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RESUMO
As florestas tropicais apresentam diferentes tendências de cia a altura do peito >15cm. Foi observada baixa similarida-
sucessão ecológica, conforme uma combinação de fatores na- de florística e estrutural, mesmo em remanescentes de mesmo
turais e antrópicos. Com o objetivo de identificar padrões, tempo de sucessão, indicando a existência de diferentes fatores
foram compilados dados de estudos realizados na Região Me- envolvidos na sucessão nestes locais. A riqueza e a diversida-
tropolitana do Rio de Janeiro entre 1993 e 2006, em oito re- de estão diretamente relacionadas ao tempo, enquanto outros
manescentes de floresta secundária, utilizando o método de atributos variam conforme o uso anterior do solo e caracterís-
parcelas de área fixa, com critério de inclusão de circunferên- ticas do sitio.
Introdução distinto da dinâmica de clarei- Gestores públicos e moradores Janeiro (Santana et al., 1994,
ras associadas a f lorestas têm destacado o papel das 2004; Santana e Magalhães,
A longa história de ocupa- preservadas (Ewel, 1980; florestas secundarias urbanas 1995; Santana, 2002; Gomes,
ção da Mata Atlântica brasilei- Mesquita et al., 2001). A des- para as cidades. A todos os 2006). Estes estudos foram
ra resultou na drástica redução peito disto, sua estrutura pode serviços já mencionados, se realizados pelo Laboratório de
de sua área ao longo dos últi- se tornar semelhante à de flo- somam os benefícios que estas Manejo de Paisagens da
mos 500 anos (Dean, 1997). restas climáxicas em prazo proporcionam à vida das cida- Universidade Federal Rural do
Seus remanescentes ocupam relativamente curto, embora a des e às populações humanas Rio de Janeiro (UFRRJ) entre
11,7% de sua área original na composição florística possa ser que habitam estes espaços, 1993 e 2006, em florestas se-
forma de fragmentos em está- bastante distinta (Guariguata e como o conforto ambiental, a cundárias em estágios iniciais
gios diversos de alteração Osteartag, 2001; Holl, 2007). redução de poluentes do ar e o de sucessão. Foram estudadas
(Ribeiro et al., 2009; Zaú, As características e a velocida- convívio com elementos natu- 75 parcelas de 10×10m (100m²),
2011). O estado do Rio de de deste processo dependem rais, dentre outros. agrupadas em unidades de 500
Janeiro mantém ainda 18,6% das particularidades do sítio, e O presente artigo busca des- a 1000m², locadas no sentido
de suas f lorestas (Fundação do tipo e da intensidade do crever as características de da maior declividade do terre-
SOS Mata Atlântica, 2013), uso anterior do solo (Silva- fragmentos de florestas secun- no. A amostragem incluiu todas
concentradas principalmente Matos et al., 2005; Siminski dárias na Região Metropolitana as árvores com circunferência a
em Unidades de Conservação et al., 2011). do Rio de Janeiro, com o obje- altura do peito (CAP) >15cm.
e áreas de difícil acesso Estas florestas são provedo- tivo de identificar padrões de A Tabela I apresenta as áreas e
(Rocha et al., 2003). ras de serviços ambientais sig- desenvolvimento destas forma- suas características, e a
A maior parte das florestas nificativos e realizam funções ções, através da análise de sua Figura 1 a respectiva distribui-
existentes no estado do Rio de ecossistêmicas tais como pro- composição florística, estrutura ção espacial.
Janeiro resulta da regeneração teção de solos, sumidouro de fitossociológica e similaridade As espécies tiveram sua ta-
natural (IBDF, 1984) e são carbono atmosférico, repositó- florística. xonomia revisada conforme o
classificadas como f lorestas rios de material genético e APG III (2009), tendo como
secundárias, resultantes da al- fontes de biomassa, alimentos Material e Métodos apoio Lorenzi (1992, 2002,
teração originada pela ação e princípios medicinais, e por 2009), Carvalho (2003, 2006,
humana (Brown e Lugo, 1990; sua importância devem ser Foram utilizados dados 2008, 2010) e Lista de Espécies
Finegan, 1992; Corlett, 1995). devidamente estudadas e ma- oriundos de oito levantamen- da Flora do Brasil (Flora do
Seu processo de formação, tí- nejadas (Brown e Lugo, 1990; tos realizados na Região Brasil, 2014), sendo incluídos
pico de áreas abertas, é Guariguata e Ostertag, 2001). Metropolitana do Rio de nas análises apenas os taxa
Cláudio Alexandre de Aquino Welington Kiffer de Freitas. Luís Mauro Sampaio Magalhães. Ciências Ambientais, Instituto
Santana. Engenheiro Florestal e Engenheiro Florestal, Mestre e Engenheiro Florestal, UFFRJ, de Florestas, UFRRJ. Rodovia
Mestre em Ciências Ambientais Doutor em Ciências Florestais e Brasil. Mestre em Ciências de 465, Km 07, Seropédica, RJ,
e Florestais, Universidade Ambientais, UFRRJ, Brasil. Florestas Tropicais, Instituto CEP 23897-000. Brasil. e-mail:
Federal Rural do Rio de Janeiro Professor, Escola de Engenharia Nacional de Pesquisas da l.mauro@terra.com.br
(UFRRJ), Brasil. Engenheiro Industrial e Metalúrgica de Amazônia, Brasil. Doutor em
florestal, Prefeitura da Cidade Volta Redonda e Universidade Ciências do Solo, UFRRJ,
do Rio de Janeiro, Brasil. e- Federal Fluminense, Brasil. e- Brasil. Professor, UFRRJ,
mail: csantana72@uol.com.br mail: wkfreitas@gmail.com Brasil. Endereço: Depto. de
Jacarepaguá
Tonelero
CEMAG 1
Realengo
Mendanha 2
Mendanha 1
CEMAG 2
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
0,00
Drel DoRel Frel Drel DoRel Frel Drel DoRel Frel
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
Drel DoRel Frel Drel DoRel Frel Drel DoRel Frel
CEMAG 1 CEMAG 2
Brosimum glaziouii Mimosa bimucronata
Spondias lutea Artocarpus heterophyllus
Luehue grandiflora Miconia prasina
Machaerium hirtuum Psidium guajava
Cecropia plaziouii Nectandra rigida
Miconia cimammomifolia Tabernaemontana fuchsiafolia
Tabernaemontana fuchsiaefolia Anadenanthera colubrina
Tibouchina granulosa Piptadenia gonoacantha
Sparattosperma leocanthum Senegalia polyphylla
Anadenanthera colubrina Mangifera indica
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
Drel DoRel Frel Drel DoRel Frel100,00
Figura 4. Valores de importância das principais espécies amostradas nas áreas de estudo de fragmentos de f lorestas secundárias na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. DRel: densidade relativa, DoRel: dominância relativa, e Frel: frequência relativa.
com o mesmo histórico de uso a influência antrópica em seu Conclusões ampla ocorrência. Espécies
e situadas na mesma região, a curso (Ewel, 1980; Siminski secundárias tardias e climáxi-
riqueza e a diversidade aumen- et al., 2011). Fatores como as Os resultados permitem con- cas apresentaram-se com
tam significativamente após os espécies dominantes, as estra- cluir que, para a região estu- maior representatividade em
35 anos de abandono, mas tégias de regeneração predomi- dada, há pouca previsibilidade áreas de idade mais avançada,
aproximam-se florística e es- nantes ou a interação com o na sucessão secundária de áre- evidenciando a necessidade de
truturalmente de florestas ma- ambiente abiótico parecem ter as impactadas pelos vetores manutenção e proteção dos
duras apenas após os 70 anos, forte influência. A densidade mais característicos de áreas remanescentes secundários, de
o que demonstra a importância apresenta tendência a se redu- urbanas ou peri-urbanas, como forma que avancem a fases
desta variável. zir em fases intermediárias do fogo frequente, uso como pas- maduras de desenvolvimento.
Outras características das processo sucessional, o que to e deposição de resíduos só- São necessárias maiores in-
áreas amostradas não apresen- pode indicar a mortalidade dos lidos. No entanto, alguns indi- vestigações sobre os processos
taram correlação significativa, grupos iniciais para o ingresso cadores encontrados foram si- de sucessão secundária em
como no caso de área basal, de novas espécies, com perda milares aos de outros estudos. áreas urbanas, que acompa-
densidade e diâmetro médio. temporária de biomassa no Na composição f lorística nhem seu desenvolvimento por
Esta variação demonstra os processo (Tabarelli e Manto- encontrada destacam-se prin- períodos longos, de forma a
múltiplos caminhos que a su- vani, 1999; Magalhães e cipalmente espécies de está- estabelecer padrões mais preci-
cessão pode assumir, ou ainda, Freitas, 2013). gios iniciais da sucessão, de sos. Desta forma, poderiam ser
Densidade (ind.ha-1)
ary lowland rain forest. For.
Diversidade (nats.ind-1)
16 R2=0,2042
30 (2013) Atlas dos Remanescentes Paulo, Brasil. 368 pp.
14
12 25 Florestais da Mata Atlântica: Lorenzi H (2009) Ár vores
10
8
20 Período 2011-2012. Fundação Brasileiras: Manual de
15
6 10 SOS Mata Atlântica. Instituto Identif icação e Cultivo de
4
2 5 Nacional de Pesquisas Espa- Plantas Arbóreas Nativas do
0 0 ciais. São Paulo, Brasil. www. Brasil. Vol. 3. Instit uto
0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 5 10 15 20 25 30 35 40 sosma.org.br/w p - content / Plantarum. Nova Odessa, São
Idade (anos) Idade (anos) uploads/2013/06/at- Paulo, Brasil. 384 pp.
l a s _ 2 011- 2 01 2 _ r e l a t o r i o _
Figura 5. Análise de regressão linear referente aos parâmetros avaliados Magalhães LMS, Freitas WK (2013)
tecnico_2013final.pdf (Cons.
nas áreas de estudo de fragmentos de florestas secundárias na Região Composição florística e simila-
28/09/2013).
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