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ABERTA
MACROECONOMIA
ABERTA
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R343
Rego, Angela
727 KB.
ISBN 978-85-5459-044-4
CDD – 469.800981
Apresentação 6
Autor 7
UNIDADE 1
Economia aberta 8
• Importações, exportações e o multiplicador de uma economia aberta
UNIDADE 2
UNIDADE 3
• A curva de Phillips
UNIDADE 4
Dessa forma, a disciplina tem como objetivo identificar como os agregados macroeco-
nômicos impactam as inter-relações entre países, como devemos utilizar os indicadores
e métodos desenvolvidos para avaliar os efeitos de uma mudança de política sobre a
economia, além de construir e analisar gráficos e indicadores que possibilitem comparar
os ciclos econômicos e as transições ocorridas ao longo do tempo em diversos países.
Objetiva, também, compreender as diferentes visões teóricas no que tange aos efeitos
das políticas econômicas sobre os agregados macroeconômicos.
6
AUTOR
C. Lattes
7
UNIDADE 1
Economia aberta
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
9
Importações, exportações e o multiplicador
de uma economia aberta
O equilíbrio no mercado de bens tem de ser pensado de forma diferente com a abertura
dos mercados de bens. Em uma economia fechada, no mercado de bens, os consumido-
res decidem entre consumir e poupar. Quando os mercados são abertos, os consumido-
res devem decidir também entre comprar bens internos ou bens externos. Essa decisão
envolve todos os agentes econômicos, incluindo empresas, governos e consumidores
estrangeiros, o que afeta diretamente o produto interno.
Y = DA = C + I + G + X – M (1)
Para encontrar uma expressão do PIB de equilíbrio no modelo de economia aberta, con-
sideramos os investimentos e os gastos do governo como exógenos, como componen-
tes dos dispêndios autônomos. O consumo é dado pela função consumo:
C = a + bY (2)
Os impostos foram omitidos na Equação (2), portanto, o PIB é igual à renda disponível
(YD = Y – T). O termo a (intercepto) é o consumo autônomo, ou seja, o valor do consumo
quando a renda disponível é igual a zero. O parâmetro b (inclinação) representa o aumen-
10
to nos gastos com o consumo quando a renda disponível aumenta em uma unidade. No
caso de uma economia aberta, para obter o produto de equilíbrio, é preciso especificar
os determinantes das importações e exportações.
A demanda por exportações domésticas será uma parte da demanda estrangeira por
importações. A demanda externa por importações dependerá do nível de renda estran-
geira, que é determinada por uma função demanda de consumo análoga à Equação (3).
Com as importações dadas pela Equação (3) e as exportações supostamente exógenas,
podemos calcular a renda de equilíbrio pela Equação (1), como segue:
Y=C+I+G+X–M (1)
= (a + bY) + I + G + X – (u – vY)
{
{
C -M
(1 – b + v)Y = a + I + G + X – u
1
Y= (a + I + G + X – u) (4)
1–b+v
1
Y= (a + I + G) (5)
1–b
11
Tanto na Equação (4) como na (5), a renda de equilíbrio é expressa como o produto de
dois termos, o multiplicador dos dispêndios autônomos e o nível dos dispêndios autôno-
mos. Por meio de um exemplo, veremos como cada um deles é alterado pela inclusão
das importações e exportações no modelo.
1 1 1
= = =5
1–b 1 – 0,8 0,2
e
1 1 1
= = =2
1–b+v 1 – 0,8 + 0,3 0,5
Pode-se concluir, pelas expressões, que quanto maior for o grau de abertura de uma
economia ao comércio exterior (quanto mais alto for v), menor será o multiplicador dos
gastos autônomos.
O segundo termo da expressão (4) representa o nível dos gastos autônomos. Os gastos
autônomos de uma economia aberta incluem os elementos de uma economia fechada
(a + I + G) mais o nível de exportações e o componente autônomo das importações. As
alterações nos componentes autônomos dos gastos afetam o nível de demanda agre-
gada para um determinado nível de renda, provocando mudanças na renda de equilíbrio.
12
Os efeitos multiplicadores das mudanças em X e u podem ser calculados pela Equação
(4), resultando em:
∆Y 1
= (6)
∆X 1–b+v
∆Y 1
= (7)
∆u 1–b+v
Por outro lado, um aumento autônomo na demanda por importações (u) provoca a que-
da na renda de equilíbrio. Uma expansão autônoma na demanda por importações repre-
senta um deslocamento da demanda por bens domésticos para a demanda por bens
importados, provocando uma queda na renda de equilíbrio.
Nesse tópico consideramos que os níveis de preços e a taxa de câmbio são fixos. Os
efeitos sobre as importações e exportações das mudanças do nível de preços ou da taxa
de câmbio serão analisados no próximo tópico.
13
O Balanço de pagamentos e os tipos de
câmbio
Balanço de pagamentos
Os países registram a totalidade das transações econômicas entre seus residentes e não
residentes no balanço de pagamentos. De um lado do balanço, são registrados os cré-
ditos, que são todos os ganhos decorrentes de atividades internacionais de residentes e
do governo nacional, enquanto que, do outro lado, são computados como débitos todos
os gastos no exterior. Cada crédito deve corresponder a um débito igual, e vice-versa.
Cada gasto em bens estrangeiros, por exemplo, precisa ser financiado de alguma manei-
ra, isto é, a fonte de financiamento é registrada como um crédito. Portanto, se todas as
transações forem contabilizadas, o balanço de pagamentos sempre estará equilibrado. A
Tabela resume o balanço de pagamentos do Brasil em 2018:
Saldo(=) Déficit
Crédito (+) Débito (-)
(-)/ Superávit (+)
14
Balança de Serviços 8.192 -8.192
Discrepâncias Estatísticas
15
Taxas nominais de câmbio
São os preços relativos das moedas. Ou seja, o preço da moeda estrangeira em ter-
mos da moeda nacional, que será representada aqui por E. As taxas de câmbio entre
o dólar e a maioria das moedas estrangeiras mudam a cada dia, a cada minuto do dia.
Essas mudanças são chamadas de apreciações nominais ou depreciações nominais.
Uma apreciação da moeda nacional é o aumento do preço dessa moeda em termos de
uma moeda estrangeira. Dada a definição de taxa de câmbio nominal, uma apreciação
da moeda nacional corresponde a uma diminuição da taxa de câmbio, E. Uma deprecia-
ção da moeda nacional é uma diminuição do preço da moeda doméstica em termos da
moeda estrangeira. Portanto, uma depreciação da moeda nacional corresponde a um
aumento da taxa de câmbio. Considerando o Dólar e o Real, tem-se que uma apreciação
do dólar significa que o preço do dólar em termos de reais subiu. De maneira equivalente,
o preço do real em termos de dólares caiu, isto é, a taxa de câmbio diminuiu. Uma depre-
ciação do dólar significa que o preço do dólar em termos de reais caiu. Equivalentemente,
o preço de um real em termos de dólares subiu, isto é, a taxa de câmbio aumentou.
O principal aspecto da decisão de comprar bens internos ou externos é o preço dos bens
externos em relação ao preço dos bens internos. Chamamos esse preço relativo de taxa
real de câmbio. Sejam P o deflator do PIB do Brasil, P* o deflator do PIB dos Estados
Unidos (como regra, as variáveis estrangeiras serão representadas por um asterisco) e
E a taxa nominal de câmbio entre real e dólar. O preço dos bens norte-americanos em
dólares é P*. Multiplicando pela taxa de câmbio, E, teremos o preço dos bens norte-ame-
ricanos em reais, EP*. O preço dos bens do Brasil em reais é P. A taxa real de câmbio, é o
preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros (preço dos bens exter-
nos em termos de bens internos), denotado por ε, é dada por:
EP*
ε= (8)
P
16
O nível da taxa real de câmbio não é informativo, mas as mudanças relativas na taxa real
de câmbio são informativas: se, por exemplo, a taxa real de câmbio entre os Estados
Unidos e o Brasil aumentar em 10%, esse aumento nos diz que os bens no Brasil estão
agora 10% mais baratos em relação aos bens norte-americanos.
Assim como as taxas nominais de câmbio, as taxas reais de câmbio variam ao longo do
tempo. Um aumento no preço relativo dos bens internos em termos de bens externos
é chamado de apreciação real. Uma diminuição do preço relativo dos bens internos em
termos de bens externos é chamada de depreciação real. A palavra real (em oposição
a nominal) indica que estamos nos referindo às variações do preço relativo dos bens, e
não às variações do preço relativo das moedas. Dada a definição da taxa real de câmbio
como o preço dos bens externos em termos de bens internos, uma apreciação real cor-
responde a uma diminuição da taxa real de câmbio, ε. Do mesmo modo, uma deprecia-
ção real corresponde a um aumento da taxa real de câmbio, ε.
Em longos períodos, dependendo de diferenças nas taxas de inflação entre países, as ta-
xas nominais de câmbio e as taxas reais de câmbio podem variar de modo bem diferente.
Se as taxas de inflação fossem iguais, P*⁄P seria constante e ε e E caminhariam juntas.
Até agora nos concentramos nas taxas de câmbio entre o Brasil e os Estados Unidos. Po-
rém, o Brasil tem relações comerciais com muitos outros países além dos Estados Uni-
dos. Como passamos de taxas de câmbio bilaterais para taxas de câmbio multilaterais?
Se quisermos medir o preço médio dos bens do Brasil em relação ao preço médio dos
bens de seus parceiros comerciais, devemos usar a participação do comércio do Brasil
com cada país como peso para aquele país. Usando as participações da exportação, po-
demos obter uma taxa real de câmbio da exportação; usando as participações da impor-
tação, obtemos a taxa real de câmbio da importação. Geralmente, utilizamos uma taxa
de câmbio que representa uma média da participação das exportações e importações.
Essa variável representa a taxa real de câmbio multilateral do Brasil ou, simplesmente,
taxa real de câmbio do Brasil.
17
O Modelo Mundell-Fleming para uma Eco-
nomia Aberta
Para que o mercado de bens esteja em equilíbrio, o produto (lado esquerdo da equação)
deve ser igual à demanda por bens domésticos (lado direito da equação). Essa demanda
é igual ao consumo, C, mais o investimento, I, mais os gastos do governo, G, menos o va-
lor das importações, M⁄ε, mais as exportações, X. Decompondo cada item da equação,
temos que o consumo depende positivamente da renda disponível Y – T; o investimento
depende positivamente do produto, Y, e negativamente da taxa real de juros, r;os gastos
do governo são tomados como dados; a quantidade de importações, M, depende posi-
tivamente tanto do produto como da taxa real de câmbio, ε; valor das importações em
termos de bens domésticos é igual à quantidade de importações dividida pela taxa real
de câmbio; e as exportações, dependem positivamente do produto estrangeiro, Y*, e ne-
gativamente da taxa real de câmbio.
A implicação dessa equação é que tanto a taxa real de juros como a taxa real de câmbio
afetam a demanda e, por sua vez, o produto de equilíbrio. Um aumento da taxa real de ju-
ros leva a uma diminuição dos investimentos e, consequentemente, a uma diminuição da
demanda por bens domésticos. Isso leva, através do multiplicador, a uma diminuição do
produto. Um aumento da taxa real de câmbio leva a um deslocamento da demanda em
direção aos bens estrangeiros e, consequentemente, a uma diminuição das exportações
líquidas. A diminuição das exportações líquidas diminui a demanda por bens domésti-
cos. Isso leva, através do multiplicador, a uma diminuição do produto.
18
Dado o nosso foco no curto prazo, faremos uma suposição de que o nível de preços
doméstico e estrangeiro é dado de modo que a taxa real de câmbio (ε) e a taxa nominal
de câmbio (E) variem juntas. Uma vez que determinamos que o nível de preços é dado,
não existe inflação, efetiva e esperada. Desse modo, a taxa nominal de juros e a taxa real
de juros são iguais. Portanto, o produto depende tanto da taxa nominal de juros como da
taxa nominal de câmbio.
• Moeda versus títulos: para determinar a taxa de juros no modelo, temos que a
oferta de moeda seja igual à demanda por moeda como:
M
= Y L(i*) (1)
P
Tomamos a oferta real de moeda (lado esquerdo) como dada. A demanda real por
moeda (lado direito) depende do nível de transações da economia, medido pelo pro-
duto real, Y, e depende também do custo de oportunidade de reter moeda em vez
de títulos, isto é, a taxa nominal de juros sobre títulos, i, em uma economia fechada.
A taxa de juros deve ser tal que a oferta de moeda e a demanda por moeda sejam
iguais. Um aumento da oferta de moeda leva a uma diminuição da taxa de juros. Um
aumento da demanda por moeda leva a um aumento da taxa de juros.
( (
Et
(1 + it) = (1 + it *)
E te+ 1
19
em que it é a taxa de juros interna, it * é a taxa de juros externa, Et é a taxa de câmbio atual
e E te+ 1 é a taxa de câmbio futura esperada. O lado esquerdo dá o retorno, em termos de
moeda nacional, de reter títulos domésticos. O lado direito dá o retorno esperado tam-
bém em termos da moeda nacional, de reter títulos estrangeiros. No equilíbrio, os dois
retornos esperados devem ser iguais. A condição de paridade de juros torna-se:
1+i
E= Ee
1 + i*
Essa relação diz que a taxa de câmbio atual depende da taxa de juros interna, da taxa de
juros externa e da taxa de câmbio futura esperada.
M
LM : = Y L (i)
P
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do que exposto anteriormente. A taxa de juros afeta o produto não só diretamente, mas
indiretamente, através da taxa de câmbio.
(a) (b)
LM
Relação da paridade
Taxa de juros, i
Taxa de juros, i
de juros
A B
i i
IS
Y E
Produto, Y Taxa de câmbio, E
Vamos analisar, primeiramente, os efeitos da política fiscal pela mudança nos gastos do
governo. Suponha que, partindo de um orçamento equilibrado, o governo resolva aumen-
tar os gastos com defesa sem aumentar os impostos, apresentando assim um deficit
orçamentário. O que acontece com o nível de produto? E com a composição do produto?
E com a taxa de juros? E com a taxa de câmbio? A economia está inicialmente no pon-
to A. O aumento dos gastos do governo aumenta o produto a uma dada taxa de juros,
deslocando a curva IS para a direita. Como os gastos do governo não entram na relação
LM, a curva LM não se desloca. O novo ponto de equilíbrio apresenta um nível de produto
21
maior e uma taxa de juros maior. Essa taxa de juros maior leva a um aumento da taxa de
câmbio. Assim, um aumento nos gastos do governo leva a um aumento do produto, um
aumento da taxa de juros e uma apreciação.
Portanto, um aumento nos gastos do governo leva a um aumento da demanda que, por
sua vez, leva a um aumento do produto. À medida que o produto aumenta, o mesmo
ocorre com a demanda por moeda, pressionando a taxa de juros para cima. O aumento
da taxa de juros, que torna os títulos domésticos mais atraentes, leva a uma apreciação.
Tanto a taxa de juros maior como a apreciação diminuem a demanda doméstica por bens,
compensando uma parte do efeito dos gastos do governo sobre a demanda e o produto.
Vamos, agora, analisar os efeitos da política monetária a partir de uma contração mone-
tária. Para um dado nível de produto, uma diminuição do estoque de moeda leva a um
aumento da taxa de juros. A curva LM se desloca para cima. Como a moeda não entra
diretamente na relação IS, a curva IS não se desloca. O aumento da taxa de juros leva a
uma apreciação. Assim, uma contração monetária leva a uma diminuição do produto,
um aumento da taxa de juros e uma apreciação. Ou seja, a contração monetária leva a
um aumento da taxa de juros, tornando os títulos domésticos mais atraentes e desen-
cadeando uma apreciação. Tanto a taxa de juros maior como a apreciação diminuem a
demanda e o produto. À medida que o produto cai, a demanda por moeda cai, levando a
uma taxa de juros menor, compensando parte do aumento inicial da taxa de juros e parte
da apreciação inicial.
NA PRÁTICA
Imagine uma situação em que a taxa nominal de câmbio entre o real e o dólar,
fixada incialmente em E0 = 1 real por dólar, passasse para E1 = 1,5 reais por
dólar, ou seja, que ocorresse uma depreciação do real em relação ao dólar. O
que aconteceria com a competitividade das exportações brasileira, ou com o
estímulo a importar mercadorias americanas nesse caso? Supondo que todos
os preços permaneçam constantes, isso nos permite dizer que existe uma ten-
dência à elevação das exportações e de redução nas importações brasileiras
quando o câmbio se deprecia, já que as mercadorias domésticas se tornam re-
lativamente mais baratas em dólares e as mercadorias produzidas nos Estados
Unidos ficam relativamente mais caras em reais.
22
Resumo da Unidade 1
Nesta unidade, vimos que, em uma economia aberta, a demanda por bens internos é
igual à demanda por bens (consumo mais investimento, mais gastos do governo) menos
o valor das importações, mais as exportações. Nesse tipo de economia, um aumento da
demanda interna leva a um aumento menor do produto do que em uma economia fecha-
da, porque parte da demanda adicional vai para as importações. Pela mesma razão, um
aumento da demanda interna também leva a uma deterioração da balança comercial.
Um aumento da demanda externa leva, como resultado do aumento das exportações, ao
aumento do produto interno.
Tem-se, também, que, em uma economia aberta, a demanda por bens depende tanto
da taxa de juros quanto da taxa de câmbio. Uma redução da taxa de juros aumenta a
demanda por bens. Um aumento da taxa de câmbio, isto é, uma depreciação, aumenta
a demanda por bens. A taxa de juros é determinada pela igualdade entre a demanda por
moeda e a oferta de moeda. A taxa de câmbio é determinada pela condição da paridade
dos juros, em que a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa mais a taxa
de depreciação esperada. Sob taxas de câmbio fixas e a condição da paridade dos juros,
um país deve manter uma taxa de juros igual à taxa de juros externa. A política fiscal em
uma economia aberta aumenta o produto e, por outro lado, a política monetária diminui
o produto.
CONCEITO
23
Referências
24
UNIDADE 2
Crescimento, desenvolvimento
e ciclos econômicos
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
26
Crescimento e desenvolvimento econômico
Existem economias de todas as formas e tamanhos. Existem países muito ricos e outros
muito pobres. Algumas economias crescem rapidamente e outras não apresentam cres-
cimento. Pode-se dizer que muitas economias se situam entre os dois extremos. Quando
pensamos em crescimento e desenvolvimento econômico, devemos considerar os ca-
sos extremos, os ricos, os pobres e aqueles que fizeram a transição de pobres para ricos.
Antes da Revolução Industrial existia uma diferença pequena no produto per capita
dos países, onde a taxa de crescimento do produto per capita era quase nulo. Com a
Revolução Industrial, essa diferença aumentou devido à descoberta de novos proces-
sos produtivos, fazendo com que o produto per capita de alguns países crescesse a
uma taxa acima do crescimento populacional. Esse processo, entretanto, não acon-
teceu ao mesmo tempo e de forma homogênea em todos os países, provocando o
aumento da desigualdade.
O processo de convergência do produto per capita acontece, mas somente entre países
homogêneos, ou seja, entre países com as mesmas características. Contudo esse pro-
cesso de convergência não possibilitou a redução da diferença de renda entre os países
pobres e ricos, que permaneceu estável ao longo dos anos, apesar de existirem exce-
ções, como Japão, Coreia e Singapura.
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utilizado, contudo, tem-se que um dos aspectos chave do desenvolvimento econômico
é de que quanto maior o “esforço” (taxa de participação da força de trabalho) feito pela
economia para a produção tanto mais produto estará disponível. Em 1995 cerca de me-
tade da população mundial vivia em países com menos de 10% do PIB por trabalhador
dos Estados Unidos.
As taxas de crescimento nos EUA e em muitos países mais pobres do mundo não muda-
ram muito nos últimos cem anos. Por outro lado, as taxas de crescimento aumentaram
significativamente em países como Japão e PIR. É possível observar que um país que
cresce 5% não pode manter essa taxa por muito tempo. Assim como se pode imaginar
que um crescimento de 2% igual ao dos países industrializados não será registrado por
muito tempo. Essas taxas devem ter crescido em algum momento do passado. O tercei-
ro fato, portanto, é de que as taxas de crescimento não são necessariamente constantes
ao longo do tempo.
Os quatro primeiros fatos se aplicam para todos os países do mundo. O próximo fato des-
creve alguns aspectos da economia dos EUA. Eles são características gerais da maioria
das economias no longo prazo. O fato cinco foi extraído de uma palestra de Nicholas
Kaldor em uma conferência sobre acumulação de capital em 1958. No último século,
nos Estados Unidos, a taxa de retorno real sobre o capital não mostra tendência cres-
cente ou decrescente; as participações da renda destinada ao capital e à mão de obra
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não apresentam tendências; e a taxa de crescimento médio do produto per capita tem
sido positiva e constante ao longo do tempo, isto é, os Estados Unidos apresentam um
crescimento da renda per capita estável e sustentado.
E, por fim, o sétimo fato assinala que trabalhadores qualificados e não qualificados ten-
dem a migrar de países ou regiões pobres para países ou regiões ricas. Esse fato foi
apresentado por Robert Lucas, em que a evidência pode ser encontrada na presença
de restrições à imigração nos países ricos. Os retornos à mão de obra, tanto qualificada
quanto não qualificada, devem ser mais elevados nas regiões de renda alta do que nas
regiões de renda baixa. Tudo indica que o trabalho qualificado é escasso nas economias
em desenvolvimento e as teorias elementares abordam que os retornos aos fatores são
maiores quando os fatores são escassos. Os fatos examinados neste tópico não são me-
ras curiosidades sobre as economias, mas sim as respostas chave para a disseminação
de um rápido crescimento econômico. De fato, a recente experiência dos tigres asiáticos
sugere que o crescimento tem poder de transformar padrões de vida no decorrer de uma
única geração.
MIDIATECA
29
Os modelos de crescimento Harrod-Domar
e de Solow
O investimento deve crescer, portanto, a uma taxa na qual a demanda agregada cresça
no mesmo ritmo que a capacidade produtiva, para manter a plena utilização da ca-
pacidade produtiva ao longo do tempo. Dessa forma, a oferta e a demanda agregada
estarão se expandindo exatamente no mesmo ritmo e a plena utilização da capacidade
produtiva poderá ser sustentada indefinidamente.
30
desvios da taxa efetiva de crescimento com relação à taxa garantida não são só auto-
corretivos, mas também são cumulativos. Dessa forma, a taxa garantida de crescimen-
to corresponde a um equilíbrio sob o “fio da navalha”, isto é, o processo de desenvolvi-
mento é eminentemente instável, pois, se a economia se afastar minimamente dessa
posição, jamais retornará a ela.
Y = F (K,L) = K∝ L1 - ∝ (1)
y = k∝ (2)
31
A função de produção (2) sugere que, com mais capital por trabalhador, as empresas
geram mais produto por trabalhador. Existem, contudo, retornos decrescentes ao capi-
tal por trabalhador. A cada unidade adicional de capital que damos a um trabalhador, o
produto gerado por esse trabalhador cresce menos e menos.
K ̇ = sY – dK (3)
K ̇ = sy – (n + d) k (4)
A equação (4) mostra que a variação no capital por trabalhador é determinada a cada
período por: investimento por trabalhador, sy, que aumenta k, enquanto o crescimento
populacional, nk, e a depreciação por trabalhador, dk, reduzem k. A cada período apare-
cem, nL, novos trabalhadores e, se não houver novos investimentos nem depreciação, o
capital por trabalhador se reduz devido ao aumento da força de trabalho.
As equações (2) e (4) são as duas equações fundamentais do Modelo de Solow. Quando
a mudança no capital por trabalhador é positiva, a economia está aumentando o capital
per capita, isto é, está ocorrendo o aprofundamento do capital. Quando essa mudança
é zero, mas o estoque de capital real, K, está crescendo, tem-se um alargamento do ca-
pital. O aprofundamento do capital ocorre até o ponto em que k = k*, quando sy = (n + d)
k, de forma que o crescimento do capital é igual a zero, k ̇ = 0. Nesse ponto, o montante
de capital per capita permanece constante e é chamado de estado estacionário.
32
As quantidades de capital por trabalhador (k*) e produto por trabalhador (y*) no estado
estacionário podem ser obtidas substituindo-se a equação (2) em (4) e igualando a zero
(k ̇ = 0). Manipulando:
( (
1/(1– ∝)
s
k=
*
n+d
( (
∝ /(1– ∝)
s
y=
*
n+d
Países que possuem altas razões poupança/investimento tendem a ser mais ricos, man-
tendo-se tudo mais constante. Esses países acumulam mais capital por trabalhador e
países com mais capital por trabalhador tem maior produto por trabalhador. Não existe
crescimento econômico per capita no estado estacionário nessa versão do Modelo de
Solow. Nesse modelo, as economias crescem durante um período, mas esse crescimen-
to não é experimentado para sempre. Por exemplo, uma economia que apresenta um
estoque de capital per capita menor que o montante de estado estacionário terá cresci-
mento de k e y ao longo de uma trajetória de transição até chegar ao estado estacionário.
Com o tempo, entretanto, o crescimento se tornará mais lento à medida que a economia
se aproxima do estado estacionário e, por fim, o crescimento cessa por completo.
MIDIATECA
33
Crescimento e ciclos econômicos
Todo choque tem efeitos dinâmicos sobre o produto e seus componentes, chamados
de mecanismos de propagação. Esses mecanismos são diferentes para cada tipo de
choque. Os efeitos sobre o produto podem ser maiores no início e diminuir com o tem-
po, ou podem aumentar por um período, depois diminuir e desaparecer. Alguns choques
têm efeitos no médio prazo, tais como uma mudança permanente no preço do petróleo,
que tem efeito permanente sobre a oferta agregada.
34
As economias que passam por flutuações no curto prazo tendem a voltar ao normal no
médio prazo, mas pode acontecer de o produto ficar muito abaixo do seu nível por mui-
tos anos. A economia parece presa, incapaz de voltar ao normal. O caso mais notório foi
o da Grande Depressão, que afetou a maior parte do mundo no final da década de 1920
até o início da Segunda Guerra Mundial.
Segundo Blanchard (2007), em 1929 a taxa de desemprego nos Estados Unidos era de
3,2%. Em 1933 esse número cresceu para 24,9%. Somente dez anos mais tarde, em 1942,
é que voltou para 4,7%. Essa Grande Depressão foi mundial, a taxa média de desemprego
de 1930 a 1938 foi de 15,4% no Reino Unido, 10,2% na França e 21,2% na Alemanha. O
que desencadeou o aumento inicial do desemprego? O que fez a depressão durar tanto?
Como a economia norte-americana finalmente retornou a um desemprego baixo?
Relatos populares garantem que a Grande Depressão foi causada pelo colapso da Bol-
sa de Valores. O colapso foi importante, mas uma recessão já havia começado antes
e outros fatores desempenharam um papel importante posteriormente na depressão.
A fonte do colapso foi o fim da bolha especulativa. Acionistas que compraram ações
a preços elevados, prevendo que elas subiriam ainda mais, apavoraram-se e tentaram
vender suas ações. O resultado foi uma grande queda dos preços. O colapso não só
diminuiu a riqueza dos consumidores, mas também aumentou sua incerteza quanto ao
futuro. Inquietos pelo colapso e incertos quanto ao futuro, os consumidores e as empre-
sas adiaram as compras de bens duráveis e de investimento.
O impacto do colapso foi multiplicado por um grave erro de política econômica, uma
grande diminuição do estoque de moeda nominal. Com o grande declínio do produto,
um número crescente de tomadores de empréstimos viu-se incapaz de saldar suas dí-
vidas com os bancos, fazendo com que mais e mais bancos se tornassem insolventes
e fechassem as portas. As falências dos bancos tiveram um efeito direto sobre a oferta
de moeda, isto é, os depósitos à vista nos bancos falidos perderam valor, mas o princi-
pal efeito sobre a oferta de moeda foi indireto: pessoas com medo de que seus bancos
também falissem, retiraram o dinheiro dos bancos e passaram dos depósitos à vista
para o papel-moeda. O aumento da razão entre papel-moeda e depósitos provocou uma
diminuição do multiplicador monetário e, portanto, uma redução da oferta de moeda.
35
um aumento do estoque de moeda real. Esse é o motivo pelo qual Milton Friedman ar-
gumentaram que o Federal Reserve – Fed foi responsável pela profundidade da Grande
Depressão. O Fed deveria ter dado passos para compensar a queda do multiplicador
monetário, expandindo a base monetária muito mais do que fez.
MIDIATECA
NA PRÁTICA
No longo prazo, a taxa de poupança não tem efeito sobre a taxa de cresci-
mento do produto por trabalhador, que é igual a zero. Temos que pensar no
que seria necessário para sustentar uma taxa de crescimento do produto por
trabalhador positiva constante no longo prazo. O capital por trabalhador teria
de aumentar que, por conta dos rendimentos decrescentes do capital, preci-
saria crescer mais rápido que o produto por trabalhador. Isso implica que a
36
economia teria de poupar a cada ano uma fração cada vez maior do produto e
transferi-la para a acumulação do capital. Em determinado ponto, a fração do
produto necessária para poupar seria maior que um, algo impossível. É por isso
que não é possível sustentar uma taxa de crescimento positiva constante para
sempre. No longo prazo, o capital por trabalhador deve ser constante, assim
como o produto por trabalhador.
37
Resumo da Unidade 2
CONCEITO
38
Referências
39
UNIDADE 3
Inflação, desemprego
e curva de Phillips
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
41
Inflação, preços e salários
• Esse trade-off só poderia existir se os responsáveis pela fixação dos salários su-
bestimassem a inflação de maneira sistemática.
• Se o governo tentasse manter baixo o desemprego e aceitasse uma inflação mais
alta, esse trade-off desapareceria e a taxa de desemprego não poderia ser mantida
abaixo de um certo nível.
Saiba mais
A base dessa argumentação é a teoria das taxas naturais de desemprego e produto de-
senvolvida por Milton Friedman (FROYEN, 2009).
De acordo com essa teoria, existe uma taxa de emprego associada ao nível de equilíbrio
do produto, determinado por fatores reais como oferta e fatores de produção, tecnologia
e instituições da economia. Essa é a taxa natural de Friedman.
42
Exemplo
Baseando-se nessa teoria, pode-se escrever uma relação entre inflação, inflação espera-
da e taxa de desemprego:
Equação (1)
π = πe + (μ + w) – αu
Onde:
• π é a taxa de inflação.
• πe é a taxa de inflação esperada.
• μ é a margem de lucro.
• w são os fatores que afetam a fixação dos salários.
• o parâmetro α reflete a força do impacto do desemprego sobre os salá-
rios.
• u denota a taxa de desemprego.
Veja que, dado o nível de preços do ano anterior, um nível de preços mais alto este ano
provoca um aumento maior do nível de preços do ano anterior para este ano, isto é, um
aumento da inflação. Da mesma forma, dado o nível de preços esperado do ano anterior,
43
um nível de preços esperado maior este ano leva a um aumento maior do nível de preços
esperado do ano anterior para este ano e, assim, temos um aumento da inflação esperada.
O aumento do nível de preços esperado, que leva a um aumento do nível de preços real,
pode ser traduzido como um aumento da inflação esperada, que provoca um aumento
da inflação.
Outro efeito é de que, dada a inflação esperada, um aumento da margem de lucro ou dos
fatores que afetam a fixação dos salários leva a um aumento da inflação.
MIDIATECA
44
A curva de Phillips
Segundo Blanchard (2007), Phillips viu que existiam claras evidências de uma relação
inversa entre inflação e desemprego, ou seja, quando o desemprego diminuía, a inflação
aumentava e, quando o desemprego aumentava, a inflação baixava. Dois anos depois,
Samuelson e Solow repetiram o exercício de Phillips para os Estados Unidos e encontra-
ram a mesma relação.
Equação (2)
πt = (μ + w) – αut
Essa é a relação inversa entre desemprego e inflação encontrada por Phillips, Solow e
Samuelson.
Curiosidade
A história por trás dessa relação é de que, dado o nível de preços esperado –
que considera os preços do ano anterior – o desemprego mais baixo leva a um
salário nominal mais baixo, que, por sua vez, aumento o nível de preços.
45
Analisando conjuntamente as duas etapas, podemos afirmar que o desemprego menor
aumenta o nível de preços deste ano em comparação ao ano anterior, isto é, aumenta
a inflação.
A relação ilustrada pela curva de Phillips foi confirmada por evidências empíricas. Contudo,
em determinados momentos da história, não existiu essa relação visível entre a taxa de
desemprego e a taxa de inflação. Em diversos momentos, a persistência da inflação levou
os trabalhadores e as empresas a reverem o modo como formavam suas expectativas.
Importante
46
Supondo que as expectativas sejam formadas pela seguinte relação:
Equação (3)
πte = σπt – 1
Onde o valor do parâmetro σ reflete o efeito da taxa de inflação do ano anterior sobre a
taxa de inflação esperada para este ano. Quanto maior o valor de σ, mais a inflação do
ano anterior influenciará os trabalhadores e as empresas a reverem suas expectativas
sobre a inflação para este ano e, portanto, maior será a inflação esperada.
Podemos, então, examinar as implicações dos diferentes valores de σ para a relação en-
tre inflação e desemprego. Para isso, a equação (3) será colocada na equação (1):
πte
πt= σπt – 1 + (μ + w) – αut
Quando:
Equação (4)
πt – πt – 1 = (μ + w) – αut
A equação (4) mostra que a taxa de desemprego não afeta a taxa de inflação, mas sim a
variação da taxa de inflação, isto é:
47
Saiba mais
A curva de Phillips original não implicava a existência de uma taxa natural de desempre-
go: se os formuladores de política estivessem dispostos a tolerar uma taxa elevada de
inflação, poderiam manter o desemprego baixo indefinidamente.
Supondo que a inflação atual é igual à inflação esperada (πt = πte), pode-se deduzir a taxa
natural de desemprego diretamente da equação (1):
Equação (5)
μ+w
un =
α
Essa equação implica que quanto maior o reajuste, μ, ou quanto maiores os fatores que
afetam a fixação dos salários, w, mais alta será a taxa natural de desemprego.
Dada a equação (5), αun = μ + w, podemos substituir o termo do lado direito na equação
(1). Dessa forma, temos:
Equação (6)
Se a taxa de inflação esperada está bem próxima da taxa de inflação do ano passado,
π_(t-1), a equação (6) proporciona outra maneira de pensar sobre a curva de Phillips, ou
48
seja, a relação entre a taxa de desemprego atual, a taxa natural de desemprego e a varia-
ção da inflação, πt – πt–1.
MIDIATECA
49
Relações sobre a curva de Phillips
Importante
Quando a taxa de inflação torna-se elevada, ela tende a variar mais. Como resultado, os
trabalhadores e as empresas relutam mais em fechar contratos de trabalho que fixem
salários nominais por um período muito longo.
Por esse motivo, em alguns países, a estrutura dos acordos salariais varia com o nível
da inflação. Assim, os salários nominais são fixados para períodos curtos, podendo ser
de um ano, um mês ou até menos. Dessa forma, a indexação dos salários, que atrela o
aumento dos salários à inflação, passa a prevalecer.
50
Exemplo
Os salários nominais são fixados com base na inflação esperada, que, por sim-
plificação, é igual à inflação do ano anterior.
Equação (7)
πt = [γπt + (1 – γ) πt – 1] – α(ut – un )
Quando γ é positivo, uma proporção γ dos salários é fixada com base na inflação atual, e
não na inflação esperada. Reorganizando, então, a equação (7), temos:
Equação (8)
α
πt – π t – 1 = (ut – un )
1–γ
A equação (8) mostra que quanto maior a proporção de contratos de trabalho indexados,
maior o efeito da taxa de desemprego sobre a variação da inflação, ou seja, maior o coe-
ficiente α/(1 – γ).
A lógica para isso é de que, sem a indexação, o menor nível de desemprego aumenta
os salários, que, por sua vez, aumentam os preços. Contudo, como os salários não
respondem aos preços imediatamente, não é possível observar um efeito adicional no
ano corrente.
51
No entanto, com a indexação dos salários, o aumento dos preços provoca o aumento
dos salários no mesmo ano, que aumenta os preços e assim por diante, de maneira que
o efeito do desemprego sobre a inflação é maior durante o ano corrente.
Quando a maior parte dos contratos de trabalho inclui a indexação dos salários, quando
γ se aproxima de 1, pequenas variações do desemprego podem provocar grandes varia-
ções na inflação.
Curiosidade
A lógica do argumento de Lucas pode ser vista na equação (6) da curva de Phillips, ao
colocar a inflação esperada no lado direito da equação.
52
MIDIATECA
NA PRÁTICA
πt = πet + (μ + w) – αu
πt = σπt – 1+ (μ + w) – αu
πt = (μ + w) – αu
Por outro lado, quando σ>0, a taxa de inflação atual depende tanto da taxa de
desemprego quanto da taxa de inflação do ano passado. Então, quando σ=1, a
relação de oferta agregada temos:
πt – πt – 1 = (μ + w) – αut
53
Resumo da Unidade 3
A curva de Phillips é o mecanismo que ilustra essa relação entre as duas variáveis. Os
resultados obtidos pela curva foram confirmados por fatos empíricos ao longo do tempo,
porém, em certos momentos da história, esses resultados não puderam ser confirma-
dos. Ou seja, a relação inversa entre inflação e desemprego não pode ser observada. Em
diversos momentos, a persistência da inflação levou os trabalhadores e as empresas a
reverem o modo como formavam suas expectativas. Essa mudança na formação de
expectativas modificou a natureza da relação entre desemprego e inflação. A curva de
Phillips, portanto, passou a considerar que uma parcela da inflação passada influencia
a inflação corrente, sendo denominada curva de Phillips aumentada pelas expectativas.
CONCEITO
54
elevado, que, por sua vez, aumenta o nível de preços. Assim, a menor taxa de
desemprego aumenta o nível de preços do ano corrente em comparação ao
ano anterior, ou seja, existe uma relação inversa entre inflação e desemprego.
55
Referências
56
UNIDADE 4
Novo-clássicos, neokeynesianos,
expectativas racionais e o ciclo
real de negócios
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
58
O modelo econômico novo-clássico
Saiba mais
59
De acordo com a hipótese das expectativas racionais, as expectativas são formadas com
base em todas as informações relevantes disponíveis sobre a variável que está sendo
prevista. Essa hipótese afirma que os indivíduos utilizam as informações disponíveis de
maneira inteligente, ou seja, compreendem como as variáveis observadas afetarão a va-
riável que estão tentando prever.
Exemplo
Observação
60
O postulado da ineficácia de políticas novo-clássico pode ser reformulado de maneira
mais clara:
Por outro lado, os economistas novo-clássicos não atribuem nenhum papel significante
para as políticas de estabilização macroeconômicas. Nesse sistema, produto e emprego
não são afetados por mudanças previstas na demanda agregada, nem mesmo no curto
prazo. Como consequência, não existe necessidade de resposta de uma política de es-
tabilização a uma mudança antecipada na demanda, como um declínio na demanda por
investimentos.
61
Para a política fiscal, os novo-clássicos defendem a estabilidade e rejeitam estímulos
excessivos e inflacionários. Gastos governamentais deficitários devem ser evitados. A
instabilidade na política fiscal causa incertezas, dificultando, mesmo para os agentes que
formam expectativas racionais, a previsão correta dos rumos da economia. Ademais,
Thomas Sargent e outros economistas acreditam que uma política crível que busque o
crescimento estável baixo da moeda não pode coexistir com uma política fiscal que gere
grandes déficits.
MIDIATECA
62
A contracrítica keynesiana e os
neokeynesianos
1. A questão da persistência.
2. Os pressupostos informacionais extremos das expectativas racionais.
3. A dualidade do mercado leiloeiro versus as visões contratuais do mercado de
trabalho.
1. A questão da persistência
Exemplo
63
que os efeitos de tal choque não persistam. Eles afirmam ainda que os longos desvios
dos níveis de pleno emprego podem ser explicados mesmo que os choques que os cau-
saram tenham sido de curta duração e são consequência de intervalos de ajuste. Os key-
nesianos não se mostraram convencidos e acreditam que, caso o esquema novo-clás-
sico seja aceito, só seria possível explicar episódios como a Grande Depressão como
resultados de fatores do lado da oferta, que são os únicos fatores que poderiam causar
desemprego prolongado.
Na visão keynesiana do mercado de trabalho, são feitos arranjos de longo prazo entre
compradores e vendedores. Essa visão contratual do mercado de trabalho explica a rigi-
dez salarial com base nos mecanismos institucionais que caracterizam esse mercado.
Os economistas novo-clássicos concordam que o mercado de trabalho é, pelo menos
em parte, caracterizado por contratos de longo prazo. Negam, porém, que a existência
64
desses contratos traga, em si, alguma implicação para determinar se o mercado de tra-
balho será ou não equilibrado.
A economia neokeynesiana
Em anos recentes, economistas que estudam a tradição keynesiana têm buscado ex-
plicações adicionais para o desemprego involuntário. Os modelos que surgiram dessas
pesquisas são chamados de modelos neokeynesianos.
Essa nova vertente tem como principal tarefa aperfeiçoar as bases microeco-
nômicas do sistema keynesiano.
65
Por que, então, as firmas não reduziriam os preços?
Algumas firmas podem manter constantes os preços dos produtos, mesmo com queda
da demanda, se perceberem um custo com a mudança de preços que supere o benefício
da redução de preços. Esses custos de alteração de preços são chamados de custos de
menu. Isto é, quando as firmas mudam preços, novas tabelas de preços precisam ser
confeccionadas, e os clientes têm de ser notificados dos novos preços.
Importante
Esses custos explícitos de mudanças de preços são, por si sós, pequenos de-
mais para explicar uma rigidez significativa de preços, mas existem possíveis
custos adicionais, menos diretos, de alteração dos preços.
À medida que o número de setores em que os preços são rígidos constituir um segmento
significativo da economia, os declínios no produto e no emprego serão substanciais.
Modelos de salário-eficiência
O objetivo da firma é estabelecer o salário real de forma que o custo de uma unidade de
eficiência de mão de obra seja minimizada. Isso é feito aumentando o salário real até o
ponto em que a elasticidade do índice de eficiência em relação ao salário real seja igual a 1.
66
Os teóricos do salário-eficiência afirmam que, em muitos setores, os salários reais não
se ajustam para equilibrar os mercados de trabalho. Na verdade, o princípio que norteia
os modelos de salário-eficiência implica que as firmas definirão o salário real acima do
nível de equilíbrio de mercado.
Esses modelos explicam uma rigidez real. Contudo, a rigidez do salário real não explica
por que mudanças na demanda agregada afetam o produto e o emprego e, assim, o nível
de desemprego involuntário.
Uma variável exibe histerese se, quando forçada a se afastar de um valor inicial, não apre-
senta nenhuma tendência de retorno mesmo quando o choque termina. Em termos de
desemprego, modelos de histerese procuram explicar por que altas taxas de desempre-
go persistem mesmo depois que sua causa inicial já não existe mais.
Exemplo
67
Pressupõe-se que os incluídos usam seu poder de negociação para empurrar
salário real para acima do nível de equilíbrio do mercado, o que resulta em um
grupo de excluídos desempregados. Os incluídos só conseguirão empurrar o
salário real para cima até um certo ponto, porque, quanto mais alto o salário
real, menos incluídos estarão empregados. É possível, porém, que eles acabem
sem emprego, uma vez que, se a demanda agregada da economia como um
todo reduzir-se inesperadamente, o produto e o emprego cairão. Uma parte dos
incluídos será dispensada.
MIDIATECA
68
As expectativas racionais e o ciclo real de
negócios
A teoria dos ciclos reais de negócios foi desenvolvida a partir da teoria novo-clássica. De
fato, os modelos de ciclos reais de negócios compartilham muitas características impor-
tantes com os modelos novo-clássicos e podem ser chamados de segunda geração de
modelos novo-clássicos.
• Os agentes otimizam.
• Os mercados se equilibram.
Além disso, tanto nos modelos novo-clássicos quanto nos modelos de ciclos reais de ne-
gócios, todo desemprego é voluntário. E eles divergem quanto às causas de flutuações
no produto e no emprego.
Saiba mais
• Choques de tecnologia.
• Condições ambientais.
• Alterações nos preços reais.
• Preferência por bens em relação ao lazer.
As variáveis do lado da oferta são também causa de flutuações de curto prazo no produ-
to e no emprego.
69
Um modelo simples de ciclos reais de negócios
Ele obtém utilidade a partir do consumo e do lazer. Ele tem a seguinte função utilidade (U):
Ut = U(ct,let ) (1)
Em que:
• c é consumo.
• le é lazer.
Para consumir, Robinson precisa trabalhar para gerar produto. Ao fazer isso, ele deixa de
lado o lazer. Existe um trade-off entre trabalho e lazer. O produto é gerado pela função de
produção.
yt = zt F(Kt, Nt ) (2)
Robinson não precisa consumir todo o produto que gera em cada período. Ele pode pre-
ferir economizar para quando chegar à velhice ou deixar um patrimônio para seus des-
cendentes:
yt = ct + st (3)
A poupança (s) mais o consumo deve ser igual à renda, ignorando a existência de impostos.
70
Observação
A poupança hoje irá aumentar o consumo no futuro, porque se supõe que a poupança
será investida para aumentar o estoque de capital no período seguinte:
Kt + 1 = st + (1 – δ) Kt (4)
Vamos supor que, em um dado período de tempo, ocorra um choque tecnológico positi-
vo. Esse choque:
1. Será temporário.
2. Ocorrerá em apenas um período.
3. Ocorrerá de forma exógena.
4. Será representado no modelo por um aumento no termo zt na Equação (2).
O choque tecnológico positivo desloca a função de produção para cima. Além disso, a
função torna-se mais inclinada para qualquer nível de mão de obra.
Mesmo com o mesmo nível de mão de obra, esse aumento de produtividade causaria
um aumento no produto.
71
Importante
Uma característica dos modelos de ciclos reais de negócios é que fatores reais
e não monetários são responsáveis por flutuações no produto e no emprego.
Muitos desses modelos sequer incluem a moeda como uma variável e, por-
tanto, não dizem nada como políticas monetárias devem ser conduzidas. Em
modelos que consideram a moeda, o papel dela é determinar o nível de preços,
mas não altera o produto ou o emprego.
A política fiscal irá afetar o produto e o emprego em um modelo de ciclos reais de negó-
cios, não por meio de um efeito sobre a demanda agregada nominal, mas por meio de
efeitos no lado da oferta. Mudanças na carga tributária sobre a renda dos trabalhadores
ou sobre o retorno do capital afetarão as escolhas dos agentes otimizadores. Um impos-
to sobre a renda dos trabalhadores fará um indivíduo escolher lazer demais em relação
ao emprego.
MIDIATECA
72
NA PRÁTICA
Admitimos aqui que a mudança de política foi prevista. Isso pode ocorrer por-
que o público pode prever a mudança de política por saber que o formulador de
políticas age seguindo determinado padrão. Então, se o formulador de políticas
reage sistematicamente a um aumento no desemprego em um período aumen-
tando o estoque de moeda no período seguinte, o público passará a prever um
aumento no estoque de moeda no período t quando observar uma elevação na
taxa de desemprego em t – 1.
73
por mão de obra desloca-se para a direita e para cima. Se a curva de oferta de
mão de obra também não se deslocasse, o emprego subiria. Nos modelos key-
nesiano ou monetarista, em que o nível de preços não se relaciona com o valor
efetivo das variáveis de política, a posição das curvas da oferta agregada e da
oferta de mão de obra seria fixa no curto prazo, e a análise estaria completa.
74
Resumo da Unidade 4
A teoria dos ciclos reais de negócios foi desenvolvida a partir da teoria novo-clássica.
Os teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam as flutuações no produto e no
emprego como “originárias de variações nas oportunidades reais da economia priva-
da”. Essas mudanças podem ser causadas por fatores como choques de tecnologia,
condições ambientais, alterações nos preços reais e preferência por bens em relação
ao lazer. As variáveis do lado da oferta são também causa de flutuações de curto prazo
no produto e no emprego.
75
CONCEITO
76