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MACROECONOMIA

ABERTA
MACROECONOMIA
ABERTA
Copyright © UVA 2019
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meio sem a prévia autorização desta instituição.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa.

AUTORIA DO CONTEÚDO PROJETO GRÁFICO


Christian Jonnatan Jacobsen UVA
Soto Herrera
DIAGRAMAÇÃO
REVISÃO UVA
Isis Batista
Clarissa Penna
Lydianna Lima
Francine F. Souza

R343

Rego, Angela

História da língua portuguesa no Brasil [livro eletrônico] /


Angela Rego. – Rio de Janeiro: UVA, 2019.

727 KB.

ISBN 978-85-5459-044-4

1. Língua portuguesa - Brasil - História. 2. Sociolinguística


- Brasil - História. I. Universidade Veiga de Almeida. II.
Título.

CDD – 469.800981

Bibliotecária Katia Cavalheiro CRB 7 - 4826.


Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA.
SUMÁRIO

Apresentação 6
Autor 7

UNIDADE 1

Economia aberta 8
• Importações, exportações e o multiplicador de uma economia aberta

• O balanço de pagamentos e os tipos de câmbio

• O modelo Mundell-Fleming para uma economia aberta

UNIDADE 2

Crescimento, desenvolvimento e ciclos econômicos 25


• Crescimento e desenvolvimento econômico

• Os modelos de crescimento Harrod-Domar e de Solow

• Crescimento e ciclos econômicos


SUMÁRIO

UNIDADE 3

Inflação, desemprego e curva de Phillips 40


• Inflação, preços e salários

• A curva de Phillips

• Relações sobre a curva de Phillips

UNIDADE 4

Novo-clássicos, neokeynesianos, expectativas racionais 57


e ciclo real de negócios
• O modelo econômico novo-clássico

• A contracrítica keynesiana e os neokeynesianos

• As expectativas racionais e o ciclo real de negócios


APRESENTAÇÃO

A disciplina de Macroeconomia Aberta irá abordar: determinantes macroeconômicos


que afetam as relações dos países com o mundo, isto é, importações, exportações e
o multiplicador keynesiano para uma economia aberta; modelo Mundell-Fleming para
uma economia aberta; crescimento, desenvolvimento e ciclos econômicos, desemprego
e Curva de Phillips. Ademais, mostrará semelhanças e diferenças entre as teorias dos
Novo-clássicos, neokeynesianos, e o conceito de expectativas racionais.

Dessa forma, a disciplina tem como objetivo identificar como os agregados macroeco-
nômicos impactam as inter-relações entre países, como devemos utilizar os indicadores
e métodos desenvolvidos para avaliar os efeitos de uma mudança de política sobre a
economia, além de construir e analisar gráficos e indicadores que possibilitem comparar
os ciclos econômicos e as transições ocorridas ao longo do tempo em diversos países.
Objetiva, também, compreender as diferentes visões teóricas no que tange aos efeitos
das políticas econômicas sobre os agregados macroeconômicos.

6
AUTOR

CHRISTIAN JONNATAN JACOBSEN SOTO


HERRERA

Professor do Instituto Federal de MG – IFMG, tem experiência no departamento financeiro


de grandes empresas, dentre as quais está o grupo Bandeirantes de Comunicação. Atuou
como empresário da área de ensino durante quatro anos. Desenvolve pesquisas nas áreas
de finanças e macroeconomia. É revisor da Revista Brasileira de Finanças (Rbfin). Tem
graduação em Ciências Econômicas pela Mackenzie – Rio (2010), mestrado em Econo-
mia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de
Juiz de Fora – PPGEA–UFJF (2017) e é doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Ciência Econômica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PPGCE–Uerj.

C. Lattes

7
UNIDADE 1

Economia aberta
INTRODUÇÃO

A unidade 1 discute as implicações da abertura dos mercados de bens e dos mercados


financeiros. A abertura dos mercados de bens permite que as pessoas escolham entre
bens internos e externos. Um determinante importante de suas decisões é a taxa real de
câmbio, ou seja, o preço relativo dos bens externos em termos de bens internos. A aber-
tura dos mercados financeiros permite que as pessoas escolham entre ativos internos
e externos. Além disso, esta unidade apresenta uma versão do modelo IS-LM para uma
economia aberta. Esse modelo permite conhecer como as políticas monetária e fiscal
afetam o produto da economia.

OBJETIVO

Nesta unidade, você será capaz de:

• Descrever os agregados que devem ser analisados quando são estudadas as


relações entre as economias de diferentes países.
• Identificar os impactos sobre a balança comercial quando se analisa uma
economia aberta e os efeitos sobre o câmbio.
• Compreender a extensão do modelo IS-LM quando se incorpora a mobilidade
de capitais e de que forma essa mobilidade impacta as economias.

9
Importações, exportações e o multiplicador
de uma economia aberta

O equilíbrio no mercado de bens tem de ser pensado de forma diferente com a abertura
dos mercados de bens. Em uma economia fechada, no mercado de bens, os consumido-
res decidem entre consumir e poupar. Quando os mercados são abertos, os consumido-
res devem decidir também entre comprar bens internos ou bens externos. Essa decisão
envolve todos os agentes econômicos, incluindo empresas, governos e consumidores
estrangeiros, o que afeta diretamente o produto interno.

As exportações e importações podem ser incluídas no modelo keynesiano simples. Pre-


tende-se entender como as importações (M) e exportações (X) determinam a renda de
equilíbrio. O Produto Interno Bruto – PIB é composto por consumo (C), investimentos (I) e
gastos do governo (G), mais as exportações líquidas (exportações menos importações).
Portanto, a condição para o produto de equilíbrio na economia aberta (inclusive exporta-
ções e importações) é:

Y = DA = C + I + G + X – M (1)

As exportações são a demanda estrangeira por produtos domésticos e, portanto, cor-


respondem à demanda agregada. Por outro lado, como as importações estão incluídas
em C, I e G, mas não são demandas por bens domésticos, devemos subtraí-las da de-
manda agregada.

Para encontrar uma expressão do PIB de equilíbrio no modelo de economia aberta, con-
sideramos os investimentos e os gastos do governo como exógenos, como componen-
tes dos dispêndios autônomos. O consumo é dado pela função consumo:

C = a + bY (2)

Os impostos foram omitidos na Equação (2), portanto, o PIB é igual à renda disponível
(YD = Y – T). O termo a (intercepto) é o consumo autônomo, ou seja, o valor do consumo
quando a renda disponível é igual a zero. O parâmetro b (inclinação) representa o aumen-

10
to nos gastos com o consumo quando a renda disponível aumenta em uma unidade. No
caso de uma economia aberta, para obter o produto de equilíbrio, é preciso especificar
os determinantes das importações e exportações.

Para simplificar nossa análise, suponhamos que as importações consistam unicamente


em bens de consumo. Supostamente, a demanda por importações depende da renda e
de um componente autônomo:

M = u + vY u > 0, 0<v<1 (3)

O parâmetro u representa o componente autônomo das importações. O parâmetro v é a


propensão marginal a importar, o aumento na demanda por importações por aumento
unitário no PIB, conceito análogo ao da propensão marginal a consumir (b) em (2).

A demanda por exportações domésticas será uma parte da demanda estrangeira por
importações. A demanda externa por importações dependerá do nível de renda estran-
geira, que é determinada por uma função demanda de consumo análoga à Equação (3).
Com as importações dadas pela Equação (3) e as exportações supostamente exógenas,
podemos calcular a renda de equilíbrio pela Equação (1), como segue:

Y=C+I+G+X–M (1)
= (a + bY) + I + G + X – (u – vY)
{
{

C -M

(1 – b + v)Y = a + I + G + X – u

1
Y= (a + I + G + X – u) (4)
1–b+v

Uma maneira de examinar os efeitos de se levar em conta o comércio externo no modelo


é comparar a Equação (4) com a expressão equivalente de equilíbrio no modelo de eco-
nomia fechada. Essa expressão omitindo a variável imposto (T) pode ser escrita como:

1
Y= (a + I + G) (5)
1–b

11
Tanto na Equação (4) como na (5), a renda de equilíbrio é expressa como o produto de
dois termos, o multiplicador dos dispêndios autônomos e o nível dos dispêndios autôno-
mos. Por meio de um exemplo, veremos como cada um deles é alterado pela inclusão
das importações e exportações no modelo.

Primeiro, considere o multiplicador dos dispêndios autônomos, 1⁄(1 – b + v) na Equação


(4), em contraste a 1⁄(1 – b) na Equação (5), para o modelo de economia fechada. Como
v, que é a propensão marginal a importar, é maior que zero, o multiplicador em (4) será
menor que o multiplicador em (5). Por exemplo, b = 0,8 e v = 0,3, teríamos:

1 1 1
= = =5
1–b 1 – 0,8 0,2

e
1 1 1
= = =2
1–b+v 1 – 0,8 + 0,3 0,5

Pode-se concluir, pelas expressões, que quanto maior for o grau de abertura de uma
economia ao comércio exterior (quanto mais alto for v), menor será o multiplicador dos
gastos autônomos.

O multiplicador de gastos autônomos reflete a mudança na renda de equilíbrio quando se


altera somente os gastos autônomos. Portanto, quanto maior o grau de abertura da eco-
nomia, menos a renda será afetada pelos choques da demanda agregada, tais como mu-
danças nos gastos do governo ou alterações autônomas na demanda por investimentos.
Uma mudança nos gastos do governo, por exemplo, afeta mais e diretamente a renda,
enquanto o consumo sofre um efeito induzido. Quanto mais alto for o valor de v, maior a
alteração na demanda por bens estrangeiros produzidos por não residentes (efeito indu-
zido sobre o consumo). Consequentemente, a abertura dos mercados provoca o efeito
induzido na demanda por bens internos e, posteriormente, afeta em menor grau a renda
doméstica. O aumento nas importações constitui um vazamento adicional do fluxo circu-
lar da renda, reduzindo, assim, o valor do multiplicador dos gastos em bens domésticos.

O segundo termo da expressão (4) representa o nível dos gastos autônomos. Os gastos
autônomos de uma economia aberta incluem os elementos de uma economia fechada
(a + I + G) mais o nível de exportações e o componente autônomo das importações. As
alterações nos componentes autônomos dos gastos afetam o nível de demanda agre-
gada para um determinado nível de renda, provocando mudanças na renda de equilíbrio.

12
Os efeitos multiplicadores das mudanças em X e u podem ser calculados pela Equação
(4), resultando em:

∆Y 1
= (6)
∆X 1–b+v

∆Y 1
= (7)
∆u 1–b+v

Um incremento na demanda por exportações domésticas representa um aumento na de-


manda agregada pelos produtos produzidos por residentes do país, o que proporcionará
uma expansão da renda de equilíbrio, efeito semelhante ao dos gastos do governo ou do
aumento autônomo nos investimentos.

Por outro lado, um aumento autônomo na demanda por importações (u) provoca a que-
da na renda de equilíbrio. Uma expansão autônoma na demanda por importações repre-
senta um deslocamento da demanda por bens domésticos para a demanda por bens
importados, provocando uma queda na renda de equilíbrio.

O incremento na demanda por exportações domésticas tem efeito expansionista sobre a


renda de equilíbrio, enquanto o aumento autônomo nas importações tem um efeito con-
tracionista sobre a renda de equilíbrio. Os bens são importados porque são produzidos
com mais eficiência no exterior, assim, o comércio entre países aumenta a eficiência da
distribuição internacional de recursos. No entanto, o efeito expansionista das exportações
e o efeito oposto das importações explicam por que, às vezes, o estímulo na economia
doméstica é dado por subsídios às exportações e restrições no fluxo de importações.

A demanda doméstica por importações e a demanda estrangeira por exportações do-


mésticas são influenciadas também pelos níveis de preços relativos entre os dois países
e a taxa de câmbio. Essas variáveis determinam os custos relativos dos produtos para
residentes tanto dos países exportadores como dos países importadores.

Nesse tópico consideramos que os níveis de preços e a taxa de câmbio são fixos. Os
efeitos sobre as importações e exportações das mudanças do nível de preços ou da taxa
de câmbio serão analisados no próximo tópico.

13
O Balanço de pagamentos e os tipos de
câmbio

Nas últimas quatro décadas, os mercados financeiros de várias nações tornaram-se


mais interligados. Esse tópico traz as relações comerciais e financeiras internacionais
para o centro da análise, ao determinar as taxas de câmbio e as interações entre econo-
mia doméstica e transações econômicas internacionais. A taxa de câmbio nominal é fun-
damental para a discussão. Uma taxa de câmbio entre duas moedas é o preço de uma
moeda em relação à outra. Operações de câmbio acontecem entre a moeda doméstica
e outras moedas quando residentes do país compram bens ou ativos estrangeiros, assim
como quando residentes de outros países compram bens ou ativos domésticos. O ba-
lanço de pagamentos é o demonstrativo contábil que resume as transações econômicas
internacionais de um país em determinado intervalo de tempo.

Balanço de pagamentos

Os países registram a totalidade das transações econômicas entre seus residentes e não
residentes no balanço de pagamentos. De um lado do balanço, são registrados os cré-
ditos, que são todos os ganhos decorrentes de atividades internacionais de residentes e
do governo nacional, enquanto que, do outro lado, são computados como débitos todos
os gastos no exterior. Cada crédito deve corresponder a um débito igual, e vice-versa.
Cada gasto em bens estrangeiros, por exemplo, precisa ser financiado de alguma manei-
ra, isto é, a fonte de financiamento é registrada como um crédito. Portanto, se todas as
transações forem contabilizadas, o balanço de pagamentos sempre estará equilibrado. A
Tabela resume o balanço de pagamentos do Brasil em 2018:

Tabela 1: Balanço de Pagamentos do Brasil, 2018 (em US$ milhões)

Saldo(=) Déficit
Crédito (+) Débito (-)
(-)/ Superávit (+)

Conta Corrente -9001

Exportações 54.264 54.264

Importações 43.244 43.244

Balança Comercial 11.020

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Balança de Serviços 8.192 -8.192

Renda Primária 12.406 -12.406

Renda Secundária 577 577

Conta de Capitais 7602

Conta Capital 110 110

Investimentos Diretos 17.860 17.860

Investimentos em Carteira 304 -304

Derivativos – ativos e passivos 1.224 -1.224

Outros Investimentos 2.976 -2.976

Ativos de Reserva 5.864 -5.864

Discrepâncias Estatísticas

Fonte: Adaptado de Carta de Conjuntura 2º Trimestre 2019, Ipea (2019).

• Conta corrente: o primeiro grupo consiste nas transações de conta corrente. Os


primeiros itens listados são exportações e importações de mercadorias. Exemplo
de exportações de mercadorias é a venda de um sistema de computação brasileiro
para uma firma britânica. Compras de carros japoneses, câmeras alemãs ou maçãs
argentinas por residentes brasileiros são exemplos de importações. A categoria se-
guinte é a balança de serviços. Exemplos de transações nessa categoria são serviços
financeiros, de seguros ou transportes. O item líquido negativo na tabela indica que,
em 2018, o Brasil importou mais serviços do que exportou. A soma dos pagamentos
líquidos efetuados e recebidos do resto do mundo é chamada de saldo em conta
corrente. Se os pagamentos do resto mundo são positivos, o país tem um superavit
em conta corrente; se são negativos, o país tem um deficit em conta corrente.

• Conta de capitais: entradas autônomas de capital (compras) são compras de ati-


vos domésticos por residentes de países estrangeiros. Essas entradas de capital
incluem compras por residentes de países estrangeiros de títulos privados ou go-
vernamentais, ações e depósitos bancários domésticos. Além disso, investimentos
diretos no país são contabilizados como entradas autônomas de capital no balanço
de pagamentos. As discrepâncias estatísticas constituem o valor que deve ser so-
mado (ou subtraído) para equilibrar o saldo total do balanço de pagamentos.

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Taxas nominais de câmbio

São os preços relativos das moedas. Ou seja, o preço da moeda estrangeira em ter-
mos da moeda nacional, que será representada aqui por E. As taxas de câmbio entre
o dólar e a maioria das moedas estrangeiras mudam a cada dia, a cada minuto do dia.
Essas mudanças são chamadas de apreciações nominais ou depreciações nominais.
Uma apreciação da moeda nacional é o aumento do preço dessa moeda em termos de
uma moeda estrangeira. Dada a definição de taxa de câmbio nominal, uma apreciação
da moeda nacional corresponde a uma diminuição da taxa de câmbio, E. Uma deprecia-
ção da moeda nacional é uma diminuição do preço da moeda doméstica em termos da
moeda estrangeira. Portanto, uma depreciação da moeda nacional corresponde a um
aumento da taxa de câmbio. Considerando o Dólar e o Real, tem-se que uma apreciação
do dólar significa que o preço do dólar em termos de reais subiu. De maneira equivalente,
o preço do real em termos de dólares caiu, isto é, a taxa de câmbio diminuiu. Uma depre-
ciação do dólar significa que o preço do dólar em termos de reais caiu. Equivalentemente,
o preço de um real em termos de dólares subiu, isto é, a taxa de câmbio aumentou.

Entretanto, se estamos interessados na escolha de bens internos ou externos, a taxa


nominal de câmbio nos fornece apenas parte das informações de que precisamos. Para
os turistas brasileiros que pensam em visitar os Estados Unidos, a questão não é apenas
de quantos dólares eles poderão obter em troca de seus reais, mas quanto custarão os
bens nos Estados Unidos em relação ao quanto eles custam no Brasil. Temos, então, que
determinar as taxas reais de câmbio.

Taxas reais de câmbio

O principal aspecto da decisão de comprar bens internos ou externos é o preço dos bens
externos em relação ao preço dos bens internos. Chamamos esse preço relativo de taxa
real de câmbio. Sejam P o deflator do PIB do Brasil, P* o deflator do PIB dos Estados
Unidos (como regra, as variáveis estrangeiras serão representadas por um asterisco) e
E a taxa nominal de câmbio entre real e dólar. O preço dos bens norte-americanos em
dólares é P*. Multiplicando pela taxa de câmbio, E, teremos o preço dos bens norte-ame-
ricanos em reais, EP*. O preço dos bens do Brasil em reais é P. A taxa real de câmbio, é o
preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros (preço dos bens exter-
nos em termos de bens internos), denotado por ε, é dada por:

EP*
ε= (8)
P

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O nível da taxa real de câmbio não é informativo, mas as mudanças relativas na taxa real
de câmbio são informativas: se, por exemplo, a taxa real de câmbio entre os Estados
Unidos e o Brasil aumentar em 10%, esse aumento nos diz que os bens no Brasil estão
agora 10% mais baratos em relação aos bens norte-americanos.

Assim como as taxas nominais de câmbio, as taxas reais de câmbio variam ao longo do
tempo. Um aumento no preço relativo dos bens internos em termos de bens externos
é chamado de apreciação real. Uma diminuição do preço relativo dos bens internos em
termos de bens externos é chamada de depreciação real. A palavra real (em oposição
a nominal) indica que estamos nos referindo às variações do preço relativo dos bens, e
não às variações do preço relativo das moedas. Dada a definição da taxa real de câmbio
como o preço dos bens externos em termos de bens internos, uma apreciação real cor-
responde a uma diminuição da taxa real de câmbio, ε. Do mesmo modo, uma deprecia-
ção real corresponde a um aumento da taxa real de câmbio, ε.

Em longos períodos, dependendo de diferenças nas taxas de inflação entre países, as ta-
xas nominais de câmbio e as taxas reais de câmbio podem variar de modo bem diferente.
Se as taxas de inflação fossem iguais, P*⁄P seria constante e ε e E caminhariam juntas.

Taxas de câmbio bilaterais para multilaterais

Até agora nos concentramos nas taxas de câmbio entre o Brasil e os Estados Unidos. Po-
rém, o Brasil tem relações comerciais com muitos outros países além dos Estados Uni-
dos. Como passamos de taxas de câmbio bilaterais para taxas de câmbio multilaterais?
Se quisermos medir o preço médio dos bens do Brasil em relação ao preço médio dos
bens de seus parceiros comerciais, devemos usar a participação do comércio do Brasil
com cada país como peso para aquele país. Usando as participações da exportação, po-
demos obter uma taxa real de câmbio da exportação; usando as participações da impor-
tação, obtemos a taxa real de câmbio da importação. Geralmente, utilizamos uma taxa
de câmbio que representa uma média da participação das exportações e importações.
Essa variável representa a taxa real de câmbio multilateral do Brasil ou, simplesmente,
taxa real de câmbio do Brasil.

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O Modelo Mundell-Fleming para uma Eco-
nomia Aberta

Neste tópico, examinamos as implicações de equilíbrio tanto no mercado de bens como


nos mercados financeiros. O modelo aqui desenvolvido é uma extensão para a economia
aberta do modelo IS-LM, conhecido como modelo de Mundell-Fleming.

Equilíbrio no mercado de bens (IS)

O equilíbrio no mercado de bens (IS) é encontrado pela condição de equilíbrio:

Y = C(Y – T) + I(Y, r) + G – M(Y, ε)/ε + X(Y*, ε)


(+) (+, –) (+, +) (+, –)

Para que o mercado de bens esteja em equilíbrio, o produto (lado esquerdo da equação)
deve ser igual à demanda por bens domésticos (lado direito da equação). Essa demanda
é igual ao consumo, C, mais o investimento, I, mais os gastos do governo, G, menos o va-
lor das importações, M⁄ε, mais as exportações, X. Decompondo cada item da equação,
temos que o consumo depende positivamente da renda disponível Y – T; o investimento
depende positivamente do produto, Y, e negativamente da taxa real de juros, r;os gastos
do governo são tomados como dados; a quantidade de importações, M, depende posi-
tivamente tanto do produto como da taxa real de câmbio, ε; valor das importações em
termos de bens domésticos é igual à quantidade de importações dividida pela taxa real
de câmbio; e as exportações, dependem positivamente do produto estrangeiro, Y*, e ne-
gativamente da taxa real de câmbio.

A implicação dessa equação é que tanto a taxa real de juros como a taxa real de câmbio
afetam a demanda e, por sua vez, o produto de equilíbrio. Um aumento da taxa real de ju-
ros leva a uma diminuição dos investimentos e, consequentemente, a uma diminuição da
demanda por bens domésticos. Isso leva, através do multiplicador, a uma diminuição do
produto. Um aumento da taxa real de câmbio leva a um deslocamento da demanda em
direção aos bens estrangeiros e, consequentemente, a uma diminuição das exportações
líquidas. A diminuição das exportações líquidas diminui a demanda por bens domésti-
cos. Isso leva, através do multiplicador, a uma diminuição do produto.

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Dado o nosso foco no curto prazo, faremos uma suposição de que o nível de preços
doméstico e estrangeiro é dado de modo que a taxa real de câmbio (ε) e a taxa nominal
de câmbio (E) variem juntas. Uma vez que determinamos que o nível de preços é dado,
não existe inflação, efetiva e esperada. Desse modo, a taxa nominal de juros e a taxa real
de juros são iguais. Portanto, o produto depende tanto da taxa nominal de juros como da
taxa nominal de câmbio.

Equilíbrio nos mercados financeiros (LM)

Quando examinamos os mercados financeiros no modelo IS-LM, supomos que as pes-


soas só escolhem entre dois ativos financeiros, moeda e títulos. Em economia aberta,
devemos levar em conta o fato de que as pessoas têm escolha entre títulos domésticos
e estrangeiros.

• Moeda versus títulos: para determinar a taxa de juros no modelo, temos que a
oferta de moeda seja igual à demanda por moeda como:

M
= Y L(i*) (1)
P

Tomamos a oferta real de moeda (lado esquerdo) como dada. A demanda real por
moeda (lado direito) depende do nível de transações da economia, medido pelo pro-
duto real, Y, e depende também do custo de oportunidade de reter moeda em vez
de títulos, isto é, a taxa nominal de juros sobre títulos, i, em uma economia fechada.
A taxa de juros deve ser tal que a oferta de moeda e a demanda por moeda sejam
iguais. Um aumento da oferta de moeda leva a uma diminuição da taxa de juros. Um
aumento da demanda por moeda leva a um aumento da taxa de juros.

• Títulos domésticos versus títulos estrangeiros: ao examinar a escolha entre tí-


tulos domésticos e títulos estrangeiros, devemos considerar a hipótese de que os
investidores, domésticos e estrangeiros, procuram a taxa de retorno esperada mais
alta. Isso implica que, no equilíbrio, tanto os títulos domésticos como os títulos es-
trangeiros devem ter a mesma taxa de retorno esperada. Essa hipótese significa que
a seguinte relação de arbitragem, a condição da paridade de juros, deve ser satisfeita:

( (
Et
(1 + it) = (1 + it *)
E te+ 1

19
em que it é a taxa de juros interna, it * é a taxa de juros externa, Et é a taxa de câmbio atual
e E te+ 1 é a taxa de câmbio futura esperada. O lado esquerdo dá o retorno, em termos de
moeda nacional, de reter títulos domésticos. O lado direito dá o retorno esperado tam-
bém em termos da moeda nacional, de reter títulos estrangeiros. No equilíbrio, os dois
retornos esperados devem ser iguais. A condição de paridade de juros torna-se:

1+i
E= Ee
1 + i*

Essa relação diz que a taxa de câmbio atual depende da taxa de juros interna, da taxa de
juros externa e da taxa de câmbio futura esperada.

Colocando o mercado de bens e os mercados financeiros juntos

O equilíbrio no mercado de bens, a igualdade entre demanda e oferta de moeda e a pari-


dade de juros determinam o produto, a taxa de juros e a taxa de câmbio. Podemos reduzir
as três relações em duas para eliminar a taxa de câmbio da relação de equilíbrio no mer-
cado de bens. Com isso, obtemos as duas equações que são as versões das relações
IS-LM para uma economia aberta:

IS:Y = C(Y – T) + I(Y, i) + G + NX ( Y, Y*,


1+i
1 + i* (
Ee

M
LM : = Y L (i)
P

Considerando os efeitos de um aumento da taxa de juros sobre o produto na relação IS,


um aumento da taxa de juros tem dois efeitos. O primeiro efeito é sobre o investimento,
que já estava presente em uma economia fechada. Uma taxa de juros maior provoca
uma redução do investimento, da demanda por bens domésticos e do produto. O segun-
do efeito, que surge com a abertura da economia, é o efeito por meio da taxa de câmbio.
Um aumento da taxa de juros interna proporciona uma apreciação (elevação) da taxa de
câmbio. Dessa forma, os bens domésticos ficam mais caros em relação aos bens estran-
geiros, ocasionando redução das exportações líquidas e, portanto, redução da demanda
por bens domésticos e do produto. A interpretação gráfica é de que, como a curva IS é
negativamente inclinada, um aumento na taxa de juros leva à redução do produto. Essa
curva é semelhante à curva de economia fechada, mas tem uma relação mais complexa

20
do que exposto anteriormente. A taxa de juros afeta o produto não só diretamente, mas
indiretamente, através da taxa de câmbio.

A relação LM é igual à da economia fechada. A curva LM é positivamente inclinada. Para


um valor dado do estoque real de moeda, M / P, um aumento do produto leva a um au-
mento da demanda por moeda e a um aumento da taxa de juros de equilíbrio. A Figura (a)
mostra que o equilíbrio no mercado de bens e nos mercados financeiros é alcançado no
ponto A, com nível de produto Y e taxa de juros i. O valor de equilíbrio da taxa de câmbio
não pode ser obtido diretamente no gráfico, porém é obtido facilmente na Figura (b) e for-
nece a taxa de câmbio associada a uma dada taxa de juros. A taxa de câmbio associada
à taxa de juros de equilíbrio i é igual a E.

Figura 2: Modelo IS-LMna economia aberta.

(a) (b)
LM

Relação da paridade
Taxa de juros, i

Taxa de juros, i

de juros

A B
i i

IS

Y E
Produto, Y Taxa de câmbio, E

Fonte: Adaptado de Blanchard (2007).

Efeitos de políticas fiscal e monetária em uma economia aberta

Vamos analisar, primeiramente, os efeitos da política fiscal pela mudança nos gastos do
governo. Suponha que, partindo de um orçamento equilibrado, o governo resolva aumen-
tar os gastos com defesa sem aumentar os impostos, apresentando assim um deficit
orçamentário. O que acontece com o nível de produto? E com a composição do produto?
E com a taxa de juros? E com a taxa de câmbio? A economia está inicialmente no pon-
to A. O aumento dos gastos do governo aumenta o produto a uma dada taxa de juros,
deslocando a curva IS para a direita. Como os gastos do governo não entram na relação
LM, a curva LM não se desloca. O novo ponto de equilíbrio apresenta um nível de produto

21
maior e uma taxa de juros maior. Essa taxa de juros maior leva a um aumento da taxa de
câmbio. Assim, um aumento nos gastos do governo leva a um aumento do produto, um
aumento da taxa de juros e uma apreciação.

Portanto, um aumento nos gastos do governo leva a um aumento da demanda que, por
sua vez, leva a um aumento do produto. À medida que o produto aumenta, o mesmo
ocorre com a demanda por moeda, pressionando a taxa de juros para cima. O aumento
da taxa de juros, que torna os títulos domésticos mais atraentes, leva a uma apreciação.
Tanto a taxa de juros maior como a apreciação diminuem a demanda doméstica por bens,
compensando uma parte do efeito dos gastos do governo sobre a demanda e o produto.

Vamos, agora, analisar os efeitos da política monetária a partir de uma contração mone-
tária. Para um dado nível de produto, uma diminuição do estoque de moeda leva a um
aumento da taxa de juros. A curva LM se desloca para cima. Como a moeda não entra
diretamente na relação IS, a curva IS não se desloca. O aumento da taxa de juros leva a
uma apreciação. Assim, uma contração monetária leva a uma diminuição do produto,
um aumento da taxa de juros e uma apreciação. Ou seja, a contração monetária leva a
um aumento da taxa de juros, tornando os títulos domésticos mais atraentes e desen-
cadeando uma apreciação. Tanto a taxa de juros maior como a apreciação diminuem a
demanda e o produto. À medida que o produto cai, a demanda por moeda cai, levando a
uma taxa de juros menor, compensando parte do aumento inicial da taxa de juros e parte
da apreciação inicial.

NA PRÁTICA

Imagine uma situação em que a taxa nominal de câmbio entre o real e o dólar,
fixada incialmente em E0 = 1 real por dólar, passasse para E1 = 1,5 reais por
dólar, ou seja, que ocorresse uma depreciação do real em relação ao dólar. O
que aconteceria com a competitividade das exportações brasileira, ou com o
estímulo a importar mercadorias americanas nesse caso? Supondo que todos
os preços permaneçam constantes, isso nos permite dizer que existe uma ten-
dência à elevação das exportações e de redução nas importações brasileiras
quando o câmbio se deprecia, já que as mercadorias domésticas se tornam re-
lativamente mais baratas em dólares e as mercadorias produzidas nos Estados
Unidos ficam relativamente mais caras em reais.

22
Resumo da Unidade 1

Nesta unidade, vimos que, em uma economia aberta, a demanda por bens internos é
igual à demanda por bens (consumo mais investimento, mais gastos do governo) menos
o valor das importações, mais as exportações. Nesse tipo de economia, um aumento da
demanda interna leva a um aumento menor do produto do que em uma economia fecha-
da, porque parte da demanda adicional vai para as importações. Pela mesma razão, um
aumento da demanda interna também leva a uma deterioração da balança comercial.
Um aumento da demanda externa leva, como resultado do aumento das exportações, ao
aumento do produto interno.

Tem-se, também, que, em uma economia aberta, a demanda por bens depende tanto
da taxa de juros quanto da taxa de câmbio. Uma redução da taxa de juros aumenta a
demanda por bens. Um aumento da taxa de câmbio, isto é, uma depreciação, aumenta
a demanda por bens. A taxa de juros é determinada pela igualdade entre a demanda por
moeda e a oferta de moeda. A taxa de câmbio é determinada pela condição da paridade
dos juros, em que a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa mais a taxa
de depreciação esperada. Sob taxas de câmbio fixas e a condição da paridade dos juros,
um país deve manter uma taxa de juros igual à taxa de juros externa. A política fiscal em
uma economia aberta aumenta o produto e, por outro lado, a política monetária diminui
o produto.

CONCEITO

O conceito de economia aberta abordado nesta unidade resume o fato de que


a maioria das economias comercializa bens e ativos com o resto do mundo. A
abertura da economia é composta por duas dimensões. A primeira dimensão
engloba a abertura dos mercados de bens, que é a possibilidade que os consu-
midores e empresas têm de escolher entre bens internos e externos. A segunda
dimensão é a abertura dos mercados financeiros, com a possibilidade que os
investidores têm de escolher entre ativos financeiros internos e externos.

23
Referências

BLANCHARD, O. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

FROYEN, R. T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Carta de Conjuntura. n. 43,


2º Trimestre de 2019.

MANKIW, N.G. Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

24
UNIDADE 2

Crescimento, desenvolvimento
e ciclos econômicos
INTRODUÇÃO

A Unidade 2 faz uma apresentação sobre crescimento, desenvolvimento e ciclos econô-


micos. Nesta unidade são apresentados os fatos estilizados do crescimento econômico
e a relação com o desenvolvimento econômico. Além disso, é apresentado o modelo
Harrod-Domar, que é o modelo pioneiro de crescimento. O modelo de Solow neoclássico
mostra como a força de trabalho, a poupança e o capital impactam o crescimento eco-
nômico e sua trajetória até o caminho de equilíbrio. Além dos momentos de crescimento,
as economias passam por momentos de recessão, provocando, assim, os ciclos econô-
micos. Esse momento de recessão pelo qual os países passam é exemplificado com a
explicação da Grande Depressão de 1929.

OBJETIVO

Nesta unidade, você será capaz de:

• Compreender e analisar os principais determinantes que impactam o cresci-


mento e o desenvolvimento econômico, bem como identificar a ocorrência de
diferentes ciclos econômicos.

26
Crescimento e desenvolvimento econômico

Existem economias de todas as formas e tamanhos. Existem países muito ricos e outros
muito pobres. Algumas economias crescem rapidamente e outras não apresentam cres-
cimento. Pode-se dizer que muitas economias se situam entre os dois extremos. Quando
pensamos em crescimento e desenvolvimento econômico, devemos considerar os ca-
sos extremos, os ricos, os pobres e aqueles que fizeram a transição de pobres para ricos.

Crescimento econômico, em geral, é mensurado em termos de produto per capita –


PIB per capita). Essa medida traduz o nível de desenvolvimento econômico dos países,
no sentido de que existe uma correlação positiva entre PIB per capita e indicadores de
qualidade de vida, tais como: expectativa de vida, mortalidade infantil, nível educacional
da população, entre outros. De modo geral, mais crescimento econômico indica uma
melhoria na qualidade de vida.

Antes da Revolução Industrial existia uma diferença pequena no produto per capita
dos países, onde a taxa de crescimento do produto per capita era quase nulo. Com a
Revolução Industrial, essa diferença aumentou devido à descoberta de novos proces-
sos produtivos, fazendo com que o produto per capita de alguns países crescesse a
uma taxa acima do crescimento populacional. Esse processo, entretanto, não acon-
teceu ao mesmo tempo e de forma homogênea em todos os países, provocando o
aumento da desigualdade.

O processo de convergência do produto per capita acontece, mas somente entre países
homogêneos, ou seja, entre países com as mesmas características. Contudo esse pro-
cesso de convergência não possibilitou a redução da diferença de renda entre os países
pobres e ricos, que permaneceu estável ao longo dos anos, apesar de existirem exce-
ções, como Japão, Coreia e Singapura.

Jones (2000) destaca alguns fatos ou evidências empíricas do crescimento econômico.


O primeiro fato é de que há uma grande variação entre as rendas per capita das eco-
nomias. Os países mais pobres têm rendas per capita que são inferiores a 5% da renda
per capita dos países mais ricos. O PIB per capita seria uma medida de bem-estar mais
geral, porque nos diz qual o montante de produto disponível, por pessoa, para ser consu-
mido, investido ou empregado de alguma maneira. Por outro lado, o PIB por trabalhador
diz mais respeito à produtividade de mão de obra, mas também é possível argumentar
que o PIB por trabalhador é uma medida de bem-estar. Qualquer que seja o indicador

27
utilizado, contudo, tem-se que um dos aspectos chave do desenvolvimento econômico
é de que quanto maior o “esforço” (taxa de participação da força de trabalho) feito pela
economia para a produção tanto mais produto estará disponível. Em 1995 cerca de me-
tade da população mundial vivia em países com menos de 10% do PIB por trabalhador
dos Estados Unidos.

A distribuição se tornou menos desigual a partir de 1960, na medida em que a participa-


ção da população mundial que vive em países com um PIB por trabalhador de menos de
30% do PIB dos EUA se reduziu. Nessa época, um grupo de países apresentou elevada
taxa de crescimento, passando do grupo de países pobres para países ricos. Esses são
os chamados países de industrialização tardia – PIR, Hong Kong, Singapura, Taiwan e
Coreia do Sul. A elevada taxa de crescimento desses países nos leva ao segundo fato de
que as taxas de crescimento econômico variam substancialmente entre um país e outro.

As taxas de crescimento nos EUA e em muitos países mais pobres do mundo não muda-
ram muito nos últimos cem anos. Por outro lado, as taxas de crescimento aumentaram
significativamente em países como Japão e PIR. É possível observar que um país que
cresce 5% não pode manter essa taxa por muito tempo. Assim como se pode imaginar
que um crescimento de 2% igual ao dos países industrializados não será registrado por
muito tempo. Essas taxas devem ter crescido em algum momento do passado. O tercei-
ro fato, portanto, é de que as taxas de crescimento não são necessariamente constantes
ao longo do tempo.

A substancial variação nas taxas de crescimento entre um país e outro ou em relação


ao próprio país leva a um importante corolário dos fatos 2 e 3. Dada sua importância,
ele também é considerado um fato, isto é, o quarto fato diz que a posição relativa de um
país na distribuição mundial da renda per capita não é imutável. Os países podem passar
de pobres a ricos, e vice-versa. Um exemplo dessa situação é o da Argentina. No fim
do século XIX, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo. Com uma base de
recursos naturais impressionante e com uma infraestrutura em rápido desenvolvimento,
o país atraía investimentos estrangeiros e imigrantes em larga escala. Por volta de 1990,
contudo, a renda per capita da Argentina era de apenas um terço dos Estados Unidos.

Os quatro primeiros fatos se aplicam para todos os países do mundo. O próximo fato des-
creve alguns aspectos da economia dos EUA. Eles são características gerais da maioria
das economias no longo prazo. O fato cinco foi extraído de uma palestra de Nicholas
Kaldor em uma conferência sobre acumulação de capital em 1958. No último século,
nos Estados Unidos, a taxa de retorno real sobre o capital não mostra tendência cres-
cente ou decrescente; as participações da renda destinada ao capital e à mão de obra

28
não apresentam tendências; e a taxa de crescimento médio do produto per capita tem
sido positiva e constante ao longo do tempo, isto é, os Estados Unidos apresentam um
crescimento da renda per capita estável e sustentado.

O sexto fato é de que o crescimento do produto e o crescimento do volume do comércio


internacional estão estreitamente relacionados. O volume de comércio é definido como a
soma de exportações e importações dividida pelo PIB. Para muitos países, o volume do
comércio tem aumentado a uma velocidade maior do que o PIB. De modo geral, a par-
ticipação das importações e exportações aumentou em todo o mundo a partir de 1960.

E, por fim, o sétimo fato assinala que trabalhadores qualificados e não qualificados ten-
dem a migrar de países ou regiões pobres para países ou regiões ricas. Esse fato foi
apresentado por Robert Lucas, em que a evidência pode ser encontrada na presença
de restrições à imigração nos países ricos. Os retornos à mão de obra, tanto qualificada
quanto não qualificada, devem ser mais elevados nas regiões de renda alta do que nas
regiões de renda baixa. Tudo indica que o trabalho qualificado é escasso nas economias
em desenvolvimento e as teorias elementares abordam que os retornos aos fatores são
maiores quando os fatores são escassos. Os fatos examinados neste tópico não são me-
ras curiosidades sobre as economias, mas sim as respostas chave para a disseminação
de um rápido crescimento econômico. De fato, a recente experiência dos tigres asiáticos
sugere que o crescimento tem poder de transformar padrões de vida no decorrer de uma
única geração.

MIDIATECA

Acesse a midiateca da Unidade 2 e veja o conteúdo complementar sobre a tra-


jetória de crescimento do Brasil de 1940 a 2002.

29
Os modelos de crescimento Harrod-Domar
e de Solow

A abordagem pós-keynesiana do crescimento e distribuição de renda teve origem com


as contribuições seminais de Harrod (1939) e Domar (1946), que são uma tentativa de
extensão dos resultados obtidos por Keynes. O resultado fundamental desse modelo
é de que a obtenção de uma trajetória de crescimento estável, com pleno emprego é
possível, mas muito improvável. Dessa forma, as economias deverão apresentar um
crescimento irregular, alternando períodos de crescimento acelerado com períodos de
queda acentuada do nível de atividade econômica, e desemprego elevado.

A característica fundamental do modelo Harrod-Domar de crescimento, segundo Oreiro


(2019), consiste na determinação das condições necessárias para a manutenção do
equilíbrio entre poupança e investimento ao longo do tempo. Keynes havia mostrado
que a manutenção do pleno emprego exigia que os empresários estivessem dispostos
a investir um montante igual ao produto entre a propensão a poupar da sociedade e o
nível de renda de pleno emprego.

O investimento tem dupla natureza. Por um lado, o investimento é um componente da


demanda agregada, contribuindo positivamente para a utilização dos meios de produ-
ção. Por outro lado, o objetivo do investimento é aumentar a capacidade de produção da
economia, ou seja, aumentar o nível de renda de pleno emprego. Assim, o investimento
realizado em um instante de tempo vai se transformar em uma maior capacidade de
produção. Dessa forma, para manter o pleno emprego, não é suficiente ao longo do
tempo que os empresários desejem realizar gastos de investimento na magnitude dada
pelo produto entre a propensão a poupar da sociedade e o nível de renda de pleno em-
prego, também é preciso que eles estejam dispostos a aumentar esses gastos.

O investimento deve crescer, portanto, a uma taxa na qual a demanda agregada cresça
no mesmo ritmo que a capacidade produtiva, para manter a plena utilização da ca-
pacidade produtiva ao longo do tempo. Dessa forma, a oferta e a demanda agregada
estarão se expandindo exatamente no mesmo ritmo e a plena utilização da capacidade
produtiva poderá ser sustentada indefinidamente.

O primeiro “problema” de Harrod determina que o crescimento com pleno emprego é


possível, mas é altamente improvável, pois as variáveis constitutivas da condição de
equilíbrio são independentes entre si. O segundo “problema” de Harrod postula que os

30
desvios da taxa efetiva de crescimento com relação à taxa garantida não são só auto-
corretivos, mas também são cumulativos. Dessa forma, a taxa garantida de crescimen-
to corresponde a um equilíbrio sob o “fio da navalha”, isto é, o processo de desenvolvi-
mento é eminentemente instável, pois, se a economia se afastar minimamente dessa
posição, jamais retornará a ela.

Esse modelo de crescimento tem dois resultados fundamentais. O primeiro é de que


o crescimento equilibrado em pleno emprego da força de trabalho é possível, mas é
improvável, sendo resultado de uma coincidência entre os valores dos parâmetros fun-
damentais: propensão a poupar, relação capital-produto requerida para produzir uma
unidade de produto e a taxa natural de crescimento. O segundo resultado é de que a
taxa garantida de crescimento é instável.

Em 1956 Robert Solow publicou um artigo seminal sobre crescimento e desenvolvimento


econômicos intitulado A contribution to the Theory of Economic Growth. Neste tópico
será desenvolvido o modelo proposto por Solow e como ele é capaz de explicar os fatos
consagrados sobre crescimento e desenvolvimento. Para entender o modelo, é preciso
levantar algumas hipóteses: os países produzem e consomem um único bem homogêneo
(produto) – é conveniente pensar nesse produto como unidades do Produto Interno Bruto
(PIB) de um país; uma implicação dessa hipótese simplificadora é que não existe comér-
cio internacional porque há apenas um bem; outra suposição do modelo é que a tecnolo-
gia é exógena, isto é, a tecnologia disponível para as empresas nesse mundo simples não
é afetada pelas ações das empresas, incluindo pesquisa e desenvolvimento – P&D.

O Modelo de Solow é construído em torno de duas equações, uma função de produ-


ção e uma equação de acumulação do capital. A função de produção descreve como
insumos como capital, K, e trabalho, L, se combinam para gerar produto, Y. A função de
produção é uma função do tipo Cobb-Douglas. Formalmente:

Y = F (K,L) = K∝ L1 - ∝ (1)

onde α é qualquer número entre 0 e 1. Essa função apresenta retornos constantes de


escala, ou seja, se todos os insumos forem duplicados, o produto dobrará. Os fatos
consagrados do crescimento são explicados analisando-se o produto per capita. Pode-
-se, então, reescrever a função de produção da equação (1) em termos de produto por
trabalhador, y ≡ Y/L, e de capital por trabalhador, k ≡ K/L:

y = k∝ (2)

31
A função de produção (2) sugere que, com mais capital por trabalhador, as empresas
geram mais produto por trabalhador. Existem, contudo, retornos decrescentes ao capi-
tal por trabalhador. A cada unidade adicional de capital que damos a um trabalhador, o
produto gerado por esse trabalhador cresce menos e menos.

A segunda equação fundamental do Modelo de Solow é a equação que descreve como


o capital se acumula. Formalmente:

K ̇ = sY – dK (3)

A variação no estoque de capital, K ̇ (Kt – 1– Kt), é igual ao montante de investimento


bruto, sY, menos o montante da depreciação que ocorre durante o processo produtivo,
dK. De acordo com Solow, supomos que os trabalhadores/consumidores poupam uma
fração constante, s, de sua renda. A economia é fechada, de modo que a poupança é
igual ao investimento, e a única utilização do investimento nessa economia é a acumu-
lação de capital. Os consumidores, então, alugam esse capital para as empresas, que o
utilizam na produção. Para estudar a evolução do produto per capita dessa economia,
a equação da acumulação do capital será reescrita em termos de capital per capita.
Após algumas manipulações algébricas, tem-se a equação de acumulação do capital
por trabalhador:

K ̇ = sy – (n + d) k (4)

A equação (4) mostra que a variação no capital por trabalhador é determinada a cada
período por: investimento por trabalhador, sy, que aumenta k, enquanto o crescimento
populacional, nk, e a depreciação por trabalhador, dk, reduzem k. A cada período apare-
cem, nL, novos trabalhadores e, se não houver novos investimentos nem depreciação, o
capital por trabalhador se reduz devido ao aumento da força de trabalho.

As equações (2) e (4) são as duas equações fundamentais do Modelo de Solow. Quando
a mudança no capital por trabalhador é positiva, a economia está aumentando o capital
per capita, isto é, está ocorrendo o aprofundamento do capital. Quando essa mudança
é zero, mas o estoque de capital real, K, está crescendo, tem-se um alargamento do ca-
pital. O aprofundamento do capital ocorre até o ponto em que k = k*, quando sy = (n + d)
k, de forma que o crescimento do capital é igual a zero, k ̇ = 0. Nesse ponto, o montante
de capital per capita permanece constante e é chamado de estado estacionário.

32
As quantidades de capital por trabalhador (k*) e produto por trabalhador (y*) no estado
estacionário podem ser obtidas substituindo-se a equação (2) em (4) e igualando a zero
(k ̇ = 0). Manipulando:

( (
1/(1– ∝)
s
k=
*
n+d

( (
∝ /(1– ∝)
s
y=
*
n+d

Países que possuem altas razões poupança/investimento tendem a ser mais ricos, man-
tendo-se tudo mais constante. Esses países acumulam mais capital por trabalhador e
países com mais capital por trabalhador tem maior produto por trabalhador. Não existe
crescimento econômico per capita no estado estacionário nessa versão do Modelo de
Solow. Nesse modelo, as economias crescem durante um período, mas esse crescimen-
to não é experimentado para sempre. Por exemplo, uma economia que apresenta um
estoque de capital per capita menor que o montante de estado estacionário terá cresci-
mento de k e y ao longo de uma trajetória de transição até chegar ao estado estacionário.
Com o tempo, entretanto, o crescimento se tornará mais lento à medida que a economia
se aproxima do estado estacionário e, por fim, o crescimento cessa por completo.

A hipótese do progresso tecnológico, A, pode ser relaxada e introduzida no modelo. Nes-


se caso, o produto por trabalhador ao longo da trajetória de crescimento equilibrado é
determinado pela tecnologia, pela taxa de investimento e pela taxa de crescimento po-
pulacional. Pode-se concluir também que no Modelo de Solow, as mudanças na política
econômica aumentam as taxas de crescimento temporariamente, ao longo da trajetória
de transição para o novo estado estacionário, mas não tem efeito no longo prazo. Além
disso, as mudanças na política podem ter efeito sobre o nível do produto, isto é, uma
mudança de política permanente pode aumentar ou diminuir permanentemente o nível
do produto per capita.

MIDIATECA

Acesse a midiateca da Unidade 2 e veja o conteúdo complementar sobre a evo-


lução econômica dos países ao longo de dois séculos.

33
Crescimento e ciclos econômicos

Os fatores que determinam a taxa de crescimento de equilíbrio de longo prazo de um


país são os que afetam a taxa de mudança tecnológica, o crescimento da mão de obra
e a taxa de formação de capital. As influências sobre essas variáveis são as fontes
básicas de crescimento econômico. Mudanças na política ou alterações do ambiente
econômico, portanto, costumam ter efeitos diferentes no curto e no médio prazo. Essas
diferenças é uma das razões de os economistas discordarem em suas recomendações.
Alguns acreditam que a economia se ajusta rapidamente a seu equilíbrio de médio pra-
zo e, então, enfatizam as implicações de médio prazo da política. Outros acreditam que
o mecanismo de ajuste pelo qual o produto retorna a seu nível natural pode ser muito
lento e enfatizam os efeitos de curto prazo da política. Essa corrente é mais disposta a
utilizar uma política monetária ou déficits orçamentários para sair da recessão, mesmo
que a moeda seja neutra no médio prazo e os déficits públicos tenham implicações
adversas no longo prazo.

Os ciclos econômicos são caracterizados pelas flutuações do produto, isto é, variações


do produto em torno de sua tendência. A economia é constantemente afetada por cho-
ques, tanto na oferta agregada quanto na demanda agregada. Esses choques podem
ser deslocamentos de consumo, investimento, moeda, produtividade de mão de obra,
variações no preço do petróleo, entre outros.

Todo choque tem efeitos dinâmicos sobre o produto e seus componentes, chamados
de mecanismos de propagação. Esses mecanismos são diferentes para cada tipo de
choque. Os efeitos sobre o produto podem ser maiores no início e diminuir com o tem-
po, ou podem aumentar por um período, depois diminuir e desaparecer. Alguns choques
têm efeitos no médio prazo, tais como uma mudança permanente no preço do petróleo,
que tem efeito permanente sobre a oferta agregada.

As flutuações do produto originam-se do surgimento constante de novos choques, em


que cada um tem seu próprio mecanismo de propagação. Às vezes, choques adversos
podem levar a uma recessão. Na história, existem muitos episódios de choques que cul-
minaram em recessão em diversas economias. As duas recessões da década de 1970
foram provocadas em grande parte pelo aumento do preço do petróleo. A desacelera-
ção de 2001 parece ter como causa uma queda acentuada dos gastos com investimen-
to e os atentados de 11 de setembro. As flutuações econômicas são resultado desses
choques e de seus efeitos dinâmicos sobre o produto.

34
As economias que passam por flutuações no curto prazo tendem a voltar ao normal no
médio prazo, mas pode acontecer de o produto ficar muito abaixo do seu nível por mui-
tos anos. A economia parece presa, incapaz de voltar ao normal. O caso mais notório foi
o da Grande Depressão, que afetou a maior parte do mundo no final da década de 1920
até o início da Segunda Guerra Mundial.

Segundo Blanchard (2007), em 1929 a taxa de desemprego nos Estados Unidos era de
3,2%. Em 1933 esse número cresceu para 24,9%. Somente dez anos mais tarde, em 1942,
é que voltou para 4,7%. Essa Grande Depressão foi mundial, a taxa média de desemprego
de 1930 a 1938 foi de 15,4% no Reino Unido, 10,2% na França e 21,2% na Alemanha. O
que desencadeou o aumento inicial do desemprego? O que fez a depressão durar tanto?
Como a economia norte-americana finalmente retornou a um desemprego baixo?

Relatos populares garantem que a Grande Depressão foi causada pelo colapso da Bol-
sa de Valores. O colapso foi importante, mas uma recessão já havia começado antes
e outros fatores desempenharam um papel importante posteriormente na depressão.
A fonte do colapso foi o fim da bolha especulativa. Acionistas que compraram ações
a preços elevados, prevendo que elas subiriam ainda mais, apavoraram-se e tentaram
vender suas ações. O resultado foi uma grande queda dos preços. O colapso não só
diminuiu a riqueza dos consumidores, mas também aumentou sua incerteza quanto ao
futuro. Inquietos pelo colapso e incertos quanto ao futuro, os consumidores e as empre-
sas adiaram as compras de bens duráveis e de investimento.

O impacto do colapso foi multiplicado por um grave erro de política econômica, uma
grande diminuição do estoque de moeda nominal. Com o grande declínio do produto,
um número crescente de tomadores de empréstimos viu-se incapaz de saldar suas dí-
vidas com os bancos, fazendo com que mais e mais bancos se tornassem insolventes
e fechassem as portas. As falências dos bancos tiveram um efeito direto sobre a oferta
de moeda, isto é, os depósitos à vista nos bancos falidos perderam valor, mas o princi-
pal efeito sobre a oferta de moeda foi indireto: pessoas com medo de que seus bancos
também falissem, retiraram o dinheiro dos bancos e passaram dos depósitos à vista
para o papel-moeda. O aumento da razão entre papel-moeda e depósitos provocou uma
diminuição do multiplicador monetário e, portanto, uma redução da oferta de moeda.

Com uma diminuição do estoque de moeda nominal de 1929 a 1933 praticamente


proporcional à queda do nível de preços, o estoque de moeda real permaneceu quase
constante, eliminando um dos mecanismos que poderiam ter levado à recuperação. Em
outras palavras, a curva LM ficou praticamente inalterada, não se deslocou para baixo,
como faria se o estoque de moeda nominal tivesse permanecido constante, implicando

35
um aumento do estoque de moeda real. Esse é o motivo pelo qual Milton Friedman ar-
gumentaram que o Federal Reserve – Fed foi responsável pela profundidade da Grande
Depressão. O Fed deveria ter dado passos para compensar a queda do multiplicador
monetário, expandindo a base monetária muito mais do que fez.

A recuperação teve início em 1933. O crescimento foi consistentemente elevado, com


uma taxa média anual de 7,7% de 1933 a 1941 (BLANCHARD, 2007). Um dos fatores
que contribuíram para a recuperação foi a mudança na política monetária, que provo-
cou um aumento do crescimento da moeda nominal. Então, a deflação terminou e o
restante da década foi caracterizado por uma inflação pequena, mas positiva. Muitas
questões permanecem acerca da recuperação. O que está claro é que o crescimento
elevado da moeda nominal, levando a um crescimento elevado da moeda real, foi um
fator importante na recuperação.

MIDIATECA

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economia brasileira.

NA PRÁTICA

Você sabe quais os efeitos da taxa de poupança sobre a taxa de crescimento


do produto por trabalhador em uma determinada economia? Vamos ver!

No longo prazo, a taxa de poupança não tem efeito sobre a taxa de cresci-
mento do produto por trabalhador, que é igual a zero. Temos que pensar no
que seria necessário para sustentar uma taxa de crescimento do produto por
trabalhador positiva constante no longo prazo. O capital por trabalhador teria
de aumentar que, por conta dos rendimentos decrescentes do capital, preci-
saria crescer mais rápido que o produto por trabalhador. Isso implica que a

36
economia teria de poupar a cada ano uma fração cada vez maior do produto e
transferi-la para a acumulação do capital. Em determinado ponto, a fração do
produto necessária para poupar seria maior que um, algo impossível. É por isso
que não é possível sustentar uma taxa de crescimento positiva constante para
sempre. No longo prazo, o capital por trabalhador deve ser constante, assim
como o produto por trabalhador.

A taxa de poupança, contudo, vai determinar o nível de produto por trabalha-


dor no longo prazo. Ou seja, tudo mais constante, os países com uma taxa
de poupança mais alta obterão um produto por trabalhador mais elevado no
longo prazo.

O aumento da taxa de poupança, portanto, provocará um maior crescimento


do produto por trabalhador durante algum tempo, mas não indefinidamente.
Assim, à medida que o produto aumentar para seu novo nível mais elevado
em resposta ao aumento da taxa de poupança, a economia passará por um
período de crescimento positivo. Esse período de crescimento cessará quando
a economia atingir seu novo estado de crescimento equilibrado.

37
Resumo da Unidade 2

Na Unidade 2 foram estudados os conceitos de crescimento econômico e desenvolvi-


mento econômico. Então, pode-se definir que o crescimento econômico é mensurado
em termos de PIB per capita. E como existe uma correlação positiva entre PIB per capita
e indicadores de qualidade de vida, o PIB per capita mede o nível de desenvolvimento
econômico dos países. Portanto, o crescimento econômico indica uma melhoria na qua-
lidade de vida.

No tópico 2 foram desenvolvidos dois modelos de crescimento econômico: Harrod-Do-


mar e Solow. A principal característica do modelo Harrod-Domar é a determinação das
condições necessárias para a manutenção do equilíbrio entre poupança e investimento
ao longo do tempo. O modelo de Solow responde muitas questões de crescimento e de-
senvolvimento dos países – ele mostra que os países têm uma trajetória de crescimento
equilibrado até atingir o estado estacionário. Por fim, conhecemos o conceito de ciclos
econômicos que são caracterizados pelas flutuações do produto, isto é, variações do
produto em torno de sua tendência.

CONCEITO

Crescimento econômico, em geral, é mensurado em termos de produto per ca-


pita – PIB per capita. Essa medida traduz o nível de desenvolvimento econômi-
co dos países, no sentido de que existe uma correlação positiva entre PIB per
capita e indicadores de qualidade de vida, tais como: expectativa de vida, mor-
talidade infantil, nível educacional da população, entre outros. De modo geral,
mais crescimento econômico indica uma melhoria na qualidade de vida.

38
Referências

BLANCHARD, O. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

JONES, C. I.; VOLLARTH, D. Introdução à Teoria do Crescimento Econômico. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2000.

OREIRO, J. L. Crescimento econômico, progresso técnico e distribuição de renda: uma


abordagem pluralista. Disponível em: http://joseluisoreiro.com.br/site/link/88ea97b5e-
152df42e69710b22771ab907dff66a4.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019.

39
UNIDADE 3

Inflação, desemprego
e curva de Phillips
INTRODUÇÃO

A Unidade 3 aborda a inflação, o desemprego e os salários, apresentando a influência da


inflação esperada na inflação atual e como esse fato influencia a fixação dos preços e
salários. Além disso, temos a relação entre a inflação e a taxa de desemprego mostrada
pela curva de Phillips, a partir da qual é possível obter diversas relações. Essa relação é
modificada pelas expectativas dos agentes na economia e seus efeitos podem ser ob-
servados pela curva de Phillips na versão aceleracionista. Por fim, mostramos como as
expectativas dos trabalhadores e das empresas afetam a fixação dos salários, que, por
sua vez, afetam a inflação.

OBJETIVO

Nesta unidade, você será capaz de:

• Aplicar conceitos e procedimentos matemáticos para construir formas de ra-


ciocínio que permitam aplicar estratégias para a resolução de problemas.

41
Inflação, preços e salários

No final da década de 1960, Milton Friedman e Edmund Phelps questionaram a existên-


cia de um trade-off entre desemprego e inflação. Os argumentos utilizados eram de que:

• Esse trade-off só poderia existir se os responsáveis pela fixação dos salários su-
bestimassem a inflação de maneira sistemática.
• Se o governo tentasse manter baixo o desemprego e aceitasse uma inflação mais
alta, esse trade-off desapareceria e a taxa de desemprego não poderia ser mantida
abaixo de um certo nível.

Saiba mais

Em economia, trade-off é uma expressão que define uma situação de escolha


conflitante, isto é, quando uma ação econômica que visa à resolução de deter-
minado problema acarreta, inevitavelmente, outros (MANKIW, 2009).

Isso porque, segundo os monetaristas, no longo prazo:

• A moeda tem influência sobre o nível de preços e outras variáveis nominais.


• No longo prazo, variáveis reais, como o produto real e o emprego, são determina-
das por fatores reais, não monetários.

A base dessa argumentação é a teoria das taxas naturais de desemprego e produto de-
senvolvida por Milton Friedman (FROYEN, 2009).

De acordo com essa teoria, existe uma taxa de emprego associada ao nível de equilíbrio
do produto, determinado por fatores reais como oferta e fatores de produção, tecnologia
e instituições da economia. Essa é a taxa natural de Friedman.

42
Exemplo

Políticas monetárias expansionistas moveriam o produto acima da taxa natural


e, por algum tempo, deslocariam a taxa de desemprego para baixo da taxa na-
tural. O aumento da demanda resultante dessa política levaria também a uma
elevação de preços. No curto prazo, os preços não se ajustariam por completo,
já que o aumento da demanda não afetaria o produto.

Baseando-se nessa teoria, pode-se escrever uma relação entre inflação, inflação espera-
da e taxa de desemprego:

Equação (1)

π = πe + (μ + w) – αu

Onde:

• π é a taxa de inflação.
• πe é a taxa de inflação esperada.
• μ é a margem de lucro.
• w são os fatores que afetam a fixação dos salários.
• o parâmetro α reflete a força do impacto do desemprego sobre os salá-
rios.
• u denota a taxa de desemprego.

Diversos efeitos podem ser identificados a partir da equação (1).

O primeiro deles é o de que um aumento da inflação esperada leva a um aumento da


inflação. Esse efeito pode ser visto pelo mecanismo de que, se os responsáveis pela
fixação dos salários esperam um nível de preços maior, determinam um salário nominal
mais alto, que, por sua vez, leva a um aumento do nível de preços.

Veja que, dado o nível de preços do ano anterior, um nível de preços mais alto este ano
provoca um aumento maior do nível de preços do ano anterior para este ano, isto é, um
aumento da inflação. Da mesma forma, dado o nível de preços esperado do ano anterior,

43
um nível de preços esperado maior este ano leva a um aumento maior do nível de preços
esperado do ano anterior para este ano e, assim, temos um aumento da inflação esperada.

O aumento do nível de preços esperado, que leva a um aumento do nível de preços real,
pode ser traduzido como um aumento da inflação esperada, que provoca um aumento
da inflação.

Outro efeito é de que, dada a inflação esperada, um aumento da margem de lucro ou dos
fatores que afetam a fixação dos salários leva a um aumento da inflação.

E um terceiro e último efeito é de que, dada a inflação esperada, um aumento da taxa de


desemprego leva a uma queda da inflação. Isto é, dado o nível de preços esperado, um
aumento da taxa de desemprego provoca uma queda do salário nominal, que leva a um
nível menor de preços.

Logo, dada a inflação esperada, um aumento do desemprego resulta em uma


queda da inflação.

MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 3 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre taxas de inflação no Brasil.

44
A curva de Phillips

Em 1958, o economista A. W. Phillips criou um diagrama que traçava a taxa de inflação


em relação à taxa de desemprego no Reino Unido, ano a ano, de 1861 a 1957.

Segundo Blanchard (2007), Phillips viu que existiam claras evidências de uma relação
inversa entre inflação e desemprego, ou seja, quando o desemprego diminuía, a inflação
aumentava e, quando o desemprego aumentava, a inflação baixava. Dois anos depois,
Samuelson e Solow repetiram o exercício de Phillips para os Estados Unidos e encontra-
ram a mesma relação.

Relação conhecida como curva de Phillips



Os responsáveis pela determinação de salários devem escolher os salários nominais do
próximo ano e, portanto, precisam estimar a inflação ao longo do ano. Supondo que a
taxa média de inflação no passado seja igual a zero, é razoável que a inflação esperada
seja igual a zero no próximo ano.

Dessa maneira, πte = 0. A equação (1) torna-se, então:

Equação (2)

πt = (μ + w) – αut

Essa é a relação inversa entre desemprego e inflação encontrada por Phillips, Solow e
Samuelson.

Curiosidade

A história por trás dessa relação é de que, dado o nível de preços esperado –
que considera os preços do ano anterior – o desemprego mais baixo leva a um
salário nominal mais baixo, que, por sua vez, aumento o nível de preços.

45
Analisando conjuntamente as duas etapas, podemos afirmar que o desemprego menor
aumenta o nível de preços deste ano em comparação ao ano anterior, isto é, aumenta
a inflação.

Esse mecanismo pode ser chamado de espiral de salários e preços, que:

• Mostra que o desemprego baixo conduz a um salário nominal elevado.


• Em resposta ao aumento do salário nominal, as empresas aumentam seus pre-
ços, elevando, assim, o nível de preços.
• Em resposta a esse aumento, os trabalhadores, no momento da fixação dos salá-
rios, reivindicam salários nominais mais altos.
• Esse aumento no salário nominal leva as empresas a aumentarem ainda mais
seus preços, com elevação do nível de preços novamente.
• Em resposta a esse novo aumento, os trabalhadores pedem novo aumento do
salário nominal e assim por diante.

Essa espiral gera uma inflação contínua de salários e preços.

A relação ilustrada pela curva de Phillips foi confirmada por evidências empíricas. Contudo,
em determinados momentos da história, não existiu essa relação visível entre a taxa de
desemprego e a taxa de inflação. Em diversos momentos, a persistência da inflação levou
os trabalhadores e as empresas a reverem o modo como formavam suas expectativas.

Importante

Quando a inflação se mantém persistentemente positiva, a expectativa de que


os preços deste ano sejam os mesmos do ano passado é errada.

Como a inflação se manteve positiva e persistente, as pessoas, ao formarem suas ex-


pectativas, começaram a incorporar a existência e a persistência da inflação. Essa mu-
dança na formação de expectativas modificou a natureza da relação entre desemprego
e inflação.

46
Supondo que as expectativas sejam formadas pela seguinte relação:

Equação (3)

πte = σπt – 1

Onde o valor do parâmetro σ reflete o efeito da taxa de inflação do ano anterior sobre a
taxa de inflação esperada para este ano. Quanto maior o valor de σ, mais a inflação do
ano anterior influenciará os trabalhadores e as empresas a reverem suas expectativas
sobre a inflação para este ano e, portanto, maior será a inflação esperada.

Podemos, então, examinar as implicações dos diferentes valores de σ para a relação en-
tre inflação e desemprego. Para isso, a equação (3) será colocada na equação (1):

πte
πt= σπt – 1 + (μ + w) – αut

Quando:

• σ é igual a zero, obtemos a curva de Phillips original.


• σ é positivo, a taxa de inflação depende não apenas da taxa de desemprego, mas
também da taxa de inflação do ano passado.

Quando σ = 1, a relação de oferta agregada é representada por:

Equação (4)

πt – πt – 1 = (μ + w) – αut

A equação (4) mostra que a taxa de desemprego não afeta a taxa de inflação, mas sim a
variação da taxa de inflação, isto é:

• Desemprego alto leva à queda da inflação.


• Desemprego baixo leva à elevação da inflação.

47
Saiba mais

Essa equação apresenta três denominações diferentes:

• Curva de Phillips modificada.


• Curva de Phillips aumentada pelas expectativas.
• Curva de Phillips aceleracionista.

A curva de Phillips original não implicava a existência de uma taxa natural de desempre-
go: se os formuladores de política estivessem dispostos a tolerar uma taxa elevada de
inflação, poderiam manter o desemprego baixo indefinidamente.

Como visto no Tópico 1, Friedman e Phelps questionaram a existência de um trade-off


entre inflação e desemprego.

Podemos, então, relacionar a curva de Phillips e a taxa natural de desemprego.

Supondo que a inflação atual é igual à inflação esperada (πt = πte), pode-se deduzir a taxa
natural de desemprego diretamente da equação (1):

Equação (5)

μ+w
un =
α

Essa equação implica que quanto maior o reajuste, μ, ou quanto maiores os fatores que
afetam a fixação dos salários, w, mais alta será a taxa natural de desemprego.

Dada a equação (5), αun = μ + w, podemos substituir o termo do lado direito na equação
(1). Dessa forma, temos:

Equação (6)

πt – πte = –α(ut – un)

Se a taxa de inflação esperada está bem próxima da taxa de inflação do ano passado,
π_(t-1), a equação (6) proporciona outra maneira de pensar sobre a curva de Phillips, ou

48
seja, a relação entre a taxa de desemprego atual, a taxa natural de desemprego e a varia-
ção da inflação, πt – πt–1.

Então, a variação da inflação depende da diferença entre as taxas de desemprego atual e


natural. Quando a taxa de desemprego atual:

• Ultrapassa a taxa natural, a inflação cai.


• É menor do que a taxa natural de desemprego, a inflação aumenta.

MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 3 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre inflação versus desemprego.

49
Relações sobre a curva de Phillips

A relação entre o desemprego e a inflação tende a mudar com o nível e a persistência da


inflação.

Importante

Essa relação muda não apenas o processo pelo qual os trabalhadores e as


empresas formam suas expectativas, mas também os acordos institucionais.

Quando a taxa de inflação torna-se elevada, ela tende a variar mais. Como resultado, os
trabalhadores e as empresas relutam mais em fechar contratos de trabalho que fixem
salários nominais por um período muito longo.

Ou seja, se a inflação for:

• Mais elevada do que se espera, os salários reais poderão despencar.


• Menor do que a esperada, os salários reais poderão subir muito e as empresas, falir.

Por esse motivo, em alguns países, a estrutura dos acordos salariais varia com o nível
da inflação. Assim, os salários nominais são fixados para períodos curtos, podendo ser
de um ano, um mês ou até menos. Dessa forma, a indexação dos salários, que atrela o
aumento dos salários à inflação, passa a prevalecer.

Essas mudanças provocam uma reação mais forte da inflação ao desemprego.

50
Exemplo

Considere uma economia que tem dois tipos de contratos de trabalho:

• Uma proporção γ dos contratos de trabalho é indexada.


• Uma proporção 1 – γ dos contratos não é indexada.

Os salários nominais são fixados com base na inflação esperada, que, por sim-
plificação, é igual à inflação do ano anterior.

Supondo que πt = πte, a equação (6) se transforma em:

Equação (7)

πt = [γπt + (1 – γ) πt – 1] – α(ut – un )

Quando γ é positivo, uma proporção γ dos salários é fixada com base na inflação atual, e
não na inflação esperada. Reorganizando, então, a equação (7), temos:

Equação (8)

α
πt – π t – 1 = (ut – un )
1–γ

A equação (8) mostra que quanto maior a proporção de contratos de trabalho indexados,
maior o efeito da taxa de desemprego sobre a variação da inflação, ou seja, maior o coe-
ficiente α/(1 – γ).

A lógica para isso é de que, sem a indexação, o menor nível de desemprego aumenta
os salários, que, por sua vez, aumentam os preços. Contudo, como os salários não
respondem aos preços imediatamente, não é possível observar um efeito adicional no
ano corrente.

51
No entanto, com a indexação dos salários, o aumento dos preços provoca o aumento
dos salários no mesmo ano, que aumenta os preços e assim por diante, de maneira que
o efeito do desemprego sobre a inflação é maior durante o ano corrente.

Quando a maior parte dos contratos de trabalho inclui a indexação dos salários, quando
γ se aproxima de 1, pequenas variações do desemprego podem provocar grandes varia-
ções na inflação.

Curiosidade

Em países onde a inflação é muito alta, a relação entre inflação e desemprego


pode desaparecer por completo.

Ao tentar prever os efeitos de uma grande mudança na política econômica, o economista


Robert Lucas ressaltou que poderia ser um grande engano tomar como dadas as rela-
ções estimadas com base em dados passados.

Essa é a chamada crítica de Lucas.

Tomar a equação (6) como dada seria equivalente a supor que:

• Os fixadores de salários continuariam a esperar que a inflação futura fosse a mes-


ma do passado.
• A formação de expectativas pelos fixadores de salários não se alteraria em respos-
ta a uma mudança de política.

A lógica do argumento de Lucas pode ser vista na equação (6) da curva de Phillips, ao
colocar a inflação esperada no lado direito da equação.

Se os fixadores de salários continuam a formar expectativas de inflação com base na


inflação passada (πte = πt – 1), o único modo de reduzir a inflação seria aceitar um desem-
prego maior por algum tempo, ou seja, ut > un.

Contudo, se os fixadores de salários se convencessem de que a inflação seria de fato


menor que a do ano passado, eles baixariam suas expectativas de inflação. Esse fato
diminuiria a inflação atual e o desemprego permaneceria em sua taxa natural.

52
MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 3 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre curva de Phillips e a experiência brasileira.

NA PRÁTICA

Considerando que os agentes econômicos formam expectativas, isto é, levam


em conta a inflação passada no momento de definir a inflação esperada, como
obtemos a inflação corrente pela curva de Phillips modificada?

Relação entre inflação e desemprego:

πt = πet + (μ + w) – αu

Como π_t^e= σπ_(t-1), podemos substituir esse fato na relação acima:

πt = σπt – 1+ (μ + w) – αu

Quando σ=0, obtemos a curva de Phillips original:

πt = (μ + w) – αu

Por outro lado, quando σ>0, a taxa de inflação atual depende tanto da taxa de
desemprego quanto da taxa de inflação do ano passado. Então, quando σ=1, a
relação de oferta agregada temos:

πt – πt – 1 = (μ + w) – αut

Essa é a curva de Phillips modificada ou aumentada pelas expectativas.

53
Resumo da Unidade 3

Nesta unidade estudamos as relações entre inflação e desemprego e sobre a curva de


Phillips. Inflação e desemprego têm efeitos contrários na economia, isto é, dada a in-
flação esperada, um aumento da taxa de desemprego leva a uma queda da inflação.
Tomando como dado o nível de preços esperado, um aumento da taxa de desemprego
provoca uma queda do salário nominal, que leva a um nível menor de preços.

A curva de Phillips é o mecanismo que ilustra essa relação entre as duas variáveis. Os
resultados obtidos pela curva foram confirmados por fatos empíricos ao longo do tempo,
porém, em certos momentos da história, esses resultados não puderam ser confirma-
dos. Ou seja, a relação inversa entre inflação e desemprego não pode ser observada. Em
diversos momentos, a persistência da inflação levou os trabalhadores e as empresas a
reverem o modo como formavam suas expectativas. Essa mudança na formação de
expectativas modificou a natureza da relação entre desemprego e inflação. A curva de
Phillips, portanto, passou a considerar que uma parcela da inflação passada influencia
a inflação corrente, sendo denominada curva de Phillips aumentada pelas expectativas.

A relação entre desemprego e inflação tende a mudar com o nível e a persistência da


inflação. Quando a taxa de inflação se torna elevada, ela tende a variar mais. Como re-
sultado, os trabalhadores e as empresas relutam mais em fechar contratos de trabalho
que fixem salários nominais por um período mais longo. Assim, os salários nominais são
fixados para períodos curtos. Essa indexação dos salários, que atrela o aumento dos
salários à inflação, passa a prevalecer. Quando a maior parte dos contratos de trabalho
inclui a indexação dos salários, pequenas variações do desemprego podem provocar
grandes variações na inflação.

CONCEITO

A curva de Phillips, descoberta por Phillips, Solow e Samuelson por volta da


década de 1960, mostra a relação entre desemprego e inflação. Dado o nível
de preço esperado, o desemprego mais baixo leva a um salário nominal mais

54
elevado, que, por sua vez, aumenta o nível de preços. Assim, a menor taxa de
desemprego aumenta o nível de preços do ano corrente em comparação ao
ano anterior, ou seja, existe uma relação inversa entre inflação e desemprego.

55
Referências

MANKIW, N. G. Introdução à economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

56
UNIDADE 4

Novo-clássicos, neokeynesianos,
expectativas racionais e o ciclo
real de negócios
INTRODUÇÃO

A Unidade 4 fará uma apresentação sobre os modelos novo-clássicos e neokeynesia-


nos. Nesta unidade, serão apresentados os conceitos das expectativas racionais utiliza-
das pelos economistas novo-clássicos e o ciclo real de negócios, que é uma vertente da
corrente novo-clássica. Além disso, serão expostas as contracríticas keynesianas aos
modelos novo-clássicos. O modelo novo-clássico é baseado nas expectativas racionais
dos agentes econômicos. Já o modelo neokeynesiano busca corrigir algumas falhas
do modelo keynesiano ao considerar alguns aspectos microeconômicos. Na década de
1980, foram desenvolvidos os ciclos reais de negócios, que procuram mostrar como os
choques tecnológicos e as políticas econômicas afetam o produto e o emprego.

OBJETIVO

Nesta unidade, você será capaz de:

• Demonstrar de que forma são caracterizados os efeitos sobre os agregados


macroeconômicos por meio do conhecimento das principais correntes teóricas.

58
O modelo econômico novo-clássico

A economia novo-clássica foi desenvolvida na década de 1970, período de alta inflação


e desemprego, sendo representada pelo economista Robert Lucas. Os economistas no-
vo-clássicos são céticos quanto à utilidade de políticas ativas de estabilização e conside-
ram a teoria keynesiana falha.

A ideia central da política econômica da economia novo-clássica é de que a estabilização


de variáveis reais, como produto e emprego, não é possível pelas políticas sistemáticas
de administração da demanda agregada. Ou seja, segundo a visão neoclássica, medidas
sistemáticas de política fiscal e monetária que alterem a demanda agregada não afeta-
rão o produto e o emprego, nem no curto nem no longo prazo.

Esse princípio é chamado de postulado novo-clássico da ineficácia das políti-


cas econômicas.

Analisando a relação entre produto e emprego e a demanda agregada, os modelos mo-


netaristas e keynesianos pressupõem que os ofertantes de mão de obra formam a taxa
de inflação futura com base no comportamento passado dos preços. Na prática, essas
duas correntes assumem que tais expectativas de preços ajustam-se lentamente, poden-
do ser fixas no curto prazo.

Saiba mais

Taxa de inflação futura: expectativas para o nível de preços agregado corrente.

Segundo Froyen (2009), os economistas novo-clássicos consideram essas formulações


extremamente ingênuas. Eles acreditam que os agentes econômicos racionais não iriam
se basear somente nos níveis passados de preço, porque tal comportamento resulta em
erros sistemáticos quando a demanda agregada se altera.

Os novo-clássicos acreditam que os agentes econômicos formarão expectati-


vas racionais.

59
De acordo com a hipótese das expectativas racionais, as expectativas são formadas com
base em todas as informações relevantes disponíveis sobre a variável que está sendo
prevista. Essa hipótese afirma que os indivíduos utilizam as informações disponíveis de
maneira inteligente, ou seja, compreendem como as variáveis observadas afetarão a va-
riável que estão tentando prever.

Portanto, as expectativas são baseadas nas informações disponíveis.

Se os agentes têm expectativas racionais, os ofertantes de mão de obra usarão todas as


informações passadas relevantes para prever o valor do nível agregado de preços cor-
rentes, e não somente as informações sobre o comportamento dos preços no passado.
Além disso, utilizarão todas as informações de que dispuserem sobre os valores corren-
tes das variáveis que participam da determinação do nível de preços.

Podemos analisar o efeito de uma política expansionista de aumento no estoque de moe-


da quando as expectativas são racionais. Para isso, é preciso especificar se a mudança
na política monetária foi ou não antecipada, pois os efeitos da mudança dessa política
esperada ou não esperada são muito diferentes quando as expectativas são racionais.

Exemplo

Primeiramente, admitimos que a mudança de política tenha sido prevista. Se o


formulador de políticas reage sistematicamente a um aumento no desemprego
em um período aumentando o estoque de moeda no período seguinte, o públi-
co passará a prever um aumento no estoque de moeda no período t quando ob-
servar uma elevação na taxa de desemprego no período t – 1 (FROYEN, 2009).

Observação

O desenvolvimento desse exemplo com as diferenças entre os resultados key-


nesianos e novo-clássicos é apresentado na seção Na prática.

60
O postulado da ineficácia de políticas novo-clássico pode ser reformulado de maneira
mais clara:

• Os economistas novo-clássicos acreditam que o produto real e o emprego não são


afetados por mudanças sistemáticas e, portanto, previsíveis em políticas de deman-
da agregada.
• Nos modelos keynesiano e monetarista, mudanças nas políticas de demanda agre-
gada afetam o produto e o emprego porque os ofertantes de mão de obra não perce-
bem corretamente os efeitos de tais mudanças de políticas sobre o nível de preços.

Os novo-clássicos pressupõem que as expectativas são racionais e, consequentemente,


que os ofertantes de mão de obra não cometerão erros sistemáticos em suas previsões
de preços. Se a política for prevista, os efeitos sobre os preços também serão. Entretan-
to, essa corrente considera que os agentes econômicos não têm informações perfeitas.
Mudanças imprevistas na demanda agregada afetarão o produto real e o emprego. Os
ofertantes de mão de obra não perceberão os efeitos sobre o nível de preços como resul-
tado dessas mudanças imprevistas na demanda agregada.

Por outro lado, os economistas novo-clássicos não atribuem nenhum papel significante
para as políticas de estabilização macroeconômicas. Nesse sistema, produto e emprego
não são afetados por mudanças previstas na demanda agregada, nem mesmo no curto
prazo. Como consequência, não existe necessidade de resposta de uma política de es-
tabilização a uma mudança antecipada na demanda, como um declínio na demanda por
investimentos.

Na visão novo-clássica, a economia é autoestabilizadora no que se refere a


tais choques.

Portanto, as conclusões de políticas dos economistas novo-clássicos são não interven-


cionistas, assim como eram as dos economistas clássicos e monetaristas.

Quanto à política monetária, a maioria dos economistas novo-clássicos tem a mesma


posição que os monetaristas: defendem regras de taxa de crescimento da moeda, como
as propostas pelo economista americano Milton Friedman. Essas regras de política eco-
nômica eliminam a possibilidade de mudanças imprevistas no estoque de moeda. Além
disso, uma taxa de crescimento constante do estoque de moeda contribuiria para a es-
tabilidade da taxa de inflação.

61
Para a política fiscal, os novo-clássicos defendem a estabilidade e rejeitam estímulos
excessivos e inflacionários. Gastos governamentais deficitários devem ser evitados. A
instabilidade na política fiscal causa incertezas, dificultando, mesmo para os agentes que
formam expectativas racionais, a previsão correta dos rumos da economia. Ademais,
Thomas Sargent e outros economistas acreditam que uma política crível que busque o
crescimento estável baixo da moeda não pode coexistir com uma política fiscal que gere
grandes déficits.

MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 4 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre uma análise do modelo novo-clássico.

62
A contracrítica keynesiana e os
neokeynesianos

Embora os keynesianos acreditem que muitos pontos levantados pelos novo-clássicos


sejam válidos, eles continuam a acreditar que Keynes forneceu a base de uma estrutura
útil para analisar os determinantes do produto e do emprego. Os keynesianos continuam
acreditando na utilidade de políticas ativas para estabilizar o produto e o emprego.

Fazem críticas à visão novo-clássica em relação a três aspectos:

1. A questão da persistência.
2. Os pressupostos informacionais extremos das expectativas racionais.
3. A dualidade do mercado leiloeiro versus as visões contratuais do mercado de
trabalho.

1. A questão da persistência

O modelo novo-clássico com expectativas racionais poderia explicar desvios do empre-


go em relação ao nível de pleno emprego. Declínios imprevistos na demanda agregada
moveriam o produto e o emprego para níveis abaixo dos níveis de pleno emprego. Os
keynesianos afirmam que, embora tal explicação seja plausível para pequenos afasta-
mentos do pleno emprego, ela não é adequada para explicar os desvios persistentes e
substanciais que, de fato, aconteceram.

Exemplo

Os keynesianos questionaram como os novo-clássicos poderiam explicar as


taxas de desemprego acima de 10% na Grã-Bretanha durante todo o período
1923-1939, ou durante a Grande Depressão da década de 1930 nos Estados
Unidos, quando a taxa de desemprego superou 14% por 10 anos consecutivos
(FROYEN, 2009).

A resposta dos economistas novo-clássicos é que, embora a causa do desemprego, a


mudança imprevista na demanda agregada, seja de curta duração, não há razão para

63
que os efeitos de tal choque não persistam. Eles afirmam ainda que os longos desvios
dos níveis de pleno emprego podem ser explicados mesmo que os choques que os cau-
saram tenham sido de curta duração e são consequência de intervalos de ajuste. Os key-
nesianos não se mostraram convencidos e acreditam que, caso o esquema novo-clás-
sico seja aceito, só seria possível explicar episódios como a Grande Depressão como
resultados de fatores do lado da oferta, que são os únicos fatores que poderiam causar
desemprego prolongado.

2. Os pressupostos informacionais extremos das expectati-


vas racionais

Os keynesianos criticam o pressuposto de que indivíduos usam todas as informações


relevantes ao fazer suas previsões. Tal pressuposto ignora os custos relativos à coleta de
informações. Além disso, argumentam que os ofertantes individuais de mão de obra não
possuem conhecimento tanto do funcionamento da economia como dos padrões de
comportamento dos formuladores de políticas para utilizar as informações disponíveis
de forma inteligente.

Os novo-clássicos contra-argumentam defendendo o pressuposto das expectativas


racionais. Eles preferem o pressuposto das expectativas racionais às formulações que
pressupõem que os indivíduos formam expectativas de preços com base na história pas-
sada dos preços, porque a hipótese das expectativas racionais é consistente com o com-
portamento otimizador individual.

3. A dualidade do mercado leiloeiro versus as visões contra-


tuais do mercado de trabalho

No modelo novo-clássico, pressupõe-se que o salário monetário se ajusta rapidamente


para equilibrar o mercado de trabalho, igualando oferta e demanda por mão de obra.
Essa é uma caracterização do mercado leiloeiro. Em contrapartida, na visão contratual
keynesiana do mercado de trabalho, os salários não são definidos de forma a equilibrar
o mercado no curto prazo.

Na visão keynesiana do mercado de trabalho, são feitos arranjos de longo prazo entre
compradores e vendedores. Essa visão contratual do mercado de trabalho explica a rigi-
dez salarial com base nos mecanismos institucionais que caracterizam esse mercado.
Os economistas novo-clássicos concordam que o mercado de trabalho é, pelo menos
em parte, caracterizado por contratos de longo prazo. Negam, porém, que a existência

64
desses contratos traga, em si, alguma implicação para determinar se o mercado de tra-
balho será ou não equilibrado.

A economia neokeynesiana

Em anos recentes, economistas que estudam a tradição keynesiana têm buscado ex-
plicações adicionais para o desemprego involuntário. Os modelos que surgiram dessas
pesquisas são chamados de modelos neokeynesianos.

Essa nova vertente tem como principal tarefa aperfeiçoar as bases microeco-
nômicas do sistema keynesiano.

Como consideram a rigidez do salário e dos preços um aspecto fundamental da expli-


cação de Keynes para o desemprego involuntário, muito esforço foi empenhado para
demonstrar que essa rigidez pode decorrer do comportamento de agentes otimizadores,
ou seja, ela pode ter uma base microeconômica sólida.

Os modelos neokeynesianos pressupõem alguma forma de concorrência imperfeita


para o mercado de produtos. Além disso, consideram que existe rigidez dos preços dos
produtos. Introduzem a rigidez real e fatores que provocam a rigidez do salário real, além
dos fatores que causam a rigidez de variáveis nominais.

Serão examinados três tipos de modelos:

• Modelos de preços rígidos.


• Modelos de salário-eficiência.
• Modelos incluído-excluído e histerese.

Modelos de preços rígidos (custo de menu)

Nos modelos de preços rígidos neokeynesianos, um elemento importante é que a firma


não precisa estar em concorrência perfeita. Com concorrência perfeita, os preços são
definidos apenas pelas forças de oferta e demanda. Mesmo em um ambiente de con-
corrência imperfeita, diante de uma queda na demanda, o preço que maximiza o lucro
irá diminuir. Embora o aumento dos lucros devido a uma redução de preços possa ser
pequeno, há algum ganho.

65
Por que, então, as firmas não reduziriam os preços?

Algumas firmas podem manter constantes os preços dos produtos, mesmo com queda
da demanda, se perceberem um custo com a mudança de preços que supere o benefício
da redução de preços. Esses custos de alteração de preços são chamados de custos de
menu. Isto é, quando as firmas mudam preços, novas tabelas de preços precisam ser
confeccionadas, e os clientes têm de ser notificados dos novos preços.

Importante

Esses custos explícitos de mudanças de preços são, por si sós, pequenos de-
mais para explicar uma rigidez significativa de preços, mas existem possíveis
custos adicionais, menos diretos, de alteração dos preços.

Se esses custos percebidos de alteração de preços forem suficientemente altos, existirá


rigidez de preços. Declínios na demanda agregada resultarão em quedas no produto e no
emprego, e não simplesmente em redução de preços.

À medida que o número de setores em que os preços são rígidos constituir um segmento
significativo da economia, os declínios no produto e no emprego serão substanciais.

Modelos de salário-eficiência

Os modelos de salário-eficiência têm a premissa de que a eficiência dos trabalhadores


depende positivamente do salário real que eles recebem.

A eficiência do trabalhador é uma função positiva do salário real.

O produto depende da quantidade de capital e da quantidade de mão de obra, medida em


unidades de eficiência. O produto aumenta quando mais unidades de mão de obra são
contratadas ou quando a eficiência da mão de obra existente aumenta.

O objetivo da firma é estabelecer o salário real de forma que o custo de uma unidade de
eficiência de mão de obra seja minimizada. Isso é feito aumentando o salário real até o
ponto em que a elasticidade do índice de eficiência em relação ao salário real seja igual a 1.

66
Os teóricos do salário-eficiência afirmam que, em muitos setores, os salários reais não
se ajustam para equilibrar os mercados de trabalho. Na verdade, o princípio que norteia
os modelos de salário-eficiência implica que as firmas definirão o salário real acima do
nível de equilíbrio de mercado.

O resultado disso será o desemprego involuntário persistente.

Esses modelos explicam uma rigidez real. Contudo, a rigidez do salário real não explica
por que mudanças na demanda agregada afetam o produto e o emprego e, assim, o nível
de desemprego involuntário.

Modelos incluído-excluído e histerese

As altas taxas de desemprego persistentes na Europa desde 1980 levaram à hipótese


de que o desemprego corrente é fortemente influenciado pelo desemprego passado. As
economias podem, por assim dizer, ficar presas em armadilhas de desemprego. O termo
utilizado para isso é histerese.

Uma variável exibe histerese se, quando forçada a se afastar de um valor inicial, não apre-
senta nenhuma tendência de retorno mesmo quando o choque termina. Em termos de
desemprego, modelos de histerese procuram explicar por que altas taxas de desempre-
go persistem mesmo depois que sua causa inicial já não existe mais.

Há uma série de explicações para a histerese no processo do desemprego. Um modelo


que pode explicar essa situação é o modelo incluído-excluído. Esse modelo requer
que tanto o mercado de produto quanto o mercado de mão de obra sejam imperfeita-
mente competitivos.

Exemplo

Vamos examinar uma situação com um sindicato do lado dos empregados e


poucas firmas empregadoras?

Os membros do sindicato, que serão chamados de incluídos (de dentro), têm


poder de negociação com os empregadores porque é caro substituí-los por
excluídos (de fora, trabalhadores que não pertencem ao sindicato). O custo de
substituí-los é um custo de recrutamento e treinamento de novos trabalhado-
res. Os membros do sindicato também podem impor custo aos excluídos que
tentem aceitar empregos por salários mais baixos.

67
Pressupõe-se que os incluídos usam seu poder de negociação para empurrar
salário real para acima do nível de equilíbrio do mercado, o que resulta em um
grupo de excluídos desempregados. Os incluídos só conseguirão empurrar o
salário real para cima até um certo ponto, porque, quanto mais alto o salário
real, menos incluídos estarão empregados. É possível, porém, que eles acabem
sem emprego, uma vez que, se a demanda agregada da economia como um
todo reduzir-se inesperadamente, o produto e o emprego cairão. Uma parte dos
incluídos será dispensada.

Portanto, no modelo incluído-excluído, o desemprego resulta de um salário real fixado


acima do nível de equilíbrio do mercado e de uma resposta cíclica a mudanças na de-
manda agregada. Uma característica nova desses modelos é a inter-relação desses dois
tipos de desemprego. O desemprego passado causa o desemprego atual por transfor-
mar incluídos em excluídos, que é o fenômeno da histerese — uma espécie de armadilha
do desemprego. Os excluídos não exercem pressão para baixo sobre os salários reais
porque eles são irrelevantes para o processo de negociação dos salários.

O modelo incluído-excluído, assim, explica por que altas taxas de desemprego


persistiram em alguns países europeus por períodos tão longos.

MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 4 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre uma análise do modelo neokeynesiano.

68
As expectativas racionais e o ciclo real de
negócios

A teoria dos ciclos reais de negócios foi desenvolvida a partir da teoria novo-clássica. De
fato, os modelos de ciclos reais de negócios compartilham muitas características impor-
tantes com os modelos novo-clássicos e podem ser chamados de segunda geração de
modelos novo-clássicos.

Os ciclos reais de negócios consideram duas características para os modelos macroeco-


nômicos semelhantes aos economistas novo-clássicos:

• Os agentes otimizam.
• Os mercados se equilibram.

Além disso, tanto nos modelos novo-clássicos quanto nos modelos de ciclos reais de ne-
gócios, todo desemprego é voluntário. E eles divergem quanto às causas de flutuações
no produto e no emprego.

Saiba mais

Os teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam essas flutuações como


“originárias de variações nas oportunidades reais da economia privada”.

Essas mudanças podem ser causadas por fatores como:

• Choques de tecnologia.
• Condições ambientais.
• Alterações nos preços reais.
• Preferência por bens em relação ao lazer.

As variáveis do lado da oferta são também causa de flutuações de curto prazo no produ-
to e no emprego.

69
Um modelo simples de ciclos reais de negócios

Um pressuposto nos modelos de ciclos reais de negócios é que a economia é composta


por um grupo de indivíduos idênticos. O comportamento do grupo pode ser explicado
segundo o comportamento de um dos indivíduos, chamado de agente representativo.

Vamos ver uma situação hipotética?

Imagine um agente representativo. O nome do nosso agente é Robinson Crusoé. A meta


de Robinson é maximizar sua utilidade em cada período de sua vida.

Ele obtém utilidade a partir do consumo e do lazer. Ele tem a seguinte função utilidade (U):

Ut = U(ct,let ) (1)

Em que:

• c é consumo.
• le é lazer.

Para consumir, Robinson precisa trabalhar para gerar produto. Ao fazer isso, ele deixa de
lado o lazer. Existe um trade-off entre trabalho e lazer. O produto é gerado pela função de
produção.

yt = zt F(Kt, Nt ) (2)

O produto (y) é resultado da quantidade de capital, K, e trabalho, N empregados no perío-


do t. Além disso, o produto sofre influência de “choques” no processo de produção, zt, que
podem ser choques tecnológicos, fatores ambientais, entre outros.

Robinson não precisa consumir todo o produto que gera em cada período. Ele pode pre-
ferir economizar para quando chegar à velhice ou deixar um patrimônio para seus des-
cendentes:

yt = ct + st (3)

A poupança (s) mais o consumo deve ser igual à renda, ignorando a existência de impostos.

70
Observação

A Equação (3) indica que o agente representativo enfrenta um trade-off entre


consumo corrente e poupança para aumentar o consumo futuro.

A poupança hoje irá aumentar o consumo no futuro, porque se supõe que a poupança
será investida para aumentar o estoque de capital no período seguinte:

Kt + 1 = st + (1 – δ) Kt (4)

O estoque de capital no período t + 1 é igual à poupança no período t mais a parte do


estoque de capital (1 – δ) que sobrou do período t, em que δ é a taxa de depreciação
do capital.

Vamos supor que, em um dado período de tempo, ocorra um choque tecnológico positi-
vo. Esse choque:

1. Será temporário.
2. Ocorrerá em apenas um período.
3. Ocorrerá de forma exógena.
4. Será representado no modelo por um aumento no termo zt na Equação (2).

O choque tecnológico positivo desloca a função de produção para cima. Além disso, a
função torna-se mais inclinada para qualquer nível de mão de obra.

Assim, estamos supondo que o choque aumenta a produtividade marginal de


Robinson.

Mesmo com o mesmo nível de mão de obra, esse aumento de produtividade causaria
um aumento no produto.

Se o choque tivesse durado vários períodos, ou se tivesse sido permanente, as respostas


de Robinson teriam sido um pouco diferentes. Como ele saberia que o produto seria alto
por um período mais longo, seu incentivo para poupar seria menor, e seu incentivo para
consumir aumentaria. Choques de longa duração na produtividade resultarão em mudan-
ças no produto, no estoque de capital e no emprego, que persistem por muitos períodos.

71
Importante

Uma característica dos modelos de ciclos reais de negócios é que fatores reais
e não monetários são responsáveis por flutuações no produto e no emprego.
Muitos desses modelos sequer incluem a moeda como uma variável e, por-
tanto, não dizem nada como políticas monetárias devem ser conduzidas. Em
modelos que consideram a moeda, o papel dela é determinar o nível de preços,
mas não altera o produto ou o emprego.

Portanto, a política monetária não pode afetar o produto e o emprego.

A política fiscal irá afetar o produto e o emprego em um modelo de ciclos reais de negó-
cios, não por meio de um efeito sobre a demanda agregada nominal, mas por meio de
efeitos no lado da oferta. Mudanças na carga tributária sobre a renda dos trabalhadores
ou sobre o retorno do capital afetarão as escolhas dos agentes otimizadores. Um impos-
to sobre a renda dos trabalhadores fará um indivíduo escolher lazer demais em relação
ao emprego.

O papel da política fiscal no modelo de ciclos reais de negócios é minimizar


essas distorções tributárias sem prejudicar a provisão de serviços governa-
mentais.

É então que surge um papel alternativo para a política monetária. Os formuladores de


políticas podem, assim, reduzir a distorção devido à tributação financiando uma parte
dos gastos do governo com a criação de mais moeda. No modelo dos ciclos reais de
negócios, segue-se que o uso ótimo das políticas fiscal e monetária é combiná-las de
forma a minimizar os custos totais da inflação e da distorção tributária.

MIDIATECA

Veja na midiateca da Unidade 4 o conteúdo complementar selecionado pelo


professor sobre os modelos de ciclos reais de negócios para a economia
brasileira.

72
NA PRÁTICA

Vamos analisar os efeitos de uma política expansionista do Banco Central que


decide aumentar o estoque de moeda na economia. Para analisar os efeitos
dessa mudança sob a suposição de que as expectativas são racionais, é preci-
so especificar se a mudança de política monetária era ou não esperada, já que
os efeitos das mudanças de políticas antecipadas e não antecipadas são muito
diferentes quando se supõe que as expectativas são racionais.

Admitimos aqui que a mudança de política foi prevista. Isso pode ocorrer por-
que o público pode prever a mudança de política por saber que o formulador de
políticas age seguindo determinado padrão. Então, se o formulador de políticas
reage sistematicamente a um aumento no desemprego em um período aumen-
tando o estoque de moeda no período seguinte, o público passará a prever um
aumento no estoque de moeda no período t quando observar uma elevação na
taxa de desemprego em t – 1.

De início, examinaremos a caracterização do produto e do emprego de equi-


líbrio na análise novo-clássica. A diferença crucial entre o caso novo-clássico
e o keynesiano refere-se às variáveis que determinam as posições das curvas
de oferta agregada e de oferta de mão de obra. Como na teoria keynesiana,
consideramos que a oferta de mão de obra depende do salário real esperado,
ou seja, o salário monetário dividido pelo nível esperado de preços. Assim, a
posição das curvas depende do nível esperado de preços. Aumentos no nível
esperado de preços deslocarão ambas as curvas para a esquerda.

No modelo novo-clássico, com o pressuposto das expectativas racionais, o ní-


vel esperado de preços depende dos níveis esperados para as variáveis que,
segundo o modelo, efetivamente determinam o nível de preços.

Consideremos agora um aumento do estoque de moeda que foi totalmente an-


tecipado. Vamos supor que as curvas de demanda agregada, oferta agregada e
demanda no mercado de mão de obra estejam nas posições iniciais. O aumen-
to no estoque de moeda deslocará a curva de demanda agregada para a direita
e para cima. Se a curva de oferta não se deslocasse, o produto subiria, e o nível
de preços aumentaria. Com o aumento no nível de preços, a curva de demanda

73
por mão de obra desloca-se para a direita e para cima. Se a curva de oferta de
mão de obra também não se deslocasse, o emprego subiria. Nos modelos key-
nesiano ou monetarista, em que o nível de preços não se relaciona com o valor
efetivo das variáveis de política, a posição das curvas da oferta agregada e da
oferta de mão de obra seria fixa no curto prazo, e a análise estaria completa.

Contudo, na abordagem novo-clássica, a posição das curvas não é fixa no cur-


to prazo. Como a política expansionista foi totalmente antecipada, o nível de
estoque de moeda esperado também aumentará, resultando em um aumento
no nível esperado de preços, uma vez que, com expectativas racionais, os ofer-
tantes de mão de obra entenderão o efeito inflacionário do aumento no estoque
de moeda. A curva de oferta de mão de obra e, como consequência, a curva de
oferta agregada vão se deslocar para a esquerda. O novo equilíbrio acontece no
ponto em que produto e emprego voltam a seus níveis iniciais, enquanto o nível
de preços e o salário monetário mantêm-se permanentemente mais altos.

74
Resumo da Unidade 4

Nesta unidade, estudamos sobre duas correntes da teoria econômica: os novo-clássi-


cos e os neokeynesianos. O modelo novo-clássico é baseado na proposição de expec-
tativas racionais, em que as expectativas são formadas com base em todas as infor-
mações relevantes disponíveis sobre a variável que está sendo prevista. Além disso,
essa hipótese afirma que os indivíduos utilizam as informações disponíveis de maneira
inteligente, ou seja, compreendem como as variáveis observadas afetarão a variável
que estão tentando prever. O postulado da ineficácia de políticas novo-clássico pode
ser reformulado de uma maneira mais clara. Os economistas novo-clássicos acredi-
tam que o produto real e o emprego não são afetados por mudanças sistemáticas e,
portanto, previsíveis em políticas de demanda agregada.

A contracrítica keynesiana ao modelo novo-clássico é feita sobre três aspectos: as


altas taxas de desemprego apresentadas por alguns países na década de 1980; os
ofertantes de mão de obra não utilizam as informações disponíveis da melhor forma
possível; como os novo-clássicos justificariam a rigidez de preços. Os modelos
neokeynesianos têm como principal tarefa aperfeiçoar as bases microeconômicas do
sistema keynesiano. Como consideram a rigidez do salário e dos preços um aspecto
fundamental da explicação de Keynes para o desemprego involuntário, muito esforço
foi empenhado para demonstrar que essa rigidez pode decorrer do comportamento de
agentes otimizadores, ou seja, ela pode ter uma base microeconômica sólida. Foram
examinados três tipos de modelos: modelos de preços rígidos, modelos de salário-
eficiência e modelos incluído-excluído.

A teoria dos ciclos reais de negócios foi desenvolvida a partir da teoria novo-clássica.
Os teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam as flutuações no produto e no
emprego como “originárias de variações nas oportunidades reais da economia priva-
da”. Essas mudanças podem ser causadas por fatores como choques de tecnologia,
condições ambientais, alterações nos preços reais e preferência por bens em relação
ao lazer. As variáveis do lado da oferta são também causa de flutuações de curto prazo
no produto e no emprego.

75
CONCEITO

A ideia central da política econômica da economia novo-clássica é de que a


estabilização de variáveis reais, como produto e emprego, não é possível pelas
políticas sistemáticas de administração da demanda agregada. Ou seja, segun-
do a visão neoclássica, medidas sistemáticas de política fiscal e monetária que
alterem a demanda agregada não afetarão o produto e o emprego, nem no
curto nem no longo prazo.

De acordo com a hipótese das expectativas racionais, as expectativas são


formadas com base em todas as informações relevantes disponíveis sobre a
variável que está sendo prevista. Além disso, essa hipótese afirma que os in-
divíduos utilizam as informações disponíveis de maneira inteligente, ou seja,
compreendem como as variáveis observadas afetarão a variável que estão ten-
tando prever.

A política neokeynesiana tem como principal tarefa aperfeiçoar as bases mi-


croeconômicas do sistema keynesiano. Como consideram a rigidez do salário
e dos preços um aspecto fundamental da explicação de Keynes para o desem-
prego involuntário, muito esforço foi empenhado para demonstrar que essa ri-
gidez pode decorrer do comportamento de agentes otimizadores, ou seja, ela
pode ter uma base microeconômica sólida.

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