. Voltando em Janeiro de 1962, ele
encontra Alexis novamente, que ao lado de Cyril Jones, convence Charlie a entrar na sua
banda recém formada, o Blues Incorporated. Charlie não entendia nada de blues e muitas
vezes não entendia o que Cyril estava tentando fazer com sua gaita. Seu negocio era jazz, mas
como ele mesmo definiria "numa noite boa, soávamos como um cruzamento entre R & B com
Mingus." Alexis e Cyril pareciam satisfeitos e ele foi ficando.

Charlie conheceu Shirley Ann Shepard, uma estudante da Royal Collage of Arts. Vez por outra
ela vem assistir a banda, e acabam namorando. Mais tarde, quando Brian se juntou ao Blues
Inc., ele reconhecia em Charlie um sujeito comprometido com a sua música. Apostando nesse
tipo de comprometimento, Brian convida e continuamente insiste para que Charlie se junte a
sua banda. Mas Charlie não se sentia seguro em colocar seu trabalho na agência de
publicidade em segundo plano. Tanto que, quando o Blues Inc. passou de semi-profissional
para profissional, Charlie pediu para ir embora (prontamente substituído por Ginger Baker)
porque tocando em muitas datas seguidas, ele vivia cansado e isto estava atrapalhando seu
trabalho formal. Mas Charlie percebia que o ramo estava mudando e rhythm & blues estava
começando a tomar conta do circuito. As pessoas estavam aos poucos mais informados sobre
o estilo e no fundo ele sabia que iria querer continuar a tocar com alguma banda. Se juntou a
banda Blues By Six, tocando ao lado de Geoff Bradford, um dos primeiros guitarristas dos
Stones. Charlie percebia que a música gerada pelos Stones era a que melhor captava o
gênero.

O Lider

Bill Perks não foi imediatamente inserido nos Stones como algumas histórias contam. Na
verdade, por ele ser bem mais velho, com vinte e seis anos de idade, trabalhando para
sustentar sua mulher e filho, os rapazes ainda tinham suas dúvidas se um sujeito "tão velho"
era a pessoa ideal. Então, em alguns shows em Dezembro, Bill não tocou, sendo mantido
Ricky Brown. Dick Taylor chegou a tocar novamente com a banda quando se apresentaram em
sua faculdade. Mas Bill queria participar do grupo, cativado pela música 'étnica' e pelo carisma
de Brian, a quem respeitava como um músico sério, e por ter um evidente conhecimento
superior sobre a música que eles estavam tocando.
Brian, que cuidava das finanças da banda, tomava para ele a maior parte do dinheiro, dizendo
que era para pagar despesas. Bill, Stu e Tony faziam vistas grossas sabendo que Brian, Mick e
Keith estavam mesmo passando fome. Bill e Stu, durante boa parte do inverno, passavam
depois do trabalho diurno, a ir até Edith Grove para bancar uns sanduíches para os três. Muitas
vezes era tudo que eles comiam naquele dia. Alem do mais, apesar de soar ideológico, o
desafio maior ainda era a música e isso era um sentimento compartilhado por todos.

Charlie Watts era outro semi-analfabeto em blues e só começou a tomar uma melhor
compreensão pelo gênero depois da influência de Brian Jones. Sua paixão pelo estilo era
cativante. Bill fez questão de aprender rápido e o fez com gosto. Sua satisfação em ser parte
desse grupo ficou claro para os demais quando Bill deixou o cabelo crescer até cobrir as
orelhas e mudou o seu penteado. Sua estreia na banda foi no dia 15 de Dezembro de 1962,
mas ele só foi considerado baixista definitivo no dia 5 de Janeiro quando apareceu de cabelo à
lá Stones.

Mudaram o nome da banda de Rollin' Stones para Rolling Stones, como passou a ser
conhecida desde então. Novamente, influenciado por Brian Jones que ainda usava o nome
Elmo Lewis, Bill Perks assumiria o nome artístico de Bill Wyman e em 1964, mudaria o nome
oficialmente em cartório. Depois de um ano de insistência por parte de Brian, reforçado por Stu,
Charlie Watts aceita ser o baterista exclusivo dos Rolling Stones. No ensaio seguinte,
dispensam Tony Chapman. Charlie Watts estreia então no dia 14 de Janeiro de 1963 num
clube chamado Flamingo, em Soho.

Cyril Davies & The All Stars

No ano de 1963, a sorte começou a sorrir para a banda. Certa noite, abriram para The
Presidents, banda cujo cantor Glyn Johns, também trabalhava como engenheiro de som para
um estúdio. Ele gostou do som dos Stones e convidou os rapazes a juntar um dinheiro e fazer
uma gravação profissional. A idéia soava interessante mas só se realizou dois meses depois.
Em outra ocasião abriram para Cyril Davies que havia desfeito sua sociedade com Alexis
Korner em novembro de 1962, e agora tinha sua própria banda, The All Stars. Os Rolling
Stones adoravam a música de Cyril Davies & The All Stars que tinha com eles Nicky Hopkins
no piano, além de Carlo Little, Ricky Brown e Bernie Watson, todos ex-Savages, banda
considerada pesada para a época. Somados a gaita e a voz de Cyril Davies, são durante esse
período, considerados a melhor banda de blues na Inglaterra. Logo se juntaria aos All Stars,
outro ex-membro do Blues Inc., o amigo Long John Baldry.

Com o sucesso da primeira experiência, Brian negociou com Cyril para que os Stones abrissem
sempre seus shows. Foi assim que os Stones voltaram a tocar no Marquee Club. Além de
mudanças na formação original dos All Stars, Cyril adicionou um trio feminino de cantoras
negras como 'backing vocal', chamados "The Velvettes". Mick Jagger começou a namorar uma
das meninas, Cleo Sylvester e sugeriu que a idéia de Cyril poderia funcionar também para os
Stones, dando assim, um som mais americano à banda. Cleo então é convidada a se juntar a
eles, desde que ela arrumasse mais duas meninas para o coro. Ela arrumou apenas uma
amiga chamada Jean, mas no ensaio, as duas provaram serem muito dispersas e Jean não
cantava muito bem. A banda ensaiava uma versão de "La Bamba" que virava "Twist And
Shout" na qual as meninas erravam seguidamente. Repensaram a questão e a idéia do coral
feminino foi abandonada. O público ficava tão elétrico e aplaudia tanto os Rolling Stones, que
ficava difícil para Cyril Davies depois manter a casa sacudindo. Mesmo porque, já na terceira
semana do acordo, havia tanto ou mais gente na casa para ver os Stones do que para assistir
the All Stars. Quando Brian Jones tentou negociar um aumento de cota com Cyril Davies,
acabou despedido.

Em Fevereiro Brian Jones conheceu Giorgio Gomelski, um italiano filho de russo com francesa
que fez alguns filmes experimentais. Ele havia alugado recentemente um salão no fundo do
Station Hotel no subúrbio de Richmond e transformou o espaço em um clube com bar e música
ao vivo. Brian convenceu Giorgio a assistir sua banda que tocava rhythm & blues autêntico,
coisa ainda rara naquela época. Giorgio por sua vez já havia estado em Chicago, e quando
assistiu os Stones reconheceu logo sua singularidade. Enquanto outras bandas montavam um
show para o público, os Rolling Stones ignoravam totalmente o publico presente, tocando
sentados, conversando entre as músicas, acendendo seus cigarros ou tomando suas cervejas.
Era um 'happening', uma atmosfera que se criava, à parte da música. Eram únicos e o público
às vezes demorava a entender o que estava se passando. Mas a música os enlaçava. No final
de cada set, tocavam uma versão de 20 minutos de "Pretty Thing" ou de "Craw-Daddy", ambas
de Bo Diddley, que hipnotizavam as pessoas presentes.

Mudando Para o Crawdaddy

Giorgio Gomelsky tomou interesse por eles e se tornou informalmente o primeiro empresário da
banda. Com sua assistência passaram a tocar até quatro vezes por semana, a banda faturando
até sete libras semanais cada um, metade do que Charlie fazia na agência trabalhando oito
horas por dia. Giorgio deu algumas dicas sobre como trabalhar com volumes e aguardava a
banda amadurecer um pouco mais, porém quando finalmente achou que estavam prontos, deu
a eles todos os domingos no seu clube. Mick e Brian estavam extasiados. Há tempos
conversavam sobre a necessidade de se encontrar um lugar fixo para tocar. Um lugar que o
público pudesse reconhecer como reduto da banda. A casa não tinha nome mas influenciado
pelo frenesi que Giorgio percebia nas pessoas ao som de "Craw-Daddy", versão dos Stones,
batizou a casa de The Crawdaddy.

Se em meados de 1962 a banda, quando conseguia arrumar trabalho, tocava para até menos
de dez pessoas, em Março de 1963, estava enchendo os clubes com umas 300 mulheres
histéricas e homens sedentos. Foi neste estado positivo que no dia 11 de Março, todos se
reuniram com Glyn Johns no IBC Recording Studio em Portland Place. Gravariam em uma
máquina de dois canais, o que seria o primeiro registro dos Rolling Stones com sua formação
básica. Em três horas gravaram "Road Runner" e "Diddly Daddy" de Bo Diddley, "I Want to Be
Loved" de Muddy Waters, finalizando com "Honey, What's Wrong?" e "Bright Lights, Big City"
de Jimmy Reed. A gravação ficou excelente e Brian Jones muitos anos depois, ainda
considerava essas as melhores coisas gravadas pela banda. Mas os executivos da IBC não
entendiam o que tinham nas mãos e por conseguinte não souberam vender o produto. No final,
foram rotulados de "sem potencial comercial" e dispensados.

Os Beatles

Os Beatles ao fazer sucesso, colocando "Please, Please Me" em primeiro lugar nas paradas,
abriram um precedente. Até então, nenhuma banda pop ou rock inglesa era levada realmente a
sério. Com isso, mais portas abriram para diversas outras bandas no país. Giorgio, querendo
fazer um filme sobre os Beatles, conseguiu contato com eles e os convidou ao Crawdaddy para
assistirem os Rolling Stones. Ao aparecerem lá no meio do primeiro set, os Stones se sentiram
intimidados, pensando "Putz! São os Beatles!" Conversaram depois, entre sets, todos se dando
muito bem. Os Beatles acabaram ficando e assistiram todo o segundo set também,
maravilhados pela música e a atmosfera. Depois foram todos para Edith Grove onde ouviram o
disco demo gravado por Glyn, alguns discos de Muddy Waters e Jimmy Reed. Conversaram
muito sobre a metamorfose que estava se passando entre a juventude e os interesses
eclodindo na forma de uma música que a representasse como o rock 'n' roll ao invés do jazz,
bolero ou polka que os pais geralmente ouviam.

Brian pediu e ganhou uma foto autografada pelos quatro que ele colocou em um lugar de
destaque na casa e todos foram convidados pelo 'fab four' a assistirem a apresentação no
Royal Albert Hall na quinta seguinte. Para não precisar pagar ingresso, Mick, Keith e Brian, os
únicos que não tinham empregos, compareceram levando as guitarras de John, Paul e George
para dentro do teatro, entrado por uma porta lateral. Neste momento, Brian é confundido com
um dos Beatles por uma horda de meninas. Essa adoração seduziu os três por um desejo de
sucesso que até então nunca demonstraram.

É possível que esse evento possa ter sido a centelha para uma rixa que ainda viria a aparecer
na banda. Brian respeitava músicos mas não tinha maiores respeitos por vocalistas e tratava
Mick como quem acredita que qualquer um pode cantar. Mas como é sempre o cara na frente
quem aparece mais nas fotos, o ciúme estava se instalando. Mick por sua vez, embora
soubesse chamar atenção para si, como também instintivamente manipular bem essa atenção,
sabia que o grande músico da banda era Brian. E o fato inegável de a banda estar nas mãos
de um cara que não tinha maiores respeitos para com o cantor, o deixava inseguro.

Não conseguindo nada com os Beatles, Giorgio resolve então filmar um curta-metragem com
os Stones no Crawdaddy. Acerta com os meninos e no domingo convence um jornalista do
Record Mirror chamado Peter Jones a assistir a apresentação e escrever sobre eles. Então, no
dia 21 de Abril, enquanto Giorgio filmava as filas nas ruas e depois os Stones tocando "Pretty
Thing" (transformando tudo posteriormente em um curta de sete minutos), Peter assiste todo o
show e fica bem impressionado com o que ouviu da banda e viu do público, dançando sobre as
mesas e realmente curtindo. Depois do set, conversou reservadamente com os rapazes,
enquanto todos sorviam suas cervejas, e ficou espantado por eles estarem se desculpando por,
na opinião da banda, uma má apresentação. Brian como sempre, falou em nome de todos,
explicando sobre a música de Jimmy Reed e Muddy Waters, o que os Rolling Stones já fizeram
e o que eles ainda pretendiam realizar. O artigo no jornal iria abrir outras portas e atrairia mais
jovens para o subúrbio nos domingos.

Em primeiro de fevereiro, Brian havia escrito uma carta para a BBC, solicitando uma
oportunidade para a emissora receber sua banda no programa "Jazz Club", que apesar do
nome, recebia bandas de rhythm & blues. Brian chamou sua banda, nesta sua carta, de The
Rollin' Stones Rhythm & Blues Band. Quando a BBC finalmente respondeu convidando para
uma audição, a data foi marcada para o dia 23 de Abril, durante a semana, no meio do horário
comercial, o que tornou impraticável para Charlie ou Bill poderem participar. Novamente, Brian
procurou socorro nos All Stars, e por uma cota, Ricky Brown e Carlo Little fizeram o gig.
Tocaram duas músicas, "I'm A Hog For You Baby", canção do antigo repertório dos Savages e
"I'm Moving On". Foram gravados e depois ouvidos por um certo David Dore, gerente de
programação da rádio, que dispensou a banda por ter um vocalista que cantava soando como
um negro.

Os Rolling Stones Atraem Seu Público

Brian conhece Linda Lawrence, uma menina de dezesseis anos, e começam a namorar. Como
por um sexto sentido, dias depois, sem aviso prévio, do nada aparece Pat Andrews novamente,
com Julian a tiracolo. Ela informa a Brian que se mudou de vez para Londres, trabalhando em
uma farmácia, e alugara um apartamento pequeno em Notting Hill Gate. Voltam a ficar juntos,
Brian apegando-se a seu filho. Se no primeiro domingo no Crawdaddy, dia 24 de Fevereiro,
tocaram para trinta e duas pessoas, a cada domingo os números dobravam. Logo havia fila nas
ruas para entrar e vê-los.

Jovens aspirantes de músicos começavam a freqüentar e estudar a banda. Paul Samuel-Smith


era um que passou a assistir todos os shows e vivia atrás de Wyman pedindo dicas. Mais tarde
ele ajudaria a fundar The Yardbirds. Ron Wood, que já freqüentava os shows do Blues
Incorporated para assistir seu irmão Art, assistiu os Stones, que abriam para eles. Wood torna-
se agora outro que vez por outra estava em Richmond para assistir à banda, trazendo consigo
vários amigos. Eric Clapton também começou a aparecer regularmente nas terças quando a
banda tocava no Ealing Club e a casa ficava menos cheia. Ele tocava e cantava "Roll Over
Beethoven" com os rapazes; Mick e Eric tornando-se grandes amigos. Os Stones começavam
também a atrair pessoas do jet-set londrino como Jean Shrimpton, uma top model famosa da
cidade. Sua irmã Chrissie, de 17 anos faz uma aposta com as amigas que conseguiria arrancar
um beijo do Jagger. Logo estavam namorando.

Andrew Loog Oldham

Andrew Loog Oldham ficou sabendo do alarde que esses rapazes estavam criando em
Richmond e imediatamente se interessou em conhecê-los. Andrew era um típico mod de 19
anos com um incrível senso de moda, uma percepção aguçada para antever tendências
relacionadas à sua geração e um desejo de ganhar muita grana no circuito musical. Seu talento
para gerar promoção chamou a atenção de Brian Epstein que o contratou para divulgar o
segundo compacto dos Beatles, "Please, Please Me". Antes de trabalhar com eles, Andrew já
conhecia os Beatles e a tempos falava para qualquer um que desse ouvidos, que aquele
quarteto seria um sucesso. Agora que suas previsões se mostravam frutíferas, Oldham não
podia ser totalmente ignorado. Portanto quando Andrew procurou Eric Easton, um agente de
trinta e seis anos, com escritório na Regente Street, sobre passar o domingo em Richmond
para tentar assinar uma banda com o nome de Rolling Stones, mesmo cético, Easton topou.

Ficaram muito impressionados, especialmente Oldham, que resumiria o primeiro impacto como
sendo: "uma mistura de musicalidade e sex-appeal que eu nunca vi em nenhum outro grupo".
Easton comentaria posteriormente: "De vez em quando alguém saía do salão para poder
respirar. Foi o primeiro banho turco gratuito que eu tomei na vida. Nunca presenciei coisa igual
e os Stones estavam adorando tudo, produzindo um som fantástico que obviamente batia em
cheio com o seu público." Procuraram Mick e Brian após o show e marcaram uma reunião no
escritório para o dia seguinte.

Stu, Wyman e Watts trabalhavam durante o dia e não puderam comparecer, Jagger tinha aula
e Richards não tinha interesse. Brian Jones chegou então no escritório de Easton sozinho na
hora marcada e este logo explicou que não poderia fazer nenhuma promessa. Andrew então
calmamente conta uma historia, que quando ele estava em Doncaster, assistiu os Beatles pela
primeira vez. Eram a oitava atração da noite, atrás de gente como Helen Shapiro e Tommy
Roe. Bastou ouvi-los aquela noite, para saber que eles iriam ser a maior coisa que já se tinha
notícia. Sua intuição lhe dizia que uma vez grandes, haveria todo um outro público querendo
ouvir o oposto do que os Beatles representavam. Depois de trabalhar com Epstein e os
Beatles, isso ficou mais claro ainda na sua mente. Andrew então dá a facada final, dizendo que
ele achava que os Stones poderia ser essa banda e que ele saberia vendê-los como tal. À noite
em Edith Grove, Brian explica todos os detalhes da conversa para o restante da banda, que
naturalmente são tomados por muito entusiasmo com a promessa de melhores dias.

Assinando os Papéis

Brian voltaria ao escritório de Easton nos próximos dias para discutir detalhes sobre a proposta
contratual, mas não antes de sondar informações sobre trabalhos anteriores, tanto de Easton
como de Oldham. Já a dupla Oldham e Easton, estudava como fazer uma gravadora grande
entender o som que estavam querendo. Concluem que seria difícil e cansativo, portanto a
contraproposta seria a banda, Andrew e Eric, gravarem e produzirem tudo eles mesmos e
então vender o produto final para a gravadora. Assim eles teriam um maior controle de todo o
processo e teriam uma porcentagem bem maior do que sendo simplesmente mais uma banda
na cartela de uma gravadora. Uma concepção completamente nova na Inglaterra mas que
gente como Phil Spector e alguns outros já faziam com sucesso nos Estados Unidos. Assim,
fundaram a Impact Sound, a primeira gravadora independente da Inglaterra.

No dia 1º de Maio de 1963, depois de discutir algumas horas com Eric e Andrew sobre
minúcias, Brian leva o contrato para uma casa de chá na esquina oposta do escritório onde
Mick e Keith aguardam ansiosamente. Depois do acordo coletivo entre eles, Brian volta e
assina. O contrato tem a duração de três anos a começar pelo dia 6 de Maio de 1963, e prevê
o gerenciamento dos Rolling Stones representado por Brian Jones, pela Impact Sound
representado por Andrew Oldham e Eric Easton. Os Stones tinham agora um novo empresário
e um agente.

A Decca e em especial Dick Rowe, tinham virado a piada do ano por ter recusado os Beatles
em 1962, e estavam desesperados atrás de uma banda que devolvesse a moral e o respeito à
gravadora. George Harrison encontrou com Rowe em Liverpool em certa ocasião e sugeriu que
ele fosse a Richmond assistir os Rolling Stones. "Seria uma boa idéia contratá-los" disse-lhe
George. Rowe foi, assistindo à apresentação do dia 6 de Maio. Oldham e Easton,
aproveitando-se desse momento de fragilidade em que se encontravam Rowe e a gravadora,
fechou um contrato em que as gravações seriam licenciadas à Decca, porém a banda não só
teria total controle sobre o que seria lançado, como continuariam sendo os donos das fitas
masters. Vendo a EMI dominar as paradas de sucesso, com os Beatles vendendo discos em
quantidades inacreditáveis, a Decca, e principalmente Dick Rowe, não poderiam arriscar perder
outra banda tão promissora, e aceitou este contrato incomum.

Andrew Cria a Imagem Ideal


Uma vez sabendo da gravação feita pelo IBC Recording Studio com Glyn Johns, Andrew
imediatamente compra de volta a fita por £106. O detalhe seguinte no esquema de Andrew
quanto à imagem da banda atingiria o pianista. Ian Stewart não tinha absolutamente nenhum
"sex appeal" e segundo Andrew, estragava a imagem de uma banda jovem e excitante que se
queria criar em torno deles. Por causa de uma meningite mal curada quando criança, Stu teve
problemas com calcificação e o resultado foi uma mandíbula protuberante. Ele operou aos
dezoito anos mas ainda assim continuou bastante singular. Sendo muito sensível em relação à
sua aparência, ele se sentiu impotente para discutir a questão. Esperou que a banda o
defendesse, mas a fome pelo sucesso falou mais alto que a lealdade. Oldham ofereceu uma
alternativa em que Stu poderia gravar com os Stones mas não posar como um membro. Ele
seria o gerente de palco, encarregado de cuidar de todo o equipamento da banda, desde
transporte até montagem no palco. Stu aceitou o encargo e a situação. No exterior ele
demonstrava muita tranqüilidade com seu novo papel de gerente de palco, mas no fundo,
nunca mais confiou em Brian por não ter criado nenhum obstáculo a Oldham para evitar retirá-
lo da banda. A ideologia musical de antes dava lugar rapidamente para rixas e tensões. Tendo
isso concluído, Oldham anunciou que na próxima semana gravariam seu primeiro compacto
pela Decca.

Brian foi então chamado para assinar outro contrato. Três dias depois do contrato de
gerenciamento entre as partes entrar em vigor, lhe é apresentado um contrato para as
gravações. Nesse contrato, que também duraria três anos, os Rolling Stones receberiam 6%
para serem divididos entre os cinco, o que já excluía Stu como membro. Existe também, um
contrato de licenciamento das gravações, entre a Impact Sounds e a Decca, oferecendo a esta
a primeira opção. Giorgio Gomelsky, que tinha um acordo verbal com os Stones, estava
viajando por conta de um parente doente. Quando volta e percebe o que os Stones fizeram,
logicamente se sente traído, principalmente por Brian. Porém seu tino comercial falaria mais
alto, e Gomelsky ainda iria arrumar vários shows para os Rolling Stones tocarem, vários em
que o resultado acabou sendo significativo na história da banda.

Hora de Estúdio

Andrew nunca entrara em um estúdio de gravação, muito menos produzira uma banda. Então
as primeiras duas sessões para gravarem o novo compacto foram infrutíferas e somente na
terceira tentativa conseguiram uma versão mais apresentável para as rádios. Escolheram
estrear com "Come On" de Chuck Berry por ela ser mais comercial, embora os membros da
banda fossem os primeiros a admitir que a canção gravada não representava o melhor dos
Stones. Assim, Come On/I Want To Be Loved foi lançado em 7 de Junho, 1963. Jagger definiria
a sessão como sendo "um monte de amadores, totalmente ignorantes, fazendo um hit." O
compacto conseguiu no máximo chegar a 20º lugar, mas permaneceu em posições variadas
das paradas por quatro meses, um fato em si impressionante.

Para promovê-lo foram fazer sua primeira aparição na TV no programa Thank Your Lucky
Stars. Na manhã da apresentação, todos foram com Andrew comprar suas roupas de palco,
que incluiriam calças jeans pretas apertadas e uma sweater de gola rolê. Para os pés, vestiram
o que ficou conhecido mundialmente como botas beatles. Mick, Keith e Brian odiaram a idéia
de uniformização e usaram uma jaqueta por cima da roupa para manter o ar de "casual". Só as
botas fizeram algum sucesso, especialmente com Keith e Brian. Mick, o mais alto entre eles,
recusou usá-las, continuando a calçar salto baixo. A banda em playback, faziam a mímica para
a canção "Come On" para o programa e ao saírem, Andrew fala sobre excursionar com os
Everly Brothers no outono.

No dia seguinte, o resultante da estréia televisiva foi muita promoção ruim, falando
demasiadamente mal dos cabelos terrivelmente longos, dos trejeitos bissexuais de Jagger, da
atitude excessivamente agressiva de Brian no palco e muito pouco sobre a música.
Basicamente queixavam que os Rolling Stones haviam passado consideravelmente dos limites
instaurados pelos Beatles. Iniciou-se assim a rixa entre os fãs, fomentada pela imprensa, entre
os Beatles, os meninos que encantaram a nação, e os Rolling Stones, os rapazes prontos a dar
um chute nela.
Embora ficassem atordoados com as coisas ruins que liam, Andrew adorou a controvérsia e fez
questão de dar mais gás para o assunto. Sua lógica era de que controvérsia vendia jornais e os
jornais venderiam os Stones, portanto quanto mais controvérsia gerassem para os adultos,
mais os seus filhos iriam adorá-los. Andrew instruiu a banda, principalmente Brian e Mick, os
homens de frente, a não serem corteses com os jornalistas e a jogada promocional se mostrou
extremamente funcional.

Pat e Julian, então com dois anos, aparecem no backstage em uma das apresentações da
banda e Brian não resiste em ficar brincando com seu filho, apresentando-o a todos. Ele é
chamado atenção severamente por Andrew, que acusa sua atitude de ferir a imagem de um
roqueiro durão. Ele não poderia mais divulgar que era um pai. Tinha que se mostrar
"disponível" para as fãs. Esta era a imagem! Brian mesmo a contragosto, obedece.

Jogando Com a Publicidade

São os primeiros a abandonar os terninhos para as apresentações, tradição tão enraizada no


"business" nos dois lados do Atlântico, que deixou até Andrew preocupado se seria boa idéia
ou não quebrar. Mas a jogada promocional mais famosa foi um artigo intitulado "Você Deixaria
Sua Filha Casar Com Um Rolling Stone?" que serviu para reforçar a imagem de uma banda
com membros rebeldes e perigosos, deixando apavorados os pais de todo o Reino Unido. Esse
artigo os promoveria para a categoria de 'oficialmente' perigosos e ajudaria a inflar o chamado
'generation gap' (vácuo entre gerações) que separava o gosto dos jovens do gosto dos seus
pais. Oldham diria que "os Beatles fazem músicas que até adultos gostam" como que para
acirrar ainda mais a rixa que foi rapidamente assimilada pela imprensa e os fãs. De fato, se a
estratégia dos Beatles era de serem encantadores, a dos Rolling Stones era a de serem vistos
como repulsivos. Quanto mais a geração adulta falava mal dos Stones, mais ajudavam sua
popularidade perante os jovens.

As coisas começam a acontecer rapidamente para a banda, uma atrás da outra. Sessões de
fotos para publicidade, organização de um fã clube oficial e muitas apresentações ao vivo. Com
a banda abandonando a idéia de qualquer tipo de uniformização, Oldham descobre que Brian,
Keith e Mick não são facilmente controláveis. A essa altura, estão tocando praticamente toda
noite indo de um lado a outra no van do Stu. Começaram a se apresentar cada vez mais fora
de Londres em salões maiores onde vez por outra começavam brigas por causa dos cabelos
compridos.

Lembrando que a estética aceitável para o comprimento dos cabelos masculinos era até a
altura das orelhas, ter o cabelo ultrapassando este limite era considerado de mau gosto. Os
Beatles abriram esta porta aos olhos do público, e os Stones seguiram a tendência cobrindo
totalmente as orelhas com cabelo. Bill Wyman conta que além das reclamações que ouvia no
seu trabalho formal, voltando para casa de condução, encontrava os olhares de reprovação do
povo. Vez por outra, teve que ouvir comentários do tipo "Não deveria ser permitido gente assim
em lugares públicos." Wyman que sempre cresceu em áreas difíceis, embora prefira a paz, é
um sujeito que não deixa barato. "Eu sou pago para estar assim, qual é a sua desculpa?" Com
o pique de atividade que são obrigados a manter e com o futuro lhe parecendo extremamente
promissor, Bill Wyman larga seu emprego formal e compra um baixo novo, pagando algo a
vista pela primeira vez na vida. Stu e Charlie também não agüentam o ritmo da jornada dupla e
seguem o exemplo de Bill. Só Mick Jagger continuaria seus estudos até final de setembro
quando toma coragem para também largar sua faculdade, tornando-se um Rolling Stone em
tempo integral.

O publico que era de 300 a noite já está chegando a 800 por noite. Pela quantidade de pessoas
que os Rolling Stones estão atraindo, suas apresentações não cabem mais em clubes e
passam a ser vistos praticamente só em teatros espaçosos. Por volta do início de agosto, as
constantes idas e vindas de van por toda Inglaterra começam a afetar a saúde de Brian. Ele é
alérgico a diversos tipos de remédios comuns e ao tomar medicação imprópria, tem uma
reação violenta a ponto de sua pele começar a descascar. Diferentes tipos de problemas, todos
relacionados com sua saúde, o fariam perder diversos shows em ocasiões diferentes. Nestas
noites, a banda tocaria com Ian Stewart ao piano.
Um dos mais significativos shows que fizeram foi no Richmond Jazz Festival. A rixa entre o
pessoal elitista do jazz contra o pessoal do rock ainda existia mas mesmo assim Giorgio
Gomelsky conseguiria colocá-los entre as atrações. Uma banda de rhythm & blues tocando em
um festival exclusivamente dedicado ao jazz foi em si, uma quebra de tradição. Porém no dia
11 de Agosto, ao abrir os portões, haviam 1.500 pessoas só para ver os Stones. Os
organizadores do festival tiveram que relocar a banda para a tenda principal, impressionados
com a recepção que receberam. A partir desta, as bandas de rhythm & blues passam a ter
mais acesso a festivais como este e a organização muda até o nome do evento para The
Richmond Jazz And Blues Festival, mostrando assim, a nova mentalidade.

Easton Cuida Das Financias

Com tantas apresentações e viagens para lhe manter ocupado, Easton tira das mãos de Brian
toda a parte financeira e o dinheiro passa a somar uma média de £193 para cada um, por
semana. Uma soma muito maior que um emprego ortodoxo, como por exemplo um operário,
traria para casa. Mais tarde descobriu-se que Brian teria um acordo secreto com Easton de
receber mais £5 pelo fato de ser o líder do grupo. Existem relatos de Brian exigindo os
melhores quartos em hotéis, especificamente melhores do que o do resto da banda, para
marcar o fato que ele é o líder. Outras histórias contam que em uma conversa reservada com
Easton, ele comentaria que a voz do Jagger era fraca e que não haveria problemas se a
direção (Easton e Oldham) quisesse substitui-lo. Essas e outras atitudes mais arrogantes,
típicas ilusões de grandeza, o distanciaria dos demais e seu respeito dentro da banda como
líder começava a extinguir.

Eric Easton arrumara um acordo com a Vox, firma que fazia amplificadores e instrumentos. A
Vox forneceria um set de equipamentos para a banda em troca da publicidade. Entre o
material, está a guitarra modelo "Teardrop" feito especialmente para Brian Jones.

Passados alguns dias, a banda grava no Hampstead Studio, "Fortune Teller" e "Poison Ivy"
para o segundo compacto. Todos ficaram bastante satisfeitos desta vez, embora permanecera
uma dúvida se essa seria mesmo a melhor música para deslanchar de vez a banda nas
paradas. A Decca entrou em produção e a uma semana da data de lançamento, a banda
decidiu segurar o compacto em prol de outro. Apenas não sabiam ainda qual.

Giorgio novamente arrumou outro show para a banda, em que eles tocaram para 800 pessoas.
Algumas pessoas que trabalhavam para a TV estavam lá, procurando rapazes e moças que
dançavam bem para participar de um programa jovem. Eles acabaram ficando impressionados
com a banda. Um convite aos Stones foi feito, e no dia 26 de Agosto tocaram ao vivo no
programa "Ready, Steady Go!", com Jagger pulando no palco e as meninas ficando histéricas
na platéia. Jagger já evoluíra em muito seu pique de palco, se mexendo e tentando estimular
excitação ao público que o assistia, através da música. Pessoas por todo Reino Unido que
nunca tiveram a oportunidade de vê-los ou sequer tinham ouvido falar no nome Rolling Stones,
ficaram conhecendo a banda. Cartas e mais cartas inundaram a sede da TV, a grande maioria
de jovens elogiando a atração e algumas de pais se queixando do mau gosto da programação.
Em pouco tempo a banda voltaria seguidamente.

Em Setembro pediram as chaves do apartamento em Edith Grove. Brian então foi morar com
Linda Lawrence na casa dos pais dela em Windsor. Keith e Mick passaram a morar juntos na
Mapesbury Road em Hampstead. Pouco depois Andrew se mudou para lá. Quando Chrissy
Shrimpton fez 18 anos, passou a trabalhar como secretária na Decca e também foi morar em
Hampstead com Mick. Essas mudanças de endereços teriam maiores repercussões dentro da
estrutura da banda no futuro.

O Proximo Compacto

Decca exerce pressão exigindo material para o novo compacto, mas os rapazes não
conseguiam escolher uma canção adequada dentro das várias do repertório. Foi quando por
um acaso, Andrew descendo a Jermyn Street a pé, vê um taxi encostando. "Olá Andrew;
entre." Era Paul McCartney acompanhado de John Lennon que vinham de um outro
compromisso. Como já se conheciam dos tempos em que Andrew trabalhava para Brian
Epstein, ele foi logo contando a situação delicada em que os Stones se encontravam em
relação ao seu próximo lançamento fonográfico. Paul então oferece "I Wanna Be Your Man"
que ele havia começado a escrever pensando em um número para seu baterista Ringo Starr
cantar. O taxi então desvia para o Studio 51, onde a banda ensaiava e prontamente ofereceram
a canção. "A letra só tem o refrão" disse John, "mas se vocês gostarem da música, terminamos
ela agora mesmo". Com John na guitarra e Paul, usando o baixo do Wyman, ensinam a música
e cantam o refrão. Sendo canhoto, Paul teve que tocar o instrumento ao contrario, exercendo a
difícil tarefa com perfeição, para o espanto de Wyman. Após ouvirem a canção, Brian diz que
gostou e então todos concordaram que era uma ótima canção. John e Paul foram então para
uma sala ao lado para terminá-la e cinco minutos depois estavam de volta. "Esqueceram algo?"
perguntou Bill, "Querem um violão para ajudar?" "Não, está pronta."

Logo que Lennon e McCartney deixam o recinto, os Stones começaram a mexer na música
para enquadrá-la mais ao seu som. Brian tocando slide guitar deu outra sonoridade e todos
ficaram satisfeitos. No De La Lane Studio, no dia 7 de Outubro, a banda parte para gravar
finalmente o seu segundo compacto. Brian abandona a idéia original do slide tradicional, em
prol do uso de um gargalo de garrafa na guitarra, o que deu um som totalmente novo dentro da
concepção que os Stones tinham da música um mês antes. Esta inclusive é a primeira vez que
se grava o chamado 'bottle neck guitar' (guitarra com gargalo de garrafa) no Reino Unido.
Como sobrou pouco tempo de estúdio para gravar o lado B, inventaram um tema na hora,
fortemente inspirado em "Green Onions" de Booker T. & The MG's. A canção foi batizada
"Stoned". Como Andrew estava na França, o disco foi produzido competentemente por Eric
Easton.

A Primeira Excursão

Embarcaram então para uma grande excursão abrindo para Bo Diddley e The Everly Brothers.
Mas antes da excursão começar, Bo Diddley teve uma apresentação na rádio BBC, no
programa "Saturday Club" com Charlie, Bill e Brian tocando como sua banda. Bo e os rapazes
se deram muito bem e o som agradou tanto que um convite para excursionar a Europa como
sua banda de apoio teve que ser gentilmente recusado. Mas o convite em si serviu para afagar
os egos dos três. Stu compra uma van nova, tipo Kombi especialmente para estrear a
excursão. Perto da metade da tour, Little Richard se juntou à troupe, reerguendo sua carreira
mais uma vez. Durante o evento, os Stones ficavam assistindo nas coxias às apresentações de
Diddley e Richard e procuraram aprender. Toda a excursão foi um grande aprendizado para a
banda e preparou-os para o que viria a ser a rotina de seu futuro. Bo Diddley também gostou
de assistir o show dos Stones e quando perguntaram o que ele achou da banda, Bo como
sempre, foi claro "Esse Brian Jones toca muito bem slide guitar. Ele não está de brincadeira e é
ele quem puxa sua banda para cima. É a única pessoa que conheço que consegue tirar o meu
som direito."

Os Everly Brothers tiveram dificuldade para se manterem como atrações principais, tendo
grande parte do publico deixando o recinto antes deles subirem ao palco. A excursão durou
quase dois meses com trinta shows em sessenta noites, a maior turnê dos Stones até então.
Quando tocaram em Cheltenham, Brian procura novamente Pat Andrews e lhe oferece
recursos financeiros regulares para as necessidades de Julian.

A era das groupies começava a aparecer, com os rapazes dormindo com uma menina nova a
cada noite. Brian como sempre, um faminto sexual, trouxe até uma menina com ele na van,
trepando com ela sentado entre os rapazes, durante o caminho da volta para casa. Morando na
casa dos pais de Linda Lawrence, sua atual namorada, simplesmente abandonou a menina
com Bill, Charlie e Stu na van. Ela sem dinheiro, acabou hospede da família Wyman aquela
noite e Diana, esposa do Bill, teve que engolir as explicações e juras de inocência do marido.

I Wanna Be Your Man/Stoned foi lançado em novembro de 1963, na semana em que os


Beatles tocariam para a rainha; outra ótima jogada de marketing para o compacto e mais um
acerto calculado previamente por Andrew. Muita gente comprou por se tratar de uma música da
dupla Lennon-McCartney. A imprensa especializada, que falou muito bem do compacto, ficou
satisfeita que os Stones finalmente lançassem algo mais perto do seu som ao vivo. Outros
criticaram o acabamento da gravação, queixando que as guitarras acabaram mixadas mais alto
do que as vozes. Mas no geral, a impressão da maioria é favorável aos Stones.

Andrew apresentaria Mick e Keith a Gene Pitney, um cantor e compositor americano radicado
na Inglaterra, cuja carreira Oldham pretendia cuidar. Os três fizeram uma certa amizade e
mostraram sua primeira composição como dupla: "My Only Girl". Gene quis gravá-la mudando
antes a estrutura para uma balada, mais ao seu estilo. Depois, ao lado de Jagger & Richards,
alterou a letra que passou a se chamar "That Girl Belongs To Yesterday". Seriam estes os
primeiros passos, para a longa carreira de compositores que a dupla passaria a ter.

Andrew e Sua Liderança

A mudança de Andrew Oldham para Mapesbury Road não é por acaso e sua repercussão
mudaria muita coisa dentro da historia da banda. Além da velada paixão platônica que Andrew
tinha por Mick, existia na mudança um envolvimento relacionado a negócios e dinheiro. Andrew
tinha a necessidade de ter controle sobre seus artistas e Brian, Keith e Mick morando juntos,
eram demasiadamente unidos. Com a saída de Brian da casa, Andrew entrou e investiu em
duas frentes. Primeiro, convencendo Mick e Keith a escreverem suas próprias canções,
conscientizando os dois que a suas carreiras não teriam longevidade se ficassem só
trabalhando com canções obscuras. Afinal, quantas canções obscuras existem para serem
descobertas? A atitude de Jagger sempre foi a de que um inglês não pode escrever rhythm &
blues sem parecer falso, porque se trata de uma música essencialmente negra e americana,
duas coisas que eles não são. Alem do mais, eles são interpretes e não compositores. Depois
de ver quão fácil John Lennon e Paul McCartney escreviam suas canções, suas convicções
começaram a minguar. A atitude de Keith foi mais nos moldes de "já que é assim, vamos
escrever como um duo e rachar a grana dos direitos autorais." Andrew certa vez, literalmente
trancou os dois dentro da cozinha só permitindo que saíssem quando tivessem uma canção
apresentável. Saíram de lá com "My Only Girl".

A segunda frente era plantar a semente de discórdia entre os dois e Brian. A razão de ser desta
atitude não é gratuita. Andrew sabe que Brian é um purista e que jamais se sentiria confortável
abandonando sua integridade musical. De fato, Brian já dava sinais de desconforto em relação
a algumas das músicas mais acessíveis do novo repertório da banda. Mas dentro dele revolve
um pequeno duelo entre seu amor e seriedade em relação ao verdadeiro blues, e o sabor
inebriante do estrelato. Brian sendo a cabeça musical dos Rolling Stones, não pensava
comercialmente. É portanto um obstáculo a ser vencido por Andrew para ele poder criar, dento
da banda, uma máquina de hits que garantiria sucesso comercial. Em outras palavras: dinheiro
no seu bolso. A banda começa a se dividir com Andrew, Mick e Keith de um lado e Brian, Bill e
Charlie do outro.

Os Rolling Stones foi uma das bandas que mais se apresentaram ao vivo em 1963. Se
individualmente seus membros tinham pouco em comum, viajar e tocar extensivamente em
excursões uniu todos. Ao final do ano, já estava ficando difícil andarem livremente pela cidade
sem ser incomodados por fãs pedindo autógrafos. Em pelo menos duas apresentações de fim
de ano, a banda que abre para eles era The Detours que tinha em seu guitarrista, um nome
que ainda viria a ser conhecido, Pete Townshend. É em uma dessas apresentações que Pete
assiste Keith Richards girar o braço em 360º ao tocar, ainda esquentando, backstage. Acha
incrivelmente interessante e em tempo passa a imitá-lo, iniciando assim um estilo para sempre
ligado a sua imagem. Anos depois Pete descobre através do próprio Keith que este sequer
recorda de ter feito o chamado "estilo hélice" alguma vez. Quanto ao primeiro natal depois de
se tornarem um sucesso, Keith com muita satisfação comenta, "Neste natal, sou eu quem vai
distribuir os presentes lá em casa." Linda Lawrence descobre que está gravida e Brian
novamente vai ser pai. Tentam um aborto mas o médico se recusa a fazer a operação.

Stonemania

O ano de 1964 não altera a rotina de shows, shows e mais shows. Diferente do ano anterior, a
banda já está mais ambientada no estúdio e com o processo de gravação. A cada nova canção
da dupla Jagger-Richards que é registrada e recebe elogios, pior fica o complexo de
inferioridade de Brian. Os únicos a serem incentivados a compor eram Mick e Keith. De inicio,
Brian ainda se aventurou a mostrar um poema aos dois, sendo recebido com um "Você não
sabe escrever Brian!" Sem aprovação ou incentivo de ninguém da banda, Brian timidamente se
cala e guarda sua poesia para si e para sua namorada. Linda, sendo uma das poucas pessoas
a ler ou ouvir alguma coisa composta por Brian, descreve suas letras como espiritualmente
românticas, falando do seus sentimentos.

É lançado Not Fade Away/Little By Little, clássico de Buddy Holly que recria uma versão branca
do ritmo de Bo Diddley. A versão dos Stones, bem mais negra, se torna o primeiro compacto da
banda na América. Cria-se um interesse no público americano em conhecer os Stones, e a
canção vai direto a No. 3 no Reino Unido, o primeiro compacto dos Stones a ir tão longe, tão
rápido. Este fato faz a diretoria da Decca solicitar um LP. Paralelamente iniciam-se
conversações para a primeira excursão americana. A cada show, as loucuras do público
pioram e cada vez mais policiais em maior quantidade são exigidos.

Em diversas ocasiões são obrigados a entrarem nos teatros vindo dos fundos, tendo que pular
um muro atrás ou ao lado do local. Isto, quando não precisam também entrar através de uma
janela lateral, pois todas as entradas convencionais estão tomados por pessoas. Durante os
shows, mulheres na frente são esmagadas pelas mulheres atrás querendo chegar mais perto.
Torna-se comum ver as meninas sendo levadas para fora e atrás do palco, deitadas pelos
corredores adjacentes. Quando a banda termina o set, o teatro toca o hino nacional, tática com
intuito de apaziguar os ânimos enquanto a banda foge. O set por sinal, era basicamente
composta pelas canções "Talkin' Bout You", "Poison Ivy", "Walkin' The Dog", "Pretty Thing",
"Cops And Robbers", "Jaguar And The Thunderbird", "Don't Lie To Me", "I Wanna Be Your
Man", "Roll Over Beethoven", "You Better Move On", "Road Runner", "Route 66", "Bye-Bye
Johnny" e "Not Fade Away".

Ao final do ano de 1963, Mick já tinha amadurecido todo seu estilo particular de se apresentar,
deixando para trás aquele menino que só sabia sacudir a cabeça. Todo o sua espressão
corporal canta com ele agora, e a reação do público, tanto feminino como em alguns casos,
masculino, estão receptíveis para sua performance. Certa noite, ao iniciar "Not Fade Away",
antes mesmo que Jagger começasse a cantar, a histeria foi tão grande que as meninas
avançaram sobre o palco, todas ao mesmo tempo. Os rapazes largaram seus instrumentos e
correram como se temendo pela vida. Charlie e Brian tiveram suas roupas rasgadas, Keith e
Mick correndo mais rápido escapuliram ilesos. Stu ficou para trás aguardando uma
oportunidade para recolher o equipamento.

Divisões e Exigências

Mick e Keith não viajam mais na van com o resto da banda. Vão geralmente ou no carro de
Andrew ou no de Mick, uma vez que Keith não dirigia. Na van estão sempre Stu e Bill; Brian
ocasionalmente indo no seu carro e dando carona a Charlie. Mick tornava-se cada vez mais
comprometido com manter a imagem de mau da banda para a imprensa. Passou a exigir que
Charlie deixasse os cabelos crescerem ainda mais, pois sua imagem mais parecia de um
jazzista respeitável, como também exigiu que ele adiasse o seu casamento com Shirley, sua
noiva. Nada para Mick era mais importante do que a carreira dos Rolling Stones. Charlie e
Shirley acabaram casando sem que Mick e Andrew soubessem.

A dupla Jagger-Richard escreve outra canção, "Shang A Doo Lang" que não tiveram coragem
de usar e passaram-na para a pequena Adrienne Posta. Adrienne é outra artista que Andrew
produziu. Na festa de aniversario, comemorando seus 16 aninhos, Andrew e todos os Stones
compareceram. Também na festa estavam os Beatles. Paul McCartney que a esta altura de
sua vida, morava na casa da família Asher, estava tendo um acesso muito maior a cultura em
um formato mais amplo. Levado pela sua namorada Jane Asher, ele passa a freqüentar
galerias de arte, hobby que nunca cultivou em Liverpool, sua cidade natal. Fizeram amizades
com um jovem dono de galeria chamado John Dunbar e o casal tomou a liberdade de convida-
lo a festa. Dunbar compareceu acompanhado de sua namorada, a bela Marianne Faithful.

Marianne Faithful

Marianne Evelyn Faithful, nascida dia 29 de Dezembro 1946, aos 17 anos, era o típico exemplo
de menina que para o trânsito quando passa. Ela conta que descende da aristocracia, uma vez
que aparentemente sua mãe era uma baronesa na Áustria. Supostamente perderam o titulo e a
fortuna durante a guerra e Marianne passou quase sua infância inteira longe dos pais, morando
em uma escola dirigida por freiras chamada St. Joseph's Convent School. Na festa conversou
com todos mas estava entediada com a conversa. Ela sonhava com gente de classe como seu
namorado intelectual, não um bando de músicos agredindo a sociedade com seus cabelos
compridos. Mick a desejava e encontrou dificuldades de esconder isso de Chrissy, presente ao
seu lado.

Andrew também a desejava, mas para outros propósitos. Andrew viu que com seu rosto
carismático, Marianne Faithfull facilmente faria o país apaixonar-se por ela. Sem ouvir uma nota
sequer, queria criar uma carreira para ela como cantora. Conversou com Dunbar que não se
opôs embora no fundo não tenha gostado da idéia. Mas Marianne nem levou a proposta em
consideração de tão absurda que lhe pareceu. Andrew passou os próximos meses fazendo
lobby em cima de Dunbar até convencerem Marianne a viajar até Londres nas próximas férias
escolares e assinar um contrato com ele.

Jagger escreveu "As Tears Go By" inspirado na sua beleza e não só ofereceu a canção para
ela cantar, mas fez questão de assistir e participar de todo o processo da gravação. Marianne
estava visivelmente desconfortável com a situação de ter Mick, Keith e Brian alternadamente
dando convites indiretos para ela ir dormir com um deles. Dos três, o único que provocou sua
libido foi Brian Jones, mas ela era apaixonada por John Dunbar e pouco depois da canção
estourar nas rádios ela engravidou e casou. Sua gravidez não atrapalhou sua carreira mas as
viagens para promover seus discos, aos poucos minavam seu casamento.

O Primeiro Álbum

Jagger compôs "Little By Little" em parceria com Phil Spector, que Andrew trouxe para
conhecer e ajudar a produzir o primeiro álbum da banda. O disco, intitulado simplesmente de
The Rolling Stones, encontrou as lojas em Abril e incluía basicamente covers de suas músicas
favoritas. O compacto Not Fade Away/Little By Little que começou em terceiro lugar nas
paradas inglesas em Fevereiro, chega a primeiro em Abril. Spector adorou a música dos
Stones e excitou todos a irem tocar na América. "Eles vão adorar sua imagem de cabeludos."
Bob Dylan após a sua excursão à Inglaterra também voltou pra casa alertando todos sobre
quão bom e excitante eram esses Rolling Stones.

Após sua terceira excursão pelo Reino Unido, a banda saiu de férias, cada um para um canto.
Mick e Chrissy foram a Paris. Brian foi de carro para Escócia passar alguns dias. Ele se mudou
definitivamente da casa dos pais de Linda em Windsor passando a morar em Belgravia, na
Chester Street ao lado da aristocrática residência de Lady Dartmouth. Brian descobrira no mês
anterior que outra namorada sua, Dawn Malloy, com quem ele vem saindo ocasionalmente
desde o inicio do ano, está gravida e portanto, ele será pai novamente, pela quinta vez. Bill e
sua família foram para o interior hospedados em um hotel em Lyndhurst. Charlie e Shirley
foram para Gibraltar. Quando o casal não voltou a tempo dos primeiros gigs depois das férias,
Brian procurou novamente pelo Carlo Little. Este não sendo encontrado, foi convidado então
Micky Waller, que estava tocando com Marty Wilde (ex- Marty Wilde & the Wild Cats). No
backstage, conhecem Jimmy Page.

Gravado em mono, usando uma maquina Revox de dois canais, dentro de um pequeno
estúdio, tendo estojos de ovos feitos de papelão coladas nas paredes servindo como isolante
acústico, o disco é uma boa amostra da capacidade real da banda, com as músicas gravadas
em um take praticamente sem overdub.

Entitulado simplesmente The Rolling Stones, encontrou as lojas a partir de 17 de Março e


incluía basicamente covers de suas músicas favoritas. O álbum foi para No.1 com apenas duas
semanas, empurrando o álbum 'With The Beatles' para segundo lugar. É o primeiro disco a ser
lançado, cuja capa não contém nenhum texto ou mínima referência ao nome da banda.
Somente na contra capa há texto, inclusive a frase cunhada pelo Andrew, "Rolling Stones não
é apenas um grupo, é um modo de vida." Pelo interesse mostrado por jornais não
especializados em música, os cinco Stones começavam a perceber o marco que estavam
cravando.
Após sua terceira excursão pelo Reino Unido, a banda saiu de férias. Mick e Chrissy foram a
Paris. Lá passaram o tempo em clima de lua-de-mel. Bill, Diane e Stephen foram para o
interior, hospedados em um hotel em Lyndhurst. Charlie e Shirley foram para Gibraltar em uma
verdadeira lua-de-mel embora seu casamento continuasse um segredo.

Brian foi de carro para a Escócia passar alguns dias. Ele se mudou definitivamente da casa dos
pais de Linda em Windsor passando a morar em Belgravia, na Chester Street ao lado da
aristocrática residência de Lady Dartmouth. Brian descobrira no mês anterior que outra
namorada sua, Dawn Malloy, com quem ele vem saindo ocasionalmente desde o inicio do ano,
está gravida e portanto, ele será pai mais uma vez. O caso entre os dois praticamente acabaria
com a gravidez e embora ele deixasse a casa de Linda Lawrence, que também estava grávida
de seu filho, eles ainda voltariam a namorar. Linda aliás ficaria com Brian pelo resto da vida se
pudesse escolher, mas Brian não contribui, nunca assumindo totalmente suas
responsabilidades, nem como marido, nem como pai.

Celebridades

Quando se percebeu que Charlie Watts não voltaria a tempo de tocar nas primeiras gigs depois
das férias, Brian novamente procura por Carlo Little. Este não sendo encontrado, foi convidado
então Micky Waller, que estava tocando com Marty Wilde (ex- Marty Wilde & the Wild Cats).
Backstage em uma dessas apresentações, conhecem Jimmy Page. Em outra ocasião, Keith
Relf dos Yardbirds fica doente e Brian Jones o substitui tocando gaita no Crawdaddy. Vale citar
que os Yardbirds nesta época já tinham Eric Clapton na formação.

No dia 6 de Maio em Eel Pie Island, era a vez de Ian Stewart e Bill Wyman serem convidados a
tocar ao lado de Jimmy Page e Jeff Beck, sem aviso prévio, para a alegria daqueles que por
acaso apareceram no bar naquela noite.

Quando é descoberto que um dos Beatles é casado e pai de um menino, os jornais voltam a
falar só dos Beatles. De repente se "descobre" que os Stones também tem um membro casado
e com um filho, Andrew novamente arrumando uma maneira de manter sua banda em
equivalência com o Fab Four. Como diria Wyman anos depois, "Segredo? Minha vizinhança
toda sabia." Nesta época Keith conhece e começa a namorar a modelo inglesa, Linda Keith.

Os Stones e a Imprensa

Uma das maiores diferenças entre a forma de trabalhar de Andrew Oldham e de Brian Epstein,
empresário dos Beatles, é que, alvejando mesmo incomodar a geração mais velha, os Stones
têm toda a liberdade para falar do assunto que lhes convém, da forma que convier. Esta
liberdade funciona favorável para a imagem dos Stones como uma banda audaciosa e para
Mick Jagger em particular como representante de sua geração perante a mídia. Sempre
meticuloso para nunca fazer uma afirmação comparando os Stones diretamente aos Beatles,
apesar de ser constantemente instigado pela imprensa a fazê-lo, Jagger e os demais não se
esquivam de protestar contra a política bélica internacional ou a política conservadora inglesa,
vista agora como retrógrada e ineficaz nestes novos tempos.

A maior conscientização da banda em seu domínio de público e imprensa, começa a se


mostrar de uma forma mais direta. Como se testando seus limites, Mick e Brian começam a
falar mais sério. No palco certa noite Mick provoca: "Agora vamos tocar Roll Over Beethoven
dos Beatles." Como ninguém na platéia discordou seguiu: "Nossa, vocês são mais tapados que
eu pensei, Chuck Berry é quem escreveu esta canção." Brian conversando com um jornalista
sobre a postura atrás dos cabelos compridos diria: "É uma espécie de frustração. Muitos
homens gostariam de poder usar o cabelo comprido mas eles não tem a coragem. Eu sou uma
das poucas pessoas que está fazendo algo que eles também gostariam de estar fazendo."

"Eu apostei em sacrificar os estudos na faculdade pelo rhythm & blues e saí no lucro." Bill
comentando sobre sua vida agora, diz: "Nós tínhamos um cachorro mas como eu vivia
viajando, o cão me mordia sempre que eu voltava pra casa." E sobre os shows, em tom mais
sério, "A gritaria e os desmaios fazem parte do espetáculo mas todos nos preferíamos que as
pessoas prestassem atenção na música." Mick, novamente exercendo influência na opinião de
sua geração, ao se referir a um incidente onde um restaurante situado dentro do hotel em que
estavam hospedados, recusara a entrada da banda por não portarem gravatas, explicou: "Eu
não vou me vestir em suas roupas só para poder comer no meu hotel. Eu me visto assim e
pronto."

Reações Variadas

O fato de que eles estavam se divertindo enquanto ficavam ricos e eram desejados por
milhares de mulheres, acirra a inveja e descontentamento do trabalhador comum que vive de
bater o seu cartão de ponto, sempre "com seus sapatos lustrados e suas cuecas limpas" como
Brian e Keith zombavam a pouco mais de um ano atrás. A banda se apresenta fora do Reino
Unido pela primeira vez, em Montreux, para participar de um especial do programa "Ready,
Steady, Go!".

Jagger não permitia a ida das namoradas nas excursões, tendo discursado intensamente sobre
o assunto com Chrissie, Charlie e Shirley, dias antes. Mas ao se despedir no aeroporto,
perceberam que Keith havia trazido a sua namorada Linda Keith para dentro do avião e Mick
não teve coragem para enfrentá-lo e obrigá-la a voltar. Chrissie, que viu Linda embarcar,
discute escandalosamente com Mick, deixando-o embaraçado publicamente. Mick odeia
explosões de emoção, principalmente em público.

Uma vez em Montreux, os cabelos compridos faziam as pessoas nas ruas pararem para olhar
e nem o público adolescente local sabia como reagir. Em uma terra onde a dança era
organizada em fileiras, até os dançarinos de rock 'n' roll do programa causavam espanto.
Charlie passou a beber excessivamente. Sua instabilidade é fruto de sua tentativa de levantar
coragem para enfrentar Mick e Andrew, avisando que ele já estava casado e que doravante
queria Shirley, sua esposa, acompanhando-o nas viagens. Charlie receava ser despedido.

Acabou doente, permanecendo na Suíça por mais um dia, sem condições para viajar com os
rapazes de volta. A banda segue continuamente, encontrando um público estimado em mil e
quinhentas pessoas por apresentação. Na festa da NME no final de Abril, pela primeira e única
vez, os Beatles e os Stones se apresentam no mesmo evento. Entre as várias atrações da
noite também estão incluídos The Swinging Blue Jeans, Dave Clark Five, Joe Brown & the
Bruvvers, Big Dee Irwin, The Shadows, Cliff Richard, Manfred Mann, Brian Poole & the
Tremeloes, Billy J. Kramer & the Dakotas, Gerry & the Pacemakers, the Searchers, the
Merseybeats, além das presenças de Murray the K (que gravou as apresentações) e Roger
Moore como mestre de cerimônias.

A recepção calorosa do público somados à excelente apresentação dos Rolling Stones, deixam
os Beatles preocupados. É claro que ao fechar a noite, os Beatles também dão um show
extraordinário e as duas bandas se parabenizam nos bastidores. Em Birkenhead, a banda
descobre que um acidente de carro feriu dois fãs severamente. A banda comovida passa antes
no hospital para visitá-los. Na volta, Mick Jagger é novamente multado por velocidade acima do
permitido e com o seguro do veículo já expirado. Por ser sua terceira infração, ele terá que ir a
corte para não perder sua carteira. No final do show, o público invadiu o palco e na confusão
que se seguiu, Jagger torce o tornozelo. Na Escócia a loucura e pandemônio fora tanto que a
prefeitura da cidade de Hamilton aboliu shows de rock 'n' roll na cidade. A caminho da América,
os jornais americanos anunciavam: "Se vocês acharam os Beatles estranhos, esperem até ver
os Rolling Stones, a nova sensação da Grã Bretanha."

Dentro da banda, havia a sensação de que eles haviam conquistado um espaço e um orgulho
por terem aberto portas com sua música, para pessoas como Muddy Waters, Howlin' Wolf, Bo
Diddley e John Lee Hooker, que dificilmente teriam o renome que passaram a desfrutar, não
fosse a popularidade dos Rolling Stones. Ao chegar na América, os rapazes acreditavam que
seria mais fácil tocar para um público que entendia a música que eles tocavam. No aeroporto
JFK em Nova York, umas quinhentas meninas gritavam pela presença da banda. Houve uma
rápida conferência com a imprensa e cinco limousines, uma para cada Stone, levaram os
rapazes até o Astor Hotel em Times Square. Lá, com apenas quatro policiais guardando a
entrada, o local se tornou instantaneamente um manicômio.
A Primeira Excursão Americana

Os detalhes ocorridos nestas excursões, são narrados aqui com intuito de exemplificar a rotina
desgastante que a banda era obrigada a manter. Sim porque diferente de hoje em dia, tudo era
novidade. Novidade para o público, os estabelecimentos, e para os artistas. Afinal, bandas
inglesas tendo um mercado nos Estados Unidos nunca acontecera antes. Nem os Beatles
vieram ainda à América, excursionar de costa a costa. Eles só iriam chegar para a sua
excursão dentro de dois meses.

A estada da banda em Nova York incluiu apenas entrevistas para rádio e imprensa. Somente à
noite puderam curtir um pouco o circuito de clubes, onde dançaram e socializaram com
algumas pessoas.

Mas foi durante uma destas entrevistas para rádio, que o DJ Murray The K toca uma canção de
Bobby Womack, "It's All Over Now" e sugere aos rapazes, que eles poderiam fazer uma boa
versão dela. De fato, mais tarde no ano, a versão dos Stones da canção se tornaria seu
primeiro No.1 na América. Ficaram em NYC por três dias, seguindo então, diretamente para
Los Angeles. Ed Sullivan havia se recusado a apresentá-los para seu público essencialmente
familiar, então ficou para o programa Hollywood Palace, a estréia da banda na TV americana.

Típico programa de variedades, seu apresentador, Dean Martin, famoso cantor e comediante,
passou o programa fazendo piadinhas e ridicularizando a banda, o que foi por um lado um
tremendo choque para os rapazes mas pou um outro lado, fez com que os Stones tocassem
com um fervor impressionante. Mick, Keith e Brian demonstraram tremenda musicalidade neste
dia, vinda da pura fúria de quem quer provar alguma coisa. Tocaram no programa "Not Fade
Away", "I Just Want To Make Love To You" e "Tell Me". Nas coxias, o clima fora igualmente
agressivo, com o produtor do programa exigindo que a banda colocasse um uniforme e Bob
Bonis, responsável pela banda durante sua excursão americana, garantindo que os Stones não
usam uniformes. Keith cansando dos insultos constantes estava pronto para bater em Dean
Martin. À noite, Brian Jones conhece e acaba dormindo com uma das filhas de Dean.

Depois foram tocar em San Bernardino, perto de Los Angeles, para um público de 4.400
pessoas aos berros. Parecia Beatlemania sendo que as meninas conseguiam passar pela
polícia e invadir o palco. Keith tocava guitarra com uma menina pendurada no pescoço
enquanto a polícia tentava tirar outra que se agarrava na cintura de Mick. O show foi um
sucesso e a saída foi uma guerra entre 2.000 meninas e a polícia para evitar que cerquem o
ônibus da banda. Sucesso estava na mente de todo o grupo, porém a realidade chegou quando
a banda viajou país adentro. Em San Antonio, Texas, o próximo show da excursão, a banda
abre para Bobby Vee, grande teen idol americano. O público, uma mistura de cowboys e
criançada, ignora a banda, tratando os Stones como aberrações. Mas a banda impressiona o
saxofonista da banda de Bobby Vee que na década seguinte, iria ajudar a banda a reconquistar
o mundo. Seu nome? Bobby Keys.

Casas que comportavam 15.000 pessoas recebiam 650 dos quais 50 eram do policiamento.
Em Nebraska, um guarda entrou no vestiário dos Stones antes de uma apresentação. "O que é
isso que você está bebendo?" ele logo foi perguntando a Keith. De brincadeira ou sarcasmo, foi
respondido whiskey com Coca-cola sendo imediatamente reprimido pelo oficial pois, beber
álcool em locais públicos é proibido por lei. Quando Keith tentou mostrar que era brincadeira e
ele sorvia apenas refrigerante, o guarda puxou sua arma e apontou para a cabeça de um Keith
assustado e perplexo. O líquido foi imediatamente entornado na pia do local.

O Blues da América

Em Chicago, vão para o famoso Chess Studios e gravam pela primeira vez em um estúdio de
quatro canais. A banda estava na lua de tão felizes por estarem lá e o engenheiro de som Ron
Malo, soube tirar melhor e mais rapidamente do que qualquer engenheiro de som inglês, o som
americano que os Stones sempre queriam em seus discos. O resultado foi que em quatro
horas, os Rolling Stones estavam com quatro canções prontas e mixadas: "It's All Over Now", "I
Can't Be Satisfied", "Time Is On My Side" e um jam batizado de “Stewed and Keefed". Durante
a sessão conhecem Buddy Guy e Willie Dixon para a alegria dos seis. Voltando para o estúdio
mais tarde, para o horror de todos, encontram Muddy Waters trabalhando como assistente de
estúdio, levando os equipamentos da banda para dentro. Na parte da manhã, Waters estava
pintando o teto de outra sala do local. Os seis meninos não sabiam nada da realidade atrás do
blues que eles tanto amavam. A realidade de ser negro na América.

O Movimento Dos Direitos Civis

Em junho, quando os Stones chegaram na América, segregação ainda era legal no país. Havia
um movimento contra a segregação que foi chamado de O Movimento Dos Direitos Civis (The
Civil Rights Movement), e embora o negro tivesse a proteção legal para direitos iguais desde
1868, três anos depois de libertados da escravidão, na prática, a lei não excluía a segregação.
Ela permitia apenas que existisse um equivalente para negros das mesmas facilidades que o
homem branco dispunha. Assim, se existia o bebedouro público, então passou a existir o
bebedouro público para o negro. Havia o parque público, e o local destinado para os negros. O
homem negro tinha o direito de procurar um emprego na área que ele desejasse, mas ninguém
era obrigado a contratá-lo, nunca dando oportunidades para que ele pudesse se mostrar capaz.
Enfim, durante a primeira metade do século XX, ao homem negro urbano eram oferecidos
basicamente trabalhos secundários desde varrer e limpar, até servir e receber ordens. As
únicas profissões em que o homem negro podia galgar alguma notoriedade ocorriam no
esporte, mais especificamente no boxe, ou na música, mais especificamente em jazz e ragtime.
Outras profissões eram praticamente fechadas para um homem de cor.

No esporte, embora Jesse Owens, um americano negro, houvesse ganho uma medalha de
ouro nas Olimpíadas da Alemanha, a última antes da Segunda Guerra Mundial, o atletismo
continuava sendo um esporte amador. Passariam a haver ligas negras no baseball, todas
amadoras e com seus atletas muitas vezes maquiados como palhaços, fazendo partidas para
exibição. No basquete a hegemonia branca era total e só foi quebrada com o surgimento de um
time de exibição todo negro, chamado de Harlem Globetrotters. O público que este time passou
a atrair graças ao nível do espetáculo que eram suas exibições, acabou impulsionando a
contratação de negros neste esporte.

O homem negro freqüentar o mesmo parque do branco como um cidadão, com os mesmos
direitos de usufruto, era não só impensável, mas literalmente proibido. Principalmente no sul,
onde o negro poderia ser morto por tal audácia. O Movimento aos Direitos Civis, embora
atuante em pequena escala, ganhou força e notoriedade após um incidente inesperado. Em
dezembro de 1955 na cidade de Montgomery, Alabama; uma jovem chamada Rosie Parks,
recusou a dar seu assento em um ônibus para uma pessoa branca. A lei previa que, mesmo
pagando o mesmo valor de passagem, o negro podia sentar apenas se houvesse lugar para
todos. Se uma pessoa de pele branca estivesse em pé, esta pessoa tinha o direito de solicitar o
lugar e a pessoa de cor tinha a obrigação de ceder o banco, fazendo o restante de sua viagem
em pé. Rosie se recusou a dar o seu lugar e foi presa por seu ato de desobediência civil.

O incidente tomou impacto nacional quando promoveu-se um boicote ao ônibus público na


cidade. O até então desconhecido Reverendo Martin Luther King Jr., provou que o homem
negro tinha um peso na economia nacional, apontando para o fato de que quem tinha carro era
o homem branco. Portanto era o homem negro quem mais se locomovia de ônibus. Quando o
negro demonstra com seu boicote que prefere ir a pé do que usar um sistema de transporte
público que lhe discrimina, os ônibus municipais são economicamente feridos. Como os ônibus
pertencem à prefeitura, logo esta também sofre economicamente. O boicote promovido por
King foi iniciado no dia 5 de dezembro, e no dia 13 o Senado decreta o fim de segregação em
transportes públicos. Dia 21 o boicote foi encerrado não só com uma vitória, mas com uma
consciência maior de como funciona o pêndulo do poder em um país que é a capital do
capitalismo.

Os anos seguintes serão cheios de protestos da comunidade negra por igualdade, muitos dos
quais abraçados por pessoas de pele branca também. O Governo Kennedy tratava seriamente
o assunto questionando o povo sobre a constituição do país fundada no conceito de que todo
homem tem direitos iguais. Em Agosto de 1963, a maior congregação de negros na história
americana se reuniu em Washington DC e ouviram o mais famoso dos discursos de Martin
Luther King Jr., intitulado I Have A Dream. Em Novembro do mesmo ano, o Presidente John F.
Kennedy é assassinado. Em julho de 1964, seu sucessor, Presidente Lyndon B. Johnson
assina um documento que torna lei federal a integração de facilidades públicas, acabando com
as famosas placas Whites Only (Apenas Brancos) espalhadas pelo país. Com isto, os negros
não poderiam ter sua entrada recusada em um restaurante por exemplo, simplesmente pela
força da cor de sua pele. Mais importante, garantia legalmente o direito do negro de poder
estudar em escolas públicas brancas que passariam a ser agora integradas, bem melhores do
que os educandários existentes para a comunidade negra. O documento também torna
terminantemente ilegal discriminação de mão-de-obra, seja ela por cor, sexo ou crença. Um
marco na historia americana e um exemplo para as demais nações.

Mesmo assim, levaria outros cinco anos até as escolas sejam não só liberadas a aceitar negros
mas obrigadas a de fato fazê-lo. Martin Luther King Jr. ganharia o Prêmio Nobel da Paz por
seus esforços e conquista. Durante toda a década, haveriam incidentes, brigas, e em alguns
casos, guerra entre brancos assustados e negros determinados.

É no mínimo curioso que foi justamente na Inglaterra, que nunca tivera leis de escravatura e a
promoveu em praticamente todas suas colônias, que a música negra, mais precisamente o
blues, passaria a ter uma apreciação real como arte. O blues na América era sub cultura e o
rock, ao nascer, era digno de ser considerado uma aberração. Na América, adolescentes
ingleses, cabeludos cantando o blues eram igualmente tratados como aberrações por uma
grande parte do público adulto e jovem.

Gravando Na América

Apesar de consternados, vendo um dos seus maiores ídolos, cuja música batizou a banda,
pintando paredes e carregando equipamentos, os Stones continuaram sua programação
gravando "Confessing The Blues" e "Around And Around" de Chuck Berry, que também
apareceu por lá conversando amigavelmente. Chuck, como muitos negros, achavam que os
Stones estavam roubando os negros de sua música. Em duas ou três outras ocasiões nesta
excursão, ao estar no mesmo local que os Rolling Stones, sua atitude era de ignorar e evitar a
conversa. Agora, talvez refletindo melhor sobre a curiosa missão destes rapazes, catequizando
o blues entre os brancos, ele se chega e conversa com o sexteto amigavelmente pela primeira
vez.

Outras versões são gravadas antes de entrarem nas composições novas como "Empty Heart" e
"Tell Me Baby" de Jagger e Richards mais "2120 South Michigan Avenue" que Wyman
considera de sua autoria embora a canção é creditada a toda banda através do pseudônimo de
Nanker Phelge.

É lançado nos Estados Unidos o compacto Tell Me/I Just Want To Make Love To You, na
mesma semana que o programa Hollywood Palace Show vai ao ar. Jagger furioso com o
programa, imediatamente liga para Londres e discute com Eric Easton por ter negociado
aquela apresentação.

Easton tenta acalma-lo explicando que a garotada vai saber enxergar o episódio como despeito
dos adultos para com a geração jovem. Que a garotada, que é efetivamente o publico alvo, irão
correr para os shows por causa destas agressões. A excursão continuou com altos e baixos.
Shows tinham público que variavam entre menos de 100 pessoas como em Detroit, para 1.300
em Pittsburgh. Acabaram participando de um programa de televisão em Nova York chamado
The Clay Cole Saturday Show gravados de manhã antes de duas apresentações em Carnegie
Hall à tarde e à noite.

Durante as viagens o clima de animosidade era constante. Nos aeroportos, ao passar,


chegando ou saindo de uma cidade, podia-se ouvir comentários do tipo, "Vá cortar este cabelo,
maluco!", "Olha lá! São as Supremes!", "O que pensam que são, meninas?" Se os Rolling
Stones simbolizavam o "anti-establishment", ou seja, a negação dos valores vigentes, Mick
Jagger era o homem de frente, nos olhos do publico. Portanto era ele, mais do que os outros,
que era odiado pelas gerações mais idosas. E por idoso, eu me refiro a pessoas maiores de
trinta anos. Sim, porque a diferença de gerações não era como hoje em dia onde um homem
de cinqüenta anos cresceu ouvindo rock and roll. Hoje, John Lennon teria mais de sessenta
anos, e Elvis Presley teria a mesma idade que Bill Wyman. Então para um adolescente em
1964, uma pessoa nascida na primeira metade da decada de trinta, estaria, salvo exceções, do
lado daqueles que amam polka e Frank Sinatra e detestaria rock 'n' roll. Provavelmente
classificariam o gênero como musica tribal ou anti-música, o que só aumentaria seu glamour
aos olhos dos jovens que nasceram na década de quarenta em diante.

Os Frutos do Esforço

De volta a Londres, são recebidos por fãs e jornalistas no aeroporto e à noite ainda tiveram que
tocar para um "show da volta". Só então, foram liberados para descansarem. Uma análise do
aparente fracasso da mini excursão americana conclui que os locais foram mal escolhidos e
que chegar no país sem ainda ter um No.1 nas paradas fora um equívoco. Havia um
sentimento geral de frustração referente à excursão americana porém Mick Jagger, mais do
que ninguém, estava se sentindo derrotado. Ele passou a evitar a noite londrina, preferindo
ficar em casa com Chrissie. Ele estava confuso. Em Nova York ele e a banda foram tratados
com a devida importância, mas no resto do país, eles eram apenas aberrações. Mas antes de
viajarem, gente com opiniões de importância no meio como Bob Dylan e até Phil Spector lhes
disseram que os Stones teria um mercado ótimo na América. Como poderiam estar
enganados?

As mini férias começam com todo mundo gastando um pouco do dinheiro que ganharam. Stu
comprou um Jaguar. Mick e Keith, percebem que o endereço residencial já está na boca dos
fãs e sempre há gente a sua espera. Às vezes, quando estão excursionando, os fãs invadem a
casa à procura de lembranças de seus astros. Assim, o duo continua a dividir um apartamento,
desta vez em Hampstead, deixando Oldham no antigo apartamento em Mapesbury Road.
Chrissie tinha o seu apartamento também, mas morava a maior parte do tempo com Mick.
Charlie Watts, que tecnicamente ainda morava com os pais, no início da primavera, comprou
para eles uma nova casa no Kingsbury Council Estate. Agora que a banda parou de
excursionar, é a sua vez de se mudar, morando com Shirley em Gloucester Place, perto do
escritório de Andrew Oldham. Bill também comprou uma casa melhor. Infelizmente, enquanto
ajeitava a casa antes de efetivamente se mudarem, ao queimar o lixo na lareira, a casa acaba
por pegar fogo. O seguro cobriria os prejuízos mas até este dinheiro entrar, eles iriam precisar
dele para necessidades domésticas. Os Wymans acabam por permanecer mais algum tempo
no bairro de Penge.

Os casais Mick & Chrissie, Keith & Linda, e Charlie & Shirley, resolvem todos passar algumas
semanas em Ibiza, para poderem descansar e fugir de toda a loucura. Porém Linda Keith,
namorada de Keith, sofre um acidente de carro e o casal fica em Londres. Mal os outros quatro
chegam na ilha paradisíaca e são reconhecidos pelo povo e a imprensa. Sem condições de
passearem livremente, acabam confinados em seus hotéis. Enquanto isto, na Inglaterra, chega
às lojas o compacto "It's All Over Now/Good Times, Bad Times" que se tornaria o primeiro No.1
da banda.

O Diabo Mostra o Rabo

A banda em geral sente uma certa dificuldade de se readaptar à vida fora da estrada com suas
respectivas famílias. Os horários de sono são geralmente diferentes da maioria, tendo as
manhãs para dormir e as noites despertas. Apesar de conseguirem fama e fortuna, os cabelos
compridos e a imagem de sujos que a imprensa criou em torno deles tornam a aceitação social
difícil. Nos bares, os garçons os ignoram; nos restaurantes e teatros, são geralmente
recusados. Descobrem com pesar que só são aceitos enquanto estão excursionando e cada
show se torna um evento com exageros em abundância.

Em 1º de Julho, nasce formalmente e legalmente a firma Rolling Stones Limited. No mesmo


dia, chegam noticias vindas dos Estados Unidos de que o público finalmente acordou para a
música dos Stones e uma demanda para outra excursão americana começa a crescer.

Tantos os Beatles quanto os Stones recebem cerca de 300 cartas de fãs por dia. Na noite de
estréia do filme A Hard Days Nights, Brian, Keith e Phelge comparecem. Enquanto os músicos
das duas bandas se cumprimentam amistosamente na recepção, as fãs aguardando nas ruas,
estão se engalfinhando, arranhando e puxando os cabelos umas das outras.

Exigências do Sucesso

Durante a ausência de Mick, a imprensa londrina volta a bajular Brian, interessados agora na
sua opinião e o procurando para entrevistas. Brian está radiante com toda a atenção. Seu
estado de espirito geral é de puro otimismo e por conseguinte, até as vibrações que ele emana
ao seu redor, são todas positivas. Ele passa a reparar que no escritório Rolling Stones Ltda.,
estão recebendo pilhas de cartas dos fãs, endereçadas para ele. Sua banda está encostando
em popularidade aos Beatles e a música que a banda faz, ele considera melhor e mais
profissional. Brian está tão seguro que fica um pouco cheio de si.

Certa noite, em uma mesa no Ad Lib Club, enquanto sorvia uma bebida na companhia de Keith
Richard, John Lennon e um jornalista americano chamado Al Aronowitz, Brian diz claramente
que os Stones em pouco tempo serão maiores que os Beatles, e se tornarão os maiores de
todo o mundo. Lennon retrucou algo nos moldes de, "Te desejo boa sorte pois quando você
estiver lá, você vai odiar. Pode ficar com tudo porque eu estou pensando em sair." Um ar de
espanto geral toma a mesa enquanto Lennon continua, "Ando pensando seriamente nisto. É
tudo um saco! Você tem que ser forte o tempo todo. Ser fantástico o tempo todo, e jamais
mostrar uma fraqueza. Não é fácil como você pensa que é. Não estão tocando mais em shows
de pequena escala." "Não; estamos no primeiro time agora!", Brian responde, "Nós somos
fortes". John então se inclina olhando cara - a - cara com Brian. "São? Tem certeza? Não há
ninguém fraco entre vocês que poderá atrasar os demais?" Brian e Keith se entreolham
calados e perplexos. Finalmente acenam afirmativamente com a cabeça. Sim, existe um.
"Então livre-se dele." responde John sem remorsos. Depois de um pequeno silêncio, Brian
força um sorriso e conclui, "Mais uma excursão e chegaremos ao topo."

A Saúde de Brian Jones

Os problemas de saúde de Brian pioram com o esforço das constantes viagens. Sua expressão
agressiva e ar de insolência no palco é um reflexo do seu receio de ter uma crise repentina.
Isso o fazia parecer ainda mais atraente aos olhos femininos. Através dos anos, a saúde de
Brian tem sido cada vez mais questionada. Ele tinha asma, e desde que entrou para o circuito
musical, mesmo nos tempos de saxofonista de jazz, todos que trabalharam com ele,
conheceram também seu inalador. Nele continha remédio para no caso de uma crise, embora
poucos foram aqueles que assistiram ele tendo uma. Mesmo havendo poucos, existem relatos.
Certa vez em 1962, depois de uma festa, Brian já em casa, entra em crise asmática. Seu amigo
Paul Jones teve que voltar correndo de bicicleta para o local onde fora realizado a festa para
procurar o seu inalador, pois fora esquecido em algum lugar na casa. Brian gostava de
esquecer o seu inalador, mas precisava dele.

Sempre reclamando de dores, a banda, todos muito jovens, faziam piadas e não levavam Brian
a sério. Mesmo quando ele desmarcava ensaios ou faltava apresentações, ele era confundido
com um hipocondríaco. Hoje, existem fortes suspeitas de que Brian Jones era na verdade um
epiléptico, possivelmente sem saber. Sua filha, que ele nunca conheceu ou sequer soube que
existia, tem epilepsia lobo-temporal e vários de seus sintomas batem com atitudes que Brian
tomava. Coisas como se desligar totalmente no meio de uma conversa, perder a noção do
tempo, cair repentinamente em um sono profundo, acordando depois se sentindo péssimo
como se estivesse de ressaca. É possível que embora Brian não estivesse ciente de qual era
sua doença, ele tinha noção de que não teria saúde para lutar continuamente para manter a
liderança na banda.

Lembrem-se que Brian Jones nunca teve autoconfiança em suas habilidades musicais, mesmo
sendo o músico mais talentoso do grupo e o único cuja beleza e eloqüência faziam frente às de
Mick Jagger, atributos fortes a serem respeitados, se considerarem que Mick tem seu trabalho
facilitado por ser o crooner. É também verdade que Brian sempre teve a tendência de aumentar
demasiadamente as proporções de um problema. Maníaco depressivo, alérgico a diversas
medicações, ao mesmo tempo que, por conta de sua asma, é obrigado a tomar medicação
desde a infância. Somando isto tudo a uma falta de auto confiança apesar de seus talentos,
sua atração para entorpecentes é o caminho previsível à dependência. As pressões do
estrelato, somados às pressões internas armadas inicialmente por Oldham, levariam Brian
Jones a ser visto como um paranóico, viciado e com os miolos torrados por drogas.
Keith Afirma Sua Fama

À partir do dia 11 de Julho, recomeçam excursionando dentro do Reino Unido. O repertório é


Walking The Dog, High-Heeled Sneakers, You Can Make It If You Really Try, Not Fade Away,
Can I Get A Witness, I Just Wanna Make Love To You, fechando com o hit It's All Over Now.
Entre curiosidades há a história do show em Birlington, onde a gerência exigiu além dos
ingressos, que todos se vestissem de forma limpa e ordeira. Jeans e jaquetas de couro não
seriam permitidos dentro do salão mesmo com ingresso na mão. O público, estimado em 3.000
pessoas foram a loucura quando a banda apareceu e o volume de histeria foi maior do que o
da música. Em Leeds, Mick e Bill tiveram parte de suas roupas rasgadas. Porém nada foi mais
marcante do que Blackpool. Era feriado prolongado Escocês e muita gente entrou com
ingressos falsos. A policia, embora em grande número, ficou do lado de fora para conter o
público furioso, com ingressos na mão, sem poder mais entrar. A lotação já estava acima do
limite legal, o salão lotado de gente e o calor era insuportável.

Brian estava nesta noite cheio de pique; pulava e tocava, se chegando bem perto do palco,
para instigar o público. Quem assistiu esta apresentação, sugere que ele estava possivelmente
querendo aparecer mais do que Mick. Infelizmente, havia um grupo de arruaceiros que
passaram a xingá-lo. Brian passou a gostar de irritá-los e já chegando a metade do show, a
gangue começa a cuspir nele. Sendo profissional, Brian continuou seu "show" apesar do banho
de escarro que persistia em chover em cima dele. Keith indignado sai do seu canto e olha
ameaçadoramente para quem entende ser o líder da gangue, mas o banho continua.

Entre canções, Keith ameaça o sujeito agora verbalmente mas alguém então cospe nele. Sem
titubear, Keith pisa com a sola de sua bota na mão do rapaz que marcou bobeira deixando-a
sob o palco. Com a dor, o rapaz abre a guarda e Keith da-lhe um chute com o bico de sua bota
acertando o nariz do rapaz. Pronto, os ingredientes para uma catástrofe estão expostos. A
banda se entreolha enquanto Keith, hipnotizado pelo ódio e adrenalina olha fixamente para a
gangue que está pronta a encarar... a todos. Novamente, outro rapaz lhe cospe, tendo que
chegar perto para atingí-lo e novamente Keith bica a cabeça do sujeito. Alguém da banda
encosta em Keith, cutuca e diz "Porra Keith, sai fora enquanto ainda está vivo," e é o que todos
fazem.

São levados até o telhado da casa e, pulando de telhado em telhado, saem na rua dos fundos,
onde um carro da policia já os espera para tirá-los da cidade. Só Stu ficou para trás para
aguardar a melhor hora de levar o equipamento e contar o que veio a acontecer. Irritados,
bêbados e agressivos, o público aguardou um pouco a banda voltar mas quando perceberam
que eles já não estavam mais no local, a casa veio abaixo. Cadeiras eram lançados, cortinas
rasgadas, janelas quebradas. Garrafas voavam para acertar o candelabro. Invadiram o palco e
destruíram os equipamentos. Não roubaram nada, destruíram tudo. Um piano de cauda
Steinway, pertencente à casa, foi jogado do palco para a platéia que brigava entre si.
Amplificadores, tudo enfim, foi pulverizado. A polícia levou horas para conseguir trazer a paz e
a ordem, diversas pessoas foram presas, dois policiais e trinta pessoas foram hospitalizadas.

No dia seguinte, todos os jornais do país falavam da desordem e da guerra campal que é um
show dos Rolling Stones. O fato de ingressos falsos e lotação acima do permitido contribuir
para os eventos acontecerem é mero detalhe. O foco da confusão está sempre sobre os
Rolling Stones. A imagem da banda estava tão negativa que até firmas de seguros passariam a
recusar qualquer Rolling Stone como cliente. Andrew Oldham durante este episódio sumiu e
continuou desaparecido por quase um mês. Mas Eric Easton apareceu no dia seguinte com
£7.000 de equipamentos, vindo direto da fabrica da Vox para que a banda possa continuar a
trabalhar.

Os demais shows ocorrem sem maiores incidentes, embora em todos, haja histórias de histeria
por parte do público, obrigando a banda a entrar e sair dos locais, sempre com táticas bem
estudadas. Após as datas no Reino Unido, descansam antes da excursão Européia em Agosto.
Entre uma coisa e outra, gravam Little Red Rooster. Ao ouvir o que acabam de gravar, Charlie
sugere que este deveria ser o próximo compacto e a idéia é imediatamente acolhida por todos.
Mais tarde Andrew tentaria brecar a idéia. A banda porém, insiste que mesmo não sendo
teoricamente comercial, gostaram tanto da versão que ela será o próximo compacto.

Debate na Casa dos Comuns

As confusões que cercam os shows dos Rolling Stones são em geral mal vistas pela sociedade
em geral. Assim como também os cabelos longos e despenteados, somados às roupas
deselegantes, que nem sempre são acompanhadas de uma gravata. Todos esses fatores dão
reforço para o sistema considerar os Rolling Stones e seus integrantes, uma ameaça aos
códigos de moral e bons costumes. Quando um garoto é preso em Glasgow, por jogar uma
pedra em uma loja após ter assistido um show dos Rolling Stones, é a banda que o magistrado
critica na Casa dos Comuns. Andrew Oldham, sempre disposto a colocar lenha na fogueira,
enaltecendo assim a imagem de rebeldes, comenta para os jornais "O problema reside no fato
que o cara pertence a uma geração morta e que não se atualiza." Porém dois dias depois,
outro magistrado, este do partido dos trabalhadores, vai à Casa dos Comuns e se queixa da
atitude do colega, se aproveitando de sua posição privilegiada, para fazer comentários
irrelevantes de cunho esnobe, além de insultante, sobre a aparência dos Rolling Stones. Ele
realça sua afirmação, dando credibilidade ao quinteto, lembrando a todos presentes, que a
banda está fazendo uma excelente contribuição para as exportações Britânicas.

A situação de confronto acontece em diversas camadas e se repete em formas similares.


Quando Mick Jagger tem que responder a lei sobre três multas de trânsito, seus cabelos
compridos são novamente razão para se temer tratamento desfavorável. Pelas leis de trânsito
inglesas, com três multas você pode perder sua habilitação, um travo para a vida na estrada de
um artista. O advogado da banda, Dale Parlinson oferece um discurso à beira do cômico para
apontar a injustiça e prejuízo que seria para este cidadão Michael Jagger, que exporta mais do
que muitos executivos. Em tradução livre, seu discurso em determinado momento diz: "O Duke
de Marlborough usava cabelos bem mais compridos que a do meu cliente, e mesmo assim,
venceu várias batalhas conhecidas. Ele passava pó nos seus cabelos, por causa das pulgas.
Meu cliente não tem pulgas." No final, Mick pagou £10 libras de multa e continuou com sua
carteira de habilitação.

Andrew e a Imprensa

Quando Andrew reapareceu, ele estava casado. Casou com Sheila Klein sua secretária, em
Glasgow, Escócia. Ele começava a falar sobre deixar os negócios, esgotado que estava.
Falava para a imprensa de se aposentar, com apenas vinte anos e com seu maior trunfo
apenas começando a dar lucro. Os jornais passaram a falar e analisar o lucro que uma banda
pode acumular em tão pouco tempo, a ponto de se poder pensar em aposentadoria em idade
tão jovem. Oldham declara que vendeu a sua agência Image mas na prática, ele continuaria
com os Rolling Stones por mais alguns anos, deixando os detalhes empresariais com Eric
Easton e se concentrando em produção de discos e bolando alguns truques promocionais.

O tratamento especial que Andrew dispensava a Jagger sempre foi percebido, mas a partir da
metade final de 1964, ele tem seguidamente dado entrevistas aumentando a importância de um
membro em detrimento aos demais. Oldham fala sobre como é necessário criar o clima perfeito
para Jagger no estúdio, para que ele possa dar o seu melhor e liderar a banda para que eles
possam também dar o melhor. Todos da banda estavam um pouco frustrados com as atitudes
de Andrew, mas ninguém ficou mais amargurado e depressivo do que Brian Jones, que
começa a mergulhar mais fortemente nos barbitúricos.

Casais Complicados

No dia 23 de Julho, Linda Lawrence, namorada de Brian, teve um filho. Nasceu Julian Mark,
quase o mesmo nome que o filho de Pat, que se chama Mark Julian. Nenhuma das crianças de
Brian é descoberta pela imprensa mas o relacionamento fora do matrimônio entre Mick e
Chrissie rapidamente se torna um favorito entre os tablóides. É o preço que Mick tem que
pagar por ser a estrela dos Rolling Stones. Toda a mídia, seja boa ou má, gira em torno dele. O
caso é extremamente mal visto e muitos acreditam que os Rolling Stones e Mick Jagger em
particular irão torrar no inferno algum dia.

O relacionamento do casal não tem sido exatamente o melhor possível. Chrissie começa a se
deprimir com a forma que sua vida passa a se desenrolar. Ela vive entre a sombra de duas
celebridades; sua irmã, Top-model e seu namorado, cantor em uma das bandas mais
populares do país. As pessoas quando se aproximem geralmente perguntam "E o que você
faz?" e ela não fazia nada. Envergonhada, chegou a assistir algumas aulas de teatro mas logo
desistiu. Ela sabia que não queria ser atriz. Ela não queria fazer nada além de ser a mãe dos
filhos de Mick, o homem de sua vida. Mas as pressões externas começam a confundi-la e
interferir com seu relacionamento.

Mas ficar a sós com Mick Jagger é quase impossível. Sem contar que Keith está dividindo o
apartamento com ele, sempre tem uma aglomeração de amigos e os amigos destes, seguindo
os dois.

Nas poucas noites em que Mick está na cidade e não excursionando, ele não quer discutir
problemas. Suas ambições exigem que ele apareça na noite Londrina, conhecer pessoas e ser
visto. E caso apareçam as fãs, ele deveria ser visto só, mostrando-se disponível a elas,
assegurando assim, manter o mercado feminino. A solidão do papel de ser namorada de um
pop star, começa a pesar e o casal discute constantemente.

Chrissie e Shirley haviam se tornado boas amigas, aproximando Mick e Charlie ainda mais.
Chrissie estava em constante campanha para ela e Shirley poderem passar a viajar com a
banda nas próximas excursões. Mick se defende dizendo que como elas não terão o que fazer
porque os homens estarão ocupados, será um tédio e é melhor mesmo não irem. Charlie, que
nunca criou coragem para contar que já estava casado, teve seu trabalho facilitado por algum
repórter bisbilhoteiro que acabou descobrindo o furo de notícia. Jagger e Andrew ficaram
extremamente descontentes com a traição mas Chrissie foi a primeira a defender o casal de
amigos. Afinal, foi a atitude idiota dos dois, Jagger e Oldham, que obrigaram o casal a casar
escondido. Só a Chrissie sabia do casamento dentro do "círculo interno dos Stones" e nunca
contou para ninguém.

A revelação evidentemente não mudou em nada a atração do público pela banda. Assim
sendo, e tendo ainda o incidente da Linda Keith indo para Suíça com Keith Richards sempre
lembrado, Jagger cede concordando em permitir as duas a irem com eles para Paris. "Tá bom ,
vocês podem ir, mas irão ficar entediadas e só irão atrapalhar." Com isto, as duas se
posicionam à sua frente em saudação nazista e gritam "Heil Jagger!" e saem rindo mais
parecendo Betty e Wilma dos Flintstones. Jagger largou o assunto a partir de então.

Algazarra Nunca Vista

Os Stones nem sempre provocam os problemas mas são sempre eles que levam a culpa nos
jornais. Muitos locais negligenciam uma melhor organização e a banda acaba sendo obrigada a
tocar para 5.000 pessoas em locais que teoricamente só poderiam comportar 1.500. Foi o caso
em Belfast, onde o público chamou a polícia para a briga. Em locais organizados, os shows
transcorriam sem problemas e apesar da histeria juvenil, todos conseguem se divertir sem
incidentes. Em outra cidade, a gerência apostou suas fichas em um time de rugby para
assegurar a ordem, colocando vinte e quatro jogadores entre a plateia e o palco. Porém uma
menina de quinze anos os derrotou vergonhosamente. Em um só pulo, ela abraça as pernas de
Mick Jagger, que tropeça e cai no fosso da orquestra. Esta e outras cenas da noite acabaram
registrados em filme pela ABC-Pathé, editado posteriormente em um documentário chamado
"Rolling Stones Gather No Moss 1964."

Conforme progrediu a excursão, o despreparo da gerência e das autoridades competentes,


desacostumados a tamanha algazarra em shows, foi dando condições para que seguidos
incidentes se repetissem, por todos os países em que passaram. Na Holanda o show foi
encerrado antes de chegar pelo meio. Em Bruxelas não houve incidentes, mas em Paris a
história foi outra. À noite, enquanto bebiam quietos em um bar, um grupo de rapazes começou
a fazer piadinhas irritantes, por causa dos cabelos compridos. Keith levantou, chegou até o
rapaz do grupo e sem dizer uma palavra, deu-lhe um soco no rosto. Por sorte não houve
retaliações e os rapazes fugiram assustados. Durante o show, tudo transcorreu com
tranqüilidade, mas do lado de fora, aqueles que não conseguiram entrar causaram problemas
nas ruas. Depois que a banda saiu, o público agitado, danificou o Olympia e o comércio em
ruas adjacentes. Cerca de 150 pessoas foram presas em um prejuízo calculado em £1.400. Os
jornais foram unânimes em declarar os Rolling Stones o maior fenômeno inglês a passar pelo
país, deixando um impacto, muito superior ao dos Beatles.

Quarenta e oito horas depois, estavam viajando para outra excursão Americana. Antes porém
Dawn Malloy procurava Brian sobre seu filho. Brian totalmente apavorado tentou sumir. Andrew
resolveu a questão colocando Dawn para assinar um documento afirmando recebimento de um
valor em dinheiro em uma solução definitiva. Em troca ela nunca procuraria nem Brian nem a
imprensa, não causaria embaraços ou prejuízos para os membros dos Rolling Stones,
coletivamente ou individualmente. Tendo Mick como testemunha, Dawn assinou e recebeu um
cheque de £700.

Os Stones Novamente na América

Ao chegar no aeroporto JFK de Nova York, são informados de que o fã clube da banda já inclui
52.000 afiliados. Recepções de fãs e jornalistas em aeroportos já se tornaram lugar comum,
mas todo o grupo estava excitado com a diferença de tratamento desta para a outra excursão.

Total pandemônio com a força policial e uma agência de segurança especialmente contratada
pelo hotel para manter os corredores livres, perdendo uma batalha contra garotos e muitas
garotas se esgoelando em histeria, tentando chegar perto de um Rolling Stone. Vidros foram
quebrados, jornalistas foram agredidos, e durante a reunião com a imprensa, estavam todos
falando ao mesmo tempo com câmeras tirando flashes ininterruptamente. Como Keith diria em
ironia seca, tipicamente inglesa, "Está um pouco diferente desta vez." No mesmo dia, sai o
segundo LP americano da banda, "12 X 5 " e a banda faz uma aparição no Clay Cole Show,
dublando seis canções. Depois seguem para um estúdio de rádio para promoverem a segunda
excursão com o velho amigo, o DJ Murray the K. São apresentados a mais gente da alta
sociedade cultural da cidade, entre estes, Andy Warhol e sua trupe.

Com a lucrativa popularidade escalando continuamente, é chegada a hora do moralismo se


dobrar ao capitalismo, deixando mostrar um pequeno rastro de hipocrisia. Foi no dia 25 de
Outubro que os Rolling Stones estreiaram no até então proibido para eles, The Ed Sullivan
Show. Tocaram "Around And Around" e depois "Time Is On My Side," para um público
extasiado. Ed aplaudiu e depois mandou um telegrama congratulando o sucesso da
apresentação, porém dias depois nos jornais, Sullivan soltava entrevistas se isentando de culpa
por apresentá-los no show e afirmava que os Rolling Stones jamais iriam voltar a tocar nele.

A banda voa então de Nova York para California e segue de volta pelo meio oeste americano.
Desta vez os shows tinham casas com 4.500 pessoas em média, bem mais de acordo com o
status da banda. Em Los Angles, participam do filme The TAMI (Teen Age Music International)
Show. Enquanto esperam a vez para fecharem o show, se deliciam assistindo excelentes
apresentações de Marvin Gaye, The Supremes, The Beach Boys, Chuck Berry, Smokey
Robinson & the Miracles e muitos outros. Seguiriam depois de James Brown, o que deixou a
banda bastante apreensiva mas foram bem recebidos e a apresentação foi um sucesso.
Tocaram neste show Around and Around, Off The Hook, Time Is On My Side, It's All Over Now
e I'm Alright/Get Together, este último, com participação da orquestra do evento e com todos
os outros convidados fazendo coro. O evento foi importante, servindo também para fazerem
contatos com pessoas influentes que atestariam a musicalidade da banda para a mídia
americana. Depois da apresentação dos Stones, James Brown, que inicialmente se sentiu
ofendido por não ser permitido fechar o evento, honra estendido aos Stones, fez questão de
apertar a mão de cada um da banda.

Gravando em Hollywood
Vão a Hollywood e passam de 11 da manhã até 4 da manhã seguinte gravando e mixando no
estúdio da RCA. Inicialmente intimidados pelo tamanho do estúdio, Andrew teve a idéia de
apagar todas as luzes menos uma central sobe a banda. Assim, não enxergando nada que
pudesse distraí-los, conseguiram produzir uma sessão bastante rentável. Ao final tinham
gravados High-Heeled Sneakers, Everybody Needs Someone To Love, Pain In My Heart, Down
Home Girl, Heart of Stone e Oh Baby, os dois últimos sendo composições Jagger-Richards. O
resto do tempo ficou para overdubbing e mixagem.

Quem participou da sessão foi Jack Nitzche, arranjador de Phil Spector, que tocou um piano de
brinquedo e adulterou o som para soar como qualquer coisa menos um piano de brinquedo.

Nitzche passaria a ser um convidado constante em vários discos dos Stones até a década de
setenta. Comentando sobre esta sessão, e como foi trabalhar com esta banda inglesa, diria:
"Todos da banda são inteligentes e são capazes de manter uma conversação. É a primeira
banda de rock que eu conheço que não é composta por idiotas e que tem opinião própria. Se
chegam a conclusão que a canção não está funcionando como inicialmente queriam, não
pensam duas vezes em mudar a concepção original toda, sem remorsos. Isso mudou muito a
maneira como eu via gravações e nunca me senti tão livre dentro de um estúdio. Aprendi muito
com eles."

Mas nem tudo foram flores durante esta excursão. Haviam certos prefeitos, como das cidades
de Cleveland e Milwaukee, que declaravam os Rolling Stones imorais e concluiam que seria
indecente mandar adolescentes para os seus shows. O resultado foi estádios
consideravelmente vazios. Certas cidade declararam banimento ao rock 'n' roll depois da banda
tocar por lá. "Rock não adiciona nada à cultura desta cidade", um prefeito teria dito. Brian
também começa a se tornar um problema. Na estrada, sua paranóia começa a inflar. Certa vez
ele foi encontrado atrás de uma porta ouvindo a conversa do outro lado. "Eles estão falando
sobre mim" ele sussurra. "Vá lá e veja o que está acontecendo." Realmente, do outro lado da
porta estavam Mick, Keith e Andrew, se queixando dos excessos de bebida e drogas de Brian,
reclamando de sua falta de profissionalismo.

Brian Cai Doente

De fato Brian e Andrew têm mais esta distinção entre suas personalidades. Enquanto Andrew é
meticuloso e tenta ser bem profissional, Brian sempre quer beber mais uma e dane-se o resto.
Curioso que, igual a Brian, Andrew também é um viciado em anfetaminas, continuamente
agitado e discursando freneticamente na velocidade dos seus pensamentos. Manipulador por
excelência, Andrew Oldham não se dava com Brian. No final do dia, Andrew geralmente tinha o
seu trabalho concluído enquanto Brian era preguiçoso e pretensioso, em suas ilusões de
grandeza.

Apesar disto, Brian era tranqüilamente o Rolling Stone mais popular e mais querido entre as
americanas. Mas a fragilidade de sua psique, somado aos constantes compromissos e viagens
da banda, finalmente atacam sua saúde. No dia 7 de Novembro, Brian passa mal no quarto do
seu hotel e acusando uma febre de 40.5ºC é levado imediatamente para o Passavant Hospital.
O diagnóstico revelou bronquite e esgotamento físico. Brian passou a maior parte do tempo
delirando e sendo alimentado com soro por via intravenosa. Ele perdeu quatro shows e
retornou a tempo da última apresentação em Chicago.

Em Chicago, a banda novamente vai para Chess Studios para gravar algumas canções. A
sessão compreendeu as gravações de Mercy Mercy, Key To The Highway, What A Shame e
Goodbye Girl, essa última de Bill Wyman ainda inédita. A banda aproveita sua passagem pelos
Estados Unidos para assistir alguns shows. Em Chicago, Bill e Stu foram assistir Les Paul,
conversando depois com ele após sua apresentação.

Em Nova York, Mick, Keith e Brian foram até o Harlem para assistir James Brown no Apollo
Theater. Quando Brown reconheceu os únicos branquelas da casa, convidou-os a subir no
palco para receber alguns aplausos e depois foram todos para os bastidores tomar champagne
e conversar longamente.
Mick ficou observando Brown sentado em sua cadeira com uma cabeleireira ajeitando seus
cabelos enquanto ele sorvia champagne e conversava animadamente. Ele deve ter pensado,
esta é a vida que eu quero para mim.

Charlie por sua vez procurou assistir todos os shows de jazz que pudesse. Viu gente como
Dizzy Gillepse, Max Roach, Mary Lou Williamson, Sonny Rollins Quartet e muitos outros.
Conversou com várias pessoas do business e até recebeu um convite para ser baterista em um
jazz clube, The Birdhouse. Charlie recusou o convite embora com uma certa vergonha de estar
trabalhando em uma banda pop.

Noticias sobre sua saúde criaram a especulação de que Brian estaria para deixar a banda, não
agüentando o estilo de vida irregular. Isso só ajudou a magoar ainda mais um Brian já
fragilizado. Ao chegar em Londres, ele declararia que em momento algum pensou em deixar a
banda, mas em função de sua saúde, iria passar um tempo só descansando. Mick falando
sobre a excursão para Melody Maker diria, "É como recomeçar todo dia. Cada show é uma
grande experiência, que vai repercutir decisivamente em sua carreira. É necessário dar
atenção para gente da imprensa, da televisão, pros disc-jockeys; é realmente muita pressão,
exigindo muita disposição. Depois você ainda tem que tocar no concerto. Quando você pensa
que acabou, você precisa lutar para sair do teatro e entrar no hotel e mesmo lá, você encontra
gente lhe aguardando nos corredores e às vezes dentro do seu quarto. Dá vontade de sair
gritando porque paz e sossego são inexistentes."

Química

Em uma sexta-feira 13, a banda lança o compacto Little Red Rooster (Dixon) / Off The Hook
(Nanker Phelge) que na semana seguinte, chegaria a nº 1 na Inglaterra. É então e até o
presente, o único slow blues a chegar a nº 1 nas paradas de sucesso Britânicas. Este feito em
muito serviu para diminuir o sentimento de culpa que Brian vinha nutrindo no seu íntimo por ter
abandonado suas raízes em troca do sucesso. Ele porém já depende excessivamente de
bebida e barbitúricos para encarar sua vida e as desilusões sobre sua banda. Em dezembro ele
é convidado por Eric Burdon a uma festa dada pela banda the Animals, onde conhece Dennis
Hopper e Robert Frazer.

Eles o aconselham a diminuir com "bolas" (pílulas, geralmente se referindo a anfetaminas ou


barbitúricos em geral) e passar a fumar maconha. "Pelo menos a maconha lhe deixaria mais
relaxado e menos paranóico" afirmam. Mas Brian já se convenceu que ele precisa das "bolas"
para continuar tocando sua vida. Seu relacionamento com Linda está desintegrando. Ela que
voltara a morar com ele, vê o seu filho com quatro meses de idade e o pai ainda se recusando
a casar. Linda critica os excessos do seu namorado, queixando-se de sua apatia em relação
aos problemas e descontentamentos dentro dos Stones. Linda ainda o ama, permanecendo ao
seu lado tentando encontrar uma maneira de fazer o relacionamento funcionar. Mas está difícil,
pois Brian é demasiadamente inconseqüente e extremamente medroso.

Em outra festa, desta vez do programa "Ready, Steady Go", Mick Jagger encontra novamente
com Marianne Faithfull e passa boa parte da festa tentando atrair sua atenção para ele. Ela
naturalmente fingia não perceber as olhadas e piscadas que recebia. Para Marianne, Mick
Jagger não lhe parecia atraente e sua conduta era considerada no mínimo, sem classe. Assim,
ela o evitava. Mick em certo momento, cansado de ser ignorado à distância, se chega para
falar. "Marianne querida, tem se passado tempo demais sem nos vermos." A qual Marianne
elegantemente o descarta com um "Tem mesmo?" Com isso, Mick sorri maliciosamente e
despeja sua taça de champagne todo em seu decote. Marianne sai furiosa pela criancice, indo
parar em outra cômoda para se secar. Neste quarto, estava Keith Richards tocando piano
sozinho em quase total escuridão. Sem fazer barulho, ela permanece nas sombras ouvindo a
pequena serenata para ninguém.

Enquanto John Dunbar passeava na Grécia, Marianne estava na Inglaterra construindo uma
carreira sólida. Ao voltar e descobrir o novo status de sua namorada, ele trata o assunto como
uma moda passageira e que ela deva aproveitar enquanto pode. Mas aos poucos, ele vai
tentando persuadi-la a deixar a vida frívola da música pop para algo de maior substância. Estas
e outras discussões seriam um constante no relacionamento dos dois.
Resumo do Ano

Bill Wyman insatisfeito com o total desinteresse de Andrew permitir alguém além de Jagger e
Richards compor material para banda, decide trabalhar para outros grupos, compondo e
produzindo. Acaba fundando sua própria firma, a Temeraire Ltda. Paralelamente, Andrew
Oldham, Mick Jagger e Keith Richards montam uma firma fora dos Stones chamada Mirage
Music Ltd. A divisão dentro da banda fica evidenciada, muito embora, ao chegar natal de 1964,
os Stones tenham muito que comemorar. Foi o ano mais prolífico da banda. Recebem dois
Discos de Ouro com "It's All Over Now" e "Time Is On My Side," além da banda criar um novo
recorde para quantidade de apresentações ao vivo em um ano por uma banda.

O ano é também especial para o rock em termos gerais, que nunca antes tivera tantas canções
de música "pop" vendendo milhões. Lembrem-se que a indústria fonográfica não era dominada
basicamente por música pop como é hoje no mundo, e sim, o rock coexistia com outros
gêneros até mais populares. A quebrar a marca de um milhão de discos vendidos na Inglaterra
em 1964 estão os Beatles com onze canções, seguidos por Dave Clark Five com cinco, e
empatando em terceiro, Elvis Presley e the Supremes com três cada. Atrás estão The
Bachelors, The Beach Boys, Cilla Black, Manfred Mann, Roger Miller, Roy Orbison, Peter &
Gordon, Jim Reeves, The Shangri-las e evidentemente, The Rolling Stones, todos com dois. O
ano encerra com o álbum The Rolling Stones chegando em primeiro lugar entre os mais
vendidos, e Mick e Keith compondo seu próximo hit, "The Last Time." Ainda assim, o disco que
mais vendeu no ano foi a trilha sonora do filme West Side Story. Na America, um mercado com
poder de compra bem maior, seria o disco Meet The Beatles, se tornando o disco mais vendido
na história, até então.

Eventos que resumem o ano incluem evidentemente a chegada da Beatlemania à América e


sua eminente epidemia ao redor do mundo. Com a Beatlemania, vem imediatamente atrás a
maior divulgação de música pop, termo genérico que na época, significava também rock'n'roll e
soul, dois gêneros que estavam desenvolvendo crescente popularidade e influenciando um ao
outro. Outra reverberação diretamente associada à passagem dos Beatles pela América é o
nascimento de dois grupos fadados ao fracasso em '64, porém importantes para o ano que
viria. São eles The Beefeaters de Los Angeles e The Mugwamps de Nova York. Estas bandas
são os precursores do que viria a ser chamado folk-rock, a música da moda de '65, e deles
viriam The Byrds, The Lovin' Spoonful e The Mamas And The Papas.

Entre outros eventos do ano está o nascimento da rádio Caroline, primeira rádio pirata inglesa,
como também o canal de televisão BBC-2. Desenvolvem para o aparelho de televisão a tela
com 625 linhas, elevando substancialmente a clareza de imagem. O recorde mundial de
velocidade terrestre é quebrado por Donald Campbell ao chegar aos 403.1 mph, enquanto
mods e rockers se gladiam por todo o verão.

Na América nasce o Movimento da Liberdade de Expressão (The Free Speech Movement) no


campus da Universidade de Berkeley e com ele o inicio das diversas passeatas estudantis.
Nasce também o jornal The Los Angeles Free Press que é a fagulha inicial para uma serie de
jornais underground.

Cassius Clay após se tornar campeão mundial de boxe, declara-se muçulmano, mudando o
seu nome para Mohammed Ali.

Três homens negros que trabalhavam para o Movimento dos Direitos Civis são encontrados
enterrados em Mississippi. Vinte e uma pessoas serão presas pelo FBI, ligadas ao assassinato,
mas todas serão soltas em poucos dias. Haverá dezenas de distúrbios radicais, todos
diretamente relacionados com racismo de brancos contra negros. Seus maiores focos são em
Filadélfia (PA), Harlem (NY) e Newark (NJ).

Uma Geração Com Opinião


O ano de 1965 inicia com 210.000 pedidos avançados do novo álbum The Rolling Stones No.2
e uma excursão pela Irlanda. Bob Geldof contaria que, ainda garoto, foi levado pela irmã mais
velha e assistiu o show em Dublin. Cada vez mais, as atenções estão focalizadas na vida
particular além de artística dos novos astros. Perguntas menos idiotas e mais
comprometedoras começam a ser feitas e os Stones, diferente dos Beatles, assumem suas
opiniões sem pestanejar.

Quando perguntado sobre rebelião juvenil, Brian responde, "Toda geração traz uma nova onda
de idéias e se isto fosse parar, a sociedade e a cultura estaria condenada. Nossos filhos
estarão rebelando contra nós dentro de vinte anos." Mick quando perguntado sobre a sua
responsabilidade com códigos morais assimiláveis pelos seus fãs, nega a hipótese e diz,
"Celebridades não devem ter nenhuma obrigação em determinar níveis de moralidade. Quem
somos nós para determinar o que é certo ou errado." Perguntado sobre religião, Keith responde
por todos, "Você não vai encontrar nenhum de nós rezando, com a bíblia debaixo do braço,
indo para a igreja. Somos ateístas e não temos vergonha de admiti-lo. Pessoas que vão para a
igreja só por ir, sorrindo para o vigário, só para manter as aparências, são idiotas. Aqueles que
freqüentam pela fé em Deus, estão certos. Deixamos religião para os dedicados a ela." Quando
perguntado o que desejaria que tivesse um maior progresso no mundo, Brian responde, "Eu
gostaria de ver mais dinheiro sendo investindo no estudo do cérebro para se descobrir a causa
de doenças mentais. Quando o homem descobrir como o cérebro funciona, ele terá condições
de entender qualquer coisa."

Oceania

Da excursão Irlandesa, seguem-se pela primeira vez para Australia e Nova Zelândia, desta vez
com Roy Orbison. A imprensa é particularmente rude com os Stones considerando-os de
aparência, linguagem e modos odiosos, mas o público médio foi de 5.000 pessoas, com
apresentações em Sydney e Melbourne. Mick e Bill aproveitam para rever parentes e amigos
na Australia e Nova Zelândia.

Em uma visita à praia, Brian demonstra suas habilidades no mar nadando bem além de onde
as ondas quebram, quase invisível na imensidão azul. Brian, que vencera competições de nado
nos tempos de escola em Cheltenham, prova que é realmente habilidoso no mar. Os demais,
principalmente Mick e Keith, gritavam para que ele voltasse, temendo por sua vida, mas Brian
estava muito seguro de si. Ao voltar, ria das expressões de espanto e admiração nos rostos de
seus amigos.

A demanda Australiana foi tão grande que depois dos shows na Nova Zelândia a banda foi
convidada a voltar para algumas apresentações na cidade de Adelaide. O país será lembrado
para sempre como um paraíso de mulheres bonitas e de fácil acesso. No hotel, Brian e Bill, da
janela da sala que ligavam os seus quartos, escolhiam um par de meninas entre as várias que
ficavam aguardando no gramado nos fundos do hotel. As meninas são autorizadas a subirem,
onde bebem e conversam a quatro. Depois cada casal segue para seus respectivos quartos
por algumas horas.

Mais tarde, devidamente dispensados, Bill e Brian voltam à janela e escolhem outra dupla. Na
manhã seguinte Mick contava que ele passou a noite com a dona do hotel e sua filha.

Próxima parada, Cingapura onde a banda se apresentou em dois shows para 10.000 pessoas
cada. Há de se destacar a segurança, tanto nos shows como no aeroporto, na chegada e
partida da banda.

Voltam para o ocidente via Los Angeles, onde Charlie se encontra com Shirley e vão para
Miami visitar parentes e descansar. Bill e Brian voltam para a Inglaterra, e Andrew, Mick e Keith
vão para o RCA Studio em Hollywood para refazerem alguns vocais e remixarem "The Last
Time." Este será o padrão de comportamento que se repetirá constantemente. Enquanto os
demais membros são dispensados, Mick, Keith, Andrew e o engenheiro de som, ficariam para
trás, no estúdio, trabalhando nas musicas.
Negócios a Parte

Em Londres Bill Wyman e sua companhia Temeraire estavam recebendo os frutos de seu
trabalho fora dos Stones. Decca havia lançado o compacto de Bobby Miller, "What A Guy/You
Went Away", ambas canções produzidas por Wyman e Miller, sendo o lado B uma composição
dos sócios Bill Wyman e Brian Cade. Na bateria, Bill convida seu velho amigo dos tempos do
The Chiftons e Rolling Stones, Tony Chapman. Ele passará a ser um sessionman constante
nas diversas produções de Wyman, podendo contribuir até com uma composição sua.

A Columbia lança o compacto do The Cheynes, "Down And Out/Stop Rouning Around",
novamente produzidos por Wyman e com uma composição Wyman-Cade no lado B. De
destaque, o baterista é um ainda desconhecido Mick Fleetwood. Outra composição da dupla
Wyman-Cade, " 'Cause I'm In Love With You," seria lançado no compacto de Joey Paige. Nesta
gravação, como curiosidade, temos Sonny Bono fazendo vocais, em uma gravação realizada
em Los Angeles.

Paralelamente Andrew Oldham lança Dick St. John & Dee Dee Sperling com a música "Blue
Turns To Grey" da dupla Jagger-Richard pela Warner. Esta e outra canção, "Some Things Just
Stick In Your Mind", contam com a participação de toda a banda Rolling Stones, incluindo Mick
Jagger fazendo backing vocals. Outra banda a regravar "Blue Turns To Grey" seria The Mighty
Avengers, igualmente produzidos por Oldham e lançados pela Decca. A destacar a direção
musical é de John Paul Jones. Outra produção de Oldham é The Toggerty Five e a canção "I'd
Rather Be With The Boys" que oferece uma curiosa dupla de compositores, Oldham-Richard,
compacto lançado pela Parlophone. Se isto não basta para levantar sua curiosidade de
colecionador, os músicos nesta gravação são John McLaughlin, Joe Moretti e Keith Richards
nas guitarras, Mick Jagger nos vocais e um novato, Andy White na bateria.

Desde 1964, Oldham convocava membros dos Rolling Stones, incluindo Ian Stewart, para
gravarem material para suas produções. Estas sessões produziram materiais diversos como
"To Know Him Is To Love Him", clássico do Phil Spector, para o primeiro disco solo da amiga
Cleo Sylvester, ex- Velvettes. No mesmo dia desta gravação, Andrew prepara uma faixa sob o
rótulo de The Andrew Oldham Orchestra, contendo todos os mesmos seis Rolling Stones. O
título desta faixa, ironicamente se chama "There Are But Five Rolling Stones".

Mais produções de Oldham com participação de um ou outro Stone incluem, "Funky And
Fleopatra" (Andrew Oldham) e "Oh, I Do Like To See Me On The B-Side"
(Oldham/Wyman/Watts) com Bill Wyman, Charlie Watts e Keith Richards; "365 Rolling Stones"
(Mike Leander/Andrew Oldham) com Charlie Watts; participações de Mick e Keith em várias
faixas no álbum The Andrew Oldham Orchestra; "Blowin" In The Wind" para Marianne Faithfull
conta com Keith na guitarra, e em outra ocasião, Brian grava "A Mess Of Blues" (Doc
Pomus/Mort Shuman) e "Love Me, Baby" (PeterAsher/Gordon Waller), ambos para o compacto
da dupla Peter & Gordon. Em ambas Brian está na gaita.

Próximas Produções

Previsto para o próximo compacto dos Stones, a banda tinha gravado The Last Time, Play With
Fire e uma versão mais rápida desta, chamada Mess With Fire. Andrew, Mick e Keith concluem
que entre as duas, Mess With Fire é a melhor opção e mandam as escolhidas para Decca via
Chrissie Shrimpton que passou a trabalhar para Andrew. Ela se confunde e manda Play With
Fire no lugar. Quando o erro é descoberto, ninguém sabe onde está o rolo original com Mess
With Fire. Quando o compacto foi lançado em fevereiro, Play With Fire recebe elogios e ficou
assim contornado o problema. Pouco depois Chrissie pediu para ir embora.

As futuras apresentações na Inglaterra foram gravadas com intuito de um álbum ao vivo. Foram
gravado shows em Edmonton, Liverpool e Manchester com Glyn Johns como engenheiro de
som. O set compreendia Everybody Needs Somebody To Love, Pain In My Heart, Down The
Road Apiece, Time Is On My Side, I'm Alright, Little Red Rooster, Route 66 e The Last Time.
Tantas viagens e shows mundo afora se provaram benéficos para o amadurecimento da
banda. Muito mais profissionais, os Stones estão mais comercialmente conscientes a tempo do
seu contrato com a Impact Sounds estar para se encerrar. A CBS fala em topar qualquer
proposta e Easton fala que já recusara um milhão de dólares por um contrato de cinco anos.
Como ele explica, os Stones farão mais do que isto em um só ano. Mas nas contas bancárias,
este dinheiro não é visível.

A Famosa Mijada

No dia 18 de Março, voltando na van do Stu, após um show relativamente tranqüilo, o eficiente
esquema de terminar o set e sair direto para a van e fugir deixou Bill Wyman cheio de vontade
de fazer xixi. Encostando ao lado da Francis Service Station, um posto de gasolina, ele teve
recusado o acesso ao banheiro. Mick, Brian e o amigo e cantor, Joey Paige, se juntaram a Bill
e exigiram o direito de usar o banheiro, por mera necessidade fisiológica. Brian fez algumas
caretas (nankers) e sapateou na frente do atendente enquanto este gritava para o grupo ir
embora. Depois, andaram até uma parede adjacente a garagem e urinaram lá. No caminho de
volta para a van insultaram o atendente pela sua falta de cortesia e foram embora. Dois dias
depois, o episódio está no jornal Daily Express.

Um freguês do posto deu queixa na polícia contra um bando de arruaceiros em uma van.
Aparentemente, anotaram o número da placa do veículo e o processo correu. O juiz multou a
banda em £5 cada e ao invés de tentar esconder o incidente, o que seria o esperado, Andrew
Oldham instrua sua banda a falar o máximo sobre o incidente possível, ridicularizando o
sistema que ao multá-los, estaria apoiando uma discriminação contra todos os jovens,
simplesmente porque seus gostos por moda e estética pessoal não é o de seus pais. Andrew,
que sempre teve um talento para aumentar e promover um incidente, cunha então a frase: "Os
Rolling Stones são a primeira banda presa por mijar na parede." Lembro aqui que, com o muro
de Berlim tendo apenas cinco anos de existência, a palavra "parede" carrega consigo um
tremendo estigma de repressão. Assim, a imagem de "bad boys" e rebeldes, começa a ter cada
vez mais conotações políticas e sociais.

A Situação de Brian Piora

A pressão de tantos compromissos seguidos, enquanto paralelamente sabendo que dentro do


comando estão querendo se livrar dele, começa a ruir a pouca estabilidade emocional de Brian.
Existem diversos testemunhos de pessoas diferentes, que confirmam que Andrew Oldham
estava sistematicamente fazendo campanha contra Brian para Mick e Keith. Ele pedia que o
dispensassem da banda, e Brian estava ciente do que estava se passando.

Certa noite, ao voltarem de van, após um show, Brian e Mick discutem pesadamente. Brian
reclama da monopolização das composições e acusa Jagger de querer ser o líder da banda
quando havia um acordo informal de que não haveria nenhum líder. Além do mais, foi ele que
fundou a banda e se houvesse algum líder, seria por direito ele.

Com esta, Mick mandou Stu encostar e expulsou Brian do carro. Jagger então o acusa de ser
um pé no saco só se preocupando em se divertir e nunca fazendo mais do que o mínimo
necessário que é tocar nos discos e nos shows. Foram lembrados outros furos de Brian do
passado, agindo contra o interesse da maioria, e quando Mick termina de falar, todos estão
concordando em deixá-lo ali mesmo para voltar a pé. E a van seguiu sem Brian.

Às cinco da manhã ele conseguiu um lugar aberto para pedir o uso do telefone. Liga então para
Cleo Sylvester contando resumidamente o que acontecera e pedindo permissão para dar uma
passadinha na sua casa para descansar. Chegou quase uma hora depois, ainda a pé e sua
mãe lhe preparou um café da manhã. Cleo apenas ficou ouvindo suas lamúrias e pensando em
como o sucesso, mesmo tão imenso, não traz a felicidade. De como o ídolo de tantos, está na
verdade se sentindo vazio e sozinho.

Brian passa a ficar cada vez mais calado dentro da banda. Entende que ninguém o quer,
contudo, não irão lhe mandar embora tendo ainda tantas coisas por conquistar. Ele se sente
preso pois sabe que não existe outro grupo que possa oferecer uma qualidade sonora capaz
de lhe satisfazer musicalmente. Além do mais, a idéia de ser rotulado ex-Stones lhe é um
martírio.
Carol McDonald, membro do Goldie & the Gingerbreads, uma das bandas que abriam para os
Stones durante a última excursão lembra dele sempre calado, quieto e evitando as pessoas.
Era evidente para ela que algo estava incomodando Brian e por isto passou a observá-lo
sempre que podia. Não demorou muito para concluir que ele invejava a atenção dispensada a
Jagger. Ela diria: "Brian parecia precisar desta atenção dispensada em abundância ao seu
vocalista e a falta de reconhecimento pelos seus esforços lhe estava empurrado para fora da
banda."

Conversando com seu amigo John Lennon, este lhe confessa estar arrependido das
concessões que os Beatles se sentiram obrigados a fazer em troca do sucesso. De fato,
Lennon em analogia, se comparava a uma prostituta com um milhão de clientes consumindo
sua mente, não seu corpo. Brian estava cada vez mais perturbado com a idéia de Jagger estar
empurrando sua banda na mesma direção. Em seu vazio, há necessidade de preenchê-lo com
alguma coisa. Brian já é um alcoólatra e viciado em anfetaminas, o que é uma combinação
perigosa e não ajuda sua tendência nata de aumentar as coisas fora de proporções. Brian
começa a se perder.

Reativan

Anfetaminas são geralmente remédios farmacêuticos. São estimulantes, que na gíria


americana são chamados de "uppers" (levantadores) ou "speed" (velocidade) e na inglesa
chamados de "leapers" (pulantes), graças ao seu poder de acelerar seu ritmo e te deixar
"quicando". Dentre os leapers, um dos mais populares era Drinamyl, também conhecido como
purple hearts.

Muito popular entre pessoas do show business, especialmente do cinema ou música, que são
exigidos durante longas horas de trabalho, sempre tendo que se mostrar alegres e despertos.
Para qualquer um com problemas de fadiga, anfetaminas eram um remédio esplêndido. Por
exemplo, durante seu período inicial de viuvez, Jacqueline Kennedy era receitada injeções
quase diárias contendo anfetaminas com vitaminas. Leapers se tornaram extremamente
populares entre os mods. O efeito era de deixar a pessoa extremamente agitada. Abusar a
medicação porém tendia a estressar o seu sistema cardíaco, provocar muito suor e perda da
coloração da pele.

A Terceira Excursão Americana

Andrew e Mick passaram a selecionar mais os jornalistas aptos a entrevistar e escrever sobre
os Stones. Afinal, se a banda Rolling Stones é um meio de vida, então a sugestão implica que
a mesma ou será tratado com o devido respeito ou o jornalista não terá acesso a ela. Quesitos
essenciais eram conhecimento relativo da música que a banda toca, uma tendência a falar
favorável e principalmente serem jovens. Jagger mais do que qualquer outro desconfia de
gente com mais idade, concluindo de antemão que não terão uma mente aberta para ouvir sem
preconceitos.

A batalha campal entre segurança e público assim como a necessidade de controle austero por
parte dos organizadores, invariavelmente estraga a festa com cortes na força e encerramentos
precoces. Em Ottawa, o dono do estabelecimento concluiu para a imprensa que faltou um
fosso com crocodilos para poder conter o público de querer subir no palco. Num dos hotéis, o
porteiro precisou tomar quatro pontos, resultado de suas brigas para conter as meninas
querendo entrar.

Groupies

Foi por volta desta época que Bill Wyman solta a pérola de que a razão pelo qual ele toca com
seu baixo quase em pé é para usar o braço do instrumento para tampar os holofotes da vista e
assim, poder enxergar melhor as meninas na primeira fila. Ao prestar atenção no Bill durante
uma apresentação dos Stones, você poderá notar ele sorrindo para as gatinhas e passando o
número do seu quarto.

Também cresce a horda de meninas sempre disponíveis e dispostas a fazer qualquer coisa
para ter um relacionamento de ocasião com algum membro de algum grupo de música. Logo,
não é tão surpreendente que tenha sido o sexualmente desassossegado Bill Wyman quem
cunha o termo 'groupie' para identificar este tipo de fã. Bill mesmo não se recorda de ser
especificamente ele o primeiro a usar o temo, mas Keith garante e credita a palavra a Bill.
Depois os Stones passaram a se referir as meninas como 'groupies' e o termo rapidamente se
espalhou se tornando gíria em todo mundo e dando vazão a outros termos como roadie e
druggie, este mais tarde substituído por junkie.

De Toronto, eles iriam para Chicago para gravar algumas coisas mas Brian já estava
extremamente deprimido e descontente com a excursão. Ele voa para Nova York e se hospeda
na casa de outro amigo, o DJ Scott Ross, permanecendo lá por três dias, reclamando muito da
sua situação dentro da banda. Fala abertamente que foi ele quem criou a concepção do grupo
e agora, estão tramando contra ele. Volta a Chicago retornando com a banda a Nova York,
tocando dia 26 de Abril no Ed Sullivan Show pela segunda vez.

À noite, Brian, Keith e Mick sobem o Harlem para assistirem Wilson Pickett no Apollo Theater.
Na manhã seguinte, Andrew Oldham e Eric Easton chegam de Londres, assistindo dia 02 de
Maio, mais uma apresentação no Ed Sullivan Show. Depois todos foram para uma festa no
Playboy Club em homenagem a Tom Jones, artista da London Records, representante da
Decca na América. Pelo caminho, um conversível com alguns rapazes emparelharam com o
carro que levava a banda, seguindo até o clube enquanto insultava os Stones chamando-os de
"viados". Ao chegar, Brian imediatamente grita para os demais, "Vamos pegar os colonos!" e
pula do seu carro para dentro do conversível, seguidos por Mick e Keith. O pessoal cai na
porrada legal enquanto Charlie, Bill e Stu vão para festa.

Flórida

Na manhã seguinte estão gravando o Clay Cole Show, e depois arrumando as malas, seguindo
para Georgia. Continuam então em rumo para Flórida, onde tocam em algumas cidades, a
última sendo Clearwater, show marcado para o dia 06. Cada Stone amanhece no dia 07 com
uma groupie do lado e uma disposição de apenas descansar e não ter pressa para nada,
curtindo sem pressa o dia de folga. Enquanto Bill, Mick e mais alguns da equipe, estão
descansando à beira da piscina do hotel, aparece uma das meninas cheia de hematomas.
Brian havia espancado a garota sem misericórdia. Um dos roadies, Mike Dorsey, indignado,
caça Brian e prontamente enche ele de porrada, com aprovação geral, quebrando duas de
suas costelas no processo. O incidente foi abafado mas era evidente que Brian estava
perdendo a noção das coisas.

Brian parecia fazer questão de tornar qualquer amizade com ele difícil. Certa vez Ian Stewart o
pegou pelo pescoço gritando "Porque você faz tudo para estragar o dia de todos?" Ele vivia se
enfiando em brigas, não sabendo como dosar seu comportamento no palco, nem como lidar
com criticas. Aos seus olhos, na época em que Mick apenas balançava a cabeça quando
cantava, ele já agitava o público pulando e provocando sensualmente e sexualmente com sua
guitarra. Agora Jagger fazia o mesmo, roubando a sua cena, imitando sua performance e
merecendo mais atenção do público e da imprensa do que ele. Sua inveja paranóica e
necessidade extrema de afirmação são a estrada de sua ruína. As drogas apenas pavimentam
o caminho.

Satisfação

Mais tarde no mesmo dia, ainda em Clearwater, Keith mostra no violão algo que ele havia
criado minutos antes. Ele conta que acordou com o seu gravador de rolo ligado, girando em
falso. Não se recordando de ter gravado nada na noite anterior, ele curiosamente procura ouvir
o que está na fita. Nela se ouve apenas um riff repetido por alguns segundos e o resto da fita é
dele roncando. Keith conclui dizendo que o tema daria um bom folk para ser usado no próximo
disco.

Mesmo não vendo o tema como algo comercialmente viável, seu instinto o fez trabalhar
bastante na canção e ao chegaram novamente em Chicago no dia 10 de Maio, a canção
estava pronta para ser gravada. A versão, oferecia Brian na gaita fazendo o tema principal.
Mick Jagger escrevera uma letra com o riff em mente, e a canção passa a ser batizado de
"Satisfaction."

Dois dias depois, já em Los Angeles, gravaram novamente a canção, desta vez, com Keith
tocando o tema numa guitarra com fuzz-tone (efeito de um pedal), e Charlie tocando em outro
tempo. A música funcionou como nunca, e afora Keith e Mick, todos estavam certos que tinham
o próximo hit da banda nas mãos. O resto da sessão foi dedicado a "My Girl," "Good Times,"
"Cry To Me," "I've Been Loving You Too Long," "One More Try," e "The Spider And The Fly."

Mas antes de se encerrar sessão, Bill Wyman apronta uma brincadeira com a galera. Ao ver
um pequeno grupo de groupies aguardando na sala de espera do estúdio, ele as convida a
entrarem sobre uma condição... De repente Bill está entrando no estúdio propriamente dito,
onde a banda e equipe técnica estão reunidos, com um sorriso matreiro na face. Logo atrás
dele entram umas seis meninas totalmente nuas. O sangue e outras coisas sobem e Andrew
Oldham é o primeiro a escolher uma, levá-la para o aquário (apelido para a parte do estúdio
onde fica todo o equipamento de gravação) e sobre a mesa, começa a ter relações.

Depois todos foram para seus hotéis. Todos menos Andrew, Keith, Mick que como de costume,
ficam até mais tarde para trabalhar mais nas músicas. Gravam com o auxilio de Dave
Hassinger, o engenheiro de som, os overdubs e vocais, antes de mixar o material, só deixando
Los Angeles com tudo pronto.

Califórnia

Depois dos shows em San Francisco e San Bernardino, voltam a Los Angeles e após a sua
apresentação, quase são mortos ao tentar deixar o local. Já dentro da van com Stu, uma
multidão não permite que o veículo saia nem para frente nem para trás. A histeria é tanta que
as pessoas começam a ser esmagadas contra os lados da van, sendo obrigadas a subir no teto
para buscar ar e proteção. O teto da van cede e todos tentam evitar uma tragédia, sustentando
o teto com as mãos como que pilares humanos. Todos menos Bill Wyman que está ocupado
demais cantando algumas das meninas para perceber que a razão dele ter que inclinar pro
lado é porque o teto esta cedendo. Logo a realidade assustadora fica impossível de ignorar e a
banda inteira está deitada de costas com os pés no teto tentando segurar a massa. Os minutos
passam e as pernas começam a doer, querendo começar a dar cãimbra. A polícia em pânico,
avançou sobre a população com seus cacetetes, espalhando sangue para todo lado. Muitas
pessoas foram depois levadas para o hospital. O veículo seguiu então para o aeroporto e
chegando lá, admiram do alto da escadaria do avião, o Sedan todo amassado. Estavam
chocados mas aliviados de que sobreviveram ao incidente sem maiores ferimentos.

Filhos

Curiosamente, após uma serie de shows em Nova York, a banda chega em Londres e
descobre que existe um processo contra Charlie, acusado de ser pai de uma criança de
quatorze meses, que teve com Christine White, de 19 anos, filha de um taxista. Charlie seria
absolvido, e a acusação, considerada falsa no mês seguinte.

Mas o mesmo não era o caso de Brian. O casal volta a se separar e Linda Lawrence entra na
justiça pedindo pensão para seu filho Julian Mark Jones, que atendia pelo nome de Mark.
Obrigado a morar com os pais, que tomam conta do menino enquanto ela trabalha, Linda, que
havia começado a trabalhar como cabeleireira, agora desenha e cria roupas jovens, sonhando
algum dia ter sua boutique.

Não demorou muito e Pat Andrews também estaria na justiça pedindo pensão para o seu filho
Mark Julian Jones, que atendia pelo nome de Julian. O advogado dos Rolling Stones, Dale
Parkinson, ficou encarregado de cuidar do assunto que se estenderia por vários meses.

Bob Dylan em Londres

Quando Bob Dylan toca no Albert Hall, todos estão lá para assistir, Dylan sendo seguramente o
homem mais importante daquele período. Se os Beatles eram a banda mais popular do mundo,
Bob Dylan era quem todas as bandas respeitavam. Estavam lá todo mundo, os Rolling Stones,
os Beatles, os Animals, os Bluesbreakers, etc.

Allen Ginsburg também presente, estava em um estado misto de alívio e admiração. Alívio que
nasceu alguém da nova geração que pudesse seguir o trabalho de contestação intelectual
iniciado pela Beat Generation a que ele representava, e admiração por Bob Dylan fazer isto tão
bem em um período histórico tão propício.

Satisfaction

(I Can't Get No) Satisfaction é lançado inicialmente nos Estados Unidos, rapidamente se
tornando No.1 nas paradas da Billboard. Na Europa, a canção vaza através de copias
importadas e transmissões em rádios piratas. Ela é rapidamente assimilada pela crescente
população jovem como hino contra as regras desta sociedade em que crescem mas não
abraçam. Os Rolling Stones se tornam definitivamente a voz da juventude contra a opressão
adulta. Adultos (pessoas nascidas muito antes de 1940), são vistos como uma estirpe com
códigos de condutas antiquadas, ineficientes e moralmente questionáveis, dada ao cinismo
social visivelmente em prática.

Em meio ao vácuo entre as gerações que a cada dia aumenta, escuta-se falar em desejo de
paz, mas os governos investem cada vez mais em armamento bélico; dividem a Europa em
duas, uma capitalista outra comunista; França faz cada vez mais testes nucleares no pacifico
sul e divide com Inglaterra e Bélgica, políticas opressivas em suas possessões na África. Nos
Estados Unidos, sua política externa manda cada vez mais tropas para Vietnã, Laos e
Camboja, em uma guerra não declarada, enquanto dentro do país, rechaça violentamente os
universitários que exercessem seus direitos constitucionais de protestar contra o envio de mais
jovens para a guerra.

Paralelamente, o sistema procura com extrema sutileza, manter a população negra oprimida
sob o domínio do homem branco. Assim, a constituição americana afirma que todos os homens
têm direitos iguais, mas a concepção da lei, na prática, exclui o homem negro. (I Can't Get No)
Satisfaction portanto é associada à insatisfação de várias injustiças sociais e com o cinismo
existente, de onde estas injustiças se escondem. Moralidade cínica onde a castidade de suas
filhas é fundamental para a honra da família, mas ao homem é permitido e incentivado buscar
prazeres fora do lar. Onde Deus abençoa todos os homens mas está do lado apenas de quem
acredita nele da forma que certas facções religiosas entendem.

A canção se torna a mensagem da geração de sessenta, diretamente para o clero, para os


empresários, para os políticos, enfim, para as autoridades do mundo em geral, afirmando que o
que chamam de "O Mundo Livre", (termo associado aos países capitalistas, em oposição a
"Cortina de Ferro", termo associado aos países comunistas), é uma mentira e que os jovens
desta geração não estão caindo na conversa. Não desejam perpetuar a farsa. Percebem que o
mundo que encontram, agora que chegam à idade da razão, negligencia uma liberdade
autêntica de expressão, nega a sexualidade de cada indivíduo, e aprisiona o povo em uma
ética regida por conceitos de séculos atrás. Assim, cria-se uma população voltada quase que
exclusivamente para a produção em massa, meta maior nesta sociedade tecnocrata.

A canção Satisfaction toca no subconsciente geral dos jovens que através dela estão dizendo
que a juventude desta geração enxerga pelas fendas deixadas pela hipocrisia. Que nesta
sociedade que supostamente deveriam defender, a liberdade sexual ou liberdade de escolher
seu estilo individual de viver a sua vida, não é possível. Portanto não há nada livre neste
chamado mundo livre. A canção espelha bem a insatisfação geral entre "a nova geração", e
cada vez mais os jovens passam a perceber e tomar consciência de seus pontos em comum. A
unidade fundamental para qualquer movimento finalmente nasce e com ela, viria em poucos
meses, o movimento hippie e a chamada contracultura.

E o Dinheiro?

Para a surpresa de todos, enquanto o EP ao vivo Got Live If You Want It estava vendendo bem
nas lojas, as contas bancárias não estavam exatamente cheias. A banda começa a indagar e
perceber que o dinheiro não está entrando, mas o bom crédito permite que eles se endividem
comprando ou alugando, cada um, uma residência nova.

Brian se mudou para uma casa luxuosa em Chelsea, passando a pagar um aluguel salgado de
£272. Apesar do ar aristocrático, seus modos caseiros continuavam os mesmos dos tempos de
Edith Grove, tendo somente suas guitarras e seus discos visivelmente cuidados e arrumados.
Charlie e Shirley em Julho compram uma casa valorizada em £8.850, construída no século XVI
em Lewes, Sussex. A casa já fora do Arcebispo de Canterbury e além de muita área espaçosa,
tinha estábulos. O casal, conhecido pela admiração que tem por cavalos, não poderia ter
escolhido residência mais apropriada.

Mick e Keith, que moravam juntos em um apartamento no primeiro andar, estavam cansados
de chegarem em casa e descobrir a residência invadida por fãs que eventualmente levavam
pertences pessoais como souvenirs. Keith passa a procurar um lugar para morar com Linda
Keith, sua namorada. Alugou então um apartamento em St. John's Wood, perto de Abbey
Road. Mick alugou provisoriamente um apartamento em Marble Arch. Antes de se mudar, Mick
morou algumas semanas na casa do fotógrafo David Bailey. Certo dia, Bailey estava
fotografando uma modelo desconhecida quando Mick entra no quarto. "-Mick, estas fotos não
estão acontecendo. Chega aqui um instante, por favor. Jacqueline, pula nas costas dele." E foi
esta foto, que iniciou a carreira de Jacqueline Bissett.

Mick e Chrissie

Embora o casal tenha afeto sincero um pelo outro, Mick e Chrissie invariavelmente estão
brigando. Às vezes nem sabem porque. Mick odeia cenas mas Chrissie é excessivamente
sincera; portanto grita e fala tudo que lhe vem à cabeça. Ao mesmo tempo, ela vai aprendendo
até onde uma tática funciona conforme o desejado ou não. O casal briga, se separa, mas
acabam voltando pouco depois. As amigas de Chrissie não entendem como ela pode deixá-lo;
Mick Jagger, o grande símbolo sexual! Como se, o que mais poderia ela querer?

Esta idéia a incomodava, como se ela não pudesse sobreviver sem um homem. Chrissie
começa a criar sua própria proteção, aprendendo conforme vai apanhando. Quando Mick a fez
prometer nunca aceitar drogas de ninguém, ela concordou orgulhosa da proteção dispensada e
do discernimento do namorado em não cair nas armadilhas do sucesso. Depois em uma festa
no the Scotch of St. James Club, promovido por Andrew para todo o escritório dos Rolling
Stones Ltd., ao ser oferecida um baseado, ela nega a oferta explicando que Mick não aprova.
Nisto as pessoas riram da sua ingenuidade e ela é informada que ele é visto fumando o tempo
todo. Complementam informando de que ele estava há pouco "doidão" numa roda, fumando
com os demais da banda. Estas coisas doem, mas com a dor, Chrissie aprende.

Ela percebe como as mudanças que a ambição e o desejo pelo estrelato afetam Mick. Antes,
ele levava para o palco a sua personalidade honesta e crua. Depois, ele criou e aperfeiçoou
uma persona de palco e outra na vida real. Agora, ela assiste a persona de palco invadir sua
personalidade por completo. Chrissie flagra secretamente Mick se observando no espelho,
movendo a cabeça e mexendo o corpo, estudando o que funciona melhor. Sua triste conclusão
é que o seu namorado cedeu lugar para esta outra persona. Ele está virando uma estrela.

Quando Keith comprou um Austin 1100 para sua mãe depois que ela tirou uma carteira de
habilitação, Mick procurando carros com o amigo aproveita e compra um Austin Mini branco
para Chrissie. Mas ela já sabe sobre Tish, namorada americana de Mick, que está passeando
em Londres. A briga escala, ela grita e esperneia em um ataque histérico. Jagger odeia
atitudes 'un-cool', odeia cenas, e portanto simplesmente vai embora e passa uma semana com
Tish. Chrissie então pega o seu passaporte e vai para a América com o cantor PJ Proby que a
vem cantando sempre que tem uma oportunidade. Aproveita a passagem em Nova York e
aceita o convite da revista teen americana Tiger Beat, para ser uma colunista, reportando o que
se passa na Swinging London.

Mick, em retaliação, coloca Tish morando com ele enquanto ela estiver no país, mas assim que
Chrissie volta e o procura, ele está chorando pedindo perdão. Encontram-se no apartamento de
Chrissie e ela o obriga a ligar dali, para sua casa e pedir a Tish que se retire. Ela sabe que se
não for agora, Mick é capaz de perder a coragem e ficar enrolando indefinidamente. Tish é
informada que a lua de mel acabou e Mick em seguida pede a mão de Chrissie em casamento.
Pega de surpresa, passam uma noite extremamente romântica. Ela então está autorizada a
procurar uma casa bonita para morarem. A cerimônia é planejada para provavelmente a
primavera do ano que vem. Quando Mick anuncia os planos de casamento para Andrew, o
produtor entra em crise de choro.

Andrew Contrata Klein

Apesar de dois anos de excursões extensas, quatro discos de ouro, o último com o recém
lançado "Satisfaction," já No.1 no Reino Unido e logo em boa parte da Europa, a banda
continuava recebendo a mesma mixaria semanal de £50 referentes a vendas dos seus discos.
Mick e Keith ainda contavam com uma soma referente aos direitos autorais, o que ajudava,
mas todos na banda imaginavam que o dinheiro demoraria para entrar, mas inevitavelmente
entraria.

Enquanto isso, Eric Easton questiona Norman Weiss, o agente que cuida das excursões
americanas da banda, sobre os contratos de um milhão de dólares que ele consegue para
Epstein com os Beatles e o porque que os Stones não recebem oferta igual? Seu sócio Andrew
Oldham por outro lado, toma medidas mais drásticas e contrata Allen Klein e seu advogado
Marty Machat.

Allen Klein é um advogado Nova Yorquino com uma vasta clientela em Londres. Ele é odiado
por praticamente todos com quem já tenha negociado. Klein joga duro e fez todos os artistas a
quem ele representou mais ricos, ganhando com isso uma considerável porcentagem.

Ele chegou a Londres pelas mãos de Mickey Most, produtor e empresário de várias bandas,
que o convidou a representar os seus artistas. Seu sucesso em melhorar os contratos de tantos
artistas, levou Andrew a contratá-lo como consultor financeiro. Klein agora passa a representar
Oldham e todos os negócios que Oldham representa. Easton e Oldham que desde o ano
anterior já não conseguem trabalhar como um time, se dividirão de vez.

Porcentagens e Promessas

Durante Julho, as negociações intensificaram. Novos contratos teriam que ser assinados. Mick
e Keith, acompanhados por Andrew, conversaram e negociaram praticamente todos os
detalhes antes de apresentá-los para o resto da banda que sequer ficam sabendo da maioria
destas reuniões. No dia 26 de julho, no escritório de Andrew, a banda está reunida para
formalmente ser apresentada a Klein, que passaria a receber 20% de tudo que ele negociar.

Três dias depois, em reunião para assinatura de contratos, a banda toma ciência de que a
Decca estava pagando 14% de royalties à Impact Sound (Oldham e Easton) enquanto estes
repassavam apenas 6%, como fora acordado, sendo que tendo ainda direito a 25% destes 6%.
Recebem na hora um cheque de £2.500 libras cada um, como garantia pela mudança de
gerenciamento de Oldham para Klein. Ficaram também prometidos dez pagamentos anuais de
$7000 dólares vindos da Decca inglesa, portanto cobrindo de julho de 1965 até julho de 1974.
Em seguida foram entregues cópias a cada um de uma carta oficializando a passagem de
responsabilidades de gerenciamento da banda, que antes cabiam ao Oldham, agora para
Klein, representante de Oldham.

Antes de entrarem na sala de reuniões com os advogados da Decca para renegociarem outro
contrato com a gravadora, Allen Klein distribui óculos escuros para os cinco membros e instrui
para que eles permanecem quietos e impassíveis durante a negociação. Keith Richards
comentou anos depois de como foi impressionante assistir aqueles advogados aceitarem todas
as exigências de Klein. Os Stones até então haviam faturado um estimado £100.000 libras
pelas vendas dos seus discos pela London, representante da Decca nos Estados Unidos, e
£150.000 da Decca na Inglaterra. Klein imediatamente transformou isso em um adiantamento
de £1.000.000 de libras pela Decca e outro £1.800.000 da London, referente ao mercado
americano e canadense. Os Stones estavam ricos e com o melhor contrato de todos, ganhando
bem mais até do que os Beatles, mesmo não vendendo tantos discos quanto eles.
Aquele primeiro contrato em que Brian Jones assinou sozinho, respondendo pela banda Rolling
Stones não tem mais validade. Novos percentuais de royalties por disco gravado são
designados. Em suma, os cinco Rolling Stones dividem entre si 50% do valor dos royalties
devidos enquanto a Impact Sound (Eric Easton e Andrew Oldham) mais Allen Klein, dividem os
outros 50%.

O detalhe interessante é que Eric Easton sequer foi convidado à reunião. Klein e Oldham
passam a fazer todo o possível para Easton não ter condições de continuar a trabalhar dentro
da equipe e inevitavelmente ele saiu em definitivo. Saiu mas apenas de cena. Seu contrato
com a banda continuaria válido por mais alguns meses. Easton aguardaria a melhor
oportunidade para então processar Andrew Oldham, Allen Klein e os Rolling Stones em uma
batalha judicial que iria se prolongar por muitos anos. Dia 28 de Agosto, novos contratos entre
Allen Klein, Andrew Oldham e os cinco Stones foram assinados.

Toda Semana Tem

Tanto Brian Jones quanto Bill Wyman estavam com certas reservas em relação a Allen Klein,
mas com um cheque gordo já depositado nas contas, ninguém teve muito argumento para
contestar o andamento das coisas. Mesmo porque a interminável vida na estrada também
contribui para manter a banda ocupada demais para ficar fazendo muitas perguntas. Mick e
Keith, sentindo-se devidamente protegidos pela asa de Andrew Oldham, estavam irradiantes
com as possibilidades que surgiam para o ano.

Durante todas as negociações, a banda continua se apresentando ao vivo. Quando não estão
tocando na Inglaterra, estão na Escócia, Noruega, Finlândia Dinamarca e Suécia. Em
Copenhagen, enquanto testando o som, Mick Jagger toma um choque violento do microfone,
assim como também Bill Wyman ao tentar auxiliá-lo. Foi Brian Jones quem salvou o dia,
puxando a tomada da parede. As mãos de Mick sofreram queimaduras, mas à noite tocaram
para 2.000 pessoas. Em outro show, de molecagem ou rebeldia, a guitarra de Brian está
extremamente alta, o que não permite a Mick se ouvir.

Outras Idéias

Bill Wyman acaba fundando sua própria firma, a Freeway Music, que cuidaria de toda sua
carreira relacionada a atividades musicais fora dos Rolling Stones. Produziria e empresaria
duas bandas, The End e Moon's Train, lançando entre Agosto e Setembro um álbum de cada
banda, além do compacto de estréia de outro grupo contratado, The Preachers. Sua equipe de
sessionmen (músicos de estúdio), contaria com Tony Chapman e um jovem virtuoso, ainda
adolescente, que chama muita atenção de Bill. Seu nome é Peter Frampton. Wyman produziria
ainda um dos primeiros trabalhos da banda Groundhog, o compacto "I'll Never Fall In Love
Again".

Immediate Records

Andrew Oldham também tinha outras idéias para seu pequeno império. Ele acreditava que para
uma banda como os Rolling Stones, é mesmo necessário uma grande estrutura de uma grande
gravadora. Porém para os seus outros artistas menos badalados, ele concluíra que uma
gravadora menor poderia cuidar melhor, dando um tratamento quase familiar ao artista
pequeno ou médio. Com este raciocínio inovador, ele funda o selo Immediate Records que teria
seus lançamentos distribuídos pela Phillips Records.

A estrutura inicial da firma contaria com Oldham para achar e contratar as bandas; o seu sócio
e parceiro, o executivo Tony Calder para cuidar de contratos e outras papeladas; um jovem e
talentoso guitarrista de estúdio, Jimmy Page, que cuidaria de produzir as bandas; e mais a
assistência da dupla de compositores, Jagger e Richards. Oldham, Jagger e Richards fundam a
produtora We Three Productions, para cuidar destes trabalhos em que os três estão
envolvidos.

A festa de inauguração da Immediate foi no dia 20 de Agosto e teria presença dos Stones e de
amigos como Eric Clapton, Mike Clark dos Byrds e Nico, atriz, modelo e cantora que ainda iria
fazer um nome para si ao lado do Velvet Underground, mas antes, teria um compacto seu pela
Immediate. O compacto tem em "I'm Not Saying", seu lado B, a participação de Brian Jones
tanto nas guitarras como nos backing vocals. O lado A teria a curiosa co-autoria de Oldham-
Page chamado "The Last Mile", sem Brian mas com Jimmy Page na guitarra. Nico e Brian
também teriam um relacionamento relâmpago.

O pequeno selo independente seria precursor em um empreendimento que ganharia força na


década de setenta, durante a era punk. A Immediate deixaria suas maiores marcas ao lançar
as bandas Small Faces, Nice e Humble Pie. Mas no ano de seu lançamento, além de contribuir
com composições, Keith Richards grava guitarra no EP de Chris Farlow, chamado In The
Midnight Hour, produzido a três mãos por Andrew Oldham, Mick Jagger e Keith Richards (We
Three Productions.

Gravações Para Se Colecionar

As relações comerciais entre Oldham e Page permitem a aproximação entre Jimmy e os


demais Rolling Stones, a ponto deles participarem de várias gravações informais que vieram a
ser lançadas no álbum Guitar Boogie. Nele temos Bill Wyman tocando em "Choker" e "Snake
Drive" e o trio Bill Wyman (baixo), Ian Stewart (piano) e Mick Jagger (gaita) participando em
"Draggin' My Tail" e "West Coast Idea", todas composições de Eric Clapton e Jimmy Page,
tendo com eles a assistência do baterista Chris Winters. As sessões são teoricamente
produzidas por Andrew Oldham. Outra raridade fica para a sessão de The Lancasters,
gravando "Satan's Holiday (Nanker Phelge)/Earthshaker" (Kim Fowley/Ritchie Blackmore). A
banda para estas duas gravações inclui Keith Richards e Ritchie Blackmore nas guitarras,
Nicky Hopkins no piano, Chas Hodges no baixo, Mick Underwood na bateria e Reg Price no
sax.

Entre as canções que a dupla Jagger-Richards entregou para outros artistas, sem participar de
suas gravações, existe uma lista extensa. Ainda em 1964, quando o duo apenas estava
começando, além dos já anteriormente mencionados, existem "Will You Be My Lover Tonight/ It
Should Be You", ambas Jagger-Richard, gravados por George Bean e lançado pela Decca;
"Give Me Your Hand" é entregue a Teddy Green; The Greenbeats gravam "You Must Be The
One", produzidos por John Paul Jones e distribuídos pela Pye Records.

Em 1965, Lulu & the Luvvers gravam "Surprise, Surprise". Esta canção seria gravada também
pelos Rolling Stones, e editada em um álbum de vários artistas chamado Fourteen e lançado
pela Decca, com o lucro visando caridade. Vashti gravaria "Some Things Just Stick In Your
Mind" produzido por Oldham; The Thee gravariam "Each And Every Day Of The Year"; The
Mighty Avengers gravariam a curiosa "Sleepy City" além de "Sir Edward And Lady Jane", esta
última composta por Andrew Oldham e finalmente, Jimmy Tarbuck gravaria para Immediate
"We're Wasting Time", outra composição obscura da dupla.

Relacionamentos em Declínio

Logo no inicio de Agosto, os Stones foram autorizados a gozar três semanas de férias. Charlie
e Shirley se mudaram para a nova residência, recém comprada e mobiliada. Bill descobriu que
Diane estava tendo um caso e culpou em parte seus longos períodos de ausência. Conversam
e resolvem fazer uma viagem indo para Düsseldorf, Alemanha.

Quando voltam, Bill passa a procurar por uma nova residência. Ele se interessa por uma casa
de oito quartos em Kent, que custava £12.000. Ele utiliza o dinheiro da assinatura do contrato
com Klein, e negocia um empréstimo com a Rolling Stones Ltda. de £5.150, para poder fechar
o negócio.

Chrissie encontrou a casa dos sonhos em Bryanston Mews East. A relação dela com Mick
porém voltara a ser conturbada. Depois do incidente com Tish e Proby, e o subsequente pedido
de casamento, ela passou a tentar bancar a esposazinha, fazendo café da manhã e tendo janta
pronta para o seu maridinho quando este chegava do trabalho. Mick porém odiou a mudança.
Percebeu que no mundo delirante do entretenimento, precisava mesmo era de alguém que o
criticasse e o mantivesse com os pés na realidade. Passa então a reclamar e colocar defeito
em tudo que ela faz.

Chrissie em final de mês, parte pra cima de Jagger, lhe socando e arranhando o rosto,
deixando uma marca que ficaria por um bom tempo. Jagger esgoela em dor e sai correndo
para outro cômodo. Ela mais calma se arrepende do que fez. Ao voltar Mick lhe pede
desculpas mas informa que não deseja mais casar e uma nova discussão se inicia. Ele quer
continuar com ela mas só iria casar quando resolvesse ter filhos e isto não estava nos seus
planos ainda. Magoada, Chrissie resolve então que não iria mais morar com ele se Mick não
desejava o casamento. Arruma suas coisas e sai de sua vida mas é aconselhada pela sua mãe
a aceitar a relação nos termos que Mick quer. Clássica mentalidade de que a moça solteira,
uma vez se tornando mulher, deva fazer e agüentar tudo para manter o seu homem e não ser
difamada. Assim, Chrissie volta a morar com Mick em sua nova residência, mas sem abrir mão
do seu apartamento. Mick contrata uma empregada portuguesa chamada Maria para ajudar
com os afazeres da casa. Algum tempo depois, escreveria a canção 19th Nervous Breakdown
e Under My Thumb, claramente inspirado pelo relacionamento entre os dois.

Enquanto Keith e Linda Keith viajam para o sul da França, Mick e Chrissie, mais Brian e Linda
Lawrence vão para Tangier, Marrocos. O local agrada todos e eles ainda irão voltar a cidade
mais algumas vezes. Lá Linda Lawrence e Brian conversam e entram em um acordo quanto à
pensão de Mark. Retornando, Linda descreve a viagem como o melhor passeio de sua vida.
Retira o processo correndo contra Brian para que ele pague uma pensão, confirmando um
acerto entre os dois. Segundo Linda, Brian concordara em depositar uma soma considerável de
verba para ser investida na educação e etc. de Julian. Ele também teria concordado em ajudar
nas finanças de uma boutique onde Linda venderia suas criações. Mas Brian nega dizendo que
houve apenas um acordo entre os dois quanto à soma a ser depositado referente a pensão do
menino. Afora isto, ele considera seu relacionamento com Linda encerrado.

Irlanda

Durante a passagem pela Irlanda, filmam o público e o evento, com intuito de montar imagens
para promover o próximo compacto, mas, influenciado pelos filmes dos Beatles, Oldham acaba
optando por lançar o material como um pequeno documentário que seria chamado "Charlie Is
My Darling". O nome surge de um comentário feito por uma das fãs entrevistadas.

Durante o segundo show em Dublin, tumulto e briga invade o palco no final. Bill torce o braço e
Andrew tem sua cabeça rachada ao tentar livrar a banda dos invasores. Brian lutava contra três
adolescentes, mas junto com Keith, conseguiu escapulir rapidamente para um carro que os
aguardava. Mick levantado no ar e retirado, perdeu seu casaco, que foi todo rasgado, e Charlie
quase foi soterrado por sua própria bateria, revirada sobre ele.

Apesar do susto, recobram a fibra viajando para Los Angeles para gravar "Get Off My Cloud",
seu próximo compacto. Jack Nitzsche e Ian Stewart estão auxiliando nos teclados e a sessão
segue até o dia seguinte. Ao término, além da exaustão, estão com "I'm Free" e "Looking Tired"
igualmente prontas. Continuando a exaustiva programação, amanhecem cedo para pegar o
avião matutino de volta a Londres, aproveitando a viagem para dormir. Chegam com tempo
apenas de passar em casa, trocar de roupa e voltar para o aeroporto, desta vez indo para
Douglas na Ilha de Man, para um show. Pernoitam lá seguindo então para a Alemanha.

Alemanha 65

Na Alemanha, durante o show de Hamburgo, a brutalidade da policia para com o público era
chocante. Entre apresentações, com a banda bebendo no camarim, Keith mija em uma garrafa
de Whiskey ainda pela metade. Sacode bem a garrafa e oferece como cortesia para a policia
do lado de fora. Eles agradecem e bebem, brindando à saúde da banda.

Em Berlim Ocidental, onde puderam visitar o seu famoso muro, o público se soltou e a policia
não soube como lidar com a falta de obediência cívica. Jagger empolgado com a recepção
calorosa destes jovens extremamente oprimidos em sua cidade dividida em dois, dança e faz a
saudação nazista com o braço, levando jovens ao delírio e tornando-os incontroláveis. Depois
do show, arruaças e brigas surgem dentro e fora do teatro. Lojas e carros são vandalizados,
incluindo o trem que faz a conexão entre as duas Alemanhas, estacionado no lado Ocidental
mas que pertence ao governo da Alemanha Oriental. O incidente serve para jornais
pertencentes aos Estado, atras da "Cortina de Ferro", divulgarem mais propaganda pró
comunista, falando da decadência moral dos capitalistas. Em Munich, entre apresentações, a
banda conhece uma modelo de 22 anos chamada Anita Pallenberg.

Anita Pallenberg

Anita nasceu na Itália dia 25 de janeiro de 1943 mas foi criada na Alemanha. Cresceu falando
fluentemente o alemão, italiano, francês e o espanhol, mais tarde aprendendo a lidar também
com a língua inglesa. Como adolescente, estudara restauração de quadros, medicina e
desenho gráfico. Já havia participado como atriz do teatro vivo de Julian Beck, e estava neste
período de sua vida trabalhando como modelo em Munich.

Assistiu o primeiro show da noite dos Rolling Stones e depois conseguiu, através de um amigo
fotógrafo, acesso ao backstage. Como muitas meninas ao redor do mundo, ela estava ouriçada
com a possibilidade de conhecer um Rolling Stone. Quando ela apareceu, Mick Jagger e Keith
Richards logo mostraram seus sorrisos e soltaram o charme, porém bastou Brian entrar na sala
que ninguém mais teve chance.

Conta-se que ela simplesmente ficou encantada com a figura atraente do Brian Jones de roupa
branca e os olhares logo mostravam permissividade. Brian ficou igualmente tomado por sua
presença. Anita era de fato extremamente atraente e como era de se presumir, passaram a
noite juntos.

Depois dos shows na Alemanha a banda tocou na Áustria em seu último show da excursão
Européia, dia 17 de Setembro. O clima foi marcado pela ameaça de uma bomba na qual a
policia, embora não dispensando maior credibilidade à veracidade da denúncia, revistou o local
completamente antes de admitir a entrada do público. De fato, o show transcorreu normalmente
com uma platéia animada.

De Volta a Londres

Terminada a excursão, a banda teria uma semana de descanso antes da excursão Britânica.
Ainda assim, haveriam reuniões entre a banda e Oldham sobre a situação Easton - Klein. Eric
Easton e Mick Jagger conversam em certa ocasião onde Eric questiona como a banda poderia
querer trabalhar com Klein conhecendo sua reputação de negociante sem ética? Mick deixava
claro que a reputação não interessa, o que interessa são os contratos com valores gordos que
ele é capaz de negociar.

Analisando a questão posteriormente, Easton conclui que Mick e os rapazes estavam com
medo de não durarem. Temendo acabar dentro do próximo ano, só se interessavam pelo
dinheiro adiantado que conseguiriam de imediato, sem tentar enxergar os negócios como algo
que oferecia um entrante duradouro. Decepcionado com a facilidade que fora dispensada, ele
resume seus pensamentos com um, "Eles aprenderão."

Em setembro, sai no mercado o terceiro album da banda, "Out of Our Heads". As músicas,
compreendem todo o material gravado nos Estados Unidos, basicamente no Chess Studio de
Chicago e o RCA Studio de Hollywood. Os Stones regravam diversos números de soul,
deixando visível a admiração pelo gênero e suas composições estão melhores, a dupla Jagger-
Richards acertando em cheio com os primeiros do que viria a ser uma série de eternos
clássicos, Satisfaction (que não está no disco), The Last Time e Play With Fire. É o primeiro
álbum que chega a No.1 na América e um ponto de partida para a qualidade sonora da banda
em discos por vir. No geral, todos concordam que os americanos gravam discos de r&b melhor
do que os ingleses. A canção Satisfaction rapidamente chega a No.1 no país.

A Modelo e os Lords

Enquanto os Stones estão na América, Anita Pallenberg está fazendo nome na Inglaterra. A
beleza e cultura da modelo a ajudam a atrair atenção no jet-set inglês. Com um magnetismo
pessoal invejável, Anita seduz todos com seu sotaque estrangeiro e um olhar de tirar o fôlego.
Ela faz amizades com os filhos de Lord Harlech, Jane, Julian e Victoria, e através delas,
freqüenta o círculo fechado da aristocracia. Anita aguardava pela a volta da banda. Quem não
soubesse do encontro em Munich, juraria que Brian e Anita se conheceram em Londres.

A Moda Muda

Foi por volta do final do ano de 1965, que começou-se a cogitar que a onda pop não era uma
coisa tão passageira assim. Membros da elite londrina, a chamada "high society", passam a
olhar para pessoas da industria de música pop com maior admiração. Não coincidentemente, é
nesta época que os Beatles são condecorados pela Rainha como súditos reais.

Depois da turbulência de 1964, com a juventude tendo crises de histeria coletiva e


proporcionando Beatle e Stone-mania, o rótulo passa a ser usado indiscriminadamente. Temos
Kinkmania, Troggmania, e até Monkeemania, entre tantos outros. Assim, lucra-se o máximo
possível, enquanto, como dizem, "a teta der leite." Londres se torna em 1965, o epicentro da
moda Européia. Sua atenção está direcionada para esta nova geração com poder aquisitivo e
gosto próprio, que recusa-se a perpetuar estilos clássicos, preferindo expressões novas e
contemporâneas. Tons sóbrios dão lugar a muita cor.

Com a sociedade discutindo sobre a moralidade de se usar anticoncepcionais, surge a mini-


saia, o bikini e mais adiante, o topless ou monokini. As modelos passam a ter uma maior
representação na mente e na imagem da sociedade. Surge Twiggy, a primeira modelo
extremamente esbelta. Até então, a mulher voluptuosa, puxando para gordinha, era a imagem
do belo e saudável. Twiggy marca a era das magras, como sendo referência do que é sexy. Ela
seria considerada em 1966 "o rosto", gíria mod, para designar padrão a que os outros devem
imitar.

Badalação Na Cidade

Quando estão na cidade, fora Bill e Charlie que são casados e preferem uma vida mais caseira,
longe do bochicho, todos passam as noites badalando a cidade. A moda e a música pop estão
em plena efervescência e o jet-set está interessado em artistas pop como nunca. Com isso, a
barreira das classes, uma barreira extremamente espessa na Inglaterra, estava dando vazão
ao impensável. Assim, passam a receber convites para freqüentar festas transitadas pela
realeza e pela aristocracia, especialmente Mick Jagger.

Mick e Chrissie são convidados a uma festa na residência de Lady Harlech, que tem como
convidados de honra a Princesa Margaret, a Princesa Alexandra e o Lord Snowdon. Mick é
depois convidado a sentar à mesa com a realeza para uma conversa amena e amistosa.
Voltando a sua mesa e ao lado de Chrissie, Mick está estupefato por sua trajetória de
amaldiçoado social para celebridade entre a família real.

Brian sempre que pode, está fugindo para Paris ou Estocolmo, ou outras capitais européias,
procurando conhecer pessoas e bochichos, nestas nações. Quando Brian ficava em Londres,
sua turma de amigos incluía geralmente Eric Clapton, John Lennon, George Harrison, Georgie
Fame, Eric Burdon, Dave Davies, Amanda Lear, Marianne Faithfull, John Dunbar, Robert
Frazer e Tara Browne. Os clubes favoritos variam de nomes, The Ad Lib, the Scotch of St.
James, Bag O'Nails e o Speakeasy são alguns dos locais mais na moda entre as celebridades.

Excursão Britânica

Durante a excursão Britânica, um novo chofer é contratado pela Rolling Stones Ltda. Seu nome
é Tom Keylock e ele passaria a trabalhar pelos próximos anos, muito perto dos próprios Rolling
Stones. Esta excursão tem como bandas de abertura The Spencer Davis Group, Unit Four Plus
Two e uma banda empresariada por Wyman chamada The End. Em algumas noites, também
haveriam shows com The Moody Blues.

A nova excursão tinha novidades. O repertório evitava velhos favoritos, tentando concentrar-se
na promoção do material mais novo. Apresentam "Mercy Mercy", "Cry To Me", "That's How
Strong My Love Is", "Play With Fire", "Oh Baby", "I'm Moving On", "The Last Time", fechando o
set com "Satisfaction". As roupas são mais coloridas, os Stones até sorriem de vez em quando,
e o público aplaude freneticamente as danças de Mick Jagger ou quando Brian Jones passa
para um órgão elétrico durante as canções "That's How Strong My Love Is" e "Play With Fire".

Em algumas apresentações, o público enlouqueceu e invasões no palco culminam com Charlie


novamente sendo derrubado da bateria. Em outros lugares, a entrada e saída da banda do
local do show é estudada em planos tão bem arquitetados que beiram militarismo.

Em Bradford, havia um jantar com galinha, frutas sortidas e whiskey patrocinadas pela mãe de
um dos rapazes que a banda visitou no hospital no ano anterior. Sua bondade e esforço em se
mostrar agradecida pelo gesto dos rapazes passaria no futuro a ser padrão da vida itinerante
de uma banda, com contratos prevendo comida para banda e comitiva.

O público que a tempos passaram a jogar balas e amendoins no palco e nos músicos, em
alguns shows passam a jogar outras coisas. Em Leeds, Mick Jagger aparece com seu rosto
marcado por uma moeda que o acertara no show anterior. Em Liverpool, um rapaz foi preso
tentando entrar carregando uma espingarda de cano duplo. Em Northampton, durante a
primeira canção, uma chuva de balas e cigarros cai sobre o palco. De repente algo acerta Keith
no rosto que gira e cai sobre os amplificadores, depois no chão, permanecendo imóvel. O
público vaia achando tudo fingimento. Jagger larga o microfone para ver como estar o amigo
enquanto Brian acena para baixarem a cortina. Alguém sobe no palco para contar piadas,
distraindo o público enquanto se aguarda o desenrolar. Keith pouco depois desperta, retoma a
coragem e recomeçam o show.

Final de Ano na América, '65

Em final de Outubro estão novamente excursionando Canadá e os Estados Unidos. No


primeiro dia de Novembro, "Get Off My Cloud" chega ao topo das paradas americanas,
tornando-se o quinto No.1 consecutivo da banda, recorde atingido até então apenas por Elvis
Presley e os Beatles. Muitos questionam se a canção não se refere ao consumo de maconha.
A canção na verdade é um grito de independência de quem tem a vida na estrada no sangue.

Notícias de Londres informam sobre a necessidade de se contratar mais pessoas para


poderem ler e responder as cartas dos fãs, tamanha a quantidade recebida diariamente. Outra
noticia é menos agradável. Aparentemente outra banda queixa-se de ser dona do nome Rolling
Stones. De fato, seu líder, Brian Stone, comprova registro do nome datado de 1957. A banda,
originariamente de Bristol, toca em cabarés com seus membros já em idade madura. O
problema não teve maiores repercussões legais.

Abrindo para os Stones estão the Vibrations, Patti Labelle & the Bluebells e the Rockin'
Ramrods. Durante a excursão Keith Richards perderia seu passaporte por duas vezes, criando
dificuldades para entrar no Canadá em duas ocasiões distintas.

Festa em Manhattan

No dia 6 de Novembro, a banda toca à tarde na Academia de Musica de Nova York e depois
viajam para Philadelphia onde se apresentam à noite. Na mesma noite voltam para Manhattan
onde Bob Dylan convida todos para se encontrarem no Phone Booth Club. Dylan e Brian se
admiravam mutuamente e tornaram-se rapidamente bons amigos. Dylan queria lhe apresentar
Greenwich Village, um dos bairros artísticos da cidade e onde ele havia surgido para
notoriedade. Rodaram bares até altas horas da madrugada. Depois encontraram com Wilson
Pickett, trancando-se então em um estúdio e gravando material juntos. Bill passa esta noite e
boa parte da excursão com Barbara, cantora da banda Cake, um trio vocálico feminino. Charlie
preferiu assistir shows de Earl Hines e Wes Montgomery, do que seguir a programação com
Bob e Brian.

Bob e Brian se veriam e conversariam muito durante os próximos dias, Dylan tomado não só
pela musicalidade de Brian como também pela sua honestidade e sinceridade, atributos que
Dylan mais admira em uma pessoa. Brian tendo falado abertamente sobre seus problemas
dentro dos Rolling Stones criou em Dylan esta imagem de sinceridade. Não muito depois disto,
Bob Dylan ainda em 1965, estaria anunciando em seu show no Carnagie Hall uma nova
canção chamada Like A Rolling Stone, escrita, segundo ele, para Brian Jones.

Três dias depois, havia uma grande festa marcada no Ondine's Club. Mas às cinco da tarde,
toda a força elétrica da cidade sumiu no primeiro entre dois blackouts em toda a história da
cidade. A cidade de Nova York ficou sem energia elétrica de cinco da tarde até as cinco da
manhã. Brian estava dentro de um Cadillac com chofer, voltando de Uptown onde ele
conseguiu erva (maconha) e bolas (anfetaminas). A cidade inteira estava às escuras e a
loucura habitual estava ainda mais exacerbada nesta noite.

O hotel ofereceu velas para todos os hóspedes e a festa na Ondine's embora cancelada, foi
apenas substituída por outra festa, nos corredores do andar tomado pelos Rolling Stones e sua
equipe. As fãs que conseguiam subir até o andar comentavam que precisaram pagar um
boquete para os seguranças na portaria para terem acesso às escadas.

Por volta de uma da manhã quase houve um pequeno incêndio com uma vela caindo em cima
de uma das camas. Um balde de gelo derretido acabou com o problema apesar de feder o
ambiente. DJ Scott Ross, um dos participantes, conta que o clima da noite era mesmo de
experiências divididas por todos. Brian chega com uma mão cheia de capsulas azuis,
vermelhas, amarelas e listradas. "Prova algumas, são ótimas." Provavelmente nem Brian sabia
o que eram, engolindo todas, misturando depois com bebida.

Lá pelas tantas chega Bob Dylan e vários dos seus amigos batendo na porta de Brian. "Isto é
uma invasão vindo de Marte." diz Dylan rindo, enquanto Brian sorri feliz como um garoto.
"Legal vocês aparecerem. Eu tenho uma erva mexicana aqui excelente, deixa eu te
apresentar." Acontece então uma histórica sessão acústica com Brian Jones, Bob Dylan,
Robbie Robertson e Bobby Neuwirth. O quarteto passaria a se referir a esta noite como "The
Lost Jam" (O Improviso Perdido). As pessoas foram aos poucos encontrando um cantinho para
dormir. Havia gente acordando nos mais variados lugares.

Mais Incidentes

Seguiram a turnê e Anita apareceu em Miami só deixando a banda após o show em Detroit,
onde retornou à Paris onde ela estava. Ao chegar, os rumores sobre sua relação com Brian já
haviam se espalhado e perguntas sobre um casamento surgiam. Anita teria declarado que
"Sim, estamos namorando. Se formos casar, será logo. Caso contrario, não iremos casar
nunca." Brian por sua vez nega qualquer hipótese de casamento. "Estamos juntos e a relação
não é apenas casual. Anita é a primeira garota com quem namoro sério. Mas não há planos
para casamento."

Brian provoca a banda com teimosias inexplicáveis e situações de atrito desnecessários. Em


Texas, a caminho de Dallas, a banda pára para comer em um restaurante de beira de estrada.
Brian se recusa a ir com eles esperando no carro. Quase uma hora depois quando voltam para
seguir viagem, Brian informa que está com fome, entra na birosca e passa a comer
afrontosamente devagar, olhando pela janela todos obrigados a lhe aguardar. Emputecido,
Andrew manda um dos ajudantes ir lá busca-lo. Brian é arrancado a força com seu
cheeseburger semi-comido ainda na mão, enquanto todos do local assistem à cena
espantados. A banda na van está as gargalhadas mas Brian se sente totalmente humilhado
com o desfecho do episódio.

No geral, a excursão foi bem com as já usuais invasões de fãs nos quartos dos hotéis. Em
locais onde a banda se sentia mal recebida pela gerência, eles descontavam como podiam,
mijando nas pias ou outras pequenas demonstrações de rebeldia. Os últimos shows da turnê
são realizados nos dias 3, 4 e 5 de dezembro; todos na California. Durante a apresentação
para 4.500 pessoas no Memorial Hall em Sacramento, tudo ia bem até tocarem "The Last
Time." Na hora do refrão, Keith Richards se aproxima do seu microfone e percebe que está
apontando para a direção oposta. Com sua guitarra, ele dá uma pancada seca no aparelho,
tentando girar o microfone em sua direção.
Observou-se uma faísca e Keith em seguida desmaiou no chão. Bill Wyman afasta sua guitarra
do corpo enquanto as cortinas caem. Aos poucos o público percebe o que havia acontecido e
um silencio mórbido toma o local. Keith Richards permanece desacordado por sete minutos. Ao
acordar, ele percebe que três cordas de sua guitarra haviam derretido, como um fusível
queimado. Ao ser levado para um hospital, e examinado, o médico concluiu que seu sapato de
sola de borracha havia salvo sua vida, não permitindo à corrente elétrica encontrar terra,
conectando com o solo. Depois de uma noite bem dormida, no dia seguinte, Richards estava se
apresentando com a banda na cidade de San Jose.

Em San Francisco, Brian e Keith freqüentam uma das famosas festas de Ken Kesey e seus
Merry Pranksters. Lá, na companhia de beatnicks, artistas e intelectuais de diversas áreas,
participam do que passou a ser chamado de o teste de ácido, sendo apresentado assim ao
Ácido Lisérgico Dietilamida, mais conhecido como LSD.

O ácido tem uma história muito ligada aos eventos dos próximos anos, não só na esfera
artística, como em toda contra cultura que passou a existir, principalmente, embora não
somente, nos Estados Unidos. O ácido teria um auge popular que duraria aproximadamente
entre 65 e 73, embora seu uso seja detectado até hoje. Por isto creio ser válido fazermos uma
pausa para entender suas origens.

Um Rápido Histórico

O ácido Lisérgico Dietilamida (Lysergic Acid Diethylamide), foi criado por um cientista sueco
chamado Dr. Albert Hofmann em 1938, tirado do extrato de um fungo encontrado no centeio,
chamado ergot. Dr. Hofmann procurava um remédio para estimular a circulação do sangue no
corpo humano e aparentemente, levaria outros cinco anos testando a droga até descobrir
acidentalmente seu poder alucinógeno.

Em 1942, um órgão militar americano chamado OSS (Office of Strategic Services) estava
reunindo os mais capazes cientistas civis e militares para trabalharem em um programa ultra
secreto. Procuravam uma droga que pudesse dobrar a defesa psicológica de um espião
inimigo, assim, induzindo-o a falar qualquer segredo que ele tentasse esconder. Foram
testadas diversas substâncias como cânabis, barbitúricos, peyote e até cafeína.

Na década de cinqüenta, a CIA havia se interessado pelo programa. Em Abril de 1953, ele é
batizado de MK-Ultra e chefiado pelo Dr. Sidney Gottlieb. A CIA cria então o seu programa TSS
trabalhando paralelamente com o OSS no projeto agora chamado Artichoke. O LSD chama a
atenção da agência, por ser uma droga sem odor, incolor, e eficaz com apenas uma gota.

Hubbard & Osmond

Afora as experiências militares que estavam sendo feitas, estudos da mente humana com o
uso de psico-ativos já eram realizados desde a década de quarenta. Havia grande euforia na
esfera da psicologia em relação à possibilidade de aprender sobre a mente humana e abrir o
caminho para estudos mais conclusivos sobre a loucura. O homem a conseguir isto poderia
ganhar um Prêmio Nobel. Assim, vários foram os estudos com substâncias psico-ativas durante
as décadas de quarenta a sessenta.

Um dos primeiros cientistas a se interessar por esta causa foi o Dr. Humphry Osmond. Ele já
havia realizado um vasto estudo sobre mescalina quando aprendeu sobre a descoberta de Dr.
Albert Hofmann. Dr. Osmond seria o médico que cunharia a palavra "psicodélico" em 1957.
Seu significado original se refere a manifestações da mente, vindas do subconsciente e
portanto sem ordem ou padrão previamente previsível. Futuros estudos levariam Osmond a
criar a droga chamada Dimethiltriptamina, mais conhecido por DMT.

Em 1951, um espião americano durante a Segunda Guerra, chamado Capitão Alfred M.


Hubbard, foi oferecido LSD como parte de um teste, vendo como a droga age em diferentes
tipos de pessoas. Hubbard considerou a experiência a mais profunda e mística que já teve. Ao
lado do Dr. Humphry Osmond e seus estudos, Capitão Hubbard com suas sugestões, ampliou
a gama de experiências com a droga, enriquecendo a qualidade de suas conclusões.

A credibilidade de Hubbard, e acesso dentro dos governos Americano, Canadense e Inglês, lhe
permitiram apresentar o LSD para pastores, policiais, executivos, cientistas, chefes de industria
e políticos, nestes três países, com acesso ilimitado à droga, direto dos laboratórios. Hubbard
conseguiu inclusive acesso ao Vaticano, com permissão assinada pelo próprio Papa, para
exercer experiências com alguns bispos, na hipóteses de que a droga possa levar uma mente
doutrinada por teologia, mais perto de um contato com Deus.

Aldous Huxley

Entre outros, a dupla Hubbard e Osmand, apresentou o LSD a Aldous Huxley, renomado
escritor autor de "Brave New World" (Admirável Mundo Novo). Huxley, que já se oferecera a
experimentar mescalina durante as experiências do Dr. Osmond com aquela droga, estava
eufórico com suas descobertas com LSD. A substancial importância de Huxley no futuro da
droga é que ele acabou por tirar a experiência do domínio meramente cientifico para o
religioso. Huxley que estudara culturas e rituais religiosos de civilizações que utilizavam psico-
ativos como forma de chegar a Deus, conclui que drogas como LSD, são importantes para o
homem comum se auto analisar e explorar seu próprio interior. Huxley escreveria o primeiro
dentre três livros sobre o assunto, "The Doors of Perception" (As Portas da Percepção), cujo
tema é o controle da mente através de medicação psico-ativa. Este livro chamaria muito a
atenção da CIA.

Guerra Sem Mortes

O pentágono via a guerra química como uma alternativa atraente e entre os estudos que nos
deram o Agent Orange, estavam projetos como Artichoke. A idéia de borrifar um exército
inimigo com um "gás de loucura", que desorientaria as pessoas, tirando-lhes o desejo de
resistir, parecia ser válida no saudável exercício de expandir o capitalismo e banir o
comunismo. Imaginando seu uso em guerrilha, após intoxicar um ponto estratégico com a
droga, o exército americano poderia simplesmente entrar na região desejada, estando o
exército inimigo sem condições de lutar. Assim, podem rapidamente apreender os homens e
tomar controle da área. Depois de algumas horas o efeito da droga passaria, e a vida civil
continuaria normalmente. Sem mortes ou ferimentos, tanto de soldados quanto de civis, e sem
danos a propriedades, mantendo tudo funcional. Sonhavam alguns, em um futuro com guerras
sem mortes.

Os testes conduzidos pelos militares concluíam que os pacientes, com raras exceções, não
perdiam a noção do tempo e espaço, ou de quem eles eram, e sabiam concluir durante a
alucinação (viagem), que tudo não passava de um efeito da droga. LSD ainda estava longe de
servir para o propósito desejado pelos militares. Com os dois departamentos, OSS e TSS,
testando a droga, começam a competir um com o outro para apresentar resultados conclusivos
em primeira mão. Logo, há espiões de cada departamento vigiando o outro.

Janiger, Alpert & Leary

Outros médicos na área de psiquiatria começariam a testar o medicamento em seus pacientes


com distúrbios mentais em maior ou menor grau. Já em 1960, Dr. Oscar Janiger, psicólogo de
Los Angeles, passa a ser o primeiro a tentar estabelecer alguma conclusão cientifica em
relação ao uso de LSD para exacerbar o potencial criativo da mente humana. Para isto, ele
escolheu cem artistas voluntários, todos pintores, para desenhar antes, durante e depois do
uso de LSD.

Todos os artistas sem exceção, consideraram seus desenhos feitos após utilizarem a droga
com maior substância e significado artístico. Um chegou a declarar que uma viagem de ácido
equivalia a quatro anos de escola artística. Impressionado com os resultados Dr. Janiger
passou a oferecer a droga para uma gama maior de artistas. Entre os mais conhecidos estão
Jack Nicholson, James Colburn, Cary Grant e André Previn.

Em 1961, dois psicólogos de Harvard, Dr. Richard Alpert e Dr. Timothy Leary, estavam fazendo
pesquisas com LSD em colegas de profissão e em alguns prisioneiros voluntários no
Massachusetts Correctional Institute. Dr. Leary comentaria com seus colegas nesta época, que
ele estava tentando transformar condenados em Budas.

Com o uso de psilocibina, um psico-ativo obtido através de cogumelos, somados a sua


orientação psicológica, apenas 25% dos prisioneiros voluntários da experiência voltavam a
prisão após serem soltos. A porcentagem média comum para o retorno à encarceração de ex-
prisioneiros era de 80%.

Ao conhecer Aldous Huxley e ser apresentado ao LSD, Timothy Leary passa a ser fervoroso
defensor do medicamento. Seus relatórios iniciais também concluíam que a droga poderia ser
um gigantesco avanço para o auxílio na recuperação de pacientes com distúrbios psíquicos,
seu primeiro e maior interesse. Leary perguntava, "Porque perder meses, às vezes anos
trabalhando com um paciente para conseguir fazer um trabalho de regressão eficaz, quando
posso conseguir o mesmo resultado em umas poucas sessões, com o uso desta droga nova?"

Observação

Então como podem perceber, enquanto de um lado, o governo, mais especificamente as


agências de espionagem do governo americano, estudavam sua utilização como uma arma,
médicos psiquiatras e psicólogos viam grandes possibilidades de avanço em seus campos. O
LSD era cercado de grande positivismo, como um remédio moderno para ser usado no estudo
da mente humana e na melhor das hipóteses, definir e, em tempo, possivelmente curar a
loucura.

Reação da CIA

Por volta de 1962, a CIA já chegara a suas conclusões em relação ao LSD e embora a droga
pudesse vir a servir para determinadas operações táticas, os militares dispensaram suas
atenções para outra droga, BZ. Assim sendo, o LSD, embora ainda em fase de testes, já não
era mais distribuído facilmente entre os médicos. Dr. Timothy Leary não compreende porque a
droga não está sendo produzida em escala industrial e disponível no mercado. No seu
entender, a droga deveria ser um direito de todos.

Embora médicos percebessem a droga como de grande assistência, nem todos concordavam
quanto ao seu uso indiscriminado. Dr. Janiger, ao contrário do Dr. Leary, não acreditava que o
LSD deveria ser tomado por qualquer um, e que pessoas extremamente desequilibradas
poderiam perder a total noção entre realidade e sonho. Mas o próprio Timothy Leary tinha
consciência da necessidade de uma educação prévia ao uso. Quando foi levado a falar diante
do congresso americano, explicou que o governo precisaria estabelecer normas e
procedimentos, antes de permitir a um cidadão poder consumir a droga livremente. Leary
comparava sua proposta com uma carteira de habilitação em que, da mesma maneira que um
cidadão precisa fazer uma prova antes de poder dirigir um automóvel, assim ele teria que fazer
uma preparação antes de tomar LSD. As idéias de Leary foram ignoradas.

Timothy Leary Desobedece

Dr. Leary e seu colega Dr. Richard Alpert passam a falar abertamente sobre o ácido. Ao
oferecer a droga para um dos estudantes, Dr. Alpert é sumariamente dispensado de Harvard
em 1963, com Dr. Leary pedindo demissão em protesto e em apoio ao colega. A partir deste
momento, Timothy Leary rompe de vez com sua pacata vida formal, na qual obedecia as regras
do sistema de terno e gravata como vinha fazendo em seus já quarenta anos.

Leary passou a oferecer LSD para músicos que tocavam no circuito jazz de Nova York; jazz
sendo a música dos beatnicks e do público alternativo. Gente como Theolonius Monk, Dizzy
Gillespie e John Coltrane, foram os primeiros entre todos a experimentarem a droga na área
musical, entregue em primeira mão por Timothy Leary em pessoa. John Coltrane teria dito que
pela primeira vez ele percebeu a relação intrínseca entre todos os seres vivos deste planeta.
A dupla Leary e Alpert une-se então a diversos escritores beatnick como Allen Ginsburg,
Lawrence Ferlinghetti e Gary Snyderem indo então para a costa oeste americana. Este grupo
de pessoas conheciam tantas pessoas ao redor do mundo, que um número cada vez maior de
intelectuais do primeiro mundo estavam informados da existência desta droga que libera a
mente permitindo explorar o mundo por outro prisma.

Ken Kesey & The Merry Pranksters

Ken Kesey, que escreveria "One Flew Over The Cuckoo's Nest" (O Estranho No Ninho),
enquanto ainda um universitário, aceitou ser cobaia em experiências com a droga. Depois de
ser informado por Ginsberg que estas experiências eram orquestradas pela CIA, e que a
agência de espionagem estava testando-a para o uso militar, pretendendo inclusive restringir
ou até proibir o uso público da droga, Kesey considera a agência inadequada para tratar com a
substância. Ele então resolve se tornar também um divulgador da droga.

Para isto, ele tem como idéia, viajar de ônibus com seus amigos, estes passando a serem
conhecidos como the Merry Pranksters (Alegres Brincalhões), e atravessaram o país
promovendo e oferecendo a droga, onde quer que estivessem. Alugaram então um ônibus,
escrevendo ADIANTE naquele espaçozinho designado para o destino, e durante a odisséia
Kesey apresentou LSD para mais gente neste passeio do que Hubbard, Osmond, Leary, Alpert
ou a CIA teriam conseguindo em dez anos.

San Francisco, 1965

Agora em 1965, Ken Kesey e os Merry Pranksters estavam novamente em San Francisco,
dando varias reuniões, na prática grandes festas chamadas "Happenings", onde o ponche
invariavelmente estava aditivado com LSD. Debatiam e promoviam a droga que expande a
mente humana. Tocavam música bem alta, faziam brincadeiras utilizando luz, como também
realizavam diversos jogos complexos, visando a educação e entretenimento geral. Os jogos e
brincadeiras passaram a ser chamadas por Kesey de Acid Tests. Foi numa destas festas, que
Brian Jones compareceu. Dentro de poucos meses nasceria Acid Rock e a Revolução
Psicodélica.

O LSD só seria considerado ilegal em outubro de 1966. Inicialmente apenas no estado da


Califórnia, depois em todo o país. Com isto, a droga, embora fácil de se encontrar no mercado
negro, passou a ser impossível de se obter pelos médicos e cientistas para continuarem com
seus estudos. Assim, toda pesquisa sobre a mente humana e como LSD poderia ajudar a curar
doenças psíquicas, foram interrompidos e sumariamente encerrados. Depois disto, Dr. Richard
Alpert preferiu seguir para a Índia, onde conheceu um guru, aprendeu a meditar, e passou a se
chamar Baba Ram Dass. Dr. Timothy Leary preferiu uma conduta mais ativista, permanecendo
por mais tempo nos Estados Unidos.

Leary, cada vez mais público quanto à droga, declararia que sua viagem de ácido foi a maior
experiência religiosa que já teve, do tipo capaz de modificar um homem completamente,
eternamente. Torna-se um ativista em defesa do LSD e com seu dom nato de orador, cunha o
slogan "Turn on, tune in, drop out" ou seja, "Se liga, se sintonize, e pula fora". O sistema a se
pular fora, neste caso é o sistema educacional, que ainda condicionava excessivamente a
mente dos alunos a aceitar o pensamento ortodoxo, propositadamente inibindo o pensamento
livre e conclusões próprias.

Leary ao pregar a droga como um instrumento para a mudança de toda a estrutura política,
religiosa e social dentro dos Estados Unidos, só agrava sua relação com o governo e
autoridades. Logo, ele será classificado pela FBI e a CIA como o homem mais perigoso da
América. Leary retrucaria apenas que LSD é menos perigoso do que televisão a cores. Até o
final da década, ele seria preso, mas conseguiria fugir da cadeia e do país.

O LSD teria uma profunda influência na música das pessoas que utilizaram a droga. Os Stones
iriam lucrar inicialmente com suas experiências psicodélicas, mas no caso de Brian, seu estado
psíquico instável só viria a dar uma guinada para pior. Como Brian Jones, outras pessoas
perderiam até certo ponto, uma melhor noção da realidade. Dois casos mais conhecidos são de
Syd Barret que teria que ser substituído no Pink Floyd e Brian Wilson que igualmente se
afastaria, cada vez mais, de suas obrigações com os Beach Boys. Mas isto já é muito adiante.
Voltemos a dezembro de 1965.

Dezembro

Mick e Keith estão curtindo basicamente a maconha, Bill passa o seu tempo com mulheres e
Charlie se mantém essencialmente o careta de plantão. Ainda em dezembro, Charlie Watts
consegue publicar o seu livro "Ode to A High Flying Bird" que ele havia escrito em 1961. O livro
é sobre a vida de Charlie Parker, apresentando o músico para um público infantil.

A renda desta excursão americana ficaria presa por ordem da corte suprema pois Allen Klein
havia contratado os serviços de outra agência na organização da excursão enquanto a banda
estava presa sob contrato, com uma agência assinada durante a época de Eric Easton. O
prejuízo quem pagaria seria a banda. Quando o dinheiro é finalmente liberado, a parte que
cabe aos Stones, cerca de $214.150,00, continuaria preso na conta de Allen Klein, problema
que terá futuros desdobramentos.

A banda permaneceria por um tempo em Los Angeles, cada um em um hotel diferente.


Aproveitariam a estada para gravar mais material. Sessões incluiriam "Mother's Little Helper",
"Sittin' On A Fence", e "Goin' Home" que tem o seu tempo de execução indo para doze minutos
porque embora a banda se entreolhasse aguardando um sinal para parar, Charlie continuava
tocando e mesmo com Keith jogando seu casaco no baterista, este curtindo o som, continuou
tocando. Nestas faixas temos Charlie tocando congas, bongos, pratos tipani e um bumbo de
maior espessura que o normal. Brian experimenta o som do cravo enquanto Stu se incumbia do
piano e Jack Nitzsche ficava no órgão.

Charlie e Bill voltam para Londres para se encontrarem com suas respectivas esposas. Keith e
mais dois da equipe técnica, Ronnie Schneider, sobrinho de Klein e Gered Mankowitz, fotógrafo
oficial da excursão, foram para uma fazenda em Phonix. Passaram um fim-de-semana a cavalo
seguindo trilhas em meio às Montanhas McDowell.

Chrissie e Anita se reencontram respectivamente com Mick e Brian em Los Angeles. Mick e
Chrissie seguiriam então para a Jamaica enquanto Brian e Anita iam para as Ilhas Virgens, e
depois a Nova York. O casal é alvo dos fotógrafos e revistas de fofocas, ambos adorando o
status e a atenção dispensada. Dylan ao encontrá-los se irritara com o amigo que mais parecia
um manequim, pra cima e pra baixo de limousine. Dylan passaria a provocá-lo, "Como vai sua
paranóia? Lá vai o pop star de limousine!" Brian ficou ofendido e magoado mas nada
respondeu.

Saúde em Declínio

Os excessos de Brian estavam preocupando todos. Ele se mudara para Elm Park Lane e
contratara Dave Thompson como um assistente geral, morando na casa. Durante as últimas
excursões, sua bebedeira era em média de uma garrafa e meia de whiskey por dia.

Charlie estava preocupado com a noticia que ele ouviu de que o médico de Brian lhe dera mais
um ou dois anos de vida caso seus modos etílicos não mudem. Brian por sua vez, apenas
arrumaria outro médico. Um que lhe fornecia amyl nitre, também conhecidos como "poppies".
Poppies são inalantes vaso dilatadores, de ação instantânea, porém de curta duração. O efeito
é o equivalente ao lança perfume.

Além da bebida, as anfetaminas diárias estavam deixando Brian esbranquiçado e com


tremedeiras. Um corpo jovem se recupera rápido dos abusos da noite anterior, mas o corpo de
Brian já está surrado apesar da pouca idade. Curiosamente Brian nunca mais pega sua guitarra
ou violão quando está em casa. Ele teme pegar o instrumento, criar algo bom e ter que
enfrentar a realidade de que ninguém o deixaria gravá-lo. Sua participação era meramente na
esfera de contribuições de idéias para músicas trazidas por Mick e Keith. Ninguém o leva mais
a sério e a falta de encorajamento chegou a um ponto de que nem ele mesmo conseguia mais
se levar a sério. Brian passa a namorar uma francesa chamada Zou-Zou, que logo viria a morar
com ele.

Ano Novo, Carro Novo

Brian comenta que se identifica com o seu grupo, no entanto a imagem de sujo não lhe agrada.
Para pontuar a contradição da imagem e ao mesmo tempo a realçando, Brian compra um Rolls
Royce, um dos maiores símbolos da mentalidade capitalista, com uma placa 666. Bill Wyman
por sua vez, tira carteira e compra um MGB. Ele compraria ainda um Morris Minor 1000 e um
Mercedes Benz. Keith também tentaria tirar carteira mas acabaria não passando na prova.
Compra assim mesmo um Bentley 53 Continental azul e contrata Tom Keylock, empregado da
Rolling Stones Ltda., como chofer particular. Keylock também viria a se tornar seu guarda
costas particular.

Os Pontos de Encontro

Dentro do círculo de amigos dos Rolling Stones, haviam pontos de encontro onde as pessoas
podiam aparecer, acender um baseado, e ninguém faria cara feia. Entre 1965 e 1966, estes
lugares eram geralmente nas residências de John Dunbar, Barry Miles, Robert Frazer, Paul
McCartney, e evidentemente, Brian Jones. Entre os amigos, geralmente estavam alguns
membros dos Stones, dos Beatles, dos Animals, e dos Hollies. George Harrison e Brian Jones
acabam por estreitarem a amizade durante este período, atraídos um pouco pela similaridade
de seus papéis musicais. Afinal, ambos são guitarristas líderes das duas bandas mais
populares do mundo, como também ambos buscam um espaço criativo dentro de suas
respectivas bandas e tê-lo reconhecido pelos demais membros de seu grupo. Apenas George
encontrava um acesso, mesmo que limitado, dentro dos Beatles enquanto Brian não tinha
incentivo algum dentro dos Rolling Stones.

Quando Brian ficava excessivamente deprimido, visitava George mesmo em altas horas da
noite. Harrison em sua infinita paciência procurava ser companhia. Era óbvio para George que
o maior problema de Brian era lidar com o fato de que Mick Jagger teria sempre mais atenção
do que ele aos olhos da mídia. Certamente a banda sabia de sua importância dentro do grupo,
especialmente pela sua habilidade de aprender e dominar vários tipos de instrumentos
diferentes, dando assim cores e texturas sonoras exclusivas aos Rolling Stones. Em uma
dessas visitas, George entrega sua cítara a Brian e lhe ensina os fundamentos do instrumento.
Não demorou mais que alguns minutos e Brian estava tirando um som com a cítara, um
instrumento conhecido por sua complexidade.

O julgamento no caso de pensão alimentícia e ajuda geral nas despesas com seu filho Mark
Julian Jones, chega a uma conclusão. Acusado de ser um milionário pelo advogado de Pat
Andrews, mãe do menino, e negligente com seu filho, já com quatro anos de idade, o veredicto
sentenciou Brian a pagar £2.10s por semana além de £60 de despesas legais. Brian Jones,
covardemente sequer compareceu ao tribunal, mandando apenas um advogado.

A Caminho da Austrália

Com o lançamento de 19th Nervous Breakdown, está na hora de voltar a excursionar.


Começam por Australia via América parando em Nova York para participar do Ed Sullivan
Show, inaugurando a primeira transmissão a cores na televisão americana. Apresentam
Satisfaction, 19th Nervous Breakdown e As Tears Go By, este ultimo só com Mick e Keith. A
canção contribui para a aceitação da banda por gente que normalmente odiaria a música dos
Stones. A gravação em disco oferece apenas Mick Jagger e o Andrew Oldham Orchestra.
Parte da crítica considerou a versão como sendo Mick Jagger tentando copiar Paul McCartney
em Yesterday.

Na Austrália, Bill Wyman descobre através de algumas amigas, que ele havia engravidado uma
menina no ano anterior e ela se mudara para a Nova Zelândia. A garota nunca o procurou e ele
somente sabe que ela teve uma menina.
Na volta passam nove dias em Los Angeles, dos quais quatro gravando. Novamente é Bill
Wyman e Brian Jones que podem contar as maiores vantagens sobre suas atividades sexuais.
Brian chegava a dormir com três meninas de uma vez, proeza que Bill quase consegue igualar
em uma ocasião.

Aftermath

Quando deixam Los Angeles, gravam cerca de vinte canções, todas Jagger-Richard. Este lote
é seguramente o melhor que a banda já tenha feito e até Andrew elogiava abertamente o
trabalho de Brian. Com canções como "Paint It Black" e "Lady Jane", a marca sonora de Brian
Jones está por todo o trabalho transformando temas comuns em obras distintas.

Seu papel nos Stones era visivelmente o mais abrangente de todos. Se Jagger era a voz e a
excitação sexual, Keith a energia pulsante, Bill e Charlie o ritmo firme e forte, ao mesmo tempo
que sutil e com swing, Brian usava todos os instrumentos disponíveis para criar a harmonia ao
redor do rítmo.

Nos discos, Brian tocava a guitarra, gaita, piano, órgão, mellotron, dulcimer, cítara, flautas,
percussões e praticamente qualquer coisa que ele encontrasse para tirar um som. Ele
executava notas secundárias, dando ênfase aos harmônicos naturais acima e abaixo das notas
principais e assim, dava aos Stones a grandiosidade sinfônica de uma orquestra de rhythm &
blues. Era este som que colocava os Stones à frente dos outros grupos musicalmente.

O disco, intitulado de Aftermath, que por definição quer dizer "Resultante", é exatamente isto; o
resultante de uma banda sempre encarando a vida na estrada, e atingindo o ápice de seu
potencial musical no processo. Canções como "Stupid Girl", falam das "princesinhas de papai"
que desfilam bem mas com mentalidades pouco produtivas. "Mother's Little Helper" critica os
adultos por censurar o uso de drogas enquanto eles mesmos estão abusando no uso de suas
medicações. "Paint It Black" seria um dos favoritos entre os soldados americanos em Vietnã, se
tornando a canção mais tocada pela rádio do exército, ultrapassando "We've Got To Get Out Of
This Place" dos Animals, do ano anterior. E "Lady Jane" uma canção sinalizando as relações
amigáveis dos Stones, mormente Mick Jagger, com a aristocracia. Oficialmente a canção é
apresentada como sendo sobre uma carta do Rei Henrique VIII para Jane Seymour falando do
fim de sua relação com Anne Boleyn. Para Chrissie, Mick disse que escreveu a canção
pensando nela. Lady Jane Ormsby-Gore, filha de Lord Harlech, tem lá seus motivos para
acreditar que a canção é para ela.

Este é o primeiro álbum da banda só com repertório da dupla Jagger-Richard e cobrindo


musicalmente uma gama variada de sons graças ao trabalho de Brian Jones. O disco reafirma
o status de Brian como gênio musical da banda aos olhos de outros músicos que não o
conheciam melhor. Ele passaria a receber em sua casa a companhia de gente como Steve
Winwood e Spencer Davis que queriam conhecer o dulcimer que ele havia usado em Lady
Jane.

Brian, como muitos músicos no ano de 1966 estava tomando ácido todo dia. Acreditava que
LSD iria libertar a música que estava presa em seu cérebro. Isto é um assunto antigo na psique
deste sujeito frágil e paranóico. Desde adolescente, ainda um jazzista no saxofone, Brian
sempre se sentiu frustrado por jamais conseguir executar música no mesmo nível que ouvia em
sua cabeça. Ainda em Edith Grove, residência que dividiu com Mick e Keith, era ele quem mais
se lamuriava em dúvidas se valia a pena continuar no ramo. Quem mais precisava de
reafirmação e conforto dos amigos, mesmo sendo de longe o melhor músico. Brian conseguia
ouvir essa música presa na sua mente mais clara sob efeito do ácido e graças à sua relação
com a droga, passava novamente a se enfiar no seu estúdio caseiro, tocando e gravando
música.

Até um certo ponto, ácido foi bom para Brian, abrindo sua mente para sua própria música que
até ele tomar a droga, estava resistente em explorar. Com ácido, Brian larga as preocupações
de ser um purista de rhythm & blues e começa realmente a explorar sons, fazendo diversas
gravações caseiras.
Keith via que ácido fazia seu amigo viajar alucinadamente e criar boa música e achou tudo
maravilhoso e excitante. Ele também começou a tomar ácido com maior freqüência. Este passa
a ser o elo que traz Brian e Keith a voltarem a unir forças e o resultado mais positivo está por
todo Aftermath. Keith inconscientemente age como o pêndulo do poder dentro dos Rolling
Stones. Com quem está a aliança de Keith, este tem o poder sobre a banda. Mick agora está
de fora. Brian e Keith fazem piadas de Mick e passam a tratá-lo apenas por Jagger,
propositadamente não usando seu primeiro nome. Brian também cunha o apelido sarcástico "o
velho lábios de borracha" Jagger. Os dois passam a levar som, tomar ácido, e fumar muita
maconha juntos. O grande público é claro, ainda não tem a menor idéia do papel que
narcóticos estavam tendo nas vidas destas celebridades.

Brian & Anita

Em Maio, Anita, que estava desfilando em Paris, termina o seu trabalho, e aceita em seguida
um convite para trabalhar em Londres. Chegando na Inglaterra ela imediatamente procura por
Brian. Seu relacionamento com Zou-Zou já estava estagnando e ele aproveita a volta de Anita
para encerrar a relação. Zou-Zou volta a Paris enquanto Anita e Brian começam a namorar
firme.

O casal Brian e Anita, uma vez juntos, começam a se vestir e a usar cortes de cabelos iguais,
aparentemente tentando ficar idênticos, como que se tornando um. Começam a trocar peças
de roupas, logo Brian está explorando cores e tecidos. Sempre o primeiro, Brian passa a se
vestir com roupas extravagantes, combinando cores berrantes, com sóbrias, tecidos finos com
jeans e peles, mesclando ocidente com oriente e fazendo uso de ornamentos como jóias e
chapeus. Outros famosos seguem seu exemplo e logo toda uma moda de cor e estilo
repercutia por Londres e depois pelo mundo afora. Brian, influenciado em parte por Anita,
passa a ter cada vez maior interesse em assuntos como ufologia, misticismo e satanismo.
Ciências ocultas fascinavam Anita e ela passaria a devorar livros sobre o assunto.

Socializando

Os Stones passam a freqüentar cada vez mais festas e recepções promovidas pela
aristocracia. Afinal os filhos destes são todos da mesma geração e assim sendo, também
influenciados pela música de grupos como os Beatles e os Rolling Stones. Brian tem entre seus
maiores amigos deste período Tara Browne, herdeiro da família da cervejaria irlandesa
Guinness. Tara, que havia recentemente se separado de sua esposa Nikki, está tristonho e
passa quase todo dia na casa de Brian.

Certa tarde, os dois fumando após tomar um acido, Brian expõe suas diferenças em relação a
sua ambição e a de Jagger. Confessa que o sucesso, e o dinheiro que vem atrelado, lhe
interessa e muito, porém ele perguntava, "Que diferença faz ganhar um milhão para sermos os
primeiros, porém comprometendo a qualidade da nossa música no processo, ou ganhar meio
milhão para sermos o segundo melhor, podendo continuar íntegros?" Ele confirma que odeia a
direção musical que a banda segue, queixando-se que Oldham e Jagger estão transformando
uma banda que tocava blues e r&b autêntico, em pastiche pop em troca do super estrelato.

O relacionamento entre Bill e Diane Wyman está cada vez mais frio. Bill começa a freqüentar
os clubes noturnos, mormente o Scotch of St. James, onde passa a socializar com
freqüentadores mais assíduos como Keith Moon, Paul McCartney, Kenny Lynch (cantor) e
Harry Rowler (ator), Tara Browne, Chas Chandler e Dave Rowberry (Animals). Bill é encontrado
sempre na companhia de sua amante Doreen Samuels, com quem vem mantendo um caso
desde o ano anterior.

Por volta da mesma época, o escritório da Rolling Stones procura Bill sobre uma menina que
alega ter dado a luz a um filho seu. Por manter anotações de tudo que lhe acontece enquanto
na estrada, ele foi capaz de provar que as contas da menina tinham um erro de dois meses e a
guria não levou a questão adiante.

The Robert Frazer Gallery


Robert Frazer era dono de uma galeria de arte na Duke Street em Mayfair que ele abriu em
1962. Seu gosto por arte era direcionado para artistas que aceitavam riscos e tentavam algo
extravagante. Sua galeria apresentava exibições de artistas como Bridget Riley, Peter Blake,
Yves Klein e Clive Baker, dando a primeira oportunidade para uma exibição inglesa para vários
destes americanos.

Seu bom gosto e sua credibilidade foram a iniciação de muita gente importante em Londres
para arte avant-garde. Em uma era que a maioria dos donos de galerias de arte eram de meia
idade, Robert era jovem, era "hip", falava a linguagem dos novos ricos e fumava maconha com
eles. Assim, os milionários emergentes confiavam nele por sua boa reputação, e sua galeria
entrava em ascensão, embora ele mesmo não ter freios quanto a gastar dinheiro.
Especialmente se tratando de sustentar os seus vícios.

Entre seus talentos pessoais, havia o de poder entreter simultaneamente visitas heterogêneas,
sabendo colocar pessoas diferentes a se conhecerem. Através de Robert Frazer, os Rolling
Stones conheceram em um ambiente descontraído, gente como Andy Warhol, Peter Blake,
Richard Hamilton, Michael Cooper, Tony Sanchez e Christopher Gibbs. Através de Robert
também conheceram cocaína e heroína.

Liberdade de Expressão

É importante tentar se transportar para os valores da época. Lembrando um pouco sobre o que
foi dito no primeiro parágrafo da primeira pagina desta história, que trata do distanciamento
entre a geração daquele período e a geração de seus pais. Havia notadamente uma atitude de
Nós contra Eles. Com a Guerra Fria mostrando os seus dentes cada vez mais afiados, toda
uma geração de baby boom estavam prontos para exercerem seus ideais políticos que giravam
em torno do conceito de derrubar tudo e refazer do zero.

Praticamente nenhum dos valores instituídos pela sociedade vigente eram inteiramente
respeitados e os contestadores de então acreditavam que desafiar a figura da autoridade era
um caminho para alterar estas instituições e suas políticas. Assim para os sixties, a busca por
justiça social era praticamente uma extensão da busca de autenticidade pessoal. Isto nos leva
a outra afirmação. Preocupações com libertação psíquica eram tão importantes quanto
assuntos político-econômicos. Sim, pois, assim como uma pessoa que machuca uma perna,
passando um longo período enfaixado, tende a mancar, mesmo depois de estar clinicamente
curado, as pessoas também ficam com uma dificuldade de exercer sua liberdade de expressão
depois de anos de uma ditadura de comportamento. Simplesmente por estarem mentalmente
atrofiados para o exercício da liberdade.

A ditadura neste caso não é de um governo militar, mas de uma mentalidade que enxerga
somente um padrão de comportamento social plausível, relegando o diferente a categoria de
maligno ou aberração. A geração dos sixties, entre outras coisas, foi uma geração que assumiu
a postura de confronto a este raciocínio. A vantagem numérica, embora ainda não evidenciada,
lhe facilitou nestes propósitos. Para reforçar a imagem de uma libertação de mentalidade da
geração pregressa, mudam-se as roupas, a linguagem e os hábitos. Universitários seguidos
depois por toda uma legião de jovens, passaram a adotar códigos e éticas onde se poderia
definir que lado da cerca social uma pessoa estava, através do que se vestia, que tipo de
música escutava e como usava o seu cabelo, onde o comprimento escolhido era uma forma
ativa de se expressar.

Distanciam-se da gomalina dos anos cinqüenta, quando rebeldia juvenil se mostrava fumando
cigarro escondido. Agora desafia-se autoridades optando por fumar maconha no lugar de
cigarro e depois haxixe em narguilés no lugar de tabaco em cachimbos. Em suma, optar por
tomar drogas seria rapidamente associado ao posicionamento politico de se dizer NÃO para
um sistema vigente autoritário e limitador. Evidentemente que o abuso tóxico em dois ou três
anos já deixaria suas vítimas, mas dentro da gradual elevação de consumo de substâncias
químicas, aproximadamente entre os anos de '65 à '68, havia implicitamente uma consciência
geral (em maior ou menor escala, dependendo sempre do indivíduo), de estar-se exercendo
uma opção política de desobediência civil.
The Indica Books And Gallery

Em Maio de 1966, iria abrir outra galeria que faria fama e se tornaria ponto de encontro da nova
aristocracia londrina. Em 1963, John Dunbar e seus amigos, Paolo Lionni e Barry Miles, todos
vestidos de preto, típica cor dos existencialistas, boêmios e beatnicks, sorviam um expresso e
ouviam bee-bop jazz em algum café em Chelsea. Lá, concatenavam entre citações de
Nietzsche, Zen e Jung, um futuro liberal.

De boa aparência e modos elegantes, John Dunbar rapidamente fez amizades com outros
intelectuais e jovens da aristocracia inglesa. John conheceu Peter Asher através de sua irmã
Jenny Dunbar que namorava Gordon Waller, parceiro de Peter da dupla Peter & Gordon. Peter
Asher seria seu benfeitor ao levantar o dinheiro e ser um dos sócios em um projeto que ele
dividia com seu amigo Barry Miles. Assim o trio forma a firma MAD Ltda. (Miles, Asher &
Dunbar).

The Indica Gallery, seria um misto de loja de livros no primeiro andar e galeria de arte no sótão.
O local promovia literatura alternativa e arte moderna, se tornando rapidamente respeitado
entre jovens de posse e cultura, como um ponto de encontro para conversas intelectualmente
instigantes.

Seria freqüentado por pessoas como Paul McCartney, Mark Feld (que no futuro seria
conhecido pelo nome de Marc Bolan), Donovan, John Mayall e Peter Brown, entre outros.
Paolo Lionni conhecia Gregory Corso, que traria para o circulo outros eruditos da Beat
Generation, tais como Allen Ginsberg e Lawrence Ferlinghetti, todos beatnicks americanos que
passavam o ano na Inglaterra.

Seria na sua livraria que John Lennon procurando por algo de Nietzche, acabaria encontrando
o livro "The Psychedelic Experience" de Timothy Leary. Ao folheá-lo, logo uma frase lhe chama
atenção: "Whenever in doubt, turn on your mind, relax and float downstream." A frase renderia
inspiração para a canção "Tomorrow Never Knows". É também em 1966 na Indica Gallery que
Lennon atenderia a pré-estréia da exibição de uma talentosa e respeitada artista avant-garde
japonesa, chamada Yoko Ono. Deste encontro, iniciaria a amizade que se transformaria em um
novo ciclo, com uma nova postura artística e política por parte de Lennon. Mas isto é outra
historia.

Depois do Expediente

Com tantos Beatnicks aportando na Indica, o que acabava acontecendo é que depois do
expediente, todo mundo ia para a casa de Dunbar fumar. Mas os Beats já havia décadas,
faziam uso de substâncias químicas injetáveis, passando a ser coisa corriqueira vê-los se
aplicando na sala. Cocaína, morfina e heroína ainda eram legalmente vendidos nas farmácias
inglesas com prescrição médica, uma das razões pela repentina migração de Beats da América
para Inglaterra. John Dunbar passaria a se aplicar com morfina antes e depois do expediente.
Robert Frazer, que faz parte do mesmo círculo de amigos, é outro que rapidamente se
interessou por cocaína, passando a enaltecer o seu poder de aguçar a lucidez, permitindo uma
pessoa a focalizar um assunto e discursar sobre ele sem se enrolar nas idéias. Afinal como
Frazer lembraria, não é a toa que Sigmund Freud usava a droga.

De fato, na década de noventa, isto é, 1890, cocaína se tornou uma mania na sociedade
européia, onde se podia comprar bombons, cigarros e até pomada contendo-o. O refrigerante
Coca-Cola nasceu neste período e de fato tinha na sua formula, cocaína, eis a origem do seu
nome. Depois que uma serie de crimes acabaram sendo associados à droga, cocaína acabou
tendo sua venda sem receita proibida, a partir de 1906. Cocaína voltou a ter um auge na
Alemanha decadente pós Primeira Guerra Mundial e se fala, embora não se confirme, que os
líderes do partido Nazista, Hitler inclusive, faziam uso do pó.

Instigado pela curiosidade e satisfeitos com os novos mundos que descobriram com ácido, logo
Brian, Keith, e dezenas de outros artistas amigos neste circulo, estavam cheirando cocaína.

Chichester
Keith compra em leilão, uma casa de campo, a sul de Chichester em West Sussex. A casa é na
verdade um amplo terreno, digno a ser chamado de fazenda, completo com um açude Saxão
ao redor da propriedade. O local é conhecido por Redlands. A casa supostamente pertencia ao
Bispo de Chichester e foi comprado por Keith por £17.750. A casa seria testemunho de
diversas histórias célebres que se tornaram parte do mito dos Rolling Stones.

A banda faz uma série de shows pela Europa, tocando na Holanda, Bélgica, França, Suécia e
Dinamarca. Em todos houveram problemas. O repertório é "The Last Time", "Mercy, Mercy",
"She Said Yeah", "Play With Fire", "Not fade Away", "The Spider And The Fly", "Time Is On My
Side", "19th Nervous Breakdown", "Get Off My Cloud", "I'm Alright" e "Satisfaction". Dezenas de
pessoas foram presas, onde ocorreram diversas brigas entre o público, destes o pior sendo no
primeiro show na Holanda, onde o show não pôde continuar.

França

Em Marselha, alguém jogou um pedaço de uma cadeira no palco acertando Mick Jagger no
olho direito, no meio da última canção, Satisfaction. Ele seria levado para o hospital onde
tomaria seis pontos. A lembrança mais marcante de Jagger de todo o incidente, foi de ter visto
um rato gigantesco correndo no corredor do hospital. Seu olho continuou fechado por um
tempo e Mick ficou um pouco inquieto, mas no dia seguinte ele e a banda estavam tocando
para 4.000 pessoas em Lyon.

Em Paris são avisados que Brigitte Bardot quer conhecê-los e todos estavam nervosos em sua
presença. Um dos maiores símbolos sexuais da década, Bardot convida a banda a participar
do seu próximo filme " À Coeur Joie" (titulo em inglês, Two Weeks In September), mas o
escritório não entrou em um acordo preferindo apostar em um filme exclusivo dos Stones que
acabou nunca acontecendo. De quebra, Bill quase é atropelado ao atravessar a rua olhando
para a direção errada (mal de inglês).

Bill e Doreen mais Brian e Anita permanecem em Paris enquanto os demais voltam para
Londres. Vão assistir uma apresentação do The Yardbirds e The Who no La Locomotive Club,
e são quase soterrados por fãs querendo autógrafos. Enquanto isto em Londres, Mick Jagger e
Jack Nitzsche foram assistir The Troggs.

Dinheiro e Klein

Estava óbvio que o dinheiro que a banda arrecadava não estava entrando nas contas
individuais de cada membro. Quando alguns membros da banda começam a investigar os
caminhos feitos pelo dinheiro de shows, logo se constata que independente de onde vem a
arrecadação, o dinheiro precisa primeiro ir para a conta de Klein em Nova York antes de algum
dia chegar a eles. Apesar disto, a banda continua gastando.

Mick compra um Aston Martin DB6 azul marinho com vidros elétricos, novidade no mercado.
Pouco depois ele se muda para Regent's Park. Este dinheiro como também o dinheiro da
compra de Redlands vem de Klein. Mas esta soma, fruto do lucro da excursão americana, é na
verdade repassada à banda em forma de empréstimo. Levaria um bom tempo até os
envolvidos se conscientizarem de que Klein estava oferecendo-lhes um empréstimo, usando o
dinheiro deles mesmo.

Bill compra uma residência nova para os seus pais em Beckenham por £7.750, Klein liberando
dinheiro também para Bill e Charlie. Allen Klein então compra uma parte da MGM Records,
supostamente por um milhão de libras esterlinas, como também os direitos para o livro "Only
Lovers Left Alive" de David Wallis, do qual sairia o roteiro para o primeiro filme dos Rolling
Stones. A historia é sobre um levante imaginário e a conseqüente conquista da Inglaterra pela
população jovem. Os adultos cometem suicídio e os jovens transformam Grã Bretanha em uma
selva fascista. Falava-se em filmagens iniciarem em Agosto.

Relacionamentos em Declínio – Chrissie


Chrissie e Mick estão rotineiramente se desentendendo, Chrissie chamando Mick de pop star e
posseur. A verdade é que Mick tem o dinheiro, tem os convites e quer tirar o máximo possível
de sua ascendência social. Em casa, Mick foge de sua rotina com Chrissie fumando muita
maconha. Chrissie não suporta as mudanças nos hábitos de seu namorado a olhos vistos e as
discussões são sempre aos berros. Mick passa a novamente criticá-la por tudo e a rotula de
paranóica cada vez que ela exige que ele explique porque está mudando tanto. Chrissie
coitada, sequer entende direito o conceito de paranóia.

No aniversário de 21 anos de Tara Browne, realizado no castelo de sua família em Luggala, na


Irlanda, Chrissie toma um ácido para tentar participar do mundo do namorado. Mas sua
instabilidade emocional a leva para um bad trip e ela chora vendo os rostos dos convidados
derretendo a sua frente, não entendendo o que se passa. O vexame é mais um pingo no balde
de paciência já cheio do Mick. Os tempos mudaram, mas a Chrissie não. Mick está agora a
procura do novo, e aos poucos, Chrissie e suas brigas tempestuosas, começam a ceder lugar
para uma profunda depressão. Ela não sabe mais como se comunicar com Mick, certamente
xingá-lo não dá mais resultado. Chrissie resolve seus problemas tomando quantidades
constantes de tranqüilizantes.

Depois de três anos consecutivos de constantes viagens, a banda tem quase dois meses para
descansar. Mick Jagger depois de sucessivas viagens de ácido, acaba por ter uma crise de
estafa em junho e é solicitado pelo seu médico muito repouso.

O Duelo Entre Iguais

Depois que Brian passou a morar com Anita, ele parou de freqüentar os clubes à noite e
passou a ser uma figura difícil de achar fora de casa. O casal está constantemente fazendo
amor e experimentando roupas. Os egos estão nas alturas e começam um joguinho insano de
um tentar ser mais bonito do que o outro. O casal quando sai, é tratado com toda atenção, os
"darlings" do momento, o casal mais "hip" de Londres, mais bem vestidos, mais bonitos, e eles
vivem destes elogios, totalmente tomados pela própria importância. A cocaína ajuda a inflar o
ego e o LSD os tira do plano terreno. A realidade fica embaçada em uma névoa púrpura.

Mas Brian tinha um problema com LSD. Sua hiper sensibilidade e constante paranóia ficavam
ainda mais afetados sob efeito do alucinógeno. Assim, enquanto todos viajavam ouvindo vozes
e tendo visões, Brian acreditava nas doideiras e começava a temer os sussurros da parede, e
as cobras nas fiações. Logo ele estava todo apavorado e intimidado em um canto do quarto
acreditando que as paredes e as fiações estavam tramando contra ele. Assim, ele se tornava
um alvo fácil para gozação dos demais presentes. Mas sua instabilidade emocional não lidava
com o criticismo, Brian não suporta ser motivo de chacota.

Andrew Promove

Apesar de Aftermath colocar Brian Jones na boca do povo novamente, Andrew proibia a
imprensa de entrevistá-lo. Entrevistas eram organizadas apenas para Mick e Keith. Brian nem
estava sabendo, nem se interessava mais. Ele, ao lado de Anita, estava em outra. Pode-se
argumentar que a atitude do Andrew era uma forma de atrair Keith de volta para Mick,
mantendo assim a fórmula estável e novamente sobre controle. Andrew montou e gravou um
disco com músicas dos Stones orquestradas, creditando o trabalho ao Keith. Este,
perfeitamente instruído por Andrew, falaria cinicamente que o disco era uma realização de um
antigo sonho.

Os Beach Boys haviam lançado em Abril, um disco chamado Pet Sounds, que marcaria o início
de uma nova era para gravações de discos. Fugindo consideravelmente de sua fórmula
padrão, Brian Wilson, mentor musical da banda e produtor de seus discos, desenvolveu idéias
como de utilizar pequenas distorções, colagens de sons de animais e tirando do baixo a
obrigação de ser um instrumento restrito a reforçar graves mas também podendo proporcionar
melodias. Este fato chamou muita atenção de outro baixista, Paul McCartney para o disco, que
passa a propagar para todos, os valores deste trabalho. Sua admiração era evidentemente
compartilhada por John Lennon e sendo eles a realeza do rock na Inglaterra, a palavra se
espalhou.
O disco Pet Sounds vendeu pouco nos Estados Unidos, demonstrando em reflexão, ser adiante
do seu tempo. Na Inglaterra, a história não estava longe de se repetir. Mas eis que, movido por
pura paixão, Andrew Oldham, sem ter nada a ganhar, investe do seu próprio bolso, em
anúncios de paginas inteiras divulgando o disco nos principais jornais de circulação. O efeito foi
o esperado. Muita gente comprou o disco para saber a razão de tanto alarde e Pet Sounds se
tornou um sucesso de vendas na Inglaterra.

Durante as gravações do futuro disco dos Beatles, Revolver; Brian Jones e Marianne Faithfull
compareceram a uma sessão, acabando por participar com backing vocals. A canção que os
Beatles estavam trabalhando era "Yellow Submarine", uma canção rica em sonoplastia, muito
dentro da proposta iniciada em Pet Sounds. Mick Jagger também veio a comparecer a algumas
sessões de Revolver, assistindo mas não participando. Ele está se aproximando cada vez mais
de Paul McCartney e John Lennon.

América - Verão de '66

Quatorze hotéis recusaram aceitar as reservas dos Rolling Stones, dado as loucuras que
acontecem durante a estada da banda. Klein orienta a banda para processar os
estabelecimentos declarando prejuízo à imagem do grupo. A ação não deu em nada porém
resultou em publicidade. Acabaram permanecendo em vários hotéis da cadeia Holiday Inn,
espalhados pelo país. A excursão, de apenas um mês, se desenrolou bem com um grande
público jovem oferecendo a habitual histeria. Em Lynn, Massachusetts, na última canção,
Satisfaction, o povo avançou e tiveram que ser contidos com gás lacrimogêneo, o que obrigou
a banda também a encerrar o show com a canção pelo meio.

Em Nova York, para a coletiva com a imprensa, alugaram uma barca e nela fizeram as
entrevistas, promovendo a excursão enquanto a nau boiava sobre o Rio Hudson. Por um erro
de organização, nenhum fotógrafo foi convidado para registrar o evento. Por um acaso, a jovem
fotógrafa Linda Eastman, apareceu portando um convite oferecido a outro jornalista. Foi assim
que ela conseguiu seu primeiro trabalho profissional dentro do rock. As fotos que ela tiraria
nesta ocasião, lhe renderiam o emprego de fotógrafa oficial do teatro Fillmore East.

Depois, naquela noite, Mick a levaria para cama e Linda acabaria vendendo a história para uma
revista teen. Em outra ocasião, passando-se quase um ano, Brian Epstein compra uma destas
fotos; a de Mick Jagger sentado de pernas abertas. Epstein gostou tanto da foto que contratou
Linda Eastman como fotógrafa para a festa promocional em sua casa, comemorando o próximo
álbum dos Beatles, Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band.

Linda Keith e Jimmy James

Os Stones se apresentam em Queens, no Forest Hills Tennis Stadium, chegando e partindo de


helicóptero. O estádio estava com apenas um terço da lotação em função dos caríssimos
ingressos que Klein negociou a $5 e $10 dólares cada. Depois de sua apresentação, já de volta
em Manhattan, seguem a sugestão de Linda Keith e vão ao Cafe Wha? em McDougal Street no
Village, para assistirem um show do Jimmy James & the Blue Flames.

Linda Keith que estava trabalhando em Nova York há algum tempo, havia assistido um show
do Curtis Knight no Cheetah Club e ficou impressionada com o seu guitarrista Jimmy James.
Achou inacreditável que um rapaz que ela julgou extremamente talentoso, estaria tocando na
banda de outra pessoa. Depois do show conversou com ele e os dois fizeram uma amizade
forte. Linda, sendo namorada de Keith Richards, tinha muitos contatos no meio musical e
convence James que ela teria como promovê-lo, mas ele precisaria ter uma banda sua.

Assim Jimmy James deixa Curtis Knight e acaba por montar o Blues Flames, conseguindo este
gig no Café Wha?. Jimmy era até então extremamente acanhado para cantar e Linda Keith fez
um pesado trabalho psicológico para convencê-lo a abandonar suas preocupações. Sabendo
da paixão de Jimmy por Bob Dylan, conseguiu mostra-lhe que não era mais preciso ter uma
voz aveluda para cantar e que sentimento era o fator em voga.
Linda então usurpa uma guitarra Stratocaster branca da coleção de Keith Richards e
presenteia Jimmy James com ela. Aproveitando a passagem dos Rolling Stones pela cidade,
ela então consegue atrair a banda e principalmente Andrew Oldham para assistí-lo. De fato,
todos ficaram um tanto impressionados com o talento de Jimmy James, mas Andrew não se
interessou em contratar o músico ou a banda.

Linda sem se dar por vencida, continuaria a tentar apresentar pessoas do meio musical,
convida-los a assistí-lo e, assim, conseguir uma carreira mais solida para seu guitarrista
predileto. Não seria até Julho, quando encontrou com Chas Chadler, por conta da passagem
dos Animals pela cidade, que ela conseguiria realizar seu intento. Chas, recém saído da banda,
estava começando a trabalhar como empresário, e Linda, sabendo disto, comentou sobre este
guitarrista Jimmy James, cuja apresentação chamou tanta a atenção dela quanto a dos Rolling
Stones. Chas acaba por ir assistir o rapaz e impressionado, o convence a ir com ele para
Londres e começar uma nova carreira de lá. Chas também sugere que ele muda o seu nome
artístico de Jimmy James para Jimi Hendrix. O resto desta historia, faz parte de outra historia.

Encerramento na Costa Oeste

Durante a excursão, Brian começa a tomar atitudes estranhas, estando constantemente sob o
efeito de LSD. Passava a pular sobre serpentes que via nos tapetes nos corredores dos hotéis
enquanto os outros músicos se entreolhavam. Porém o destaque de grande susto da turnê foi a
caminho do Hollywood Bowl, quando uma janela do avião racha causando violenta
despressurização. Todos estão com os ouvidos doendo mas a aeronave aterriza com
segurança.

De lá, se apresentam no Havaí com direito a alguns dias de folga em Honolulu Shirley Watts e
Chrissie Shrimpton aterrizam lá e assistem ao show. De volta a Los Angeles, Bill arruma uma
hiponga com quem passa a noite. Na manhã seguinte depois do café da manhã, a menina a
caminho da rua, acaba rebocada no corredor do hotel por Keith. Naquela tarde Diane Wyman
chega de Londres e na manhã seguinte Bill e Keith descobrem que estão com uma doença
venérea. Diane acaba infectada pelo marido, o que se torna a facada final no relacionamento
entre os dois. Passaram a semana tomando injeções de penicilina antes de poderem sair do
país. A banda é levada a uma loja chamada Hollywood Military Hobbies onde os rapazes
compram uniformes, Brian e Keith escolhendo um modelo nazista. Depois voltam para Londres.

Agosto, Mês de Desgosto

Neste período, o comediante Lenny Bruce morre de uma overdose de heroína aos 40 anos de
idade. Há suspeitas de que alguém lhe dera propositadamente uma dose letal. A afirmação do
John Lennon de que os Beatles são mais populares que Jesus Cristo, chega na América fora
de contexto, dando inicio a uma série de queima de discos e Beatle parafernália, lembrando
muito as queimas de livros propostas por Hitler antes da guerra. Por último, Bob Dylan sofre
seu acidente de moto onde ao quebrar o pescoço, por muito, muito pouco não morre. Sua voz
nunca mais será a mesma e sua carreira só volta em 1968. Em Londres, a imprensa passa a
comentar sobre a ausência de Brian Jones e que a dupla Mick Jagger e Keith Richards estão
assumindo cada vez mais, a liderança da banda.

Aproveitando outro mês sem atividades marcadas, cada um cuida de sua vida. Charlie e
Shirley vão para a Grécia. Keith cuida de sua mudança para a casa em Redlands. Bill também
permanece em Londres passando os dias com a família e as noites nas boates. Seu
casamento acabou e ele e Diane já não escondem mais um do outro a falta de interesse pela
relação. Bem inglês, ninguém debate a questão, apenas continuam rotineiramente ocupando o
mesmo espaço, cada um na sua. Vantagens de uma casa grande.

Marrocos

Chegando da América e lendo a história nos jornais sobre seu sumiço, como também sobre a
crescente popularidade da dupla Jagger-Richard, Brian se sente terrivelmente incomodado.
Mick Jagger sendo mais badalado do que ele já é ruim, porém vá lá. Mas agora Keith Richards
também? Ele e Anita, vão para Marrocos, acompanhados do amigo Christopher Gibbs. Lá o
casal, discute aos berros em qualquer local, seja no seu quarto, seja à mesa de um
restaurante. Estão sempre propensos a criar uma cena, parte do egotrip de sempre, querer
aparecer mais do que o outro. Com quase uma semana no local, Brian fecha o punho, gira o
corpo e desfere o golpe para atingi-la e acerta uma janela com enquadramento de ferro maciço,
quebrando a mão. Ele diria que foi um acidente, que escorregara no chuveiro caindo com o
corpo sobre a mão e parte do braço, mas conhecendo Brian, e com a confirmação de
Christopher Gibbs, sabe-se que foi um soco que ele não acertou. Sua mão ficou engessada e
foi assim que ele voltou a Londres.

As Travestis de Park Avenue

No mesmo dia em que ele chega de Tangier, a banda parte de volta para a América. Em Los
Angeles, a tropa que inclui Andrew Oldham e Ian Stewart, grava e mixa o seu próximo
compacto, "Have You Seen Your Mother Baby", voltando então para Londres. Semanas depois,
a banda se reúne novamente para uma apresentação no Ed Sullivan Show. Nesta rápida
passagem em Nova York, a banda se apresenta em playback devido à impossibilidade de Brian
tocar, pois está com a mão enfaixada. Depois vão a Park Avenue onde o fotografo Jerry
Schatzberg prepara as fotos da capa do próximo compacto.

Na primeira série de fotos, a banda está vestida com suas roupas comuns. Desta série vem a
foto que se tornaria a capa da coletânea Big Hits Hide Tide Green Grass. Nas outras, a banda
entra na brincadeira se vestindo de mulheres, cada um ganhando um personagem. Charlie era
Millicent, mais parecendo um travesti velho, Bill se torna Penelope, sentada numa cadeira de
rodas com pernas retorcidas. Mick e Keith eram as duas tias, respectivamente Sarah e Molly.
Brian com uma peruca loira era Flossie, a aeromoça com cara de rameira. Tirada a foto, todos
foram para o bar da esquina tomar umas cervejas e assistir televisão. Para a surpresa de
alguns, em Nova York, ninguém ganhou uma cantada e foram solenemente ignorados,
podendo beber e conversar em paz. Chega a ser irônico se pensar que na Inglaterra dois anos
antes, estavam sendo recusados em bares por serem homens de cabelos compridos.

Courtfield Road

De volta a Londres novamente, Christopher Gibbs encontra um apartamento e insiste com


Anita que ela deva comprar pois seria perfeito para ela e Brian. Anita se apaixona pelo lugar e
convence Brian a alugá-lo. Logo eles estavam se mudando para Courtfield Road em
Kensington. Lá, passariam a viver uma vida de junkie. A casa era decorada com tapetes persas
e cortinas marroquinas.

Cheirando constantemente, a droga oferece excessiva disposição, energia que pode ser
direcionada para intelectualidade, sexualidade ou violência. Cocaína é, mal comparando, como
um relógio de corda. Você dá corda para o relógio funcionar mas se você não parar de dar
corda, a engrenagem não agüenta a pressão e arrebenta. Igualmente se você não parar de
cheirar, você passa de acordado, lúcido e disposto para extremamente eletrizado, tenso e
explosivo. No caso deste casal, vivem com egos inflados e uma doentia necessidade de
disputar belezas e caprichos. Brian tinha mesmo um desequilíbrio qualquer, que era dele já de
muito antes. Com a cocaína, o casal passa a discutir com veemência, geralmente chegando
em seguida a agressões físicas.

Relacionamentos em Declínio – Marianne

Incrível pensar que Marianne Faithfull teria dado trabalho ao ser convencida a ser cantora em
1964. Agora, não consegue se imaginar longe de um estúdio ou dos olhos do público em geral.
Ela adorava ser adorada e tinha o poder de manter a atenção do público somente usando um
violão e sua voz, em contraste a bandas, toda eletrificada.

Seu relacionamento com John Dunbar está desintegrando. A casa dela está sempre entulhada
de beatnick junkies pela sala, com cápsulas usadas de heroína espalhadas pelo chão e a pia
com seringas por lavar. Mas em uma atitude tipicamente machista da época, John não permite
a Marianne participar da socialização intoxicante e ela depois de algum tempo se enche de ser
excluída e resolve sair, passear e passar o tempo com os seus amigos. Ela aturou um ano
deste ambiente, enquanto cuidava de Nicolas bebê, mas chegando do meio pro final do ano,
Marianne sente que precisa sair de casa. Assim, ela passa a ser uma freqüentadora assídua
na casa de Brian Jones. Lá, geralmente ela encontrava além de Brian e Anita, o fotógrafo
Michael Cooper, Robert Frazer, seu amigo Tony Sanchez e Tara Browne.

Depois Keith Richards também passou a praticamente morar na casa com Brian e Anita,
conversando, tomando ácido e fumando maconha ou haxixe o dia inteiro. Além do ácido, estão
aumentando consideravelmente mais o consumo de cocaína. O descontrole sob o pó era tanto
que quando acabava, mesmo que no meio da madrugada, iam para a casa de algum amigo,
para poderem cheirar mais. Conta Tony Sanchez que bateram na sua casa às quatro da
manhã certa vez, e ele foi obrigado a bater umas linhas para Brian, Anita, Keith, Marianne
Faithfull, John Dunbar e um pequeno grupo de amigos dos amigos, como quem prepara o
mingau matutino para crianças esfomeadas.

Pensão

Linda Lawrence ainda não recebera nada da pensão combinada, e no íntimo, ainda não havia
totalmente deixado de sonhar com a possibilidade de uma volta com Brian. Ela passa dias
tentando falar com o pai de seu filho sem conseguir. Finalmente vai até sua casa em Courtfield
Road porém Brian sequer abre a porta para recebê-la. Linda passa então a ficar postada em
frente a uma das janelas com o pequeno Julian Mark no colo, na esperança que Brian sentisse
algum remorso do que estava fazendo. Quando percebe Brian na janela, levanta o menino para
que ele possa ver seu bebê. Mas o casal Brian e Anita ficam da janela rindo dela, Brian
oferecendo caretas (nankers), entre goles de Brandy e beijos ardentes. Para eles, toda a cena
com a Linda chorando angustiada, mostrando o filho da rua e gritando por Brian, mais parecia
algo saído direto de uma novela Mexicana. Como Brian, Anita também tinha um quê de
crueldade.

Depois desta, Linda Lawrence se afastaria da vida de Brian Jones, definitivamente. Acabaria
por se mudar para os Estados Unidos, morando na California por um ano e depois, em 1970
voltaria para Inglaterra. Ela se reencontraria com Donovan Leitch, com quem conheceu e
namorou durante 1967/68. A canção "Sunshine Superman" do cantor fora escrito para ela. Eles
se casariam e teriam uma menina juntos, chamada Astrella. Julian Mark Jones passa a se
chamar Julian Jones Leitch.

Entre Amigos

Marianne que estava sempre indo à casa de Brian como forma de fugir da frustração de seu
casamento, acaba lá sozinha e à toa com ele. Naturalmente Brian dá em cima e Marianne
confessa que nunca soube muito bem como dizer não a ninguém. Pode soar hoje em dia,
excessivamente promíscuo, mas repito, para entender o que se passa no seu devido contexto,
precisa-se lembrar que na década de sessenta, estava-se derrubando as arbitrariedades
sexuais. Dentro de certos círculos, amigos de sexos opostos naturalmente dormiam juntos. Até
certo ponto, seria considerado estranho, amigos não treparem. Passava a ser, em certos
círculos, socialmente questionável recusar um amigo em sua cama. Era uma geração bem
menos presa a protocolos do que as que vieram lhe substituir.

A Última Excursão Britânica da Década

Embora ninguém soubesse, passariam muitos anos antes da banda voltar a montar outra
excursão Britânica. Have You Seen Your Mother Baby é um sucesso por parte da critica mas
só chegou a No.2 nas paradas, possivelmente por causa da capa tendo a banda vestido de
mulheres. A idéia, ao que parece, era revolucionária demais para a época.

Dia 23 de Setembro, a banda inicia sua excursão com um show no Royal Albert Hall. Klein
contratara para abrir o show Ike & Tina Turner, que abrira os seus shows nos Estados Unidos,
e The Yardbirds, com sua mais recente formação tendo Jeff Beck e Jimmy Page nas guitarras.
Os Yardbirds tocavam quase três vezes mais alto do que as demais atrações, porém os Stones
estavam em seu melhor momento até então musicalmente e não tinha a quem temer.
Nesta noite, bastou à banda subir no palco e, enquanto estavam ainda plugando os seus
instrumentos aos amplificadores, a mulherada invadiu repentinamente o palco, pegando os
cinco Stones de surpresa e levando todo mundo pro chão. Stu e mais algumas pessoas
lutaram contra o público para tentar livrar a banda do ataque e com esforço conseguiram voltar
para o vestiário. Depois de quase meia hora negociando com o publico dando garantias
absolutas de que o show não seria realizado se outras invasões daquela natureza
acontecessem, os Stones puderam voltar ao palco e efetivamente começar o show.

A banda gostava de assistir o show de Ike & Tina Turner, Mick e Tina se dando muito bem
rapidamente. Durante a excursão, Tina ensinaria alguns passos de dança para Mick que
apesar das constantes gozações de Brian e Keith, e com muito esforço de sua parte,
aprenderia a gingar o corpo em sincronia com as pernas, utilizando este conhecimento durante
o restante de sua carreira.

Polanski e o Santo Gral

Em Bristol, Brian e Keith convidam Marianne Faithfull a assistir o show. Apesar dela já
conhecer Brian e Keith muito bem e Mick de passagem, ela nunca havia assistido um show dos
Rolling Stones. Quando a banda entra em cena e o público vai a loucura, Marianne fica
impressionada, nunca tendo visto tamanha reação antes. Ela fica especialmente admirada com
Mick Jagger que sozinho pilota o show. Afinal, com tamanha algazarra, ninguém está
realmente ouvindo o que a banda está tocando. As atenções estão todas sobre Mick e ele
encara a incumbência com admirável mestria.

Depois do show Michael Cooper convida Marianne a seguir com a tropa até o hotel. Lá, ele iria
apresentar com exclusividade o filme em que está trabalhando com Roman Polanski, chamado
"Repulsion". Cooper estava doido para dormir com Marianne e sabia que esta era sua melhor
chance, preparando o bote com jeito e paciência. Mas enquanto ele estava cuidando dos
projetores, Mick logo se sentou ao lado de Marianne e um certo magnetismo era visível.
Michael não teve nenhuma ilusão, percebendo logo que sua armação havia melado.

De fato, Mick e Marianne acabariam saindo depois para conversar. Marianne, que não
conhecia Mick realmente bem, em seu jeito meio romântica de menina, começou a lhe fazer
perguntas sobre Rei Artur e o Santo Gral. Mick que tinha alguma noção do assunto e sabendo
onde isto iria dar, foi respondendo suas perguntas e deixando ela o argüir. No final, ao nascer
do sol, foram dormir juntos, e era isto que lhe importava.

Brian, Keith & Marianne

Marianne viajou então para a França com o filho, a babá e uma amiga. Ao retornar, como era
de seu costume, ligou para Brian que insiste que ela venha lhe ver. Marianne encontra ao
chegar, apenas ele, Keith Richards e Tara Browne; nenhuma outra mulher presente. Tomaram
um ácido juntos e Brian foi logo pegando-a pela mão e levando-a pro quarto. Transam
enquanto os outros dois conversavam na sala. Pouco depois do fato consumado, Brian entra
em crise asmática e está imediatamente escravo de seu inalador. Marianne, que está curtindo
mais o ácido do que a companhia, conclui que prefere estar em sua própria casa, saindo fora
sem se despedir de ninguém.

Em sua casa, após um banho, o telefone toca e é Keith perguntando por ela. Keith conta que
Brian havia dormido, exausto pelo esforço e Tara foi embora, enquanto ele insiste em vê-la e
portanto que ela o aguarde. Ao chegar na casa de taxi, Keith está cheio de tesão por ela e se
mostra disposto a resolver a questão sem muita firula. Marianne está extasiada.

Embora Brian e ela fossem muito amigos, ela sempre teve uma queda por Keith. Sempre
gostou da aura de mistério que Keith emanava e sempre esperou que ele desse o primeiro
passo. Keith sendo ainda muito tímido, característica que ele viria a perder com a idade, nunca
agiu. Hoje, parece que é dia dela realizar sua antiga fantasia. Sabendo onde isto vai dar
Marianne começa seu ritual, "Keith, o que você conhece sobre o Santo Gral?" ao qual Keith
sendo bem Keith responde, "Santo Gral?! Porra Marianne, você ainda está viajando?!"
Depois da cama ela está nas nuvens, tendo adorado cada minuto e tentando deixar clara sua
felicidade. Keith por sua vez, enquanto ajeita seus documentos nas calças, começa a lhe falar
de quanto Mick está apaixonada por ela. Que Mick é um cara legal e que ela deveria considerar
vê-lo com mais freqüência. Pasmada em óbvia desilusão, ao ouvir Keith aconselhá-la a não
perder tempo com ele e sim com seu amigo, ela consegue apenas sussurrar as palavras: "tá
bom".

Mick & Marianne

Ainda no mesmo dia, Mick ligou feliz ao saber que ela havia voltado, e se convidou a sair com
ela. Ela gosta de fazer compras e Mick Jagger é o primeiro homem que ela conhece que
também gosta deste tipo de programa. Além da beleza física de Marianne, a atração que ela
exerce sobre Mick é a cultural. Mick sabe que ele não tem os modos apropriados para ser
considerado realmente um membro da alta classe, embora tenha os convites para circular entre
eles. As colunas não cansam em falar da admiração da Princesa Margaret, irmã da Rainha,
pelo cantor. Mick conversa com Marianne, fazendo perguntas e conseguindo dicas das mais
variadas espécies, desde detalhes de etiqueta como livros para se ler, seus reais significados e
formas de interpretar idéias literárias. Marianne passa a ser sua tutora nestes assuntos, tudo
sem compromisso. Para quem no máximo lia historias de James Bond, Mick sob sua tutela
passa a ler poesias.

Chrissie Shrimpton

Enquanto isto, esperando em casa, Chrissie sabe que Mick não a ama mais. Ela sempre teve
forças e resistência para enfrentar Mick de igual para igual. Mas agora, ela já está totalmente
enfraquecida e vulnerável. É controlada por ele. Nunca mais tendo pego um ônibus e com
acesso ilimitado em seu cartão de crédito, se tornara dependente dele. Mick não assume seu
desinteresse e tem a curiosa postura de não discutir problemas desagradáveis, preferindo fingir
que os problemas não existem, aguardando que eles vão embora sozinhos.

Chrissie por sua vez, constantemente deprimida, sem mais poder de reação, vive à base de
tranqüilizantes. No inicio de dezembro, ela tem um estalo, e sabe como sair de sua situação.
Arruma toda a casa, se veste em um de seus vestidos prediletos, deita na cama do casal e
toma uma dose excessiva de tranqüilizantes. Ela quer ser encontrada por Mick, na cama em
que fizeram tanto amor juntos. Deitada com um sorriso inquieto, ela espera a morte.

Quando acorda, está em um hospital. Tivera o estômago lavado e imagina que Mick a tenha
encontrado e agido rapidamente. Antes do Ano Novo ela deixaria o hospital, indo morar com
sua mãe. Recuperando-se fisicamente, ela também encontra forças psíquicas. Tendo
sobrevivido, ela renasce para si mesma, com a certeza de que tirara Mick Jagger finalmente de
sua corrente sangüínea.

Mick Jagger e Brian Jones

Com Oldham dedicando seu tempo apenas à produção dos discos dos Stones e demais
artistas da sua produtora, e Klein cuidando dos contratos de shows e assuntos financeiros em
geral, é mesmo Mick Jagger quem assume o leme em relação à publicidade dos Rolling
Stones. Cada vez mais, as decisões são feitas apenas com seu aval. Jagger, quando muito,
verifica com Keith as possibilidades de datas, apenas comunicando para os demais o que foi
resolvido. Embora tomando efetivamente controle da banda das mãos de Brian que já não
exerce liderança real desde 1963, Mick sabe que precisa dar algum espaço para Brian. Embora
não verbalize, até mesmo para não dar muita corda para os delírios de grandeza do seu
guitarrista, ele reconhece a importância dele na música dos Stones.

Jagger, sem Brian saber, organiza cuidadosamente uma lista de nomes de jornalistas
permitidos a entrevistar Brian Jones. Mick teme que Brian se descuide com o que diz e quer se
assegurar que a imagem final impressa seja positiva. Assuntos como drogas e filhos ilegítimos
são proibidos previamente. Para a surpresa de alguns, na primeira destas entrevistas, Brian
declara Mick Jagger como sendo o maior cantor pop da atualidade, o que nos mostra como é
mesmo complexa esta relação de amor e ódio entre os dois.

Brian Analisa o Mundo

Brian teria sido um dos primeiros a usar a palavra "revolução" para definir a nova massa jovem
que estva emergindo e que fazia parte do seu público. O jornalista Keith Altham escreveria
"Brian Jones Prevê que Revolução Pop Está Próxima" em seu artigo de 14 de outubro. Neste
artigo, Brian diria, "Nossa geração está crescendo com a gente e eles acreditam nas mesmas
coisas que nós. Questionam as imoralidades que são toleradas na sociedade atual - a guerra
de Vietnã, perseguição aos homossexuais, a ilegalidade do aborto e consumo de drogas.
Todas estas coisas são imorais. Nossos amigos questionam a aceitação cega a discrepâncias
na religião enquanto há uma total menosprezo em relação a depoimentos sobre OVNI's, que
me parecem bem mais reais e aceitáveis. Acreditamos que não há evolução sem revolução.
(...)"

Brian contaria ainda, "Toda uma garotada nova foi nos ver nesta excursão com Ike & Tina
Turner. Senti como a três anos atrás, quando a excitação era novidade." Keith Richards
completa, "Estávamos quase correndo o risco de nos tornarem respeitáveis! Mas agora esta
nova geração nos oferece uma nova onda de excitação, ao voltarem a tentar invadir o palco
como nos velhos tempos."

Brian conclui, "A censura continua nos perseguindo em diversas formas, mas os dias de
perseguição artística, como aconteceu com Jim Dine ou o comediante Lenny Bruce, estão para
acabar. Os jovens estão formando suas opiniões utilizando outros conceitos e isto só pode
querer dizer uma maior liberdade de expressão para todos. E a música pop terá seu papel em
tudo isto. Quando pararem de pressionar certos artistas de folk americano, com músicas
contendo mensagens importantes, talvez estejamos a caminho da verdade."

É opinião quase unânime que Brian precisava mais de confiança do que de drogas e ao ler
esta entrevista sua no jornal, voltava a se sentir importante; alguém que faz uma diferença,
acalmando um pouco o mal que dorme em seu interior.

Um Grau de Morte

Brian vai à Alemanha se encontrar com Anita e é convidado a fazer a trilha sonora do filme.
Algumas pessoas acusam Anita de atrair Brian cada vez mais longe da realidade, como se ele
precisasse muito mais do que sua própria fraqueza emocional e paranóia para tirá-lo do sério.
Foi idéia dela convidar um fotógrafo e convencer Brian a posar vestido com seu uniforme
nazista, enquanto pisava em uma boneca. Ela o induz a entrar na brincadeira convencendo-o
de o quanto estava atraente com aquele uniforme. Ele concordou e a foto acabou nos jornais.
Anita diria que tudo não passava de uma piada, uma espécie de propagando anti-nazista,
porém a opinião pública não foi de achar graça. Brian haveria de lamentar toda concepção da
foto pelo resto de sua vida. Volta para Londres sem nada definir, ficando de estudar a proposta.

Uma Certa Terça Feira

Enquanto Anita continuava na Alemanha, Brian estava em casa tomando ácido, depois indo
gravar e mixar material caseiro próprio. Nenhuma letra, só pedaços de música. Depois
guardava até esquecer o que tinha na fita, acabando por gravar por cima. Deste material, que
se saiba, só sobreviveu uma composição. Brian estava interessado em criar uma fusão entre
uma peça que ele originariamente ouvira tocada em um alaúde (instrumento de treze cordas,
tataravô do violão) e o delta blues. Ele tocaria este fragmento de riff e melodia que ele tinha
criado para todas as suas visitas. Tara Browne e sua nova namorada Suki Porter foram dois
dos primeiros a ouví-lo, assim como Mike Bloomfield e Jimi Hendrix, ficando intrigado e
impressionado com sua concepção.
Evidentemente, Brian sendo o estudioso que era, traçava todo um contexto, explicando a
concepção, vindo de um cruzamento de "Air on the Late Lord Essex" de Thomas Dowland e um
blues no estilo de Skip James. Quando Keith ouviu o tema ele se interessou imediatamente,
passando horas burilando e moldando o tema com Brian, até terem toda uma canção completa.
Mick no estágio final, apenas adicionou o vocal. Esta canção passou a se chamar Ruby
Tuesday.

Nela Brian se entrega por completo, certo de que com o interesse e participação de Keith, sua
contribuição finalmente seria gravada e lançada pela banda. Porém ele acaba novamente
decepcionado ao perceber que não levou nenhum crédito na canção que era essencialmente
sua e de Keith. Ele está enfraquecido, tendo sido comparado a um cachorro aguardando um
osso, de tão ansioso que está por ouvir um "muito obrigado, Brian" ou um "ótimo trabalho,
Brian", mas nem isto lhe foi oferecido. Frieza inglesa? Ruby Tuesday saiu no compacto com
Let's Spend The Night Together e ambos tocaram muito nas rádios. Oldham ciente da
controvérsia que seria criado em relação a "Let's Spend The Night Together", inteligentemente
lança este compacto como um duplo Lado A, assim DJ's podem dar igual importância aos dois
lados, optando se quiserem por evitar controvérsia com "Ruby Tuesday".

Between the Buttons

A banda faz a última sessão de gravação do ano onde registram material para o que viria a ser
o álbum Between The Buttons. Com dezenas de convidados, a sessão foi mais um evento
social do que músicos realmente trabalhando. Estavam lá desde os amigos de sempre, Robert
Frazer, Michael Cooper, Tony Sanchez, as namoradas Marianne e Anita, como também alguns
convidados ilustres como o Príncipe Stanlislau Klossowski de Rola, que o pessoal apelidou de
Stash, Peter Cook e Dudley Moore. Gravaram nesta ocasião If You Let Me, Looking Tired, Ride
On Baby, Sitting On A Fence e uma versão para Trouble In Mind.

Para a capa do álbum, o fotografo Gered Mankowitz experimentava com cores distorcidas e
vaselina na lente, conseguindo assim o efeito desejado, ou seja, de não dar ao público uma
imagem perfeitamente clara da banda, sugerindo assim que as músicas contidas também não
estariam perfeitamente claras, e que poderiam ter segundas intenções. Durante as fotos, Brian
seguidamente se escondia atrás de um jornal que comprara. Mankowitz se queixa para
Oldham, também presente que o instrua a ignorar Brian. "Brian está sendo Brian, portanto a
autenticidade é valida."

Acidentes Acontecem

Com Chrissie se recuperando da sua tentativa de suicídio, não é de todo uma surpresa que
Mick Jagger tenha o seu primeiro acidente de carro, batendo o seu Aston Martin na traseira do
veículo da Condessa de Carlislie. Rumores chegam aos Estados Unidos de que Mick Jagger
havia falecido em um acidente automobilístico e são rapidamente negados. Outro acidente
porém, teve resultados fatais. Estavam todos passando a noite juntos tomando ácido como
sempre. Ao amanhecer, Tara Browne e Suki Porter deixaram o recinto e foram para a casa de
David Vaughan, artista contratado para pintar sua loja de roupas, Dandy Fashions. Na região
conhecida como Redcliffe Gardens, Tara se distrai e avança um sinal vermelho, sendo
obrigado em seguida, a desviar de um fusca que surgiu no caminho. Tara acaba por bater seu
Lotus Elan em um carro estacionado. Ele faleceu instantaneamente, aos 21 anos, sua
namorada Suki sobrevivendo.

Para todos os seus amigos, a morte de Tara Browne foi um tremendo choque. Todos jovens,
ninguém tinha um amigo com idade para morrer. Seu acidente e morte foi eternizado na
canção dos Beatles "A Day In The Life" onde em toda a primeiro estrofe, John Lennon comenta
o incidente:

"He blew his mind out in a car


He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure if he was from the House of Lords"
Brian que já não estava no melhor dos estados mentais, ficou ainda pior. Bem mais deprimido,
emanando um ar sombrio, segundo alguns. Tara era um amigo com quem Brian podia
conversar e ao morrer assim repentinamente, deixou Brian perplexo e pessimista. Suki Porter,
a namorada que sobreviveu, também estava espiritualmente nas sombras. Ter sobrevivido lhe
parecia uma maldição, um fardo que ela carregaria por anos.

Keith percebendo o rápido declínio de Brian, o leva para Los Angles, onde permanecem de
férias com Jack Nitzsche por dez dias. Keith com seu apoio, ajuda Brian a reagir da depressão
e ao voltar, ele mergulha na trilha sonora para o filme "A Degree of Murder". Brian se grava
tocando uma farta variedade de instrumentos que ele domina muito bem, como guitarras, gaita,
piano, órgão, mellotron, dulcimer, cítara, flautas, sax, e percussões. Há também na trilha,
participações de Nicky Hopkins no piano e Jimmy Page na guitarra. Brian arruma tempo para
procurar por Nikki Browne, viúva de Tara, dispensando-lhe atenção e se oferecendo para
qualquer ajuda. Ele também passaria a ver Suki Porter, tentando confortá-la em seu pesar.
Seria uma forma dele lidar com seu próprio pesar.

Fim de Ano

Para os Stones o fim de ano foi uma confirmação do sucesso de uma carreira muito feliz que a
banda vem galgando. Entre a elite que vende acima de um milhão de cópias, desta vez são os
Rolling Stones com seis canções em primeiro lugar e os Beatles em segundo com cinco,
seguido de perto por Elvis Presley com quatro.

Começava-se a popularizar a consciência de que, embora não sendo os primeiros, os Rolling


Stones foram quem popularizou o R&B na Inglaterra, abrindo um mercado na indústria para
bandas inglesas que tocam este tipo de música. Em meio ao sucesso de Cream, Eric Clapton
em entrevista, definira os Stones como sendo "de substancial importância para a cena R&B
inglesa, dando a todos uma oportunidade." O status da banda aumentara entre os seus
contemporâneos e isto caiu bem no ego do grupo. Keith e Linda Keith foram a Paris e lá
passaram a virada do ano. Brian aguarda a chegada de Anita para também seguirem para
Paris e se encontrar com os amigos.

Aloprando em 67

O ano começa com muita novidade. Ian Stewart casava com Cynthia, a secretária de Andrew
Oldham, no segundo dia do ano de 1967. No dia 05 de janeiro, Jimi Hendrix Experience se
apresentava no Bag O'Nails para um público composto por gente como Allan Clarke, Bobby
Elliott, John Entwistle, Pete Townshend, Paul McCartney, Ringo Starr, Brian Epstein, Eric
Clapton, Donovan, Georgie Fame, Lulu, Dennie Lane, Bill Wyman, Brian Jones, e toda a banda
The Animals.

Dia 09 Diane Wyman se muda para África do Sul, pretendendo morar com alguns parentes que
tem naquele país. Ela e Bill haviam entrado em um acordo alguns dias antes. Stephen ficaria
na Inglaterra sob os cuidados de Bill, que também concordaria em lhe pagar uma soma de
dinheiro pelos próximos dez anos. A banda menos Mick, viaja a Nova York para gravar o Ed
Sullivan show. No aeroporto americano, o carro particular que apanhou a banda na pista, errou
o caminho e quase colidiu com um jato.

Ed Sullivan

Mick chegaria no dia 13, dia da gravação do programa. Havia tanta gente aguardando a
chegada dos Stones no teatro que a única maneira de entrar foi enfrentá-los. Com toda a
gritaria e pandemônio, o porteiro se recusou abrir as portas. Então, em meio à adrenalina do
momento, quebraram uma das portas de vidro forçando passagem, Mick cortando a mão e
Keith dando um soco na boca do porteiro.

Havia uma grande discussão sobre a apresentação dos Stones naquela noite, pois segundo Ed
Sullivan, uma canção chamada "Let's Spend The Night Together" não poderia ser executada
no seu programa, que é familiar, pela própria natureza lasciva de seu titulo. Rádios tanto na
Inglaterra como nos Estados Unidos tocavam a canção com a palavra Night editada fora ou
com um barulho no lugar. Como o programa era demasiadamente importante, a ponto da
banda ter atravessado o oceano só para participar, encontrou-se um meio termo com Ed
Sullivan anunciando, e Mick cantando, "Let's Spend Some Time Together." De fato, as vendas
americanas aumentaram consideravelmente levando a canção a chegar a No.1 enquanto na
Inglaterra a canção permaneceu em No.2.
Infidelidades

Apesar de estar saindo a dois anos com Doreen Samuels, Bill encontra certa noite uma sueca
loira chamada Astrid Lundström que o deixa extremamente interessado. Loira vistosa, faz jogo
duro saindo com Bill para jantar mas não para dormir. Continuariam saindo juntos por quase
um mês antes dela se entregar a ele. Doreen Samuels continuaria vendo Bill durante alguns
shows até Astrid passar efetivamente a viver com ele. Bill Wyman estava apaixonado como
nunca antes em sua vida, fazendo questão de ir a Suécia e conhecer os pais de Astrid. Embora
nunca se casariam, ela é a mulher que mais tempo viveria com ele.

Marianne vai à Itália cantar no festival de San Remo, levando Nicolas com ela. Entediada, liga
para Mick que logo segue para se encontrar com ela em Cannes. Chegando lá o casal é
caçado pela imprensa com tanta veemência, que alugam uma escuna e passam a semana
boiando na Riviera. Passam o tempo romanticamente e perto da época de retornar, seguem
para San Remo.

A nau encontra uma tempestade pelo caminho, e é jogada pelas ondas com seus ocupantes
sofrendo as conseqüências. Nicolas chora e Marianne se apavora temendo que o barco vá
virar. Mick deita os dois e abraçando todos, encaram juntos a experiência. Depois da
tempestade, aportando em San Remo o trio sai do barco mais unido, como uma família
realmente. Pouco depois Marianne e Mick passam a morar juntos em Marylebone Road,
enquanto ela mantém a sua casa hospedada com seu filho Nicolas e a babá. No aeroporto,
voltando para Inglaterra, Marianne compra pílulas contra enjôo.

Marianne Faithfull começava os ensaios para a peça Three Sisters, contracenando com Avril
Elgar e Glenda Jackson. Enquanto os ensaios tomavam boa parte da tarde e noite, Mick voltara
a procurar por Chrissie Shrimpton. Eles voltariam a fazer amor durante o restante do mês de
janeiro. Chrissie sabe que ela não estava mais apaixonado por ele; é apenas uma saudade
carnal mútua. Quando ela achou que bastava, se convidou para a casa de Mick e lá resolveu
ficar até que Marianne retornasse do ensaio, deixando Mick tenso, à beira de uma crise de
nervos. Ao chegar, Marianne logo percebe sexo escrito na testa dos dois mas, calmamente
senta no sofá e as duas mulheres conversam civilizadamente sobre Chekhov, o autor da peça.
Depois Chrissie pede a Mick, que sentava suando frio, para chamar um táxi. Nunca mais se
viram. Chrissie viria a namorar o músico Steve Marriot durante a parte final de 1967, embora
esta relação apenas durasse pouco mais que quatro meses.

Porrada de Amor Corrói

A morte de Tara abateu muito Brian. Ele se conscientiza de como é frágil a linha entre a vida e
a morte. Começa a perder suas ilusões com LSD e outras drogas como uma maneira de atingir
uma consciência maior ou coisa que o valha, mas esta conclusão não é o suficiente para ele
parar. Pelo contrário, ele começa a aumentar a variedade de substâncias químicas, como
forma de afugentar as tristezas de sua realidade. Neste período, além da bebida e anfetaminas,
além da cocaína e LSD, Brian passou a ingerir STP (similar a mescalina com anfetaminas) e
DMT (dimetiltriptamina), químicas que hoje, a ciência já concluiu, deterioram e deixam
problemas irreparáveis no cérebro. Para elucidar os efeitos de DMT, seria o equivalente a doze
horas de um bom ácido compactadas no espaço de quinze minutos.

Brian desenhou na parede atrás da cama do casal um cemitério e bem perto do lado que ele
dormia, desenhou uma lápide. Nada fora escrito nela, mas pode-se imaginar onde estava seu
subconsciente. De um homem inseguro, ele logo se tornava um homem extremamente
agressivo, principalmente com a Anita.Keith, que vinha diariamente pra casa do casal pra
cheirar cocaína, acaba brigando e se separando de Linda Keith. No lugar de continuar a ir todo
dia até a casa do casal amigo, passou a morar lá de vez.
Cheirando constantemente, a paranóia inflava e o duelo de egos entre Brian e Anita, ambos
extremamente competitivos um com o outro, invariavelmente terminava em violência. E quando
Anita estava humilhada e fisicamente ferida por Brian, Keith se chegava, conversava e tentava
acalmá-la, dispensando-lhe atenção e amizade. Levou um certo tempo, mas Brian percebeu
que Keith estava se apaixonando pela sua mulher. Assim, as indiretas começaram e Keith logo
foi obrigado a procurar outro lugar para dormir.

Keith estava no processo de entregar a casa em Londres, por causa de reclamações de outros
inquilinos em função dos fãs constantemente em vigília. Redlands, onde já se encontrava a
maioria de suas coisas, ficava longe e se tornava cansativo demais para o transporte diário,
portanto Keith se mudou para a casa de Mick e Marianne. Pouco depois, eles estariam
tomando ácido juntos.

Anita Deixa Brian

Brian percebe que perdera a amizade de Keith, mal ou bem, seu maior comparsa musical. Ele
culpa Anita por usar o poder de seu amor para afastá-lo de seus amigos e passa a atacá-la
com ainda mais veemência. Em certa ocasião, Brian encontrou Anita desmaiada no quarto. Ela
havia tentado suicídio tomando uma overdose de alguma coisa. Sorte que uma visita chegara e
puderam ajudar Brian a carregá-la para dentro de um carro e levá-la a um hospital. Lá, Brian
permanece ao seu lado chorando cheio de remorsos. Parece claro que Brian a ama, mas é
difícil entender porque ele surra sua mulher. Quando Anita acorda, seu olhar sofrido exala
lágrimas para um amor doentio que já não lhe traz mais felicidade.

Anita sabe que Keith a ama, mas ela não quer se apaixonar por ele. Keith não tem o mesmo
carisma de Brian, não obstante sua relação com Brian está se tornando excessivamente
perigosa, e em todos os eventos infelizes, Keith sempre esteve por perto, tentando consertar as
coisas e restaurar a harmonia. Ela deixa Brian e mora com Keith por alguns dias e depois volta
para ele. Ela não consegue deixar de amá-lo de imediato. O amor teve que ser arrancado dela
a pauladas. Brian por sua vez desaba e tem de ser internado em uma clínica para se recuperar.
Quando Anita volta, Brian não pergunta aonde ela esteve. Ele sabe mas não quer ouvir para
não ter que enfrentar a situação. Anita encontra-se em uma encruzilhada emocional. Ela resiste
em querer Keith, ela ama Brian, mas não pode agüentar mais o abuso físico de seu amante. No
fundo sabe que é uma questão de tempo.

Pelo ponto de vista de Keith, Anita está em perigo, associando-se a um psicopata neurótico,
com os neurônios totalmente torrados por química. Ele a ama e quer protegê-la de Brian, mas
para isto, ela precisa querer sair daquela casa. Toda esta triangulação na mais fria relação
inglesa, com Mick, Keith e Brian continuando harmoniosamente a socializar juntos. Só Keith
está sem uma garota linda para desfilar.

Dois Passos Para um Crime

Marianne foi entrevistada pela rádio BBC e em sua maneira direta, e sem pensar duas vezes
no que está dizendo, ou de quem possa estar ouvindo, fala das maravilhas da maconha e do
ácido. De como LSD abre as portas da percepção e portanto é tão ou mais importante do que
Cristianismo.

Fala sobre os perigos do governo em controlar a opinião das massas e de como através da
desobediência civil, pode-se forçar a opinião do povo em cima do governo. Complementando
que o governo inglês atual é feito de gente velha com um raciocínio antigo, diz: "Estamos
recebendo ordens de gente morta; é insano!" Ela conclui que o ideal seria toda a estrutura
social ruir o quanto antes.

É provável que aqueles que regiam o sistema vigente, o chamado "establishment",


começassem a temer que Mick Jagger fosse realmente incitar uma revolução. Com o início do
ano de 1967, o sistema começaria a ficar intolerante em relação aos seus novos ricos e uma
ação direta estava sendo tramada.
Os Stones se apresentaram em playback no programa televisivo inglês Sunday Night At The
London Palladium. É para a época, o mais popular programa familiar da Grã Bretanha e apesar
de ser extremamente "careta", Oldham e Jagger sabiam que uma apresentação da banda no
programa era um currículo importante. A tradição do programa previa para o encerramento,
que todos os participantes se apresentem de pé sobre uma roda giratória, acenando adeus
para as câmaras. Os Stones se recusaram a participar da tradição, apesar dos pedidos de
Oldham e ameaças do diretor da BBC.

O incidente foi tratado como um insulto à nação, e evidentemente condenaram a atitude da


banda. Jagger em entrevista foi claro, "Se alguém pensou que estávamos mudando nossa
imagem para nos tornamos aceitos para o público familiar, estava enganado. Só fizemos o gig
por ser um show de cadeia nacional." Dentro do jornal News Of The World, conta-se que se
ouviu do editor algo nos moldes de "O povo já está cheio destes bastardos emperiquitados. Já
está na hora deles receberem um troco! Vejamos o que podemos armar pra cima deles."

Keith e o seu Bentley

Embora Keith não houvesse conseguido passar em sua prova de habilitação quando tentou
obter uma, ele sempre morou com ou perto de Mick ou Brian, portanto, nunca precisou de um
carro realmente. Depois que os Rolling Stones quebrarem o recorde de apresentações de uma
banda em um ano, repetindo o feito seguidamente em 1963 e 1964, eles diminuíram o pique e
estavam reservando mais tempo para o ócio. Depois da compra da casa de Redlands, mesmo
com Keith passando bastante tempo em Londres na casa de Brian ou de Mick, ter seu carro
passa a ser uma necessidade.

Não seria a falta de habilitação que deixaria Keith a pé e ele começou a dirigir mesmo sem o
documento. O grande empecilho era que Richards não sabia dirigir e inevitavelmente acabava
sendo pego e multado por estar dirigindo sem habilitação. Seu próximo passo então seria
pagar alguém para fazer a prova de habilitação em seu nome. Ensinou a pessoa a assinar o
nome como se fosse o próprio Keith, e depois o mandou fazer a prova como se fosse ele.
Evidentemente ninguém do Departamento de Trânsito associou este Keith Richards anônimo,
que fazia a prova de direção, com o relativamente famoso guitarrista e tudo correu bem.

Uma vez com o documento, Keith comprou um lindo Bentley S3 com direção hidráulica e
cambio hidramático. Estreiou o veículo seguindo pelo subúrbio de Chichester, acertando a
quina da calçada a cada curva. Logo ele ganharia confiança, acelerando o carro cada vez mais
e fazendo curvas desviando longe das calçadas.

O Bote

Brian e Anita entraram em outra disputa de egos e ela acabou o deixando mais uma vez. Ele
então volta para a vida noturna, freqüentando os clubes, bebendo entre amigos, ou melhor,
acompanhantes que adoram estar perto de algum Rolling Stone. Conhece uma sueca chamada
Anne que embora charmosa, recusa seu convite para ir com ele para sua casa. Brian volta a se
sentar e é aproximado por dois jornalistas, passando a dar uma entrevista exclusiva. Os dois
jornalistas jogam a isca, puxando a conversa de misticismo para drogas no mundo pop atual.
Brian fala sem pensar, contando que toma LSD há tempos, assim como anfetaminas para ficar
acordado. Brian está tão à vontade que chega a convidar os jornalistas para irem à sua casa
com mais algumas meninas e fumarem um juntos. O convite foi gentilmente recusado e os dois
jornalistas se despediram.

O artigo sairia na manhã de sábado, dia 05 de fevereiro, no jornal News Of The World. A
história identificaria erroneamente que a entrevista fora com Mick Jagger e contaria que ele foi
visto com haxixe, convidando garotas do local, além deles os jornalistas, para irem à sua casa
para "fumar um". O artigo diria ainda que durante o curso da pequena entrevista, Mick Jagger
havia tomado seis tabletes de Benzedrine. "Todo mundo usa", ele confessaria.

Mick Jagger que tem o hábito de começar seu dia lendo todos os jornais, pulou meio metro
quando leu o artigo que continha uma foto sua. Ao terminar de ler o artigo, já sabia que os
mongolóides o haviam confundido com Brian, o que lhe daria a oportunidade de processá-los
por calúnia. Jagger, que havia agendado para aquele dia, uma aparição no programa Eamonn
Andrews, um talk-show, aproveita a oportunidade para se defender. No programa, ele se
mostra irritado que um jornal respeitado como News Of The World estaria escrevendo tamanha
bobagem e que ele não tem outra forma para limpar o seu nome senão processar o jornal. Na
segunda-feira seguinte, os advogados estão entrando com processo na justiça.
Keith e a sua Mercedes

Anita, brincando com os receios de Keith, começa a falar mal de seu Bentley, dizendo que
aquilo é um carro de gente idosa. Que o veículo não possui a mesma classe que um Rolls
Royce como o de Brian. Ao fazer esta comparação, Anita provoca as inseguranças de Keith,
não tendo a permanência de Anita ainda como certa, tornando-o vulnerável à sua manipulação.
Keith começou a conversar com alguns conhecidos e recebe a dica da existência de um
Mercedes velho esquecido em um ferro velho. O carro é uma relíquia, utilizada pelos nazistas
na Segunda Guerra. Anita, que tem um certo fascínio pelos nazistas, adorou a idéia de ter um
carro que serviu para membros daquele partido. O veículo custou cerca de £1.700 e outros
£2.500 para ajeitá-lo. Trocou-se estofado, caixa de câmbio e motor, além de uma pintura nova.
Ao sair da oficina, o carro deveria estar valendo pelo menos £4.500.

Quando o carro chegou, tanto Keith quanto Anita estavam impressionados com a imponência
do veículo. Sendo o carro de câmbio manual, Keith precisou novamente da ajuda de alguém
para ensinar como dirigí-lo. Assim, Tony Sanchez acabou sendo convidado por Keith para
ensinar como manejar um câmbio manual e estrear a máquina nova. Depois de dar algumas
voltas em Chester Square, foram para o centro de Londres à toda, curtindo a reação dos
pedestres, parando para olhar o longo veículo de 18pés de comprimento, e depois duplamente
espantado em ver um pop star cabeludo dirigindo-o. Keith acena e segue, parando no Sands
Café na Bond Street.

Depois do café, Keith levou Tony pra casa em Kilburn. A esta altura, depois de arranhar muita
marcha, Keith acaba descobrindo que ele poderia arrancar em quarta e assim, basicamente
dirigir o carro como seu Bentley de câmbio hidramático. Keith gostava de correr, mesmo que
isto o obrigasse a furar alguns sinais vermelhos. Depois de furar dois cruzamentos, encontra no
terceiro o obstáculo de um outro carro respeitando o sinal. Assim, Keith descobre que o
Mercedes não freia tão facilmente como o Bentley. Com o estrondo, seu Mercedes estava
acabado. Keith, que sempre andava com flagrante, deixou o problema pra Tony resolver.
Pegou um táxi e sumiu. Levaria outro ano até o Mercedes ficasse pronto outra vez. Em tempo,
fica claro que apesar do alto custo de certos objetos, Keith não tem uma maior relação com
nenhum de seus “brinquedos”. São mesmo coisas a serem usadas e dispensadas quando
perdem a utilidade.

Anita Volta Pela Última Vez

Brian segue para a Espanha, passando um tempo em Barcelona. Sozinho, ele toma uma
overdose de barbitúricos e álcool, uma combinação sempre perigosa que chapa o indivíduo
completamente. Desta vez não havia ninguém com ele para ajudá-lo e Brian teve sorte em não
ter ficado azul, acabando por morrer desacordado. Anita apavorada com esta perspectiva volta
então para socorrê-lo, vigiando e garantindo que ele coma um mínimo e durma um pouco. Ele
é secretamente levado para uma clínica especializada em desintoxicação na Suécia. Com a
volta de Anita, Brian se acalma e resolve pela primeira vez mudar de vida. Ele pára
temporariamente de tomar ácido e embora continuarisse a tomar outras drogas, não o faz mais
de forma tão destrutiva.

Redlands

Depois do artigo do News Of The World, não haveria mais sossego para nenhum dos três.
Mick, Brian e Keith passariam a ser seguidos pela espionagem do governo de Sua Majestade,
numa tentava de acabar com a suposta revolução antes dela começar. Uma van branca passa
a ser vista em frente à casa dos três e tanto Keith quanto Mick estão bem conscientes do que
está se passando. Um belo dia, Keith é procurado por um cara que ele havia conhecido na
excursão americana do ano passado. Ele afirmaria que tinha trazido com ele um ácido novo no
mercado e que queria reunir a banda e apresentar a novidade para a galera.
Seria combinado que a reunião seria realizada em Redlands. Aos olhos de Mick e Keith, o
programa seria uma maneira de fugir da presença intimidadora da van branca, constantemente
estacionada na frente da casa em Londres. Mick está ansioso por poder relaxar. Bill e Charlie
não se interessaram pelo programa como era de se esperar. Brian precisava terminar alguns
detalhes na trilha sonora que fazia para o filme A Degree of Murder, ficando de ir depois com
Anita para lá.
Depois de uma sessão de gravação no Oympic Studios, sai uma caravana para Redlands.
Estão Nicky Kramer, Tom Keylock, Mick e Marianne, Michael Cooper, Christopher Gibbs,
Robert Frazer e seu servente marroquino Ali Mohammed, George e Pattie Harrison, o dono da
casa Keith Richards, e o tal americano, dono da mercadoria, David Schneiderman, apelidado
de o Rei dos Ácidos. Chegam e fazem uma boquinha rápida, conversando noite adentro até
quase cinco da manhã, fumando enquanto ouviam um pouco de the Who na vitrola. George e
Pattie depois deixam o grupo, voltando para casa do casal.

White Lightning em Redlands

Na manhã seguinte, são acordados cedo por Schneiderman, que fizera chá quente para todos.
Chá quente com um tablete de um ácido chamado White Lightning, tão forte que algumas
pessoas ficaram enjoadas de início. Depois foi a espera normal para o efeito bater, e quando
bateu; valeu. White Lightning oferece uma viagem como LSD mas sem a sensação de perda de
controle que às vezes se tem com outros ácidos. Pode-se dizer que foi a partir desta viagem
que Mick e Keith realmente unificaram suas forças. Uma percepção de irmandade, ambos na
mesma sintonia quanto a seus propósitos dentro da banda, solidificaria a confiança que não
permitiria ninguém, nem mesmo Andrew, controlá-los mais.

O grupo resolve passear indo todos de van, com destino inicial de visitar a casa do pintor
surrealista inglês Edward James. Ao chegarem lá, encontram a casa fechada, indo então para
a praia curtir o barulho do mar, o vento forte e cheiro da maresia. Ao retornar, estão cansados,
Marianne indo logo tomar um banho. Sem ter trazido roupas extras, se encobre com um
gigantesco tapete de pele. Assim, depois do jantar, ela estaria enrolada, ao lado do Mick, junto
com todos os outros, ouvindo the Who no último volume com a televisão ligada sem som
enquanto incenso estava queimando.

Conversando com Schneiderman, Michael Cooper repara o quanto este sujeito entende de
armas e fica intrigado. Em dado momento, enquanto o americano está distraído conversando
com os outros, Michael entra no seu quarto e vasculha sua bagagem de mão, encontrando
vários passaportes com nomes e nacionalidades diferentes, todos com sua fotografia. Cooper
tem agora certeza que este sujeito não é apenas um vendedor de drogas mas não entende
direito o que sua presença significa.

Invasão em Redlands

Por volta de umas sete da noite, já escuro, fevereiro sendo inverno inglês, podia-se ouvir um
barulho vindo da entrada da casa. Ao abaixar o volume do som, identificaram o barulho como
sendo alguém batendo na porta. Resolveram ignorá-lo mas como quem quer que seja não
desistia, Keith resolveu atender. Ao abrir a porta encontrou um esquadrão policial, com o
Inspetor Chefe Gordon Dineley, falando enquanto mostrava-lhe um pedaço de papel.

Era um mandado para inspecionar a casa a procura de substâncias ilegais. Todos os


convidados ainda estavam viajando em ácido no momento da batida e Keith, que respondia
pela residência, tinha dificuldades em entender o que lhe era explicado. Ele via os lábios se
mexendo mas sem conseguir direito concatenar o texto falado. Finalmente ele percebe o
significado desta intromissão e avisa aos demais que a polícia tem com eles um papel, "uma
bobagem legal" e irá vasculhar a casa. O inspetor pede que se desligue a vitrola mas Keith
aceita apenas que se abaixe o som. Em seguida, Keith pega o telefone e liga para o escritório
da Rolling Stones para avisar do que está acontecendo e para mandarem um advogado
imediatamente para o local. Logo, os advogados Timothy Hardacre e Leslie Perrin estariam a
caminho.
Os ocupantes foram logo reunidos em pares, e enquanto a policia vasculhava a casa, Michael
Cooper tentava discretamente pegar sua câmara e tirar uma foto do incidente. Os policiais
comuns desta época, como a sociedade em geral, eram leigos no que se refere ao assunto
entorpecentes e não conheciam muito além de maconha, morfina e cocaína. Isto permitiu
cenas inusitadas, como os homens achando haxixe no casaco de Mick e acreditando se tratar
de terra encrostada no fundo do bolso, colocando-o de volta. Imaginem um alferes com uma
expressão de nojo como quem está pensando, "cambada de hippies porcos e imundos". Os
tabletes de heroína trazidas por Frazer, foram inicialmente confundidos com remédio para
diabetes. Iriam revistar a mala de Schneiderman, cheia de praticamente tudo, mas porque tinha
seu conteúdo cuidadosamente embrulhados em alumínio, perguntaram primeiro do que se
tratava. "É filme não processado" explicou o dono da maleta. "Eu faço filmes e agradeceria se
vocês não o abrissem. Estragaria um trabalho de dois anos" ele explicou calmamente.
"Perfeitamente compreensível senhor" com a típica polidez inglesa e a mala voltou a ser
fechada. Mesmo assim, encontraram maconha no bolso de seu casaco e levaram para ser
analisada.

Marianne foi convidada a ser vistoriada por uma policial feminina. "Mas eu estou só vestindo
este tapete" ela retruca deixando o dito cujo cair um pouquinho por segundos, e se cobrindo
novamente, rindo dos guardas ruborizados. Keith e Mick estão às gargalhadas, ninguém aliás
está levando a polícia muito a sério, deixando-os extremamente irritados, desacostumados com
esta apatia de respeito. Michael ou Christopher então colocam na vitrola Bob Dylan cantando
Rainy Day Woman #12 & 35 enquanto o grupo assiste a policia vasculhar a casa, todos rindo
da letra em contraste com a cena de teatro vivo que estão vivenciando. A letra de Dylan
conclamando todos a tomarem cuidado com hipócritas que surrupiam sua liberdade em nome
da lei. A palavra "stoned" em inglês significando "apedrejado" em sua forma original e
"intoxicado, doidão, chapado" em gíria.

Dylan canta:

Well, they'll stone ya when you're trying to be so good,


They'll stone ya just a-like they said they would.
They'll stone ya when you're tryin' to go home.
Then they'll stone ya when you're there all alone.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned!

Well, they'll stone ya when you're walkin' 'long the street.


They'll stone ya when you're tryin' to keep your seat.
They'll stone ya when you're walkin' on the floor.
They'll stone ya when you're walkin' to the door.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned!

They'll stone ya when you're at the breakfast table.


They'll stone ya when you are young and able.
They'll stone ya when you're tryin' to make a buck.
They'll stone ya and then they'll say, "good luck."
Tell ya what, I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned!

Well, they'll stone you and say that it's the end.
Then they'll stone you and then they'll come back again.
They'll stone you when you're riding in your car.
They'll stone you when you're playing your guitar.
Yes, but I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned!

Well, they'll stone you when you walk all alone.


They'll stone you when you are walking home.
They'll stone you and then say you are brave.
They'll stone you when you are set down in your grave.
But I would not feel so all alone,
Everybody must get stoned!

No final da blitz, a polícia levou vários palitos de incenso, um cachimbo com restos de hemp
encontrada sobre uma mesa, um cinzeiro com cinzas de maconha, uma bola de maconha
prensada, quatro pílulas que Mick comprara em uma farmácia na Itália contra enjôo, oito
cápsulas verdes, como também um dos tabletes do remédio para diabetes de Robert Frazer.
Ao sair, Keith é avisado que se os laboratórios concluírem que algo ilegal fora encontrado, ele
seria processado por admitir o uso de substâncias ilegais em sua residência.

Chocados com o evento que se sucedeu, a festa naturalmente acabou e as pessoas


começaram a reunir suas coisas para irem embora. Pouco depois Brian liga dizendo que ele e
Anita estão a caminho, sendo logicamente informado da primeira batida residencial que a
polícia inglesa teria dado, especificamente a procura de drogas classificadas de perigosas.

Conclusões

Analisando o significado de tudo o que ocorreu, os amigos concluem que foi uma cilada desde
o inicio. Esta historia de um americano aparecer do nada oferecendo ácido gratuitamente só
para eles, agora cheirava a armação. Mick está certo que o jornal News Of The World está
envolvido na história. Sabem que ao serem processados, irão perder uma grana por difamação,
portanto o jornal arrumou uma maneira de envolver Jagger e os Stones em um escândalo
ligado a entorpecentes. Com tempo, aprenderam a suspeitar de uma tríplice aliança entre o
jornal News of the World, a polícia de Chichester e alguns membros do governo. De toda a
batida, só encontraram evidência nas mãos dos outros, as 150 gramas de maconha no bolso
de Schneiderman e os tabletes de heroína no bolso de Robert Frazer. A única coisa que
encontraram com Mick foram pílulas contra enjôo, que na verdade pertenciam a Marianne, que
comprara na Italia quando estavam em San Remo e Cannes de barco.

Schneiderman em dois dias já havia saído do país, desaparecendo sem vestígios, ficando
somente Frazer em situação delicada com os tabletes de heroína, droga legalmente
considerada perigosa, pendendo contra ele. Com a intermediação do amigo Sanchez, negocia-
se com alguém que trabalha no laboratório policial, que pela soma de £7.000, se perderia ou
adulteraria os resultados, concluindo que os tabletes eram de glicose ou coisa parecida. Frazer
negocia com Mick e Keith que liberam a soma de £5.000 enquanto ele adiciona mais £2.000
em cima, pagos ao laboratório da policia e o assunto prometia ser esquecido. Porém, o jornal
News of the World correu matéria com um relato completo e detalhado sobre o incidente. Mick
não tem duvidas que tem um informante nesta historia e suspeitas recaem tanto em
Schneiderman como em Kramer, um dos empregados de Keith.

O artigo é genérico, dizendo apenas "Esquadrão de Entorpecentes Invade Festa de Popstar".


Toda a sociedade está chocada e uma repulsa geral contra entorpecentes e pessoas que os
consomem, se torna o assunto da semana. Em seguida, novas batidas policiais se sucedem
em clubes, galerias e lojas freqüentados por jovens. A opinião pública, extremamente contra,
deixa um ar tenso sobre músicos pop em geral. Esta tensão amplifica o clima de animosidade
dentro dos Stones contra Allen Klein, quando a demora de recursos a chegar nas contas
bancárias persiste.

Klein inevitavelmente manda uma remessa de dinheiro, da qual uma pequena parte serve para
cobrir a despesa do suborno. Poucos dias depois, Klein está em Londres para conversar com
os rapazes. Os advogados garantem que não há nada com que se preocuparem e que o
incidente, mesmo que chegue a ser chamado para julgamento, não terá maiores
conseqüências. Pensando em evitar maiores embates com a lei, Klein sugere que todos vão
para algum lugar longe da Inglaterra. Se eles gostam tanto de fumar haxixe, que eles procurem
um lugar onde isto seja legal.

Jornada Para Tangier

Com esta sugestão, Keith resolve ir para Marrocos e descansar um pouco por lá. A idéia
agrada todos e planos são traçados. Keith quer ir de carro, e portanto transporta seu Bentley de
avião até Paris. Da França, seguiria com Tom Keylock, seu motorista particular, para o
Marrocos. Mas antes de irem, Keith aguarda no George V Hotel em Paris, a chegada de Brian
e Anita, mais Deborah Dixon, namorada de Donald Cammell, amigo do grupo. Mick Jagger,
Robert Frazer, Christopher Gibbs e Michael Cooper vão de avião direto e aguardam os demais
hospedados no El Minzah Hotel.

Marianne Faithfull, presa por obrigações com ensaios para a peça Three Sisters, fica para trás.
Brian estava ainda fazendo os acabamentos na trilha sonora do filme A Degree of Murder e só
viajou quando despachou o material para o diretor do filme Volker Schlondorff. Ele e Anita se
encontraram com Keith e Deborah em Paris e seguiram então de carro em direção a Espanha.
Pelo caminho, Brian sofre uma de suas piores crises asmáticas, assustando todos com à
extrema dificuldade e esforço exigido para se respirar. Finalmente em Toulouse, ele é internado
no Centre Hospitalier d'Albi, onde os médicos informam que ele precisa continuar lá em
repouso por alguns dias. O grupo pernoita em um hotelzinho perto do hospital seguindo viagem
em direção para Barcelona. Brian fica de encontrar com eles dentro de alguns dias.

A Saúde de Brian Desaba

Brian passou o seu vigésimo quinto aniversário no hospital sozinho. No dia seguinte ele manda
um telegrama para Barcelona solicitando que Anita voltasse para Toulouse, pois ele queria que
ela estivesse com ele. Ela ignorou o telegrama e para evitar outros, Keith e Anita resolvem
seguir para Marbella; Deborah resolvendo voltar a Paris. No domingo, dia 05 de Março, Anita
se despede de Keith e vai a Toulouse pegar Brian e levá-lo de volta a Londres para que ele
possa fazer um check-up completo. Ela está preocupada com sua saúde e incerta quanto a
suas emoções.

Dia 07 de março Brian Jones recebe alta do hospital em Toulouse e segue então para Londres.
Lá, uma serie de testes e Raio-X são marcados. Ele e Anita almoçam com Allen Klein e em
seguida é internado no West London Hospital. As constantes viagens de ácido que o grupo
estavam tomando exigem do corpo uma tremenda resistência física. Mas Brian nunca teve toda
esta saúde e depois da morte de Tara Browne, que ele começou a experimentar com DMT e
STP, não demorou muito para seus pulmões pedirem clemência. Oficialmente ele é
diagnosticado com pneumonia, mas de boca em boca, todos sabem que é estafa do
organismo, cansado de processar tanta química. Seus pulmões, seu coração e seu sistema
nervoso estão todos afetados e os médicos prescrevem tranqüilizantes e recomendam muito
repouso.

Marianne e Anita Seqüestram Brian

Anita passa a madrugada de sexta para sábado com Marianne tomando ácido e fazendo amor.
Quando descobre que Marianne tem uma semana de folga da peça, Anita tem a brilhante idéia
de ir tirar Brian do hospital, e todos irem para Tangier, encontrar com os outros. Assim, na tarde
de sábado, ainda sob efeito do alucinógeno, as meninas tiram Brian do hospital, seguindo para
casa fazer as malas. Brian faz questão de levar uma cópia da fita com a trilha do filme A
Degree of Murder, e seu gravador portátil (evidentemente de rolo, uma vez que o gravador K-7,
não existia ainda no mercado). Marianne preparou sua mala (uma bolsa) com um livro de
Oscar Wilde, uma bata indiana, algumas conchas, e outras besterinhas. A ida para um lugar
como Tangier, ensolarado, onde Brian pudesse descansar, se acalmar e ficar longe de
encrencas, não é uma idéia de todo mal. Bastava um pouco de senso de sua parte e de seus
amigos. Mas o que acontece? A primeira coisa que as meninas fazem antes de decolarem é
lhe dar um ácido.

Precisariam trocar de aeroplano em Gibraltar e durante a parada Brian meteu na cabeça que
queria ir até a Pedra de Gibraltar tocar sua música para os macacos que lá habitam. Pegam um
taxi e ao chegarem, aproximam-se cuidadosamente, Brian preparando a fita e conversando
com os primatas que ali se encontram. Eles pareciam intrigados com este trio, com Brian, Anita
e Marianne se curvando respeitosamente aos macacos. Em seguida, ligam o aparelho. Ao
começar a música, os macacos se assustam com os barulhos e começam a soltar grunhidos
agudos, correndo em seguida para dentro da floresta. Brian, tomou a reação dos babuínos
como uma recusa pessoal ao seu trabalho e começou a chorar, as meninas se entreolhando
em espanto. Pegam Brian como quem cuida de um menininho e voltam para o aeroporto.
Dentro de poucas horas estão novamente em pleno vôo sobre o Mar Mediterrâneo. Como o
astral ficara meio pesado, Marianne teve a idéia de pegar seu livro de Oscar Wilde e botar os
três para lerem, recitando como se ensaiando, Salome. Ao pousarem, até Brian já estava
sorrindo novamente.

Haxixe em Tangier

Mick e Marianne andando pelo mercado vêem passar um homem com um vaso bonito.
Marianne começa a seguí-lo e Mick acompanha. Vão parar em uma loja praticamente vazia. A
loja é uma sapataria e o homem se chama Achmed. Ele e os Stones irão fazer muitos negócios
dentro dos próximos anos. Dentro da loja, são oferecidos um fumo no narguilé. A qualidade é a
melhor possível e logo o casal está em um estado de quase estupor. Em tempo, os negócios
com Achmed seriam em torno de sapatos. Diversas botas e sapatos, para o casal, como
também Keith, Anita, Brian e outros amigos mais íntimos. Todos estes calçados seriam
fornecidos com salto oco, porém recheados de haxixe. Assim, os Stones traficariam,
exclusivamente para consumo próprio, haxixe de Marrocos para Inglaterra durante um período
de quatro anos. Achmed passaria neste tempo de dono de uma loja modesta para dono de
diversas lojas filiais, ficando extremamente rico e até se tornando uma pequena celebridade na
cidade. Depois de quatro anos, ele seria preso, perderia sua fortuna e sua vida. Os Stones
apenas perdem seu contato.

Brian estava com cara de doente, esbranquiçado e com um ar frágil. Por outro lado, Keith está
forte e cheio de determinação. Seu futuro está a sua espera ou pelo menos ele parecia exalar
este tipo de aura. Do meio para o final da semana, Brian chapa no haxixe ou no ácido e fica em
um estado de estupor, deitado na cama sem conseguir se levantar. Anita cansada dele e de
suas fragilidade o deixa lá. Ela prefere pegar sol na piscina do hotel assistindo Keith nadando à
distância.

Sexo Na Cidade

Certa noite Mick e Marianne foram à noite para um clube jantar e assistir dança folclórica. Entre
as dançarinas, uma em particular se destacou das demais. Marianne foi procurá-la depois do
show e, acertado um preço, a dançarina, chamada Yasmin, seguiu com eles para o hotel. Lá,
curtiram uma gostosa menáge a trois, onde Mick saciou suas fantasias com a convidada.
Depois que fisicamente esgotado, se encostou do lado oposto da cama, rolou um baseado, e
assistiu como um voyeur privilegiado, Yasmin e Marianne terem relações.

Quando a história circulou no grupo, Brian quis que Anita aceitasse uma parceira para juntos
fazerem uma menáge a trois. Brian conhecia uma menina com quem já dormira em outra
viagem feita à cidade e já discursava sobre seus planos de ir buscá-la. As duas podiam brincar
de serem escravas sexuais, e ele, o mestre. Anita não estava em clima para nem cogitar a
situação e ao informá-lo de que é mais fácil o inferno congelar, Brian explode em fúria e passa
a esmurrá-la seguidamente. Os insultos são mútuos e cada um passa a fazer seus próprios
passeios.

No dia 14 de Março, Anita está conversando com William Burroughs, que também está
hospedado no hotel. Mick está ocupado dando atenção para Sir Cecil Baton, que quer tirar
algumas fotos suas para um trabalho futuro. Fotos na piscina e nos jardins do hotel são tiradas
à tarde. No dia seguinte, outro inglês no hotel, um senhor Biron Gysin convida Brian para ir com
ele para Marrakesh, cidade que, garante, irá agrada-lo. Biron fala também das montanhas de
Atlas e os dois passam o dia lá.

Marrakesh

Em Marrakesh, Brian se apaixona pelos flautistas de JouJouka, gravando-os na hora. Depois


voltam pelas montanhas de Atlas, onde as belezas naturais do cenário deixam Brian
encantado, voltando para Tangier e para o hotel, somente à noite.
Quando lá chega, não encontra Anita, nem ninguém. Todos se foram do hotel. Brian está
pasmo. Quando se dá conta do que está acontecendo, entra em profunda depressão. Sua
mulher, seus amigos, todos fugiram sem ele. Sem dinheiro no bolso, pede emprestado a Biron,
seguindo no dia seguinte para Paris. Lá passa dois dias na casa de Donald Cammell, que mal
reconheceu o guitarrista, magricelo com cara de doente, todo roto e sujo.

O que aconteceu foi que Keith aproveitou que Brian estava fora da cidade e convenceu a Anita
de fugir com ele. Ela estava cansada de apanhar de Brian e Keith já não agüentava mais vê-la
apanhando. Ou ela foge com ele ou Keith Richards acabaria matando Brian Jones. Anita foi,
socorrida pelo seu cavaleiro de Bentley e chofer, fugindo no deserto e acabando em
Marrakesh. Muito romântico. Mick não queria estar lá quando Brian voltasse, portanto pegou
Marianne e voltou para Londres. Os demais fizeram o mesmo, todos desgostosos com Brian
por ter batido tanto na pobre Anita.

Reação

Brian começou a pirar de vez. A humilhação simplesmente o levou às raias da insanidade. Mas
ele reagiu de forma inesperada. Ao chegar em Londres, passou a tomar aulas de guitarra.
Mergulhou no instrumento tentando expandir seus conhecimentos musicais e se especializar
nele. As bebedeiras e anfetaminas continuaram, mas ele diminuiu no resto.

Uma vez entregue a trilha sonora, Volke Schlondroff adorou o material e fez questão de elogiá-
lo para toda a imprensa. O filme logo estaria representando a Alemanha no Festival de Cinema
em Cannes, ainda naquele ano.

Logo Brian estaria recebendo outros roteiros e pedidos para compor trilhas sonoras. Um alívio
secreto passou pela cabeça dos demais membros da banda, ao contemplar a hipóteses de que
este possa ser um caminho para o amigo atormentado. Se suas composições não têm lugar
nos Rolling Stones, pelo menos agora, ele parece ter encontrado um caminho para canalizar
sua criatividade.

A esta altura, exatas seis semanas depois do incidente em Redlands, a justiça indicia Mick
Jagger, Keith Richards e Robert Frazer, por acusações ligadas a drogas. Robert Frazer pelas
suas cápsulas de heroína e Mick Jagger pelas pílulas que continham anfetaminas na sua
formula química. O remédio sendo italiano pode ser considerado ilegal na Inglaterra. A
quantidade de anfetaminas encontrado era mínima mas foi o suficiente para processar Mick por
uso ilegal de drogas. Keith Richards por sua vez estava indiciado por permitir o uso de sua
residência para o consumo de drogas consideradas perigosas. A indiciação chegou logo aos
jornais como também chegou a história de uma mulher nua encoberta apenas por um tapete.

Allen Klein havia preparado uma turnê européia para ver se deixando o grupo ocupado
tocando, ele pode gerar publicidade positiva e ao mesmo tempo evitar que eles se metam em
maiores encrencas. No dia 24, o grupo estaria viajando para a Dinamarca, onde dia 25 fariam o
primeiro show. Anita retorna para a casa de Brian dia 22. Anita e Brian conversam e ela tenta
lhe dar apoio, desejando que ele faça uma boa excursão. Mas a conversa descambou, Brian já
não acreditando na sinceridade de suas palavras e sentido por saber que ela o está tratando
como um bebezão. A conversa deu lugar à violência e assim se encerra qualquer suposta
chance que Brian ainda tivesse de voltar a ter Anita. "Estou feliz que você se vá" ele diz,
engolindo a dor de vê-la partindo. Quando voltarem a se ver na Italia, ela já será a garota de
Keith Richards.

Europa 67

Ao aterrissarem em Copenhagen a caminho de Malmö, as bagagens dos Stones e de toda


equipe foram cuidadosamente examinados. Todos os cinco músicos foram revistados, sendo
obrigados a se despirem para que toda a roupa do corpo, inclusive as íntimas, fossem
averiguadas. A fama da banda e a divulgação dos eventos ocorridos em Redlands estigmatizou
os Rolling Stones, os tornando alvos preferenciais em vários aeroportos em toda a Europa. A
brutalidade dos seguranças nos shows continuava. Em Örebro cinco adolescentes e um policial
acabaram no hospital. Quando Mick se queixou do uso excessivo de força sobre a garotada,
quase apanhou por isso. Na Alemanha, Keith conheceu e passou a ter um caso com uma
modelo chamada Uschi Obermeier.

Itália

Depois de uma série de shows na Itália, encontram-se com o amigo Stanlislau Klossowski de
Rola, que levou a banda até a vila da família, um pequeno castelo em Roma. De lá, fizeram
dois shows no Palazzo Dello Sport, para uma casa cheia. Assistiram a este show algumas
Deusas do cinema, como Gina Lollobrigida, Brigitte Bardot e uma atriz ainda por se afirmar
chamada Jane Fonda.

Fonda estava na Itália para começar as filmagens de Barbarella, um filme que se tornaria um
pequeno clássico cult. Nele, contracenaria com Anita Pallenberg, que faria a vilã Black Queen
of the Galaxy, A Rainha Negra da Galáxia. O roteiro é de Terry Southern, que indicou Anita.

Marianne Faithfull também estava na cidade em uma passagem rápida antes da estréia da
peça Three Sisters. De Genova, Marianne e Mick voltaram a Londres para a estréia da peça
enquanto a banda seguia para Paris, onde novamente são vistoriados ao extremo pela
alfândega. Quando Mick chega de Londres alguns dias depois, ele é igualmente vistoriado
minuciosamente. Mick, irritado com a óbvia perseguição, procura um jornalista e começa a falar
sobre, o que passa a chamar de "a lista vermelha dos aeroportos Europeus", onde constam os
nomes dos Rolling Stones. Quando o artigo chegou nos jornais, rapidamente autoridades
negaram a existência de tal lista.

O show no Olympia no dia 11 de Abril foi um sucesso, mas enquanto a banda estava tocando,
seus quartos de hotel estavam sendo saqueados por fãs querendo tudo como souvenires.
Roupas, dinheiro, rádios e máquinas fotográficas foram roubados, deixando forte suspeitas
sobre a equipe de manutenção do hotel. Como o local não aceitou a responsabilidade de repor
as perdas, os Rolling Stones nunca mais se hospedariam lá.

Em Le Bourget, na imigração, ao tentarem deixar o país, os ânimos ficaram exaltados e uma


tremenda discussão culminou com Keith e Tom Keylock tomando alguns socos na cara e no
peito. Mick quase apanha também ao pedir calma. O avião decolou com um atraso de noventa
minutos, com destino a Viena. De lá seguiram para Varsóvia, onde os Rolling Stones toparam
ser a primeira banda de rock a tocar atrás da cortina de ferro. O dinheiro envolvido era irrisório,
mas a banda sabia que tinha fãs por lá e resolveram ir de qualquer maneira.

Polônia

Lá chegando, percebem logo o disparate em níveis de conforto. Cidade cinzenta, não havia
televisões nos quartos do hotel, apenas rádios com alcance apenas local. Tentaram andar um
pouco pela cidade mas foram impedidos de sair do hotel. Ao redor do Palácio da Cultura, o
local do evento, havia uma grande aglomeração de pessoas, cerca de 10.000, protestando.
Logo se soube que os ingressos ficaram nas mãos de pessoas do partido e foram distribuídos
essencialmente para os amigos destes. O povo, em sua maioria, sequer teve a oportunidade
de disputar um ingresso, nem mesmo por preços absurdos.

A polícia havia fechado a praça horas antes da banda chegar. A presença maciça de centenas
de policiais prenunciava uma guerra que acabou mesmo acontecendo. Com a chegada do
ônibus contendo a banda, o povo do lado de fora começou a forçar entrada na praça. Cerca de
3.000 pessoas avançaram contra as grades tentando invadir o palácio e assistir o show. De
capacetes de ferro, a força oficial marchava com cavalos contra a garotada, atacando-os com
porretes de borracha. O povo retribuía a gentileza jogando garrafas e pedras na policia.
Enquanto o show corria lá dentro, cerca de 2.000 pessoas tentaram invadir o edifício por uma
entrada lateral em outro ponto da praça. A polícia contra atacou com gás lacrimogênio, optando
por reconquistar o "domínio" da praça com mais um festival de porretes de borracha.

Os Stones dariam duas apresentações e estavam assustados com a opressão selvagem contra
o povo, meros adolescentes querendo se divertir em um show de rock. Entre apresentações,
viram através de um basculante do vestiário a chegada de dois caminhões munidos com
canhões de água se posicionando. Assim, durante praticamente todo o segundo show, jatos
d'água passaram a ser atirados na garotada, os mantendo à distancia. Toda redondeza era um
campo de batalha com soldados armados de metralhadoras e cães raivosos tentando dissipar
a multidão. Apenas 30 pessoas foram presas.

Dentro do Palácio, o público estava relativamente quieto. Qualquer um que se levantasse para
aplaudir ou gritar era imediatamente reprimido por um segurança armado que vigiava
constantemente os corredores. Por volta da terceira música, Keith manda Charlie parar de
tocar e começa a dar ordens apontando para as primeiras filas. "Hey cambada aí da frente com
seus dedos nos ouvidos e cheios de jóias. Se mandem! Saiam já daí e deixem a garotada lá de
atrás sentar. Saiam já!" Uma porcentagem considerável das seis primeiras filas se levanta,
tendo seus lugares imediatamente tomadas pela garotada. Os Stones então continuam seu set
até o final.

Ao final da noite, os Stones já estavam enjoados de ver tanta repressão. Com uma caixa com
cem compactos, a banda e um motorista embarcaram em uma aventura. Passaram a rodar a
cidade em uma van até encontrarem um grupo de jovens. Diminuíam então a velocidade do
veículo e jogavam alguns compactos para eles. Rodaram até que a caixa com todos os
compactos estivesse vazia, retornando para seus quartos com uma sensação de missão
cumprida. No dia seguinte, ao deixar o hotel e o país, descobrem que por uma incrível
coincidência, o lucro dos dois concertos da noite anterior cobriu exatamente o valor da conta do
hotel.

A pouca imprensa presente para cobrir o primeiro show de rock de um país da cortina de ferro,
toda estrangeira, anunciou para o oeste que os Rolling Stones conseguiram o que nenhuma
instituição política tenha conseguido até então: causar revolta popular e desobediência civil em
um país comunista e de regime militar.

Seguem então para Zurich na Suíça, onde tocam no Hallen Stadium para um público de 12.000
pessoas. No meio do show, um sujeito conseguiu enganar 300 seguranças, subir no palco e
avançar sobre Mick Jagger. Mick que estava distraído cantando, foi jogado repentinamente no
chão, com o sujeito passando a golpeá-lo incessantemente. Tom Keylock, vigiando do lado
oposto, chegou para socorrer Mick antes dos seguranças e acabou quebrando a mão do
atacante. Jornais reportariam que o concerto foi a maior demonstração de vandalismo já visto
no país.

Depois de shows na Holanda e uma passagem rápida em Londres, seguem para Atenas,
Grécia. O show realizado no Estádio de Futebol do Panathinaikos mostrou tons da opressão
iguais aos encontrados na Polônia. A violência da policia sobre o público enjoou a banda e
acabaram por terminar o show antes do tempo normal, o que deixou o público extremamente
descontente.

Férias

Ao deixar o país, mais problemas no aeroporto, o que resultou em Keith perder o avião e ter
que aguardar algumas horas para o próximo. A banda seguiu para a Inglaterra enquanto Keith
seguiu para Roma, para ficar com Anita. Bill Wyman ficou no país, indo para Glyfada,
hospedando-se no Astir Beach Hotel, e permanecendo lá por uma semana ao lado de seu filho
Stephan e sua namorada Astrid. Dois dias depois, um golpe de estado tomou o governo e a
Grécia ficou desconectada do resto do mundo. Levaria uma semana até o casal conseguir sair
do país e voltar a Londres. Brian voltou a freqüentar os clubes e acabou se dando bem com
Linda Keith, ex-namorada de Keith Richards. Vão para a Broadway, perto de Worcester, onde
passam uma semana juntos. É aparentemente óbvio que a relação entre os dois é mais fruto
do despeito e dor que ambos sentem por Keith Richards, cada qual por seu motivo.

O Rock e a Política

Mick ficou em Londres dando entrevistas, queixando-se do tratamento nos aeroportos e que o
estress não está valendo a pena. Afirma também que os Stones não irão excursionar mais para
os Estados Unidos. A banda não tinha mais nenhum show marcado e aguardaria o julgamento
antes de se comprometer a se apresentar novamente em qualquer lugar. Os jornais
transformam os Rolling Stones em pequenos revolucionários em função dos distúrbios que eles
incitaram na Polônia. Mick alimenta a fogueira com declarações politicamente orientadas.

"As pessoas gostam de falar da violência que cerca nossos shows. Existe sim um certo
elemento de violência ao nosso redor. Eu vejo este comportamento em diversos países, pois os
sintomas são os mesmos. Frustração. E estamos falando de jovens de todos os níveis sociais.
Você não consegue resolver o problema os trancafiando. Essa não é a resposta. Você precisa
descobrir a razão porque estão descontentes. Ninguém é maluco para querer brigar com a
policia por nada." Em particular Mick comenta, "Eles pensam que nos pegaram mas esquecem
que podemos contar tudo para a garotada, que por sua vez, irá perder cada vez mais o respeito
pela polícia."

Para o Daily Mirror, Mick declara: "Vejo grande perigo no ar. Os adolescentes não estão
gritando para a música como antes. Seus gritos surgem por motivos mais profundos. As
bandas e a música são apenas uma desculpa para liberarem suas frustrações. No palco,
percebo que o público quer comunicar comigo, nem que seja telepaticamente. E a mensagem
não é sobre nossa música, mas sobre nosso mundo e a forma que somos obrigados a viver.
Adolescentes estão cansados de serem ditados com códigos de comportamentos antiquados,
forçados a eles por políticos sem visão, que só enxergam seu modo de pensar. Isto é um
protesto contra todo o sistema e eu vejo problemas no horizonte."

Mick Jagger não está brincando de política, ele acredita na revolução jovem que está surgindo.
Sinais claros de mudança de comportamento estão por toda parte. Cada vez mais jovens
deixam seus cabelos crescerem, questionando o padrão estabelecido para higiene e etiqueta.
Nos Estados Unidos, passeatas estudantis surgem por todo o país. Com influências variadas
que vão desde o grito de guerra de Timothy Leary para se ligar, se sintonizar e cair fora, ao
livro beatnick "On The Road" de Jack Kerouac, somados ao receio eminente de ser convocado
para ir morrer em Vietnã, milhares de jovens deixam suas escolas, suas casas e suas vidas
conformadas e somem pelo país. Muitos em romaria a San Francisco, que em 1967, se torna a
Mecca do movimento hippie. A guerra do Nós conta Eles está declarada.

Youth Revolution

Dentro dos próximos dois anos, esta guerra terá matado e ferido muitos jovens, em números
alarmantes. Apesar de toda música boa que geralmente é associada a esta época, era um
tempo extremamente perigoso para ser jovem e de opinião própria, declarando-se livre de
influências. Principalmente no interior americano, hippies são confundidos com comunistas. E
não existe nada mais anti-americano que um comunista. Mentalidade simples, resulta em
repulsa, geralmente acompanhada de violência.

O sistema por outro lado tenta absorver as novidades. As bandas com apelo feminino,
causando as "manias" iniciadas pela Beatlemania, já foram mastigado pelo sistema que
regurgita para o mercado produtos como os Monkees, além de bonecos e desenhos animados,
cujos personagens participam de bandas de música (rock) pop. Exemplos mais lembrados
provavelmente são os Archies e os Banana Splits, seguidos depois por Josie & as Gatinhas e
incontáveis outros. Logo o mercado batizaria a música deste filão como sendo bubble-gum rock
(rock chiclete).

As mudanças surgiriam cada vez mais rapidamente. A era das "manias" já passou. Surgem
novas bandas, com um som mais pesado, agitados pelo ácido e pela adrenalina. O trio Cream
é talvez o mais conhecido entre estes, graças ao seu já famoso guitarrista, Eric Clapton.
Levaria ainda outros três meses para o mundo conhecer Jimi Hendrix, embora em Londres seu
nome seja uma unanimidade entre outros músicos.

Atiçado pela perseguição, Jagger está tomado pela revolução, acreditando que quando a
poeira abaixar, é a policia que será ridicularizada. Tanto Mick quanto Keith estão extremamente
otimistas quanto à batalha legal por vir. Marianne Faithfull e Robert Frazer por sua vez, não
estão tão certos.
Festival de Cinema em Cannes '67

Brian e Keith tentaram se reaproximar como amigos. Talvez fosse por causa da banda este
esforço para uma coexistência pacífica, afinal é muito dinheiro, fama e uma vida de farra,
gerados pelos Rolling Stones. Mas no caso de Brian, ele passaria a mostrar cada vez mais esta
faceta de sua personalidade. A de se sentir extremamente desconfortável ao perder uma
amizade de qualquer espécie. A hipótese lhe causava uma insegurança extrema e ele passaria
a demonstrar uma incrível paciência e esforço para manter amizades que nem sempre lhe
serão benéficos.

Linda Keith percebendo que não havia mais lugar para ela na vida de Keith, sai de cena. Brian
se hospeda no mesmo hotel que Keith e Anita em Cannes, onde A Degree of Murder está
sendo exibido. Ele tenta uma ultima aproximação com Anita mas ela não está interessada.
Keith os deixa a sós para que eles se entendam e no final da conversa, Brian se retira,
antecipando sua volta a Londres. O coração de Anita agora pertence a Keith e o casal
permaneceria em Cannes, seguindo depois para Roma, onde Anita faz uma pequena
participação no filme Candy.

Os Stones no Cinema

A divulgação de "Only Lovers Left Alive", um filme com os Rolling Stones, levanta
especulações favoráveis a Brian ser projetado na grande tela. Mick Jagger passou a ter aulas
de piano e os demais deveriam começar a ter aulas de dramaturgia, porém apenas Bill Wyman
chegou a freqüentar. O sucesso de "A Degree In Murder" fez com que outros produtores
procurassem Brian mandando-lhe roteiros para que ele cuidasse da trilha sonora. Que se
saiba, Brian folheou os roteiros de The Bedford Incident, Goldwhiskers, Springtime For
Samantha, Polygamous Polonius e House of Wax, mas houveram outros.

Intoxicado Por Amor

Para muitos, perder Anita destruiu Brian. Ele supostamente teria dito algo nos moldes de, "Eles
tomaram minha música, tomaram minha banda e tomaram meu amor." Eles, evidentemente,
são Mick e Keith, já que Andrew perdera o controle e poder que tinha sobre os dois. A notícia
de Anita passando das mãos de Brian para Keith se espalhou pela mídia e isto também foi
particularmente humilhante. Brian reage em parte, flutuando pelos clubes noturnos e se
mostrando disponível. Logo estariam morando com ele duas meninas, Tina e Nikki, com as
quais manteria uma relação a três.

Quanto a tóxicos, seus hábitos lhe custavam cerca de £230 por dia. Brian seria visto em
diversas ocasiões pegando um punhado de pílulas, sem o mínimo interesse em saber o que
são e qual efeito se combinados, simplesmente engolindo tudo de uma vez, como um glutão.
Depois viraria a noite toda agitando com a companhia que tivesse. Muitas vezes a menina que
estivesse com ele acabaria apanhando. Brian aprendeu a gostar de bater em mulheres. Porém
nenhuma deu queixa, como se qualquer coisa fosse válida para se ter um Rolling Stone na
cama.

Em certa noite, uma visita testemunha Brian todo energizado tentando apresentar uma
gravação sua. Mas quanto mais ele se esforçava para colocar a fita rolo no gravador, mais ele
se enrolava, até que finalmente o rolo cai no chão e espalha fita por toda a sala. Brian
pateticamente senta no chão e começa a chorar. Depois, em uma fúria desnecessária, pega a
fita e com uma tesoura, corta sem cerimônia tudo em diversas tiras e depois amara as tiras
com um nó, uma à uma, Ao colocar pra tocar, Brian está extasiado com a incrível música que
só ele consegue ouvir, enquanto seus convidados escutam espasmos sonoros que prometiam
ser interessantes, se pudessem ser ouvidos decentemente. Conta-se que algumas coisas
gravadas por ele foram jogadas na lareira para queimar, em meio a outras crises de angústia.
Pouco se sabe realmente do que havia e o que sobrou de seus arquivos sonoros.
Rotina de um Druggie

Brian começa suas manhãs geralmente com umas poucas carreiras de cocaína para despertar.
Depois leva Nikki e Tina para comer algo na cidade. Às vezes dirigindo doidão, quase causa
alguns acidentes pelo caminho. Evidentemente o fluxo de automóveis em 1967 é bem inferior
do atual. Sem estar em condições de estacionar o carro, joga seu Rolls Royce contra um muro
que desmorona com o impacto. Enquanto Brian leva as meninas para dentro, pede ao amigo
Tony, que acompanhava o trio, para estacionar o veículo. Tony está boquiaberto com o que
acaba de testemunhar e abismado que o carro tenha ficado apenas com uma leve mossa no
pára-choque. Rolls Royce rules!

Brian se distrai e passa muito do seu tempo ocioso fazendo compras. Está constantemente em
Kings Road, reduto onde todo o povo hip busca suas roupas. Em tempo ele também passaria a
investir seu dinheiro em jóias e bijuterias, coisa incomum para um homem. Brian ajudaria a
criar uma moda de homens usando roupas extravagantes e jóias. Algumas pessoas iriam
confundir isto com homossexualismo, porém não há testemunho de ninguém que conhecesse
Brian realmente de perto, que confirme qualquer tipo de tendência homossexual sua. Muito
pelo contrário. Estas teorias de homossexualismo tendem a ser mera especulações,
possivelmente com o objetivo de vender livros.

Às vezes, durante o dia, Brian gostava de passear de carro pelas ruas de Londres, abaixando
seu vidro para ser reconhecido e depois mandando o motorista acelerar para não ser pego pela
mulherada. Às vezes ele prefere atiçar Tina e Nikki a terem sexo enquanto ele assiste. Muitas
vezes ele acaba participando. Apesar das drogas, sua capacidade sexual continua ativa,
decaindo apenas em fases de crise asmática (geralmente na estação de polonização).

Hábitos Imundos

Apesar de gostar de transar, sexo não representava muita coisa para ele. Brian aparentemente
não associa sexo com sentimentos. E êxtase sexual, nesta fase de sua vida, vem de várias
formas. Brian tirava prazer em dormir com várias mulheres diferentes, em um espaço de tempo
mínimo entre uma relação e a outra. Ele começa a usar sexo como uma arma. Telefona para
uma amiga convidando-a a passar por lá, enquanto outra menina, a quem acabara de ter
relações, ainda estivesse no quarto. Quando a nova menina chega, Brian sem a mínima
cerimônia, informa à primeira que está na hora dela ir embora.

Relatos mencionam como ele gostava de se gabar sobre a quantidade de virgens que
deflorava. Guardava os lençóis manchados de sangue para mostrar aos amigos e comprovar
seus feitos. Outros relatos contam como Brian tirava prazer em denegrir cruelmente o
desempenho da parceira, de preferência em um volume que a coitada podesse ouvir. Uma
espécie de sadismo verbal, onde a perversão passa a lhe trazer prazer. Neste campo, a
agressão física em mulheres era uma constância. Brian rapidamente está se tornando um
monstro e vários de seus amigos se afastam.

Acusação Oficial

Na segunda semana de maio, Marianne, Mick, Keith e os amigos Michael Cooper e Clifford
Baldwin, voltam para Redlands às vésperas de comparecerem ao tribunal ali perto, em
Chichester, West Sussex. Mick e Keith estão certos de que o incidente irá acabar com uma
multa e nada mais. No dia 10, havia um pequeno grupo de fãs aguardando por eles, alguns
aparecendo com cartazes pedindo pela legalização da maconha. Robert Frazer chegou de
Londres com Tony Sanchez. Diante do tribunal, Robert Frazer, Mick Jagger e Keith Richards,
acompanhados pelo advogado Leslie Perrin, ouvem oficialmente suas acusações e um
julgamento é marcado para final de junho.

Enquanto isto, em Londres, a policia está invadindo a casa de Brian Jones. Liderados pelo Sgt.
Norman Pilchar da Scotland Yard, encontram cocaína, e maconha. Brian confirma a posse da
maconha mas nega que seja sua a cocaína encontrada. Ele é atuado como também sua visita,
Stanislaus Klossowski de Rola, apelidado pelos amigos de Stash, ambos levados à delegacia.
Lá chegando, os fotógrafos e repórteres já estavam aguardando e fizeram a festa.
De lá, hospedam-se no Hilton Hotel, onde também estava Allen Klein. Quando a notícia da
prisão chegou à televisão, o gerente do hotel tentou expulsá-los, mas Klein foi decisivo em
proteger os direitos de seu cliente. No dia seguinte estão no tribunal para ouvir oficialmente a
acusação. A polícia havia encontrado 50 gramas de maconha e um vidro com remanecências
de cocaína dentro. Pagam uma multa de £250 cada e têm o julgamento marcado para outubro.
O primeiro ato de Brian foi de mandar um telex para seus pais pedindo que não o julguem com
muito rigor. Andrew Oldham com medo de ser o próximo, saiu do país e só voltou quando
achou que era seguro. Os demais Rolling Stones se sentiram abandonados por ele e o
incidente seria decisivo para Oldham ser dispensado da produção dos futuros discos.

Stress e Crise Nervosa

Brian havia contraído um medo paranóico de ser encarcerado. Ele jamais volta para o seu
apartamento e manda sua amiga Suki Potier lá periodicamente para reaver suas coisas. Brian
havia sido extremamente gentil e amigo quando Suki estava extremamente vulnerável, após o
acidente que sofrera e que resultou na morte de Tara Browne. Agora que é ele que está
vulnerável, ela passa a ficar ao seu lado, os dois acabando por se tornar um casal. Como todas
as outras namoradas de Brian, ela logo resurge com os cabelos aloirados e cortados curtos
como o dele. O padrão de todas as namoradas de Brian se parecerem com ele continua.

Se seu estilo de vida e modos afastaram alguns amigos mais antigos, Brian já anda com uma
nova casta de amizades, passando a morar inicialmente na casa de alguns. Quando não, ele
está em algum hotel. Está traumatizado e extremamente estressado, preocupado com o que a
policia está tramando para pegá-lo. É neste período que Brian começa a tomar Mandrax, um
tranqüilizante popularmente chamado de downer. Ele se afasta dos demais Rolling Stones, sob
conselho do seu advogado. Porém os seus medos eram compartilhados. A cúpula dos Stones
sabe que é Mick Jagger o alvo maior, porém a acusação sobre ele é demasiadamente
circunstancial e sem substância. Está claro para Mick que a polícia quer quebrar a banda e
colocá-lo na cadeia. Pensando nisto, Mick começa a temer que a policia encontre em Brian um
ponto vulnerável para atingir a banda e passam a fazer de tudo para dobrá-lo. O fato de a
polícia expedir um mandato de busca domiciliar na casa de Brian no dia da audiência de Mick e
Keith já demonstra o cuidado de uma estratégia previamente planejado.

Her Satanic Majesties Request

Em meio a estes eventos sai o lançamento do album Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band
dos Beatles, causando um furor no mercado. Várias indústrias passam a apontar seus canhões
para o psicodelismo e tudo que é colorido e abstrato passa a vender. O maior furor logicamente
foi na industria fonográfica, que passa a ter que gastar fortunas só na capa dos discos. A
mentalidade do LP - Long Play, (vinil de 12 polegadas) como afirmação artística, passa a
sobrepor a mentalidade antiga dos compactos (vinil de 7 polegadas). Logo estéreo também
passará a ser um fator importante, tecnologia já muito disponível Porém ainda largamente
ignorada. Mick Jagger quer estar nesta onda, principalmente ao observar todos os jornais
musicais cercando os Beatles, relegando aos Stones apenas as colunas policiais. Frustrado,
Jagger conclui, "Rhythm & blues está morto e psicodelia é o que o povo quer."

O Olympic Studios passa a ser novamente freqüentado pela banda para a gravação do próximo
disco. Aparentemente, o álbum seria inicialmente a trilha sonora para o filme "Only Lovers Left
Alive". Pelo menos Klein estava tentando pressionar a banda para criar uma trilha. O próprio
titulo inicial, "Her Satanic Majesties", um afronto à Rainha (Her Britannic Majesty), demonstra
uma certa relação com o enredo do filme. Mas os problemas dentro da banda lidando com os
eventos recentes e seus desdobramentos, afastam cada vez mais a viabilidade de se fazer o
filme. Klein por sua vez dá declarações enfatizando viabilidade de lucros com o filme na ordem
de $2 milhões de dólares enquanto boatos sugerem que apenas Mick Jagger e não os Rolling
Stones estaria atuando nele.

No estúdio, Brian demonstra claramente que ele acha toda esta onda de psicodelísmo uma
tremenda bobagem. Discute seguidamente com Mick que este tipo de música não representa a
música dos Rolling Stones, uma frase que ele iria repetir algumas vezes. No final de junho seria
realizado o julgamento de Mick, Keith e Robert. As sessões de gravação são então suspensas.
Todos menos Charlie saíram do país; Mick, Marianne e Nicolas indo para Tangier, Keith e Anita
para Paris, Bill e Astrid passeiam pelo País de Gales enquanto Brian vai para Monterey assistir
o festival que lá se realizava.

Monterey

Brian cruza o oceano com Noel Redding ao seu lado, ambos tendo tomado um ácido roxo
batizado de Owsley. Noel ficou um dia em Nova York enquanto Brian pegou outro avião direto
para San Francisco. Nesta segunda viagem, ele por acaso senta ao lado de Al Kooper. Kooper
viria a definir o estado de espirito de Brian como de alguém que estivesse provavelmente
orbitando nas redondezas do planeta Júpiter. Ele exemplifica sua afirmação dizendo que Brian
responderia a um comentário que ele havia lhe feito pouco depois de decolar, quase perto de
aterrizarem, permanecendo quase em transe durante todo o resto do tempo.

Em Monterey Brian foi tratado com toda a atenção de um superstar. Uma das pessoas
envolvidas no projeto era Derek Taylor, que trabalhara com Brian Epstein e os Beatles
enquanto eles ainda estavam excursionando. Taylor havia procurado Paul McCartney tentado
sondar a possibilidade de os Beatles participarem do evento, proposta recusada. Mas Paul
McCartney havia sugerido Jimi Hendrix, guitarrista da moda em Londres, porém ainda
desconhecido na América, recomendação confirmada por Andrew Oldham, com quem Taylor
também conversou. Brian ao chegar no festival é convidado para anunciá-lo ao público no
show. Enquanto em Monterey, Brian tomou mais LSD com várias pessoas, como os amigos
Dennis Hopper e o próprio Jimi Hendrix.

O Julgamento

Terça-feira, dia 27 de junho, inicia-se o julgamento dos três acusados. Dias antes, Mick, Keith,
Marianne e o advogado Michael Havers estão discutindo suas táticas. Mick é acusado por
conta das pílulas de enjôo que nem eram dele. Marianne queria ir até a corte e dizer a verdade,
ou seja, que as pílulas são dela, porém nem Jagger, nem Havers aprovam. O advogado
considera mais provável que ninguém acreditaria. Como Marianne ficaria de fora, ela resolve
sumir e junto com sua amiga Saida, resolvem passar o fim-de-semana na casa do Steve
Marriot. Lá ficaram tomando ácido na companhia de quase toda a banda Small Faces, que
andavam sempre juntos. Anita estava em Roma iniciando as filmagens de Barbarella.

O Julgamento – Frazer

Sr. Havers havia acertado que Mick e Keith seriam julgados em separado de Robert Frazer,
pego com heroína, uma ofensa bem mais grave. Quem passa a representar Frazer é outro
advogado, Sr. Denny. O seu julgamento foi o primeiro.

Acusado da posse de um vasilhame de Desbutal, remédio que contém uma pequena dosagem
de anfetamina, e vinte e quatro tabletes de heroína, a defesa apresenta uma receita datada de
janeiro para o Desbutal e esta acusação foi abandonada. A defesa então chama o médico do
Sr. Frazer, Dr. Craigmore, que dá testemunho de que seu paciente, Sr. Robert Frazer, estava
sob tratamento para combater o seu vício em heroína e que apesar de sua recaída, não há
razões para se crer que ele voltaria a usar a droga. No fim, Robert Frazer foi considerado
culpado e permaneceria em custódia até o final do julgamento dos três, quando então seria
conhecida sua sentença, junto com as demais.

O Julgamento - Jagger

Depois do almoço foi a vez de Mick Jagger ser julgado. Foi confirmado pelo laboratório da
polícia que os tabletes encontrados com Jagger continham uma dosagem ínfima de
Benzedrine. Foi confirmada a origem italiana dos remédios e sua utilidade contra enjôo. O
médico de Jagger, Dr. Raymond Firth confirmou ter autorizado Jagger verbalmente a usar o
remédio e o advogado de defesa tentou implicar que isto seria o equivalente a uma prescrição.
O juiz imediatamente recusou tal equivalência mas concordou que o acusado recebeu
consentimento de um médico qualificado. As leis inglesas proíbem a posse de medicamentos
que contém certos compostos em sua fómula, sem receita. Composições que inclui anfetamina
ou benzedrine caem diretamente nesta cláusula legal e o júri levou apenas seis minutos antes
de retornar com um veredicto de culpado.
Mick Jagger e Robert Frazer são então levados ao Lewes Prison onde pernoitaram, cada um
em sua cela. São obrigados a ficar de algemas durante o transporte de ida e volta para o
tribunal, à mercê dos fotógrafos. Na manhã seguinte, começou o julgamento de Keith Richards,
o mais complicado dos três e que duraria dois dias.

O Julgamento - Richard

Para provar que o Sr. Keith Richard permitiu conscientemente que sua residência fosse usada
para o consumo de drogas ilegais, Sr. Morris, o advogado de acusação, explora o fato de ser
encontrado em diversos cômodos de sua residência, resíduos de cannabis. Fala de dois
personagens misteriosos. Primeiro, um Sr. X, com quem foram encontradas 66 gramas de
maconha em um bolso e 150 gramas em outro. Quando foi expedida uma ordem para a prisão
desta pessoa, ele já havia saído do país, supostamente fugindo para o Canadá. Outro
convidado de Sr. Richards é uma jovem, tratada pelos jornais como "uma mulher misteriosa",
que segundo a polícia, estava coberta apenas por um tapete e que se deixou ser vista nua. Ela
seria descrita segundo a oficial feminina que a revistou, como extremamente alegre e "em um
estado de poucas inibições." O Sr. Morris tenta com isto mostrar o estado de intoxicação das
pessoas presentes, provando assim, não somente o uso, mas a impossibilidade de alguém
presente não perceber que maconha estava sendo cheirada no local. O advogado depois foi
alertado para o fato de que não há provas de que se pode obter um estado de intoxicação
cheirando maconha, apenas ao fumá-la.

Durante a parada para o almoço, jornalistas encontraram dois dos policiais de Chichester
presentes na batida policial, almoçando nas redondezas do tribunal. Questionados sobre o que
ocorreu realmente para esta mulher misteriosa ser considerada estar "em um estado de poucas
inibições", um dos guardas começa a aumentar os fatos. Disse que ao encontrá-los, a mulher
tinha uma barra de chocolate enfiada na vagina enquanto Mick Jagger saboreava o doce. Estas
mentiras fizeram primeira página em diversos tablóides, aumentando ainda mais a imagem de
orgia que parte do público conservador tinha de todo o incidente. De quebra, a imagem de
Marianne Faithfull, apelidada agora de Marijuana Faithfull, foi extremamente prejudicada em
sua carreira, mesmo seu nome não sendo mencionado durante todo o processo.

Depois do almoço, o advogado de defesa tenta associar a batida policial diretamente com o
fato de que um dos convidados do réu tinha um processo de calúnia contra um famoso jornal. É
sabido que o jornal em questão foi quem ligou para a polícia dizendo que estava havendo uso
de drogas ilegais naquela residência. Ele tenta assim mostrar má fé por parte do jornal e
complacência por parte da polícia. Identifica os Sr. X como sendo David Schneiderman, uma
pessoa que não faz parte do círculo de amigos de Sr. Richards, apenas um admirador da
banda que recebeu um convite para visitá-lo em casa. Sr. Havers argumenta em seguida que a
menção desta "mulher misteriosa", seria apenas uma maneira da acusação tentar criar no júri,
uma associação de uso da maconha na residência do Sr. Richards, simplesmente por ela ser
desinibida. O advogado de defesa então apresenta o tapete em questão, que cobria o corpo
desta mulher, mostrando que é de um tamanho superior ao de um casaco e capaz até de cobrir
uma cama de casal grande.

Durante todo o julgamento de Keith, tanto Robert Frazer quanto Mick Jagger estão trancafiados
em uma cela no porão do tribunal. Ao fim da tarde, Marianne que fora encontrada e trazida ao
local por Tom Keylock, visita Mick. Ao chegar, ela encontra um homem chorando e
desesperado com seu futuro. Nada parecido com o Mick Jagger, sempre em controle que ela
conhecia. Ela começa tentando acalmá-lo e depois se irrita e paga-lhe um esporro. "Segura
sua onda Mick se não você vai confirmar para esta polícia a imagem que eles querem fazer de
você, a de um pop star bebezão." Pronto. Jagger parou imediatamente de reclamar, sumindo
totalmente todo e qualquer vestígio de vulnerabilidade. Diga-se de passagem, nunca mais
Marianne o viu tão emocional e sincero.

Depois foi a vez de Michael Cooper lhe fazer uma visita. Cooper ofereceu algumas palavras de
força, mostrando em seguida que havia conseguido entrar com uma câmera escondida.
Autorizado por Mick, Cooper registra o momento tirando algumas fotos de Jagger atrás das
grades. Michael sonhava em poder utilizar algumas pra alguma capa no futuro, porém o filme
foi confiscado na saída. Antes de serem levados de volta para o Lewes Prison, Keith Richards
também passou para trocar algumas palavras. Quanto ao seu próprio futuro, Richards parecia
querer mostrar que estava pronto para tudo, venha o que vier.

Enquanto Jagger e Frazer vão para a casa de detenção de Lewes; Keith, Michael e Marianne
vão para Redlands. Keith passa a noite não falando muito com ninguém, andando de um lado
para outro da sala, enquanto Michael e Marianne abraçados e receosos com o futuro de Mick
Jagger, acabam dormindo juntos.

No dia 29, último dia de julgamento, Keith Richards foi questionado e respondeu a perguntas
com seu estilo característico de pouca retórica. Negou conhecer pessoalmente alguns dos
convidados presentes na festa, uma das pessoas que ele não conhecia sendo o Sr.
Schneiderman, referido anteriormente como Sr. X. Negou ciência de qualquer um de seus
convidados estarem fumando maconha como também negou reconhecer a diferença do odor
de incenso para o de maconha.

Quando a acusação o questiona se não lhe pareciam suspeitas as atitudes de uma mulher
jovem não se sentindo constrangida em estar nua diante de sete homens, Keith responde
categoricamente, "Nem um pouco estranho. Não somos homens velhos e não nos
preocupamos com pequenas moralidades." Insistindo se não seria mais provável que a moça
em um estado normal, deveria se sentir envergonhada, Keith retruca, "Ela não se envergonha
com facilidade e nem eu tampouco."

A Sentença

Depois de uma hora e meia, o júri retornou e considerou Keith Richards culpado. Mick Jagger e
Robert Frazer foram levados até o tribunal para ouvirem juntos suas sentenças. Keith Richards
é então informado que ele terá que passar os próximos doze meses na cadeia e pagar £500
em custos judiciais. Ao ouvir a sentença, Keith olha para o teto, depois abaixa a cabeça, pálido.
Robert Frazer então é sentenciado em seis meses de prisão e £200 em custos judiciais. Por
último Mick Jagger, sentenciado em três meses de prisão e £100 em custos judiciais. Ao ouvir
a sentença, Jagger perde toda cor e quase desmaia. Abaixa a cabeça, esconde o rosto e chora
um choro abafado.

Durante todo o julgamento, milhares de jovens haviam se reunido em Hyde Park em Londres
para um pray-in, todos rezando juntos emanando fluídos positivos para Mick e Keith. Era o
inicio do movimento que passaria a ser conhecido como Flower Power". No tribunal, o público
jovem presente em maior número, ao ouvir a sentença, chora e grita em descontentamento
palavras de ordem como "Deixa eles irem", "Vergonha" e "Injusto." Nas ruas defronte e
adjacentes ao tribunal, um grupo calculado em 600 pessoas é gradualmente informado dos
fatos e entra no coro. Horas depois, Mick, Keith e Robert deixam o tribunal algemados para a
prisão. Mick segurando o choro e Keith mordendo o lábio, impávido, feito uma pedra. Alguns
choram ao vê-los indo, gritando "We love you!"

No Xadrez

Mick e Robert foram trancafiados em Brixton Jail enquanto Keith foi para Wormwood Scrubs.
Mick e Keith tiveram reações diferentes frente ao aprisionamento. Keith viu a prisão pelo seu
lado romântico, tendo desde garoto admirado vilões em bangue-bangues e filmes de gangsters.
Sua curiosidade em realmente estar preso e viver uma experiência igual a ídolos de infância
ainda o inebriava em um ar favorável. Os demais presos lhe pareceram bem mais jovens do
que imaginava e o tratavam como herói, oferecendo cigarros pela alegria de sua presença.
Quando o rádio tocava Satisfaction, toda aquela ala aplaudia em reverência, Keith
possivelmente pensando para si, "Meu tipo de gente." Durante a caminhada obrigatória pelo
terreno externo da prisão, que todo prisioneiro tinha que fazer diariamente a título de exercício,
outros prisioneiros vieram lhe falar. Mostravam aliança a Keith e ciência que o sistema estava
querendo aprisioná-lo pelo que ele representa e não pelo que ele fez. Ofereceram de tudo,
cigarros, haxixe e até ácido. Tudo disponível na prisão, para sua surpresa. A idéia de tomar
ácido na prisão era chocante e Keith apenas aceitou o tabaco. Logo ele estaria deixando o
lugar.

Já Mick não tinha nenhuma ilusão romântica quanto à experiência de ser preso. Preocupava-
lhe o desespero que seus pais deveriam estar sentindo com o filho na cadeia. Sentia-se
extremamente injustiçado com todo o julgamento e seus resultados. O jornal News of the World
venceu, assim como todo o sistema que queria acabar com a banda, manipulando a justiça
para conseguir o seu intento. Marianne, ao visitá-lo, sugeriu que ele deveria usar a experiência
para algo positivo e tentar escrever uma canção. Além do mais, há uma insatisfação pública
muito grande e a sentença ainda poderia ser revertida.

The Who Toma a Iniciativa

Quando a notícia da sentença de cadeia para Jagger e Richards se tornou pública, aconteceu
muita comoção dentro do meio artístico. Pete Townshend imediatamente chamou o Who para o
estúdio e gravou Under My Thumb e The Last Time. Apenas John Entwistle que estava
viajando em lua-de-mel não participou desta sessão, Pete fazendo as linhas de baixo nesta
noite.

No outro dia, o The Who, através de Pete Townshend, declararia que os Rolling Stones estão
sendo usados pela lei como bodes expiatórios para coibir e resolver problemas recentes ao uso
de drogas ilegais. Portanto, como sinal de protesto, The Who estaria lançando periodicamente,
um compacto com composições dos dois artistas como forma de manter seus trabalhos em
evidência e na memória do público. Futuros lançamentos seguirão até que a dupla esteja livre
para gravar eles mesmos. Nenhum interesse comercial está atrelado a esta decisão e toda
renda destes compactos será revertida para uma instituição de caridade.

Os Beatles também estão chocados e insatisfeitos com o rumo que a decisão judicial tomou.
Assim, quando apresentados a uma petição solicitando a legalidade da maconha dentro do
Império Britânico, os quatro assinaram, como também seu empresário, além de outras pessoas
do show business. Uma cópia da petição foi entregue aos jornais e publicada. Lennon em
entrevista se queixa que todo governo é calhorda e o da Inglaterra não é diferente. Analisa que,
ao fechar a Radio Carolina (rádio pirata) e tentar aprisionar a dupla dos Rolling Stones,
enquanto ao mesmo tempo, gastam bilhões em armamentos nucleares e dão permissão aos
Estados Unidos para montarem bases militares secretas no território inglês, só mostra que o
todo governo é ruim por igual.

Mudança da Opinião Publica

Diversos jornais entraram no debate e passaram a comentar sobre a forma desnecessária com
que a justiça fez questão de mostrar Mick Jagger de algemas na televisão. Gradativamente a
opinião pública começa a enxergar a questão com outros olhos. Duzentas pessoas protestaram
em frente ao edifício do jornal News of the World, protesto depois estendidos a outros jornais.
O trânsito rapidamente ficou congestionado. Enquanto isto, na cadeia, Jagger que havia
passado o dia anterior chorando e sentindo pena de si mesmo, estava agora mais estável
emocionalmente. Pediu e conseguiu ser encarregado da biblioteca da prisão, uma posição
pouco disputada, e ao ser visitado novamente por Marianne, falava de como passava o dia
lendo poesias. Menciona também que andou escrevendo algumas coisas. Marianne saiu de lá
feliz em vê-lo reagindo tão bem.

Os advogados preparavam a papelada para apelação entregues e ouvidas na sexta-feira. Os


juízes concordam que como réu primário, os dois ofensores poderiam aguardar o julgamento
de apelação em liberdade, diante do pagamento de £7.000 cada em fiança. Ambos Jagger e
Richards, são obrigados a entregar seus passaportes e permanecerem dentro do país até
serem ouvidos legalmente. Mick Jagger foi solto às quatro e meia da tarde seguindo no Bentley
de Keith, com seu advogado do lado, direto para buscarem Keith. Keith quando soube por outro
preso que ele seria solto, imediatamente pulou da sua cama e começou a chutar a grade
gritando, "Me tira daqui, já pagaram minha fiança."

Deixando a casa de detenção, Mick e Keith pararam em um pub para tomar umas cervejas
enquanto são entrevistados por jornalistas. De lá se encontraram com Marianne e seguiram
para uma reunião com Allen Klein em seu hotel. Lá Marianne pegou seu cachimbo e haxixe
mas antes que pudesse acender, Klein arrancou-lhe os apetrechos da mão e zuniu tudo pela
janela. "Meu trabalho é manter vocês fora da cadeia! Não dificulte as coisas!" Tendo dito isso,
Klein voltou aos assuntos em pauta como se nada tivesse acontecido.

A Borboleta Na Roda

Na manhã seguinte à liberdade do duo, sai na revista Times um artigo que ficaria famoso,
escrito pelo editor William Rees-Mogg, e que para muitos, ajudou substancialmente a formar
opiniões favoráveis à suspensão de sentença, que veio a ocorrer no final do mês. O artigo era
chamado "Who Breaks A Butterfly On A Wheel?" (Quem Esmaga uma Borboleta em uma Roda
de Tortura?) e nele, analisa-se não somente o julgamento, mas questiona se Mick Jagger não
estaria sendo preso por motivos alheios à sua acusação. O artigo levanta o fato que centenas
de remédios similares ao que encontrado com Sr. Jagger são vendidos na Inglaterra e se uma
dona de casa não tenha mais a receita, tecnicamente, ela está sujeita a enfrentar a mesma
cadeia que o Sr. Jagger, segundo este precedente utilizado neste julgamento.

O mês de julho foi infestado de debates sobre o uso de entorpecentes e quais são as
responsabilidades que celebridades têm para com os seus fãs. Maconha estava sendo revista
como uma erva que deveria ser legalizada, como o tabaco, enquanto outros grupos debatiam
que aonde há maconha, drogas realmente perigosas não estão longe. Teoria esta que, embora
continue relativamente atual, continua também sem nenhuma sustentação cientifica que a
comprove.

Um Tiro No Pé

Em final de julho, Mick e Keith são então levados até a corte de apelações. Keith é totalmente
inocentado, embora sua presença diante do juiz fosse proibida, uma vez que ele sofria na
ocasião de um surto de sarampo. Keith aguardou a decisão sozinho em uma sala adjacente.
Mick tem sua sentença suspendida e se em um ano não houver nenhum outro incidente similar,
sua ficha seria limpa. A notícia se espalhou como fogo em palha seca. O sistema, ao tentar
forçar uma convicção sobre os dois, acaba dando um tiro no próprio pé. Até este julgamento,
os Rolling Stones era uma banda popular, mas não muito diferente de outras bandas famosas
como The Who ou The Kinks. Depois do julgamento, os Stones passaram a ser vistos, não
mais apenas como um bando de imundos que vivem a promover a baderna, mas tornaram-se a
banda cujos membros lutaram contra a lei e venceram. Mick e Keith se tornam heróis para uma
juventude oprimida pela situação. Na guerra entre "Nós vs. Eles", entre o velho contra o novo,
que passou a simbolizar este julgamento, "eles", no final, perderam. Naquele momento, aos
olhos do público jovem, o governo da Sua Majestade e os Rolling Stones tornaram-se forças de
igual magnitude. Nenhum empresário poderia imaginar uma jogada promocional que pudesse
obter este resultado. Em alguma reunião social, o juiz teria sido ouvido dizendo algo como
"Fizemos o melhor possível para pegá-los, não obstante, o destino não quis".

Brian - Novo Patamar de Declínio

Enquanto toda a atenção cerca a cadeia de Mick e Keith, Brian estava se entupindo com
Mandrax e Tuinal. Sentindo-se extremamente vulnerável e ameaçado pela policia, Brian está
apavorado com a perspectiva de um complô do sistema para colocá-lo na cadeia. Seu hábito
de não ter escrúpulos para dosagens, proporciona seu declínio psíquico. Ainda em maio, antes
do julgamento, Brian foi visitar Robert Frazer em sua casa e, ao entrar, esbarrou em
praticamente todas as paredes, mesas e o que mais havia na sala. Estava totalmente dopado
com tranqüilizantes e seu estado assustou as pessoas presentes, que o descreveriam como
sendo um desastre esperando para acontecer.

Certa noite, Brian saiu com um casal de amigos, indo para o Bag O'Nails. Embora o clube
vivesse cheio, uma mesa imediatamente foi providenciada para o astro e seus acompanhantes,
que logo começam a sorver champagne e conversar. Não demora muito e Brian dá uma
escapulida para o banheiro. Ao voltar ele desmaia na mesa, chapadaço, derrubando garrafas e
atraindo a atenção de todo o recinto. Sai carregado pelos amigos que o trouxeram. Estar com
Brian, começa a ser sinônimo de vexame e mais amigos o deixam de lado.

Hawllett - Você Sabe Meu Nome (Procura o Número)

Brian chora suas misérias para qualquer um que queira ouvir. Ele agora anda com um novo
grupo de amigos, mais atraídos pela sua fama e riqueza do que qualquer sentimento real de
amizade. Mas Brian não enxerga isto muito bem. Porém Brian ainda se mantinha em contato
com algumas amizades antigas. Um destes amigos era John Lennon, a quem vira e mexe
Brian telefonaria para reclamar da vida e Lennon com certa paciência ouviria. Muitas vezes
sem saco de aturar, Lennon mandava a empregada dizer que ele estava dormindo ou saíra.
Mas em junho, atendendo a ligação e sentindo pena da rejeição que Brian expressava, Lennon
convida-o a uma sessão dos Beatles. Brian então aparece em Abbey Road com o saxofone. A
dupla Lennon e McCartney esperando Brian de guitarra, se entreolham e rapidamente
concluem que o instrumento seria ideal para uma composição/colagem que a dupla estava
criando, já a alguns dias. A canção é "You Know My Name (Look Up The Number)" que
continuaria inédita até 1970.

Brian está morando no Royal Garden Hotel com Suki, mas quando Mick e Keith são levados
para a cadeia, sua instabilidade emocional chega ao pico e sua saúde fica extremamente
ameaçada. No dia 03 de julho, Brian, acompanhado por Les Perrin e Stan Blackbourn, ambos
do escritório Rolling Stones, é levado para uma casa de saúde em Liphook, Hampshire. Ele é
registrado com o nome Sr. L. Hawllett. Acontece que sua condição psíquica era tão grave que a
clinica em 48 horas concluiu que não teria condições de oferecer o tipo de ajuda necessária
para o paciente. Suki traz Brian de volta a Londres e voltam a morar agora no Hilton.

Logo, ele é novamente levado para outra instituição, desta vez a Priory Clinic, onde recebeu
uma avaliação psíquica. Outro Brian, Brian Epstein, empresário dos Beatles, estava
ocasionalmente sendo internado nesta mesma casa, também graças ao estresse, crises de
nervos e abusos tóxicos. Suki se internou com seu namorado para lhe fazer companhia.
Embora ele havia usado novamente o nome Lewis Hawllett, desta vez um jornalista conseguiu
descobrí-lo, mas foi convencido por Les Perrin a não repassar a noticia. Parrin temia que
qualquer distúrbio poderia desequilibrar perigosamente, o já delicado quadro de saúde de Brian
Jones.

Satanic Sessions

Dentro de uma semana, já melhor, Brian parecia apenas confuso, porém não totalmente fora
de órbita como antes. Gravações haviam iniciado para o novo álbum, e a partir do dia 12, Brian
passava a ocasionalmente aparecer no estúdio para gravar, agindo como se nada tivesse
acontecido. Dia 24, ele deixaria a clínica de vez e se mudaria para o Richmond Hill Hotel, onde
Suki já estava hospedada e o aguardando.

Durante este período de julho, apesar de ter sessão de gravação toda semana, afora a
ausência esperada de Brian, Keith e às vezes Mick também não compareciam ao estúdio.
Certo dia, só Bill, Charlie e Nicky Hopkins apareceram e para não perder a viagem, o
engenheiro Glyn Johns pergunta se Bill não quer gravar uma de suas canções. Bill e Charlie
gravam então as bases da canção, "Acid In The Grass", que seria depois rebatizada de "In
Another Land". Na hora dos vocais, Bill pediu excesso de trêmulo na voz e convidou Steve
Marriott do Small Faces, banda que estava gravando no estúdio ao lado, para ajudar nos
vocais. Ao ouvir a faixa no dia seguinte, Mick concordou que a canção era compatível com a
proposta do álbum e se torna a primeira canção a quebrar a hegemonia Jagger-Richard que
tanto irritava os demais membros.

We Love You

"We Love You" era a canção que Jagger havia escrito na cadeia. A intenção da canção é
apenas de agradecer o apoio das pessoas que se manifestaram favoráveis aos Stones,
durante o julgamento. Especialmente aquelas que protestaram diante do prédio do jornal News
of the World. Esta sessão contou com a participação especial de John Lennon e Paul
McCartney, que secretamente fizeram os backing vocals. Secretamente porque, por questões
contratuais, nenhum dos Beatles poderia participar de alguma gravação que não fosse de um
artista da família EMI. Fazer isto seria tecnicamente uma quebra de contrato.

A canção foi a primeira do material novo a ser rapidamente lançada, pois, havia se passado
muito tempo desde o lançamento de "Have You Seen Your Mother". Na America, durante o
julgamento, a London Records lançou a coletânea Flowers, aproveitando assim
comercialmente a publicidade que Jagger e Richards estavam recebendo pelo julgamento.
Agora com o lançamento desta nova canção, os americanos criticam os Stones por estarem
soando como os Beatles. Mal sabiam que de fato Lennon e McCartney estão fazendo os
vocais. Na faixa, que chega somente a No.20 das paradas inglesas, Brian Jones está
participando tocando o mellotron.

Andrew Oldham, que a esta altura, com a soltura de Jagger e Richards, já reaparece em
Londres, e volta a tentar assumir suas funções de empresário e produtor da banda. Ele
contrata Peter Whitehead para fazer um filme de quatro minutos para promover a canção. É o
que hoje chamamos de um "clip", só que não se usa vídeo como hoje. Filmaram tudo em uma
tarde, às vésperas do dia da apelação. Apenas Keith, Mick e Marianne participaram da
filmagem. A história escolhida pro clip foi uma representação do julgamento de Oscar Wilde,
que no início da década, foi acusado e preso por sodomia, acusação levantado pelo pai de seu
amante. Mick fez o papel de Oscar Wilde, Marianne usando uma peruca de cabelos curtos fez
o papel do amante, Lord Alfred Douglas, e Keith atuou como sendo seu pai, o Marquês de
Queensberry. Tudo feito em preto e branco com cenas a cores inseridas posteriormente de
ensaios com os demais membros da banda. O clipe foi então oferecido inicialmente para o
programa Top of the Pops, porém recusado, pois BBC e televisão em geral, ainda estavam
desacostumados em ver música como meio para critica social. O clip, porém, conseguiu ser
visto nos Estados Unidos e na Alemanha.

Depois da Cadeia

Com a liberdade dos dois, uma grande aglomeração de jovens e hippies se encontra em Hyde
Park e Westminister Abbey para uma confraternização ou para usar o termo da época, um
love-in. Os Stones foram convidados a aparecer mas nem Keith ou Mick quiseram fazer uma
aparição pública. Keith encomendou flores para serem mandadas para sua mãe e em seguida
pegou um avião para Itália para se encontrar com Anita em Roma.

Mick agora se esforça para trazer sua vida de volta para uma normalidade. Mick Jagger era,
afinal, "O rei da cena londrina" como diria seu amigo John Lennon. Ele volta a sair, sempre com
Marianne, visitando amigos e freqüentando a noite como antes. Não só para o seu prazer
pessoal, como também para manter a aparência de que todo o incidente judicial, não o
assustou ou fez qualquer tipo de interferência em sua vida ou seus hábitos. Ao assistir Nureyev
em seu espetáculo "Paradise Lost", o bailarino pula através de um painel feito de papel com um
desenho de lábios grossos, bem femininos e que mais pareciam uma vagina. Marianne diria
que os lábios pareciam os de Jagger.

Papai Postiço

A relação entre Mick e Marianne estava no auge e os dois estavam muito apaixonados. Mick
então pede Marianne em casamento mas ela declina. Ainda não se divorciou de John Dunbar e
aquele casamento desmilingüiu de forma tão patética que ela não vê motivos nem se sente
segura para tentar se comprometer com outro. O casal porém concorda em arrumar outra
moradia e desta vez, Marianne se mudaria com tudo, trazendo inclusive Nicholas, seu filho com
John Dunbar. Mick aluga então uma casa em Chester Square, ao lado do rio Thames. Mick e
Nicholas passam a ter um excelente relacionamento, Mick tendo seu primeiro gosto em ser um
pai de família.

Marianne contrata Christopher Gibbs para decorar a residência, que recebeu um tratamento
marroquino, muito parecido com o que Brian Jones tinha na sua casa com Anita. Marianne que
não tinha nenhuma noção de valor de dinheiro, comprou um candelabro de cristal pelo preço
de uma casa. Mick pelo contrário, cada vez mais se tornando consciente dos preços das
coisas, fez severas críticas, embora no fundo, sabia que o candelabro era de fato um
investimento bom, mesmo que luxuoso. Mick fez questão de comprar uma cama de casal extra
grande, tipo medieval, e em tempo, os amigos mais íntimos seriam recebidos no quarto,
sentados sobre a cama onde cabiam facilmente dois casais.

Os Outros Stones

Com os jornais ainda falando de Mick Jagger e Keith Richards e como eles venceram o sistema
judicial inglês, poucos devem ter reparado uma pequena noticia sobre Charlie Watts.
Aparentemente Charlie e Shirley estavam jantando quietos em um restaurante chinês, quando
um outro cliente na mesa ao lado começa a insultá-los. Shirley responde à impertinência e
prontamente recebe um soco na boca do estômago. Charlie reage e os dois homens estão no
chão do restaurante aos socos até um policial aparecer para separá-los. Não houve registro de
queixa, mas o incidente apressou uma idéia de mudança que já existia. Até setembro, o casal
estaria se mudando para Peckham.

Bill Wyman também estava tendo os seus problemas particulares. Sua ex, Diana, reaparece
em Londres e ao saber da existência de Astrid tomando conta de Stephen enquanto Bill
excursionava Europa, fica enciumada. Resolve então levar a criança com ela para Durban, na
África do Sul onde ela estava morando. Bill entristecido, não teve como discutir sabendo que a
vida de um Rolling Stone não é exatamente a mais normal e conservadora. Diana porém
concordou que o menino fique pelo menos um mês, se não mais, com seu pai por ano.

Político Pop da Contra Cultura

Antes de a poeira conseguir assentar, Mick foi procurado para uma entrevista especial para o
programa televisivo, World In Action. Um time de representantes conservadores da sociedade
inglesa teria com ele um debate, assistido em cadeia nacional. Mick concordou com o desafio e
apenas exigiu que o encontro seja realizado em campo aberto. Isto seria uma forma sutil dele
salientar a conquista da liberdade após seu período trancafiado na cadeia. O convite e
realização de tal entrevista demonstram claramente a ameaça de poder e liderança que o
governo inglês enxergava em Mick Jagger. O evento foi realizado nos jardins da propriedade
de Sir John Ruggles-Brise. O governo inglês solicitou à Força Aérea Americana, que tem uma
base aérea perto do local, que não programasse nenhuma aeronave a passar naquele espaço
aéreo durante o período da entrevista. Isto é outra demonstração clara de quão a sério o
governo de Sua Majestade estava levando o debate.

A mesa de representantes inclui Lord Snow Hill, o bispo de Woolwich, o padre jesuíta Padre
Thomas Corbishley, e William Rees-Moog, editor de The London Times. Mick, nervoso no dia,
exagera na dosagem de Valium que ele toma para se acalmar. Chega ao local de helicóptero,
pago pelo governo, todo enxaropado, e na entrevista, está de fala lenta, olhos semi-abertos e
um sorriso idiota na cara. Suas respostas são todas evasivas.

No dia seguinte Mick está indignado consigo mesmo por ter perdido sua grande chance na
carreira política que ele, inebriado pela ideologia de revolução, secretamente aspira. Ele está
falando cada vez mais sério sobre uma ação geral do povo jovem. Mudanças são imperativas
para os tempos modernos diz ele para os amigos certa noite no Ad Lib Club. Para a imprensa,
ele passa a dar entrevistas bem mais inflamatórias. "Pegamos eles (o sistema) de jeito e
precisamos terminar o que começamos. A forma que o sistema funciona aqui e na América
está podre e está nas mãos dos jovens mudar tudo. A época é boa e uma revolução é válida. A
garotada está preparada para queimar as fábricas onde eles suam suas vidas inteiras. Farei
qualquer coisa que precise ser feita para ser parte do que estar por acontecer."

De fato a garotada está tomando ação. Do outro lado do oceano, uma passeata é programada
entre jovens para se reunirem ao redor das grades da Casa Branca, o palácio presidencial dos
Estados Unidos, localizado na capital daquele país. A represália é contra a horda de jovens
sendo mandados pelo governo americano, para lutar e morrer no Vietnã, nesta que é uma
guerra não declarada e que já se estende por mais de cinco anos. A CIA descobre que parte
dos planos manifestantes era de contratar um avião para jogar flores sobe os jardins da Casa
Branca. A palavra de ordem dos manifestantes é Paz e Amor. A CIA então manda um espião
para se candidatar a ser o piloto da aeronave.
Na manhã da manifestação, centenas de pessoas se aglomeravam ao redor da Casa Branca
que encontra soldados armados de rifles e baionetas, cercando a edificação. No aeroporto, o
caminhão com as flores encosta ao lado do pequeno aeroplano, porém o piloto não aparece. A
CIA se congratula por desmantelar aquela operação, porém na ingenuidade da juventude, e em
sua crença honesta e sincera, nasce o seguinte fato histórico. Sem um piloto para levar o
caminhão de flores para lugar algum, levam o caminhão até o local da manifestação. As flores
são oferecidos aos manifestantes para mostrar aos soldados que suas armas são de paz. Uma
menina então coloca uma flor na ponta do cano de um fuzil. O gesto é repetido pelos demais
manifestantes e uma foto de um soldado com um rifle com flores na ponta, aparece em todos
os jornais ao redor do mundo, com um artigo falando da manifestação. Nasce o Flower Power.

De volta à Inglaterra, por onde Mick e Marianne passam são tratados como os gurus do
hedonismo, a nova palavra de ordem. As suas últimas entrevistas e posições políticas acabam
por inspirar uma organização pró vítimas de perseguição policial chamada Release. A
organização lança uma declaração pública afirmando que toda lei passível de ser violada sem
causar dano para terceiros deve ser ignorada e considerada uma lei risível. Aquele que
determina tudo através da lei, apenas fomenta crime no lugar de diminuí-la.

O Maharishi

Pouco depois, o casal Mick e Marianne foi convido para ir com os Beatles e suas esposas para
uma palestra com o Maharishi Yogi que se realizaria em Bangor, no País de Gales. O evento
aconteceu em uma escola que estava fechada para o feriado de verão. Muito sorridente,
emanando vibrações positivas e de bom astral, o guru ganhou a simpatia de todos no encontro.
Keith preferiu ir para Roma ficar com Anita e não se interessou em participar, tampouco os
demais Stones, mas Mick e Marianne, apaixonados que estavam, foram em busca de
espiritualidade e outras novidades. Depois da palestra inicial, cada um entrou sozinho para
uma audiência com o guru. Receberam um mantra e ofereceram flores. Antes de se encerrar o
dia, chegou noticia de que Brian Epstein, o empresário dos Beatles havia morrido. Mick e
Marianne voltaram com os amigos. Mick contemplando sua experiência, teria comentado com
Keith depois, "Posso entender o George cair nessa conversa de paz, amor e pague a conta,
mas não o John. Sempre achei que ele era tão inteligente."

Roma no Verão

Mick e Marianne vão então se encontrar com Keith e Anita em Roma. Lá ela permanece no set
de filmagens de Barbarella. Seu personagem, a Rainha Negra, é uma mulher obcecada e
obsessiva e Anita aparentemente se perdeu no papel. Com tantos transtornos emocionais na
sua vida real, pode-se imaginar o alívio de poder viver a vida de outra pessoa. Os amigos
brincam com ela e seus exageros offset, típicos do personagem que ela deveria viver apenas
onset. Entre os amigos então Terry Southern, o autor de Barbarella, Julian Beck e Judith
Malina, ambos do Teatro Vivo.

Certo dia, ao fazerem uma caminhada pelas ruas de Roma, um grupo de jovens reconhece
Mick e Keith e imediatamente corre em sua direção. Juntos estão Anita e Marianne e como em
uma cena do filme A Hard Days Night, todos correm fugindo dos fãs. Subiram um conhecido
morro e lá encontraram a Villa Medici onde estava o amigo Stash, mais conhecido como
Stanlislau de la Rola, que imediatamente deixou-os entrar, a garotada ficando pra trás das
grades que separam o terreno da mansão da rua pública. Stash estava lá com seu pai, o pintor
Balthus, que não ficou feliz com a presença dos amigos de seu filho. Tomaram um ácido e
pernoitaram na residência. Era uma noite de lua cheia e fizeram caminhadas pelos jardins da
propriedade. Ao voltar, Marianne e Anita contam que viram um fantasma sussurrando pelos
corredores. De manhã, Mick acorda cedo e é encontrado no jardim tirando um tema que não
sai de sua cabeça. Não é nada completo, mas dentro de alguns anos, será a base de "Sister
Morphine”.

Mick, Marianne & Jimi

De volta a Londres, foram para o Speakeasy, um clube que abrira em janeiro daquele ano. Lá,
assistiram The Jimi Hendrix Experience tocando o seu set. Marianne já o tinha visto antes, no
início do ano, em outra ocasião, e Mick, no ano anterior em Nova York, quando ele ainda era
desconhecido e pedia uma chance para alguém promovê-lo. Ao final do set, Hendrix reparou o
casal e lentamente navegou entre o mar de groupies até sua mesa. Vendo-o chegar, Mick
talvez estivesse pensando e lamentando a oportunidade que ele perdeu em não contratá-lo
para sua firma com Oldham, ainda em Nova York. Agora é tarde. Hendrix também deveria estar
pensando algo similar, ao caminhar até aquela mesa. Pensando na ironia de Jagger saindo de
sua casa só para assistí-lo, agora que ele estava ficando famoso, mesmo sem sua ajuda.
Hendrix pegou uma cadeira, colocou-a entre Mick e Marianne e se sentou. De costas para Mick
Jagger, ignorando-o solenemente, Jimi espreme Marianne contra a parede, e lhe sussurra,
lábios no ouvido, "Vamos embora daqui só nos dois. Você não quer ficar aqui com este
babaca. Vem comigo." O som da casa estava tocando e Jagger não podia ouvir o papo. Ele
percebe que algo estava acontecendo mas se mantém frio e impávido como um bom inglês.

Não é a primeira vez que Hendrix convida Marianne para a cama. No inicio do ano, quando ela
foi assistí-lo, não foi diferente. Jimi tenta seduzí-la, contando-lhe o que vai fazer quando ela
estiver sobre seus lençóis. Joga mentiras doces, insinuando que compos "The Wind Cries
Mary" pensando só nela. Marianne ri e educadamente declina o convite, mesmo que toda
molhada de vontade de ir. Ela tinha acabado de se mudar com Nicholas para morar com Mick e
não iria arriscar estragar algo que estava começando tão bem. Pela segunda vez, Marianne
feliz com seu amante atual, Jimi Hendrix. Ele então, deixa a mesa.

Semolina Pilchard

Brian está mal e tem sua situação agravada por perseguição da polícia em atividade extra
oficial. A razão pela qual Brian está constantemente mudando de hotel em hotel é para
despistar a polícia. Mas o Sgt. Pilchard e seus assistentes acabam sempre por descobrí-lo e
visitá-lo, prometendo vistoriar a casa. A situação começa em Maio mas vai se prolongando e
piorando pelo decorrer do ano. Então, em junho, Nikki Browne, viúva de Tara Browne, convida
Brian e Suki a irem com ela até sua casa de praia em Marbella, na Espanha. É uma forma de
Nikki agradecer a bondade mostrada por Brian na época da morte de Tara.

Brian e Suki ficam hóspedes de Nikki por alguns dias, depois passando a se hospedar no New
Marbella Club, onde permanecem por algumas semanas. Sem dinheiro em espécie para pagar
a conta, Brian está passando parte do tempo de seu descanso mandando, via telex,
mensagens tanto para o escritório dos Rolling Stones, como o de Allen Klein, pedindo verba
para pagar uma estadia calculada em $300. Ao voltar para Londres, se hospedando agora no
Skindles Hotel em Maidenhead, os problemas voltam a assombrá-lo. O suadouro para
conseguir liberar um dinheiro que em essência é dele, demonstra quão pouco respeito se tem
por Brian Jones dentro da organização Rolling Stones. O melhor serviço é dispensado apenas
para Mick e Keith. Os demais aparentemente recebem tratamento de músicos de apoio.

Mick Teme a Saída de Brian

Antes da volta de Brian da Espanha, há vários rumores cercando os Stones. Mick está, como
sempre, falando em nome da banda, se posicionando como sendo "apenas" um quinto dos
Rolling Stones e que a banda é a soma de suas partes. Mick fala da intenção de parar de
excursionar por um tempo, pois todos estão cansados da estrada. O que se passa mesmo é
que estão preocupados em serem banidos de certos países por causa da acusação de posse
de entorpecentes. Um banimento oficial em série pode se tornar publicidade ruim, portanto
evita-se. Na prática, apenas o Japão irá recusar a entrada da banda no país, uma situação que
só iria mudar na década de noventa.

Conversando com a imprensa, Mick também garante que Brian, ao voltar da Espanha, irá
retornar às gravações com a banda, e que qualquer boato sobre sua saída dos Rolling Stones
é uma mentira. Mick no fundo teme a possível queda de popularidade da banda caso Brian
Jones saia, pois ele é ainda uma força carismática muito grande. Brian tem todas as razões
para sair. Ele está insatisfeito com a falta de espaço para expor qualquer composição sua para
a banda, e odeia a música psicodélica que Mick está obrigando todos a gravar. Sem falar no
mal estar que ficou no ar desde que Keith roubou sua namorada. Musicalmente, Brian está
cheio de convites para trabalhar com trilha sonoras para filmes. Há muitas opções no seu
horizonte.

Por via das duvidas Mick sonda secretamente, através de terceiros, a possibilidade de Jimmy
Page aceitar assumir ser guitarrista dos Rolling Stones, caso Brian Jones realmente resolva
sair. Outro assunto que Mick procura esclarecer é quanto à tentativa do sistema agregar
responsabilidades sobre os artistas pop, pela conduta de jovens que os imitam. Jagger quer
deixar claro que ele assume responsabilidades de artista apenas quando está no palco, mas
que a sua vida particular pertence somente a ele mesmo. Depois viaja com Marianne passando
uma temporada na Irlanda, antes de todos voltarem para o estúdio concentrando-se novamente
no álbum.

Desentendimentos no Estúdio

As sessões se arrastam, com atrasos sendo cada vez mais constantes. Andrew Oldham ficava
deprimido ao ver o acordo feito, de todos chegarem na hora, sendo desrespeitado. Oldham e
Glyn Johns ficam até as duas da manhã aguardando Mick e Keith chegarem. Brian não gosta
desta música pseudo espacial - pseudo psicodélico. Diz claramente: "Isto não é rhythm &
blues, isto sequer é rock 'n' roll! Este material não é música que representa a banda Rolling
Stones!" Entre discussões, Brian gravaria diversos instrumentos, embora constantemente
reclamando das composições. Keith começa então a levar Anita para o estúdio, e com sua
presença, Brian começa a se calar. Anita, recém chegada de Roma, ainda dominada pela
psique de seu personagem A Rainha Negra da Galáxia, aproveita e se vinga, rindo alto
enquanto está abraçando e beijando Keith.

Brian seca por dentro e passa a faltar às sessões, agora sem motivos aparentes. Manda dizer
que está se sentindo mal e simplesmente não vai. Quando ele aparece, está extremamente
chapado. Mesmo assim, seu talento musical é no mínimo impressionante. Para executar uma
parte no piano, ele teve que ser escorado por uma cadeira, de tão entupido de Mandrax que
estava. Sem a cadeira ele cairia para os lados. No entanto, na hora de gravar, ele tocou sua
parte perfeitamente. Em dias menos intoxicados, ele fugiria para o estúdio do lado. Brian teria
achado uma harpa e resolveu explorar o instrumento. Novamente, como uma lenda se
repetindo, durante o tempo que levou para Ian Stewart o encontrar, Brian já estava tirando
musica com a harpa, o instrumento mais complexo de toda uma orquestra.

Depois piora ainda mais. Brian passa a chegar no estúdio em um estado deplorável, totalmente
sem condições de produzir qualquer música. Ele mesmo chegou a comentar em retrospecto
que era como se sua mente não lhe permitisse mais tocar. Brian estava se matando e acaba
internado, não agüentando a pressão e o abuso químico. Passa a ter consultas com um
psiquiatra, sendo inclusive internado periodicamente. As sessões no Olympic Studios
continuam mas nem sempre se sabe quem vai aparecer à noite. Keith Richards também está
lidando com seu inferno astral. Apesar de saber que Brian cavou seu próprio buraco, não
consegue deixar de sentir culpa vendo o colega desintegrar por causa de Anita. Keith evita
Brian, e a pressão envolvida neste rompimento o impulsionaria a experimentar com mais
drogas. Várias coisas gravadas não passaram pelo crivo e ficaram como outakes, arquivados
até hoje, ocasionalmente saindo em algum pirata. Canções com nomes esdrúxulos como
"Bathroom Toilet" e "Golden Painted Fingernails" estão ainda guardadas nos cofres.

Marianne No Cinema

Marianne começa a trabalhar em um filme chamado "I'll Never Forget What's 'Isname",
contracenando com Oliver Reed e Orson Welles. Sua participação é pequena porém histórica,
pois Marianne foi agraciada com a questionável honra de ser a primeira pessoa a dizer o
palavrão "Fuck" em um longa metragem. Logo chegariam convites para outras produções.

O Controle dos Stones

Enquanto isto, Mick começa a trabalhar na promoção do disco novo. Todas as decisões estão
sob sua tutela, Oldham ficando totalmente à margem. Toda energia de Mick Jagger está
direcionada para os Rolling Stones. Ele não só compõe as músicas junto com Keith, como
também é responsável por toda parte de publicidade e promoções, sendo a última e decisiva
palavra sobre tudo referente à banda. Ele assume agora também a produção do disco, se bem
que para o Satanic Majesties, ele teve muita ajuda de Glyn Johns, o engenheiro de som.

Só Lendo

Toda esta energia e atenção têm como subproduto o distanciamento entre ele e Marianne. Ele
chega sempre exausto em casa e o casal se tornam amigos que, quando muito, gostam de ler
juntos. Recentemente conheceram um mago chamado Kenneth Anger que era seguidor de
Aleister Crowley. Anger divulgou para todos com quem ele teve contato, sobre a vida e obra de
Crowley, deixando muitos curiosos e interessados. Marianne, como também Anita, tiveram
grande interesse em livros tratando de assuntos relevantes à magia negra. Crowley passou a
ser leitura obrigatória. Em casa, Mick quase não tem interesse por sexo e Marianne começa a
se inquietar no seu papel de dona-de-casa entediada. Ela logo aceitaria trabalhar em outro
filme para sair de casa e mudar de ares.

A Capa

As amizades entre Mick e Michael Cooper estão estreitando em função da amizade entre
Nicholas Dunbar, filho de Marianne, e Adam Cooper, filho de Michael. Com isso, o fotógrafo
contratado por Oldham, Gered Manokowitz, é dispensado, de forma que ficasse evidente que
Andrew Oldham não mandava mais na casa. No estúdio, Mick Jagger se aproxima de Oldham,
de costas para Manokowitz que está sentado na poltrona, e diz "Para capa decidimos o
seguinte..." Em momento algum falaram com Manokowitz que seus serviços não seriam mais
necessários, mesmo ele estando ali no recinto. Não por qualquer problema em relação à
qualidade de seu trabalho. Foi apenas a maneira encontrada para estabelecer para Oldham e
quem quer que seja, de que quem define as coisas agora dentro da banda eram Mick e Keith.

Michael Cooper foi pago para fazer uma capa psicodélica. Dia 13 de setembro, os Rolling
Stones então viajam para os Estados Unidos para tirar a foto da capa. Foi idéia do Cooper de
fazerem a foto na Pictorial Pictures, em Mount Vernon; NY. A imigração americana passou
horas com Keith e Mick até liberarem o visto de entrada. Depois seguiram para o estúdio.

Cooper tinha reunido um sem número de objetos, que colocou em um canto. Explicou sua idéia
de que a banda mesmo deveria decorar o set. Depois adicionaram plantas, utilizaram jet spray,
e foram adicionando detalhes. No final, se vestem com fantasias até Michael começar a tirar as
fotos, primeiro com uma câmara comum. Depois com uma máquina fotográfica japonesa capaz
de tirar fotos em 3D, encomendada especialmente para a ocasião.

No dia seguinte, já em Manhatten, a banda está reunida com Allen Klein em seu escritório para
terminarem oficialmente as relações com Andrew Oldham. Andrew saiu de forma elegante,
dizendo que "nós nos separamos porque não havia mais a necessidade da presença um do
outro." Mick diria "Estávamos nos produzindo sozinho e querendo fazer as coisas de forma
diferente do que o Andrew faria." Na verdade, Mick Jagger sozinho é quem passa a
empresariar os Rolling Stones. Jagger contrata Jo Bergman, uma das secretárias do falecido
Brian Epstein, falecido empresário dos Beatles, como sua secretária particular.

Antes do Cinema

Sempre que Mick e Marianne começam a se distanciar excessivamente, geralmente por causa
do trabalho, acabam arrumando um jeito para viajar para um canto qualquer. O padrão irá se
repetir várias vezes durante os próximos anos. Com a desculpa de que Marianne irá participar
de outro filme e ficará um longo período fora do país, o casal pega um avião para Amsterdam e
depois Paris. Querem ficar juntos o máximo de tempo possível antes das filmagens iniciarem.
Charlie e Shirley estão invariavelmente juntos cuidando da casa, dos cavalos e seus outros
passatempos menos badalados. Estão concluindo a mudança para Peckham, o novo lar. Bill
Wyman está trabalhando com a banda The End, preparando o novo compacto "Loving Sacred
Loving". Curiosamente, esta canção dentro de duas décadas, será resgatada e vendido em
discos piratas como sendo uma gravação dos Beatles com os Rolling Stones juntos. Um ótimo
exemplo da união de ganância com ignorância.
Quando voltam, Mick e Marianne são obrigados a se mudar de casa, novamente por causa de
reclamações dos vizinhos em função dos fãs sempre a espreita na frente do prédio. Mick
estava de olho há tempos em uma mansão em Berkshire perto de Newbury, que fora quartel
general do militar Oliver Cromwell no século XVII. Esta será a primeira residência que Mick
Jagger irá comprar e não alugar como as anteriores. Antes de poderem se mudar para lá, a
casa passaria por uma reforma que levaria quase dois anos para ser concluída.

A Garota da Moto

No outono, Marianne viaja para Heildelberg, Zurich e Genova, participando das filmagens de
outro filme, desta vez como atriz principal. O filme é um soft porn chamado La Motocyclette (A
Garota da Moto) e lhe renderá um bom dinheiro embora ela mesma ache o filme horrível.

Durante as filmagens, ela contracena com Alain Delon, grande galã francês da década. Apesar
de atraente, Alain praticamente intimou Marianne a trepar com ele, e passou a ser
desagradável quando ela o recusou. De passagem pela França, ela tira fotos promocionais e o
fotógrafo da sessão se apaixona por ela. Ele a segue para Heidelberg, onde iniciaria as
filmagens. Durante os três meses que levou para fazer o filme, Marianne passaria a ter um
romance com este fotógrafo, Tony Kent. Quando ela passou a receber flores de Mick, vindas
da Inglaterra, começou a desconfiar que ele já estava sabendo de Tony.

Outubro Maldito Para Brian

Outubro de 1967 foi um mês infeliz para Brian Jones. Sua decadência física e psicológica não o
impede de estar sempre freqüentando a noite. Assim, ele é visto em um clube na mesma noite
e no mesmo horário que um homem que mais tarde seria encontrado morto. Brian é obrigado a
prestar depoimento e a polícia irá vasculhar o histórico de sua vida recente. Suposições de
envolvimento no crime são apenas mais um agravante nos nervos do músico. Na prática não
houve nenhuma acusação formal, e em tempo o assunto seria esquecido.

Brian então pega seu carro e sai da cidade passando por Wells, Taunton, Penzance, St. Ives e
depois, de avião, volta a freqüentar Marbella na Espanha. Ele volta a tempo de seu julgamento.
Nenhum dos outros Stones estavam presentes e apenas um público moderado apareceu para
assistir. Brian chegou ao local trazido pelo chofer Tom Keylock que depois foi levar Mick, Keith,
Glyn Johns e Ronnie Schneider para o aeroporto. Os quatro iriam trabalhar na mixagem do
disco em Nova York.

O Julgamento – Brian

Brian estava impecavelmente bem vestido, de terno e gravata listrados no estilo imitando os
anos trinta. O primeiro a ser julgado foi o amigo Stash, de nome e título, Príncipe Stanislau
Klossowski de Rola que declarou-se apenas um convidado na casa. Nada incriminador fora
encontrado com ele na ocasião e toda queixa fora retirada pela acusação. Brian então se
declarou culpado da posse de maconha e de autorizar sua residência a ser usada para o
consumo de maconha. Ele nega as acusações de posse de Methedrine e cocaína. Ele nega
qualquer envolvimento com drogas pesadas e seu advogado pede que se leve em
consideração que em momento algum o Sr. Jones tentou esconder para a polícia o fato dele ter
a posse da maconha em sua residência, no momento da blitz.

Seu advogado, James Comyn explica que desde a referida batida policial, o Sr. Jones não tem
mais nenhum envolvimento com qualquer tipo de entorpecente, declarando inclusive, que eles
são um problema e não uma solução. Sr. Jones tem tido recentemente sérios problemas de
estafa e está no momento em tratamento e pretende continuar sob cuidados médicos. Que sua
historia pessoal é um exemplo de porque não se deve tomar drogas e é isto que ele prega hoje
em dia. Outros testemunhos incluem o Sargento Detetive David Patrick, que concordou que a
quantidade encontrado na residência era consideravelmente pequena, e o psiquiatra Dr.
Leonard Henry, que confirmou que já atendeu o Sr. Brian Jones em oito ocasiões e o seu
paciente tem mostrado melhoras significativas mas não deveria ir para uma prisão. Sua falta de
condições de lidar com pressões sugere que ele seja internado em um hospital o quanto antes.
Dr. Henry conclui que o estigma de emprisonamento poderia levar o Sr. Jones ao suicídio. Dr.
Anthony Flood, outro psiquiatra que atendeu Sr. Jones em julho, o descreve também como um
homem doente e com um grande potencial para o suicídio.

Após cinco horas de julgamento e uma parada para o almoço, a sentença foi declarada no
inicio da tarde. Brian Jones foi inocentado da acusação de posse de Methedrine e cocaína mas
culpado pelo uso de maconha e de ter autorizando o uso em sua residência. O desejo era que
a sentença fosse uma multa ou tratamento, coisa que Brian já estava fazendo. Mas por ser um
Rolling Stone e tendo inúmeros fãs, pesou ao juiz a necessidade de dar o exemplo e assim,
sentenciou Brian Jones a nove meses de cadeia, além de pagar despesas pelo julgamento na
ordem de £265. Brian sem mostrar nenhum sinal de emoção é retirado da corte e levado para a
cadeia no porão. Meia hora depois, estava a caminho da Wormwood Scrubs, aos prantos.

No dia seguinte os jornais reclamam que nove meses é excessivo e iria provavelmente
transformar Brian Jones em um mártir. Protestos eram conduzidos pacificamente em Kings
Road, mas ao final do dia transformaram-se em uma batalha campal contra a polícia. Entre os
adolescentes presos estava Chris Jagger, irmão de Mick Jagger. Brian ficaria preso por dois
dias antes de James Comyn conseguir que um juiz liberasse Brian para aguardar a apelação
sob fiança. Para isto, Comyn trouxe novamente os dois psiquiatras que repetiram seus
testemunhos para o juiz da corte suprema, J. Donaldson, que pediu fiança no total de £750.

Paranóia de Perseguição

Fotógrafos aguardavam na saída da cadeia e Brian mostrou um sorriso, acenando e falando


como era bom estar novamente em liberdade. Foi levado para um pub em Middlesex onde
tomou algumas cuba libres (Coca-Cola com rum) sozinho e depois foi para a casa de campo de
um amigo. Por dentro, Brian estava dilacerado. Reconhecia os fatos como prova irrefutável de
que "eles" estavam querendo pegá-lo, existindo sem sombra de dúvida uma conspiração para
acabar com ele. Brian toma uma quantidade absurda de pílulas (anfetaminas), depois se
entupindo de cocaína, ficando totalmente fora de si e acordado por dois dias.

Na noite do segundo dia ele saiu com Mariella Novotny, conhecida groupie para todas as
ocasiões. Foram para um clube em Convent Garden onde todos lá o congratularam pela sua
liberdade. Brian é convidado a subir no palco e tocar com a banda da casa, convite aceito para
a alegria destes. No meio do som, Brian, tocando um baixo acústico emprestado por um dos
músicos, começa a destruir o instrumento com a sola de suas botas. Depois, com o
instrumento no chão despedaçado, continua tocando um baixo acústico invisível em suas
mãos, curtindo um som que só ele ouvia. O público acha tudo mise-en-scène e aplaude
festivamente. Brian depois entra em crise de choro e é levado de volta pra casa. Lá, ele sequer
consegue falar, o choro inundando sua alma, até que ele acaba desmaiando. Mariella chama
uma ambulância temendo que ele morra ali mesmo e Brian acaba sendo levado para o St.
George's Hospital. Dentro de uma hora ele já estava bem e pegando um táxi para casa.
Oficialmente ele foi diagnosticado com estress, mas todos dentro do convívio sabem que o
problema são as drogas e a forma destrutiva com que ele as usa.

Mick, Keith e Klein Analisam a Situação de Brian

Mick já há tempos não se socializa com Brian. Mas de Nova York, todos estavam interessados
no encaminhamento de sua situação legal. Além da mixagem do Her Satanic Majesties
Request, o novo álbum sem data ainda para lançamento, outros assuntos levam a dupla para o
escritório de Allen Klein. A decisão de não excursionar enquanto a situação de Brian não
estiver definida é tomada. Mick teme perder fãs se chutarem Brian da banda e prefere aguardar
uma definição legal antes de declarar publicamente que Brian não tem condições de
excursionar. Caso ele seja realmente impossibilitado, Mick, Keith e Klein concordam
inicialmente que é preferível excursionar como um quarteto mais Stu, do que procurar outro
guitarrista.

Embora esta fosse a decisão tomada, não é este o sentimento dos três. No final prevaleceu o
medo de Mick de perder o carisma que Brian trazia para a banda. Klein não o suportava e quer
tirar Brian da jogada para poder botar a banda na estrada novamente. Keith também está mais
interessado em ter alguém confiável para ajudá-lo musicalmente. O disco novo mostrou-lhe
quão difícil era recriar os detalhes e sonoridades que Brian conseguia na guitarra, tão essencial
para o som dos Rolling Stones. Keith não gostou do resultado final deste álbum e se sente
inseguro de segurar a barra das guitarras sozinho. Vez por outra, podia-se ouvir de Keith
pequenos comentários sobre Brian como "Não sabemos o que fazer com ele" ou "Vê se
alguém consegue arrumar uma mulher pra cuidar dele".

Ciranda Judicial

De volta à Inglaterra, um agravante acontece com as finanças da banda. Em meio ao processo


judicial que Eric Easton move contra Andrew Oldham, Decca Records e Nanker Phelge Music,
os advogados de Easton conseguem que a justiça retenha pagamentos em direitos autorais
vindos do mercado americano e inglês. Este dinheiro seria então depositado em uma conta
temporária, até que Easton e Oldham chegassem a um acordo. Easton em meio ao processo
acabaria implicando e processando também Allen Klein por perdas causadas pela quebra de
contratos pendentes, assinados durante a "gestão" de Easton.

Apple

Em final de 1966, os Beatles foram aconselhados pelo seu departamento de finanças a


diversificar seus investimentos gastando um pouco mais do dinheiro ganho para não serem
devorados pelo imposto de renda. Uma vez caindo na categoria de super taxação, John, Paul,
George e Ringo estavam pagando cerca de 90% dos seus ganhos em imposto. O primeiro
entre vários passos que os Beatles tomariam no verão de 1967, em função desta sugestão,
seria de criar uma firma prontamente batizada de Beatles Company. Outros projetos incluiriam
o de montar uma boutique de modas e a compra de uma ilha.

Paul McCartney convida Mick Jagger a pensar sobre a possibilidade das duas bandas se
juntarem como sócios. A notícia chegou a ser divulgada, embora apenas como boato. A
proposta é um reflexo do fato de os Beatles estarem sem seu empresário Brian Epstein e os
Stones, estando sem representação, presos ao duelo jurídico envolvendo Eric Easton, Andrew
Oldham e Allen Klein.

Os Beatles visionam uma firma que irá dar condições para outros artistas produzirem
artisticamente, e estes trabalhos chegarem ao mercado de consumo, sem o costumeiro
tratamento frio e impessoal das grandes empresas e gravadoras, somente interessados em
lucro. Paul sonha alto e projeta planos para uma firma que irá englobar música, poesia, além
de produzir e vender manufaturados. Embora Mick Jagger chegasse a cogitar a possibilidade
de os Rolling Stones unirem esforços e fortunas com os Beatles, ele estava na verdade mais
interessado em limitar o empreendimento em apenas ser proprietário de um estúdio de primeira
linha. Suas conversas com Paul giravam em torno do estúdio para servir às duas bandas, não
comprando muito a idéia deles conseguindo gerenciar uma grande corporação que cuidaria de
todos os aspectos dos negócios.

Com a visível diferença entre os ideais dos dois, Mick se desculpou explicando que, na prática,
todo capital de giro da banda estava preso na justiça, em função do caso pendente entre
Easton e Oldham. Mantendo a mente aberta para o futuro, Jagger autoriza sua secretária
particular Jo Bergman a procurar um novo escritório para os negócios dos Rolling Stones, onde
teria também um espaço para se montar um estúdio. Solicitou também que fosse registrado o
nome Mother Earth, considerando este um nome ideal para o futuro estúdio

A Beatles Company acabaria se tornando a Apple Corp. e os Stones teriam que aguardar mais
três anos até poderem ter em suas mãos, o hoje conhecido selo Rolling Stones Records. De
bom, o assunto serviu para colocar os Stones nos jornais sensacionalistas fofocando sobre
assuntos mais artísticos, do que os últimos relatos policiais.

Keith & Anita em Redlands

Keith está ajeitando a casa ao seu gosto. Uma vez que o casal permanecia boa parte da
semana em Londres, já que os Stones estavam gravando, passaram a ocorrer uma série de
furtos em Redlands que estavam irritando o casal. Obviamente fruto de fãs, uma vez que os
objetos roubados eram geralmente bobagens, provavelmente como souveniers, enquanto
deixavam para trás os tapetes, móveis e outras coisas de valor. Keith então mandou levantar
um muro em frente à casa, estendendo-o por boa parte da propriedade. Arrumou também uns
cães para vigiar a propriedade, dois labradores, Yorkie e Bernie, e mais um dinamarquês
chamado Winston. Os furtos persistiram, então, Keith mandou instalar um sistema de alarme
que soava na delegacia de polícia mais perto. Os fãs passaram a curtir a adrenalina de entrar,
achar algo e sair, dentro dos dez minutos que levava para a polícia chegar na residência. Vez
por outra, a policia pegava alguém. Keith prontamente registrava queixa, o que custava aos
jovens uma pesada multa para evitar cadeia. "Bem feito por se deixar ser pego." comentaria
Keith depois. "Se há uma coisa que não suporto, é um ladrão amador."

O casal gostava de receber os amigos dando festas quase todos os fins de semanas. Michael
Cooper, Tony Sanchez, Mick e Marianne, são alguns dos que constantemente eram
convidados a passar o dia por lá. Brian também era convidado mas ele evitava o lugar, não
gostando de estar tão perto de Anita, ainda sendo extremamente atraído por ela. Keith passou
um tempo interessado em arco e flecha e tinha um set na casa. Com a casa veio também um
pequeno bote de madeira a remo que Keith vez por outra usava no açude. O bote se mostrou
particularmente útil para Keith conseguir resgatar várias de suas flechas, uma vez que ele
quase nunca acertava o alvo. Em tempo acabou comprando um pequeno hovercraft, que lhe
custou uma pequena fortuna. Com ele, Keith passou a zunir a toda velocidade pelo açude
subindo em seguida pelo gramado. Quando a novidade passou o brinquedo ficou encostado na
garagem.

Their Satanic Majesties Request

Finalmente em novembro, o álbum estava pronto para ser lançado porém a Decca breca o
álbum recusando o nome escolhido, Her Satanic Majesties Request. Deixam claro que não irão
ajudar os Rolling Stones a insultar a Rainha e um meio termo viu chegar nas lojas no dia 8 de
dezembro o álbum com o título de Their Satanic Majesties Request.

A capa chamava atenção com sua exclusiva foto em três dimensões e a capa interna oferecia
um labirinto criado por Brian Jones. Sua brincadeira nascia do intuito de distrair o público, que
ele imaginava, provavelmente iria ouvir a música chapado enquanto tentavam encontrar a
saída. O álbum fora produzido por Mick Jagger com contribuições de Keith Richards e muita
ajuda de Glyn Johns. Arranjos de cordas são de John Paul Jones, e os teclados em grande
maioria são de Nicky Hopkins. Outros teclados são ora de Keith Richards, Brian Jones ou Bill
Wyman. Steve Marriot embora não creditado, faz os backing vocals em "In Another Land".

O compacto escolhido para promover o álbum foi "In Another Land" de Bill Wyman, por ser a
única canção de amor do álbum inteiro. A critica não ficou muito impressionada e o álbum foi
severamente castigado com palavras como pretensioso, indulgente e catastrófico. A maioria
comparava o disco com uma tentativa infeliz de tentar imitar Sgt. Pepper's dos Beatles. O
consenso crítico concluía que o álbum é um exemplo da crise de identidade por que a banda
passa, confundindo a moda psicodelica com evolução musical. Aguardava-se o próximo
trabalho na expectativa de poder avaliar se a banda iria voltar a crescer ou cair de vez. Brian
Jones ao ler as criticas desfavoráveis teria dito "Graças a Deus! Agora quem sabe, podemos
voltar a tocar música novamente." Apesar de toda insanidade, seus instintos musicais
continuavam aguçados.

Um Rápido Descanso

Buscando um descanso depois de um ano cheio de "incidentes", os cinco membros se


distanciam. Charlie está em casa com a mulher, sem participar da mixagem ou qualquer
atividade relacionados com os Stones desde o encerramento das gravações. Bill viaja com
Astrid para Nova York e depois para as Bahamas, onde seu irmão mora com a esposa. Brian
troca de carro, substituindo seu Rolls Royce prateado Mark2 por um azulado Mark3. Ele então
viajou com o carro pelo oeste do país. Antes de viajar, soube que Linda Keith estava doente e
internada, imediatamente se prontificando a pagar suas despesas hospitalares, além de lhe
mandar flores todos os dias, enquanto ela se recuperava. Logo voltariam a namorar.
Em um programa de rádio chamado Top Gear, estão presentes Mick, Brian e Charlie para
entrevistas sobre o disco. Mick foi eficaz em defender o trabalho "Não fazemos música
comercial, fazemos a música que gostamos e se for comercial, tanto melhor." Charlie realça o
fato que o disco foi feito sobre extrema pressão durante um ano particularmente desgastante,
haja visto que levou de fevereiro até quase novembro para as gravações serem concluídas.
"Acho um milagre que conseguimos produzir qualquer coisa neste período. Precisávamos
encontrar um novo caminho pois a era que nos deu o boom musical de Liverpool já acabou."
Brian embora sempre contra o disco, perante o público defendeu o produto que carrega o nome
Rolling Stones. "Este álbum é muito pessoal, enquanto considero Sgt. Pepper's mais
introspectivo. Nossas vidas foram afetadas ultimamente por questões sócio-políticas que
acabam sendo refletidas na nossa música. De certa forma, canções como ‘2000 Light Years
From Home’ são proféticas e não introspectivas. Tratam de coisas que acreditamos poder
acontecer; mudanças de valores e atitudes. Entretenimento está um tédio e comunicação é o
que vale".

Julgando a Apelação no caso Brian

Dia 12 de dezembro, Brian estava novamente em corte para ouvir os testemunhos dos
psiquiatras relatando seu estado mental. Mick e Marianne estavam lá para dar força, assim
como Tom Keylock e Stash. Um dos psiquiatras escolhido pela justiça e um outro escolhido
pelo próprio réu confirmam o estado frágil de sua psique. A divulgação pública do seu estado
de saúde foi péssimo para sua imagem e é esta imagem que perdura até hoje, realçada pela
sua morte tão prematura. Mas estes testemunhos foram cruciais para que o juiz colocasse de
lado a sentença original, obrigando Brian a três anos de liberdade condicional, além de
assistência e acompanhamento psiquiátrico. O juiz Parker foi enfático em lembrar ao Sr. Jones
que o que ele está recebendo é misericórdia da justiça e que ele deve se manter longe de
problemas para não piorar sua situação.

Três dias depois de ser absolvido, Brian está de motorista novo, John Coray, que o leva para
seu restaurante favorito, Alvaro, onde Brian encomenda comida para levar para casa. Coray
encontra Brian algumas horas depois desmaiado no chão. Chama uma ambulância e
novamente leva Brian para o St. George's Hospital. Dentro de uma hora, apesar das
recomendações médicas para ele passar a noite hospitalizado, Brian volta para casa.
Recomendações então são feitas para que ele tire férias. Novamente a declaração oficial é
colapso nervoso devido ao estress causado provavelmente pelo julgamento. Na prática, esses
desmaios repentinos passarão a ser comuns. Brian também declararia que está com dor de
dente, tendo que extrair dois, após consultar um dentista.

Brian, que passara desde a blitz de maio, a morar em hotéis, alugou finalmente um pequeno
apartamento em Belgravia na rua Chesham. Lá passou a morar novamente com Linda Keith.
Juntos, com mais a companhia do amigo Stash, viajam para o Ceilão, onde passam o natal e
ano novo. Porém, com suas roupas extravagantes e pitorescas para a época, mormente em um
país asiático de terceiro mundo, somando com seus cabelos longos, Brian acaba sendo mal
tratado e recusado em dois hotéis. No terceiro hotel, ele apelou jogando logo um bolo de notas
no balcão e dizendo furiosamente para o recepcionista que ele não era um pobretão, que
trabalha pelo seu dinheiro, e que se recusa a ser tratado como um cidadão de segunda classe.

Temores Mal Resolvidos

Mick temia que seu erro de julgamento em relação ao disco novo acabaria por devolver poder
dentro da banda para Brian. Mick não conseguia enxergar que Brian não era mais uma ameaça
e que mal se agüentava em pé. No fundo, embora Mick não diga, ele sabe que toda a imagem
de bad boy que ele e Keith desfrutam, e tudo que eles falam em suas músicas, Brian Jones
vive em seu dia a dia. Brian Jones é a imagem dos Rolling Stones na vida real. Brian curtia
orgias sexuais, lesbianismo, sadomasoquismo, além de muita droga e muita bebida. Brian
representava o hedonismo dos sixties em toda sua plenitude, enquanto Mick morava em um
castelo com a filha de uma baronesa e ficava furioso se alguém derramasse café em seu
tapete persa. Mick conversando com a imprensa fala do disco novo, de novos projetos mas
sempre deixando um espaçozinho para dar uma alfinetada no Brian. Frases como "Estamos
planejando excursionar novamente. Menos o Brian pois ele não pode deixar o país.", ou
"Vamos arrebentar no Japão. Todos menos Brian pois ele se tornou um druggie."

Entre os projetos novos, Mick delira falando da possibilidade da banda ir à selva Amazônica,
morar por algumas semanas com os índios, informando que embora nada ainda havia sido
preparado, sua intenção era de a FAB levá-los até alguma aldeia primitiva e depois buscá-los.
Fariam um filme de tudo e logicamente sua música iria refletir parte desta experiência. Depois
Mick viajaria até Nice onde Marianne estava terminando as últimas cenas do filme. Keith e
Anita aproveitam para voltarem para Marrocos, com intenções de novamente visitarem Tangier
e Marrakesh. Bill e Astrid vão para a Suécia passar o fim de ano com sua irmã. Charlie e
Shirley ficam em Sussex como normalmente fazem. Charlie havia feito uma série de desenhos
em formato para cartões de natal, que presenteou aos amigos. A idéia acabaria sendo
aproveitada para os cartões, reproduzidos em grande escala, que acompanharam como
brindes a edição de dezembro do jornal do fã clube oficial da banda. Antes do natal chegar, o
disco Their Satanic Majesties Request, mesmo sendo severamente criticado, teria vendido
mais do que The Magical Mystery Tour dos Beatles nos Estados Unidos e chegara à categoria
de disco de ouro.

James e Andee

Mick viajou até Nice para se encontrar com Marianne que estava terminando as últimas cenas
do filme. De lá, voltam para Londres onde Marianne é convidada por Robin Fox, seu
empresário, para uma festa natalina promovida por Dick Bogarde, e realizado no Connaught
Hotel. Entre os convidados, havia gente talentosa do teatro inglês como Maggie Smith, Julie
Chrissie e Paul Scofield. Mick e Marianne, porém, estavam terrivelmente entediados até uma
menina muito bonita, chamar atenção.

A menina, uma criatura magrinha de olhos grandes, com cabelos bem pretos e cortados curto
feito um menino, dando-lhe um ar andrógino todo especial. Ela se chamava Andee Cohen e era
namorada de James Fox, ator e filho de Robin. Passaram a conversar animadamente os
quatro, e a amizade iria se estender para futuros programas.

Procurando Paz nos Trópicos

Mick não gostava muito de ficar quieto em um lugar. Muito energizado naturalmente, as
pressões e exigências de seu trabalho são uma excelente válvula de escape para gastar toda
essa energia. De férias, Mick é irrequieto e logo arruma idéia de viajarem. Assim, pouco depois
da festa natalina, Mick e Marianne viajam para Barbados. Por acharem a decoração do hotel
em que estavam cafona, resolveram procurar uma casa para alugar. Passaram a semana indo
de ilha em ilha no Caribe procurando um lugar agradável. Marianne trazia com ela uma fita k-7,
novidade do mercado, onde ela havia gravado o disco "The Great White Wonder", primeiro
disco pirata da história, com material gravado por Bob Dylan com a banda the Hawks, que
depois passaria a ser chamado de The Band.

Marianne diria em retrospecto que algumas músicas daquela fita eram tão pessimistas que ela
acabou com medo de morrer em um acidente de avião. Seus temores irritavam Mick e acabam
desistindo de toda idéia de ficar no Caribe e resolvem ver o que mais havia pelo mundo. Isto os
leva para o Brasil, chegando no Rio de Janeiro no dia 6 de janeiro de 1968.

Do Caribe Para o Brasil

Hospedam-se no Copacabana Palace em um quarto com vista para o mar e tentam despistar
usando os nomes Michael Phillip e Marianne Dunbar, mas as roupas modernas contrastam
com as roupas de uso no Brasil naquele período, e logo ficou difícil o casal não destoar em
meio à multidão.

A história mais conhecida entre os cariocas demonstra bem a distância entre a mentalidade
dos jovens do primeiro mundo, representado por Jagger, e do terceiro mundo, representada
pela galera "prafrentex" da nossa cultura tupiniquim. O incidente aconteceu no restaurante/bar
Antonio's, em Ipanema, point da flora "in" carioca. Sentados em uma mesa, junto ao anfitrião
Fernando Sabino, podiam ouvir os sussurros vindo das outras mesas. Com as roupas
extravagantes e agora um chapéu lembrando algo que Greta Garbo usaria, Jagger ofende os
preconceituosos pela sua falta de preconceito. No típico e desagradável abuso carioca, tudo
em nome da brincadeira, alguém toma seu chapéu e zune aos gritos de "barata voa". Depois
da "barata voar" de mesa em mesa, outra figura, David Zingg, que viria no futuro ajudar a
fundar a banda Joelho de Porco, recaptura o chapéu e o devolve a Jagger oferecendo suas
desculpas em nome da cidade. Tipicamente inglês, e sentindo o choque cultural, Mick Jagger
apenas sorri e demonstra um sentido de fair-play elogiável.

Não demora muito e a constante caça por parte da imprensa começa a ser insuportável. Eles
acabam resignando-se a ficar trancafiados no hotel. Até mesmo porque o calor do verão é
insuportável para o casal inglês, que opta por sair sempre ao fim da tarde, quando está mais
agradável, sem a ação direta do sol. Acabam conseguindo fazer alguns passeios típicos de
turistas, como conhecer o Corcovado, visitar o Recreio dos Bandeirantes, e caminhar na praia
de Copacabana, mas no geral, sentiam-se presos ao quarto de hotel, tamanho o assédio da
imprensa.

Até Mais Tarde em Itapuã

Resolvem então viajar para Salvador, Bahia, aceitando a dica de outro turista americano que
conheceram por acaso. Alugaram uma cabana do Hotel Stela Maris em Itapuã e descansaram
pela primeira vez em muito tempo, totalmente incógnitos. Dormiram e fizeram amor pela
primeira vez em uma rede, pois não havia camas no local. Nicholas, Marianne e Mick
aproveitaram bem a paz da praia deserta, sem televisão, jornal e outros compromissos,
podendo dedicar as atenções exclusivamente à companhia um do outro. Neste aspecto, as
temporadas de férias seriam consideradas as melhores que Mick já teve em toda sua vida.

Explorando as praias, acabam assistindo duas cerimônias religiosas de origem africana,


provavelmente do candomblé. No segundo, Marianne foi convidada a participar, jogando
pétalas de rosas no mar como oferenda à Iemenjá enquanto o sol se punha. Romantismo foi o
grande anfitrião desta passagem pela Bahia, o que permitiu que o relacionamento entre Mick e
Marianne voltasse a fluir harmoniosamente mais uma vez. Perto da época de voltar, fizeram
compras no centro, a curiosidade do casal sendo atraído para uma loja de artigos religiosos,
praticamente todos de macumba. Não demorou muito para Mick e Marianne repararem em
como a vendedora olhava Mick, estudando-o. No primeiro instante, pensaram que ela havia
reconhecido o superstar dos Rolling Stones. Mas o tipo e o lugar, não inspirava probabilidade
de conhecer o artista inglês. Além do mais, o olhar era de espanto e receio, não de admiração.
Perturbados com os olhares suspeitos, se retiram da loja e ao atravessar a rua, reparam dentro
de outra loja, uma série de pratos com a imagem de Jesus Cristo. A imagem do Cristo, de
barba grossa, parecia-se idêntico ao Mick, que há muito não se barbeava, também portando
uma barba espessa. Deixarem o local no dia 24 de janeiro, fazendo baldeação no Rio para
Londres.

Rotina Londrina

Novamente em Londres, apesar de as contas bancárias individuais continuarem ridiculamente


magras, se comparadas ao sucesso alcançado, as despesas continuavam. Keith decide alugar
um apartamento em Londres. Mick, além de comprar o castelo de Stargroves em Berkshire,
aluga também uma casa em Cheyne Walk em Chelsea, enquanto aguarda as obras no castelo
concluírem. Jagger então passa a demonstrar uma necessidade obsessiva de manter sua casa
sempre impecavelmente limpa e organizada. Absorve o hábito de Brian de gostar de se vestir
para todas as ocasiões, só que, com Mick, valem até mesmo as ocasiões mais corriqueiras,
como jantar em casa. Exige que Marianne também se vista toda arrumada, mesmo quando não
esperam companhia.

Curiosamente, seria Brian um dos primeiros Stones com quem Mick iria se encontrar, os dois
rindo pelo fato de ambos estarem portando barba pela primeira vez. Mick iria raspar a sua
pouco depois. Os eventos sociais e promocionais para a banda continuam. Mick atende uma
festa para The Supremes, que estão em Londres, promovida pelo Duke de Bredford.
Em final de janeiro, Brian havia se juntado com Donavan, Cilla Black e três dos quatro Beatles,
para uma recepção promovendo a banda The Grapefruit. Nesta festa, ouviam o disco "John
Wesley Harding" de Bob Dylan, pela primeira vez. Presente também estava Jimi Hendrix, que
ao ouvir a faixa "All Along The Watchtower", imediatamente exclamou, "Eu tenho que gravar
isso!" Juntou algumas pessoas na festa e foram todos para o Olympic Studios, gravando a
canção na mesma hora.

Com Hendrix estavam Noel Redding, Mitch Mitchell, Dave Mason, Brian Jones, Linda Keith e
Chas Chadler. O engenheiro de som foi Andy Johns, irmão de Glyn Johns. Muito impulsivo e
com exata noção do que ele queria e não queria, Hendrix organizava a sessão como um ensaio
antes de efetivamente começarem a gravar.

Brian Grava com Hendrix

Nestas execuções da música, tínhamos, além do Experience em seus respectivos


instrumentos, a somatória de Brian Jones no piano e Dave Mason na guitarra. Depois,
concluiriam que um violão de 12 cordas seria melhor e Mason acabou usando um emprestado
que pertencia a Glyn Johns. Hendrix e Redding já estavam tendo problemas com relação à
forma de trabalhar, experimental demais pra o gosto de Redding, e este acaba por ir embora
cedo.

Quando concluiu-se que era hora de gravar, a versão apresenta Jimi Hendrix fazendo slide
guitar usando o seu isqueiro, Dave Mason no baixo e guitarra rítmica e Mitch Mitchell na
bateria, com mais Brian Jones no piano e tambourine. Chas Chandler produziu a sessão que
foi assistida por Linda Keith. A versão que acabaria saindo no seu álbum Electric Ladyland é
esta com o piano de Brian e o baixo de Mason apagados. Hendrix optou por fazer o baixo ele
mesmo, curiosamente usando o baixo de Bill Wyman que estava guardado no estúdio.

Charlie & Shirley em Casa

Mick nunca desenvolveu uma amizade fora do âmbito profissional com Bill Wyman e evitava
ultimamente Brian Jones, porém sua relação com Charlie Watts, mesmo tendo esfriado um
pouco desde os tempos que os dois mais Shirley e Chrissie andavam juntos, ainda se manteve.
Mick, sempre ativamente social, visita com Marianne a residência de Charlie e Shirley, por
vezes pernoitando. Charlie orgulhosamente mostra suas diversas coleções. O grande barato de
ser um Rolling Stone para Charlie, é justamente poder ter o dinheiro para enriquecer os
volumes de suas coleções. Nelas incluem um vasto catálogo de livros, quadros e discos de
jazz; como também artefatos militares, outra paixão sua. Charlie tinha orgulho especial para
sua coleção completa de rifles e pistolas da Guerra Civil Americana iniciada na primeira viajem
dos Stones à América. Shirley estava nos últimos estágios de sua gravidez e a primeira criança
do casal, uma menina que foi chamada de Seraphina, nasceria no dia 18 de março de 1968.

Descobrindo Maquiagem

Mas na maioria das ocasiões Mick e Marianne vão para Redlands buscando a companhia de
Keith e Anita. Keith atiçado por Anita, começa a usar maquiagem para escurecer ao redor dos
olhos e às vezes até experimenta um toque de baton. Em Keith, tais detalhes estranhamente
realçam sua masculinidade e acabam por atiçar a libido de Anita e de outras mulheres.
Marianne é uma que ficou encantada com o efeito, como também ficou Mick que logo passou a
imitar a idéia do amigo. Porém a maquiagem em Mick não tem exatamente o mesmo efeito de
realçar a masculinidade como ocorreu com Keith. Ainda asim, Mick adorou o resultado e
passou a explorar cada vez mais com o produto, descobrindo efeitos com outras cores como o
verde e o azul.

Em fevereiro, numa destas visitas, Mick e Keith aproveitam e gravam uma fita. A fita teria as
canções Highway Child (Jagger-Richard), Hold On! I'm Comin' (Isaac Hayes/David Porter),
Primo Grande (titulo inicial para o que viria a ser Street Fighting Man) e Rock Me Baby (Bill
Broonzy/Arthur Crudup). Conversas sobre um novo disco começam.

Mick & Marianne, James & Andee


Marianne e Andee voltaram a se ver, as duas encantadas uma com a outra. James e Mick
também se admiravam mutuamente. James Fox era um típico cavaleiro inglês que andava de
chapéu coco com guarda-chuva embrulhado na mão, usado como uma bengala. Mas James
tinha uma atração para o hip, o novo; o que explica ele estar namorando alguém tão diferente
ao seu estilo como Andee. Assim, estar agora freqüentando a companhia de Mick Jagger dos
Rolling Stones também tem um aroma de ser moderno. Jagger, por sua vez, tem uma certa
atração por gente de posse e pose. O fato de Fox ser um ator de sucesso aumenta seu
interesse, pois, Jagger nutria a hipótese de fazer cinema. James Fox havia conseguido ótimas
criticas em sua participação em filmes como "The Servant", "King Rat" e "Those Magnificent
Men in Their Flying Machines." Então andar com Fox, podendo observar e estudar o ator é
para Mick uma chance imperdível.

Geralmente o casal recebia os amigos na cama gigante no quarto. James, um pouco fora de
seu ambiente, tem dificuldades de perceber nos comentários o que é brincadeira e o que é
sério. Ao chegar atrasado para um encontro na casa de Jagger, chega a tempo de encontrar
Mick, Marianne e Andee na cama, conversando e admirando livros de magia de autores como
Castañeda, Crowley, Blavatsky e Zohar. Ao entrar no quarto e encontrar sua namorada na
cama com o casal de amigos, ele fica desconcertado, sem saber ao certo o que pensar. Mick
imediatamente o recebe com um "Olá James, atrasado para a orgia novamente?! Qual sua
desculpa desta vez?"

E divertindo-se vendo James cada vez mais perplexo emenda "Por acaso trouxe alguma
cocaína para acompanhar este excelente Sauvignon que me foi recomendado?" James, já
engasgando nas palavras, confirma que não trouxe nada similar e antes de terminar a sentença
Mick continua sua brincadeira enquanto as meninas prendem o riso. "Mas que imprestável! A
Princesa Margaret jamais tocaria em uma gota deste vinho maravilhoso sem pelo menos um
cajado de coca como entrada." James totalmente perdido na história se resigna a um "É
mesmo, Mick?!" que por sua vez deixa cair finalmente a máscara e esclarece "É claro que não
seu tolo! Vai até a cozinha e traga umas taças e ao voltar enrola aquela nota de vinte. Mas
antes, vem aqui nos dar um beijo."

Mick gostava de apresentar muita música para James e Andee. Aretha Franklin, Sam & Dave,
James Brown, o recém falecido Otis Redding, Joe Tex, Smokey Robinson e muito Motown
sempre iam parar na vitrola em dia de visitas. James por sua vez era fanático por Bob Dylan
que passou a freqüentar a vitrola ainda mais nestes encontros. Marianne curtia muito Ravi
Shankar, que ela achava tão estimulante para leitura quanto para sexo. Certa noite, os quatros
conversavam na cama após tomarem um ácido excelente. Marianne e Andee começam a se
cariciar de forma extremamente íntima. Quando elas se dão conta do que estão fazendo, olham
pro lado e percebem que os dois homens pararam de conversar e estão só olhando, James
particularmente espantado. Isto só fez com que elas ficassem ainda mais excitadas e passaram
a ter relações sexuais completas, com os dois homens de voyeur, só assistindo. Logo, Mick e
James estão se dando as mãos, Mick tomando a iniciativa, os dois engajando em carícias. Os
dois casais em puro êxtase, com sexo sem os confinamentos de gênero. Marianne diria anos
depois sobre o assunto, "ácido é uma droga extremamente sexual e com ele, o conceito de
limitar o sexo a apenas o sexo oposto é ridículo."

O Escritório e as Finanças

O local escolhido para o novo escritório dos Stones, onde teria também um espaço para se
montar um estúdio, foi na rua Maddox em Mayfair. Todas os valores das despesas sendo então
remetidos para Allen Klein em Nova York donde aguardam a remessa de recursos, para que
possam pagar estas contas. Ian Stewart assinou pela banda o contrato de aluguel, uma vez
que Mick e Keith estavam fora do país e nem Charlie, nem Bill, aceitaram se colocar em uma
posição delicada, onde precisariam esperar por Klein liberar dinheiro.

O Dilema e as Pressões

Não demorou muito, e a desagradável companhia de Sgt. Pilchard e seus homens voltam a
importunar Brian. Ele então passa a fugir para Paris, indo e voltando uma, às vezes duas vezes
por semana. Em Paris, suas conexões lhe permitem alívio das pressões Londrinas. Mas em
pouco tempo, com as dificuldades para liberarem as verbas dentro da organização Rolling
Stones, Brian estaria devendo tanto dinheiro naquele solo, que França passa ser um motivo de
pressões e paranóia. Surgem boatos de Pilchard sendo visto oferecendo maconha para
membros da equipe Rolling Stones em troca de informações sobre onde seria encontrado
certos músicos da banda e quais os hábitos concernindo o uso de tóxicos.

Com medo de ser falsamente flagrado, Brian sai de seu apartamento recém alugado, para
voltar a morar em quartos de hotel. Ele se hospeda inicialmente no Lygon Arms Hotel em
Worcestershire, sai, vai à França e volta desta vez para o Imperial Hotel em Queen's Gate. Em
todos esses lugares o ritual de eventos se mantém. Depois de alguns dias, quando muito
algumas semanas, o já conhecido detetive e seus homens o descobrem e começam a aparecer
para chantageá-lo descaradamente por dinheiro. Se não pagar, garantem que irão encontrar
algo e levá-lo para a delegacia.

Brian sabe que não pode ter nenhum incidente pelos próximos três anos, senão ele pode
acabar na cadeia. A pressão é insuportável para este ser, já bastante desorientado. O que
pouca gente sabe é que depois de sua grande crise após ser encarcerado, Brian começara a
experimentar com heroína. Com a estada em Ceilão, a busca por alívio se intensificou e em
Paris, ele passa a se abastecer. Durante o decorrer de 1968, Keith também estará sucumbindo
às pressões. A pressão da culpa que ele não quer sentir pelo declínio de Brian, a sua
insegurança de manter Anita e não perdê-la, acabando como Brian e principalmente, a pressão
do relacionamento ambíguo que Mick e Marianne querem ter com ele e com Anita. Tudo isso,
somado à curiosidade sobre a droga nova de '68, ajudará Keith a começar a experimentar com
heroína, embora sem fazer muito alarde para o assunto.

Narcóticos

Ainda não havia entre os jovens, discernimento ou a devida noção do poder de dependência
que difere uma droga da outra. Sabemos muito bem hoje em dia, graças a experiências
realizadas e divulgadas por esse pessoal da década de sessenta, que hoje, algumas décadas
depois, vem à frente e dão testemunho de suas vidas. Apesar de heroína estar no mercado há
anos, não há, em sessenta, confiança na palavra do sistema.

O sistema diz que heroína é perigoso, da mesma maneira que maconha é perigoso. Como
diferenciar os dois? Qualquer pessoa que já fumou um cigarro irá te dizer que nicotina, vinda
do tabaco, é extremamente difícil de largar. Abstinência de cigarro (nicotina), como também
álcool, geralmente é acompanhada de nervosismo, ansiedade e tremedeiras. Qualquer um que
já fumou maconha irá dizer que quando não há erva no mercado (a chamada época de seca),
passam sem o fumo, sem suar frio, tremedeiras ou nenhum outro tipo de problema em função
da abstinência. Como então a maconha, a cocaína e a heroína, podem ser tratados com
valores iguais pela lei, e cigarro (nicotina) e alcool, ficarem à parte? Como acreditar na
sinceridade das fontes?

Muita gente no final da década de sessenta, que flertou com cocaína, passou a consumí-la
cada vez mais. Uma vez "ligado", fica difícil de "desligar". Principalmente se há bastante
dinheiro disponível para comprar mais. Então uma das formas encontradas para acalmar e até
dormir, foi de misturar um pouco de heroína com a cocaína. Assim, além de evitar a sensação
de enjôo que geralmente se tem injetando ou cheirando heroína pura, você começa a se
acalmar e cai num sono calmo e profundo por alguns minutos. Quando acorda, está se
sentindo bem e não drogado.

É claro que se isto soa interessante, não esqueça por um segundo que basta uma vez para se
ficar dependente de heroína. Isto não é lenda; leve a sério! Pouquíssimas são as pessoas que
experimentaram com esta droga e morreram de velhice. E mesmos estes, que continuam vivos,
têm as marcas do uso na face e na alma. Com o uso, inevitavelmente contínuo, há poucas
chances de uma vida produtiva. Lou Reed (Velvet Underground) certa vez definiu heroína como
sendo "minha vida, minha esposa" e Hugh Cornwell (Stranglers) a definiu como sendo algo que
"leva sua alma e deixa apenas seus ossos pra trás." Quase todos começaram procurando
evitar alguma dor pessoal. Embora em final de 1967, a era do ácido está cada vez mais popular
entre o grande público, para aqueles que começaram a tomá-lo em 65/66, a novidade já não
atrai tanto e o discurso de uma maior consciência, via LSD, já é questionável. Esta busca está
mudando de ferramenta, passando de ácido para yoga e filosofia hindu. E para segurar o pique
de cocaína, muita gente inadvertidamente substitui os calmantes por heroína.

Heroína

Vinda do ópio, a heroína foi criada em 1874 pelos laboratórios da Bayern, com intuito de
oferecer um remédio para ajudar pessoas dependentes de morfina a se livrarem do vício.
Heroína resolve o problema da morfina de fato, não obstante oferece um problema pior. Na
prática, heroína é a anestesia mais forte criada pelo homem. Deixar de tomá-la é um tormento,
pois o corpo fica extremamente doente sem a droga no sistema. A abstinência provoca de
início angústia, febre, e tremedeiras, seguidos de suor frio, coceiras, disfunções dos órgãos,
náusea, diarréia, câimbras, vomito, e convulsões. O tempo mínimo de abstinência é de 72
horas antes de o usuário conseguir voltar a andar e comer normalmente. Ainda assim, o desejo
pela droga é uma tortura para o psíquico e pode durar anos.

A Papoula e os Deuses

A papoula, também conhecida como papaver somniferum, é uma planta florida de cores em
tons que variam entre verde, vermelho, roxo e branco. É de sua seiva que se obtém o ópio.
Registros sugerem que o uso do derivado da papoula vem do sul da Mesopotâmia, região que
hoje é englobada pelo Iraque. Documentos datando desde cinco mil anos antes de Cristo
referem-se a ela como a planta da alegria. Também na antigüidade, registra-se a presença da
papoula na Grécia. Foi plantada inicialmente em um povoado perto de Corinto, que passou a
ser chamado de Mecônio, por causa da planta. A cidade mais tarde passando a se chamar
Cidônia.

Os gregos também registram a papoula em sua arte e mitologia. Seu poder de induzir ao sono
lhe dá status de planta mágica. Imagens de vários Deuses são representados segurando
ramos e flores da papoula, justamente associando seus efeitos com os poderes dos Deuses.
Este é o caso de Hypnos, o Deus do sono, assim como Nyx, o Deus da noite e Thanatos, o
Deus da morte, todos identificados com ramos ou bouquets de flores de papoula nas mãos.
Deuses mais conhecidos como Apollo, Demeter, Aphrodite e Cybele também contam com a
papoula em suas histórias. Conta-se que Demeter, em desespero pelo seqüestro de sua filha,
comeu a papoula para esquecer a dor e dormir. Para os adoradores de Afrodite, a planta é
sagrada, simbolizando tanto abundância quanto fertilidade.

Ópio e a Rota da Seda

Os Egípcios usavam ópio como anestesia, realizando operações de acordo com a medicina
disponível em sua sociedade. Entre os séculos VI e VII, a planta chegou à China, pela rota da
seda, através de comércio realizado com os Árabes. Na China, o ópio importado também
passou a ser usado como uma forma de medicina por mil anos, até que no século XVII se
descobriu que ópio poderia ser fumado. Tornado ilegal pelo governo chinês, o preço do produto
no mercado subiu e Inglaterra e Portugal passaram a fazer fortunas fornecendo ópio
ilegalmente através de seus territórios na India e Indochina. Em tempo, a Inglaterra tomaria
para si este mercado, levando o governo chinês a retaliar, destruindo toda a remessa do
produto antes dele entrar em território chinês. Isto deu origem a duas pequenas guerras entre
estas duas nações. Foi no tratado de paz desta guerra, que a China foi obrigada, em
pagamento ao ópio destruído, a ceder o controle de Hong Kong para a Inglaterra, controle só
recentemente retomada pela China.

Durante a era Vitoriana, o ópio passa a ser consumido também na Inglaterra, o povo utilizando-
a em forma de pílula. Muito popular também se tornou consumir ópio misturado com álcool, o
que passou a ser chamado de laudanum. Em 1803, Friedrich Wilhem Serturner isolou do ópio
um alcalóide que batizou de morfina, em homenagem a Morfeu, Deus grego do sono. Morfina
se torna rapidamente o melhor e mais eficaz anestésico criado pelo homem, bem mais eficaz e
seguro para o paciente do que ópio puro, como se usava no antigo Egito. Do ópio, também já
se isolaram outros alcalóides como Codeína, Tebaína, Bensilisoquinolinas, Papaverina e
Noscapina, todos sendo usados na medicina. Quando a heroína surgiu, foi como outra forma
de anestesia. Vista como uma droga segura e benéfica, passa a ser vendida livremente no
mercado farmacêutico como um substituto à morfina. Todavia, com o decorrer dos anos, se
percebeu seu potencial viciador e tanto a heroína, quanto morfina, passaram a ser proibidos
quando vendidos sem prescrição, à partir de 1920. Nos Estados Unidos, o ópio passa a ter sua
importação proibida desde 1877, meros três anos após o surgimento da heroína.

Da França aos Estados Unidos

A papoula passou a ser uma planta muito comum na Indochina, criou um mercado negro
naquela região, herdado primeiro pelos franceses, quando estes tomaram posse da região. Os
Franceses são responsáveis pela heroína chegar à Europa, a chamada Conexão Francesa,
vindo via Marseilles. Depois, em 1955, foi a vez dos americanos, quando estes substituíram os
franceses no controle daquela parte do mundo. Com as guerras da Coréia, e depois Vietnã, a
ação militar americana na região desenvolvia a industria bélica na pátria mãe. Para obter e
manter o controle da região, os militares e a CIA mantiveram relações amigáveis com
traficantes locais e ilegalmente passam a auxiliar no acesso às rotas, tornando-se sócios. A
produção era feita em grande escala em Laos e Burma, que passavam de 7-8 toneladas ao
ano com os Franceses para produzirem cerca de mil toneladas ao ano.

São dois os focos de operações. Primeiramente fornecer a droga para os seus soldados para
anestesiar ferimentos físicos e psicológicos sofridos pelos horrores da guerra. O outro tratava
de tentar aniquilar a revolta de uma minoria étnica dentro dos Estados Unidos; os negros
ativistas.

Heroína na América nos Anos Sessenta

Com a entrada dos anos sessenta, soldados que voltam aos Estados Unidos estão com
dificuldades de se readaptar ao convívio social. O uso de heroína já existe há quarenta anos,
muito embora em pequena escala, restringindo-se quase que exclusivamente às comunidades
negras. Os brancos estão mais propensos a terem contato com morfina, anestesia ainda
largamente utilizada em hospitais.

Com a revolução jovem e principalmente com o Movimento dos Direitos Civis tornando-se cada
vez mais forte, surgem líderes mais aguerridos, que pregam que o negro deva fazer o uso do
direito constitucional de portar armas e se proteger do branco agressor. Um destes líderes, hoje
mais conhecido por causa do cinema, era conhecido pelo nome de Malcom X, e acabou
assassinado em 1965. As relações entre as raças negras e brancas estavam tensas, com
medo e preconceito sendo a base de todo raciocínio lógico. A CIA em pânico escolhe uma
opção; a de facilitar a entrada de heroína dentro do país para serem vendida e consumida
pelos negros. Escoa-se assim parte da produção para um mercado interno, em Los Angeles e
Harlem, enquanto eliminava-se parte da comunidade negra insatisfeita. Toda operação de
transporte da heroína da Indochina direto para os Estados Unidos é autorizada e protegida por
membros de facções do governo americano, mormente a CIA, FBI, DEA, INS, que pagavam o
silêncio de chefes de setores na alfândega, juízes, trabalhadores no Departamento da Justiça e
membros do Congresso.

Mesmo toda essa ação sendo ilegal, e sem o governo como um todo estar ciente, por "detrás
dos panos" é a própria CIA quem está fornecendo heroína para a máfia vender nas ruas.
Durante o final da década de cinqüenta, até o final do governo Nixon em meados da década de
setenta, a CIA colocaria a máfia, as polícias estaduais, e o FBI, todos a trabalharem juntos,
conforme sua necessidade. Hoje a organização sofre com incontáveis teorias de conspiração
sobre vários fatos e incidentes na historia criminal americana deste período.

Nós Contra Eles na América


O Movimento Anti-Guerra

Entre a Primeira Reunião Estudantil Contra A Guerra de Vietnã realizado em 1964 nos Estados
Unidos, até a primavera de 1968, muita coisa mudou. O ano é de eleição na América e a
situação queria continuar no poder. Havia um esquema montado rendendo milhões de dólares
com o gerenciamento da política de guerra e que não poderia arriscar ser desmantelado com a
entrada de outra mentalidade no poder.

As manifestações de paz montadas pelos estudantes passam a ser invariavelmente


respondidas com força militar. Bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água, pastores
alemães e muito porrete de borracha em quase todos eles.

Havia uma forte campanha contra o Presidente Democrático Lyndon Johnson, muito graças a
seu governo que alimentava a guerra do Vietnã com americanos jovens, obrigados a deixar
seus estudos e suas vidas, para irem lutar. Quem não aceita ir "defender o país", é preso e
processado. Isto promoveu a grande debandada de jovens a sair de suas casas, suas cidades,
e migrarem, optando por uma vida nômade pelo país, como ensina o livro Beatnick, "On The
Road" de Jack Kerouac. Começariam a surgir, escondidos dos centros, pequenos
acampamentos com hippies vivendo em uma "sociedade alternativa".

O Partido Democrata estava enfraquecido pela falta de apoio de uma gama de afiliados. Estes
são contra o Partido Republicano, partido mais conservador, porém também contra o atual
governo praticado por Johnson. Acabam se fragmentando em diversos grupos ativistas.

Um grupo passou a se chamar MOBE - National Mobilization to End the War in Vietnam
(Mobilização Nacional para o Fim da Guerra de Vietnã), outro, é o SDS - Students for a
Democratic Society (Estudantes para uma Sociedade Democrática), e uma terceira, liderado
pelo jovem estudante ativista Abbie Hoffman, seriam batizados de Yippies - Youth International
Party (Partido Internacional do Jovem).

Eventos Pertinentes

Em novembro de 1967, o Senador Eugene McCarthy seria o primeiro a correr para a


presidência, contra o atual Presidente americano, dentro do seu partido. Em final de janeiro, os
Vietcongs avançam e por 77 dias cercam e invadem Saigon, Vietnã do Sul; ataques atingindo a
embaixada americana e provocando uma demanda maciça de soldados, mandados para o
Vietnã. Cerca de 542 mil soldados só no ano de 1968, o que aumentaria a opinião pública
contra a continuação do envolvimento do país nesta guerra. Richard Nixon e George Wallace,
na primeira semana de fevereiro, oficializam suas entradas para concorrer à nomeação do
representante do Partido Republicano para a corrida presidencial.

Em março, uma tropa americana, comandada pelo Tenente Kelly, invade uma pequena vila
Norte Vietnamita e assassinam todos os 300 habitantes, todos civis, incluindo idosos, mulheres
e crianças, que moravam no local. O ocorrido seria mantido em sigilo até o final de 1969. Mas
com grande parte da população insatisfeita com os Estados Unidos participando em uma
guerra que nada tem a ver com o país, mais protestos nas ruas se espalham. Em 16 de março,
o Senador Robert F. Kennedy oficialmente afirma entrar na corrida para a nomeação do
representante do Partido Democrata. Na semana seguinte, os partidos MOBE, SDS e Yippies
se unem em apoio a Kennedy e para estudarem estratégias contra os Republicanos.

Em meio a uma greve de lixeiros organizada pelo Movimento dos Direitos Civis, e que se
estende em um impasse por tempo demais, a pressão política criada é imensa. Alguns
consideram esta greve o estopim que levou no dia 4 de abril de 1968, o Reverendo Martin
Luther King Jr. ser assassinado em plena luz do dia.

Nós Contra Eles na América


A Comunidade Negra Organizada Se Protege

Quando as manifestações eram para exigir os direitos dos negros, as ações da polícia eram
ainda mais covardes. Humilhações, como também assassinatos de pessoas desarmadas não
eram de se espantar. Houveram protestos gravíssimos durante os dias seguidos à morte do
Reverendo King com confrontos entre brancos e negros em mais de cem cidades espalhadas
pelo país. O prefeito de Chicago, Richard J. Bailey critica abertamente seu Chefe de Polícia por
dar ordem explícita a seus homens para atirar com intúito de matar ou aleijar qualquer negro
protestando. Nove negros foram assassinados e quase doze quarteirões acabaram
incendiados no levante popular étnico.

Uma facção do Movimento dos Direitos Civis, vendo que o governo não dá o devido interesse
ao bem estar do povo negro, tomam para sí obrigações que deveriam ser do governo. Em
outubro de 1966, na costa oeste americana, os amigos Bobby Seale e Huey P. Newman criam
The Black Panther Party For Self Defense (Partido Para Defesa Pessoal Panteras Negras).
Este grupo se tornaria famoso em todo o mundo e seria vendido para a mídia como terroristas.

Os Panteras Negras

Os Panteras Negras nasceu da urgência de se dizer “não”. São na prática um subproduto da


opção infeliz da CIA de injetar heroína nas comunidades negras americanas. Promovem ações
comunitárias como o programa "Café da Manhã Gratuito" para as crianças menos favorecidas
poderem ir para a escola devidamente nutridas. Programas de alfabetização para adultos em
aulas noturnas para aqueles que se interessam ainda em expandir seus horizontes. Programas
de assistência médica preventiva totalmente gratuito. Um total de doze programas são criados
pelos Panteras Negras e seus representantes passam a se espalhar pelo país, organizando as
comunidades carentes.

Passam a comprar armamentos, como rifles, pistolas e munição, podendo assim policiar as
ruas da comunidade com maior rigor e coibir, até certo ponto, o tráfico de heroína que passara
a ser encontrada por preços quase gratuitos nos guetos. As armas são também para responder
com fogo a brancos, sejam civis ou policiais, que abusam da sua dita autoridade para espancar
e humilhar gratuitamente o negro. Evidentemente a imagem de negros militarmente
organizados, armados e sem nenhum intuito de permitir se continuar a discriminação clara e
gratuita da lei contra aquela etnia, assustou muita gente.

Quanto à heroína apanhada sendo vendida nos guetos, passam a ser revendidas para os
brancos com uma margem de lucro. Este lucro ajuda a pagar os custos dos programas,
locomoção de organizadores e munição. Ao se armarem e enfrentarem "forças de opressão
política", dentro do país, os Panteras Negras seriam caçados até que seus líderes e vários de
seus membros sejam mortos.

O programa do FBI chamado COINTELPRO (Counter Intelligence Program), criado para aleijar
a esquerda ativista organizada, serviria para ameaçar, perseguir e assassinar vários membros
dos Black Panthers.

Em 1967, chacinam Bobby Hutton, ateando fogo em sua casa e atirando assim que ele saiu.
Décadas mais tarde, a lei ordenaria ao governo pagar substancial soma à família Hutton, como
forma de indenização pelas ações ilegais tomadas no caso.

Não Há Só Flores em San Francisco

As músicas tomam enorme participação com os eventos correntes, cobrindo temas sociais
pungentes da época. Se Bob Dylan anos atrás comentava de forma poética a sina do homem e
a guerra com "Blowin' In The Wind", ele também anuncia secamente que "The Times They Are
A-Changin'". Barry McGuire responderia com a pessimista "Eva of Destruction", canção que
analisa a violência excessiva não só no oriente médio como também no próprio país. Mas
nenhuma canção tocou tão bem na realidade do que estava sendo 1967 e 68, como "For What
It's Worth" de Buffalo Springfield. A letra de Stephen Stills procura conscientizar todos de que
os tempos realmente mudaram, e muito cuidado para não morrer de bobeira é recomendável.

For What It's Worth

There's something happening here


And what it is ain't exactly clear
There's a man with a gun over there
Telling me I've got to beware
I think it's time we stop,
Children, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down

There's battle lines being drawn


Nobody's right if everybody's wrong
Young people speaking their minds
Are getting so much resistance from behind

Time we stop,
Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down

What a field day for the heat


A thousand people in the street
Singin' songs and carryin' signs
Mostly say "hooray for our side"

It's time we stop,


Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down

Paranoia strikes deep


Into your life it will creep
It starts when you're always afraid
Step outta line, the man come and take you away

We better stop,
Hey, what's that sound?
Everybody look, what's goin' down

1968

O relato de todos estes eventos ajuda a nos trazer ao estado de espírito da época. As belas
músicas que cercam o período não podem nos fazer esquecer como foi árduo sobreviver em
certos países no ano de 1968. Não alheio ao que está ocorrendo no mundo, Mick Jagger está
em Londres falando sobre os tempos e o significado destes eventos, que para ele são todos
interligados com a insatisfação dos jovens de verem suas vidas dependerem de gente velha
com leis antiquadas que não correspondem às realidades do mundo moderno.

Paralelamente, os Stones como uma banda sabem que há uma necessidade para voltar a
trabalhar em um novo disco o quanto antes. Eles estão em um momento crucial onde a
imagem da banda, um pouco queimada pelo disco anterior, precisa ser reerguida. Mick telefona
e conversa com os demais, prometendo uma maior participação nas composições tanto para
Bill quanto para Brian. O grupo volta a se encontrar e trabalhar juntos em março.

Entrevistas inflamatórias são sinceras demonstrações de que Jagger reconhece e quer agarrar
o momento, altamente favorável a mudanças radicais na sociedade. Seu rancor pela forma
como virou alvo e acabou na cadeia o fez parar para pensar seriamente sobre os defeitos da
sociedade capitalista. Jagger comentou filosoficamente, "Me parece que a maioria das pessoas
acredita sem compreender. Os Mandamentos falam 'Não Mataras', e meio mundo está
treinando para o aniquilamento da outra metade. Eu não aceitaria ser obrigado a vestir um
uniforme e viajar até Aden para matar um monte de gente que nem conheço e a quem nada
tenho contra. Guerra brota de políticos loucos por poder. Políticos?! Que peso morto são."

Longe dos jornais, junto aos mais chegados, seu discurso é ainda mais radical. Fala de
anarquismo e o direito supremo de toda pessoa poder andar livremente sem que outro tenha
poder de coibir. "Não deveria haver propriedade privada! Porque não jogamos ácido na represa
de água potável da cidade?" "A lei está velha demais para poder cuidar de casos individuais."
O Preço da Liberdade de Expressão em '68

Olhando para a história recente da década de sessenta, não há como negar que 1968 foi o
auge da insurreição dos jovens contra o sistema, como também a resposta de violenta
retaliação deste sistema sobre sua população jovem.

Em Nova York, 150 terminam feridos e 700 presos quando a policia dispersa alunos da
Universidade de Columbia protestando. Na mesma semana em Chicago, protestos acabam em
guerra quando 8 mil pessoas marcham contra a participação americana na Guerra de Vietnã e
a policia intervém.

No dia 8 de maio, estudantes manifestando em Paris causam graves distúrbios que acabam
por se transformar em uma greve geral em todo o país. Dez milhões de trabalhadores em greve
e dez mil batalhas contra a polícia. Na Tchecoslováquia, manifestações juvenis em Praga
demostram que nem na cortina de ferro consegue-se calar a força e presença impertinente do
jovem. Nasce o Movimento de Reforma Primavera de Praga. Evidentemente que o rebuliço
acabaria esmagado em agosto com a União Soviética deslocando seu exército e tomando a
capital, deixando Praga momentaneamente em estado de sítio. Em junho, na California, após
tomar um passo importante para a corrida presidencial, Robert F. Kennedy é assassinado
praticamente em frente às câmaras de televisão, assistido pelo país de costa a costa.

Jagger Engajado

Foi como se o momento fosse tão propício que até mesmo o destino estaria a favor de Mick
Jagger deixar em segundo plano o mundo artístico para se tornar membro da sociedade
política. Assim, aparentemente do nada surge Tom Driberg, membro do Parlamento pelo
Partido dos Trabalhadores, buscando em Jagger apoio e engajamento. Driberg tem o respeito
do músico por ser uma das pessoas que assinaram a petição junto com os Beatles, a favor da
liberação da maconha, um risco para sua carreira política considerável, até mesmo pelos
padrões de hoje em dia. Driberg fez o contato e foi trazido à residência de Jagger através de
Allan Ginsberg. Mick e principalmente Marianne, que vem de uma família socialista, estão
encantados com a possibilidade de Michael Philip Jagger ser eleito para tomar uma cadeira no
Parlamento Inglês. Driberg pinta um quadro favorável de suas obrigações. Jagger poderia
continuar como artista, sem precisar participar do dia-a-dia do Parlamento, sendo apenas uma
figura de representação da população jovem.

Conversas sérias foram feitas entre os dois, Jagger vendo a oportunidade como uma forma de
alcançar uma maior respeitabilidade pela sociedade. Ele se posiciona como sendo um
anarquista no real senso político da palavra. Driberg concorda que os tempos são propícios
para mudanças e tenta lhe convencer que, com as constantes manifestações populares
acontecendo, o Partido dos Trabalhadores seria sua melhor opção partidária. O PT inglês é a
casa mais propensa a levar adiante algo que chegue mais perto de um socialismo, o que
Drieberg acredita ser mais sã e realisticamente possível do que anarquismo puro.

No fundo Jagger tem consciência que, na prática, ele serviria apenas para atrair votos para o
Partido dos Trabalhadores, de adolescentes que chegaram recentemente na idade de votar.
Uma idéia que em si não era totalmente ruim uma vez que Mick concordava com várias
diretrizes do partido. Mas ao perguntar a Keith o que achava da idéia de Jagger tentar se
eleger para uma cadeira no Parlamento Inglês, este rebateria como sendo a idéia mais idiota
que ele já ouviu em toda a vida. Mick olha para o chão, pensa um pouquinho e conclui, "Você
tem razão."

Embora Mick desistira da idéia de concorrer ao Parlamento, suas convicções políticas


continuavam. Quando houve em Londres uma manifestação contra a Guerra do Vietnã em
frente à embaixada Americana, Jagger discretamente entrou no meio do povo e participou da
demonstração. Cantou slogans de protesto e se sentiu parte de um momento histórico. Porém
seus devaneios ativistas duraram pouco, pois logo que foi identificado, começou a juntar gente
pedindo inicialmente autógrafos, seguidos por jornalistas perguntando sobre o próximo disco e
assuntos totalmente alheios à razão pela qual todos estavam ali. Percebendo que sua
presença se tornou uma distração do propósito político real daquele agrupamento de pessoas,
Jagger preferiu se retirar. Foi possivelmente neste dia que Mick Jagger percebeu que a fama o
excluía da revolução, pois ele se tornara rico e célebre demais para representar o trabalhador e
homem comum. Conclui amargamente que ele era apenas uma distração e não um líder.
Todas suas convicções de que as manifestações na Europa e na America seriam interligadas
de alguma forma, são agora questionadas em sua mente. Ao chegar em sua luxuosa
residência, passa a escrever a letra de "Street Fighting Man".

Olympic Studios

Mick havia contratado o produtor americano Jimmy Miller que estava já morando e trabalhando
na Inglaterra. Impressionou Mick o seu trabalho com bandas como o Spencer Davis Group,
Spooky Tooth e Traffic. Keith havia alugado o apartamento de Robert Frazer e se mudado com
Anita para Londres. Redlands, durante os três meses de gravações, voltou a ser apenas uma
casa de campo.

Morando agora mais perto de Mick, os dois estão sempre juntos e trabalhando no novo álbum.
Keith também começa a ensinar Mick a tocar o violão. Com a determinação de dar tudo de si
para este próximo disco, e concluindo que o excesso de ácido no ano anterior havia tirado os
dois do prumo musical correto, concordam em ficar praticamente caretas durante estes meses
de gravação.

Jagger havia ligado para Bill e Brian falando em como este novo disco é primordial para a
carreira do grupo e que todos devem trazer material para ser trabalhado. Com um postura
nova, as gravações iniciais transcorrem com uma certa euforia, porém dentro de poucas
semanas acabariam encontrando problemas reincidentes. O maior deles é o que passou a ser
chamado de "esquema de loja fechada", que a dupla Jagger-Richard imprime nas sessões,
sempre ensaiando material deles primeiro e nunca sobrando tempo para Bill e Brian. Wyman
se queixa que nas raras oportunidades que aceitam trabalhar em uma canção dele, se a
canção não se cristalizar rapidamente, abandonam sem cerimônias e passam para uma deles.
Esta sim pode levar semanas até ficar pronta, que toda boa vontade é esperada de todos. Bill
fica furioso mas se cala, segundo ele, em prol de se manter um ambiente de criação no
estúdio. Este é particularmente o caso quando certo dia, enquanto ele aguardava a chegada
dos demais membros para um ensaio, começou a brincar no piano e tirou um riff bem
empolgante. Charlie e Brian chegaram e também ficaram tirando e brincando com o tema. Com
a chegada de Mick e Keith todos gostaram e guardaram o tema para trabalharem em futura
data.

Na semana seguinte, quando Mick trouxe uma de suas músicas, era claramente em cima da
base criado por Bill na semana anterior. A canção seria o primeiro compacto da banda em
1968, o sucesso mundial, "Jumpin' Jack Flash". Como em Ruby Tuesday, os créditos excluem
qualquer participação de outro se não Jagger e Richard.

A banda contratou Michael Lindsay-Hogg para dirigir um clipe da canção como também de seu
lado B, "Child of the Moon".

Investindo no Cinema

Com o projeto do filme "Only Lovers Left Alive" definitivamente arquivado, após a saída de
Andrew Oldham, Mick orientou o escritório a buscar outros projetos. Todo grande cantor tem
em seu currículo uma participação no cinema. De Frank Sinatra passando por Elvis Presley
seguido mais recentemente por John Lennon em sua estreia no filme "How I Won The War".
Mick então queria encontrar algo que pudesse promovê-lo e a banda. Vários foram os projetos
que surgiram.

Entre um dos primeiros, ainda em 1967, foi a idéia de uma adaptação para o livro "A Laranja
Mecânica". Depois veio uma idéia que contou com financiamento prévio dos Rolling Stones,
muito embora nem todos os membros estivessem a par. Pagou-se a Christopher Gibbs e Nigel
Gordon a escreverem um roteiro baseado no romance "Gawain and the Green Knight". Foi
contratada a produtora Shaki Films da India e mais Sandy Lieberson para dirigir o épico
centrado na idade média. Chegaram a iniciar as filmagens com cenas sendo rodadas em
diversas cidades na India, porém o projeto depois foi abandonado e engavetado.

Outro projeto nasceu em uma conversa entre Keith, Anita e Anthony Foutz, sobre um filme de
ficção cientifica. De nome "Maxigasm", a obra seria um típico filme "viajandão", como muitos
que apareceram na época. Teria a participação dos Rolling Stones mais Anita Pallenberg e
Marianne Faithfull. A historia rolaria em meio a OVNI's e o povo dos céus. A produção seria de
Carlo Ponti e filmagens seriam realizados no norte Africano. Novamente nada veio a acontecer.
Em maio, chegou às mãos de Jagger o roteiro e convite para o filme "The Performance". O
projeto era uma visão de Donald Cammell, amigo de Jagger e teria o auxílio do diretor novato
Nicholas Roeg que havia lançado recentemente o filme "Walkabout" que mereceu várias
criticas favoráveis. Desta vez, um acordo seria estabelecido e filmagens estavam programadas
para o outono.

O Escritório

Em uma reunião realizada entre todos da banda e o pessoal do escritório, foi decidido que a
situação financeira da banda não poderia continuar como estava. Em constante expectativa de
Allen Klein liberar as verbas que pertencem à banda, tudo funciona de forma travada. Em
comum acordo, contratam Berger Oliver para fazer auditoria sobre os livros de Klein,
concernindo os montantes de março de 1966 até o presente. Por coincidência ou não, menos
de um mês depois, cheques começavam a chegar nas contas dos músicos, referentes a
ganhos das excursões de 1966 e 1967.

Satisfeitos, elegem Berger Oliver como o novo advogado da banda e tiram mini férias, cada um
seguindo para um canto. Mick e Marianne vão para Dublin com Christopher Gibbs. O casal
passaria a freqüentar a Irlanda com uma certa regularidade, passando o fim-de-semana como
hóspedes de Desmond Guinness em Leixlip Castle. Brian e Linda Keith seguem para Espanha,
enquanto Keith e Anita foram para Roma e Bill e Astrid viajam para West County, dentro do
Reino Unido. Só Charlie ficou em casa com Shirley e Seraphina, sua filha recém nascida.

Personalidades de Mick e Keith

O casal Mick e Marianne novamente estão distantes em suas relações, e quanto mais Mick se
entregava ao trabalho com Keith e os Stones, mais Marianne sentia-se como que uma peça de
decoração da casa. O casal não tinha por hábito discutir assuntos ligados ao sentimentos.
Extremamente inglês, Mick Jagger tem como característica ignorar os problemas até que eles
mesmo se resolvam. Assim, dentro da solidão de Marianne, havia sempre lugar para cocaína.
Quando extremamente agitada graças ao pó, para acalmar, ingeria barbitúricos. Marianne volta
a ter uma relação amorosa com sua velha amiga Saida. Ela também estava se apaixonando
por Anita. Seu charme e força, além de sua incrível beleza sempre fizeram de Anita o centro
das atenções. Mick também gostava de flertar com ela, embora tudo não passava de
brincadeira. Ao mostrar uma gravação de "Stray Cat Blues", Anita surpreende ao dizer que a
versão está uma merda, criticando com detalhes a má qualidade da mixagem. Rapidamente
Mick volta para remixar tudo, deixando flagrante sua insegurança.

Keith por outro lado não precisava de ninguém. Extremamente apaixonado por Anita, só ela
poderia fazê-lo balançar. Embora não fosse óbvio para ninguém, Keith temia muito perdê-la e
acabar como Brian. Afora Anita e Mick, Keith não era amigo de ninguém. Ele usa as pessoas
de acordo com a conveniência. Convidou um amigo fornecedor para pernoitar em sua casa,
que acabou aparecendo tarde da noite com seu cão Doberman. O animal, colocado para
dormir na garagem, estranha o local, e passa a noite uivando alto, incomodando todos. A
solução encontrada por Keith foi de dar dois Mandrax para o animal que, com o tranqüilizante,
calaria e deixaria todos dormirem. Dez minutos depois, o bicho estava cambaleando,
tropeçando nas próprias pernas. Enquanto riam do estado do animal, este acabou saindo da
garagem indo vagar no quintal e caindo no fosso. O dono foi obrigado a entrar nas águas
putrefatas do açude que era infestado de ratos, para poder salvar seu animal dopado se
afogando. Keith só ria da cena.

Festas em Redlands
Keith compra uma moto cross para andar e conhecer com Anita todo o terreno de Redlands e
arredores. O casal recebe convidados e dão uma série de festinhas nos fins-de-semana,
geralmente nos sábados. Durante uma destas festas na casa, foram convidados os atores do
Teatro Vivo de Julian Berg, famoso grupo teatral da qual Anita fez parte no inicio de sua
carreira. Joe Monk, um gigantesco ator negro, pede permissão para dar uma volta de moto e
Keith sugere que ele leve seu Labrador e tente caçar um faisão durante o passeio. Ele
entregou-lhe então um rifle e cinco cartuchos como munição.

A figura daquele negão com um rifle às costas, de moto com um cão atrás, zunindo no
horizonte foi motivo de comentários respeitosos entre os convidados. Logo se ouvia o primeiro
tiro, a poucos quilômetros de distância. Não demoraria muito e se ouviria os quatro tiros
restantes, Keith pensando alto comenta, "Acabou seu lote de munição". Foi quando passaram
a ouvir outra sucessão de tiros vindo do mesmo local. Anita de olhos arregalados exclama
preocupada, "Tomara que não tenham matado o rapaz!"

Logo mais, um carro de patrulha pararia em frente da casa fazendo perguntas. Os vizinhos
haviam chamado a policia informando que deram tiros de avisos para um homem, que fora
visto caçando. O guarda informa que o rapaz foi descrito estando acompanhado por um
cachorro reconhecido pelos vizinhos como sendo parecido com o de Keith. Negando conhecer
tal pessoa, mesmo sob óbvia suspeita do guarda, Keith se livra do tira. Horas passaram e todos
os convidados se foram antes de Joe finalmente reaparecer. Ele conta que havia caído da moto
quando fugia dos tiros, porém trouxe com ele três faisões abatidos. Todos rindo depois do
susto, Keith chamou um táxi e Joe voltou para Londres no breu da noite.

Keith passaria a ter problemas constantes com seus vizinhos depois deste incidente. Aos
poucos, seus três cães desapareceriam pelas terras. Keith, emputecido, compra um Deerhound
que ganha o nome de Syph, como que em syphilis, uma vez que o cão lhe parecia doente de
tão feio. Porém como os demais, este também desapareceu sem deixar vestígios.

Stones Ao Vivo '68

Na semana seguinte todos estavam de volta em Londres e as gravações recomeçariam. Entre


atividades paralelas, foi concordado que os Stones permitiriam a Jean-Luc Godad filmá-los
durante a gravação do álbum. Antes, porém, os Rolling Stones haviam vencido na votação do
jornal New Musical Express na categoria de Best R&B Group (Melhor Grupo de Rhythm &
Blues).

Convidados apenas a irem receber um troféu, a banda se oferece para tocar gratuitamente no
local, proposta imediatamente aceita. Assim, no dia 12 de Maio, no Empire Pool de Wembley,
em uma noite programada para apresentar Status Quo, The Move, Lulu, Cliff Richards & The
Shadows, The Herd e vários outros, o Mestre de Cerimônia, ocasionalmente menciona que
haverá ainda uma grande surpresa. Quando as cortinas abriram para os Rolling Stones, foi
pandemônio no teatro, como em alguns anos atrás. Apresentam o recente "Jumpin' Jack
Flash", seguido de "Satisfaction", ainda grande hino da banda. No final, Mick jogou seus
sapatos para o povo como souvenir e depois nas coxias, todos da banda se congratulam por
estarem ainda causando euforia para seu público.

Sessões de Beggar's Banquet

O nome do novo trabalho já estava escolhido, idéia de Mick Jagger olhando para seu castelo
recém comprado, em estado adiantado de decomposição, precisando urgentemente de obras.
Após a banda e suas esposas irem todos juntos para o cinema assistir o filme "2001 - Uma
Odisséia no Espaço", retomam as gravações do álbum. Trabalham então em canções como
"Still A Fool" de Muddy Waters, "No Expectations", "Silver Blanket", e "Downtown Suzie". Está
última, é uma das duas músicas de Bill Wyman que chegaram a ser trazidas para o estúdio,
"Suzie" sendo a única que chegou a ser trabalhada realmente pela a banda.

O ambiente nas sessões em relação a Brian não era dos melhores. Se Mick e Keith se abstém
de exageros para manterem a cabeça focalizada e concentrada, assim podendo render o
melhor possível no disco, por outro lado Brian era para o duo, uma fonte de irritação. Estão
cansados de terem que ficar paparicando o guitarrista para que ele trabalhe. Começam a
convidar amigos para assistir os ensaios como Dave Mason e Eric Clapton, o que serve como
pressão extra contra Brian. Diante da constante pressão em casa por causa da polícia, e no
trabalho pela falta de reconhecimento, Brian desaba. Desconta sua frustração em Linda Keith e
ela logo deixa a residência, depois de ser hospitalizada. No estúdio, quando tenta gravar, Mick
e Keith sacaneiam, mandando Miller gravar Brian em uma fita mono, à parte do trabalho da
banda, ou sequer gravar, só fingir, ambos rindo de Brian enquanto o guitarrista tenta colocar
uma cítara em uma música que ele insiste precisar do instrumento mesmo que ninguém mais
concorde.

Imprestável

Já pro final das sessões, nem está mais tocando nada, totalmente sem condições. Deita no
chão e chora como uma criança repreendida, em cenas tão patéticas quanto lamentáveis. Tony
Sanchez conta como encontrou Brian chorando no chão do estúdio, enrolado feito cachorro
dormindo, escondido debaixo de sua guitarra em uma poça de lágrimas. "Vá embora e me
deixe em paz!" choraminga desolado. Depois, enquanto Sanchez o levanta e o leva de volta
pra casa, Brian continua em lamúria "Eles não querem nem saber. Canções compostas por
Jagger-Richard, é só o que lhes interessam. Querem toda glória, toda fama, todo o dinheiro
pelo direitos das canções. É só Eric Clapton isto, Dave Mason aquilo. Eu criei a banda! A porra
da banda é minha!"

Em momentos menos intoxicados, ele continuaria sua ladainha de lamentos e distribuições de


culpas. Com John Lennon, certa noite no Ad Lib Club, ele é enfático em suas queixas. "Eles
falam comigo como se eu fosse um leproso. Eu enfrentei e questionei Jagger, e sabe o que ele
me disse? Que eu era um pé no saco e nem era um músico bom o suficiente para estar numa
banda do porte dos Rolling Stones. Porra! A idéia foi toda minha e jamais teriam chegado
aonde chegaram sem mim. Agora querem me tirar tudo!" Lennon com sua costumeira sutileza
e diplomacia retruca na mesma moeda. "Deixa de merda Brian, você mesmo é que se colocou
na sua situação e não o Jagger. Neste negócio você tem que ser forte e se você não se cuida,
não espere que alguém vá cuidar por você. Se os Stones não te querem mais, manda eles irem
se foder. Você é uma grande estrela. Monta outra banda e prove que você é um homem e não
uma menina." Brian concordou e mesmo dias depois fazia comentários mostrando que passara
a contemplar seriamente deixar os Stones. Mas lhe faltava coragem.

Brian e a Policia

Brian está sendo constantemente incomodado pelo Sgt. Pilchard a ponto do sargento passar a
trazer consigo as drogas que seriam plantadas na casa caso Brian não pagasse dinheiro. A
cada aparição do policial corrupto, Brian morria em £1.500, fora a tensão emocional. No dia 21
de maio, Leslie Perrin recebe um aviso de um amigo jornalista, que a polícia iria fazer uma blitz
na casa de Brian. Telefona desesperadamente para avisar Brian, que havia tomado uma pílula
para dormir na noite anterior, receitado pelo seu médico, e não acordava. Depois de muita
insistência, um sonado Brian atende e diz claramente "Deixa vir, eu não tenho nada em casa já
faz muito tempo."

Irritado com a probabilidade de abrir a porta para a polícia poder extorquí-lo, quando a lei
finalmente bate à sua porta, Brian ignora. Sem conseguir fazer barulho suficiente para que
alguém atenda a porta, um dos oficiais, Detetive Brian Liddell, entra por uma janela e abre a
porta da casa para a entrada dos demais. Encontram Brian escondido atrás da cama com o
telefone tentando ligar para seu advogado. "Estamos com um mandado desta vez", alguém
teria dito. Brian não responde diretamente nenhuma das perguntas feitas a ele. Ele devolve as
perguntas com queixas. "Porque vocês sempre escolhem a mim?"

Após uma busca completa pela casa encontram uma bola de lã em uma gaveta e dentro uma
pedra de haxixe. Ao apresentar o flagrante para Brian ele fica branco e começa a choramingar
irritado. "Oh não! Agora não! Justamente agora que a banda está começando a se reerguer."
Levado para a delegacia, ele pagou £1.000 e teria que se apresentar dia 11 de junho para ouvir
oficialmente sua acusação. A noticia já havia se espalhada e Brian para sair da delegacia, teve
que fugir da imprensa pelo fundos.
Outras Faixas

Entre convidados substituindo a versatilidade de Brian Jones em certas faixas estão Nicky
Hopkins no piano e Rocky Dijon na percussão nas faixas Child Of The Moon, Silver Blanket
(mais tarde rebatizada de Salt Of The Earth) e Sympathy For The Devil. Sympathy teria em sua
versão final, as participações nos backing vocals de Nicky Hopkins, Rocky Dijon, Anita
Pallenberg e Marianne Faithfull. O produtor Jimmy Miller aproveitou para fazer backing vocals
nas faixas Jumping Jack Flash e Child Of The Moon, auxiliando nas percussões de Street
Fighting Man. Também nesta faixa, que antes de ganhar seu título final, passou um período
chamada de Pay Your Dues, estão Jim King e Roger Chapman nos backing vocals.

Na instrumentação temos os talentos de Nicky Hopkins ao piano, Dave Mason no shehani e


Rick Gretch no violino elétrico. Gretch no violino, Mason no bandolim e Dijon nas congas,
também tocam juntos em Factory Girl, enquanto Hopkins e Mason unem forças em Dear
Doctor.

Entre os temas de Jagger e Richards que chegaram a ser gravados nestas sessões, porém
não chegaram a ser trabalhados estão Thief For The Blues, Power Cut, Too Far To Walk, Blood
Red Wine, Family, Lady, e Hamburger To Go (depois rebatisado de Stuck Out Alone), como
também uma versão embrionária para o que seria depois conhecido por Sister Morphine.

O Mestre e a Margarida

Mesmo se sentindo em segundo plano na vida de Mick, é Marianne quem mais influencia
Jagger neste álbum, desta vez oferecendo-lhe um livro para ler. O livro o deixa extremamente
empolgado. Trata-se de "The Master And Margarita", de Mikhail Bulgakov, um romance que
fala em Satã visitando Moscou nos anos 30 para ver os efeitos da revolução russa.

Satã então transforma a polícia em tolos, os poetas em ignorantes e faz os ateus acreditarem
em Deus. Santos são transformados em pecadores e Deus é o Diabo. O romance é uma vasta
alegoria sobre a luta entre os poderes do mal e os poderes da luz. O mal está no poder até que
os herdeiros da verdade tomam o poder de volta, mas logo começam a imitar aqueles a quem
venceram, tornando-se então o mal. Assim o ciclo continua por toda a história humana. Mick
terminou de ler o livro e imediatamente passou a escrever a canção. "Please allow me to
introduce myself", a primeira linha da canção de Jagger é uma frase retirada do livro. A canção
passou a se chamar "The Devil Is My Name" mais tarde mudado para "Sympathy For The
Devil".

Um Mais Um

Em inicio de junho, a equipe de Godard visita o Olympic Studios pela primeira vez. Lá passarão
a semana pegando a banda iniciando os trabalhos com "Sympathy For The Devil". Sem
premeditar, o diretor registra todas as suas transformações criativas, iniciando como um tema
folk até passar para sua forma definitiva que é um samba de inglês. A influência é
evidentemente do contato que Jagger teve com candomblé no inicio do ano em sua temporada
de férias na Bahia.

A equipe de Godard termina suas filmagens de forma abrupta, causada por um incidente
ocorrido no dia 10. As luzes dos holofotes acabaram por causar um incêndio no teto do estúdio.
Todos saíram correndo menos Jimmy Miller e Bill Wyman que correram para o cofre para
salvar os rolos de fita master com todo o álbum gravado. Logo em seguida chegaram o corpo
de bombeiros inundando tudo com água. As fitas estavam salvas mas o equipamento,
instrumentos e etc, tiveram que passar por uma manutenção. Goddard se deu por satisfeito
com o que tinha filmado e o filme sairia com o nome de "One Plus One".

Brian em JouJouka
Brian não participou do evento no início. Um dia antes do inicio das filmagens ele e Suki Potier
viajam para Tangier na companhia de Tom Keylock. Lá, Brian reencontra com Biron Gysin que
o leva novamente através das montanhas Atlas para ouvir os flautistas de Pan tocado pelos
mestres de JouJouka. Brian está cada vez mais comovido por esta música e decide se
organizar para gravá-los em futura data. Durante sua estada, Suki Poiter tem uma overdose e é
hospitalizada. Dentro de alguns dias, ela se recuperaria. Os dois voltam a tempo das primeiras
sessões de fotos para a capa, como também, poder ser filmado pela equipe de Goddard.

Primeira Sessão de Fotos

Por volta do dia 8 de junho, o grupo tirou parte da manhã para tirar uma serie de fotos que
seriam usadas na capa. Alugaram uma série de roupas da era medieval das alfaiatarias
Berman e Nathan, como também roupa e material para o jogo de cricket. Alugaram uma casa
em Hampstead, cuja sala foi decorada com artefatos medievais, além de uma mesa posta com
comida e frutas. Lá, foram tirado uma série de fotos, todas dentro do tema, o Banquete dos
Mendigos (Beggar's Banquet). Depois trocando de roupa, passam a tirar fotos em um pasto
onde a grama estava muito alta.

Mixagens A Tempo

Foi decidido então por Jagger, que o disco seria lançado no dia de seu vigésimo quinto
aniversário. Para isto, precisavam mixá-lo o quanto antes, Mick e Marianne, Keith e Anita e
Jimmy Miller viajando para Los Angeles, a cidade com mais estúdios de gravações por metro
quadrado no mundo. Lá estando, pulam de estúdio em estúdio mixando durante todo tempo
disponível.

Mais tarde, Charlie acompanhado de Shirley, chegaria também para colaborar com as
mixagens. Ainda em L.A., dois incidentes relevantes. Primeiro, dirigindo pelo subúrbio,
encontram um coral negro cantando na rua. Jagger manda parar o carro e contrata o coral para
adicionar peso ao final de "Salt of the Earth".

Sessão Para Marianne

O outro concerne a arte da capa. Antes porém, Mick aproveita para gravar duas canções
pensando em um trabalho fora dos Stones. Acontece que Marianne andava entediada, se
sentindo esquecida enquanto Mick se entregava às gravações do álbum. Passou a reclamar
com ele que sua carreira ficara esquecida e que está extinta desde '67, quando lançou um
compacto e sequer excursionou para promovê-lo. Mick, sempre apoiando com sinceridade,
marca hora de estúdio e acerta com Jack Nitzche para fazer os arranjos do material. Foi
escolhida uma canção dentro do estilo dela chamado "Something Better", composição da
famosa dupla de sucesso Gerry Goffin e Barry Mann.

Acontece que Marianne, em um momento de rara inspiração, faz o que nunca soube ou se
interessou em fazer antes. Escreveu uma letra durante o mês de tédio, onde se sentia parte da
mobília da casa, de função meramente ornamentaria. O nome da canção? Sister Morphine.

Em retrospecto ela conta que tudo veio em um estado de quase sonho. A canção foi toda
escrita de uma só vez. A história fantasiosa seria de um homem que sofrera um terrível
acidente de carro, estando agora no hospital em dor, implorando à enfermeira por uma injeção
de morfina. Até os Stones virem a gravá-la, o personagem já seria ela mesma. Gostando da
canção, ao mesmo tempo assustada por ela, Marianne custou para ter coragem para mostrá-la
aos amigos, Jagger incluído.

Quando ela viu que Mick Jagger estava levando-a a sério e já havia feito os preparativos para a
gravação de seu futuro compacto, ela mostra-lhe a canção. Jagger fica extremamente
impressionando com a letra. Assustado também. Sabia que Marianne tinha um problema para
controlar seu vício de cocaína mas agora está temeroso para onde ela possa ir com sua vida.

Marianne sugere que o tema que Jagger vive tocando no violão a cada chance que tem,
composto ano passado na Itália nos jardins da mansão dos pais de Stash, e que
aparentemente ainda não tinha letra designada para ela, poderia ser perfeita para Sister
Morphine. Jagger concorda com sua observação e assim, quando em Los Angeles, aproveitam
para gravar as duas canções.

Mick Jagger assume o papel de produtor da sessão e participa da banda tocando o violão. Os
demais músicos incluem o próprio Jack Nitzche no piano, Ry Cooder na guitarra, Bill Wyman e
Charlie Watts respectivamente no baixo e bateria. A prioridade era para Something Better que,
ao final do dia, estava com voz e mixada. Sister Morphine continuava um instrumental com
Marianne apenas tendo feito a voz guia. Outra gravação de voz seria marcada em futura data,
provavelmente em Londres.

A Arte da Capa

Vindo de uma idéia de Anita, encontram um banheiro público, munidos de canetas e o fotógrafo
Barry Feinstein, passam a grafitá-lo, adicionando ao que já existia. A chamada "foto da privada"
que só viria a ver a luz do dia na era do CD, tem entre mensagens nas paredes, canos e etc.,
frases como "Lyndon loves Mao", "John loves Yoko", "Bob Dylans Dream", "God rolls his own",
"I sit broken-hearted" e "Tony, where are you?".

Tony é Tony Sanchez, que dedicava os últimos meses a preparar seu novo clube noturno 'The
Vesuvio" e por conseguinte, não estava arrumando pó para ninguém. Sanchez havia
combinado com Mick e Keith, que a festa de lançamento do álbum, somada à festa de
aniversário de Mick, seria realizada no Vesúvio, que por sua vez, seria também sua noite de
estréia.

Festa no Vesúvio

O lugar fora decorado no melhor estilo Marroquino, com a área delimitada por doze cubículos,
cada um contendo um enorme tapete com grandes travesseiros espalhados e uma mesinha
com narguilé ao centro. As paredes eram desenhadas por um conhecido de Robert Frazer,
pago em haxixe. Fotos dos Stones, tirados por Michael Cooper em Marrocos, foram
aumentadas para quase tamanho real e espalhados pelas paredes. Havia um pequeno dirigível
de prata inflado com hélio flutuando pela casa.

Um por um foram chegando os convidados da noite, que puderam ouvir em primeira mão o
novo álbum, em uma prensagem feita às pressas para a ocasião, trazido em mãos pelo próprio
Mick Jagger. Para a festa, puderam também saborear um ponche com Methedrine e um bolo
de haxixe. Haxixe também foi fumado nos narguiles, assim como cocaína cheirada nas
mesinhas.

Paul McCartney quando chegou, passou para o DJ um compacto recém preparado pelos
Beatles e que também ainda era inédito. Era o primeiro a sair com seu selo novo, Apple. A
turma que até então curtira em demasia as faixas de Beggar's Banquet, considerado por todos
como sendo o melhor dos Stones até então, passou a ouvir o crescente de Hey Jude, seguido
pela voz gutural de Lennon em Revolution. Jagger embora não falara nada, irritara-se um
pouco com a reação do público, todos encantados e movidos pelo trabalho dos Beatles. Seu
ciúme, embora sob controle, está presente.

Depois de algumas horas, John Lennon com os olhos esbugalhados, totalmente chapado,
solicita que se providencie um táxi para ele e Yoko Ono, porém a equipe da casa,
desobedecendo ordens expressas, comera do bolo e bebera do ponche. Assim sendo, quando
o porteiro e depois um dos garçons saíram para a rua buscar um táxi, acabavam não voltando
mais, no mínimo flutuando pelas ruas de Londres até o efeito passar. Até mesmo dentro da
casa, conforme iam se despedindo alguns convidados, foi-se notando o sumiço de vários dos
empregados da casa. Logo, o próprio Sanchez teve que mesclar de barman e porteiro.

Quando os convidados se foram, e só restaram Mick, Marianne e Robert Frazer (que já servira
sua sentença de seis meses), além de Tony, dono da casa. Frazer tira do bolo seu presente
especial para Mick. Um pequeno invólucro com opium puro. O óleo é imediatamente colocado
no narguilé e cada um tem sua vez para inalar. Contemplam a fumaça de sabor acre em seus
pulmões com sorrisos e a mente leve. Marianne aproveitou a festa para contar a todos a
grande novidade. Ela está grávida e o casal estava feliz com a noticia da chegada de uma
criança.
Decca Diz Não

A intenção de lançar o álbum o quanto antes foi imediatamente brecada pela gravadora Decca
uma vez vista a proposta da capa. Uma foto de uma privada é considerada de extremo mau
gosto, para não dizer anti-comercial. Uma agressão para o público. Jagger defendendo o
projeto diz que só a metade superior da privada está visível e é em um banheiro público que se
vê mesmo textos rabiscados na parede. A concepção da foto é totalmente artística e em nada
agressiva. Ele complementa, "a Decca lançou o disco de Tom Jones com uma foto de uma
bomba H explodindo. Eu considero aquilo agressivo e de mau gosto." O impasse continuou e o
disco continuou o resto do ano aguardando a queda de braço.

Keith Empresta Redlands

Brian seria no final do mês levado à justiça novamente, desta vez para ouvir oficialmente sua
acusação e ter a data do julgamento fixada. Em corte, Brian se declara inocente e o julgamento
é marcado para setembro. Voltando para casa, Brian e Suki fazem as malas e seguem para
Malaga na Espanha para passar quatro dias. Brian está ficando histérico com a possibilidade
de ir para a cadeia. Ele garante que não fuma nem possui haxixe faz muito tempo e de modo
algum poderiam ter encontrado haxixe em sua casa se não tivessem trazido eles mesmos. Está
certo que "eles" querem lhe pegar de verdade agora.

Sua paranóia está a toda e Mick e Keith concordam que o ideal seria tirá-lo da cidade, onde ele
sai para a noite e fica a mercer dos "amigos" que lhe entopem de drogas. Keith então o deixa
ficar em Redlands, enquanto ele e Anita estão em Londres. Brian aproveita a quietude do lugar
para se acalmar e gravar algumas coisas.

No fim de semana, todos se reuniram, conversando amigavelmente. No final da tarde, Keith,


Anita, Marianne e alguns convidados estavam sorvendo uma cerveja gelada no quintal
enquanto na sala, Mick e Brian conversavam sobre o julgamento. Brian logo começa a ficar
nervoso, primeiro pela própria presença de Mick, de quem ele aprendeu a desconfiar sempre,
como também pela presença de Anita, que quer queira, quer não, sempre incomodava. Brian,
extremamente agitado, reclamava que se fosse só para dar um susto, a polícia teria passado lá
só para receber sua grana, como sempre fizeram. Desta vez, eles querem agarrá-lo. Brian
também está a dias nutrindo a suspeita que Mick e Keith só estão esperando ele ser preso para
chutá-lo da banda.

Mick contra argumentava que todos já haviam sido presos e ninguém ainda fora condenado.
Tenta convencê-lo que desta vez não será diferente, aproveitando para queixar que Brian está
sendo um tolo e que não deveria deixar a polícia incomodá-lo tanto. Brian leva a conversa para
um volume extremamente alto, a ponto de os demais convidados não poderem ignorar o que
se passava. Mick o irritara, deixando-o estressado de tal forma que ele sai correndo pelo jardim
gritando "Eu quero morrer!" pulando em seguida no fosso nos fundos da casa, desaparecendo
na água escura e lamacenta.

Mick desesperado, grita para alguém pular lá e o salvar! Keith calmamente se aproxima com
uma corda e define, "Vai você." Com uma corda amarrada na cintura, Mick entra no fosso até
mais ou menos onde Brian havia pulado para descobrir que a água quase chegava ao peito.
Portanto Brian estava de sacanagem, obviamente de joelhos. Emputecido, Mick o pega pelos
cabelos, arrastando-o para fora da água.

"Você estragou minhas calças de veludo seu filho da puta! Tomara que eles te prendam!" Brian
está as gargalhadas assim como todos os demais. Ele voltaria para Londres aquela tarde se
sentindo rejuvenescido e menos deprimido depois do trote. Seu consumo também teria uma
queda notada. Brian parecia estar a caminho de uma melhora.

Gedding Hall - Bill e Stephen


Enquanto Charlie está contente em casa entre fraldas e discos de Miles Davis, Bill está
adotando um novo passatempo, a fotografia. Ele aguarda a chegada de seu filho Stephen,
vindo da casa de sua mãe, que mora agora na Africa do Sul, com grande expectativa. Ao
recebê-lo, choca-se com a imagem de um garoto magricelo e mal alimentado. Problemas
dentários, fruto de negligência, acentuam ainda mais o clima de confronto com a mãe.
Resoluto, Bill se recusa a devolvê-lo aos cuidados maternos, designando um advogado para
cuidar das questões legais. Quando Diane reaparece em Londres para tentar tomar o menino
de volta, não encontra apoio nem de seu próprio pai. A justiça aguarda o processo de divórcio
antes de chegar a uma conclusão quanto à guarda definitiva da criança. Por hora, Stephen fica
com o pai.

Bill se dedica então a procurar uma nova residência para ele, Astrid e Stephen. Encontram uma
casa em Suffolk tão grande quanto bela, cercada por um fosso repleto de cisnes e patos. A
residência, chamada de Gedding Hall, fora construída em 1480 e foi arrematada por Bill pela
bagatela de £41.000. A mansão abriga salas de estar e jantar, cozinha completa, seis quartos
de dormir, três banheiros e uma garagem para seis automóveis. Em outubro, Astrid, Stephen e
ele estariam se mudando para o novo lar.

Cotchford Farm

Brian e Suki resolvem ir para o interior, fugindo dos problemas de Londres. Começam
procurando por uma fazenda em Cornwall mas encontram a casa dos sonhos bem mais perto.
O lugar se chama Cotchford Farm, perto de Hartfield em Sussex. Brian se apaixonou pelo local
instantaneamente e o comprou por £28.750.A casa pertencia ao escritor A.A. Miles, autor das
aventuras de Winnie the Pooh, livros para crianças escritos nesta casa. A casa já idosa, precisa
urgentemente de manutenção e reparo, o que levaria o resto do ano, até que Brian pudesse se
mudar para seu novo lar.

Despesas

Com toda estas despesas recentes com compras de mansões e brinquedos caros como carros
e motocicletas, é quase inacreditável que cada Stone tivesse menos de £2.000 em suas contas
bancárias individuais. Com o fogo no Olympic Studios, o órgão Hammond fora destruído e um
novo teve que ser reposto. Ian Stewart repôs o instrumento pagando de seu bolso e teve que
aguardar um longo tempo até que Klein liberasse o dinheiro para que o escritório Rolling
Stones pudesse lhe repor. Para aumentar ainda mais a tensão financeira, Andrew Oldham
agora, em meio a sua batalha legal com Eric Easton, passa a processar também a Nanker-
Phelge Music, a London Records, Decca, Allen Klein e outras firmas para as quais trabalhou e
era sócio, como a Gideon Music, Essex e a Mirage Records.

O governo informa ao escritório Rolling Stone e seu departamento financeiro a existência de


uma dívida em impostos devidos na ordem de £136.39.00. Outras dívidas somadas atingem o
valor de £12.956.00. Mick manda um telex para Klein, exigindo que ele dê uma solução para
esta situação o mais rápido possível. Em seguida pega um avião para Paris, seguindo depois
para Roma com Marianne. Apesar do telex malcriado, Klein é pouco intimidado a liberar
rapidamente as remessas de verba. Para aumentar ainda mais a insatisfação reinante, projetos
paralelos de Bill, Brian e Charlie também são presos à morosidade do esquema Klein de
trabalho. Mick não sabe como livrar a banda de seu contrato com Klein e sua firma ABKCO.
Outra preocupação em sua mente está em como também extinguir as relações contratuais com
a Decca Records.

Nasce Turner

Preocupado com as distrações em Londres, como também o constante consumo de cocaína


por parte de Marianne, e os efeitos que este uso poderia ter na criança em seu útero, Mick
aluga, pela módica quantia de £260 por semana, uma pequena mansão em Tuam, County
Galway, na Irlanda. Lá, Mick Jagger prepara-se para seu papel, de um roqueiro aposentado,
rico e entediado com a vida. Marianne o ajuda a montar o personagem, de nome Turner, que
ele deveria representar. Sem a minima experiência como ator, Mick não tem idéia como criar
um personagem e é Marianne quem o guia pelo processo, oferecendo as sugestões mais
proveitosas.

A sua impressão ao ler o roteiro, era de que este Turner era uma figura trágica, por vezes
patética, porém inteligente, afiado e a seu modo, ameaçador. Assim, Marianne sugere que Mick
tente incorporar a fragilidade e tormento de Brian Jones com a força e frieza de Keith Richard.
Mick então pinta o cabelo de preto reforçado, lê e relê, interpretando, com Marianne ao lado,
diversas nuances que o personagem poderia oferecer.

Com filmagens iniciando em setembro, Mick volta a Londres em final de agosto para iniciar os
ensaios gerais. Ele deixa Marianne na Irlanda com sua mãe e Nicholas.

Os Flautistas de Joujouka

Em primeiro de agosto, Brian acerta com George Chiantz, que trabalhava na Olympic Studios,
para encontrar-se com ele e Suki, no Es Saadi Hotel em Tangier. De lá, com Brion Gysin como
guia, pegam o caminho de Marrakesh para encontrar com alguns músicos da região.
Conversam com G'Naoua e com os músicos de Maalimin, mas optam por gravar os mestres de
JouJouka.

De volta ao hotel, Brian conversando com Chiantz e Suki mais uma vez desmaia sem nenhuma
razão aparente. Chiantz sugere leva-lo para um hospital mas Suki garante que seus desmaios
são tão comuns e corriqueiros que o melhor era deixá-lo dormir até ele mesmo acordar.
Chiantz e Suki levantam Brian ainda inconsciente e o carregam até a cama. Quando acordou,
Brian nada recordava do incidente. Ainda assim, acabou indo ver um médico em Tangier que
lhe receitou pílulas para dormir. Quatro dias depois, ao voltar, o mesmo médico agora receita
Valium e Laroxl. Brian deixa Tangier no dia 23 de agosto para cuidar de detalhes da compra de
sua nova casa em Cotchford Farm.

Todo interesse de Brian reside no rolo mestre dos flautistas de JouJouka. Toda sua atenção é
entregue ao material, editando e mixando tudo durante boa parte do mês de setembro. Uma
vez tendo um produto pronto, dedicou-se até com os detalhes gráficos da capa, trabalhando ao
lado do desenhista Al Vandenburg. A capa teria pinturas dos Hamri's na frente e uma pintura
de seu filho Julian na capa interna. Satisfeito com a parte artística, protocolo exige que se
passe tudo para o escritório de Allen Klein para tratar da venda do disco, fechando contratos de
distribuição e etc. Brian aguardava ansioso por lançar o material, mas outros problemas irão
ocupar seus pensamentos.

Enquanto Brian trabalhava mixando e editando a fita master dos flautistas Marroquinos, Suki
novamente precisou ser hospitalizada. Seu problema com dependência está escalando.
Paralelamente, Anita também é hospitalizada. Aparentemente ela descobriu que estava grávida
quando teve um sangramento, resultando em um aborto involuntário.

Uma Bola de Lã

No dia 26 de setembro, Brian chegava à corte da rua Marylebone, com ar de doente. Acusado
de possuir 144 gramas de maconha, encontrado escondido em uma bola de lã. O julgamento
levou boa parte do dia e foi assistido por Suki Poiter, Mick Jagger, Keith Richards, Tom Keylock
e Tony Sanchez, entre as pessoas ligadas aos Rolling Stones.

Brian expõe que ele teria mais do que tempo o suficiente para se livrar de qualquer coisa que
ele tivesse na casa, caso ele tivesse alguma coisa. Ele nunca viu aquela bola de meia antes.
Brian diria, "Eu não costuro. Eu não remendo meias. Eu não tenho uma namorada que
remenda meias. Eu não tinha a minima noção de que essa bola de lã estava dentro do
apartamento."

O apartamento foi alugado para Brian há pouco tempo e seu morador anterior, atriz americana
Joanna Pettet se mudou de fora da casa algumas horas antes de Brian entrar. O apartamento
já veio com os móveis, o que dava credibilidade à situação circunstancial em que ele foi preso.
Joanna Pettet, trazida para depor, confessa que a bola de lã poderia ser dela, mas que nada
sabia sobre a maconha lá encontrada.

Brian insiste que desde a última vez que fora preso, abandonou terminantemente qualquer uso
de maconha ou haxixe. Seu psiquiatra, Dr. Anthony Flood, também testemunhou que seu
paciente passou a ter horror a maconha desde seu último encontro com a justiça. O júri se
reuniu e em quarenta e cinco minutos, voltou com um veredicto de culpado. Podia-se ouvir o
barulho de choro entre o público feminino presente. Keith se estrebuchava de tão nervoso. Mick
socou sua mão direita com a esquerda e mostrou seu olhar de ódio para o júri, profundamente
irritado com as poucas chances de real justiça que o sistema tem lhes oferecido.

Mas Brian... pobre Brian... este quase desmaia. Com seus cabelos lânguidos, caindo sobre o
seu rosto pálido, ele tenta esconder o choro, murmurando quase sem som, algo como "Isto não
pode estar acontecendo."

Com a cadeia eminente, foi de onde menos se desconfiaria, a salvação inesperada. Do mesmo
juiz Seaton, que um ano antes o havia sentenciado a meses de cadeia, vem agora a iniciativa
de se sobrepor ao veredicto e possivelmente salvar-lhe a vida. Juiz Seaton determina então
que houve um lapso e que não iria interferir com a atual situação legal pendente sobre o réu.
Com uma expressão firme e ar repressor na face, o juiz sacudiu seu martelo para Brian e
conclui, "O senhor foi considerado culpado, portanto serás tratado como qualquer outro homem
diante desta corte. Será multado de acordo com suas posses, sua situação legal continua a
mesma (três anos de liberdade condicional), mas você precisa ficar longe destes problemas.
Olhe bem aonde está pisando! Não se meta mais em nenhuma encrenca ou não terá como
evitar problemas legais ainda mais sérios!"

Ao sair do tribunal, dezenas de pessoas se aglomeravam. Estudantes se beijavam e se


abraçavam em alívio. Brian, abraçado por Suki, era lentamente levado até seu Rolls Royce. No
meio do caminho, Brian chega a fazer uma "dança de vitória" abraçados a Suki e Mick Jagger.
Com um sorriso no rosto, ele acena para a garotada enquanto fotos estão sendo tiradas.
Entrevistado por um repórter, Suki diz que estava resignada de ficar sem ver o Brian por muito
tempo e que o juiz foi muito lindo. Mick diria que o juiz não era burro e sabia que a história toda
fedia a trapaça. Brian diria "Pensei que eu iria passar pelo menos um ano na cadeia. É um
alívio estar livre. Alguém plantou as evidências contra mim, não sei quem. Mas irei até o túmulo
insistindo que eu não cometi esta ofensa."

Jornalistas comentavam a disposição do juiz de anular o veredicto. “É difícil acreditar que o juiz
pudesse ignorar totalmente o júri. O juiz praticamente chamou todos de babacas” disse um.
Entrando no seu Rolls Royce com Suki Poiter e amiga Cynthia Stewart, Brian desaba em
choro, deixando claro que dificilmente sobreviveria uma estadia na penitenciária. Ainda no
tumulto da saída, Mick encosta em Tony e dá um toque, “Vê se você mantém Brian longe de
drogas Tony.”

Mick e Keith sobem no Bentley e no caminho de casa analisam o que está acontecendo.
Parece óbvio que a polícia, com ajuda de gente em esferas superiores, estão querendo acabar
com a banda, numa tentativa de extinguir o que os Stones representa para adolescentes, mas
desistiram de atacar Mick e Keith. “Estão indo atras de Brian como cães quando cheiram
sangue. Se continuar assim, Brian vai enlouquecer.”

Problemas em Redlands

Se Keith havia prometido ficar longe de entorpecentes durante o período de gravações para
poder ficar focalizado, bem... as gravações acabaram em final de maio e as mixagens em
junho. Keith esta cheirando pó como nunca e às vezes, para acalmar, heroína. Seus horários
são os mais esdrúxulos, começando o seu dia à tarde e terminando indo dormir por volta das
quatro da manhã. Demorou um pouco até Keith começar a desconfiar que partes dos sumiços
que andam ocorrendo em Redlands não são de fãs. O casal esta passando mais tempo na
residência e os sumiços continuam. Em tempo, Keith se livraria de Frank Thorogood e Tom
Keylock, seus dois principais suspeitos. Thorogood é um mestre de obras, fazendo um serviço
na casa de Keith, contratado pelo escritório Rolling Stones, por indicação de Keylock, outro
contratado da firma para ser motorista e assistente geral.

Keith, que não é amigo de ninguém, acaba passando os serviços de Keylock para Brian e
oferecendo a vaga de ajudante geral para Tony Sanchez. Antes de se tornar dono do Vesuvio
Club, Tony andou fazendo serviço similar para o próprio Brian. Cansado da monotonia do clube
e atraído pela vida louca de um Rolling Stone, ele aceita o ofício, Keith passando a apelidá-lo
de Spanish Tony.Ainda procurando comprar uma residência em Londres, Keith encontra em
Cheyne Walk, perto de onde Mick está morando, a residência do Anthony Nutting, o Ministro de
Estado para Assuntos Estrangeiros. Ele e Anita se mudam logo para que ela possa ficar perto
do set de filmagens para o filme que irá iniciar.

Filmando Performance

Para sua estreia no cinema, Mick Jagger não poderia pedir maior sorte do que de poder
trabalhar com vários de seus amigos pessoais. Afinal, ele e o diretor Donald Cammel se
conhecem há cerca de dois anos, como também Christopher Gibbs, encarregado da cenografia
do filme. James Fox freqüenta sua casa regularmente desde o inicio do ano. O que então dizer
de Anita Pallenberg, que se conhecem desde '65, e que mora atualmente com seu parceiro de
banda, cuja casa, ele Jagger, freqüenta regularmente.

Apesar de estar trabalhando entre amigos, Jagger chega no set das filmagens com muito para
provar. Afinal, ele não era um ator de verdade e muita gente dentro da equipe de filmagens
estava de olho nele. Desconfiados, temia-se ataques de estrelismo e incapacidade
dramatúrgica, o que causaria uma situação de incontáveis tomadas, repetindo as mesmas
cenas, até o crooner - agora ator, acertar. Isto em termos práticos significaria para a equipe,
dias longos, cansativos e pouco produtivos. Porém aconteceu o oposto. Jagger chegou com o
espírito para aprender, prestou total atenção em todas as instruções que recebia e seu dom
nato de copiar e repetir, lhe foi de grande ajuda. Tem como postura nunca reclamar por ter que
repetir cenas, não importando quantas vezes, e quase nunca erra suas falas ou suas deixas.
Rapidamente, ele colhe o respeito das pessoas ao seu redor, contribuindo para um ótimo
ambiente de trabalho e um sentimento geral de equipe em todos.

Trabalhar com Donald Cammel não foi fácil. Ele grita, berra, gesticula e tenta hipnotizar seus
principais atores a entrar na psique de seus personagens, todos ligeiramente malignos e de má
índole. Não há mocinhos neste filme, que inicialmente se chamava "The Performance" mas que
depois foi rebatizado para apenas "Performance".

O grande desafio do filme era de juntar duas pessoas diametralmente opostas numa situação
de convívio. Assim o filme coloca o personagem Chas, vivido por James Fox, um gangster
heterossexual tão violento que tem prazer quase sexual de esmurrar sua namorada e Turner,
vivido por Mick Jagger, um astro de rock aposentado, bisexual, cheio de dinheiro, porém
entediado com a vida. O enredo oferece um confronto aos nossos estereótipos, assim como
também as certezas absolutas que se pensa ter.

Para preparar James Fox, um cavaleiro tipicamente inglês em um brigão estourado e mafioso,
Cammell chegou ao requinte de contratar Johnny Bindon, um conhecido membro do crime
organizado, para ser tutor de Fox. Essa pessoa começou a levar Fox para freqüentar
academias de musculação freqüentadas por boxeadores e outros tipos que vivem da força.
Levou Fox a comprar ternos nos mesmos alfaiates que gente do crime organizado compra. Seu
instrutor chegou até a levá-lo a acompanhar dois ladrões para mostrar-lhe como fariam um
"serviço" entrando em um escritório. Pulando sobre telhados no breu da noite, não foi feito o
roubo, mas foram-lhe explicados os procedimentos de entrada e saída do lugar, caso fizesse o
"serviço".

Trabalhar com Nicolas Roeg é igualmente difícil. Um artista perfeccionista, levava às vezes até
seis horas até acertar a iluminação de uma cena e várias tomadas foram repetidas à exaustão.
Quando falam das dificuldades das filmagens, um exemplo que sempre ilustra bem o zelo e
perfeccionismo empregado é a cena do banheiro que levou exatos dez dias para ser concluída.
Filmada em seqüência para melhor poder registrar os tormentos e angústias crescentes na
psique entre o confronto dos dois personagens principais - Turner e Chas, nos dois meses e
meio que se seguiram, as relações entre as pessoas envolvidas passaram a se tornar
extremamente complexas. James Fox, tem dificuldades de separar os tormentos e incertezas
do seu personagem e as dele mesmo. Guardadas as distâncias entre os dois, ambos vivem
situações similares, desejando e aceitando o desejo, de se ter a companhia de outro homem,
para afeto.

Mick Jagger por sua vez, sempre em controle de sua vida e seu destino, se vê agora mais do
que nunca, livre para explorar com homossexualismo, liberado pela psique de Turner. Mas
Jagger o faz de cabeça aberta, e com uma mentalidade da época, aceitando o questionamento
na lógica atrás de uma limitação de carinho e prazer, baseado apenas na genitália.

Michele Breton, como Jagger, é uma novata no cinema e ganhou o papel por estar namorando
Donald Cammell na época. Perdida no meio da decadência cinematográfica e real, precisou
várias vezes de atenção médica que receitaria Valium para acalmá-la.

Anita também tem seus problemas. No papel de Pherber, que, ao lado de Lucy, papel de
Michele Breton, são as concubinas de Turner. O papel era originalmente de Tuesday Weld que
sofrera um deslocamento muscular fazendo exercícios e foi prontamente substituída por Anita
que já trabalhava ao lado de Cammell preparando detalhes para o filme.

Como em quase todos os outros filmes que ela fez, Anita fica presa à psique de seu
personagem por um certo período, mesmo depois que as filmagens terminem. No caso de
Performance, Anita como Pheber, contracena o tempo todo com Turner, um personagem que
em essência, é inspirado no somatório dos dois grandes amores de sua vida, Brian Jones e
Keith Richards. Encarnado por Mick Jagger, se torna irresistível a seus olhos. Jagger por sua
vez, sempre teve um tremendo tesão por Anita, uma mulher de fato muito bonita. Dando mole e
se esfregando para as câmaras, fora das câmaras, no camarim, só podia dar uma coisa. Sexo.
Muito sexo. Tanto, que praticamente todo mundo no set, vez por outra, acaba pegando os dois
em um flagrante.

Keith por sua vez, pegaria seu carro e aguardaria ou em um bar perto do estúdio, ou no
estacionamento do próprio. Ele esperaria do lado de fora, às vezes por horas. Ele jamais entra
no estúdio. Sabe que existe no roteiro uma cena em que Mick e Anita trepam e não quer
chegar perto do local. Na referida cena, Jagger trepa com Anita e Michele em um menáge-à-
tróis, a cena sendo depois retirada do filme final.

De certo, ele sabe que caso pegue Anita trepando com Mick, ele seria forçado a um confronto
onde ele certamente teria que perder os dois. Keith opta pela política de o que os olhos não
vêem, a mente não precisa enfrentar. Como pequena vingança, ele se recusa a participar da
trilha sonora, e a musica tema, "Memo From Turner" escrito por Mick é gravada por uma banda
de estúdio, se tornando seu primeiro trabalho solo. Outros problemas no set atrasaram as
gravações. Anita roubava coisas do cenário, artefatos que ela pudesse usar em bruxaria como
uma estatueta assemelhando uma Deusa Egípcia. Anita usava a ajuda de Spanish Tony para
tirar as coisas do set, que por sua vez levaria até o carro no estacionamento onde Keith
aguardava pela sua mulher. Anita mais tarde sairia com um sorriso de menina sapeca, entrava
no carro e se enroscava no marido como que amansando a fera.

Entre as tomadas, durante os períodos de descanso, os quatro, Jagger, Fox, Breton e


Pallenberg, se reuniam no camarim de alguém e fumavam haxixe com DMT (dimetiltriptamina),
em alguns casos, com a desculpa de dar autenticidade às cenas em que os personagens
estariam drogados. DMT, uma droga criado por volta de 1966, enquanto ainda se podia estudar
ácidos e seus efeitos, tem a equivalência de doze horas de um bom acido compactadas no
espaço de quinze minutos. A medicina moderna já concluiu que o uso abusivo deste produto
pode, como diz o termo, fritar os miolos, deixando problemas cerebrais irreparáveis.

Ao final das filmagens, James Fox descobre que Robin Fox, seu pai, estava com câncer
terminal. O choque, o DMT e as ambigüidades que ele vivera recentemente dentro e fora do
filme, o levam a uma crise nervosa e ao subsequente abandono de uma carreira promissora e
em alta como ator. Ele seria encontrado trabalhando como um pregador da missão cristã
chamada the Navigators. Fox comentaria "Performance me trouxe duvidas sobre meu modo de
vida. Depois dele, tudo mudou." Fox só estruturaria novamente sua vida e voltaria a fazer
cinema no inicio da década de oitenta.
Michele Breton também caiu em um inferno astral e pouco depois do filme voltou para a
França. Se fixou em Marseilles, acabando por se tornar uma junkie, viciada em heroína,
vendendo o tóxico para sustentar seu vicio. Passou vários anos entrando e saindo de
instituições de saúde e depois desapareceu. Se estiver viva, deve estar circulando com outro
nome. Performance acabou sendo o único filme de sua curta carreira.

Anita entraria em um mergulho tóxico e ficaria cada vez mais diabólica com suas ações
geralmente tendo uma segunda intenção. Ela volta para os braços de Keith e nenhum dos dois
menciona nada sobre qualquer relação sexual com Mick. Existe porém a pergunta no ar. Seria
natural se imaginar que o relacionamento de Mick e Marianne pudesse acabar. Estaria Anita só
aguardando o momento certo para poder pular fora e se acasalar oficialmente com seu terceiro
Rolling Stone?

Keith segurou sua onda, por morrer de medo da possibilidade de perder Anita para Mick. Sua
tática pagaria e ele nunca foi obrigado a enfrentar o assunto com os dois. Durante o período
das filmagens, ele havia escrito uma canção de amor para Anita. Conta-se que estavam juntos
Keith, Anita, Robert Frazer e Marianne quando sem aviso, Keith começa com seu violão a tocá-
la. A canção é "You've Got the Silver". Outra canção que nasceria de sua incerteza emocional
deste período seria "Gimme Shelter".

Jagger também estava com a cabeça num redemoinho muito longe de sua vida organizada e
confiante. Em uma entrevista confessa "Eu estava pensando como Turner por um tempo. Devo
ter deixado todo mundo meio doido comigo." Na prática, o filme o ajudou a criar seu novo
personagem de palco. Aquele que todos passaram a conhecer após a banda voltar a
excursionar no outono de 1969. Como sempre, Jagger consegue controlar seu caos e
transformá-lo em lucro artístico.

Os diretores Cammell e Roeg, embora exauridos, estavam entusiasmados. "Ninguém nunca


viu um filme como este e ele será um marco e padrão para filmes a seguir!" O que veio a seguir
foi a censura da Warner. Quando leram o roteiro e aprovaram investimentos no projeto, devem
ter achado que o filme, estrelado por Mick Jagger, seria possivelmente uma versão adulta de
um filme pop para um público similar aos Beatles. Os executivos dentro da Warner Bros.
estavam todos chocados com esta obra vívida e explicitamente degenerada. Haviam boatos de
que Jack Warner pessoalmente havia tacado fogo no filme para garantir que tal obra, paga com
dinheiro de sua empresa, jamais fosse vista.

Cammell e Jagger foram até Hollywood para argumentar com a produtora, contudo não
obtiveram permissão para falar com ninguém. Levou dois anos e a assistência de sete editores,
escalados para cortar e mudar o filme em uma pífia tentativa de não "ofender o público". Entre
cenas cortadas estão a de menáge-à-tróis entre Turner, Pheber e Lucy; o beijo entre Turner e
Chas e Pheber se aplicando na veia. Quando finalmente foi lançado, havia cinco edições
diferentes sendo exibidas em cinemas ao redor do mundo. No Brasil, é claro, a película se
manteve censurada durante todo o governo militar.

Cammell levaria outros nove anos até voltar a fazer um filme, o thriller de ficção científica
"Demon Seed" em 1977. Se meteu em projetos bancados por produtoras que sempre
acabavam caindo em bancarrota. Com isto vários de seus projetos acabaram inacabados. Um
de seus roteiros, chamado originalmente de "3000" acabou sendo vendido para a Disney, se
tornando "Pretty Woman" em 1990. Com seu thriller erótico "Wild Side" sendo lançado em 1995
todo editado, Cammell retirou seu nome dos créditos e caiu em profunda depressão, se
suicidando com um tiro na cabeça em 1996.

David Frost Show

Como nota pitoresca, houve uma participação de Mick Jagger no popular talk-show inglês de
David Frost. Como Mick estava para ser pai, havia muita controvérsia pelo fato dele não
pretender se casar com a mãe da criança. Esta posição de Mick é uma total novidade para a
sociedade em termos gerais e para evitar delírios excessivos da imprensa marrom, Jagger se
propôs a ir para este programa e se posicionar oficialmente sobre a questão.

Jagger então quis definir a questão dizendo simplesmente que "Eu acho casamento legal,
porém acho muito importante que não se case se você acredita que possa depois querer se
divorciar." Quando Frost indaga mais sobre porque ele não iria casar, Mick retruca
espantosamente "Bem ela ainda está casada com outro rapaz, então a questão é um pouco
complicada. Suponho que eu seria um bígamo." De fato, Marianne ainda estava oficialmente
casada com John Dunbar e só moveria a papelada para um divórcio em dezembro deste ano.

Frost dirige as suas perguntas com mestria e em dado momento consegue arrancar de Jagger
a declaração de que no fundo ele não quer mesmo casar. Neste momento ele traz para o
debate a participação da senhora Mary Whitehouse, uma conhecida reacionária de meia idade,
guardiã da moralidade pública britânica na época, após fundar a National Viewers and
Listeners Association (Associação dos Expectadores e Ouvintes). Um confronto curioso, que
novamente demonstra como Mick Jagger representava a voz da juventude e da mentalidade
nova, como também nos mostra as barras que precisara esta geração enfrentar para conseguir
tomar decisões consideradas hoje pessoais, mas que, então, acabavam questões públicas
discutidas em televisão nacional.

Senhora Whitehouse, indo direto ao assunto, explica ao mancebo que o fato é o seguinte: Se
és um Cristão, ou pessoa com fé, se tem seu casamento na igreja, se comprometendo a sua
união. Assim, quando as dificuldades chegam, vocês estão unidos pelo compromisso para se
esforçarem a continuar juntos. Você assim acaba superando os tempos difíceis como um casal.
Jagger então, firme e bruscamente interrompe a senhora atacando o núcleo onde está fundado
todo o seu raciocínio. "Sua igreja aceita o divórcio e talvez possa vir a aceitar o aborto, estou
certo? Não entendo como você pode vir aqui falar desta união, que é inseparável, quando a
própria Igreja Católica aceita o divórcio. Realmente, você não pode dizer tal coisa. Ou você
está casado e não se divorcia, ou você nem se incomoda em casar. Você não pode chegar
com uma espécie de meio termo Cristão para a opção." Segundo alguns, esta foi a primeira
vez que viram a Senhora Whitehouse calar a boca.

Marianne em Tuam

Enquanto isto, na Irlanda, Marianne está com sua barriga já bem protuberante, sentido o peso
de sua gravidez fisicamente, como também em seu estado de espirito. Com dois serventes
para cuidar da casa e sua mãe para cuidar de Nicholas, ela tem todo o tempo do mundo para
cheirar cocaína e meditar sobre a tediosa vida de glamour que é viver com um astro como Mick
Jagger. Ela nega, porém todos sabem que ela sabia do que estava se passando entre Mick e
Anita nas filmagens de Performance. Anita e Mick sempre se flertaram, mesmo que em
brincadeira, e fica difícil acreditar que ela não estaria no mínimo desconfiada das coisas.

Enquanto ela está presa neste castelo Irlandês, a presença do marido é sentida apenas com a
chegada quase que diária de rosas fora de estação. No lugar de alegrá-la, o sinal de afeto só a
deixa mais deprimida. Marianne quer sua presença, não lembretes de sua existência. Pela sua
perspectiva da realidade, a eterna consciência de imagem própria do marido, julga Marianne,
nutre sua solidão e é a razão de sua depressão. Na verdade, o que o casal precisa é aprender
a se comunicar sobre assuntos do coração e não somente assuntos aleatórios. A total falta de
experiência em se abrir ao que desagrada no outro, cria entre o casal, uma parede
intransponível. No cansaço de não conseguir enxergar o outro lado, Marianne usa para aliviar
sua frustração o artifício que ela conhece. Cocaína para elevar o espirito e depois barbitúricos
para acalmar.

O estado de saúde de Marianne piorara e com pouco mais de um mês de filmagens iniciadas,
Jagger foge para a Irlanda trazendo com ele o especialista Dr. Victor Bloom. O casal discute
com veemência, Mick sob a psique de Turner se mostrando mudado e um tanto cruel com a
escolha de palavras. Ele argumenta que a cocaína pode se tornar um perigo para a vida da
criança, hipóteses que tocam o coração materno e fazem com que Marianne prometa parar
finalmente de usar a droga.
Em outro exame, ela seria internada no Portiuncula Hospital em Ballinasloe. Em novembro,
com seis meses de gravidez, seu ginecologista avisa que a gravidez está em um estado
delicado e que ela precisa repousar, evitando ao máximo o esforço físico. Marianne então
aceita a incumbência de passar os próximos meses deitada sobre uma cama e jura que irá
parar de cheirar cocaína até terminar a gravidez. As filmagens de Performance já haviam
terminado e Mick a trouxe de volta para Londres, tentando lhe oferecer certa atenção enquanto
articulava a campanha promocional para o lançamento do disco novo.

Promovendo Beggar’s Banquet

Paralelo às filmagens de Performance, realizadas em Londres, Mick ainda preparava o


esquema de promoção do álbum. Embora a discussão entre a banda e a gravadora sobre a
concepção da capa continuassem, havia a certeza de que a pressão da expectativa popular
causada por uma campanha promocional bem direcionada influenciaria a Decca a abrir mão de
suas exigências e lançar o disco com sua capa original. Pelo menos, assim pensou Jagger. A
primeira tática foi de postar outdoors espalhados pela cidade, promovendo o album. Esta é a
primeira vez que tal jogada promocional é feita. Sem ainda todo o apoio da Decca, o truque
publicitário sai do bolso da própria banda, paga pelo escritório Rolling Stones Ltda. Um dinheiro
bem investido que abriu um precedente que se tornaria em pouco tempo em padrão.

Foi então lançado o primeiro compacto vindo do disco, "Street Fighting Man", que, nos Estados
Unidos, chegou às lojas com uma capa mostrando uma briga entre a policia e manifestantes. A
capa em poucos dias seria tirado do mercado e substituída por outra. Esta capa original vale
hoje, nos anos 2000, uma nota preta, variando entre $500 à $700. A canção também acabaria
logo sendo excluída das programações de rádio. A opinião geral dos homens responsáveis por
comunicações era de temer que a canção incitasse ainda mais manifestações, brigas e
ocorrências. Com a notícia, embora irritado, Jagger diz para a imprensa que ele não se
incomoda com a censura, desde que o disco ainda pudesse ser encontrado nas lojas. "A última
vez que eles censuraram material nosso, as vendas subiram e nos trouxeram um disco de
ouro."

Parto Difícil

Na queda de braço entre Decca e os Stones que durara toda segunda metade do ano, a
gravadora venceu. Está evidente para a banda que a sua gravadora está pouco se lixando se
eles lançam ou não o material. Esta falta de interesse e constante restrição artística cansou a
paciência e foi a gota d'água para Mick começar a realmente querer buscar opções de como
mudar da gravadora. Por hora, com a perspectiva de as canções ficarem velhas sem nunca ser
lançadas, acabam aceitando os termos da gravadora e repensam uma capa. Buscam algo
simples que possa ser aprontado rapidamente, uma vez que Jagger quer aproveitar o mercado
natalino para lançar o disco.

Irritado por não ter conseguido o que queria, Mick acaba ventilando sua frustração na canção
apropriadamente intitulada "You Can't Always Get What You Want". O título embora se estenda
à recusa da Decca, é em si mais sobre a recusa de Anita Pallenberg em estender um pouco
mais o romance que tiveram durante as filmagens de Performance. Ainda se sentindo um
pouco como Turner, estes incidentes renderam como fruto, esta canção. Jagger reúne a banda
e gravam a canção no dia 17 de novembro com Al Kooper nos teclados. A sessão varou toda a
madrugada, terminando seis e meia da manhã. Brian ficou deitado no chão do estúdio, lendo
um livro sobre botânica, ao mesmo tempo estando presente e ausente da sessão.

De-Klein-io

Ao ler no jornal uma declaração de Allen Klein de que ele pretendia ainda um dia empresariar
os Beatles, Mick tem uma idéia. Pensa que se Klein se envolver com os problemas da Apple,
ele não terá tempo para prestar atenção em mais nada. Assim, com Klein distraído, podem
ganhar tempo para encontrar e preparar legalmente uma saída técnica para o contrato que têm
com ele. Assim, com isto em mente, Mick Jagger liga para John Lennon para saber como
andam as coisas. Os Beatles em meio a problemas gerenciais sérios, estudam a contratação
de um novo empresário, não agüentando a tarefa de gerenciar eles mesmos e os negócios na
Apple. Com o dinheiro todo da banda investido na Apple Corps, estão arriscando tudo e não
vendo retorno algum. Jagger então comenta casualmente que da forma como andam as
coisas, só mesmo um advogado astuto como Klein poderia resolver seus problemas. Lennon
agradece a sugestão, mas diz que estão em vias de acertar com Lee Eastman, advogado
também americano e Nova Iorquino como Klein.

Os eventos dariam uma volta inesperada. Os Beatles deram a incumbência a Eastman de


conseguir um acordo com Dick James que pretendia vender a Northern Songs, firma que retém
os direitos de todas as composições dos Beatles até então. Lee Eastman designa seu filho
John para a tarefa que, não conseguido um acordo, insulta Dick James e cria um problema na
relação entre os dois interessados. James uma vez insultado por John Eastman, anuncia a
venda da firma, criando um leilão no mercado. Lennon, Harrison e Starkey consideram
inaceitáveis a forma com que as negociações foram realizadas e prontamente votam três
contra um para largar Eastman e procurar outro. Lennon então sugere Allen Klein, Harrison e
Starkey concordando em marcar uma reunião para conhecê-lo. Paul McCartney se manteve
contra a vinda de Klein e permaneceu trabalhando com Lee Eastman que é pai de sua futura
esposa, Linda Eastman.

Até fevereiro de 1969, Allen Klein estaria assinando com os Beatles se tornando o empresário
das duas maiores bandas do mundo. Eastman continuaria representando Paul McCartney o
que criou a primeira gigantesca e óbvia divisão dentro dos Beatles. Lee Eastman passaria as
décadas seguintes representando além de Paul McCartney, artistas como David Bowie, Billy
Joel e Andrew Lloyd Webber.

Adeus Corrina

Tragédia porém continua a rondar a banda quando Jagger é obrigado a parar tudo e voltar
todas as suas atenções para Marianne. Dia 22 de novembro, já internada na casa de saúde de
St. John's Wood, o corpo fraco e anêmico de Marianne Faithfull, aborta a criança no sétimo
mês. Uma menina que teria sido chamada de Corrina, caso sobrevivesse. Desolados, Marianne
Faithfull e Mick Jagger choram abraçados, a perda de sua criança ainda por nascer, muito
querida e desejada. A presença e compaixão de Jagger, seu amigo e amante confortou
Marianne. Todavia, embora estando sempre ao seu lado enquanto no hospital e depois em
casa, não demorou muito para Mick Jagger se recuperar da perda. E ele o fez da única
maneira que sabe; mergulhando no trabalho.

Em reunião com Allen Klein, que está em Londres negociando com os Beatles, estudam como
melhor promover a banda e seu novo trabalho. Com Sgt. Pepper's e Magical Mystery Tour dos
Beatles em mente, Klein é creditado por alguns, por ter sugerido adicionar a palavra circo ao
lado de rock and roll. Assim, Mick Jagger passa a desenvolver a idéia de fazer um filme para
televisão, que seria um circo. Todavia, não apresentariam apenas atrações circenses típicas,
mas atrações musicais. O programa ofereceria uma variação de bandas e fecharia com os
Rolling Stones tocando números do novo álbum. Nasce o conceito para o Rock 'n' Roll Circus.

Marianne Lentamente Se Recupera

Ao voltar para casa depois do período internada, Marianne Faithfull encontrou um Mick Jagger
pós-Performance bastante diferente. Ainda sob a psique de Turner, a casa está
constantemente cheia de pessoas morando com eles, suas vidas girando em torno de Jagger,
que está vivendo sua versão mais feminina.

Depois de uma semana vivendo naquele ambiente, Marianne interrompe o jantar jogando os
pratos contra as paredes e esgoelando enlouquecidamente. Jagger apenas sorriu
disfarçadamente para o ataque histérico de Marianne, como que percebendo nela, a vontade
de querer voltar a tomar o controle sobre sua própria vida. No dia seguinte já haviam sumido
todos, Jagger despedindo inclusive os empregados em excesso.

Infelizmente, retomar sua vida não seria assim tão fácil. Para uma mulher, recuperar-se da
perda de uma criança é sempre um processo mais traumático e portanto mais demorado. Entre
parcialmente assustada e ofendida pela facilidade com que Jagger mergulha de volta ao
trabalho, somado o vazio que reflete a falta de costume de se conversar sobre os próprios
sentimentos e expectativas dentro da relação do casal, Marianne volta a entrar em crise
depressiva.
Jagger de vez em quando, percebendo suas obrigações com a banda lhe tomando todo o
tempo, volta às velhas táticas de comprar-lhe uma jóia ou mandar entregar rosas. Mick acredita
que parte do processo de cura de Marianne estaria em ele nunca chegar em casa de mãos
vazias. Porém a ausência física do namorado persistia e Marianne só se deprimia com os
presentes fúteis. Em pouco tempo, ela passaria a se mergulhar em amantes e entorpecentes,
se tornando a mais junkie entre os Rolling Stones. A primeira amante por quem Marianne optou
dissipar sua solidão, é também a mais antiga; sua amiga Saida.

Algumas semanas depois do aborto, Marianne visitaria seu ginecologista, onde chora a perda
da criança. "Porque isto aconteceu comigo?" ela indaga, sentindo-se a mais injustiçada das
criaturas sobre a terra. Sem dizer uma palavra, o médico a encara em silêncio por um longo
instante. Depois, pega seu braço e punho, torcendo lentamente até que Marianne não tem
como não olhar para as marcas de pico sobre as veias. Foi como um tapa na cara e Marianne
saiu do consultório furiosa e ofendida.

Kenneth Anger

Há um personagem que se encontra com os Rolling Stones e demais artistas hip do momento
e faz uma instigante impressão sobre eles. Refiro-me a um cineasta chamado Kenneth Anger,
que também intitula-se como sendo um mago seguidor de Aleister Crowley, seu mestre.
Nascido na California na década de trinta, a vida de Anger sempre girou em torno de
Hollywood. Como ator, estreou no cinema aos quatro anos de idade no filme "A Midsummer
Night's Dream" (1934), de Max Reinhardt. Teve Shirley Temple como colega de classe em suas
aulas de dança e aos oito passou a dedicar-se a fazer curta metragens em 16mm usando a
garotada vizinha como atores.

Porém seria aos 17 anos que Anger, apresentado à vida e obra de Aleister Crowley, passaria a
renegar o Cristianismo, sua família, e iniciar o projeto que abriria suas portas para o cinema
realmente. O filme é "Fireworks" (1947), um psico-drama surreal sobre sadomasoquismo e
homossexualismo, que lhe dá credibilidade como cineasta independente na Europa, onde
passou a morar.

Viveu em Paris durante os próximos doze anos, sempre fazendo cinema. Neste período,
estendeu seus estudos sobre Holy Magik, acabando por se afiliar à Ordem do Poente Dourado
(Order of the Golden Dawn), seita à qual Crowley também pertenceu. Reconhecido como
sendo um dos precursores do cinema avant garde americano e europeu, Anger passa a circular
durante as décadas de sessenta e setenta entre artistas e intelectuais como Dr. Alfred C.
Kinsey, Michael Powell, Samson De Brier, Henri Langlois, Maya Deren, Curtis Harrington e
Oskar Fischinger, Willard Maas, Marie Menken, Marianne Faithfull, Mick Jagger, Anita
Pallenberg, Jimmy Page e J. Paul Getty.

O Cineasta Mago

Amigo do diretor Donald Cammell, se comenta que Kenneth Anger pode ter tido alguma
participação como consultor, em Performance. Foi o pai de Cammell, também membro da
Ordem do Poente Dourado, que apresentou Anger ao filho. Embora Anger nunca apareceu no
set de filmagens, foi visto em todas as festas realizadas após o filme.

Sexualmente atraído por Mick Jagger, a quem conheceu em uma destas festas, Anger se
aproximou o máximo que pôde e ganhou a curiosidade de todos. A energia e atração exercida
por Jagger fez com que Anger tentasse negociar algum acordo em usar a imagem do vocalista
dos Rolling Stones em uma de suas produções. Educado e carismático, Anger atraía uma
curiosidade elucidativa sobre assuntos do oculto discursados por ele, como a força metafísica e
o poder do diabólico. Ele se identifica como sendo um mago da categoria de Magus, o nível
mais alto alcançável dentro da ordem.

Anger mostrou especial interesse nos Rolling Stones mais visíveis, anunciando que Brian
Jones nascera com a terceira mamaria de um bruxo, o que significava que ele possuía um dom
vindo de berço para as "ciências ocultas". Diz também que Mick, Keith, Anita e Marianne todos
têm dentro de si bom potencial para se tornarem bruxos, com a devida tutela. Embora visando
conquistar Mick Jagger, Anger encontrou em Anita Pallenberg uma aluna atenta e
extremamente interessada.

Os Mendigos Finalmente Têm Seu Banquete

Dia 29 de novembro, depois de um hiato considerável, os Rolling Stones se apresentaram ao


vivo para a televisão como parte do "Frost on Saturday Show", com David Frost. Apresentaram
Sympathy For the Devil, com Brian Jones tocando o piano, embora no disco, ele não tenha sido
o pianista. Gordo, inchado e de poucas palavras, Brian parecia reforçar a imagem que ele
ganhara depois do seu julgamento, de que ele era uma estrela cadente, doente e incoerente,
perdido em entorpecentes.

A festa de lançamento do disco, realizado alguns dias antes do lançamento real, aconteceu no
Elizabethan Room do Gore Hotel, com um banquete completo de sete pratos, em estilo típico
da era Elizabetana. O jantar de gala preparado para receber 120 pessoas, mantendo-se dentro
do tema medieval, foi realizado à luz de velas. Apesar de Keith chegar bem atrasado, a banda
toda estava vestida de mendigos medievais.

Todos os 120 lugares na enorme mesa posta ganharam uma cópia do disco mais um embrulho
com instruções para não ser aberto. Ao final da ceia, Jagger brinda a todos, pega o seu
embrulho e abre. Lá está uma torta de creme fictícia feita com somente um propósito. Jagger
eleva a torta para que todos percebam do que se trata e em seguida joga-a na cara de Brian
Jones, sentado ao seu lado.

Com isto, a festa logo se tornou em uma sessão pastelão, onde todo mundo jogou torta em
todo mundo. Alguns executivos e jornalistas saíram da festa aborrecidos por terem seus ternos
lambuzados de creme. Sentimentos mistos entre os convidados, alguns indagando se tudo não
passa de uma maneira da banda mostrar desprezo para a imprensa e a sua gravadora, cujos
representantes se encontravam entre os convidados.

Passando alguns dias, Mick Jagger escreve uma carta à diretoria do Gore Hotel agradecendo
os serviços prestados e se desculpando pela bagunça.

Beggar's Banquet foi finalmente lançado no dia 6 de dezembro, chegando às lojas com muita
expectativa do publico e rapidamente se tornando um sucesso de vendagens. A capa agora
toda branca, representa um convite. É a segunda vez que a banda não coloca seu nome no
seu disco, estando escrito apenas Beggar's Banquet no centro e as iniciais RSVP (Répondez
S'il Vous Plaît) no canto direito, como normalmente se encontra em convites grã-fino. O disco,
fugindo da música "cabeça" do último álbum, traz de volta as raízes de rhythm & blues para a
dieta musical da banda.

Filmando o Rock & Roll Circus

Mick acertou com Michael Lindsay-Hogg para dirigir o espetáculo que incluiria uma tenda
sendo montada no Intertel Studios em Wembley; um estúdio da BBC. Nele, foram trazidos
palhaços, tigres, um canguru boxeador, um casal trapezista, anões e um engolidor de fogo, um
cowboy a cavalo, diversos cavalos de rodeio, um homem forte, equilibristas, todos contratados
do Sir Robert Fossett's Circus.

Somando a estes ainda, à platéia, composta de convidados e amigos, foram todos oferecidos
fantasias extravagantes, chapéus, penduricalhos e maquiagens apropriadas. Anita Pallenberg,
com uma barba postiça, apareceria como a mulher barbada. Foi trazido uma máquina de
quatro canais, instrumentos, e equipamentos de som geral. Foi contratado para as sessões
Jimmy Miller para produzir, mais os engenheiros Glyn Johns e Tony Visconti.

Evidentemente as grandes atrações seriam as bandas, cada uma apresentando apenas um


número, exceções feitas para os Rolling Stones. Foram convidados dos Estados Unidos, Taj
Mahal, Johnny Cash e os Isley Brothers. Cash agradeceu mas dispensou o convite e os Isley
Bros. não puderam abrir mão de outros compromissos já marcadas para poderem participar.

Entre as bandas da cidade, foram chamados The Who, Traffic e Cream, além de uma banda
novata, curiosamente chamada de Jethro Tull. Cream havia acabado há poucos dias, deixando
Eric Clapton livre para comparecer como solista. Traffic estava também em meios de acabar e
nenhum dos seus integrantes queria tocar mais com os outros.

Os Beatles e os Stones sempre sabem o que o outro está fazendo e ultimamente John Lennon
e Mick Jagger estavam mais próximos. Os dois acabaram de viver a horrível experiência de se
perder uma criança ainda no útero da mãe. Entre tantas similaridades na carreira entre as duas
principais bandas do mundo, houve mais esta, com Yoko Ono tendo seu aborto involuntário no
dia anterior ao de Marianne. Lennon se prontificou em participar, comparecendo com Yoko e
Julian, seu filho, então com cinco anos. Muitos entre os que conheciam Lennon há anos,
comentavam como ele estava se comportando bem mais calmo e tranqüilo desde que passou a
andar com Yoko Ono.

Iniciando na manhã do dia 10 de Dezembro de 1968, se estendendo por três dias, os Stones e
equipe técnica filmaram o primeiro circo de Rock n' Roll da historia. A procissão inicial, que
existe em todo espetáculo circense, abre com uma parada composta somente de fotógrafos,
uma pequena piada sobre a vida rock 'n' roll que se vive. O primeiro espetáculo foi dos
trapezistas que executaram antes e durante a apresentação do pianista Julius Katchan, que
tocava uma peça de Brahms em um lindo piano Steinway de cauda.

Depois, foi a vez do supergrupo, montado com os convidados sem banda, especificamente Eric
Clapton, John Lennon, Yoko Ono e Mitch Mitchell. Keith Richard fez questão de fazer parte
deste grupo e assumiu as obrigações do baixo. Lennon batizou o ensemble de Winston
Legthigh And The Dirty Macs, que fizeram um set de velho rocks como uma espécie de ensaio
para a filmagem da banda a ser realizado no dia seguinte. Puxaram "It's Now or Never",
"Hound Dog", "Lucille" e "Sweet Little Sixteen". Eric Clapton aos sorrisos é pego dizendo "Eu
sou um roqueiro, não tenho como fugir disto." Os Dirty Macs ainda tocariam "Peggy Sue" tendo
Mick Jagger como vocalista principal. Depois, John e Mick sem a banda, fariam um pequeno
dialogo que acabaria com um dueto curto de "Yer Blues", Lennon cantando e futucando na teta
de Mick.

No dia 12, quando a banda gravou valendo, iniciaram com um Jam para esquentar antes de
entrar em duas tomadas de Yer Blues, que seria seguido depois por "Her Blues", (rebatizado
como "A Whole Lotta Yoko" para o CD na década de noventa), um tema instrumental que serve
como base para o dueto entre os vocalizes de Yoko Ono com o violinista Ivry Gitlis. Esta é a
primeira vez em doze anos que John Lennon sobe em um palco para se apresentar sem Paul
McCartney. Sua entrega, com uma letra recheada de frases fortes, é o ponto alto do dia. Em
pleno apogeu do hippie sixties, onde a maioria dos presentes são toxicômanos, frases como
"Feel so suicidal even hate my rock and roll" tocam fundo, rendendo diversos comentários
respeitosos à genialidade do líder dos Beatles.

Veio então outro número circense, os palhaços seguidos de um engolidor de fogo, depois o
cowboy a cavalo e então, a próxima banda, The Who. Aproveitam a oportunidade para
estrearem a opereta "A Quick One While He's Away". A peça, foi concebida originalmente
como parte de uma opera rock que Townshend ainda está montando em sua mente. Acabou
sendo lançada antes e ficando de fora do projeto que dentro do ano seguinte, viria a ser
conhecido como a opera rock Tommy. Sua apresentação é triunfal com imensa e costumeira
fúria por parte de Townshend e Moon, este chegando a derrubar toda sua cerveja sobre a caixa
antes de começar.

Mais atrações circense se seguiram antes da apresentação de Taj Mahal, que tem em sua
banda Jesse Ed Davis na guitarra. Davis seria na década de setenta, um dos guitarristas mais
requisitados para participar em gravações de diversos artistas. Taj Mahal esquenta o ambiente
com uma apresentação cheia de soul e swing, cantando "Ain't That a Whole Lotta Love".
Depois é a vez de Marianne Faithfull, que interpreta "Something Better" com ar terrivelmente
tristonho. Fácil de entender porque considerando que ela ainda procura recobrar seus ânimos
após perder sua criança no sétimo mês de gestação.

O último convidado é a nova e até então, ainda pouco conhecida banda chamado Jethro Tull,
que estará se apresentando com sua segunda formação, tendo Tommy Iommi substituindo o
guitarrista original, Mick Abrahams. Apresentam "Song For Jeffrey", tornando este um raro
registro desta formação. Quanto à apresentação, na verdade tudo não passa de playback,
Iommi nunca tendo gravado nada com a banda. Apenas Ian Anderson está realmente cantando
com um microfone vivo, os demais apenas fazendo mímica. Portanto, tirando qualquer dúvida
sobre quem está na guitarra, o que você vê é Tommy Iommi, mas o que você ouve é Mick
Abrahams. Alguns dias após esta apresentação Iommi avisaria aos demais, que não tinha
intenção de permanecer com o grupo.

Aí então chega a vez dos Rolling Stones começarem a se aprontar. A esta altura são três da
manhã. Todos na banda estão cansados pelos dias tomados pelas preocupações com os
detalhes para a organização do evento. A banda sobe no picadeiro central com sua formação
clássica mais a soma de Rocky Dijon nos bongôs e Nicky Hopkins ao piano.

Eles esquentam com "Route 66", e "Confessin' The Blues", para emendarem com "Jumpin'
Jack Flash" seguindo depois por "Parachute Woman", "No Expectations", "You Can't Always
Get What You Want" (que só seria lançado no álbum seguinte, Let It Bleed) e fechando com
"Sympathy For The Devil".

Jagger exibe no final, uma tatuagem de Satã no peito, feita especialmente para a ocasião. Já
tendo visitado o Rio de Janeiro e a Bahia, aprendendo um pouco sobre cerimonias religiosas
africanas, você percebe Jagger nitidamente imitando alguém evocando alguma espécie de
divindade, ao som das percussões do final da música. Depois que muitos dos convidados já
foram embora, a banda ainda apresentou dublando, "Salt Of The Earth" com coro adicional de
todos presentes e mais playback.

Muitas das atrações preparadas para o evento ou não chegaram a ser filmadas por falta de
tempo ou acabariam de fora da edição final. Edição esta que ficaria arquivada por três décadas
pois haveria problemas legais atrelados ao projeto que dificultariam o lançamento. Questões
como direitos de uso de imagem das diversas bandas e artistas e suas respectivas gravadoras
são o maior dos problemas. O dinheiro dos Rolling Stones presos ao controle de Allen Klein e
sua desastrosa gerência seria outro.

Embora houvesse a intenção inicial de lançar a trilha sonora e filme televisivo até no mais
tardar setembro do ano seguinte, a saída de Brian Jones da banda, criando com ela uma nova
formação para os Stones, envelheceu o projeto Rock 'n' Roll Circus antes que a banda tivesse
imaginado. De qualquer forma, Mick sempre achara a apresentação dos Stones no filme de
nível inferior, soando tão cansados quanto estavam de fato.

Fim de Ano '68

Novamente, a banda aproveita o período natalino para se afastarem uns dos outros. Alguns
preferem o conforto e intimidade da família em casa, outros buscam lugares exóticos e
instigantes. A família Watts, curtiu o natal em casa e em família este ano, a neve caindo
espessa sobre o país. Igualmente, Bill e Astrid, estréiam as primeiras férias natalinas em
Gedding Hall, a casa nova. Foi um natal dos mais tradicionais, com tanto Bill e Astrid
recebendo seus pais e irmãos. Apesar do relacionamento entre Brain e Suki continuar em
queda, o casal passa o Natal e Ano Novo junto em outra viagem para o Ceilão. Os atrativos do
oriente trazem certo fascínio para Brian que quer aprender mais sobre o lugar. Conta-se que
Brian e Suki visitaram uma cartomante ou astrólogo (as versões variam), que deu um curioso
aviso a Brian: “Mantenha-se longe da água neste ano que entra. Absolutamente nunca vá
nadar sozinho.”

Anita ficara extremamente interessada nas historias de cerimônias de macumba e candomblé


contadas por Marianne quando de sua volta do Brasil no inicio do ano. Anita se interessa cada
vez mais por informações sobre ocultismo e o poder que se consegue através de seu estudo.
Se cada um que participou no filme Performance ficou um pouco maluco, sua loucura se
enveredou para a bruxaria. Em seu interesse e curiosidade ela instigou todos a viajarem juntos
para o Brasil, para que ela conhecesse o lugar e as tais cerimônias.

Arlanza

Viajaram portanto Mick, Marianne, Nicholas, Keith e Anita para Lisboa, onde pegariam um
transatlântico chamado Arlanza, com destino ao Rio de Janeiro. Embarcam no dia 18 de
dezembro, aniversário de Keith, comemorado romanticamente no mar. Anita estava grávida e
embora tivesse secretamente abortado involuntariamente duas vezes, ela queria ter o filho de
Keith e procurava ter cuidados. Não obstante, durante a viagem no mar ela passou a ter
sangramento e entrou em pânico. O médico a bordo lhe deu então uma injeção de morfina,
enquanto Keith e Marianne assistiam com inveja.

Outro detalhe pitoresco da viagem foi o bar da nau que invariavelmente era habitada por uma
senhora bêbada que puxava conversa com quem estivesse. Keith simpatizou com a ébria que
dizia que os dois amigos reluziam (glimmer). Keith então retrucou despretensiosamente "É
querida, somos os gêmeos que reluzem" (We're the glimmer twins). O nome Glimmer Twins iria
ser usado pelos dois como referência à dupla a partir da década de setenta. A programação de
viagem incluía ainda uma esticada para o Peru, onde pretendem conhecer alguma cidade Inca
escondida nas Cordilheiras dos Andes.

Copacabana - Princesinha do Mar

Em onze dias, os dois casais estariam aportando no Rio, às vésperas do ano novo. Anita sendo
poliglota, foi de infinita assistência para a comunicação com as pessoas comuns, desde o
carregador de malas até o motorista de táxi. Hospedaram-se novamente no Copacabana
Palace e tiveram um dia lindo para recebê-los e bastante paz e sossego para descansarem e
se refazerem da viagem.

A notícia de sua chegada porém, logo se espalharia, e a insistente solicitação por entrevistas
começou a pesar no humor dos ingleses. Mick se vê obrigado a responder perguntas sobre
gostar ou não de MPB. Diz inicialmente que não gosta pois se tornara comercial e depois tendo
que se explicar, falando que bossa-nova (o que para ele é música popular brasileira), pega
emprestado demais de jazz e que prefere a música mais crua de descendência africana.
Quando alguém lhe faz a grande pergunta nacional da época, quem deve ser o titular, Rivelino
ou Pelé?, Mick se despede e volta pro quarto.

O grupo faz típicos programas de turista, como pegar um táxi e dar uma volta pela orla, ver a
Barra da Tijuca, na época deserta, cheia de dunas e totalmente à parte e distante do resto da
cidade.

A viagem seria em tese terapêutica para os dois casais, ou pelo menos para Keith e Marianne,
inseguros e em parte ainda se recobrando dos eventos recentes ocorridos durante os meses
de filmagem de Performance. Para Anita, agora grávida de Keith, o caso com Mick é um
passado morto. Divertido mas extinto. Quanto a Keith e Marianne, o descanso seria também
uma oportunidade para se distanciar de certas drogas e limpar um pouco o corpo, embora esta
pretensão tivesse vida curta.

Embora todos os três, Marianne, Anita e Keith já haviam se aplicado com heroína pelo menos
uma vez, dos três, durante este passeio, quem menos sentiu problemas para se distanciar da
droga foi Anita. Sua mente estava tomada pela importância de se cuidar para ver o seu filho
nascer. Keith e Marianne passavam os dias fumando maconha nacional, bem mais potente que
a inglesa, e bebendo Aldol. Para aqueles que não pegaram a época, Aldol era um xarope de
tosse famoso entre os adolescentes "antenados" com as experiências da época. Descer alguns
goles de Aldol gargalo abaixo deixava você chapadão e lerdo, como se tivesse tomado
barbitúricos. Esquentava o peito e as orelhas como uma boa cachaça.

Depois de dez dias na cidade, rumam para São Paulo, onde se hospedam por um dia no Hotel
Jaraguá. O tamanho e agito metropolitano de São Paulo não era o que os quatro ingleses
esperavam. De qualquer forma, os planos nunca foram de ficar em São Paulo, mas em uma
cidade vizinha.

Na Fazenda Bela Vista

Através do escritório Rolling Stones, foi acertada a hospedagem da turma na fazenda Bela
Vista, do banqueiro Walther Moreira Salles, pai do atual cineasta Walter Salles Junior. O local,
situado na cidade de Matão, uns 330km noroeste de São Paulo, já havia sido alugado outras
vezes para pessoas distintas do primeiro mundo, querendo se esconder para obter paz e
tranqüilidade em total privacidade. Keith diria depois que a fazenda era do tamanho da Bélgica,
um óbvio exagero, porém ilustra bem a vastidão do terreno. A Casa Grande com seus 33
cômodos, abrigou os dois casais, o jovem Nicholas, e um misto de interprete e assistente geral,
Albert Grossmann. Moram no local e responsáveis pela casa os caseiros Sr. e Sra. Viziolli.
Seguranças cuidavam para que ninguém estranho entrasse na propriedade, oferecendo assim,
total privacidade ao grupo.

Durante o dia, tomavam sol ao redor da piscina, geralmente praticando nudismo. À tarde
fugiam desesperadamente dos mosquitos, muriçocas e pernilongos. Keith se divertia
aniquilando a esquadra com uma revista enrolada. Mas embora menores do que ele, chegam
em grande número e o cansaço vence a ponto de Keith simplesmente se deixar picar.
Marianne parecia uma muçulmana em um safari, de botas e chapéu com véu, toda enrolada
em panos, tentando esconder sua pele dos monstrinhos sanguessugas em uma batalha
perdida antes mesmo de começar. À noite jantam à luz de velas e se divertem cantando.
Brincadeiras incluem também soltar fogos de artifício.

Nos dez dias que lá permaneceram, Mick e Keith escrevem Honky Tonk Woman, que em seu
formato acústico, está mais para a versão conhecida como Country Honk. Aproveitam também
para conhecer além de Matão, algumas cidades vizinhas, como Araraquara, circulando de
kombi, totalmente incógnitos. Também exploraram as estradas para cidades não tão vizinhas
como Belo Horizonte e Ouro Preto. A curiosidade maior ficando para a compra de fitas com
gravações de cânticos de candomblé, macumba, umbanda e afins.

Depois de dez dias voltam a São Paulo, onde pernoitam e seguem viagem deixando o Brasil
para trás indo para Peru. Todos menos Marianne, que tem compromissos assumidos em
Londres e volta com seu filho Nicholas. Ela havia sido convidada a voltar ao teatro para
encenar a peça Hamlet, no Roundhouse Theatre. Ela também já está cansada da companhia
de mato, mosquito e Aldol. Os ensaios começaram pouco depois de seu regresso, onde ela
passa a assumir o papel de Ophelia.

Desgaste Peruano

Mick, Keith e Anita chegam de avião em Lima no dia 18 de janeiro e se hospedam no luxuoso
Hotel Crillon.O trio depois desce até o saguão vestidos de sandálias, calças multicoloridas e os
rapazes sem camisas. São advertidos pelo balcão do hotel que o local tem normas de
vestuário, ignoradas pelo trio. São avisados novamente que precisariam colocar uma camisa
para andar no saguão, desta vez pelo gerente. Após uma pequena discussão, o episódio
termina com a efetiva expulsão do hotel. Sem perder a pose, os três atravessam a rua de
malas em mãos e se hospedam no igualmente luxuoso Hotel Bolivar.

O hotel serve apenas como ponto referencial e local para deixar as bagagens maiores. Alugam
um jipe e seguem em uma viagem rumo a Cuzco, buscando os Andes Peruanos.A viagem é
tortuosa, especialmente para uma mulher grávida, mesmo que nos primeiros meses de
gestação. Em Urubamba, Keith se viu obrigado a tocar para fazendeiros locais a fim de
conquistar simpatia para poderem conseguir comida e um local mais confortável para o trio
dormir. A imagem de Keith Richard em uma cidadezinha ínfima, perdida no meio dos Andes,
tocando Malagueña para o povo local, não deixa de ser inusitada. Estão de volta em Londres
ao final do mês.

Brian Novamente em Redlands


Sem residência fixa, uma vez que Cotchford Farm continua em obras, Brian passa a se fixar
novamente em Redlands. Com ele estão morando Tom Keylock, seu motorista e assistente
para assuntos aleatórios, um servente que cuida da casa, e sua namorada Suki Poiter. Keylock
está instruído por Keith para vigiar e manter Brian na linha, não permitindo seu acesso a
entorpecentes nem acesso de pessoas que podem trazer-lhe mais drogas.

O clima dentro de casa é descrito como sendo opressor. Brian mal consegue usar o telefone
sem ter a presença de Keylock vigiando e ouvindo. Ao mesmo tempo, é difícil saber com Brian,
o que em suas queixas é real e o que é fruto de sua paranóia costumeira. Outra; até que ponto,
ele não precisava mesmo de alguém por perto para lhe chamar a atenção? Como diria
Marianne anos depois, "Quando o telefone tocava as quatro da manhã, era sempre Brian."

Aparte desta sensação de ser o motivo de uma eterna vigília, Brian tem encontrado forças para
se afastar por conta própria do uso de medicação ilícita. Ele se conscientiza de que haxixe e
maconha o deixam paranóico, ácido o deixa delirante e fora de controle e anfetaminas e
barbitúricos deixam sua mente totalmente inoperante. Brian quer ficar longe destes produtos,
que a ele trazem apenas a lembrança da mentira que é o sucesso. Ele está aproveitando a
quietude do campo para refletir bastante sobre sua vida, suas aspirações iniciais e para onde
seu estilo de vida o levou.

Seu relacionamento com Suki Poiter está em decadência. No fundo, são, e sempre serão nada
mais que grandes amigos, cada um confortando o outro pela perda daquele a quem realmente
amam. Suki conforta Brian pela perda de Anita e Brian a Suki, pela perda de Tara. Suki
continua dependente de heroína e Brian não permite a ela sequer fumar um baseado dentro de
casa. Ele não suporta a presença de qualquer entorpecente perto dele e até remédios
receitados pelo seu médico ele agora toma com suspeita e preocupação.

Para completar as diferenças entre os dois, Suki gosta da vida agitada da cidade e Brian está
com a mente fixa na proposta de morar no campo, longe de Londres. Ele está apaixonado pela
casa em Cotchford Farm e aguarda ansiosamente para que a residência tenha as mínimas
condições para ser habitável, para que ele possa logo se mudar. Embora o casal ainda se visse
ocasionalmente, a relação estava com seus dias contados.

Com Suki indo trabalhar como modelo nos Estados Unidos, Brian está sozinho e precisando de
companhia para se sentir amado. Assim, ele volta a Londres para rondar os clubes, passando a
ser visto novamente com Linda Keith. Quando Suki chegou em casa um belo dia, encontrou
Brian com Linda. Furiosa, tentou expulsá-la, porém Brian a agrediu e até chutou seu cachorro.
Assim era Brian Jones, impulsivo e nem sempre coerente. Ele tinha imenso carinho e amor por
Suki assim como adorava o seu cão, não obstante, naquele momento, sua amiga/amante e até
o cão, acabaram apanhando. Fariam as pazes depois, Brian e Suki voltando a ter um
relacionamento amigável porém o romance acabara de vez. Linda Keith também logo sairia
definitivamente de cena.

Brian passaria a ser visto, cada vez mais vezes, acompanhado por uma sueca chamada Anne
Wohlin. Em final de janeiro, Brian foi definitivamente perdoado pela corte quanto a sua segunda
acusação de uso de entorpecentes. Três juizes confirmariam o veredicto de que não se deva
mudar nada em relação a sua situação julgada em 67.

Sister Morphine

De volta a Londres, uma sessão foi marcada para Marianne Faithfull gravar sua voz definitiva
para Sister Morphine. Marianne passou toda a sessão cheirando cocaína; Jagger, como
produtor da sessão, fazendo vista grossa. Jack Nizstche acaba se irritando com ela e passa a
questionar sua seriedade artística, uma vez sendo cantora e ciente de como cocaína estraga
as cordas vocais. Mais por intuito de se livrar do sermão, Marianne concordou em deixar a
cocaína de lado e de fato não mais cheirou até o final daquela sessão. Marianne Faithfull
considerava este o seu melhor trabalho na carreira. Odiava sua imagem de dondoca, imposta
por Oldham há tantos anos atrás. Sister Morphine é para ela um trabalho liberatório que
demarcaria uma mudança em sua carreira.
O compacto foi lançado em fevereiro, permanecendo no mercado por cerca de dois dias,
quando possivelmente alguém da Decca finalmente ouviu a canção e mandou retirá-la das
lojas. Mick ainda tentou se queixar com a gravadora em prol de Marianne, mas a cansativa
batalha em torno do Beggar's Banquet esgotou a paciência das duas partes. A desgraça
repentina do compacto arrasou Marianne ainda mais, sentindo-se rejeitada, ou pior, presa à
imagem insossa que não mais representava suas aspirações artísticas. Ela culpa Mick por não
defendê-la devidamente e o distanciamento entre o casal se alarga. Infelizmente sua boa letra,
logo a primeira que ela tenta compor, não trouxe motivação para compor outras boas letras.
Marianne optou por outro rumo, procurando se transformar no personagem de sua canção,
motivando-se apenas a tomar mais drogas.

Deixa Sangrar

De volta ao Olympic Studios também estavam os Stones, novamente com Jimmy Miller como
produtor, para darem início aos trabalhos para um novo disco. Várias foram as canções entre
Jagger e Richard que não chegaram a ser efetivamente trabalhadas, porém chegaram a ser
gravadas visando esta possibilidade. Canções como "Aladdin Story", "French Gig", "I Was Just
A Country Boy", "Jimmy Miller Show", "Pennies From Heaven", e "Shine A Light". A maioria não
passando de instrumentais; embriões de temas que germinam e se tornam alguma coisa, ou
não. Entre os trabalhos que iriam efetivamente germinar, estão "Give Me Some Shelter", que
se tornaria "Gimme Shelter" e "If You Need Someone", que evoluiria para "Let it Bleed". Duas
outras entre as primeiras canções a serem trabalhados são "Midnight Rambler" e "Sister
Morphine".

A versão dos Stones da canção de Marianne também tem Ry Cooder na guitarra e Nicky
Hopkins ao piano, ambos substituindo Brian Jones. A esta altura, Mick e Keith já estão
confiantes em saberem como gravar discos sem Brian, uma situação que, depois do sucesso
de Beggar's Banquet, já não assusta como antes."Sister Morphine" ficaria pronta, mas só seria
lançada em 1971. Nitzche trabalha também em "You Can't Always Get What You Want",
adicionando um coro, no inicio da canção. O coro é feito pelo London Bach Choir, tendo ainda
Madeline Bell, Doris Troy e Nanette Workman, para ajudarem em backing vocals. Em "Honky
Tonk Women", é Ian Stewart no piano tão característico da canção. Em "You Got The Silver", é
Nicky Hopkins quem está no piano e órgão.

Um novo álbum dos Stones não está entre as prioridades de Brian que passou seu aniversário
deprimido e solitário. Apesar de estar vivendo em um compasso de vida menos frenético,
preparando sua mudança para Cotchford Farm, sua fisionomia continua doentia e sua
paranóia, cada vez mais alerta. Desconfia de tudo e de todos. Cada palavra dita, teria horas de
reflexão, à procura do real significado escondido nas entrelinhas. Tudo, para Brian, tinha uma
entrelinha, especialmente em assuntos relativos aos Rolling Stones. Ele sabe que Mick e Keith
o querem fora da banda.

Os Rolling Stones estão recebendo convites variados para apresentações ao vivo. Convites
para shows em lugares ''exóticos'' como Nigéria e Zâmbia, como também para uma
participação no Memphis Country Blues Festival, fazem com que Mick e Keith cogitem
seriamente em convidar Eric Clapton a viajar com eles. No final, os convites ficaram sem ser
respondidos.

As Mulheres

Enquanto o trabalho rola à plena propulsão, Anita grávida e Marianne, estão abandonadas e
mergulhadas em tédio. Mick e Keith estão sempre juntos, absorvidos com a criação do novo
disco. Entre ensaios e gravações intermináveis, não há tempo nem disposição para nenhum
dos dois gastar com suas mulheres. Para o tempo passar, e ajudar a sensação de tempo a
sumir, tomam ácido e cheiram cocaína juntas, passando depois a também cheirar heroína, na
companhia de uma terceira amiga, Madeleine. Anita e Marianne logo estariam se cariciando,
tomando banho juntas e eventualmente, tendo relações sexuais, uma mera extensão da
amizade entre as duas. Vale lembrar que na mentalidade dos anos sessenta, se dizia que, se o
corpo era quente e amigável, ame-o. Certo dia Mick e Keith aparecem inesperadamente,
pegando Marianne e Anita no meio de uma relação. Conta-se que Mick sugeriu que os dois
homens entrasse na cama para completar o swing. Mas Keith não quis nem saber do assunto,
tirando sua mulher logo dali e levando-a para casa.

Anita é avisado pelo seu médico que caso pretenda mesmo ter a criança, ela precisa cuidar
melhor da saúde do próprio corpo. Com o aviso, ela deixa de lado o ácido e a heroína,
mantendo-se apenas com uma ocasional cafungada de coca. Mesmo assim, seu hábito
reduzido para um mínimo. Marianne lida com sua solidão de outra forma, optando por abraçar
a heroína que aniquila com inigualável rapidez, todo e qualquer resquício de dor, seja pela
perda da filha ou pelo distanciamento entre ela e Mick. Injetando a droga, no lugar de inalar,
causa grandes economias no consumo. Mas como ela não tem a coragem, tem em sua amiga
Madeleine, a preciosa ajuda.

Marianne então entra em uma fase onde passa a colecionar amantes. Após Saida e Anita, ela
passa a ter relações com Madeleine, que é namorada de Tony Sanchez. Entre os homens, o
primeiro desta fase foi Stash, que passa pela casa depois de deixar Mick no estúdio. A lista vai
se tornando extensa e variada, um exemplo mais de seu vazio, do que de qualquer conceito
intelectualizado de promiscuidade.

Hamlet

Produção de Tony Richardson, a peça Hamlet abre em março e tem na química entre Nicol
Williamson fazendo Hamlet, e Marianne Faithfull vivendo Ophelia, seu brilho especial.
Evidentemente que parte deste brilho emanava graças ao fato de que o casal de atores
principais estavam tendo um caso. Williamson, um ator Shakespeareano, provendo Marianne
com muita ajuda em como melhorar a apresentação do seu personagem. Fazendo Ophelia e
tomando heroína antes de entrar em cena, formou uma combinação que levaria Marianne a
contemplar mais para o final do ano, o suicídio como uma alternativa natural. Com um hábito
alarmante de quatro doses de heroína por dia, e Mick Jagger sempre com um controle firme
sob o orçamento da casa, Marianne logo descobre que, ou ela gasta todo o dinheiro que tem,
ou opta por meios mais criativos para conseguir o que ela quer. Com a criatividade de um
viciado, além de Williamson, Marianne passa a ter um caso fixo com Tony Sanchez, contato
principal e empregado de Keith Richard.

Love In Vain

Em casa, um belo dia, Marianne coloca um disco de Robert Johnson na vitrola. Jagger
comenta que Robert Johnson foi um dos primeiros bluesmen a chamar sua atenção, como
também a atenção de Keith. Com isso, Marianne naturalmente sugere a ele regravar Johnson.
A idéia, embora tão simples, chegou como uma revelação para Mick. Ele pula em direção ao
disco, passando a testar todas as faixas, concluindo que "Love In Vain" seria sua preferida.
Canta com o disco enquanto dança, como que se estivesse testando os passos mais
apropriados para o palco. Vendo tudo se encaixando, a decisão se torna definitiva.

"Love In Vain" foi gravada com Ry Cooder tocando bandolim, embora Brian teria aparecido no
estúdio para gravar alguma coisa. "O que posso fazer?" ele se oferece, Mick lhe respondendo
ironicamente "Não sei. O que você pode fazer?" A pouca receptividade imediatamente ataca
sua alta estima e Brian logo encontra dificuldade para tocar guitarra ou gaita. Sem paciência ou
interesse, Mick logo o dispensa, "Você não consegue tocar mais nada! Porque não vai pra
casa?" Foi o que ele fez.

O Hexagrama de Brian

Como Anita, embora sem a mesma intensidade, Marianne também se interessa com poderes
alternativos. Através do I Ching, procura ler o futuro de Brian, fazendo perguntas precisas, e
desenhando seu hexagrama baseado nas seis respostas obtidas. Encontra no hexagrama 29,
o desenho que reflete aquele que suas respostas lhe fizeram desenhar. Jagger presente no
quarto, ouvia atentamente enquanto Marianne lê e interpreta o significado do hexagrama em
um texto que oferecia um omen negativo. Segundo consta, Brian estaria passando por uma
provação e que se passar, sua vida se firmaria no espaço de três anos, porém caso o contrário,
a opção poderia ser a morte. Morte através da água, caso alguém não lhe mostrasse o
caminho.

O casal se entreolha assustado e Mick liga em seguida para Brian para saber como estava.
Brian sempre precisando de atenção e carinho, estava encantado que Mick ligara e insiste em
que o casal venha lhe visitar, convite aceito. Ao chegarem em Redlands, encontram um Brian
receptivo, porém desconfiado. Sua aparência ainda inchada e sem muita cor, sugere
corretamente que estão diante de um homem doente. Porém, como Brian logo anuncia ao
receber suas visitas, ele está definitivamente afastado das drogas e se entrega exclusivamente
aos prazeres do brandy.

O papo descamba para o círculo de amigos que estão viciados em heroína. Eric Clapton, John
Lennon, Robert Frazer, Michael Cooper..., porém depois, Marianne percebe que deva mudar
de assunto, ela sendo uma das pessoas cada vez mais envolvidas com o narcótico. Ela
acreditando que Mick ainda não sabia, não quer dar chance dele perceber.

O clima na sala é evidentemente nervoso, uma vez que Brian desconfia de tudo, principalmente
de Mick. Porém Brian, dentro de seu perfil de insegurança, não aceita perder amigos e várias
vezes já tentara restabelecer uma relação amigável. Mick por sua vez, teve sua paciência
testada demasiadamente por Brian, então passou a procurar manter a distância. Apesar de ter
feito o esforço da reaproximação, Mick educadamente recusa comer com eles, dando a
desculpa de ter coisas a fazer, e ter só dado um pulinho para saber como estava. Promete
voltar mais tarde, Marianne triste com o fracasso do encontro, segue Mick, apenas para
almoçarem em uma taverna perto dali.

Ao voltarem, Brian ofendido ataca Mick, os dois se engalfinhando fisicamente. Brian, munido
pelo ódio, agride a socos enquanto Mick, atleticamente, se esquiva do seu oponente inchado e
lerdo. Há versões desta briga, contando que Brian teria pego uma faca de carne sob a mesa, e
tentado esfaquear Mick sem sucesso, depois, percebendo sua incapacidade atlética, diante de
Mick, corre e tenta se afogar no fosso lá fora. Jagger nega estas versões, embora seja certo
que houve a discussão, como também uma troca de socos neste dia. A luta foi de fato parar lá
fora e em meio ao embate, Brian de uma forma ou outra, caiu no fosso, sendo tirado de lá com
ajuda de Mick. Com seu fundo lamacento e a falta de mobilidade de Brian, ligeiramente ébrio,
podia-se facilmente atolar e se afogar ali, caso estivesse sem ajuda.

Os dois homens ensopados com a água podre do fosso, vão tomar um banho. Depois, já
vestidos com roupas secas, estão tomando um brandy na sala, rindo da briga e toda a cena. O
casal se despede e se retira, Mick com um sentimento de derrota na garganta e Marianne
cogitando que "morte por água", fosse de fato apenas um simbolismo. Brian também está em
uma situação desconfortável, devendo o favor a Mick Jagger por ter o tirado do fosso e o
ajudado de volta para terra firme.

Preocupado com o que dizia o hexagrama, Mick procura uma maneira de ajudar Brian a
encontrar o caminho. Sabe que não poderá ser ele, pois a relação havia se deteriorado a muito
tempo, não havendo mais uma confiança mútua. Liga então para um velho amigo do inicio da
carreira. Mick Jagger procura Alexis Korner.

Mudando Para Cotchford Farm

Brian finalmente se muda para sua casa de sonhos. A casa tinha vários cômodos, um jardim,
piscina, e mais adiante, junto da propriedade, uma pequena parcela da Ashdown Forest,
completa com riacho, passando por dentro da sua propriedade. Nele A. A. Milne escreveu seus
contos de Winnie the Pooh e Christopher Robin, e estatuetas destes e outros personagens são
encontrados no terreno.

A casa remete seu novo dono a sua infância em Cheltenham e o local será descrito por amigos
que estiveram com ele nesta época, como de grande ajuda para sua recuperação psicológica.
Ainda fazendo parte do terreno, descendo a rua, estão as casas da Sra. Mary Hallett, que
passaria a trabalhar na casa principal, cuidando de arrumá-la, e Mick Martin, antigo jardineiro
da propriedade que Brian fez questão de manter trabalhando na casa. Acima da garagem
também existia um pequeno quarto e sala, cozinha e banheiro. Nele Brian deixou seu mestre
de obras, Frank Thorogood morar durante as semanas, enquanto trabalhava na arrumação da
casa. Tom Keylock também tem as chaves do local. Ele é oficialmente seu motorista, seu
cozinheiro e continua tratando de assuntos variados.

Alma Penada

Junte a paranóia habitual com uma constante depressão suicida e você tem Brian Jones
novamente hospitalizado. Dia 18 de março, Brian acabaria dando entrada no Privory Clinic,
onde se recuperaria de outra crise nervosa, permanecendo internado por dois dias.

Dizem que toda casa tem os seus barulhos e a noite é quando eles se tornam mais audíveis.
Nas primeiras noites na fazenda, Brian passou a ouvir barulhos dos mais diversos, alguns
quase humanos. Investigando depois, contaram-lhe uma história sobre uma jovem empregada
chamada Mary, que trabalhou na casa e que morrera de repente, sendo enterrada em alguma
parte do jardim. É provável que tudo não passou de alguma brincadeira, mas Brian tomou pena
da alma penada que ele supostamente passou a ver andando pelo jardim, às vezes pela casa.
Com o pretexto de ajudá-la a encontrar a paz, Brian deu uma festa que durou quase uma
semana e teve uma grande variedade de convidados entrando e saindo durante o seu curso.
Uma festa com freqüência rotativa, regada a haxixe e celebridades, onde Brian tocou várias
músicas do seu acervo particular, principalmente seu material com os flautistas de JouJouka e
a primeira gravação com os Rolling Stones, feito pelo Glyn John antes deles assinarem com
Oldham. Depois da festa ele nunca mais viu o fantasma de Mary, acreditando que ele havia de
alguma forma ajudado aquele espirito a encontrar seu caminho.

Vida em Cotchford Farm

Brian passaria a freqüentar na cidade vizinha de Hartfield, o pub "The Hay Waggon Inn", onde
toma umas cervejas com o povo local que tendem a simpatizar com ele. Certa ocasião, Brian
foi de moto para o pub. Bebeu com os homens e ficara tão bêbado que mal conseguiu fazer a
moto funcionar. Quando conseguiu, foi direto subindo a calçada e atravessando a vidraça de
uma loja. Se cortou todo e ficou lá deitado, imaginando que assim que a polícia chegasse e o
reconhecesse, certamente iriam plantar algum flagrante e mandá-lo pra cadeia. Para sua
surpresa, a turma toda do bar veio acudir.

Ajudaram a levantá-lo, um grupo indo com ele até sua casa, aplicando-lhe curativos típicos de
primeiro socorros. Outros varreram a calçada, limpando o vidro da área. Nenhuma notícia
referente ao incidente apareceu no jornal e Brian percebeu então que ninguém da vila quis
faturar em cima do seu nome. Meditando sobre o episódio, conclui que os vizinhos têm
realmente carinho por ele. "Uma grande sensação!" ele diria para alguns amigos, contando o
incidente. Para Brian, saber que é uma pessoa querida por alguém ou por um grupo de
pessoas, é em si, um fato de suma importância.

Os Habitantes da Casa

Na reclusão de Cotchford Farm, Brian se diverte com a companhia de seus dois cães. O
primeiro, uma cadela cocker spaniel preta e branca chamada Emily. Brian passeando em um
shopping ainda com Suki Poiter, viu o animal à venda. A cadela ficou imóvel, com um olhar
tristonho e solitário, observando Brian, que, comovido, levou o bicho, de pura dó. Semanas
depois, um criador que mora na vizinhança ofereceu um Afgan negro que fora vendido e
devolvido. Sem realmente querer outro cão, porém não sabendo como dizer não, Brian aceitou
ficar com o cachorro, que ganhou o nome de Luther. Os dois cães passaram a tomar uma
importância relativa na vida de Brian.

Emily o segue por toda a casa e dorme no quarto com ele, no chão perto da cama de seu
mestre. Já Luther é livre e prefere explorar o terreno, some por horas e volta apenas quando
tem vontade. Luther escolheu a cozinha como seu ponto para dormir. Agora já aos vinte e sete
anos de idade, Brian enxergava na maneira despojada de Luther, muito dele mesmo quando
mais novo.
Outra companhia que Brian gostava de manter era Frank Thorogood. Homem bem mais idoso,
na faixa dos quarenta e poucos, Brian sabe que Frank tem inveja de sua riqueza e a facilidade
que ele tem para arrumar mulheres. Brian se diverte provocando Frank, explorando suas
fraquezas, e assistindo o empregado ficando furioso. Às vezes havia revides e Frank diz coisas
que um empregado normalmente não diria para seu patrão. Brian deixa, porque não sabe como
brecar abusos. Se convence que não vale a pena o aborrecimento e finge que não tem
importância. Depois chama Frank para jantar com ele para fazerem as pazes e manter a
harmonia.

Negócios

Não há como negar a incrível tenacidade do artista Mick Jagger em ser o empresário Mick
Jagger. Sempre preocupado com a saúde dos negócios dos Rolling Stones, se não na saúde
de seus membros, Jagger está sempre com a mente aberta para captar novas idéias que
possam ajudá-los a se manterem como a melhor banda. Uma frente nova, seria uma
associação que Mick Jagger tentou firmar com Jann Wenner, criador e dono da revista
americana Rolling Stone Magazine. Wenner chegou a Londres em final de março para uma
reunião com Jagger tentando criar uma filial inglesa para sua revista. Negociações
continuariam por durante toda primavera, mas acabariam sem êxito. Jagger não tinha o tempo
para tamanha dedicação necessária para o projeto e o mercado inglês se mostrou não muito
receptivo para uma revista com filosofia e capital estrangeiro.

Jagger está também pensando adiante em relação à capa do próximo disco. Com as
dificuldades que tivera com a capa do disco anterior, não é surpresa ele se preocupar com o
assunto com tamanha antecedência. Há na Decca o interesse de lançar uma coletânea inglesa
da banda. Estudando diversas artes diferentes, fica encantado com os desenhos de M. C.
Esher. Mick então pessoalmente escreve uma carta para Esher solicitando que ele autorize o
uso. Se for do seu agrado escolher por um trabalho ainda inédito ou desenhar algo
especificamente para a capa. Os valores pelo seu trabalho seriam então discutidos entre os
respectivos departamentos de finanças dos dois. O escritório Rolling Stones receberia então
uma carta de Esher declinando o convite, deixando claro que não tem interesse de associar o
seu nome com o da banda. Curiosamente em 1970, a capa do disco do Mott The Hoople seria
um desenho de Escher.

Problemas e Distrações

Brian começa a se acalmar um pouco mais, porém continua sofrendo de ocasionais crises de
depressão. Harmonia necessita de um certo esforço para se manter. Tom Keylock às vezes
traz alguns de seus amigos para a casa, sabendo que Brian é facilmente intimidado. Bebem de
seu bar e dão pequenas festas, muitas vezes sem Brian querer. Keylock usa a tática de fazer
questão de sempre encher a taça de Brian, deixando-o bêbado rapidamente e assim, ainda
mais passível.

Uma das histórias conhecidas de Keylock é de quando ele ganhou a incumbência de comprar
móveis para a casa. Todas as contas e faturas de Brian sempre vão diretamente para o
escritório Rolling Stones e na maioria das vezes, ele sequer sabe os valores que está pagando.
Mas suspeito e cada vez menos intoxicado, Brian indaga a respeito da conta e descobre que
Keylock comprara tudo em dobro, mobiliando assim sua própria casa. Quando confrontado,
Keylock apenas queixa-se de que Brian deveria deixar de ser zura e unha de fome.
Novamente, Brian não sabe como reagir. Se sente um pouco isolado do mundo, certamente
isolado dos demais Stones.

Alexis Korner

Alexis Korner é o grande pai do blues branco inglês. Participou do primeiro disco de blues
inglês, como também do movimento skiffle que fez Lonnie Donegan famoso. Seguiu adiante
promovendo o blues em sua banda escola, the Blues Incorporated. Foi o primeiro a descobrir e
colocar no palco os talentos de diversos jovens que teriam carreiras significativas na década de
sessenta. Artistas como o próprio Brian Jones, Charlie Watts e Mick Jagger.
Com Mick Jagger do outro lado da linha, Alexis duvida muito que ele possa influir de alguma
maneira na vida de Brian. Sabe dele apenas pelos jornais, uma vez que com a fama, como
também a diferença de idade, a tendência foi o afastamento. Mas não se opôs em procurá-lo e
ver como estava. Assim, Jagger lhe passou o número e Alexis telefonou. Brian fica surpreso e
feliz com a chamada. Se desculpa pelo sumiço e confessa que aqueles anos iniciais do
sucesso foram mesmo muito loucos. Depois, Brian passou a ligar para Alexis todo dia, os dois
levando às vezes horas no telefone. Quando desliga, Alexis tem por vezes que sentar e
respirar um pouco, tamanha intensidade com que Brian despejava seus temores.

Alexis teria definido o Brian destas primeiras ligações como extremamente nervoso e agitado.
Brian como sempre, culpa todos ao seu redor. Reclama que todos conspiram contra ele, mas
como o discurso rapidamente fica desgastado, e sua fama sendo de um junkie já queimado, a
sua credibilidade torna-se extremamente duvidosa. Todavia Brian não está mais dopado com
barbitúricos e narcóticos. Ele se assume um amante do brandy e do vinho branco. Propaga
para os quatro ventos como drogas são ruins para as pessoas e como quase o destruiram. Não
permite a nenhuma de suas visitas fazer uso em sua casa e vários confirmam que Brian
recusou haxixe e cocaína, quando visitas iniciais vieram a oferecer. Coisa impensável menos
de um ano atrás. Mas Brian nunca precisou de drogas para ser preocupado em excesso e
transformar um pequeno detalhe em uma calamidade.

É com Alexis que Brian mais desabafa. Por ser doze anos mais velho e reconhecer
musicalmente o potencial de Brian, muito antes dele se tornar rico e famoso, há na relação
retomada entre os dois, novamente a confiança típica de um pupilo com seu mestre. Quando
Brian reclama que peças de sua mobília estão sumindo, ninguém consegue dar crédito à
acusação. Quando Alexis o visita pela primeira vez, Brian fala feito metralhadora giratória,
"Sempre tem alguém vigiando. Estão cobrando excessivamente pela reforma. Estou sendo
roubado por todo mundo! Eles estão querendo me fazer pensar que estou louco! Eu não sou
louco Alexis, você me conhece bem! Um pouco paranóico talvez, mas não maluco! Estão
roubando minhas coisas! Todo mundo pensa que ainda estou em órbita mas eu percebo o que
está acontecendo! Eles são todos do escritório, e trabalham para Mick!"

Brian certamente se refere a Tom e Frank, entre outros. Mas, será tudo parte de sua paranóia?
É certo supor que, se alguém o está roubando de fato, dificilmente seria Mick o mandante de tal
ato. O rítmo frenético do raciocínio de Brian cansa e Alexis resolve apertar um baseado para
ele e o amigo relaxar. Brian ao perceber o que o amigo fazia foi logo avisando. "Eu iria preferir
que você não fizesse isto aqui na minha casa. Não posso ser pego perto disto. Além do mais,
não uso drogas de qualquer espécie. Voltei à bebida, como nos velhos tempos", diz com um
sorriso. Aí então ele começa outra saraivada de idéias, falando agora de como drogas só
serviram para atolar sua vida e que ele está feliz por se livrar "daquele lamaçal." Alexis, sempre
respeitoso, guarda tudo e juntos saboreiam um vinho branco gelado. Em poucas semanas,
Brian mesmo ao telefone, já parecia mais calmo.

Brian Amando

Talvez seja o relógio natural da pessoa, quando todo o glamour desbota e a alma começa a
não desejar mais mulheres de ocasião em quantidade, mas uma mulher de qualidade para
todas as ocasiões. E Anne Wohlin parece que estava por perto e entrou na vida de Brian na
época certa. Ela passou a ser convidada em abril a passar os fins de semanas com ele,
pegando um trem até Hartfield e um táxi da estação até a casa. Depois Brian começou a
mandar uma limousine ir buscá-la e finalmente passa a pedir que ela more lá com ele. Anne, de
apenas vinte e dois anos, está um pouco assustada com a proposta, embora ao mesmo tempo,
apaixonada pelo namorado cujo apetite e desenvoltura sexual, assim como sua criatividade
neste campo, são para ela aprendizados seguidos.

Em maio, Anne se muda definitivamente para Cotchford Farm e faz com Brian um casal cheio
de planos para o futuro. Com Anne, e no ambiente acolhedor de Cotchford Farm, Brian começa
a se abrir e falar de seu passado mais íntimo, como nunca antes. Definitivamente é um tempo
para análises pessoais, onde Brian começa a exorcizar os dragões que habitam sua alma. Fala
de um assunto que nunca levanta; a morte de sua irmã Pamela, ainda uma criança, vítima de
leucemia. Comenta de como sua mãe, deprimida com a morte da filha, se afastou de Brian, o
filho mais velho. A insegurança de um menino rejeitado pela mãe, que cresce um homem
inseguro, tornando-se com o poder de sua fortuna, um monstro incompreendido.

Anne escuta tudo com respeito e levanta questionamentos quanto ao sentimento de dor que
uma mãe atinge, ao perder uma criança ainda bebê, totalmente dependente dela. É Brian que
agora exercita a faculdade de ouvir os outros, ato que até então, estava bastante enferrujado.
Estas e outras conversas levam Brian a periodicamente passar a telefonar para seus pais, se
esforçando um pouco mais a restabelecer uma relação, preferencialmente mais harmoniosa do
que havia antes. Brian parecia mesmo caminhar para uma vida menos frenética e enlouquecida
para algo mais calmo e sano. Brian com Keylock de motorista, vai até Cheltenham visitar seus
pais. Depois, é a vez de seus pais aceitarem o convite, passando um dia com ele em Cotchford
Farm. Sr. Lewis Jones curiosamente aparenta ter a mesma altura e estrutura óssea que seu
filho famoso.

Conversando com o pai, Brian mostra seus equipamentos e seus diversos instrumentos,
falando por alto sobre a música que gostaria de tocar, um pouco diferente da direção que os
Rolling Stones atualmente seguem. Brian nada fala sobre sair da banda. Fuçando entre suas
coisas, ele acaba por encontrar uma foto antiga de Anita, do tempo que ainda estavam juntos.
Seu rosto muda de cor, iluminando-se, Brian esquecendo do mundo, onde estava ou se havia
outras pessoas no quarto. Foi por um breve instante, onde ele chegou a falar a palavra
proibida. "Anita" ele verbaliza sem perceber. Em seguida guarda o objeto que o transportou no
tempo, vira para seu pai e continua seu assunto de onde ele havia parado, fingindo que nada
havia acontecido. Esta seria a última lembrança de Sr. Lewis Jones de seu filho. Todo aquele
dia foi agradável e quando seus pais voltaram para Cheltenham, era visível a satisfação em
Brian, como quem atravessou um obstáculo, que há anos, bloqueava a vista de seu horizonte.

Ser ou Não Ser

Brian Jones é um covarde. Ele é incapaz de tomar uma decisão definitiva sobre seu futuro.
Quando decide, é incapaz de se posicionar ou mover-se na direção de seus propósitos. Brian é
sistematicamente convidado a ir trabalhar. Uma limousine com Tom Keylock ao volante, chega
toda manhã ou à tarde para buscá-lo e todo dia ele diz que está doente e não pode ir. Brian
não tem coragem de assumir de vez o que na cabeça dele já está resolvido. Brian conversa
com amigos pelo telefone, querendo reafirmação mas nunca anuncia para a banda sua
resolução de sair. Conversa horas com Alexis Korner e John Lennon, os dois dando grandes
doses de força e coragem, mas ao desligar, o estômago dói ao pensar em encarar Mick e
Keith.

Brian ligou quatro vezes para John Lennon certo dia, tentando, com sua ajuda, armazenar
coragem e sair. Lennon discursa pelo telefone palavras de confiança. "Você não pode mentir
para si. O que quer que aconteça, é você que importa. Não desperdice seu talento. Você pode
se sentir inicialmente triste e deprimido, mas lembre-se do que é mais importante. Dinheiro não
pode, nem irá governar nossas vidas. Devemos ser governados apenas pela nossa própria
criatividade artística. "Brian concorda com tudo; fala de sua intenção de deixar os Stones o
quanto antes, e pergunta se não seria uma ótima idéia dele se juntar aos Beatles. Lennon
desconversa dizendo que os Beatles também estão em um período complicado e que ele
também está deixando aquela banda.

Alexis é outro amigo com quem Brian tem conversado muito. Brian confirma a sua intenção de
sair dos Stones e sabendo que Korner está montando uma banda nova, The New Church, se
convida para ser seu guitarrista. Alexis conhecendo bem seu amigo, como Lennon, também
desconversa. Diz que ele, Brian, é criativo demais, que acabaria se sentido preso a restrições
dentro da concepção de trabalho existente dentro do New Church. O melhor seria Brian formar
sua própria banda, e passam a conversar sobre a melhor forma em que Alexis pode ajudar.

Um Rolling Stone Pela Última Vez

Dia 21 de maio, foram tiradas as fotos que acabariam na capa e contracapa da coletânea dos
Stones chamada Through the Past Darkly, lançada pouco depois da morte de Brian e faturando
em cima do fato. Depois todos voltam para o estúdio para gravar uma das poucas sessões que
Brian chegou a participar. Nela Brian comenta sobre seu desejo de deixar a banda. Ninguém
fica surpreso, quando Brian deixa entender que as composições comercias de Jagger-Richard
não mais representam motivação musical para ele.
Jagger - o Empresário

Jo Bergman, secretária de Mick e sua mão direita dentro do escritório Rolling Stones, começa a
exercer pressão sobre os problemas insolúveis dentro da organização. Precisam definir
diretrizes como o que afinal está acontecendo com a banda? Irão excursionar novamente ou
irão se dedicar apenas a gravarem discos, como os Beatles? Invariavelmente o problema
relativo à eterna dependência daquele escritório com o escritório moroso de Allen Klein em
Nova York é outra preocupação que necessita de uma reestruturação o quanto antes.

Mick sabe que não pode manter o estado caótico das finanças eternamente sem solução. O rei
da cena continua freqüentando festas e recebendo convidados, deixando sua rede sempre
aberta para contatos. Ainda com amigos e contatos na alta sociedade, Jagger, estudante de
economia que já foi, inicia uma série de conversas interessantes com o Príncipe Rupert
Loewenstein, descendente da família real austríaca. Loewenstein, que nada entende de rock 'n'
roll, é consultor financeiro e é cativado pela inteligência instintiva deste ex-estudante de
economia. Aos poucos Jagger consegue convencer o príncipe a dar uma olhada nos livros de
sua empresa, a Rolling Stones Inc.

Bote Policial

A peça Hamlet terminou e Marianne foi convidada a fazer outra peça, chamada Early Morning.
Uma dessas produções mais hippie e loucas, onde Marianne faz o papel de uma lésbica e a
Rainha Elizabeth vive a lhe dar cantadas. A peça se mostrou um estrondoso fracasso,
fechando após sua estréia. Marianne ficou tão nervosa que esqueceu três baseados em cima
da mesa do camarim, tendo que obrigar Mick a voltar para buscá-los. Jagger fica furioso pela
falta de senso. "Ela ainda vai dar uma oportunidade para a polícia me jogar de volta na cadeia",
ele resmunga. Alguns dias depois, Sgt. Robin reconhecendo o Bentley de Mick Jagger em um
sinal, manda encostar para ser revistado. Mick encara o sargento e lhe diz logo que sabe
perfeitamente o que andou-se fazendo com Brian Jones e que com ele não seria assim tão
fácil. Conclui então que o oficial só poderá ver o carro diante da presença de seu advogado. O
sargento resmunga algo, ameaçando que "isso não vai ficar assim não, vai ter forra..." e se
retira.

Alguns dias depois deste incidente, Tom Keylock liga para Marianne Faithfull dizendo que ele
arrumara um contato que estava oferecendo uma quantidade de heroína por um preço irrisório.
Pelo preço, Marianne encomendou todo o lote. Algumas horas depois, Keylock entrega o pó
em dois pacotinhos de plástico. Marianne alegremente vai pro quarto cheirar a droga. Cerca de
quatro horas depois, a polícia bate na porta, interrompendo o chá, invadindo a residência com
um mandado em mãos. Mick prontamente entrega uma caixa de madeira onde ele guardava
haxixe. "Não é isto que queremos", sorriu o guarda, "Queremos a coisa boa." Foram direto para
o quarto onde vasculharam e encontraram sem muito esforço o pacote com heroína. O produto
é levado para análise e uma vez confirmado ser o narcótico ilegal, um mandato de prisão será
subseqüente emitido.

Apavorado, Mick liga para Tom Keylock, que garante que por £2000, consegue alguém dentro
do laboratório policial para dar testemunho falso de que o pó não é heroína. A repercussão de
uma acusação de porte de heroína acabaria com as chances dele conseguir um visto na
América e Ásia. Porém, desconfiado de Tom Keylock, que é manjado por já ter tentado roubar
Keith, Mick liga para Tony Sanchez. Tony indaga a Marianne se a heroína era boa. Marianne
confessa que achou o produto muito malhado, nem deu onda alguma, mais parecia talco. Tony
convence Mick e Marianne que provavelmente era talco, que Tom vendera como heroína
faturando um dinherinho. Deve ter sido ele quem informou a policia que eles encontrariam
heroína na casa, arrumando com isso outra grana, e depois oferece para corromper a polícia
em troco de mais outra grana. É claro que os laboratórios irão dizer que não é heroína. Não é
mesmo. O casal apostou na lógica de que Keylock era um completo filho da puta e de fato uma
acusação de heroína nunca aconteceu.
À noite, Príncipe Loewenstein aparece na casa sem aviso prévio. Ele soube da batida policial
pelo jornal televisivo e quis fazer uma visita de cortesia. O Príncipe encontra Marianne Faithfull
sentada no chão da sala, aparentemente em um estado ébrio, com a mesinha cheia de pó
espalhado. O Príncipe conhecendo as histórias relacionadas aos Rolling Stones, imagina se
tratar de cocaína, embora na verdade, a julgar pelo estado largado de Marianne, o pó deveria
ser outro. Quando ela percebe a visita e Mick se aproximando, começa a tentar esconder as
partículas espalhadas pela mesa, sem muito êxito. Começa a rir alto a risada dos bêbados e é,
a esta altura, totalmente ignorada pelos dois homens que vão para outra sala da casa.

No dia seguinte vão até a corte da rua Marlborough, onde o casal é formalmente acusado por
porte de haxixe e solto com multa de £50 libras. Eles teriam que reaparecer em corte em junho,
para poder-se marcar uma data para o julgamento. Esta data acabou sendo marcada para
dezembro. Desta forma, Mick não teria nenhum empecilho legal, podendo fazer dois shows já
marcados na Itália, a excursão Americana no outono, e uma viagem para a Austrália, que fora
planejada recentemente. Mick e Marianne aceitaram trabalhar em um filme sobre um vilão do
tipo Robin Hood, na Austrália. Ambos acharam que o filme seria fraco porém aceitaram a
proposta como uma oportunidade para trabalharem juntos, podendo assim passar mais tempo
um com o outro. As filmagens começariam em julho. No fundo, Mick aceitou o papel porque
sabia que na Austrália, Marianne não teria como conseguir heroína e assim, poderia limpar o
corpo.

O Substituto

As gravações para este disco fazem parte de um plano maior que envolve uma excursão no fim
do ano. Será a primeira da banda em três anos. Evidentemente isto significaria que uma
decisão precisaria ser tomada em relação a Brian Jones. Allen Klein faz pressão para se
livrarem dele, pois não estão, nem poderão excursionar, por causa de Brian, que tem seu visto
de entrada para os Estados Unidos negado em função de sua convicção na acusação de posse
e uso de entorpecentes em 1967. Além do mais, ele praticamente não produz nada mais para a
banda. Mick e Keith sabem que a hora vai chegar de pedir a Brian para deixar a banda e
começam a estudar a melhor forma de fazê-lo.

A máquina dos Stones move sempre para frente e Brian está ficando cada vez mais para trás.
Discussões iniciam entre os membros para saber quem iria substituí-lo. Bill Wyman sugere
Pete Frampton, um jovem virtuoso na guitarra com quem Wyman já trabalhou e garante é
capaz de preencher bem o papel. Frampton, que havia encontrado relativo sucesso teen com a
banda The Herd entre 67 e 68, havia recentemente montado com Steve Marriot o Humble Pie,
uma banda que ainda iria levar alguns anos antes de estourar.

A primeira opção para Mick e Keith seria Eric Clapton, porém no espaço de tempo entre
dezembro e abril, Clapton de ex-guitarrista do Cream, está agora montando um outro grupo,
chamado Blind Faith. Para Clapton, a idéia de entrar no lugar de Brian Jones não lhe parece
uma situação muito agradável. Além do mais, a perspectiva de viver com a constante gritaria e
idolatria que acompanha os Rolling Stones lhe desestimula. Vem de Ian Stewart a sugestão de
se trazer Mick Taylor, guitarrista virtuoso do John Mayall & the Bluesbreakers, banda escola de
bons músicos, muito como Alexis Korner & the Blues Incorporated eram no inicio da década.
Convidado para um ensaio teste no dia 1 de junho, ele grava um blues improvisado sem nome,
depois é convidado a participar da gravação de Honky Tonk Woman. A canção composta
originalmente em Matão, é um country, porém com a guitarra que Mick Taylor coloca, a canção
mudou, se tornando mais roqueira. Repensam o seu arranjo e regravam a canção do zero.

O tempo da canção aumentou e com uma sugestão de Jimmy Miller, Charlie muda a batida. O
trabalho progrediu rapidamente com Miller adicionando um cowbell tocado por ele mesmo, que
terminaria por firmar o clima da canção. A sessão, que terminaria por volta das três da manhã,
rendeu um compacto vencedor.

Sessões de Let it Bleed

Entre abril e maio, a banda gravou uma considerável quantidade de canções, muitas das quais
não tiveram continuidade. Entre os títulos inéditos da dupla Jagger-Richard estão Curtis Meets
Smokey, Jiving Sister Fanny, Black Box, Mucking About, So Fine, Toss The Coin, The Vulture e
When Old Glory Comes Along. Entre trabalhos fora da dupla, gravaram Downtown Suzie de Bill
Wyman; e I Don't Know Why de Stevie Wonder, Paul Riser, Don Hunter e Lula Hardaway.

Sem a presença de Keith, que faltou sem avisar, gravam uma série de números com uma
banda formada por Mick Jagger, Bill Wyman, Charlie Watts, Nicky Hopkins e Ry Cooder. Todos
os números são compostos pelo trio Charlie Watts, Nicky Hopkins e Ry Cooder, tendo duas
exceções; It Hurts Me Too, clássico blues de Hudson Whittaker (cuja letra é adulterada por
Jagger inserindo trechos de Pledging My Time de Bob Dylan), e The Loveliest Night Of The
Year de Juventino Rosas. Os títulos destas canções, gravadas no dia 23 de abril são Highland
Fling, The Boudoir Stomp, Edward's Thrump Up, Blow With Ry, e Interlude A La El Hopo. Este
material acabaria saindo no mercado anos depois com o singelo nome de Jamming With
Edward.

Fé Cega

Mick e Marianne foram convidados para jantar na casa de Eric Clapton. Jagger e Clapton tem
se visto e falado muito durante os últimos meses, pois sua nova banda, Blind Faith, estava no
Olympic Studios desde abril gravando com Jimmy Miller o álbum de estréia. Blind Faith tem
grande expectativa da imprensa e são chamados de supergrupo porque seus três membros
são grandes estrelas de arrecadação. São eles Eric Clapton e Ginger Baker do Cream, mais
Steve Winwood do Traffic. Precisando de um baixista para as apresentações ao vivo, Rick
Grech, baixista do Family, é convidado a excursionar com eles. Grech, porém, na simpatia,
acaba participando do disco e se tornando um quarto membro.

Clapton convida Mick para ir ao show de estréia da banda a ser realizado no Hyde Park dia 7
de junho. Seria a primeira vez que uma banda de maior expressão realizaria na Inglaterra um
show gratuito. No sábado, dia do show, Mick ao lado de Marinanne, está nas nuvens ao ver
tamanha aglomeração de pessoas, quase 150 mil de público. Nunca os Stones conseguiram
tocar para tamanho publico de uma só vez!

Os Rolling Stones haviam marcado dois shows em Roma, onde tocariam no mesmo Coliseu
onde os Romanos assistiam gladiadores e mártires cristãos serem engolidos por leões
famintos, tudo em nome do espetáculo. O show seria filmado e projetado para todo o mundo,
no lugar do já velho Rock 'n' Roll Circus. Havia grande euforia de toda banda para o evento
mas infelizmente as duas noites são canceladas e Mick olha para Hyde Park como uma opção
digna. Seria uma oportunidade de apresentar a formação nova da banda para um público
gigantesco, filmando o evento, que seria posteriormente televisionado para o mundo afora.

Ele procurou ser apresentado ao responsável pelo evento, este sendo Peter Jenner, e fez logo
a proposta: "O que acharia de ter os Rolling Stones no Hyde Park?" Em uma rápida conversa e
em acordo de cavaleiros, Mick Jagger marca para dia 5 de julho a data do show. Depois,
assistem a apresentação do Blind Faith que perto do final, homenageiam os Stones com uma
versão de Under My Thumb.

Acidente de Carro

Naquele mesmo sábado, de manhã, Keith e Anita começavam o dia fumando ópio na suite do
hotel em que estavam hospedados. Anita já está no quinto mês de gravidez e embora a sala
não esteja rodando, estão todos em um agradável estado de intoxicação. Foi quando chegou a
noticia que o seu Mercedes amarelo, fabricado na época do nazismo, estava pronto e poderia
ser entregue. O veículo havia passado pouco mais de um ano em reforma, depois de Keith tê-
lo destruído em um acidente no primeiro dia que dirigiu o carro. O veiculo longo e imponente foi
então colocado a sua disposição, estacionando à frente do hotel. "Vamos voltar a residir em
Redlands" Anita decide, e com isto, resolvem fazer as malas. Intoxicados pelo ópio, levam
quase quatro horas arrumando desorganizadamente todos os seus pertences pessoais,
aparelhos eletrónicos e bugigangas em geral, vários comprados recentemente.

Dentro do carro, Keith continua sem saber dirigir um veiculo de câmbio manual. Desta maneira,
volta a ter os mesmos problemas que o levaram a bater da primeira vez. Dirigindo em alta
velocidade, ao fazer uma curva na West Wittering Road, o pneu traseiro bate no meio fio e o
carro fica descontrolado, derrapando para a contra mão, depois capotando de lado, rolando por
uma ribanceira. Ao encontrar o auxílio de um carvalho, o veículo parou; milagrosamente de
cabeça para cima.
Anita geme de dor, localizando seu foco maior vindo do ombro esquerdo. Keith levanta
preocupado. Suas primeiras palavras são "Rápido! Precisamos esconder o flagrante!" e sai à
caça de todo os pertences do casal, colocando todo flagrante em um saco plástico e
escondendo tudo num buraco de uma arvore vizinha. No saco malocado, cocaína, heroína,
ópio e haxixe, os mantimentos usuais deste casal nada conservador. Mais tarde, alguém seria
mandado para buscar estes e outros pertences que ficaram para trás. Não demorou muito e a
polícia chegou. De fato, a primeira preocupação da polícia era de encontrar entorpecentes
entre as coisas do casal, mesmo com Anita grávida, sangrando e em dor. Pediram para
esvaziar os bolsos e ao achar duas seringas e duas cápsulas usadas na sua bolsa, obrigaram
o casal a ir à delegacia.

Anita explica que ela precisa ir para um hospital, que as capsulas são de vitamina b12 que ela
toma regularmente, como orientada pelo seu médico. Um dos policiais faz parte do grupo que
participou da batida em Redlands no ano anterior e desconfiado, não lhe dá credito, e o casal
acaba mesmo sendo levado para a delegacia. Lá, o médico policial confirma a versão de Anita
como plausível e dá ordens para que ela seja imediatamente levada para um hospital. Os
guardas de moral muito baixa, fazem escolta policial para o St. Richard's Hospital, onde ela foi
diagnosticada com fratura óssea na altura do ombro. Na manhã seguinte, Keith leva Anita para
ser internada no London Clinic, visitando-a regularmente todos os dias, enquanto lá estivesse.
Por causa da gravidez, os médicos acharam melhor que ela fique em observação. Durante este
tempo, Keith aluga um apartamento em Park Lane embora passasse a maior parte do seu
tempo ou visitando Anita ou na casa de Spanish Tony e sua namorada Madeleine.

Curiosamente Brian também quase sofre um acidente de carro no mesmo dia que Keith. Sendo
um motorista disperso, estava contando um caso para Anne enquanto ao volante e se distraiu
perto de um cruzamento, onde a preferencial era do outro veículo. Brian freia a tempo de evitar
uma colisão, mas a possibilidade de acidente o deixa atormentado. Volta imediatamente para
casa e não consegue dormir à noite. Bem ao seu estilo, fala sem parar, esticando o assunto
para infinitas possibilidades, cada uma com um resultado mais trágico que o outro. "E se
tivéssemos batido e você se machucado feio. Poderia ter quebrado um osso. Poderia ter ficado
aleijada e tudo por minha culpa! Imagina se você fosse morrer!" Depois de passar horas no
mesmo assunto, prontamente jura que jamais voltará a dirigir na vida.

Cortado

No dia 8 de junho, Mick, Keith e Charlie se reuniram no estúdio à tarde, onde entre outras
coisas, terminam de mixar Honky Tonk Woman. Por volta das 18 horas encerram e seguem
juntos em direção a Cotchford Farm. Mick e Keith, com receio de que Brian pudesse aprontar
uma situação de conflito, que poderia terminar de forma extremamente desagradável,
convencem Charlie a acompanhá-los. Quando os dois carros estacionaram na garagem, à
frente da casa, Brian olhando pela janela, já os aguardava. Brian deixa Anne no quarto e desce
ao encontro dos colegas. Ele sabe que é chegada a hora.

Nenhum deles teve como encarar Brian nos olhos durante toda a reunião que foi na prática,
sem incidentes, e bem mais amena do que puderam supor. A conversa realizada na cozinha
durou pouco mais que meia hora. Curiosamente eram Keith e Mick que estavam nervosos,
Brian se mostrando calmo de uma forma mais para apático do que para tranqüilo. Ninguém
sabe por onde começar até Keith esfaquear o assunto, "Viemos aqui falar sobre a excursão
americana." Brian timidamente replica, "Eu não posso ir, vocês sabem. Não tenho saúde para
uma excursão longa no momento. Alias, faz tempo que não sou um Rolling Stone de fato". Mick
apanhando a deixa, entrega logo a situação no pé que está e a solução melhor cabível
encontrado por eles.

Para o desgosto de Allen Klein, os Rolling Stones concordaram em pagar a Brian Jones a
soma de £100.000 por ano, valor que seria rateado entre os quatro membros restantes, até o
dia que a banda acabar. Brian também poderia retomar o seu lugar na banda em uma futura
data se assim ele desejar. Em troca, ele teria apenas que dizer que a idéia foi sua de sair e não
tratar o assunto como se ele tivesse sido demitido. Todos concordam que esta é a melhor
maneira de se ir publicamente sobre a separação. Desta forma, nenhuma das duas partes fere
a outra. Brian aceitou os termos sem nenhuma discussão, assegurando que Mick poderia fazer
o anúncio oficial da forma que melhor entendesse, e que ele confirmaria tudo. O acordo foi
verbal mas um documento seria aprontado no futuro próximo pelo escritório de Allen Klein. Ao
saírem, Mick, Keith e Charlie estão visivelmente aliviados que tudo foi de fato, feito da forma
mais civilizada e amena possível.

Antes de irem embora, Keith oferece de presente um papelote com cocaína. Sozinho na
cozinha, Brian aguarda um pouco em silêncio, se dobra sobre a mesa e começa a chorar,
como quem acaba de ser informado de seu divórcio. Depois de se recompor, volta para a cama
onde Anne o aguarda, anunciando que a ruptura está oficializada. Mais tarde, depois de quase
cinco meses de abstinência, Brian vira a noite cheirando toda a cocaína, pateticamente
agradecido pela consideração de Keith de lhe dar um presente. O pó é de extrema pureza,
porém Brian está totalmente desacostumado, e seu corpo depois da inicial sensação de
ligação, passa a rejeitar os cristais. Brian passa muito mal, e com Anne segurando sua cabeça,
vomita até o amanhecer.

O Anuncio Oficial

Os Rolling Stones com Brian Jones, oficialmente não existe mais. Mick agora está pressionado
a divulgar a notícia da saída de Brian em função do show em Hyde Park no mês que vem.
Como Keith corretamente o lembrou, "O povo pode não gostar de anunciarmos a saída de
Brian, mas irão gostar ainda menos se simplesmente aparecermos no palco com Mick Taylor."

O anúncio sai em apenas um jornal no dia 9 de junho, Mick intencionalmente tentando ver se a
noticia passa sem ninguém se dar muito conta do fato. Doce ilusão. O assunto se espalha
rapidamente e Jagger é obrigado a dar entrevistas a respeito. Brian é acordado pelo telefone
neste dia, ainda de ressaca da cocaína da noite anterior. Está enjoado mas atende o reporter
do outro lado da linha, lhe dando seu "pronunciamento oficial". Confirma toda a história que é
parcialmente a verdade; Brian estava mesmo se afastando daquele tipo de música e buscando
algo que melhor representasse suas necessidades como artista.

Porém, seu mau humor é provocado ao ver um exército de jornalistas à frente da entrada de
sua residência. Recusa-se a falar com todos, mandando Sra. Hallett dizer que ele já dera uma
declaração e que não irá dar mais nenhuma entrevista a respeito do assunto. Brian se esconde
no seu quarto de som enquanto Anne está tomando banho de sol na piscina. O telefone agora
não pára de tocar, todos querendo saber como ele está. Em Londres, Anita chora com a
notícia, sabendo como Brian é sensível e como a banda era importante para ele. Ela teme que
ele se perca de vez. Keith, enciumado, lembra a ela que Brian vai receber uma grana preta pra
fazer absolutamente nada, portanto não está exatamente na pior. Marianne também chora por
Brian, preocupada com seu futuro. Acredita como Anita que Mick e Keith ao expulsá-lo da
banda, poderão destruir seu amor próprio de forma irremediável. Liga para saber como ele
está, assim como também ligaram Bill, Charlie, Mick, Alexis e incontáveis outros amigos e não
tão amigos.

John Lennon é outro que ligou, os dois passando quase uma hora conversando ao telefone,
Lennon procurando lhe dar força e coragem, e o parabenizando por ter tomado o primeiro
passo na direção de uma nova carreira. Brian sorri e embora ainda inseguro quanto ao futuro,
fala de como pretende montar uma nova banda. Lennon fica feliz com a notícia e vai até
Cotchford Farm passar a tarde com ele. Ficam os dois na sala de som tocando juntos. Depois,
ao se despedir, conversa com Anne sobre a importância do apoio dela para a autoconfiança de
Brian. Deu força para o casal e foi embora, deixando Brian em um estado de espírito otimista.

Brian Em Casa

Neste verão de 69, um dos mais quentes da década, Brian tem prazer e orgulho especial de
sua piscina. Tem nadado todos os dias e às vezes à noite, dado o calor. A piscina é térmica e
tem iluminação noturna. Brian tem como regra não permitir ninguém entrar na piscina sozinho
ou pelo menos, ter alguém do lado de fora vigiando. Ele não esquecera do aviso que teve em
Ceilão e por via das dúvidas, não quer arriscar.

Outro grande prazer que Brian tira é de sua horta. O fato de poder comer comida tirada do seu
próprio quintal lhe é fonte irradiante de prazer. Ao lado de Anne, ele estava vivendo uma
período extremamente feliz e otimista. Até voltara a pegar seu violão, fazendo suas serenatas
na cozinha, enquanto assistia sua jovem namorada aprendendo como cozinhar.

Um dos seus maiores refúgios é o quarto de som que ele montou, onde faz suas experiências
sonoras e grava diversas coisas. Nele se encontravam três máquinas para gravação
profissional, dois órgãos, um piano, além de uma variedade de instrumentos que vão desde
guitarras, várias gaitas de boca, percussões variadas, saxofone, balalaika, accordion, cítara, e
provavelmente mais algumas coisas.

Até o momento, pouco se pode comprovar sobre os arquivos sonoros de Brian Jones. Sabe-se
apenas que ele passou um período muito interessado em sons eletrônicos, música do norte
africano, além de rhythm 'n' blues e rock 'n' roll. Sabe-se também que ele recebeu amigos
ocasionalmente, dos quais gravaram diversos jams, e possivelmente alguns temas mais
estruturados. Os amigos são vários, dos quais, alguns dos nomes são Alexis Korner, Peter
Thorup, John Lennon, Denny Lane, Mitch Mitchell e John Mayall. Surgem como possíveis
títulos de canções, nomes como "Chow Time", "Go To The Mountains", "Sure I Do" e "Has
Anybody Seen My Baby", nenhum confirmado. Sabe-se porém que muita coisa estava
inacabada e a grande maioria, se não tudo, era instrumental.

Brian voltara a ouvir discos. Entre as coisas que ele mais ouve em casa estão discos de
Liberace e Richie Havens. Uma de suas favoritas canções desta época era "The Ballad of John
& Yoko" dos Beatles, que, sempre ao ouvir o refrão "the way things are going, they're gonna
crucify me" Brian sorri em reconhecimento a vivência própria desta sensação. "Nashville
Skyline" de Bob Dylan é um LP que está sempre na vitrola, principalmente à noite, antes de
dormir, onde as letras de "Lay Lady Lay" e "To Be Alone With You" se tornam as favoritas do
casal. Outro disco, este nunca prensado (só anos depois como pirata) que Brian voltou a ouvir
com bastante freqüência, foi a fita rolo que os Rolling Stones fez antes de assinarem com
Andrew Oldham em inicio de 1963 e com Ian Stewart ainda como membro. Vários de seus
convidados pegaram Brian ouvindo esta fita, e declarando claramente que em sua opinião, este
é tranqüilamente o melhor material gravado pelos Rolling Stones. Todavia, de todas as coisas
que Brian estava ouvindo nesta época, nenhum lançamento recente é de maior impacto para
ele do que "Proud Mary" de Creedence Clearwater Revival. Esta nova banda serve de enorme
inspiração para suas intenções musicais futuras.

Um Toque Feminino

Já há um mês morando em Cotchford Farm, Anne começa a querer dar um toque feminino na
casa. Sugere que Brian lhe permita ir decorando o lugar, aos poucos, quarto por quarto.
Garante que bom gosto não necessariamente representa gastar fortunas e Brian consente.

Anne conta que enquanto na cozinha, ouve Brian dando uma relação de mantimentos para
serem comprados para um dos empregados da casa. Intrigada com a quantidade de comida
encomendada, pergunta se irão receber visitas. Brian não entende a sutileza da pergunta, pois
a quantidade solicitada é a mesma de sempre. Ficou evidente para ela que Brian não tinha
nenhuma noção do custo das coisas. Guiado por ela, o casal faz um levantamento do que tem
na casa e montam uma lista de comida para os dois. Ela então leva Brian até o armazém local
com ela, para que ele possa ver e testemunhar por si mesmo, quanto custa cada coisa.

O valor dos gastos semanais caíram a menos de metade e Brian passou a ter um motivo a
mais para confiar em sua namorada. Mas se Brian antes estava comprando comida em
excesso, e toda semana precisava comprar mais comida, para onde iam estes mantimentos? É
através de relatos como este, que percebemos que algumas das queixas que Brian vem
fazendo no último ano podem não ser totalmente fruto de sua paranóia. Outro incidente similar
acontece quando Anne, durante a janta, ao ouvir um barulho, levanta e olha pela janela. Ela
então testemunha três empregados guardando, na mala de um carro, várias sacolas com
legumes tirados da horta. Ela informa Brian que sai furiosamente para enfrentar a situação. "O
Frank nos falou para pegar o que quisermos" teria sido a defesa, Brian mandando devolver
tudo. Seria este um incidente isolado, ou será que o hábito de "pegar o que quiser" também já
estava acontecendo há tempos?

Brian e Alexis

Nos fins de semanas Alexis, sua mulher Bobbie, e os três filhos, visitam a fazenda. Enquanto
Bobbie e Anne vigiam as crianças na piscina, Brian e Alexis conversam caminhando pelo
jardim. Os dois haviam entrado em um acordo onde Alexis o ajudaria a montar uma banda,
encontrando os músicos certos e, ouvindo de fora, melhor ajudando-o a atingir suas metas
musicais.

Brian divaga sobre unir concepções diferentes, juntando o som de uma banda como Creedence
Clearwater Revival, com o gospel de James Cleveland. Suas aspirações incluindo Mezzerow e
Brechet, com Muddy Waters e Elmore James. A idéia aparentemente confusa, poderia
funcionar quando alguém como Brian Jones está envolvido no projeto. Basta ver que se em
1969 ninguém dava a menor atenção para o som criado no norte africano, Brian continuava a
ouvir The Pipes of Pan JouJouka, como se a música fosse a porta do novo. Hoje, estamos
atravessando a porta do novo milênio e Sting está nas rádios fazendo sucesso com um som
emerso em influências daquela parte do mundo. Brian Jones, trinta anos à frente de seu
tempo? É um caso a se pensar.

Alexis, quando convidado a falar sobre Brian Jones, diria que a hojeriza por drogas e a paixão
por bebida pode ter um simbolismo representativo a ser considerado. A bebida pode ser vista
como o passatempo de homens, o oposto do ácido e outras substâncias, que ajudam a nublar
a suposta linha bem definida entre o que é masculino e o que é feminino. Brian poderia estar
querendo conscientemente ou no mínimo subconscientemente, estar se posicionando agora no
extremo oposto ao mundo semi-andrógino que Mick Jagger representa, e que há poucos anos
atrás, ele Brian ajudou a construir. Alexis conclui que, para Brian Jones recomeçar sua carreira,
ele sente que precisa buscar também recriar sua imagem e personalidade própria.

Aliás, quanto à imagem própria, a metamorfose tem sido a olhos vistos. Dono de quase dez
armários apinhados de roupas, sapatos, chapéus e jóias, o homem que ajudou a criar uma
consciência de moda entre os homens, hoje dá as costas para o assunto, vestindo-se muito
casualmente, quase sempre de bermudas e camiseta, ou uma calça bege que se torna sua
favorita para caminhar pelo jardim no final da tarde. Vendeu seu Mercedes e comprou o carro
usado de seu jardineiro. Brian aparenta quer se afastar da mística do estilo de vida de um
superstar.

A Banda Nova

Pouco se sabe sobre os nomes que foram cogitados para esta banda nova. Não houve tempo
para aprofundar muito no assunto, uma banda nunca sendo de fato formada. Sabe-se apenas
que Brian conversou com algumas pessoas. Na verdade era Alexis quem tinha os números
telefônicos de todas os contatos; ele sendo o principal elo de Brian com a geração nova de
músicos. Brian foi aconselhado a optar por tocar com toda uma turma nova de pessoas onde
ele poderia reter melhor o controle sobre o que está se fazendo. Em seu entusiasmo, Brian
combinaria que Alexis faria os primeiros contatos e em seguida ligaria ele mesmo, bagunçando
um pouco a organização. Alexis embora irritado com os furos, entendia que a atitude de Brian
demonstrava bem o interesse com que passou a abraçar o projeto. Keith Richard e outros do
antigo ciclo, sabendo das novidades, ficaram também satisfeitos que Brian estava finalmente
se empolgando com alguma coisa e com isto, passa a ter anseios por uma vida produtiva. Keith
supostamente teria dito "Brian tem sorte em ter um amigo como Alexis."

Que se saiba, entre os músicos que em julho estavam dentro dos planos desta nova banda,
estava Micky Waller, ex-baterista do Jeff Beck Group. Brian também procurara a antiga cantora
Cleo Sylvester, que ele conhecera em 1962, cantando para os All Stars de Cyril Davies.
Surpresa com a chamada telefônica, ela riu da proposta, achando que Brian estava brincando
com ela. Brian insiste que tem um espaço para ela cantar no material novo que ele pretende
montar, querendo saber se pode ou não contar com ela. Cleo acaba concordando em participar
dos ensaios a serem marcados em um futuro próximo.

Junho '69

Este é o Brian Jones em junho de 1969. Muito diferente do Brian Jones de poucos meses
antes. Mais calmo, empolgado e desintoxicado. Nada na sua piscina regularmente procurando
recuperar a forma, intenção reforçada por uma dieta balanceada. Começa o dia com um café
completo com ovos, bacon, torrada, suco e leite. Passa a ler a bíblia à noite, interessado em
seus contos de amor, busca, e fé. É respeitado, querido e protegido pelos seus vizinhos.

Se afasta de praticamente todos os seus antigos conhecidos, uma vez que proíbe toda e
qualquer companhia que venha visitar-lhe trazendo tóxico. Porem há algumas exceções. Alexis
Korner é um que sempre que visita, pede a Anne para passear com ele e mostrar o jardim. É o
código que Anne, Bobbie, e se bobear, até o próprio Brian, já sabem o que quer dizer. Alexis
vai até a beira da floresta fumar um baseado, Anne que o acompanha aproveitando para dar
uns tapinhas também.

Dentro deste ambiente comparativamente mais calmo, não é surpresa que Brian passa a
pensar novamente em seus filhos e na possibilidade de voltar a revê-los, concertando a relação
distante e afastada que ele manteve até então. Fala com certa freqüência em procurar Julian e
Mark, os únicos entre suas crianças, com quem ele tem, ou melhor tinha, algum contato. Ele
também sonha em criar outra família, começando do zero. Segundo Anne, Brian a pediu em
casamento na presença de Frank Thorogood. Ela assustada recusa, estando com apenas um
mês ao seu lado. Ela sabe que Brian é mesmo assim impulsivo. Conversando sobre Marrocos,
se empolga e liga para seu amigo Biron Gysin que mora lá. Manda Anne fazer as malas e
depois muda de idéia, desmarcando tudo. Em outra ocasião, fala em visitar Portugal, planos
que acabariam sendo postergados para agosto quando iriam com o fotógrafo David Bailey e
sua esposa, ambos amigos de Brian e dos demais Stones. E se de uma hora para outra ele
mudar de idéia e não quiser mais ficar casado?

Frank e Tom

A vida não é só de prazeres e amenidades. Na incapacidade de Brian de fincar o pé e brecar


abusos, ele permite a pessoas mais fortes que ele a entrar em sua vida e tomar posse de suas
coisas. Frank Thorogood está entre estes. Provoca Brian, convidando Anne para ir com ele
para Londres. Quando não na sua frente para irritá-lo propositadamente, faz isto pelas costas,
Anne desconversando e tentando se afastar de suas cantadas. Brian e Frank discutiam
freneticamente. Brian por vezes humilhando Frank, o chamando de velho e fracassado,
enquanto ele Brian era jovem, rico, culto e tinha viajado o mundo todo diversas vezes, como
quem diz, ponha-se em seu lugar. Depois Brian passa a se sentir extremamente culpado de ter
humilhado o sujeito e o convida para jantar, Frank novamente comendo, bebendo e morando
de graça, às custas de seu patrão rico e mimoso.

Personagem mais forte e difícil é Tom Keylock. Ele chega com mais alguns amigos e vai logo
pro bar pegando as bebidas e servindo todos. Brian não sabe como mandá-lo embora e Anne
furiosa com sua covardia, se tranca no quarto. Tom é esperto e atua em cima das fraquezas do
patrão. Antes de Anne se retirar, Tom brada sobre o desperdício de sua jovialidade na fazenda
e que ela deveria ir com ele até Londres onde Keylock poderia conseguir para ela um trabalho
como modelo, caso quisesse. Brian é extremamente inseguro e nada fala, Anne dispensando o
comentário com um mero "não estou interessada" e se retirando da sala. Tom enche o copo de
Brian assim que se esvazia, garantindo que Brian fique bêbado rapidamente.

O grupo de homens foram convidados a irem embora, primeiro por Anne, pedido depois
reforçado por Brian, porem são ignorados, com Tom e Frank mudando de assunto e esticando
a conversa. O casal acaba deixando os quatro visitantes na sala e vão dormir. Na manhã
seguinte, Tom e seus amigos continuavam na casa. Brian, agora não estando bêbado, começa
a botar ordem na casa e encara Tom mandando-o sair. Quando a visita finalmente deixou a
casa, Brian estava terrivelmente preocupado que Anne se interessaria em ir para Londres
tentar ser uma modelo e deixá-lo sozinho. A insegurança continuava parte de sua pessoa.

Stephen Fica

Enquanto Brian está redescobrindo os valores da vida no campo ao lado da amada, Bill Wyman
está em meio ao seu processo de divórcio. Se apresentando em corte em maio e novamente
em junho, de terno e gravata pela primeira vez desde o dia de seu casamento, Bill está prestes
a ganhar a custódia de seu filho Stephen. O menino na prática já está sob seus cuidados e
Diana, a mãe, a esta altura não mais disputa o direito de Bill ficar com o menino. Ela reconhece
em corte que o pai tem além de melhores condições financeiras, a devida responsabilidade e
amor para assumir a obrigação. A papelada e o veredicto final sendo concluído em outubro.

Brian Jones no Hyde Park

Mick ainda tinha muitos receios sobre a recepção do público para um Rolling Stones sem Brian
Jones. Ele então começa a conversar com o pessoal do escritório sobre a viabilidade de se
convidar Brian a comparecer ao show. "Pela grana que estamos pagando a ele, não iria matá-
lo aparecer lá para desejar ao novato boa sorte. O público iria gostar de vê-lo." Todos
concordaram que a presença de Brian Jones seria uma atração a mais para o público, porém
poucos acharam que a idéia de chamá-lo não seria extremamente constrangedor. A
incumbência coube a Shirley Arnold, que ligou para Brian, sondando seu estado de espirito
antes de efetivamente fazer o convite.

Brian não ficou muito feliz com a proposta, mas sendo um cara que facilmente se deixa levar,
aceitou pensar a respeito. Jagger ficou fazendo pressão para Shirley arrancar uma confirmação
dele e uma limousine seria marcada para apanhá-lo em Cotchford Farm e trazê-lo até Hyde
Park. Brian lutou com a idéia por vários dias e embora nunca chegou a confirmar oficialmente
que iria, é provável supor que ele fosse ao show, mesmo a contra gosto.

Caçando Em Redlands

O verão está cada dia mais quente, com o sol cada dia se pondo mais tarde. E os ratos que
habitam junto ao fosso de Redlands estão cada vez mais numerosos e ameaçadores. Keith
resolve tirar uma tarde para resolver a questão. Encontra um par de espingardas, e escala o
seu assistente para assistí-lo na caça aos roedores.

Se posicionam atrás de uma moita e utilizam uma galinha morta como isca, colocada entre a
moita e o fosso. Apertam um baseado e esperam. Não levou muito tempo e logo apareceu o
primeiro ratão. Como um general em batalha, Keith observando seus movimentos, dá ordem
para aguardar a possível vinda de mais invasores de suas terras.

Dito e feito, logo haviam quatro ratazanas roendo a carne. Silenciosamente Keith e seu
comparsa deitam na grama, tomando mira. Dado o sinal, o tiroteio inicia, quebrando a
monotonia da tarde silenciosa. Ao cessar fogo, os quatro ratos estavam mortos. Keith pega os
cadáveres pelo rabo e os amarram na cerca de arame farpado na frente da casa. À noite,
quando Mick e Marianne chegaram, perguntavam sobre os objetos que viram de relance na
cerca. "São os meus ratos. Serão servidos no jantar." responde Keith com um sorriso
maquiavélico. O incidente seria eternizada na canção Live With Me na frase "A friend of mine
shoots water rats."

Insegurança

Insegurança e ciúmes são ainda a grande fraqueza e defeito de Brian Jones. Ele se recusa a
ficar sozinho e pede insistentemente que Anne o acompanhe em todos os momentos. Até
quando Anne vai para o banheiro fazer suas necessidades naturais, Brian a segue, sentando à
beira da banheira esticando conversa. Anne quer um pouco de espaço para ela poder ficar a só
e o problema, embora contido, continua durante o relacionamento entre os dois.
Anne passa a ir a Londres ocasionalmente, inicialmente para pegar todos os seus pertences,
depois com a desculpa de matar saudade da cidade e das amigas. Brian lida com a situação de
forma elegante mas quando um amigo mútuo, conhecido freqüentador de um clube noturno liga
para falar com ela, Brian fica irado, explodindo em ciúme, arrancando o fio do telefone da
parede. O casal discute com rancor e Anne imediatamente ameaça voltar para Londres, indo
para o quarto fazer as malas. Brian corre atrás e implora que ela fique, pede desculpas em uma
cena diga de uma novela xarope. Anne rapidamente descobre que tem Brian totalmente a seu
mercer ao anunciar que o deixaria. Ela o obrigou a jurar jamais levantar a mão para ela
novamente, depois desfez as malas e ficou.

Violência

Porém a promessa foi efêmera. Brian na manhã de outro dia mexeu na bolsa de Anne e
encontrou pílulas. Anne tomava secretamente Durophet e Mandrax de vez em quando, para
ficar alta. Os anos sessenta eram mesmo da cultura das drogas e ela manteve seus vícios na
moita para não ofender Brian. Mas ao descobrir o segredo, ele ficara furioso e acordou a
menina a tapas. Jogou-a no chão, derramando as pílulas no banheiro e jogando tudo na
privada. Depois deu alguns tapas na cara de Anne, enquanto aos berros gritava "Você está
louca! Não entende como essas drogas são perigosas?!"

A esta altura, refeita do susto, Anne se levanta furiosa e avisa logo que vai embora. Se defende
dizendo que o histórico dela com drogas é diferente que o dele, que o seu uso não lhe era
destrutívo como foi o dele, e que é inaceitável que se mecha em sua bolsa enquanto ela está
dormindo. Brian tenta acertar a situação, explicando que está só preocupado com o bem dela e
tal, mas a merda estava feita e Anne chamou um táxi, juntou algumas coisas e foi embora.

Brian também tomava Mandrax e Valium, com recita médica para ajudá-lo a dormir. Todavia
ele tem medo de ficar dependente destes remédios portanto só usa de vez em quando, em
noites mais desassossegadas. Desde que passou a nadar e procurou cuidar melhor do físico,
Brian também se cansara de sua barriga e procurou um médico que lhe receitou o mesmo
Durophet, que ele encontrou na bolsa de Anne. O remédio serve para ajudá-lo a emagrecer.
Brian concebe agora que ele reagiu exageradamente e que acabou perdendo o que ele queria
tão desesperadamente assegurar.

Em Londres, bastou Anne ir a um médico para conseguir uma nova receita e com ela, comprou
novos tabletes de Mandrax e Durophet, suas drogas de escolha. Com as drogas na mão, e já
passados metade da semana pernoitando na casa de amigo(a)s, Anne está com saudade de
casa e de Brian. A raiva passa e ela pega o trem de volta para Hartfield. Ao chegar, abraços e
beijos selam a paz. Brian nunca mais comenta sobre as drogas mas começou a insistir que
Anne passasse a se comunicar mais com sua família na Suécia. Ajudando a estreitar os laços
familiares de Anne, Brian de quebra ganha uma namorada que aprende a receita de
almôndegas, especialidade da culinária sueca. Por sua vez, Anne também sem muito esforço,
acaba por diminuir seu uso das pílulas. Tanto que quando tomou um Mandrax para relaxar
certo dia, acabou apagando. Quando acordou, Brian estava histérico, e havia jogado ela
debaixo do chuveiro frio. Segundo conta a própria Anne, foi assim que ela resolveu deixar de
vez o uso de Mandrax e Durophet.

A Família

Brincando com Emily, a cadela cockerspaniel, Anne conta de como quando era criança,
sonhara em ter filhotes desta raça. Brian muito naturalmente topou a idéia. Acostumado a
apenas querer para ter qualquer coisa material, não demorou muito e três filhotes chegavam à
casa, entregues por um criador local. Eram duas fêmeas, uma vermelha que foi chamada de
Lolita; a outra, amarela, ganhou o nome de Baby Jane; e por último, um macho negro, que
atendia pelo nome de Boy. Os três cães dormiam na cozinha sobre a supervisão de Luther e
ajudaram a dar ainda mais vida e alegria jovial à casa.

É graças aos filhotes que Brian e Anne passaram a dormir mais cedo para acordarem de
manhã, assumindo a obrigação de alimentar os bichos com seriedade. É verdade que Brian
fazia certa resistência, tentando empurrar a incumbência para Anne mas em geral o casal
nutria e cuidava dos animais juntos. Esta alegria trazida pelos novos membros da família levam
o casal a cogitar comprar outros bichos como cavalos e/ou galinhas. Brian também voltou a
falar em casamento e ter filhos. Fala da saudade que sentia de ter uma criança acordando-o de
manhã cedo ao som de “papai, papai”. Coisa que ele não soube aproveitar quando mais novo.
Brian analisa sua relação com Julian e Mark, dizendo que teve interesse em ser pai do filho de
Pat Andrews com quem viveu por algum tempo mas as exigências do trabalho, como também a
sua própria ganância em querer atingir o sucesso, lhe eram naquele ponto de sua vida, mais
importantes. Quando teve um filho com Linda Lawrence, ele já estava totalmente tomado pela
sua carreira e a vida louca que a popularidade dos Stones lhes oferecia. Brian agora fala de um
futuro próximo, quando ele poderia chamar os dois meninos à virem visita-los em Cotchford
Farm, onde passariam as férias escolares. Assim, ele voltaria a ter uma participação na vida
deles.

Brian também fala em ter outra criança. Volta a pedir Anne em casamento, que conhecendo a
impetuosidade do namorado e como ele de repente pode mudar de idéia, novamente recusa.
Todavia, Brian não tem dúvidas em sua mente, e segue seu raciocínio separando um dos
quartos vagos da casa para ser o berçário. Depois, passa a misturar tintas até encontrar uma
cor para as paredes que lhe agrada. Batiza a cor de Azul Marroquino e com Anne ao seu lado,
passam a pintar o quarto da futura criança. Anne deseja crianças, porém em um futuro
longínquo. Contudo, em parte, não quer estragar o prazer de Brian sonhar, por outro lado,
encantado com a casa e com a vida que está levando, começa a cogitar se o destino já não
estivesse querendo lhe dizer que está mesmo na hora. Brian sonha com uma filha a que
escolheu o nome de Johanna.

Lucifer Rising

Kenneth Anger tem o sonho de fazer um filme que seria seu grande testamento
cinematográfico. O filme se chama Lucifer Rising que Kenneth começou a filmar em San
Francisco no final de 1966. O filme seria descrito como sendo sobre a guerra sagrada entre a
era Pisciana em que viviam e a era de Aquarius que chegava. O duelo seria apresentado
através do conflito entre os adolescentes e seus país. Anger diria para o jornal The Sunday
Ramparts em abril de 1967, "O filme é sobre a Geração do Amor, porém de forma profunda,
como a quarta dimensão. A temática trata do amor, de sua violência e sua ternura. Uma guerra
que se alastra. Uma guerra sobre vida e morte, amor e ódio. O filme Lucifer Rising é uma
profecia. Vejo o amor encorpado dos jovens como o grande vencedor."

Porém vários empecilhos vêm atrapalhando seu projeto. Primeiro, o ator principal. O primeiro
rapaz para fazer o papel de Lucifer-garoto, é um menino de cinco anos chamado Godot. Ele
morre repentinamente ao cair de uma janela. Outro a fazer Lucifer foi um esbelto jovem
afeminado que se apresentou como sendo Joe Lucifer. Hospedou-se na casa de Anger onde
Kenneth aprendeu que Joe havia fugindo de um manicômio. Este fato não incomodou Kenneth
porém depois de preparar tudo para iniciar filmagens, Joe Lucifer sumiu sem deixar vestígios.

O próximo a fazer o papel de Lucifer foi um guitarrista da California chamado Robert K.


Beausoleil. Juntos, aprofundam-se em estudos sobre satanismo, participando de cerimônias
pagãs. Anger ajuda a montar uma banda que ele batizou de Magick Powerhouse of Oz. Nele,
Beausoleil toca guitarra e cítara. No final do verão de 67, uma tremenda orgia foi realizada na
igreja Metodista da rua Ellis, com vários adoradores de satã, hippies, e largados de San
Francisco presentes. O evento, chamado então de Love-in, foi repetido no dia 21 do mesmo
mês, desta vez realizado no Straight Theatre em Haight Street, onde se pagou ingresso de
entrada. O dinheiro seria revertido para pagar o restante do filme. Pessoas trepavam enquanto
a banda Magick Powerhouse of Oz tocava totalmente nus. Anger realizou uma cerimonia ritual
mágica enquanto tudo era filmado para ser utilizado em Lucifer Rising.

Foi nesta época também que Beausoleil conheceu Charles Manson e impressionado com ele,
abandonou tudo para seguí-lo. Beausoleil roubou o carro de Anger que continha equipamento
cinematográfico além de várias cenas do filme, que acabaram perdidos para sempre.Só se
teria noticia de Beausoleil novamente em julho de 1969, quando ele foi preso e
responsabilizado pelo assassinato de um professor de música chamado Gary Hinman, morto
com requintes de crueldade que ficariam notórios e para sempre relacionados com a Família
Manson. Beausoleil foi condenado a prisão perpétua cumprida na Tracy Prison onde ele
continua residindo até o presente.

Com o desaparecimento de seu terceiro Lucifer, Kenneth Anger aparece agora em Londres no
final do verão de 1968, onde opta por convidar Mick Jagger a assumir o papel. Anger quer
recomeçar filmagens e precisa apenas angariar fundos para isto. Jagger enrola enquanto pode
mas no final dispensa o convite. Todavia, ele concorda em escrever e gravar uma trilha sonora
para o filme. Em outubro de 1968, Kenneth Anger voltou a filmar algumas cenas internas e
editar o trabalho, tendo entre os atores, participação de ninguém menos que Chris Jagger,
irmão de Mick. O vocalista dos Rolling Stones gravou um tema instrumental no seu Moog, que
ele havia ganho da companhia um ano antes, e entregou a fita para Anger usar no filme. Sem
ainda fundos para recomeçar a filmar em grande escala, Kenneth Anger edita todo o material
que ele tem até o momento, e lança até o final de 1969, com o nome de Invocation of My
Demon Brother.

A história da criação do filme Lucifer Rising é uma saga em si, contendo participações da rede
de televisão alemã NDR que banca novas filmagens, agora na Alemanha e no Egito;
participações de Marianne Faithfull como atriz em 1970 e Leslie Huggins como o novo Lucifer
(que como os seus predecessores, andou sumindo e reaparecendo e depois sumindo
novamente); Jimmy Page contratado em 1973 para fazer a restante da trilha sonora, sendo
despedido em 1976, a National Film Finance Corporation e mais The National Endowment for
the Arts que contribuíram com mais financiamentos para o filme. Finalmente o filme foi acabado
em 1981, com ajuda (pasmem) novamente de Robert Beausoleil, que gravou a outra parte da
trilha sonora da cadeia.

Sustentação

No ultimo domingo de junho, Anne recebe uma chamada internacional de um amigo da Suécia.
Conversando na língua mãe com o homem, Brian começa a circular na cozinha tentando
entender do que o assunto se trata. De uma hora para outra Brian pula sobre ela, caindo os
dois no chão. Em seguida se ouve um estrondo. Dissipada a poeira, enquanto se refaziam do
susto, aos poucos vão se dando conta do que havia acontecido. Uma das vigas de sustentação
caiu, uma ponta apoiada sobre a mesa, a outra no chão, parando ao lado da cabeça de Anne.
Se Brian não tivesse pulado na hora que pulou, certamente ela teria se ferido bastante, ou pior,
estaria morta. Brian tira Anne da cozinha, voltando apenas para inspecionar rapidamente as
outras vigas.

Depois do susto, a raiva toma conta de Brian que culpa Frank Thorogood pelo acidente. Está
certo de que Frank tem interesse em deixar a obra rolar frouxa pois assim ele pode continuar
vivendo às suas custas. Brian fala agora ríspido, querendo se ver livre de Frank, para a alegria
de Anne que nunca confiou mesmo neste obreiro assanhado. Brian vai pro telefone falar com
seu contador para bloquear todos os pagamentos para Frank, assim como também pedindo
que lhe mandem todos os recibos e faturas emitidos por Frank, relacionados com a obra. Brian
está certo que irá encontrar alguma discrepância nestas contas. Antes do almoço chegar, Brian
já estaria falando que Frank tentara matá-lo de propósito, sua neurose já a pleno vapor.

Na manhã seguinte, Sra. Hallett chega e está surpresa em ver a viga caída na cozinha. Consta
que quando Anne conta como foi o ocorrido, ela comenta, "Como que algo assim possa
acontecer? Sr. Jones tem um coração grande demais. Já percebi que as pessoas tendem a
tomar vantagem dele por isso. Espero que ele consiga tomar a devida atitude desta vez." Ao
acordar, Brian está intimidado com a idéia de mandar Frank embora. Começa a cogitar que a
culpa na verdade é sua, que deveria ter vigiado melhor a obra. Anne briga com ele pela
covardia e logo Brian volta a falar em não aceitar mais desculpas de Frank. Para levantar seu
astral, coloca o disco do Creedence Clearwater Revival na vitrola e vai escovar os dentes.
Depois desce para se encontrar com Frank que acabara de chegar.

Brian discute aos berros, reclamando de tudo, desde a qualidade do trabalho, ao uso abusivo
de seu bar. Frank muito calmamente se desculpa pelo ocorrido assumindo a culpa uma vez
que a responsabilidade é sua. Confirma que irá pedir a alguém para ajeitar a bagunça, porém
iria custar um pouco mais para refazer o serviço. Brian prontamente grita como um sultão todo
poderoso, "Não me importo o preço, isto é problema seu. Tem mais, está despedido!" Frank
fica em silêncio enquanto Brian continua falando, ameaçando que irá ver que Frank nunca mais
consiga um serviço e que não só bloqueou todos os pagamentos, como também mandou ser
feita uma análise de todas as suas faturas até então. Depois manda Frank chamar seu pessoal
para concertar imediatamente a viga, caso contrário, ele irá processá-lo.

Brian então vai para sua sala de som onde Anne depois o encontrou. Ficou lá tocando violão
por uma hora, depois colocou sua fita dos flautistas de JouJouka. A música o acalma e o leva
para um lugar melhor. O casal ficou trancado lá por horas, ouvindo várias de suas gravações
mais recentes, Brian evitando assim sair e encontrar novamente com Frank. No final do dia, a
viga estava no lugar e Frank havia sumido.

Brian começa a falar com Anne de como Frank tem mulher e filhos e que ele não iria procurar
prejudicá-lo. Teme que talvez ele não devesse ter agido com Frank da maneira que fez. Ele
então liga para Alexis Korner para contar o ocorrido e pedir sua opinião, Alexis evidentemente
dando lhe total apoio. Não satisfeito, Brian liga para outras pessoas, uma delas Keith Richards,
que resumiu seu pensamento assim, "Você é maluco em deixar este cara trabalhando na tua
casa por tanto tempo! Nunca deixe um gato entrar no seu terreno. Se você trata-lo bem, ele
sempre voltará para mais".

Frank foi passar uns dias em Londres, mas deixou sua amante, Janet Lawson, morando lá
naquela semana. O fato de Frank ter convidado Janet a morar lá por algum tempo, sem sequer
consultá-lo, deixa Brian novamente furioso.

A Festa

Brian Jones, preocupado que sua namorada Anne possa estar entediada com a vida
excessivamente sossegada do campo, prepara uma festa com intuito meramente de
socialização. Na festa, entre os convidados, estava Frank Thorogood, que acaba entrando em
outra discussão pesada com Brian sobre £8000 em despesas não definidas. No outro dia, Brian
está novamente agindo como se estivesse com remorso por ter judiado de Frank em frente de
todos. Anne comenta que não entende o porque da importância que Brian dava para o que
Frank pensa ou deixa de pensar dele. Brian mesmo não sabe explicar, apenas sabe que quer
que Frank entenda suas razões por despedi-lo para que não haja ressentimentos.

O assunto é esquecido até a noite quando Brian volta a comentar na sua necessidade de falar
com Frank e deixar a coisa toda explicada e resolvida. Por volta das oito a dez da noite, Brian
decide ir pessoalmente chamá-lo para um drink. A noite de verão é quente e o convite se
estendeu para um mergulho na piscina. Brian volta então com Frank e Janet, a que foram
servidos drinks; Frank tomando vodka, Brian brandy, e Anne vinho. Janet aparentemente não
bebeu.

Frank bebia calado enquanto Brian falava que não tinha mais raiva dele e pedia para que Frank
entendesse sua posição. O calor da noite e o álcool, fizeram a idéia da piscina mais do que
convidativa e a reunião naturalmente seguiu para lá. Brian, Anne e Frank entraram na água
enquanto, Janet mais preocupada com problemas pessoais, declina o programa e permanece
na sala. Ela porém menciona certo receio quanto aos dois homens tendo bebido, irem agora
nadar.

Na Piscina

Brian está sempre à vontade na piscina e brinca alegremente, mexendo com Frank e tentando
fazê-lo rir. Frank está tenso e não muito a fim de brincar. Brian com seu humor, começa a
sacanear Frank tentando arrancar-lhe alguma reação. Começa a chamá-lo de um velho
carrancudo, o que deixou Frank irritado. Ele devolve chamando Brian de um roqueiro
decadente e metido a estrela. Brian apenas ri. "É melhor do que ser um mestre de obra. O
dinheiro é melhor e as mulheres correm atrás de mim e não o contrário." Com cada resposta,
Frank ficava mais furioso.

Brian nada em direção a Frank que aproveita a oportunidade para lhe dar um caldo, segurando
sua cabeça abaixo da superfície da água. Brian depois sobe buscando ar tossindo. Depois ri,
levando tudo na brincadeira. Ficaram os dois se sacaneando mutuamente enquanto Anne fazia
exercícios do outro lado da piscina. Janet que ficara na sala, vem à piscina chamar Anne para
atender uma ligação. Porém, quando Anne atende o telefone, a linha havia caído. Ela aproveita
para trocar de roupa, a tempo de atender a ligação quando o telefone chama novamente. Do
outro lado da linha está uma amiga sueca que está em Londres, as duas meninas comentam
alegremente nas ultimas fofocas londrinas.

Neste ínterim, Janet havia ido dar uma caminhada pelo jardim. Ao retornar, cerca de dez
minutos depois, a piscina estava deserta, embora a água trêmula. Ao se aproximar, encontra o
corpo de Brian no fundo e sai gritando por socorro. "Anne! Anne! Algo aconteceu com Brian!"
Anne larga o aparelho e corre passando por Frank na sala, suas mãos trêmulas tentando
acender um cigarro. Ao chegar na piscina, viu o corpo de Brian estendido no fundo. Ela
prontamente pula e tenta tirá-lo da água mas ele é pesado demais. Anne grita por ajuda
enquanto Janet apenas assiste a tudo, não sabendo nadar, nada mais pode fazer. Frank então
vem (diz Anne, sem pressa), cai na água e ajuda a tirar o corpo.

Brian ainda está vivo. Ele está inconsciente mas há pulso. Janet é enfermeira e imediatamente
tenta reavivá-lo com massagens no coração enquanto Anne fazia respiração boca a boca.
Frank encaminha-se de volta para a casa para chamar uma ambulância. A mão de Brian de
repente agarra o braço de Anne bem ao seu lado. Anne insiste na respiração boca a boca mas
Janet já não sente mais nenhuma pulsação. "Anne, não há mais o que ser feito."

Frank Thorogood, antes de chamar uma ambulância, telefonou para seu amigo Tom Keylock.
Ele não estava, sua mulher Joan sendo quem atendeu. Foi Joan que ligou para o Olympic
Studios procurando por Tom. Ian Stewart atendeu. "Tom tem que ir imediatamente para
Cotchford Farm." "É mesmo?" ri Stu, “o que aquele idiota fez desta vez?" "Ele está morto." E de
repente um peso o invade.

Tom Keylock liga para o advogado dos Rolling Stones, Les Perrin e depois segue correndo
para Cotchford Farm. Lá chegando, vasculhou primeiro a casa procurando limpar evidências de
qualquer flagrante (como possivelmente tentando encontrar algum dinheiro solto), antes da
chegada eminente da polícia.

Fim da História

Anne estava abraçado ao corpo ainda morno, chorando, quando a ambulância chegou. Os
médicos utilizando uma bomba, ainda tentaram trazê-lo de volta porém sem nenhum resultado.
Tiveram trabalho para tirá-la, agarrado a Brian que estava, para poderem colocar o corpo na
maca e levá-lo até a ambulância. O médico então mandou chamar a polícia.

Anne em estado de choque foi levada até o quarto onde um médico ficou ao seu lado, vigiando-
a. Um amigo, Jim Carter-Fea, dono do Revolution Club em Londres, por acaso ligou da boate
naquele momento e Anne contou-lhe aos prantos o ocorrido. Depois o médico oferece aplicar-
lhe um sedativo para que ela possa dormir, porém ela recusa desconfiada. Exausta de tanto
chorar, acaba dormindo sem auxílio farmacêutico. Enquanto isto, em Londres, no Revolution
Club, Jim Carter-Fea, ao desligar a chamada, foi até a pista de dança, mandou desligar o som
e os efeitos de luz, e pediu um momento de silêncio para um grande artista, anunciando assim,
a morte de Brian Jones.

Paralelamente, a policia local já chegara, com Les Perrin chegando em seguida. Tom Keylock
recebe o Detetive Inspetor Chefe Ron Marshall e seus homens, supervisionando toda a
operação como se ainda fosse empregado do Brian e portanto responsável pela casa. Les
Perrin ligava para seus amigos dentro da imprensa dando o furo de reportagem. Ninguém ligou
para os pais de Brian. Somente a policia, depois de investigar todo o terreno da casa, ao
voltarem para a delegacia, é que ligam para Cheltenham e informam a família Jones.

Mick, Keith e Charlie ficaram pasmos com a notícia, sem saber ao certo o que pensar. Charlie
literalmente começou a chorar. Instintivamente Mick e Keith acharam inacreditável a hipótese
de Brian morrer afogado na piscina. Brian sabia nadar melhor do que qualquer um deles. Bill
que já havia retornado para casa, foi acordado no meio da noite por uma ligação de Charlie
ainda no estúdio. Bill amargurado e em choque com a notícia, conta que abraçou-se a Astrid e
começou a chorar.

Dia 3 de Julho de 1969

Ao amanhecer, Tom e Les fazem uma caminhada pelo terreno onde encontraram o inalador de
Brian com remédio contra ataques asmáticos, localizado perto da piscina. Por alguma razão, a
policia aparentemente não encontrou esta evidência. Por volta das sete da manhã, a rádio BBC
estava anunciando que o líder dos Rolling Stones havia morrido. Algum conhecido ligou para
Keith mas foi Anita Pallenberg quem atendeu. "É verdade que Mick morreu?!" foi a pergunta
feita. "Mick!? Deus não! Foi apenas o Brian" foi a resposta da mulher a quem Brian mais amou
e cujo amor ele nunca conseguiu de volta.

A frente da casa foi rapidamente sendo tomada pela imprensa, Tom Keylock guardando a
entrada. Quando Anne finalmente acordou por volta do meio dia, Keylock teve uma conversa
com ela, dando-lhe as ordens do que fazer e do que dizer. A menina, uma estrangeira de vinte
e poucos anos, foi facilmente intimidada, sem ter em quem confiar. Anne conta que em certo
momento, começou a duvidar se tudo foi mesmo um acidente. Assim, ela logo começou a
também temer pela própria vida.

Ela foi instruída a se vestir como um menino para despistar a imprensa que não a conhecia.
Anne foi levada para dar seu testemunho, colocada sentada do lado de Frank Thorogood.
Frank aproveita a oportunidade para sussurrar em seus ouvidos, "Lembra de dizer que foi Brian
que me convidou para a casa. Pense bem no que vai dizer para a polícia. A única coisa que
precisa contar é que Brian andou bebendo e que acabou se afogando. Foi um acidente."

A Versão Conhecida

Frank, Janet e Anne deram seus testemunhos. O consenso criou a seguinte versão que é a
mais conhecida como oficial do que ocorreu naquela noite. Frank, Janet, Brian e Anne estavam
bebendo e conversando na sala quando de repente, Brian insistiu que queria tomar um banho
de piscina. Frank e Anne trocaram para roupa de banho e foram com ele para vigiá-lo. Frank
conta que Brian não estava bêbado mas sua fala já estava um pouco arrastada. Janet conta
que Brian queria pular do trampolim e Frank teve que ajudá-lo a andar até a ponta, por recear
que ele perderia o equilíbrio, caindo e batendo a cabeça na tábua.

Janet ficou de fora mas, entediada com a conversa, voltou para a sala. Depois chamou Anne
para atender um telefonema. Frank não demorou muito, saiu para pegar uma toalha e acender
um cigarro. Janet ao perceber que Brian estava na piscina sozinho voltou imediatamente para
vigiá-lo e o encontrou no fundo. Frank chegou e chamou por Anne, que veio correndo. Pularam
juntos para socorrê-lo. Fizeram massagens no coração e respiração boca a boca, porém já era
tarde. Uma ambulância então foi chamada.

Dispersão

Keylock cuidou de tudo. Mandou Frank voltar e pegar suas coisas no bangalô em cima da
garagem cedido pelo Brian e voltar para sua casa, sua mulher e seus filhos. Janet também
pegou suas coisas e voltou para seu esposo em Londres. Ele então vai até o quarto de Brian
onde Anne está tentando se refazer do choque e manda ela pegar uma bolsa e algumas de
suas coisas. Ela é informada que o local todo precisa ser inspecionado pela polícia e portanto
ela não podia levar quase nada. Dentro de alguns dias ela poderia retornar para pegar os
demais pertences. Anne é então levada para o escritório dos Rolling Stones em Londres onde
teve que aguardar uma hora até ser recebido por Les Perrin. Depois ela é levada até o
Londonderry Hotel, onde estavam hospedados Bill Wyman e sua namorada sueca Astrid. A
intenção era de oferecer a Anne alguma possibilidade de relaxar e acalmar, estando com uma
conterrânea.

Rolling Stones Inc.


Enquanto isto, no escritório dos Rolling Stones, Alexis Korner liga de manhã, assim que soube
da noticia. Shirley Arnold, presidente do Fã Clube atende e conversam rapidamente. A
conversa é interrompida com Korner caindo em uma crise de choro, acompanhado de perto por
Shirley na outra ponta da ligação.
Aos poucos, todos os cinco Rolling Stones chegam, cada um tentando entender o que se
passava, ninguém muito certo. Havia um show marcado da banda dentro de dois dias em Hyde
Park. Como fazê-lo? Mick Jagger então decreta, "Naturalmente vamos ter que cancelar." Foi
Charlie Watts que de repente sugere. "Podíamos fazer o show como uma homenagem ao
Brian." A idéia é imediatamente aceita por todos. Mick Jagger então dá inicio à máquina de
publicidade anunciando aos quatro ventos que o show no Hyde Park seria realizado agora
como um memorial a Brian Jones. "Entendo como algumas pessoas vão se sentir, porém
pensamos muito a respeito e resolvemos fazer o show por causa dele." Cancelaram uma
sessão de fotos porém foram para a BBC-TV e filmaram um seguimento para o programa Top
of the Pops, como ditava o cronograma do dia preparado no inicio da semana.

Tanto Anita quanto Marianne estavam em choque com a noticia da morte de Brian. Cada uma
reagiu de uma maneira. À noite, Mick e Marianne freqüentam uma festa dado pelo Príncipe
Rupert Lowenstein no jardim de sua residência em Kingston. Mick conta com a possibilidade de
que Lowenstein se torne um aliado valioso para seu plano de resolver definitivamente as
pendências legais da Rolling Stones Inc. Na festa, Mick socializou com demais convidados
entre os quais estão a Princesa Margaret, irmã da Rainha, Lord Harlech, Lord e Lady Tavistock,
além dos atores Peter Sellers e Peter Wyngarde. Mick vestiu sua roupa branca que seria
imortalizado no dia 5 durante o show do Hyde Park. Entre as três bandas que tocaram para o
evento, estava um grupo pouco conhecido chamado Yes.

A Entrevista

Foi dada uma suite particular para Anne no Londonderry Hotel. Ela foi informada que o hotel
estava cercado de jornalistas querendo entrevistá-la e portanto haveria alguém do escritório no
corredor para guardar sua porta. Ela conta que lá permaneceu por horas sozinha, se sentindo
prisioneira em uma gaiola dourada. Um amigo dela porém consegue entrar em contato pelo
telefone e Anne conta de suas suspeitas quanto a Brian não tendo morrido por um acidente.
Mais tarde ele entra novamente em contato dizendo que teria um jornal interessado em pagar-
lhe £50.000 pela história. Manda ela se encontrar com ele imediatamente mas Anne fica de
voltar a chamar. Anne conta hoje que, idealisticamente pensava que seria uma maneira dela
poder contar a verdade. Sua inocência a leva a ligar então para Astrid e perguntar o que ela
achava da proposta.

Menos de três minutos depois alguém do escritório entra no quarto e a manda seguí-lo. Anne é
levado para algum lugar onde encontra com dois outros homens que ela não sabe identificar
quem sejam. Um deles pergunta quanto ela quer para ficar calada, se £50.000 seriam o
suficiente, ou talvez ela preferia £100.00. Anne recusa qualquer dinheiro, o que deixa a pessoa
espantada e é depois de meia hora, levada de volta para o hotel.

Na manhã seguinte passa mal, vomitando. Depois, enquanto os Rolling Stones estão tocando
no Hyde Park, Anne é levada novamente por alguém, desta vez para o escritório de Les Perrin
que obrigou-a a assinar um documento dizendo que ela não poderia dar nenhuma entrevista
nem escrever nada a respeito dos Rolling Stones ou Brian Jones, sem antes passar pela sua
aprovação. Com o documento assinado, Perrin promete conseguir ajudá-la a encontrar algum
lugar para morar dentro de Londres, pois ela não poderia ficar mais em Cotchford Farm. Apesar
de Tom Keylock ter prometido que ela poderia ficar com a cadela Emily, todos os cães foram
entregues a um canil para revenda no mesmo dia da morte.

Hyde Park

Havia um excesso de pólen no ar inglês, o que é relativamente normal para a época do ano.
Mick Jagger começou a sofrer com febre, os olhos lacrimejando e até as vésperas do show no
Hyde Park, ele estaria com laringite. O parque totalmente tomado por gente, foi o maior público
em um show público na história da cidade, recorde mantido até hoje. Mick subiu ao palco
naquela tarde movido puramente a adrenalina e cocaína.
As Versões

A noticia da morte de Brian Jones se espalha rapidamente nos dois lados do Atlântico e
atingem as pessoas de forma diferente. Ex-namoradas pareciam ainda sentir compaixão e
sinais de amor pelo guitarrista. Porém pessoas dentro do meio começam a cogitar e
literalmente inventar versões para o acidente.

Uma das primeiras versões dão conta de que Brian havia se suicidado. Esta hipótese foi
vastamente espalhada por pessoas que não conheciam Brian Jones direito, apenas sua
reputação de junkie. Porém até os amigos mais chegados, que o conheciam melhor, não
puderam colocar totalmente de lado a hipótese. Não que Brian teria planejado se matar, porém
que, uma vez debaixo d'água, não era totalmente impensável cogitar que Brian pudesse abrir
mão da vida.

Entre as várias versões desta história, estão a de que Mick Jagger havia roubado uma
namorada de Brian similarmente como Keith havia feito em relação a Anita. A tristeza da perda
e a humilhação o levando ao suicídio. Garantem existirem provas concretas que sustentam
esta versão, porém os Stones pagaram todo mundo para esconder a verdade e proteger a
imagem da banda.

Outra versão igualmente popular é de que Brian havia tomado muito álcool, misturando com
drogas e enquanto estava na piscina, teve um ataque de asma. Estando bêbado, acabou se
afogando. Uma variação depois largamente aceita como verdade conta que ele teve câimbras
e estando bêbado e sobre a influência de um barbitúrico, acabou se afogando.

Suspeitas recaiam sobre a idéia de que estava havendo uma festa naquela noite, a casa
portanto estando cheia de gente tomando todo tipo de narcótico e curtindo a noite de verão.
Quando Brian foi encontrado afogado, todos sumiram, ficando apenas os que estavam
morando na propriedade, Tom, Janet e Anne. Até Mick e Keith estavam propensos a acreditar
nesta historia conhecendo como Brian podia ser facilmente manipulado pelos outros. Keith
chegou a falar com um repórter "Talvez tivesse mesmo uma festa lá, com dúzias de pessoas
que sumiram de repente. Mas ninguém lá iria querer matar Brian e talvez seja mesmo melhor
não envolver desnecessariamente pessoas. Não tenho a minima idéia do que realmente
aconteceu naquela noite. Talvez ele foi mesmo tomar um mergulho e teve um ataque de asma.
Havia alguém contratado para cuidar dele portanto algo assim não deveria ter acontecido."

Afinal houve uma festa, ou houve uma reunião? Seria a festa supostamente realizada dias
antes na verdade sido realizado no dia 2? Seriam estes dois eventos na verdade um só? Outro
cenário para a noite conta que não houve festa alguma. Que Brian não queria fazer as pazes
mas sim expulsar seu mestre de obras da residência. Brian estava em casa a sós com Anne e
muito irritado com Frank Thorogood, por ele ter recebido sua amante sem antes consultá-lo.
Hartfield é uma cidade pequena e Brian não deseja ter problemas com falação de vizinhos.
Esta versão sugere que Brian, preocupado com esta situação, estava se mexendo muito na
cama. Ele então tomou uma pílula para dormir mas ainda assim não conseguia. Resolveu
então levantar e chamar Frank e sua amante Janet, para expulsá-los da casa.

Frank prontamente recusa e passam a tomar uns drinks enquanto discutem. Esta reunião, é
que seria depois chamada de festa. O que reforça esta teoria é a concepção de que se Brian
fosse dar uma festa, porque teria tomado uma pílula para dormir? Sem conseguir expulsá-los,
Brian resolveu dar um mergulho na piscina. A água está constantemente aquecida e a piscina,
iluminada. Por ter tomado a pílula para dormir, somados a bebida e a temperatura morna da
água, é aceitável presumir que Brian acabou por dormir dentro d'água, e se afogou.

O pai de Brian, Sr. Lewis Jones, irritando-se com a menção da palavra drogas em todos os
jornais, escreveu uma carta para a polícia afirmando que a droga encontrado no corpo de seu
filho foi receitado por um médico e que havia uma receita para confirmar isto. Portanto
poderiam investigar este fato e ter este lado da história esclarecido publicamente. Ele mandou
a carta numa sexta-feira e na segunda-feira, o tal médico já havia deixado o país. Sr. Lewis
embora surpreso e cheio de incertezas, não sabe ao certo como entender a relação destes
fatos.

Anne depois de décadas sumida, iria aparecer no final do milênio contando que não viu Brian
tomando nenhuma pílula. Fica a pergunta no ar, teria alguém colocado o barbitúrico em sua
bebida? Teria Brian ido nadar sem saber que ele estava sobre o efeito de um barbitúrico? Brian
há muito tempo deixou de misturar as duas coisas, apavorado com o prospecto de repetir seus
deslizes do passado. Como podem ver, há várias inconsistências, todas pequenas, nesta
historia oficial.

O Que Os Médicos Concluem

No dia 7 de julho, Frank, Janet e Anne foram reunidos novamente no necrotério de East
Grinstead. O local também estava infestado de jornalistas, portanto Frank procurou estar
sempre perto de Anne para "protegê-la". Lá, o grupo foi acompanhado também pelo pai de
Brian, Sr. Lewis Jones e pela irmã caçula de Brian, Barbara Jones. Com este grupo presente,
os doutores Angus Sommerville e Albert Sachs que haviam estudado o defunto, fazem algumas
perguntas e informam de seus achados e suas conclusões.

Encontram um corpo cujo coração era maior do que deveria ser para sua idade, estando gordo
e flácido. Seu fígado estava com o dobro do tamanho e peso, encontrando-se em alto estágio
de decomposição. Nenhuma evidência de um ataque asmático fora encontrado, embora estava
evidente que ele sofria da doença. Haviam porém sinais de que Brian havia ingerido álcool e
barbitúricos.

Perguntaram a Anne se alguma vez haviam visto Brian tomar uma pílula chamada Durophet. A
resposta foi positiva, porém só uma vez. Anne também comentou que naquela noite, ele havia
apenas tomado brandy. Quando perguntado sobre o inalador, garantiu que nunca viu Brian ter
um ataque de asma, embora sempre levasse seu inalador para a piscina. Com a maior parte do
corpo dentro d'água, é sempre mais difícil respirar. Os médicos então concluem que Brian teria
morrido por um acidente, causado por excesso de bebida e barbitúricos que resultaram com ele
se afogando.

O Enterro

Três dias antes do enterro, Anne foi levada contra sua vontade para o aeroporto. Foi-lhe
entregue uma passagem para Estocolmo e colocada dentro do avião. As despesas foram
deduzidas da conta de Brian. Amargamente, ela terá que ler sobre o enterro nos jornais
suecos. Ela continuaria passando mal e vomitando toda a manhã até passar a sangrar. Foi
quando descobriu que estava grávida porém era tarde, seu corpo abortando o feto antes
mesmo do primeiro mês.

No dia do enterro, dia 10 de julho, realizado em Cheltenham, parecia que a cidade toda parou
para ver a procissão de 14 veículos. Dos Rolling Stones estavam Bill Wyman com Astrid;
Charlie Watts com Shirley; Ian Stewart com Cynthia; Fred, o contador; Shirley Arnold, e mais
Tom Keylock. Outros identificados no enterro eram Eric Easton, Linda Lawrence com o filho
Mark Julian e Suki Poiter.

Mick Jagger e Marianne Faithfull estavam já na Australia, onde iriam iniciar filmagens para o
filme Ned Kelly. Keith e Anita resolveram não comparecer, Anita já no oitavo mês de gravidez
do primeiro filho do casal.

Um policial guardando a entrada do cemitério, fez continência quando o caixão de Brian


passou. Charlie Watts que observou o incidente, riu sozinho imaginando Brian em algum lugar,
às gargalhadas com esta ironia.

Cerca de quinhentas pessoas, a grande maioria mulheres, vindas de todo o país


apareceram, a maioria de preto, muitas levando rosas. Todos se aglomeravam no
cemitério perto de Prestbury, a maioria chorando enquanto assistiam o caixão de bronze
descendo para o fundo da cova. Fotógrafos empurravam pessoas para conseguir um
melhor ângulo do caixão e cova. Embora houvesse chovido levemente de manhã, o sol
brilhava forte e a cova, embora funda, estava iluminada por ele. No calor e na emoção
Shirley Arnold desmaia e é levada até o carro.

Epílogo

O que aconteceu realmente com Brian Jones continua um mistério. Até as explicações
mais recentes, revistas e revistadas, continuam encobertas por dúvidas. No final do
milênio, Tom Keylock conta que visitou seu amigo Frank Thorogood que estava
moribundo. Antes de morrer, Thorogood teria confessado que ele havia afogado Brian
Jones. A noticia espalhou relativamente rápido e vendeu alguns livros, Keylock
recebendo algum dinheiro pela exclusividade. A pergunta que fica é de quão sincera é
esta informação, já que Thorogood nunca comentou isto com mais ninguém e, agora
morto, não tem como defender seu nome. Estaria Keylock apenas arrumando uma
maneira de levantar uma verba? Não seria a primeira vez.

Dois anos depois do anúncio de Tom Keylock, foi a vez de Anne Wohlin ressurgir do
nada e escrever o seu livro. Conta de seu relacionamento amoroso ardente com Brian
Jones e que sempre sentiu suspeitas em relação a Frank Thorogood, justamente por ele
ser a última pessoa a estar com Brian ainda com vida. Reforçam suas suspeitas a
questão dele ter sido despedido e tendo que dar conta de dinheiro gasto indevidamente.
Thorogood se apresenta agora como alguém tendo um motivo. Porém, novamente fica a
pergunta, porque tanto tempo se passou para ele contar "a verdade"? Uma vez que
Frank Thorogood está morto, seria este mais um caso do ditado popular, "Cão danado,
todos a ele"?

A policia inglesa não tem restrições de tempo para um caso de assassinato. Porque algo
não foi movido? Aparentemente, a policia chegou a conversar com algumas pessoas
depois das novas alegações, todavia não encontraram nada que pudessem sustentar um
novo julgamento.

Toda essa controvérsia trouxe de volta o caso à memória de muitos. Hollywood está
pensando seriamente em fazer um filme sobre a vida de Brian e encerrando a história
com a teoria do assassinato. Evidentemente Tom Keylock receberá como consultor
técnico. O filme porém pode não ter este final pois a família de Frank Thorogood luta
na justiça para preservar o seu nome, negando todo e qualquer envolvimento dele na
morte de seu antigo patrão. São eles quem mais acusam Tom Keylock de estar tentando
faturar em cima do falecido amigo. Do lado dos Rolling Stones e pessoas que
conheceram Brian no final de sua vida, são poucos os que acreditam que Tom só ficou
sabendo da verdade com Frank moribundo. Isto é, se esta nova teoria, for mesmo a
verdade.

O Ultimo Mistério

Antes mesmo de Brian Jones ser enterrado, houve um incidente que não chegou aos
jornais, mas todos ligados ao músico ficaram cientes. Alguém chegou em Cotchford
Farm, munido com a chave da porta da frente e uma equipe de mudanças. Encostaram
um caminhão e levaram tudo. Os móveis, os tapetes, as roupas, as jóias, as guitarras e
demais instrumentos, os equipamentos de som, todos os rolos de fita com todas as
gravações particulares do famosos Rolling Stone. Tudo. A casa foi encontrada depois,
totalmente vazia.

Tom Keylock havia pedido demissão pouco antes de sumir do mapa. Ou foi mandado
embora. Afinal, era a obrigação dele cuidar de Brian e ele falhou. É incerto se há
alguma relação entre uma coisa e a outra, porém há muitas suspeitas.

Falando Sobre Brian Jones

"Quando Brian estava na sexta série, foi suspenso por não estar trajando o uniforme
completo do colégio. Eu o sentei no meu colo e fui lhe dar um sermão. Mas ele me
olhou sério e disse 'Escuta papai, eles são apenas professores. Eles nunca realizaram
nada. Você quer que eu faça as coisas que você fez, mas não posso ser como você.
Quero viver a minha vida.' Sempre terrivelmente lógico... Nunca consegui nada
tentando argumentar com ele."

"Quando Brian formou os Rolling Stones, parecia que ele havia encontrado sua alma.
Sempre que a banda aparecia sendo criticado nos jornais, ele nos ligava. Quando ele foi
preso pela segunda vez, ele me ligou aos prantos jurando inocência. Que foi tudo
armação. Eu acredito nele. Brian nunca mentiu para mim."

"Eu nunca pude entender como se espalhou esta historia sobre uma festa. Se você vai
dar uma festa, você não toma uma pílula para dormir, não é? Ninguém indagou a
respeito disto."

Lewis Jones - pai de Brian Jones


"Brian irradiava como um sol, mas dava para perceber que ele tinha todos os problemas
do mundo sobre os ombros. Havia muita feiura além da beleza."

Shirley Arnold - Presidente do Rolling Stones Official Fan Club


"Na audição, toquei um pouco de ragtime no piano do pub e Brian pegou sua guitarra e
começamos a improvisar. Percebi logo que Brian era um talento. Ele conhecia muito
bem rhythm and blues e sabia fazer um slide guitar perfeito. Quando descobri que ele
também tocava saxofone, gaita, clarinete e praticamente qualquer instrumento de uma
banda, minha admiração só aumentou."

"É realmente uma pena. Bastou o cara começar a ganhar muita grana que ele
enlouqueceu."

"Me parece que ele nunca conseguiu se encontrar por não saber o que ele queria, ou não
saber como expressar uma parte dele mesmo. Na verdade, ele era um cara bem legal que
não queria que todos soubessem que ele era legal. Ele queria ser conhecido como uma
figura do mal, mas ele não era. O resultado final acabou levando-o a ser evitado por
muitos."

Ian Stewart
"Eu realmente acredito que foi um engano, não acredito que Brian tenha planejado
cometer suicídio. Eu teria sentido muito mais pena dele e menos por mim, caso ele
tivesse intenção de morrer. Mas agora sinto mais pena de mim e de todos nós porque ele
não está mais aqui. Muito da tristeza é porque sinto saudades dele, mas não posso deixar
de pensar que, se ele tivesse que morrer, esta era uma boa época. Porque ele estava tão
feliz naquele momento de sua vida. Se ele tivesse morrido uns seis meses antes, teria
sido bem mais triste pois era um período de sua vida onde ele estava extremamente
deprimido. Pelo menos ele morreu depois que ele já havia reencontrado com a
felicidade."

Alexis Korner
"Que cara legal! Ótima pessoa como companhia. Bondoso e sempre com consideração
por todos. Eu nunca pernoitei na sua casa porque era mal-assombrada, mas Brian tinha a
capacidade de fazer qualquer criança amedrontada se sentir melhor."

Damian Korner - filha de Alexis Korner sobre os passeios em Cotchford Farm


"Quando Brian estava fora do palco, me parece que ele tinha dificuldades de lidar com o
mundo real. Eu mesmo sofri do mesmo mal anos depois. Brian aparentava ter
problemas adicionais, sendo um pouco esquizofrênico. Mas quem não seria em uma
banda como aquela? Tendo dito isto, Brian era ainda claramente a estrela maior dos
Rolling Stones."

Ray Davies
"Foi um dia normal para Brian. Ele morria todo dia. Os outros Stones pareciam não
gostar muito dele. Acabei escrevendo uma canção chamada 'A Normal Day For Brian,
The Man Who Dies Everyday'."

"Brian deveria ter sido colocado em uma camisa de força e tratado. Eu conhecia Brian
bem; os Stones sendo uma banda do qual sempre gostei. Curtia inclusive o aspecto
indisciplinado deles e Brian sempre foi o que eu considerava indisciplinado. Quando ele
parou de tocar com eles, pensei que a dinâmica da banda se perderia mas parece que
continua lá. Talvez o fato dele ter morrido tornou aquela dinâmica eterna. Um pouco de
amor poderia ter dado um jeito nele. Não sei se a morte foi necessariamente algo ruim
para Brian. Ele fará melhor na próxima vez. Eu acredito em reencarnação."

Pete Townshend
"Acho que ele não recebeu muito amor ou compreensão."

George Harrison
"No inicio Brian era o cara mais interessante dentro dos Stones porém ele mudou
através dos anos, enquanto desintegrava. Ele acabou se tornando o tipo de cara que você
teme ter que atender no telefone, porque você sabe que ele só trazia problemas. Ele
estava mergulhado em muita dor. No inicio ele era legal porque era jovem e cheio de
confiança. Ele era uma destas pessoas que desintegravam à sua frente.

John Lennon
"Brian sempre tinha uma palavra agradável para dizer sobre tudo. Nos dávamos muito
bem. Ele tinha um ótimo senso de humor; lembro-me de rir muito com ele. Brian era
um cara meio nervoso, extremamente introvertido, quieto e sério. Acho que talvez ele
tenha se metido com drogas um pouquinho acima de sua própria resistência, pois ele
vivia tremendo. Porém ele era uma ótima pessoa. Sei que muitas pessoas ficaram um
pouco irritadas com ele mas ele era ótimo. Não posso dizer que conheço ele bem porque
a gente só conhece certas pessoas em um nível."

Paul McCartney
"Ele era sujo, temperamental e não muito amigo - parcialmente pelo seu hábito de pedir
pequenas somas de dinheiro emprestado e nunca pagando de volta, e parcialmente
porque seus amigos podiam perceber claramente que ele estava jogando sua vida fora
enquanto reclamava de tudo no processo. As meninas tinham pena dele por causa
daquele seu ar de solitário e deprimido e ele jogava com isso. Talvez porque ele era tão
baixinho ou porque ninguém o levava a sério, mas ele parecia gostar de usar meninas
para se vingar do mundo. Aparentemente ele achava que o mundo de alguma forma
havia lhe lesado. Ele gostava de mostrar a suas visitas, as fronhas manchadas de sangue
da virgem que ele havia deflorado na noite anterior. Gostava de se gabar da quantidade
de mulheres com quem ele havia dormido. Ele era um escroto."

Barry Miles
"Eu gostava de Brian e confiava nele. Percebia-se que ele tinha muita criatividade. Ele
era um poeta, um "enfant terrible", eu sei, mas ele era um cara em sincronia com seu
tempo. Ele também era muito apaixonado por Anita. Era fácil gostar de Brian; ele
estava sempre alegre! Ao mesmo tempo, ele muitas vezes tornava difícil uma amizade,
preferindo te desafiar, te provocar. Sim, definitivamente havia algo demoníaco sobre
Brian. Ele percebia suas fraquezas com uma intuição incrível, e, caso estivesse com
disposição, a explorava. Pro outro lado, ele conseguia ser incrivelmente cândido e
simpático com você. Eu gosto de Brian. Mas ele era um cara complicado. Deve ter sido
difícil."

Volker Schlondorff - Diretor do filme Mord Und Totschlag (A Degree Of Murder)


Brian era um músico totalmente dedicado que jamais conseguiu se adaptar com o
aspecto comercial de ser um Rolling Stone."

Jimmy Miller
"Brian era consumido por medo. Esta é sua característica mais gritante. Medo. Jamais
encontrei uma pessoa com tanto medo na vida."

Violet e Alex Lawrence - os pais de Linda Lawrence


"Quando meu namorado Tara Browne morreu, Brian me deu um ombro para chorar. Ele
juntou os pedaços e fez eu me sentir como uma mulher novamente. Eu jamais vou
esquecer dele. Ele foi uma pessoa incrível e maravilhosa."

Suki Poiter
"O fato só entrou na minha cabeça bem mais tarde quando eu mesma ouvi no rádio.
Chorei tanto. Com todas as nossas discussões, jamais quis isto para ele. Ele precisava
estar cercado de mulheres porque era inseguro. Acho que todos nós acreditávamos que
poderíamos compreendê-lo se tentássemos o suficiente. Mas acho que ninguém
conseguiria. É tão injusto ele morrer antes de ter uma chance de amadurecer. Pelo
menos agora ele não precisa se esforçar tanto em viver."

Pat Andrews
"O temperamento de Brian dependia muito da lua; coisa que eu gostava nele. Ele era
fisicamente atraente também. De uma forma engraçada, ele parecia uma menina.
Sexualmente, eu gosto tanto de meninas quanto meninos e Brian conseguia, ao meu ver,
combinar os dois sexos. Ele tinha um ótimo senso de humor. Como poderia não me
apaixonar por um homem que sabia me fazer rir? Outra característica de Brian era que
ele falava tudo que tinha na cabeça. As coisas mais absurdas. Ele era maravilhosamente
curioso sobre coisas novas, lugares novos; queria saber de tudo que se passava.
Conhecer pessoas novas, idéias novas, aprender as novas danças..."

Anita Pallenberg
"Brian era uma pessoa que podia tocar qualquer instrumento. Ele era uma destas
pessoas que por um prisma, são incríveis, por outro, são babacas completos."

"Há pessoas que você conhece na vida, que você sabe que jamais chegarão aos trinta.
Brian era uma dessas pessoas e ele sabia disto.”

"Havia tensões extras entre eu e Brian porque eu levei sua mulher. Sabe; ele gostava de
bater em suas mulheres. Não é um cara que se possa gostar."

Keith Richard
"Estou sem palavras, triste e em choque. Algo se foi. Éramos uma família, nós os
Stones. Rezo por ele. Espero que ele seja abençoado. Que encontre a paz. Não nos
conhecíamos muito bem"

"Foi realmente um choque quando Brian morreu. Suponho que havia um sentimento
geral de que se alguém fosse morrer, seria Brian. Ele viveu sua vida rapidamente, como
uma borboleta. Já fomos mais próximos mas aí o mito explodiu."

"Ele estava em outro mundo. Na maioria das vezes ele sequer aparecia e quando vinha,
estava sem condições de fazer nada. Perdíamos tempo tendo que paparicá-lo. Foi muito
triste."

Mick Jagger
"Brian foi a primeira pessoa na Inglaterra a tocar bottleneck guitar, antes das outras
pessoas saberem do que se tratava. Ele continuou a se desenvolver com outros
instrumentos trazendo para a nossa atenção muitas coisas que de outra forma, nos
teriam passado despercebidos. Quanto a sua personalidade, com todas as suas fraquezas
e inseguranças, sua impertinência e terrível conduta, ele ainda assim era uma figura
pivô. Um símbolo dos anos sessenta, que ajudou a nos moldar. Ele merece perdão
total."

"Se há um homem que genuinamente representa a vida rock and roll e que naturalmente
caracterizava os Rolling Stones em todos os aspectos, muito antes que nós cinco
tenhamos assumido um estilo, este homem é Brian Jones. A banda jamais teria existido
sem ele. Muito das atitudes e sons da década de sessenta foram desenvolvidos através
do estilo pessoal e determinação de Brian. Ele era o típico garoto de classe média que
fez todo o possível para se libertar de suas origens, trabalhando em qualquer emprego
até encontrar um nicho. E quando encontrou, ele martelou até o mundo todo conseguir
ouvi-lo, com idealismo e seriedade."

"Ele podia ser a pessoa mais doce, meiga e cheia de considerações do mundo. E a pior e
mais perversa pessoa que você já encontrou na vida. Sempre opostos, pulando de um
para o outro. Não dando a mínima para nada e depois se preocupando com o menor
detalhe. Um hipocondríaco extremamente inteligente e muito articulado."
Bill Wyman
"Nos primeiros anos era bem diferente. Éramos como uma matilha. Brian ainda estava
vivo e de certa forma, formávamos uma família. Hoje, tem horas que sequer tenho
certeza se conheço os outros.”

"Nunca ouvi uma pessoa tocar um bottleneck guitar como o Brian. Exceto o Geoff
Bradford, claro. Todavia Geoff é mais para folk enquanto Brian mais cru como Elmore
James. Era fantástico e ninguém havia ouvido alguém tocar assim antes."

"O problema do Brian era que ele não tinha mesmo muita saúde. Ele tinha uma incrível
fraqueza para tentações. Ele não era uma pessoa agradável realmente, mas acho que ele
estava mergulhado em muita dor. Ele conseguia ser bastante inconveniente se o pegasse
em um dia ruim, mas podia também ser extremamente charmoso em outros dias."

"Ele ficou bem mais simpático no final de sua vida. Porem eu fiquei ainda mais triste
pelo o que fizemos com ele. Tiramos dele aquela uma coisa, que era ser parte de uma
banda. Em minha opinião."

Charlie Watts

Como podemos ver, a vida dos Rolling Stones é literalmente cada palavra que o badalado
slogan Drugs, Sex 'n' Rock 'n' Roll, possa querer englobar. As aventuras de Brian, Mick e Keith
representam ao máximo tudo que seu pastor evangélico local teme e recrimina, e muito mais
até do que ele possa imaginar. Ao mesmo tempo, a música executada por eles, abriu as portas
para a cultura negra em diversos continentes, até então vista como inferior.

Como capitulo final, achei que poderia ser interessante mostrar aonde estão alguns dos
personagens que participaram desta história. Portanto, abaixo segue uma relação de alguns
nomes de pessoas, sejam de maior ou menor relevância nesta historia, e alguma informação
sobre seus destinos.

Andrew Loog Oldham

Andrew que sempre foi estressado e vivia à base de pílulas, depois de deixar os Stones
continuou da mesma maneira. Seu envolvimento com tóxicos incluiu o uso de cocaína. Na
década de setenta produziu discos de Donovan (73) Humble Pie (75), antes de se separar de
sua mulher e se mudar para os Estados Unidos onde produziu a banda texana Werewolves
(77).

Oldham acabou conhecendo uma atriz do cinema Colombiano, casando-se e se mudando


definitivamente para Bogotá, Colômbia, onde tem vivido pelas últimas duas décadas. Ele se
livrou de seus vícios a cerca de dez anos e tem visitado regularmente a Inglaterra. Na década
de noventa escreveu dois livros, um sobre o ABBA, outro sobre os Rolling Stones.

Paul Jones

Paul depois de dispensar o convite do Brian para ser o vocalista dos Rollin' Stones (o que levou
Brian a então convidar Mick Jagger), encerrou seus estudos acadêmicos e se dedicou à sua
vida de músico. Ajudou a formar o Mann Hugg Blues Brothers que mudaria de nome e se
tornando o Manfred Mann. Depois de relativo sucesso em carreira solo na década de sessenta,
Paul passou a se envolver cada vez mais com teatro em setenta. Voltou ao blues em oitenta
cantando com o Blues Band. Ganha a vida hoje basicamente como um apresentador de rádio e
televisão na Inglaterra.

Dick Hattrell
Dick era amigo de Brian em Cheltenham e fanático por jazz, pegando carona junto com ele até
Londres para ver os clubes de jazz. Dick estava com Brian quando assistiram Sonny Boy
Williamson II, passando a também se interessar pelo blues. Hattrell morou com Brian, Mick e
Keith em Edith Grove até passar mal e ser substituído por Jimmy Phelge. Hoje ele é um agente
de várias bandas de blues.

Pat Andrews

Antes de Brian ficar famoso, Pat era sua namorada e amiga. Viveram e discutiram por vários
anos, em uma confusa desarmonia típica na vida de Brian. Ela é mãe de seu terceiro filho Mark
Julian Jones, a quem Brian sempre se refere como Julian. Foi o filho com quem mais tempo
viveu e com quem mais se envolveu emocionalmente. Pat hoje continua envolvida na vida de
Brian Jones, trabalhando junto ao Brian Jones Fan Club. Seu filho Mark Julian Jones também
faz parte da diretoria.

Dick Taylor

Primeiro baterista do Little Boy Blue and the Blue Boys, primeira banda de Mick Jagger,
tornando-se depois o primeiro baixista dos Rollin' Stones. Taylor largaria a música para se
dedicar aos estudos. No ano seguinte, já com o segundo grau completo em 1963, formou outra
banda, The Pretty Things, que galgou considerável sucesso na Inglaterra, Taylor agora tocando
guitarra. A banda voltou a excursionar no final dos anos noventa.

Carlo Little

Conhecido baterista dos Saveges que tocavam para Cliff Richard. Quando os Saveges
acabaram, Brian tentou trazer Carlo Little para sua banda. Como os Rollin' Stones não estava
fazendo dinheiro, Little quebrou o galho da banda em algumas ocasiões (todas pagas), porém
jamais cogitou se tornar um membro. Depois de casar e ter filhos, os gigs como sessionman
ficaram cada vez mais escassos. Assim, na década de setenta pegou o dinheiro que juntara e
abriu uma lanchonete, vendendo hamburgers e refrigerantes perto do Wembley Stadium. No
final do milênio, resolveu arriscar novamente com música e fundou o Carlo Little Allstars. Sua
filha é webmaster de um excelente site sobre a carreira do pai e do rock inglês do inicio da
década de sessenta em geral.

Mickey Waller

Micky substituiu Charlie Watts como baterista em um gig dos Stones em Chatham, Kent.
Trabalhou como sessionman para vários artistas e continua hoje morando em Barnes, subúrbio
de Londres, vivendo de direitos autorais pelos serviços prestados nos tempos que tocou com
Rod Stewart.

Ricky Brown

Outro ex-membro dos Savages. Quando Dick Taylor saiu dos Rollin' Stones, Carlo Little
sugeriu que Brian contactasse Ricky para o lugar. Como Little, Brown só ficaria com o grupo se
o empreendimento fosse lucrativo. Como a banda naquele período em 1962 gerenciado por
Brian nunca deu dinheiro, Brown e Little estariam logo tocando para Cyril Davies & the Allstars.
Brown conseguiu se manter relativamente ativo e na década de noventa chegou a produzir
discos de artistas tão diversos como LaVert, Innerlude, Sac-Sin e Britney Spears. Como músico
está tocando com o Carlo Little Allstars

Adrienne Posta

A cantora que aos 16 anos gravou uma das primeiras canções da nova dupla Jagger-Richard,
ainda na década de 60, conheceu Steve Marriot e formou com ele um duo chamado Moments.
Quando Marriot veio a formar Small Faces, Adrienne enveredou para o cinema, aparecendo em
filmes como "To Sir With Love" e "Here We Go Round The Mulberry Bush". Seu ultimo trabalho
conhecido no cinema foi o suspense/erótico "The Adventures of a Private Eye" de 1987.

Mike Dorsey

Dorsey era empregado do Eric Easton, contratado para acompanhar os Stones nas excursões.
Dorsey se mudou para Australia e seguiu carreira no cinema e televisão naquele país com
relativo sucesso.

Linda Lawrence

Depois de namorar Brian Jones e ser mãe de seu quarto filho, Linda namorou Donovan se
mudando depois para a Califórnia. Em 1970 voltou à Inglaterra, encontrando novamente com
Donovan. Acabaram se casando e tendo uma filha chamada de Astrella. Seu filho com Brian,
batizado como Julian Mark Jones, é referido por Brian sempre como Mark. Porém, pela Linda,
sempre como Julian, o que traz uma certa confusão com o filho de Pat Andrews, também
conhecido como Julian. A situação ficou ainda mais confusa quando Linda Lawrence, ao casar
com Donovan, mudou o nome do menino para Julian Jones Leitch.

Julian Jones Leitch

Julian hoje mora na California, esteve casado, e tem um filho chamado Joolz. É músico e
vende seus discos através de seu website, onde afirma que tem muito orgulho em ser filho de
Brian Jones.

Joolz Leitch

Joolz Leitch, neto de Brian Jones, não tem ainda nenhum feito se não o de comprovar a teoria
da hereditariedade.

Dawn Malloy

Namorada passageira de Brian, enquanto ele morava em Chester Street. Dawn é mãe de seu
quinto filho e mora hoje na California.

Suki Poiter

Casou com um empresário de Hong Kong chamado Bob Ho no inicio da década de setenta.
Considerada por alguns como uma menina que emanava má sorte, ela reforça esta crença ao
morrer ao lado de seu marido, em outro acidente de carro, desta vez ocorrido em Portugal no
final da década de setenta.

Robert Frazer

Grande amigo de intelectuais ingleses e poetas americanos, preso ao vício de heroina, Frazer
morre em uma overdose em 1976.

Anne Wohlin e Mary Hallett

A Sra. Mary Hallett continua morando na mesma casa em Cotchford Farm. Anne Wohlin volta a
Londres e a Cotchford Farm em outubro de 1969 e depois novamente em 1999. Entre as duas
datas, muito amadurecimento e vivência.

Sgt. Norman Pilchard

O notório Inspetor Sargento da Scotland Yard, é o responsável por diversas batidas policiais
contra músicos e artistas em Londres. Em outubro de 1972, acabou preso e processado por
abuso de poder e obstruir o percurso da justiça. Serviu seis anos de cadeia.

Frank Thorogood
Sumiu do mapa. Seu nome só reaparecendo quando de sua morte. Supostamente, antes de
morrer, ele teria confessado ter afogado Brian Jones. Sua família hoje tenta evitar a feitura de
um filme sobre a vida de Brian contendo qualquer referencia a esta versão que o implica com a
morte do músico.

Tom Keylock

Sumiu do mapa após a morte de Brian. Se meteu com cinema nos anos setenta e agora
freqüenta reuniões de fã clubes do Stones onde ele obtém um certo ar de celebridade por ter
convivido tão perto de Brian e Keith por tantos anos. Dá autógrafos e em 1997 deu uma
entrevista (paga) onde garante que Frank Thorogood confessou ter afogado Brian Jones.
Nenhum dos parentes de Thorogood confirmam esta confissão.

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