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XXI Bienal
de Música Brasileira
Contemporânea
10 A 19 DE OUTUBRO DE 2015
THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
SALA CECILIA MEIRELES
ESPAÇO GUIOMAR NOVAES

Patrocínio
Ministério da Cultura

Realização
Fundação Nacional de Artes / Funarte

Apoio
Academia Brasileira de Música
Rádio MEC/EBC
Equipe da Funarte
Centro da Música
concepção e realização
Flavio Silva
Maria José de Queiroz Ferreira
produção
Flavia Peralva Pinheiro
Tatiane de Santana Ribeiro Lins
assistentes de produção
Aline Mandriola
Elizabeth Lima da Silva Ursolino
Edyr José Rosa de Lima
Luiz Carlos da Silva
Vanderci Lins de Oliveira
Thais da Silva de Oliveira

Assessoria de Comunicação
Camilla Pereira
Marcelo Mavignier
Catia Lima
Luzia Amaral
Marcia Cotrim

Projeto gráfico
catálogo miolo
Gilvan Francisco
capa, cartaz e banners
Paula Nogueira

Portal Funarte
Cristiano Marinho
Maria Cristina Martins
Pedro Paulo Malta

Apoio externo
Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
Comissão de Seleção
Bryan Holmes
Erick Magalhães de Vasconcelos
Harry Crowl
Jamil Maluf
Liduino Pitombeira
Rodolfo Coelho de Souza

Colaboradores
Cristina Arruda
Daniel Serale
Eduardo Monteiro
Marcelo Carneiro de Lima / Paulo Dantas
Marinaldo Gomes
Ralyanny Guerra Belo
A XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea

A Fundação Nacional de Artes tem, entre as suas principais atribuições, a consolidação de


políticas públicas que tenham um nível de continuidade e de excelência notáveis. É o caso das
Bienais de Música Brasileira Contemporânea. Iniciadas em 1975, as Bienais têm sido um dos
exemplos mais bem-sucedidos de políticas para as artes no Brasil. E o fato da Funarte ser a
responsável pelo projeto só vem comprovar a sua importância – da Funarte e da Bienal – para
a cultura e as artes no país.
Sempre atenta às novas formas de organização, expressão e criação de formas sonoras, a Bienal
tem contribuído para a formação de público e a atuação de artistas que primam pela inventividade
e pela depuração formal, assumindo os riscos da experimentação estética. Este ano, a Bienal vai
para a sua XXI edição! Muito disso se deve à atuação vigorosa, cuidadosa e vigilante de Flávio Silva,
o coordenador de música erudita do Centro da Música da Funarte, e de Maria José Queiroz, sua
parceira incansável na coordenação da música erudita do nosso centro da Música.
A XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea vai apresentar 66 obras selecionadas por
Edital e por um colegiado especializado, todas inéditas, com o intuito de apresentar a produção
da música “erudita” contemporânea, com a presença de orquestras, coros, intérpretes solos e
conjuntos variados de música eletroacústica. A abertura da Bienal ficará sob a responsabilida-
de da Orquestra Juvenil da Bahia (Neoijibá), reforçando nosso papel de instância de consagra-
ção cultural para jovens artistas.
Além dessas apresentações, a Bienal terá uma série de atividades especiais lembrando os 70
anos da morte de Mário de Andrade e os 100 anos de nascimento de Hans-Joachim Koellreutter.
Nestas atividades especiais teremos o relançamento do álbum “Mário 300-350”, originalmente
lançado em 1983, pela Funarte, com show ao vivo do Coletivo Chama; o relançamento da revista
de vanguarda Música Viva, dos anos 1940, que teve nomes como o próprio Koellreutter, além de
Claudio Santoro, Luiz Heitor, Guerra Peixe, entre outros; o seminário “Música e política”, com parti-
cipação dos professores Jorge Coli, Flavia Tony e Carlos Kater.
Como se não bastasse, Mário e Koellreuter se encontram ainda na exibição de Café – uma “tra-
gédia secular”, na denominação de Mário de Andrade −, com a criação musical de Koellreuter e a
encenação de Fernando Peixoto. Formalismo estético, espírito de invenção permanente, contempo-
raneidade, a complexidade da relação entre estética e política ecoando na fala desesperada de uma
das vozes coletivas: “Não agüento a fome/ não há mais perdão/ Deus dorme nos ares/ os chefes na
cama/ Acordo no chão/ eu quero meu pão!”; mas também no lema – que não deixa de ser também
um dilema − do próprio Koellreuter: “A arte é uma contribuição para o alargamento da consciência
do novo ou do desconhecido e para a modificação do homem e da sociedade”.
Estética e política se enovelam e sugerem formas que podem ser o esboço para a constituição
de novas maneiras de realização da vida em comum, da vida social, com a criação de redes de apoio
mútuo e solidariedade para democratizar radicalmente o acesso a bens materiais que permitam
a todos uma vida farta, forte e feliz, sem as intoleráveis e inaceitáveis distinções de classes; mas
também podem ser o esboço para a criação de novos mundos habitáveis pela arte, uma outra ins-
tância do Ser, que é também uma necessidade demasiado humana. Uma vida não só melhor, mas
especialmente maior para todos.

Marcos Lacerda
Diretor do Centro da Música da Funarte
Francisco Bosco
Presidente da Funarte

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A Mario de Andrade – há setenta anos falecido

Aos compositores
Mario Ficarelli, que há pouco nos deixou
Luiz Cosme – cinquentenário de falecimento
Eunice Katunda e Hans Joachim Koellreutter – centenário de nascimento

homenagem, in memoriam
Apresentação da XXI Bienal

Uma coincidência emblemática: 2015 assinala os 70 anos O relevo dado pela XXI Bienal ao Música Viva é apro-
de falecimento de Mário de Andrade e o centenário de fundado com a edição virtual, que está sendo lançada,
nascimento de Koellreutter. Comemorações variadas ce- dos 16 números do boletim editado por esse movimen-
lebraram separadamente esses eventos em todo o país; to. Ficam assim acessíveis a todos os interessados, de
a XXI Bienal juntou-os numa programação extraordinária forma prática, os textos dos vários autores, brasileiros
detalhada às páginas 24 a 31 desse catálogo. e estrangeiros, que disseminaram ideias de variadas
Koellreutter começou a atuar no Brasil em fins de orientações nesse periódico, cuja coleção completa
1937, no Rio de Janeiro, quando Mário já estava em não é encontrada em nenhuma biblioteca brasileira, e
seu “exílio no Rio”, mas não há registro de encontro que pode ser acessada no site www.funarte.gov.br.
entre ambos. Luiz Heitor, que conhecera o músico ale- Voltamos a Mário de Andrade, com duas outras ini-
mão pouco após sua chegada, poderia ter feito a ponte ciativas:
entre ambos, o que não ocorreu. Não parece haver re- − a reedição em CD do álbum com dois LPs lan-
ferência explícita de Mário a Koellreutter ou ao Música çados pela Funarte em 1983 em homenagem ao cen-
Viva, embora numa das últimas páginas d’O banquete tenário de seu nascimento, por iniciativa de Hermínio
a afirmação do compositor Janjão possa ou deva ser Bello de Carvalho, com a participação de Lenita Bruno,
vista como uma rejeição explícita ao músico alemão: Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Teca Calazans
“A música brasileira ainda não pode perder de vista o e conjunto musical sob a direção de Maurício Carrilho;
folclore. Se perder, se estrangeirizará completamente. − a apresentação do Coletivo Chama, que reinterpre-
Como sucede com os sistematizadores do atonalismo ta ideias de Mário de Andrade num contexto diferente
integral, e os que baseiam a sua criação na chama- dos por ele imaginados, e que aponta outros caminhos
da ‘invenção livre’”. Analogamente, só em 1947, dois possíveis de serem trilhados, a partir do multifacetado
anos após sua morte, Mário passa a ser citado no bole- pensamento mariano – Eu sou 300 – 350 –, tomando
tim Música Viva, e com muito destaque, em função de como referência o álbum de dois LPs ora lançado em
seu pendant socialista, acentuado durante os anos de CD (pág. 30 e 31).
guerra e levado a um paroxismo no prefácio à biografia Os dez concertos dessa XXI Bienal de Música
de Shostakovitch. É essa ligação que justifica o tema Brasileira Contemporânea (ver pág. 6 a 23) apre-
da mesa redonda referida à pág. 27. sentam em estreia mundial 66 obras musicais con-
Outro aspecto dessa ligação é a “tragédia secular” cursadas e encomendadas. Ela mantém o padrão
Café, escrita por Mário em 1942. Em artigo publicado definido em 2010 para as Bienais de 2011 e 2013: o
em 1968, Mignone escreveu: “Mário deixou-me um li- concurso e as encomendas são realizados nos anos
breto de ópera denominado Café. Obra muito sofistica- pares, e as apresentações nos anos ímpares, con-
da que não tive coragem de musicar. Desisti cedendo tinuando uma tradição inaugurada em 1975, com o
o libreto a Camargo Guarnieri, que nada fez. Soube, por primeiro evento do gênero. De 2010 a 2015, 208
Luiz Heitor, que um tal de Koellreutter havia musicado obras − 124 concursadas, 84 encomendadas −, numa
o libreto do Café. Ignoro se a ópera em questão existe. média de 34,3 por ano, foram ou estão sendo estre-
E não comento.” adas nessas apresentações realizadas pela Funar-
Em matéria de política, Guarnieri se considerava te. É provável que poucas instituições estrangeiras,
uma “reverendíssima besta” (plágio meu) e em 1943 por prestigiosas que sejam, atinjam essa média. As
discordou frontalmente de Mário sobre a sinfonia Le- obras que estreamos são pagas com valores dife-
ningrado, de Shostakovitch. Mignone, que compôs renciados, de acordo com sua natureza – orques-
uma Sinfonia do trabalho em 1939 e se candidataria trais, camerísticas ou solistas, incluindo as corais
a vereador pelo ‘Partido’ em 1946, era a escolha na- e as que se se servem de recursos eletroacústicos
tural de Mário para pôr o Café em música, mas quem ou informáticos. Não há nenhuma exigência de filia-
assumiu essa tarefa foi Koellreutter: “Passei 20 anos ção a essa ou a aquela corrente composicional, ou
mergulhado no Café”, declarou ao Jornal do Brasil em estética, ou ideológica, o que faz das Bienais uma
1975 (ver pág. 24 a 26). grande e diversificada exposição das mais diferen-
O papel de Koellreutter numa mudança de rumos na tes tendências. Lembrando Villa-Lobos: “Minhas
música brasileira foi fundamental. Não se deve creditar obras são cartas escritas para a posteridade, sem
ao acaso o fato de que alguns dos mais portentosos ta- esperar resposta”. A peneira do tempo dirá o que
lentos musicais surgidos nos anos 1940 tenham estu- fica e o que soçobra; é vã a pretensão de definir
dado sob sua orientação: Claudio Santoro, Guerra-Pei- qual música representa o nosso tempo.
xe, Edino Krieger, Eunice Katunda. Também não pode
ser coincidência se, ainda naquela década, esses com-
positores já arrebanhassem prêmios em concursos na-
cionais e internacionais. O recital e a palestra referidos Flavio Silva
às pág. 28/29 documentam amplamente a importância Coordenador de Música Erudita
do movimento Música Viva criado por Koellreutter. Centro da Música / Funarte / MinC

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XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Theatro Municipal do Rio de Janeiro


10 de outubro de 2015, sábado, 17h
I
Alexandre Espinheira E tornou-se fábula**
Alexandre Espinheira

Jorge Antunes Apoteose de Rousseau*

Lucas Duarte
Paulo Costa Lima Sete flechas: um batuque concertante*
I – O herói da nossa gente;
II – Devaneiro / Cadenza;
II – Finale
piano solo Aleyson Scopel

regente Eduardo Torres
Jorge Antunes

Eli-Eri Moura
II
Lucas Duarte 4 peças para orquestra**

I – Linhas e nuvens; II – Marcha
III – Canto; IV − Quedas

Eli-Eri Moura Apsis*

Liduino Pitombeira
Paulo Costa Lima

violino solo Vinícius Amaral

Liduino Pitombeira A máquina do mundo*


I – Ordem geométrica; II – Noturno
III – Presto; IV − Fremente

regente Ricardo Castro

Orquestra Juvenil da Bahia


(Neojibá)

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
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Alexandre Espinheira (Salvador/ BA, 04/12/1972) estuda composição desde Liduino Pitombeira (Russas/CE, 06/10/1962) é professor de composição da Es-
1994 na Universidade Federal da Bahia. Sua música reflete a atuação como per- cola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Recebeu o PhD em
cussionista popular. É membro da Oficina de Composição Agora/OCA e coorde- composição e teoria pela Louisiana State University/EUA, onde estudou com
nador do Música de Agora na Bahia/MAB. Dinos Constantinides. Suas obras têm sido executadas por conjuntos como
E tornou-se fábula foi mostrada, ainda em gestação, a Érica, quase-esposa do Quinteto de Sopros da Filarmônica de Berlim, Louisiana Sinfonietta, Red Stick
compositor, que foi-se deixando contaminar pelas historinhas por ela criadas ao Saxophone Quartet, Duo Barrenechea e The Alexander-Soares Duo, e por or-
ouvir a música, como se fosse a trilha sonora de um filme. Esse processo, usual questras sinfônicas de vários países. Foi premiado em concursos de composi-
para o compositor, tornou-se uma vã tentativa de guiar as fábulas de Érica, a ção no Brasil e nos Estados Unidos, incluindo o 1º prêmio no Concurso Camargo
quem a peça é dedicada. Guarnieri de 1998 e o prêmio 2003 MTNA-Shepherd Distinguished Composer
of the Year Award. Desenvolve pesquisas como membro do grupo MusMat da
Eli-Eri Moura (Campina Grande/PB, 30/03/1963) foi aluno de José Alberto UFRJ e publicou artigos sobre composição e teoria. Suas obras são editadas
Kaplan e de Mario Ficarelli e é doutor em composição pela McGIll Univer- pela Peters, Bella Musica, Criadores do Brasil (OSESP), Conners, Alry, RioArte
sity, Canadá, onde estudou com Alcides Lanza, John Rea e Brian CnHerney. e Irmãos Vitale.
Leciona no Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba/ A máquina do mundo, op.196, é um concerto para orquestra livremente ins-
UFPB, onde liderou a implantação da área de composição e fundou o Labo- pirado no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade. Os títulos dos
ratório de Composição Musical/COMPOMUS. Lançou quatro CDs autorais. movimentos remetem a palavras extraídas do poema e têm uma relação com o
Sua obra, que recebeu vários prêmios, abrange a música contemporânea de caráter e a atmosfera musical da obra.
concerto e a música incidental.
Apsis rreflete um caleidoscópio musical que envolve recorrentes paisagens Lucas Duarte Neves (Sabará/ MG, 24/01/1990) Iniciou estudos musicais em 2003
sonoras orquestrais e a metamorfose pelo violino de um material baseado na Sociedade Musical Santa Cecília de Sabará, onde é professor voluntário de
em um segmento de Mandei cortar capim, canto de trabalho de escravos violino, coordenador técnico da Orquestra de Câmara e vice-presidente da en-
em casas de farinha do Nordeste. Entoado por um líder e respondido pelos tidade. Cursou o bacharelado em composição musical na Universidade Federal
demais trabalhadores, esse canto servia para coordenar os movimentos de Minas Gerais, com os professores Sérgio Freire, Gilberto Carvalho e Oiliam
necessários à fabricação da farinha. O título é uma referência à maneira Lanna. Sua obra Quatro movimentos para violino solo foi contemplada no Prêmio
como os eventos musicais se desdobram, como se estivessem em órbita, Funarte de Composição Clássica 2012.
colidindo, agrupando-se, fundindo-se, transformando-se. Quatro peças para orquestra é uma peça que explora tipos de texturas con-
jugadas à essência de cada um dos movimentos, cujo caráter é definido por
Jorge Antunes (Rio de Janeiro/ RJ, 23/04/1942) começou seus estudos mu- seu título. Assim, em Linhas e nuvens a textura musical é baseada em linhas
sicais em 1958 e em 1960 ingressou na Escola Nacional de Música da Uni- melódicas e nuvens sonoras; a Marcha alude à ritmica da marcha tradicional; no
versidade do Brasil, atual UFRJ, onde se formou em violino, composição e Canto, a textura mais fluida está baseada numa linha melódica que conduz todo
regência. Em 1961 destacou-se como precursor, no Brasil, da música eletrô- o desenvolvimento da peça, como numa ária; em Quedas, acúmulos de energia
nica, ao mesmo tempo em que ingressava no curso de física da Faculdade e sua dispersão rápida são caracterizados por breves movimentos melódicos,
Nacional de Filosofia/FNFi. como se fossem desinências melódicas.
Entre 1968-1974 realizou estudos pós-graduados em composição no exte-
rior, com Alberto Ginastera, Luis de Pablo, Umberto Eco, François Bayle, Paulo Costa Lima (Salvador/BA, 26/09/1954). “Estudei composição na Bahia e em
Pierre Schaeffer e Gottfried Michael König, dentre outros. De 1973 a 2011 Urbana com Herbert Brün nos anos 1970; milito em composição desde 1975; ensino
lecionou na Universidade de Brasília, à qual permanece vinculado como desde 1979, exerci funções na UFBA e fui gestor de cultura de Salvador. Sou mem-
orientador da pós-graduação e pesquisador sênior. Obteve vários prêmios bro da Academia Brasileira de Música e desde 1960 participo da festa do 2 de Ju-
nacionais e internacionais e tem suas obras permanentemente programa- lho (independência do Brasil, na Bahia) seguindo o carro do Caboclo e da Cabocla,
das em concertos e festivais na Europa; tem vários livros e CDs publicados mitos fundantes de nossa terra e de nossa gente. Esse impulso me anima desde
e seu nome é verbete em importantes enciclopédias musicais. Obras suas meados dos 80, mas foi ficando mais forte ao longo de dezenas de Atotôs, Ubabás,
são publicadas por editoras internacionais, como Edizioni Suvini Zerboni, Saruês, Zaziês, Ibejis, Kabilas, Calcinhas Stücke, Aboios, Cabindas e Ziriguiduns.
Breitkof&Hartell, Salabert, Zimmerman, Sistrum e Billaudot. Em 2013 rece- Também dou passes na formação de compositores, escrevo sobre o assunto, e
beu o Premio Ibermusicas, atuando durante dois meses como compositor- alguns jovens xamãs andam por aí com minha benção. Xê Truá!!!”
residente em Morelia, México. Em 2014, o Estado brasileiro lhe concedeu Sete flechas: um batuque concertante. “Coisa importante no compor: a obra
anistia política e indenização financeira pelas perseguições sofridas du- faz o autor tanto quanto o autor faz a obra (mesmo sendo ficções pós-estrutura-
rante a ditadura militar e que resultaram em seu exílio no exterior. Nesse listas). O culto dos caboclos é mais antropofágico do que a teoria paulista, e lá
mesmo ano foi estreada sua ópera A cartomante, na programação do IV estava a melodia do Sete Flechas me esperando: ‘Ele atirou, ele atirou ninguém
Festival de Ópera de Brasília. No momento, compõe nova ópera − O espelho, viu, só Sete Flechas que sabe, aonde a flecha caiu...’ Surpresa: o caboclo sabe
com libreto de Jorge Coli, encomendada pelo Theatro São Pedro, de São teoria da música, planeja uma melodia que parece um vôo com impulso inicial,
Pulo, para estreia em 2016. flutuação e chegada ao alvo. Tem África, via Angola, mas também tem Europa,
O poema sinfônico Apoteose de Rousseau homenageia o grande pensador há um centro tonal herdeiro de Rameau, embora alguns resquícios pentatôni-
Jean-Jacques Rousseau. Por volta de 1749, Rousseau participou de uma cos permaneçam no pedaço. Seria, assim, uma aula de composição esperando
acalorada querela contra Rameau, que preconizava e defendia a Harmonia, que a traduzisse em Concerto, batuque responsorial para piano e orquestra?
com sua teoria então revolucionária. Rousseau atacava Rameau, afirmando: O ritual (religioso e performático), a lógica do compor, a narrativa histórica,
“A Harmonização é inimiga mortal da Melodia”. O poema sinfônico explora tudo platôs que produzem afetos de fricção, humor e encantamento. Quero ser
essa contenda entre a Harmonia e a Melodia. Acordes, clusters, encade- essa flecha, quero cantar algo que tresdiga a natureza do nosso lugar de fala,
amentos, espectros bachianos, harmonias, se confrontam com a Melodia ser-de-grupo, misérias e delícias de sermos nós e não eles — numa época su-
que, pujante e expressiva, sai vitoriosa. postamente pós-colonialista.”

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XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


11 de outubro de 2015, domingo, 19h
I
Silvio Ferraz Kairos II resposta a Chronos IX*
Grupo UdiCello
violoncelos Isaac Andrade, Bruno Thayer
Gabriel Gonçalves, Thiago Wolf
Eder Belchior e Ezequiel Urbano
percussão Lúcio Pereira e Manoel Moura

Raul do Valle
Silvio Ferraz

diretor artístico e regente Kayami Satomi

José Augusto Mannis A moça e o velho relógio**


violoncelo Paulo Santoro, piano Josiane Kevorkian

Sam Cavalcanti Estudo para dois violinos**


violinos Vinícius Amaral e Flávia de Castro
José Augusto Mannis

Alexandre Ficagna Escondido num ponto**


Abstrai Ensemble:

Luiz Cosme
flauta Pauxi Gentil-Nunes
violoncelo Marcus Ribeiro
sax Pedro Bittencourt, piano Marina Spoladore

II
Raul do Valle Improviso para duo de violoncelos*
Duo Santoro:
Sam Cavalcanti

violoncelos Paulo e Ricardo Santoro

Mario Ferraro
Luiz Cosme Canção do tio Barnabé
(in memoriam) piano solo Patrícia Bretas

Mario Ferraro Sambaquis**


Duo Bretas/ Kevorkian
piano Patrícia Bretas eJosiane Kevorkian
Alexandre Ficagna

Aylton Escobar En el hondo silencio de la noche (Escena)*


Aylton Escobar
(texto do compositor) clarineta Cristiano Alves, violoncelo David Chew
piano Midori Maeshiro
Coro Brasil Ensemble / Escola de Música
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
regente Maria José Chevitarese

Cadu Verdan O peso do Eco**


(texto do compositor) piano Patrícia Bretas e Josiane Kevorkian,
percussão Leo Souza, Rodrigo Foti e
Fernanda Kremer
Coro Brasil Ensemble / Escola de Música
Cadu Verdan

da Universidade Federal do Rio de Janeiro


regente Maria José Chevitarese

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
10
Silvio Ferraz (São Paulo/SP, 25/10/1959) começou seus estudos de composição O Improviso traduz-se em três miniaturas sonoras para duo de violoncelos.
com Willy Correa de Oliveira, Gilberto Mendes e Olivier Toni e posteriormen-
te seguiu cursos livres com Brian Ferneyhough, James Dillon, Gérard Grisey e Luiz Cosme (Porto Alegre/RS, 9/3/1908 – Rio de Janeiro/RJ 17/5/1965) foi uma
Jonathan Harvey. Esses encontros definiram sua escrita musical instrumental, estrela solitária na música brasileira da primeira metade do século passado. Seu
sempre densa, um pouco virtuosística e polifônica. Também contribuíram para catálogo de obras não chega aos 30 títulos, a metade dos quais inclui sobretudo
o desenvolvimento de sua escrita as experiências com grupos especializados peças breves e dois quartetos compostos entre 1930 e 1933. Duas obras mestras
em música nova, como Nash Ensemble, The Smith Quartet, Ensemble Contre- para orquestra sinfônica surgem em 1937: os bailados Salamanca do Jarau, es-
champs, Duo Diálogos, Grupo Novo Horizonte, Arditti String Quartet, e com músi- treado por Villa-Lobos, e Lambe-lambe, que, levado a Zurich por Koellreutter, foi
cos como Félix Renggli, Fábio Presgrave, Lidia Bazarian, Cassia Carrascoza, Luiz regido por Hermann Scherchen cerca de dez anos depois – a aceitação dessa
Montanha. Atou como professor de composição na Faculdade Santa Marcelina, obra pelo exigentíssimo maestro alemão é um atestado da qualidade do compo-
na Unicamp, função que hoje exerce na Universidade de São Paulo. sitor. Apesar de seu forte vínculo com o populário gaúcho, Luiz Cosme não se-
Kairos II é uma resposta ao tempo incrível, hiper subdividido, infinito e violenta- guiu o credo do nacionalismo musical, dominante na época; curiosamente, sua
mente pulsante, das obras de Roberto Victório. Em peças como Chronos IX, Ro- canção Gauchinha, de 1932, chegou a ser recolhida como se fosse folclórica.
berto tenta desfazer o tempo. Em muitas peças, Silvio Ferraz persegue a mesma Admirador de Stravinsky, serviu-se de procedimentos atonais em sua Novena
coisa: desfazer o tempo, deixar o ouvinte meio perdido, fazer com a que a música à Senhora da Graça, no início dos anos 1940. Uma insidiosa doença foi-lhe mi-
seja um passeio sem retorno, sem volta, de transformações sem fim mas que nando aos poucos os movimentos; em seus últimos anos de vida, ocupou-se so-
aparentam estarem paradas. Kairos II é isto, mas com um elemento a mais, Kai- bretudo de redigir programas para a Rádio MEC, e deixou coletâneas de artigos
ros, a interrupção, o corte. Não o Kairos bem comportado do bom momento, mas além de uma Introdução à música e um Dicionário musical.
o que corta o fluxo dos momentos e que faz com que o tempo seja não uma linha O tema da Canção do tio Barnabé, de 1931, foi um dos que o compositor se
sem fim, mas um buraco desdobrado ao infinito, uma subdivisão sem fim. Segun- serviu em seu bailado Lambe-lambe.
do o compositor: “Tentei isto nesta composição, o que não significa que tenha
conseguido. Mas a peça é esta ideia de um lugar desdobrado, ora hiperpovoado Mario Ferraro (Franca/SP, 6/12/1965) participou de 5 edições da Bienal de Mú-
ora apenas povoado de sons.” sica Brasileira Contemporânea e sua música já foi tocada em vários países do
mundo. Sua carreira internacional firmou-se durante uma estadia em Londres,
José Augusto Mannis (São Paulo/SP, 23/6/1958) é compositor, performer ele- de 2007 a 2012, onde cursou o doutorado em composição na City University re-
troacústico, sound designer, professor universitário, pesquisador. Suas compo- alizando pesquisa sobre ópera contemporânea. Muitas das suas obras foram
sições vão da música instrumental à eletroacústica, às trilhas sonoras, criações estreadas naquela capital, inclusive as óperas de câmara The moonflower (A
radiofônicas e instalações multimeios. Estudou na Faculdade de Engenharia Flor da Lua - 2011), e Ahaiyuta and the cloud eater (Ahaiyuta e o Comedor de
Industrial em São Bernardo do Campo/SP, no Instituto de Artes da Unesp e no Nuvens), que teve também sua estreia brasileira, no Rio de Janeiro, durante
Conservatório Nacional Superior de Música de Paris; fez mestrado na Universi- o 11o. Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens (FIL), em setembro de
dade de Paris VIII e doutorado na Unicamp, onde ensina composição, contra- 2013. Em 2005, o compositor ganhou o Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de
ponto, áudio e acústica. Desenvolve pesquisas no campo da música, acústica, Composição Camargo Guarnieri, com a Abertura Sinfônica Brasília. O Prêmio da
engenharia de áudio e ciência e tecnologia aplicadas à música, à catalogação Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro foi-lhe atribuído em 2012 pelo
de documentos musicais e à acústica de salas. É membro da Academia Campi- projeto multimídia Guanabara − Quadros para orquestra, inspirado nos diversos
neira de Música, da Sociedade Brasileira de Engenharia de Áudio AES/Brasil, ecossistemas da Baía de Guanabara. Mario Ferraro é professor de música do
da Sociedade Brasileira de Acústica, da Associação Nacional de Pesquisa e Colégio de Aplicação da UFRJ desde 2003. O Prêmio Funarte de Composição
Pós-Graduação em Música e da Aliança Francesa de Campinas. Clássica 2014 selecionou duas obras suas para apresentação nesta XXI Bienal.
A moça e o velho relógio − sentada ao lado do grande relógio, a moça se dei- Sambaquis, em língua tupi, são os “amontoados de conchas” erguidos pelos
xa embalar pelo badalar do pendulo, o toque das horas, a imprecisão do velho povos pré-históricos ao longo de todo o litoral brasileiro e que teriam servido
mecanismo e seu pensamento vagueia por recordações e cenas passadas revi- como cemitérios ou monumentos aos ancestrais. Nessas elevações, algumas
sitadas, trazendo de volta emoções vividas. Tudo se passa de maneira volátil e com cerca de 40 metros de altura e 6.500 anos de idade, são encontrados, além
descontínua como se um sonho estivesse tomando seu pensamento. À Janete, de cascas de moluscos, ossos de mamíferos, vestígios de alimentos e, por vezes,
com amor e carinho. milhares de esqueletos humanos. O título sugeriu, de maneira bastante subjetiva
e intuitiva, alguns elementos desta peça, como por exemplo: as curvas e os ar-
Sam Cavalcanti (Campina Grande/PB, 29/07/1982), de pensamento irrequieto, é cos melódicos expandidos que ora se concentram nas regiões médias e graves
co-partícipe da trilha do monólogo Diário de um louco, com texto de Nicolay do teclado, ora nas mais agudas; a sobreposição sistemática de camadas rítmi-
Gogol, premiada em festivais de teatro pelo país. Mestre em Música sob a orien- cas e melódicas, num diálogo persistente entre os dois pianos; a alternância de
tação de Ilza Nogueira, compôs a obra Católicos Limiares para grupo camerísti- texturas predominantemente contrastantes e contrapontísticas.
co (ainda não estreada) como fruto de seus esforços acadêmicos. Tem atuado
em jornais nacionais e lusitanos como crítico, exerce docência e dirige grupos Aylton Escobar (São Paulo/ SP, 14/10/1943P) é compositor destacado e regente
vocais eclesiásticos. Suas obras tem sido interpretadas em países hispano- laureado por criações dedicadas ao teatro e ao cinema. Prêmio Governador do
americanos e nos Estados Unidos. Estado de São Paulo, foi muitas vezes distinguido pela Associação Paulista dos
Como uma espécie de desafio, o Estudo para dois violinos perfaz um estudo Críticos de Arte, que lhe concedeu o Grande Prêmio da Crítica em 2013. Seu
não da escrita propriamente dita, mas das possibilidades expressivas e afetivas nome figura em várias enciclopédias e tem obras editadas e gravadas também
oferecidas pelo instrumento e por suas variantes de timbre. Os dois instrumen- no exterior. Entre seus mestres destacam-se Camargo Guarnieri e Magda Ta-
tos são como que fundidos num único som que, pela interpretação, invoca a gliaferro; na Universidade de Columbia (EUA), Vladimir Ussachevsky e Mario
transcendência dos próprios limites individuais, além das evocações musicais Davidovsky. Foi regente titular e diretor artístico de várias orquestras brasilei-
do passado que se fazem presentes como “ícones-fantasmas violinistas”… ras. Em 2008 estreou pela Osesp os Salmos Elegíacos para Miguel de Unamuno,
obra elogiada pela imprensa e pela comoção popular. Em 2015 o sucesso se
Alexandre Ficagna (Realeza/PR, 17/09/1983), graduado em música pela Uni- repetiu com A rua dos douradores, comissionada pela Osesp em parceria com a
versidade Estadual de Londrina/UEL, fez mestrado e doutorado em processos Fundação Gulbenkian, de Lisboa. Foi diretor artístico dos Festivais de Inverno em
criativos, na Unicamp. Leciona disciplinas ligadas à área de Linguagem e Estru- Campos do Jordão por quatro anos seguidos; é doutor pela Universidade de São
turação Musical no curso de música da UEL, além de atuar como colaborar em Paulo e membro da Academia Brasileira de Música.
projetos envolvendo temas como livre improvisação e a influência da análise na En el hondo silencio de la noche, extraído de uma série de pequenos poemas
composição musical. É membro da comissão organizadora do Encontro Nacional escritos em espanhol pelo compositor, foi transformado numa cena dramática
de Composição de Londrina/EnCom. Em 2010 recebeu o Prêmio Funarte de Com- na qual a personagem se expressa por meio da multiplicação da própria voz, sua
posição Clássica com o trio Vento na Janela, estreada na XIX Bienal de Música comoção caminhando por entre os instrumentos. O cenário e a luz são noturnais;
Contemporânea Brasileira. o lirismo, inquieto. Alguns instantes relembram Messiaen, sem citá-lo.O solo ini-
O processo criativo de Escondido num ponto envolveu a utilização de desenhos cial do violoncelo revive, com alterações pontuais, uma peça dedicada em 2011
alternando com a partitura, de modo que a peça é estruturada a partir de ele- à memória de Almeida Prado.
mentos visuais. No início, um ponto sonoro sofre forças de deformação até que
linhas começam a emergir. Na seção seguinte, uma linha no violoncelo “sai a Cadu Verdan (Duque de Caxias/RJ, 30/10/1989), iniciou seus estudos de piano,
passeio” (como diria Paul Klee); ao final dessa seção, linhas saindo de outras em 2008, no Conservatório Brasileiro de Música e ingressou no bacharelado em
linhas estabelecem um plano sonoro movente, o que caracteriza a terceira se- Composição na UFRJ em 2011. Participou de masterclasses de compositores
ção. Quando esse plano movente começa a se estabilizar, há o retorno da linha brasileiros como Roberto Victorio, Marcos Lucas, Marcos Balter e Ricardo Ta-
do violoncelo, mas transformada. Por fim, o ponto retorna e fecha o arco formal, cuchian. Atuou no do XXII Panorama da Música Brasileira Atual (2014), com o
mas como as coisas nunca retornam do mesmo jeito e agora já sabemos que quinteto de sopros Pavor e foi finalista do Festival Tinta Fresca 2015, com a obra
um ponto não é apenas um ponto ele sai para um passeio diferente. A peça é Alucinações cadavéricas executada pela Filarmônica de Minas Gerais.
dedicada ao ABSTRAI Ensemble. O peso do Eco exibe uma mente assolada pela depressão, receosa diante de
uma oportunidade de se libertar de suas trevas. Confuso pelo isolamento e pela
Raul do Valle (Leme/SP, 27/3/1936) é, segundo Aylton Escobar, “incansável apatia mórbida, esta mente volta a mergulhar em suas lembranças obscuras,
investigador, indiscreto. A música para Raul do Valle é um jogo. A beleza e a delirando, desesperando-se, e cada vez mais duvidando de sua salvação, esma-
poesia encontram-se na sutil movimentação do som insuspeitável. Este é o vale gada pelo medo. É no entanto, através da amizade, da confiança no outro, que
do Raul”. este indivíduo resiste e se liberta de todo o horror passado.

11
XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


12 de outubro de 2015, segunda-feira, 19h

I

Gilson Beck Ecos na catedral**
piano solo Sara Cohen

Wellington Gomes
Caio Pierangeli Ultimum spiritum**
Gilson Beck

Harry Crowl Elogio da sombra*


clarone solo Thiago Tavares

II

José Orlando Alves


Wellington Gomes Variações poéticas sobre
Caio Pierangeli

um sertão esquecido*
violino solo Daniel Guedes

J. Orlando Alves Concerto Grosso**


Quarteto Radamés Gnattali
violinos Carla Rincón e Andréia Carizzi
viola Estevan Reis, violoncelo Lars Hoefs

Marlos Nobre Furioso*

Marlos Nobre

Harry Crowl

foto Maria Luiza Nobre

Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro


(naipe de cordas)

regente Luís Gustavo Petri

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
12
Caio Pierangeli (São Bernardo do Campo/SP, 24/8/1987) iniciou suas atividades da Bahia, no I Concurso Nordestino de Composições Camerísticas e no IV Con-
musicais inspirado por seu pai. Na pré-adolescência mudou-se para o Japão curso Nacional de Composição/Salvador, além do Prêmio Copene de Cultura e
onde aprofundou seus conhecimentos no universo da música Foi percussionista Arte/Salvador e do Prêmio Internacional de Composição “Klang der Welt – Drei
da Orquestra Yahagui por durante três anos e teve suas primeiras aulas de com- lateinamerikanische Länder“/Berlim. Sua lista de obras inclui trabalhos para
posição e regência com a regente Yassuko Yamamoto no conservatório da cida- instrumento solo, música vocal, música de câmara para diversas formações
de de Okazaki. Após seu retorno ao Brasil, ingressou como aluno de composição orquestrais e corais.
na Universidade Estadual de Maringá e desde 2009 é membro e pesquisador nas Variações poéticas sobre um sertão esquecido − com poucas exceções, te-
áreas de live electronics, música eletroacústica e cognição musical do Labo- máticas sobre o sertão nordestino desenvolvidas por compositores brasileiros
ratório de Pesquisa e Produção Sonora/LAPPSO, no qual é coordenado pelos parecem não estar na moda há algum tempo. Voltar a trabalhar com este conte-
compositores Marcus Alessi Bittencourt e Rael Bertarelli Gimenes Toffolo. Em údo musical parece um desafio, na medida em que a dificuldade de apresentar
paralelo à música, também atua com a linguagem audiovisual. Na Unicesumar, algo genuíno e com uma perspectiva atual pode tornar-se um impasse. Pensada
é docente de disciplinas que abordam a produção audiovisual para TV e cinema nessa perspectiva, essa obra foi composta com base num tema com variações
no curso de Publicidade e Propaganda, além de lecionar matérias teóricas no onde o solista expõe frases de maneira mais direta e a orquestra de cordas pas-
curso de música. seia numa poética musical ora de estranhezas harmônicas, caso relacionadas a
Ultimatum spiritum foi composta como homenagem à memória do padrinho do conteúdos harmônicos conservadores, ora de diálogo com violino solo. O conte-
compositor. Suas estruturas simples contrastam momentos de suspensão com údo tem origem num campo conservador mas a tentativa em usá-lo atualmente
momentos gestuais que negam a tal estrutura. A teoria de Costère e as redes é desafiadora para o compositor!
harmônicas de Henri Pousseur fundamentam as estruturas harmônicas da obra,
que procura não se ater apenas ao aspecto estrutural, mas tenta explorar e apa- José Orlando Alves (Lavras/ MG, 13/3/1970), bacharel e mestre em composi-
gar, de alguma forma, a fixação da determinação da frequência das notas que a ção musical pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em música
teoria Costère carrega, estruturando a peça no aspecto morfológico. Portanto, pela Universidade de Campinas, é professor associado de composição musical
todas as estruturas, cordas e orquestração, são cuidadosamente pensadas para da Universidade Federal da Paraíba e integrea o grupo Prelúdio 21. Tem artigos
que tais intenções possam emergir. sobre música publicados em diversas revistas e em anais de congressos. Parti-
cipou de diversos Panoramas e Bienais de Música Brasileira. Recebeu Menção
Gilson Beck (Cruz Alta/RS, 13/12/1982) estudou composição musical na Unicamp Honrosa no Concurso Nacional de Composição Camargo Guarnieri/Universidade
na Universidade de Évora, e recebeu aulas do compositor Almeida Prado. Pes- de São Paulo e o primeiro lugar no VII Concurso Nacional de Composição Mu-
quisa psicanálise, música e educação com a Antena do Campo Freudiano/Lisboa; sical do Instituto Brasil-Estados Unidos. Da Funarte, recebeu prêmios que vão
sustenta e desenvolve um pensamento composicional e estético apoiado no Nó da Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Artística a encomenda de obras para as
Borromeano e na Psicanálise de Orientação Lacaniana, a «Música Borromeana». bienais de música organizadas por essa instituição.
Recebeu o Prêmio Funarte de Composição Clássica em 2010 e 2012 e o Prêmio A característica principal do Concerto Grosso é o diálogo entre os solistas (con-
Jovens Compositores Carlos Gomes em 2006. Foi professor de análise e técnicas certino), formado por dois violinos, viola e violoncelo, e a orquestra (tutti ou ri-
de composição em conservatórios e escolas técnicas de Portugal e é artista resi- pieno). Esse gênero foi estabelecido durante o período barroco e adaptado pelo
dente da Kasa, em Porto Alegre (http://kasadesaberes.wix.com/kasa). compositor para o contexto atonal, com ênfase no desenvolvimento motívico. As
Ecos na Catedral: uma catedral, ecos e reverberação. A transformação e de- três seções principais da obra − scherzando, lento expressivo e rápido/determi-
formação sonora ao cúmulo do acúmulo: o ruído. A obra está baseada em três nado) se alternam e são constantemente. Agregados sonoros sustentados ou
materiais sonoros distintos: um som-nota em metamorfose; um acorde espectro articulados em trinados pontuam diversas passagens da peça, em oposição à
harmônico; aglomerados sonoros de ruído. São sons em transformação que mis- exploração de diferentes timbres nas partes solistas. A organização das alturas
turam-se como ecos dentro de uma catedral. No início, há uma nota contínua. está baseada na utilização sistemática de dois intervalos, o trítono e o semitom,
Pequenos sinos (notas do piano) vão se misturando e se transformando até o principalmente na elaboração motívica e harmônica.
ruído, um enxame de ressonâncias no interior da Catedral. A segunda seção é
constituída por uma nota grave que desprende uma ressonância-espectro. Esta Marlos Nobre (Recife/PE, 18/2/1939) venceu em 1960 o 1ª Prêmio do Concurso
nota é tocada cada vez mais rápida, em aceleração vertiginosa. A terceira parte Música e Músicos do Brasil/Rio de Janeiro om seu Trio para piano, violino e
é o clímax: uma seção de ruídos, uma vertigem de barulhos, a fusão de todos os cello, que o lançou nacionalmente. Em 1963/64, como bolsista da Fundação Ro-
sons dentro da Catedral numa homenagem ao compositor Almeida Prado e suas ckefeller, estudou com Ginastera, Messiaen, Dallapiccola e Malipiero no Institu-
Cartas Celestes. Para terminar, retoma-se a nota em transformação, os sons se to Torcuato Di Tella em Buenos Aires, quando escreveu suas Variações rítmicas,
dissipam. Sobra um som limpo e contínuo que se desfaz. Divertimento e Ukrinmakrinkrin, obras vencedoras na Tribuna Internacional de
Compositores da Unesco em Paris, em 1966, 1968 e 1970, que o projetaram in-
Harry Crowl (Belo Horizonte, 6/10/1958) tem mais de 150 obras em seu catálogo, ternacionalmente. Recebeu o Prêmio Unesco pela sua obra In memoriam para
e que abrangem todos os gêneros instrumentais e vocais, além de música para orquestra em 1972. Em 1977 a Deutsche Grammophon lançou o disco “Marlos
cinema e teatro. Suas obras tem sido executadas em público e transmitidas em Nobre Piano Works” com o pianista Roberto Szidon e em 1994 a Lemán Suiça
programas de rádio no Brasil e em todos os continentes; algumas foram enco- lançou CD duplo com suas obras orquestrais,vocais e camerísticas, elogiado
mendadas e executadas por grupos internacionais. Recebeu os prêmios “Enco- pela imprensa especializada na Europa e nos Estados Unidos. Foi o primeiro di-
menda de Obra” 2012 e 2014, da FUNARTE, para o qual escreveu o Quinteto para retor do Instituto Nacional de Música da Funarte. Em Dresden, foi eleito por acla-
Piano e Quarteto de Cordas “Mirabilis Jalapa”, estreado na XX Bienal de Música mação Presidente do Conselho Internacional de Música da UNESCO. Recebeu
Brasileira Contemporânea. É professor da Escola de Música e Belas Artes do 25 primeiros prêmios nacionais e internacionais sendo o mais recente o cobiça-
Paraná/UNESPAR e Diretor Artístico da Orquestra Filarmônica da UFPR. Produz do prêmio “Tomás Luís de Victoria” na Espanha, em 2004, quando foi lançado o
e apresenta os programas “Sacro e Profano”, “Clássicos da Atualidade” e “No- livro de Tomás Marco sobre sua obra, estilo e técnicas, no qual o autor afirma
vos Sons – Brasil”, para a Rádio E-Paraná FM. ser Nobre o mais importante compositor de todo o continente ibero-americano. É
Elogio da sombra é uma alegoria baseada no poema em espanhol Laberinto, de Officier des Arts et Lettres pela França, Doutor Honoris Causa pela Universidade
Jorge Luis Borges, parte de coletânea que leva o título dado à obra musical. Nesse de Pernambuco e nos Estados Unidos é professor visitante da Juilliard School of
poema, há uma metáfora na qual a figura do minotauro aprisionado no labirinto Music e das Universidades de Yale e Indiana. Seu catálogo abrange 240 obras
busca inutilmente uma saída. Escrito numa estrutura de versos shakespearianos, em quase todos os gêneros musicais, gravadas no Brasil e no exterior em cerca
o poema apresenta uma sequência formal “a, b, b, a, c, a, a, c, d, e, e, d, f, f”. de 150 CDs e editadas pela Max Eschig, Henri Lemoine, Boosey & Hawkes e
Essa estrutura foi utilizada para a elaboração da peça musical, assim como as Marlos Nobre Edition,. É regente titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica
letras que representam as notas na nomenclatura germânica foram usadas para do Recife
a formação de uma série que aparece ao longo da composição. O clarone figura Furioso, opus 121, escrito para orquestra de cordas em dois grupos indepen-
metaforicamente como o minotauro e a orquestra de cordas como o seu labirinto. dentes, continua a desenvolver o processo atual do compositor, de trabalhar
Diferentemente de um concerto solista, a interação com a orquestra é constante e com o total cromático sem estabelecer séries ou outro qualquer tipo de organi-
não há espaço para passagens a solo apesar da complexidade da escrita. O timbre zação ou sistematização prévia do material. Núcleos independentes de motivos
do clarone modifica constantemente a sonoridade do conjunto. cromáticos são “ouvidos” internamente, de acordo com a convicção de que
ainda há muito o que explorar no tratamento do total cromático. O compositor
Wellington Gomes (Feira de Santana/BA, 2/8/1960), doutor em composição pela também destaca, neste caso, o processo que desenvolve, de criação instan-
Universidade Federal da Bahia, é professor de composição, literatura e estru- tânea, imediata, obedecendo apenas à sensação auditiva de todo o material
turação musical na Graduação e no Programa de Pós-graduação da Escola de utilizado, numa “intuição organizada”, ou seja: há um processo subjacente de
Música daquela universidade, onde também ocupou o cargo de Vice-Diretor. organização formal na sua mente que independe de formas ou fórmulas pré-
Como compositor, participa de eventos e concertos dedicados à música con- estabelecidas. “Assim, vou compondo por ‘impulsos’ mas submetendo-os cons-
temporânea brasileira. Suas obras são executadas por diversas orquestras e tantemente a uma análise crítica permanente. O que importa é a ‘minha’ lógica
conjuntos no Brasil, Alemanha, Polônia, Noruega, Dinamarca, França, Espanha, do discurso sonoro a partir de uma improvisação mental constante. Quando o
Itália, Suiça, Costa Rica e Estados Unidos. Recebeu o “Prêmio Público” na XVIII fluxo da ideia termina, inicia-se imediatamente outra seção com novos impulsos
Apresentação de Compositores da Bahia, o 3º Prêmio no III Concurso Nacional estabelecendo nesta peça um total de sete grandes blocos independentes mas
de Composição Heitor Villa-Lobos/Brasília, o 2º Prêmio no V Concurso Nacional absolutamente conectados entre si. O caráter virtuosístico da escritura é tam-
de Composição/Salvador e o 1º Prêmio na XIV Apresentação de Compositores bém, ao mesmo tempo, um fator constante em toda a peça.”

13
XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


13 de outubro de 2015, terça-feira, 19h
I
Tauan Gonzalez Sposito Se as árvores nascessem das nuvens**
Quarteto Brasiliana
violinos Roberto Faria e William Isaac
viola Samuel Passos, violoncelo Paulo Santoro
Tauan Gonzalez Spo-

Alexandre Lunsqui Guturduo*

Gustavo Penha

flautas Eduardo Monteiro e Lucas Robatto

Daniel Vargas O Catraz II – Engenhoca para viola solo**


viola solo Martinêz Nunes
sito

H. J. Koellreutter Improviso para flauta solo


(in memoriam) flauta Tahyná Oliveira

Ricardo Tacuchian
Alexandre Lunsqui

Vitor Ramirez Signo Austral**


Camerata Profana
flautas Tahyná Oliveira e Carolina Chaves
clarineta Bruno Avoglia, trombone Gabriel Trettel
tuba Raphael Caserta, violoncelo Amanda Ferraresi
piano Mariana Carvalho
regente Enrico Ruggieri

II
Daniel Vargas

Edino Krieger
Gustavo Penha Vento sob os dedos**
flauta solo Eduardo Monteiro

Ricardo Tacuchian Pimenta malagueta*


violino solo Carla Rincón

Edino Krieger Entrada harmônica e frevo canônico*

Maurício Dottori Et facta est procella magna venti **


H. J. Koellreutter

Maurício Dottori

Caio Márcio dos Santos Variações livres para quinteto de sopros**


Quinteto Villa-Lobos
flauta Rubem Schuenck, clarineta Paulo Sérgio Santos
oboé Luis Carlos Justi, fagote Aloysio Fagerlande
trompa Phillip Doyle
Caio Márcio dos Santos
Vitor Ramirez

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
14
Tauan Gonzalez Sposito (Maringá/PR, 9/4/1991), bacharel em violino e gradu- Vitor Ramirez (Divinópolis/MG, 9/7/1993 cursa música na USP e estuda composi-
ando em composição pela Universidade Estadual de Maringá/UEM, é aluno dos ção com Maurício de Bonis, tendo como mentor Willy Corrêa de Oliveira.
professores Marcus Bittencourt e Rael Gimenes. Como instrumentista, integra Signo austral parte do um ciclo de melodias Tierkreis (Zodíaco), composto por
a Orquestra de Cordas da UEM e o grupo de câmara Ad Libitum. Teve algumas Stockhausen, para serem livremente orquestradas. A estrutura interna de uma
de suas obras interpretadas por grupos maringaenses, dentre as quais Semper destas, a do signo de Gêmeos, foi utilizada como princípio unificador de ideias
Simplice, opus 4 (2011), pela Orquestra de Câmara da UEM e Nostalgia (2012), musicais as mais discrepantes. Signo Austral são digressões musicais sobre al-
para violino e piano, por Tauan Sposito e Ticiano Biancolino. Participou de cur- guém que já voltou para Sirius.
sos e oficinas com vários professores, dentre os quais Paulo Bosisio e Rodolfo
Caesar. Atua como orientador de violino e viola pelo SESC Maringá. Gustavo Penha (São Paulo/SP, 25/07/1983) é graduado pela FASM, onde estu-
A obra Se as árvores nascessem das nuvens surgiu de um pensamento que dou com Sergio Kafejian e Paulo Zuben. Concluiu mestrado na UNICAMP, onde
acompanha o compositor desde sua infância: como seria o mundo se as ár- cursa o doutorado. Faz pesquisas sob orientação de Silvio Ferraz e com bolsa
vores, em vez de nascerem da terra crescendo em direção ao céu, cresces- da FAPESP. Foi bolsista do Festival de Campos do Jordão, onde estudou com
sem em direção ao solo, com as raízes nas nuvens? A peça para quarteto de Stefano Gervasoni, Claude Ledoux, Roberto Victório e participou de masterclass
cordas busca representar musicalmente esse virar de “ponta cabeça”, utili- com o Arditti Quartet. Atuou em importantes eventos de música contemporânea
zando elementos musicais como glissandi deslocados no tempo e em direções no Brasil, como o Festival Música Nova e a Bienal de Música Brasileira Contem-
contrárias, e orquestração que explora o cruzamento das vozes. Em determi- porânea, do RJ. Atuou como produtor e compositor nos CDs Ressonâncias do
nados momentos, os conceitos de consonância e de dissonância, envolvendo grupo Sonâncias, e Imaginário, da pianista Lidia Bazarian, ambos dedicados à
sensações auditivas opostas, foi explorado de maneira a criar uma espécie de música contemporânea brasileira. Em 2012 participou de festival em Pavia, Italia,
homogeneidade entre ambos. onde teve uma peça executada pelo Quartetto Maurice e estudou com Amy Beth
Kirsten e Mario Garuti. Em 2013, obra sua foi interpretada pelo The Riot Ensem-
Alexandre Lunsqui (São Paulo/SP, 1969) estudou nas universidades de Cam- ble em Londres. Realizou um estágio de pesquisa na Universidade Paris VIII, em
pinas, Iowa, Columbia e no Institute de Recherche et Coordination Acoustique/ 2013-2014, sob orientação dos compositores José Manuel Lopez Lopez, Anne
Musique (IRCAM). Seus principais professores foram Tristan Murail e José Au- Sédès e Alain Bonardi, quando teve obra para percussão e eletrônica executada
gusto Mannis e tem obras apresentadas em mais de 20 países por grupos como pelo grupo Les Percussions de Strasbourg.
o Ensemble Aleph, Arditti String Quartet, Argento Chamber Ensemble, Ensemble Vento sob os dedos: na primeira parte da peça há um jogo de movimentação
L’Arsenale, Camerata Aberta, Nieuw Ensemble, Talea Ensemble, International mecânica dos dedos sobre as chaves e furos da flauta, contraposto aos sopros
Contemporary Ensemble, New York New Music Ensemble. Em 2010, foi premiado produtores de fluxo de ar dentro do tubo. Já na segunda parte, o jogo dos dedos
pela Fromm Foundation da Harvard University. Em 2011, compôs Fibers, Yarn and é perturbado por cantos fragmentados de pássaros, modulados uns pelos outros.
Wire, obra encomendada e executada pela New York Philharmonic.  Destacam-
se ainda colaborações com o Ensemble Reconsil de Viena, Access Contempo- Ricardo Tacuchian (Rio de Janeiro/RJ, 18/11/1939, regente e compositor, tem
rary Music de Chicago, Ensemble Protobern da Suiça, além de encomendas da mais de 250 títulos em seu catálogo de obras, grande parte rdos quais egistrados
OSESP e Filarmônica Bachiana. Em 2014, Lunsqui foi compositor em residência em cerca de 50 CDs, além das gravações em LP, num total de mais de 100 regis-
do Chelsea Music Festival de Nova Iorque e artista em residência do Civitella tros sonoros. Sua obra já foi executada ao vivo em 130 cidades estrangeiras de
Ranieri Foundation, na Itália. Atualmente é professor de composição na Univer- cerca de 35 países. É membro da Academia Brasileira de Música.
sidade Estadual Paulista (UNESP). www.lunsqui.com. Pimenta malagueta, para violino solo, integra a Série especiarias, constituída
Gutturduo, para duas flautas, tem como elemento principal uma simples célula por peças para todos os instrumentos musicais. Elas se caracterizam por serem
rítmica, transformada continuamente no decorrer da peça. Um segundo elemen- para instrumento solo, estruturadas sobre o “Sistema-T”, de duração limitada e
to, também importante, é a ocorrência de um eco obtido através de notas repeti- dificuldade mediana. São dedicadas a amigos do compositor, e cada uma leva o
das e que navegam entre as duas flautas. Há ainda um jogo de espelhos entre os nome de um determinado tempero. Pimenta malagueta é dedicada à violonista
instrumentos, criando um caleidoscópio de formas e cores diversas. Carla Rincon.
Daniel Vargas (Belo Horizonte/MG, 3/4/1985) estudou guitarra elétrica com Edino Krieger (Brusque/SC, 17/3/1928) estudou violino com seu pai e composi-
Clécio Eduardo e violão com Fábio Adour e graduou-se pela Unespar em 2014. ção com Koellreuter, Aaron Copland, Peter Mennin, Lennox Berkeley e Ernst
Como performer se dedica à música popular e à música contemporânea. Seu Krenek. Exerceu diversos cargos de direção em instituições públicas e privadas,
repertório inclui obras Baden Powell, Luciano Berio, Brian Ferneyhough e Ar- Organizou e dirigiu os Festivais de Música da Guanabara em 1969 e 1970, dos
thur Kampela. Ao lado deste compositor, se apresentou no Festival Internacional quais se originaram as Bienais de Música Brasileira Contemporânea em 1975.
de Violão de Belo Horizonte. Foi bolsista de iniciação científica da Fundação Entrada harmônica e frevo canônico foi composta em 2014 para a XXI Bienal
FAPEMIG e da Fundação Araucária pesquisando técnicas estendidas e ritmos de Música Brasileira Contemporânea da Funarte e dedicada a Guerra-Peixe, in
complexos; recebeu prêmio do Ministério da Educação Holandês com a Holland memoriam, no ano de seu centenário de nascimento. A composição, para quar-
Scholarship. Publicou o artigo “A complexidade rítmica no Estudo Percussivo nº teto de madeiras, inicia-se com uma sucessão de estruturas harmônicas puras,
2, de Arthur Kampela”, na revista acadêmica da UFMG. Em 2014 se graduou pela sem componentes rítmicos ou melódicos, partindo de um uníssono em pianíssi-
UNESPAR. Em 2012, foi premiado pela Funarte com a obra O Catraz I; em 2014, foi mo numa progressão crescente de alargamento e intensidade. O frevo que se
duplamente premiado com as obras Catraz II e Catraz III. segue, sem interrupção, em contrapartida, apoia-se em estruturas rítmicas e
O Catraz II − Engenhoca para viola solo, baseada no conto “O Recado do Mor- melódicas características da dança nordestina, que Guerra-Peixe pesquisou em
ro” de Guimarães Rosa, lembra o lunático personagem Catraz, uma espécie de sua permanência em Pernambuco. A estrutura polifônica deriva do tratamento
cientista do sertão que inventava engenhocas. Sua maior criação foi uma es- canônico, imitativo, dos elementos temáticos.
pécie de avião, o Carroço: “Era para ele se sentar nesse, na boléia: carecia de
pegar duas dúzias de urubus, prendia as juntas deles adiante; então, levantava Maurício Dottori (Rio de Janeiro/RJ 01/08/1960, nascido no Rio de Janeiro em
um pedaço de carniça, na ponta duma vara desgraçada de comprida: os urubus 1960 compõe e, nas horas de lazer, é musicólogo. Foi aluno de clarinete de José
voavam sempre atrás, em tal guisa, o trem subia viajando no ar”. A ideia central Botelho, na Escola de Música Villa-Lobos, onde também estudou com Emília
da peça é experimentar sons e técnicas na viola, tentando, a todo o momento: Cataldi (harmonia e contraponto). Compositor autodidata, aperfeiçoou-se na
“trans-gredir amedida as sigilosas siglas do não” (Haroldo de Campos). Esta ex- Scuola di Musica di Fiesole, com Sylvano Bussotti e Mauro Castellano. É Mestre
periência sempre dialoga com a trajetória gestual do instrumento. em Artes pela USP e Doutor em Música pela Universidade do País-de-Gales,
Cardiff. Ensina Composição e Contraponto na Universidade Federal do Paraná,
Hans-Joachim Koellreutter (Freiburg/Alemanha, 2/9/2015 – São Paulo/SP, em Curitiba. “É possível uma música que defina um novo território (musical) que
13/9/2005) aos 20 anos, fundou em Berlim o Círculo de Música Nova e no ano seja aberto, por não ser perspectivamente plano, a diversos caminhos que o
seguinte participou da criação de instituição análoga em Genebra, onde estudou percorram? Venho há alguns anos escrevendo música que se concentra no “cli-
com H. Scherchen. Apresentou-se em várias cidades europeias e a 16/11/1937 ma” — na meteorologia — destes territórios.
desembarcou no Rio de Janeiro. Em seus primeiros anos no Brasil, relacionou-
No quinteto de sopros Et facta est procella magna venti (Marcos 4:37), o ar se
se com elementos de proa da vida musical, apresentou-se como flautista em
faz tempestade e move-se — às vezes com fúria, em sucessivas rajadas sobre
vários Estados, passou a lecionar composição e criou o movimento Música Viva
águas imaginárias, em diferentes planos musicais — às vezes quase sereno.”
(1939). Em 1940, começou a dar aulas de composição para Claudio Santoro, e
pouco depois para Guerra-Peixe, Edino Krieger e Eunice Katunda. Em 1948 atuou
como assistente de Hermann Scherchen em Veneza, para onde viajou com vá- Caio Márcio dos Santos (Rio de Janeiro/RJ, 1/10/1981) é bacharel em violão
rios alunos seus. Em 1950, dirigiu o primeiro Curso Internacional de Férias Pró- clássico sob a orientação de Paulo Pedrassoli e em composição erudita, pelo
Arte, em Teresópolis ; as ideias que defendia foram alvo de crítica contundente Conservatório Brasileiro de Música, sob orientação de Luis Carlos Cseko, Ar-
de Camargo Guarnieri. Fundou em 1954 os Seminários Internacionais de Música, mando Lobo e Bryan Holmes. Participou de cursos complementares ligados à
em Salvador, mais tarde convertidos em Escola de Música e Artes Cênicas da improvisação com Hélio Delmiro, Lula Galvão, Genil Castro e Nelson Faria e à
Universidade Federal da Bahia. Em 1963, em Munique, passou a dirigir a progra- composição com Antonio Guerreiro de Faria, Tim Rescala, Alexandre de Faria,
mação internacional do Instituto Goethe e dois anos depois assumiu a direção David Tygel, Alexandre Negreiros e Pauxy Gentil-Nunes.
de instituição cultural alemã na India, mudando-se para o Japão em 1970. Re- As Variações livres para quinteto de sopros apresentam a estrutura conven-
tornou ao Brasil em 1975, alternando intensa atividade musical e cultural com cional tema-variações. A primeira seção é melódica e seu caráter monódico de-
apresentações musicais e viagens ao exterior. limita o tema, construído de maneira livre, intuitiva. No decorrer das variações,
O Improviso para flauta solo foi composto em Manaus, em 1938/39, é a primeira não são mantidas na superfície as estruturas melódico-temáticas, revelando um
obra do gênero criada no Brasil. Influenciado por essa obra, Guarnieri escreveu discurso que, apesar de fragmentado, possui um fluxo delineado. O que se busca
seu primeiro improviso para flauta solo, dedicado a Koellreutter e por ele estre- é a justaposição de seções contrastantes que de alguma forma derivam do tema,
ado a 29/11/1941 em concerto no Teatro Municipal de São Paulo. Esse concerto, e as impressões que tais características despertam. Este contraste será resul-
com o compositor paulista ao piano, foi por ele organizado em benefício de seu tante da articulação de texturas, carateres, dinâmicas e linguagens harmônico-
então amigo Koellreutter. Após o rompimento, Guarnieri mudou a dedicatória e estruturais distintas. O contraponto livre em III, a condução de poliacordes em
transferiu-a para Alfério Mignone, pai do compositor. VII e as técnicas expandidas como efeitos expressivos em VIII servem como
ilustração da heterogeneidade técnica.
15
XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


14 de outubro de 2015, quarta-feira, 19h
I
Matheus Bitondi Jogo dos espelhos mutantes**

Roseane Yampolschi
fagote solo Fábio Cury
Matheus Bitondi

Sérgio Kafejian Soproinverso**


clarineta solo Luís Afonso Montanha

Ronaldo Miranda Réplicas*


I − Incisivo; II − Lúdico; III – Lírico
clarineta Luís Afonso Montanha
fagote Fábio Cury

Danniel Ferraz Toada para flauta solo**

Paulo Rios Filho


Sérgio Kafejian

flauta solo Maria Carolina Cavalcanti

Henderson Rodrigues Proto movimento**


Quarteto Uirapuru
violinos Fernando Pereira e Márcio Sanches
viola Dhyan Toffolo, violoncelo Claudia Grosso
Orquestra Solistas do Rio
violinos Fábio Peixoto e Leonardo Fantini

Paulo Henrique Raposo


viola Bernardo Fantini, violoncelo Thaís Ferreira
Ronaldo Miranda

contrabaixos Cláudio Alves e Tony Botelho


regente Rafael de Barros

II

Roseane Yampolschi Zikhronot**
Quarteto Uirapuru
violinos Fernando Pereira e Márcio Sanches
viola Dhyan Toffolo, violoncelo Claudia Grosso

Marcílio Onofre
Danniel Ferraz

Paulo Rios Filho A vinte dias do fim*


flauta Andrea Ernest, clarineta Batista Jr.

Paulo Henrique Raposo Mixture**

Marcílio Onofre (Im)pulsos de taipa*


rupo CRON
G
Henderson Rodrigues

flautas Afonso Oliveira e Felipe Marateo,


clarinete Marcos Passos, oboé Thiago Neves
fagote Jeferson Souza, trompete Matheus Moraes
trombone João Luiz Areias, violino Taís Soares
viola Rúbia Siqueira, violoncelo Janaína Salles,
contrabaixo Cláudio Alves, piano Tatiana Dumas
regente Marcos Nogueira

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
16
Matheus Bitondi (Ribeirão Preto/SP, 16/2/1979) é formado e mestre em música último século. Sua constituição evidencia o movimento dos parciais interiores do
pelo Instituto de Artes da Unesp. Atua como professor na Faculdade Santa Mar- som, que abrangem mudanças de alturas, cores distintas e mudanças espaciais.
celina, na Faculdade Cantareira e na Escola Municipal de Música de São Paulo. A obra traduz o desenvolvimento temporal de alguns timbres ao longo de uma or-
Teve obras executadas no Auditório Ibirapuera, na Sala São Paulo, na Sala Ce- questração. A harmonia espectral não é única utilizada nesta peça, que passeia
cília Meireles) e no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, de Belo Horizonte, por gru- por várias cores harmônicas.
pos como a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, a Banda Sinfônica do Estado
de São Paulo e Orquestra Bachiana; algumas foram gravadas por grupos como Roseane Yampolschi (Rio de Janeiro/RJ, 18/07/1956) fez doutorado em compo-
o Percorso Ensemble e o Grupo de Percussão do Instituto de Artes da Unesp/ sição com William Brooks na University of Illinois e pós-doutorado com Silvina
PIAP. Foi laureado no Concurso Nacional de Composição “Camargo Guarnieri” Milstein no King’s College. Desde 2004, é professora de música da UFPR. Em seu
realizado pela Orquestra Sinfônica da USP em 2005; no String Quintet Contest for percurso como compositora, destacam-se prêmios/distinções da International
Brazilian Composers, da Kean University, EUA, em 2006) e nos Prêmios Funarte Society for Contemporary Music – Festival World Music Days (1999, 1990), The
de Composição Clássica 2012 e 2014. Chamber Players of the League (Estados Unidos, 1997), The University of Illinois
Jogo dos espelhos mutantes (2010) – “Parado diante daqueles espelhos, via Performing and Creative Fellowhip (1993). Seu repertório abarca trabalhos musi-
suas imagens refletidas aos poucos se transformarem. Algumas o seduziam, ou- cais em várias modalidades instrumentais, alguns registrados nos CDs “Orques-
tras começavam a horrorizá-lo. Os espelhos jogavam com sua percepção. Com o tra Filarmônica da Universidade Federal do Paraná” e “Sonorizador”.
tempo, já não se reconhecia mais naqueles reflexos. Eles já não correspondiam Zikhronot apresenta duas partes principais, entre as quais há duas passagens
às suas feições e aos seus movimentos. Tinham vida própria. Já não eram ima- distintas quanto ao caráter e à construção formal que, ao mesmo tempo, ge-
gens, mas sensações... e sons.” ram contraste e medeiam essas partes. O trabalho tem um sentido orgânico que
aparece como fruto de uma série de estruturas que funcionam, por vezes, como
Sergio Kafejian (São Paulo/SP, 14/3/1967) alia em suas composições análises pequenas unidades melódicas e/ou como configurações de timbre e dinâmica.
e manipulações espectrais com técnicas estendidas instrumentais e manipula- O uso de técnicas estendidas gera efeitos de natureza construtiva por meio da
ções eletrônica e digitais. Suas atividades envolvem instalações eletroacústi- criação de inflexões sonoras, configurações variadas e texturas distintas.
cas, improvisação com eletrônica em tempo real, composição instrumental além
de projetos artístico-pedagógicos de educação musical voltados para a música Paulo Rios Filho (Salvador/BA, 12/4/1985) tem trabalhado em colaboração om
dos séculos XX e XXI. Entre suas premiações destacam-se: Festival Internacio- um punhado de grupos de música contemporânea ao redor do país e também no
nal de Música Eletroacústica de Bourges (França, 1998 e 2008); Gilberto Mendes exterior, como Orpheu Ensemble (EUA), GNU (Rio de Janeiro), Camerata Aberta
de Composição Orquestral (São Paulo, 2008), Bolsa Criação (Funarte, 2009) e In- (São Paulo), CRON (Brasil), Quinteto Avent-Garde (Portugal) e Nieuw Ensemble
terações Estéticas (Funarte, 2009). Obteve o bacharelado em composição pela (Holanda). Sua música tem sido tocada em mais de dez estados brasileiros, e
FASM, mestrado pela Brunel University/Londres e doutorado pela Unesp. também na Venezuela, Argentina, Portugal, Holanda, Rússia, Suíça, Alemanha
A poética central de Soproinverso consiste em encontrar o equilíbrio entre os e Estados Unidos. Desenvolve uma série de trabalhos na área de criação no
diversos graus de intensidade que habitam seus diversos objetos musicais. São estado da Bahia, onde se deu toda a sua formação na Escola de Música da Uni-
intensidades físicas, sonoras e gestuais cujas inter-relações propõem os ca- versidade Federal da Bahia. É membro-fundador da Oficina de Composição Ago-
minhos a serem seguidos, mas que a cada momento se transformam, seja em ra/ OCA e consultor artístico do Camará Ensemble. Desde 2013, é professor da
função dos intercâmbios de suas ações e energias, seja em função das atrações Universidade Federal do Maranhão (Campus São Bernardo) e vive em Parnaíba,
e não atrações de suas matérias sônicas: velocidade, não velocidade; intensida- no litoral do estado do Piauí.
de, não intensidade; atividade / não atividade. Sobre a obra A vinte dias do fim...: “Eu nunca prometi nada. E ainda assim me es-
colheram. O que vem antes: a política ou a criação? A frustração pode fazer par-
Ronaldo Miranda (Rio de Janeiro/RJ, 26/4/1948) estudou composição com Hen- te desse pacote de substantivos-questões: a política, a criação ou o desaponto?
rique Morelenbaum e piano com Dulce de Saules, na Escola de Música da UFRJ. Não há escapatória, pois mesmo para fazer a simples pergunta, há de haver uma
Começou sua carreira como crítico de música do Jornal do Brasil e intensificou ordem, uma sequência. O que vem primeiro, neste caso, é a política, seguida
seu trabalho como compositor a partir de 1977, quando obteve o 1º Prêmio no da criação e do falhanço. Afinal, se parassem de pensar no relógio das coisas,
Concurso de Composição para a II Bienal de Música Brasileira Contemporânea, estariam deparados com os atos de uma democracia esquizofrênica: escolher
na categoria de música de câmera. Recebeu vários prêmios em concursos bra- um processo de desencantamento, malograr uma criação de escolhas, ou, ain-
sileiros de composição, bem como o Troféu Golfinho de Ouro, o Troféu Carlos da, criar escolhas fracassadas. Tudo ao mesmo tempo. Desejam, assim, apostar
Gomes e, em três ocasiões, o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. na promessa, mesmo frente aos gestos; escolher o incriado e esperar o revés.
Laureado no Concurso Internacional de Composição de Budapeste, em 1986, foi Deveriam, no entanto, escolher os gestos. Estes... se reuniriam por fim em festas,
condecorado com a Ordem das Artes e das Letras pelo governo francês em 1984. pipocando por aí, nos maiores e mais fugazes interstícios do contentamento.”
Participou de inúmeros festivais internacionais e tem obras gravadas no Brasil
e no exterior. Foi professor de composição da Universidade Federal do Rio de Paulo Henrique Raposo (Taubaté/SP, 11/7/1983) fez mestrado em compo-
Janeiro, vice-diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte e diretor da sição na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO) com
Sala Cecília Meireles. Atualmente, é professor do Departamento de Música da especialização na Faculdade de Música Carlos Gomes/ FMCG e bacharela-
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. do em guitarra na Faculdade Santa Cecília/FASC em Pindamonhangaba/SP.
Os três movimentos de Réplicas – Incisivo, Lúdico e Lírico −, exploram texturas, Dedica-se à docência no ensino superior na cidade de São Paulo.
dinâmicas e ritmos diversos, com os recursos tímbricos dos dois instrumentos A peça Mixture foi concebida como uma sobreposição de estruturas dis-
de madeiras. O discurso sonoro flutua do mais exacerbado virtuosismo à mais tintas construídas a partir de elementos harmônicos contrastantes. É jus-
plana contemplação. tamente a partir da mistura desses elementos que surge a sonoridade da
peça, dividida em quatro camadas, a primeira executada pela flauta, a se-
Danniel Ferraz (Vitória da Conquista/BA, 3/11/1989) é bacharel em composição gunda por um trio de sopros (flauta, oboé e clarineta), a terceira pelo piano
e regência pela Universidade Federal da Bahia, orientado pelos professores e a última pelo quarteto de cordas. A disposição dos instrumentos no palco
Paulo Costa Lima, Wellington Gomes e Agnaldo Ribeiro. Participou de master- tem como objetivo explicitar essas camadas, para que o ouvinte perceba a
classes e cursos com Jon Appleton, Felipe Lara, Helmuth Flammer, Jaime Reis, interação entre elas.
Paul C. Chagas e Chaya Czernowin. Como bolsista, integrou projetos voltados
para o ensino de composição musical na Bahia e sobre difusão de música de Marcílio Onofre (João Pessoa/PB, 7/2/1982) é bacharel em música e mestre
concerto contemporânea baiana. É membro atuante da Oficina de Composição em composição pela Universidade Federal da Paraíba/UFPB, sob a orientação
Agora, associação civil que produz, registra e divulga música contemporânea. do compositor Eli-Eri Moura. Como bolsista do Mozarteum Brasileiro, recebeu
Neste ano de 2015, foi aceito no mestrado da Schulich School of Music da Mcgill o Artist Diploma em composição pela Akademia Muzyczna w Krakowie, sob a
University em Montreal no Canadá e selecionado como bolsista do 46° Festival orientação de Krzysztof Penderecki. É professor do Departamento de Música
Internacional de Campos do Jordão. da Universidade Federal da Paraíba e membro de seu Laboratório de Composi-
Toada pertence a um conjunto de peças escritas sob a influência circundante ção Musical/Compomus. Suas obras tem sido apresentadas em festivais como a
do sertão nordestino. A peça remete aos versos ritmados e constantes de uma Bienal de Música Brasileira Contemporânea, a Bienal de Música Brasileira Con-
toada de vaqueiro. Aboios são tocados para finalizar os versos da toada de um temporânea de Mato Grosso, Cortona Sessions for New Music, Festival Interna-
toador solitário, neste caso a flauta. Dois momentos distintos são apresentados cional de Inverno de Campos do Jordão, Académie Internationale de Musique et
pelo instrumento, como dois vaqueiros presos numa mesma voz buscando liber- de Danse du Domaine Forget. Dentre os prêmios que recebeu em concursos de
dade um do outro. composição, destacam-se 2010 DuoSolo Emerging Composer Competition, 6th
SCCM New Composition, Concurso Nacional de Composição Camargo Guarnie-
Henderson Rodrigues (Fortaleza/CE, 14/8/1976) graduou-se em música pela Uni- ri, Prêmio Música Clássica da Fundação Nacional de Artes/Funarte e Prêmio
versidade do Estado do Ceará, com trabalho final versando sobre a composição Latino-Americano de Composição Piero Bastianelli.
da música eletroacústica, orientado pelo professor Alfredo Barros. Concluiu o (Im)pulsos de taipa teve como metáfora construtiva uma casa de taipa, tipo de
mestrado em musicologia sob aorientação do professor Didier Guigue na Univer- habitação muito comum no interior do Nordeste. Nesse tipo de construção o bar-
sidade Federal da Paraíba, e atualmente é doutorando em composição musical ro é utilizado para preencher um esqueleto construído a partir de madeira tran-
pela Universidade de Aveiro, em Portugal sob orientação do professor João Pe- çada. Esse processo de preenchimento é feito normalmente com a mão batendo
dro Oliveira. Teve algumas de suas obras realizadas em rádios pela internet, no porções de barro na estrutura de madeira. Musicalmente, a intenção foi criar
Teatro José de Alencar em Fortaleza e na Universidade Federal da Paraíba. Sua uma estrutura fixa e preenchida, no decorrer da obra, de diferentes maneiras,
investigação abrange a espacialidade sonora em música. resultando em distintas texturas. O trabalho decorrente do “entrelaçamento” de
A descrição de um Proto movimento sonoro/timbrístico parte da constatação uma polifonia localizada, entre pequenos componentes musicais, e projetada em
de que o timbre tem sido um dos principais elementos da construção musical do um nível mais amplo, gera as grandes “porções estruturais” da obra.

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XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


15 de outubro de 2015, quinta-feira, 19h

I
Fred Carrilho EVENTVM V – Vórtices**
percussão Pedro Sá e Janaina Sá

Alfredo Barros
Fred Carrilho

Ticiano Rocha Digressão de força**


percussão Tiago Calderano, Pedro Moita
e Lourenço Dias de Vasconcellos

Mario Ficarelli Quinteto para trompa e quarteto de cordas


(in memoriam) trompa Antônio Augusto,
violinos Ana de Oliveira e Marco Catto,
viola Dhyan Toffolo, violoncelo Marcus Ribeiro

Mario Ferraro
Ticiano Rocha

II
Alfredo Barros Antídoto*
(texto do compositor) I – Antídoto; II – Noites e rosas; III – Distância
tenor Alberto Pacheco, fagote Débora Nascimento
piano Tamara Ujakova, violoncelo Luciano Corrêa
percussão Paraguassú Abrahão

Daniel Vargas
Mario Ferraro Trapézio**
Mario Ficarelli


clarinetas Marcos Passos, Marcelo Ferreira
e Batista Jr., piano Katia Baloussier,
percussão Janaina Sá, harpa Marco Monteiro
regente Jésus Figueiredo

Daniel Vargas O Catraz III – Engenhoca para


catrumaninstrumentos**
ABSTRAI Ensemble

Edson Zampronha
flauta Pauxy Gentil-Nunes, violino Mariana Salles
violão Fabio Adour, percussão Daniel Serale

Edson Zampronha Sonora*


ABSTRAI Ensemble
flauta Pauxy Gentil-Nunes, clarineta Batista Jr.
sax Pedro Bittencourt, violoncelo Marcus Ribeiro
contrabaixo Alexandre Brasil
piano Marina Spoladore
percussão Daniel Serale
regente Tobias Volkmann

coordenador Daniel Serale

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
18
Fred Carrilho (Penápolis/ SP, 7/4/1971), graduado em violão sob a orientação projeto multimídia Guanabara − Quadros para Orquestra, inspirado nos diversos
de Henrique Pinto, estudou composição musical e fez mestrado em música na ecossistemas da Baía de Guanabara. Mario Ferraro é professor de música do
Unicamp. Participou do Gaudeamus Musik Week, na Holanda; do Iannis Xenakis Colégio de Aplicação da UFRJ desde 2003. O Prêmio Funarte de Composição
International Symposium com o artigo “Interactive Musical Composition to Ge- Clássica 2014 selecionou duas obras suas para apresentação nesta XXI Bienal.
neralized Distribution based on Stochastic Process”; do Projeto Violão no Museu Em linhas gerais, Trapézio (2009/2014) apresenta uma alternância entre um tema
de Artes Assis Chateaubriand/MASP; do Oregon Bach Festival/EUA; do JazzFest rítmico cada vez mais agitado e outro suave, quase lírico. Três figurações prin-
Brandemburgo/Alemanha; do Girona Guitar Festival/Espanha; do Hong Kong Gui- cipais estão entrelaçadas para formar a estrutura da obra. A primeira é criada
tar Concert Project; de Bienais da Música Brasileira Contemporânea. Teve obras por padrões de sons agudos repetidos na seção de percussão e ligeiramente
premiadas na Holanda e no Brasil e gravadas em CDs. variada a cada vez; esse material poderia aludir à tensão nas cordas de um tra-
EVENTVM V teve sua composição iniciada na Catalunha e concluída em Indaia- pézio circense, no alto do picadeiro. Na segunda, os clarinetes tocam padrões
tuba/SP. A peça se trata da exploração conceitual da estética do movimento melódicos em fluxo constante, como que a sugerir as evoluções acrobáticas
cíclico sonoro e gestual. A elaboração rítmica, dinâmica e timbrística, através do no ar. Algumas melodias relativamente autônomas constituem a terceira, talvez
contraponto instrumental e, sobretudo, estrutural, é profundamente sublimada como fragmentos de uma trilha sonora para a performance. No entanto, uma vez
pela concepção musical do compositor. que esta obra não foi concebida como música descritiva, tais imagens serviram
simplesmente como estímulos para a composição.

Ticiano Rocha (João Pessoa/PB, 14/4/1982) recebeu aulas de composição de


Eli-Eri Moura (Brasil) e Virgílio Melo (Portugal) e assistiu masterclasses com o Daniel Vargas (Belo Horizonte/MG, 3/4/1985) estudou guitarra elétrica com
compositor espanhol Manuel Hidalgo e o compositor austríaco Beat Furrer. É Clécio Eduardo e violão com Fábio Adour e graduou-se pela Unespar em 2014.
membro do Grupo de Pesquisa em Musicologia, Sonologia e Computação/Mus³, Como performer se dedica à música popular e à música contemporânea. Seu
do Núcleo de Estudos do Contemporâneo da UFMT e do Laboratório de Compo- repertório inclui obras Baden Powell, Luciano Berio, Brian Ferneyhough e Ar-
sição Musical da UFPB/Compomus. Professor da Universidade Federal de Mato thur Kampela. Ao lado deste compositor, se apresentou no Festival Internacional
Grosso, atualmente conclui seu doutorado em composição pela Universidade de Violão de Belo Horizonte. Foi bolsista de iniciação científica da Fundação
de Aveiro (Portugal). Suas obras gravadas incluem Daedalus, registrada no CD FAPEMIG e da Fundação Araucária pesquisando técnicas estendidas e ritmos
Brassil interpreta compositores da Paraíba; Segunda dança, registrada no CD complexos; recebeu prêmio do Ministério da Educação Holandês com a Holland
Obras para violão de Teresinha Prada; Vibrações do ar, no CD Sopros da cidade, Scholarship. Publicou o artigo A complexidade rítmica no Estudo Percussivo nº
produzido pelo COMPOMUS. 2, de Arthur Kampela, na revista acadêmica da UFMG. Em 2014 se graduou pela
Digressão de Força trata do conflito de duas ideias de sonoridade que são pos- UNESPAR. Em 2012, foi premiado pela Funarte com a obra O Catraz I; em 2014, foi
tas em conflito. Tenta-se instituir energias contrárias que atuem contra a evolu- duplamente premiado com as obras Catraz II e Catraz III.
ção temporal da peça e, por um outro lado, simultaneamente ajudem a realçar O Catraz III  − Engenhoca pra catrumaninstrumentos é baseada no conto “O
essa mesma evolução. Recado do Morro” de Guimarães Rosa, especificamente na fala-profética do
irmão do multiengenhoso Catraz. A expedição Orosiana, guiada pelo divino bela-
nuca-esculpida, Pedro, transtravessiava o alto do empoeirento metafísico Ser-
Mario Ficarelli (São Paulo/SP, 4/7/1937 – São Paulo/SP 2/5/2014) iniciou estudos tão Rosiano e, após cruzar a estrada de S bem formoso, se depararam com uma
de música aos 17 anos e aos 29 dedicou-se à composição, orientado por Olivier figura que, na vista, quase transgredia as barreiras do “inumano”. Real nome,
Toni. Conquistou diversos prêmios e tem obras tocadas, editadas e gravadas Malaquias, profeta sertanejo. O surdorgulho jurava ter ouvido ultrasônicalém
no Brasil e no exterior. Atuou como professor no Departamento de Música da mensagem profenda do morro da garça e aos desbraços, desbraçava em berros,
ECAUSP durante 30 anos, tendo sido eleito diretor por três mandatos. Seu ca- “zangadiço”, no meio do nada, apontava para o morro e se perguntava:“alguém
tálogo de obras conta com mais de 160 composições para diversas formações: também algo ouvira? Ô, demo! Má hora, esse Morro, as ásparo, só se é de sata-
solos, câmara, sinfônica e uma ópera. Sua última obra, Parasinfonia, recebeu nás!” A ideia central da obra é explorar a capacidade timbrística dos instrumen-
estreia mundial na XX Bienal, em 2013. tos e em determinado momento, a voz do flautista se estende até a do violonista
O Quinteto para trompa e quarteto de cordas foi composto para o Projeto Bolsa e da violista, resultando num “quinto indivíduo”.
Vitae de Artes e estreado em 2003.

Edson Zampronha (Rio de Janeiro/RJ, 2/6/1963) recebeu dois prêmios da Asso-


Alfredo Barros (Teresinha/PE, 11/4/1966) é doutor em composição pela Univer- ciação Paulista de Críticos de Arte, de São Paulo, e foi vencedor do 6º Prêmio
sidade do Texas, em Austin/EUA. Rege a Orquestra Sinfônica da Universidade Sergio Motta pela instalação sonora Atrator Poético, realizada com o Grupo
Estadual do Ceará, onde leciona matérias teóricas e composição no Curso de SCIArts. Recebeu encomendas de diversos grupos e instituições, como o Mu-
Música que coordena. Compôs obras para vários conjuntos e música eletroa- seum für Angewandte Kunst/Colônia, a Fundação OSESP, a Banda Sinfônica do
cústica, além de trabalhos para dança e vídeo. Obteve 1º e 2º lugares, respecti- Estado de São Paulo para o seu 25º Aniversário, e Bienal de Música Brasileira
vamente, na XIX em a XX Apresentação de Compositores da Bahia; o 1º lugar no Contemporânea da Funarte. Suas obras tem sido apresentadas em destacadas
II Concurso Psychopharmacon de Obras Corais e o 2º lugar no Concurso Tinta salas de concerto, como o Auditório 400 do Museu Reina Sofia em Madri, o CBSO
Fresca, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Sua monografia sobre o com- Centre/Birmingham, a Sala São Paulo. É autor de mais de 100 composições para
positor Lindembergue Cardoso mereceu o 2º lugar em concurso promovido pela orquestra, banda sinfônica, coro, balé, teatro, instalações sonoras, música ele-
Academia Brasileira de Música. troacústica, música de câmara e cinema. Suas composições estão incluídas em
O ciclo Antídoto compreende três canções com textos do compositor: Antídoto, três CDs totalmente dedicados às suas obras − Sensibile, Modelagens e S’Io
Noites e rosas e Distância. Esca Vivo − e em outros quinze CDs lançados por diferentes selos e instituições.
É doutor em Comunicação e Semiótica/ Artes pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo e autor do livro Notação, Representação e Composição.
Mario Ferraro (Franca/SP, 6/12/1965) participou de 5 edições da Bienal de Mú- Em Sonora (2014), o saxofone está em primeiro plano, e sua forte energia ex-
sica Brasileira Contemporânea e sua música já foi tocada em vários países do pressiva reverbera de forma intensa nos outros seis instrumentos que o acom-
mundo. Sua carreira internacional firmou-se durante uma estadia em Londres, panham. Juntos, criam um cenário sonoro muito especial, intenso e exuberante,
de 2007 a 2012, onde cursou o doutorado em composição na City University re- no qual um lirismo potente seduz nossa escuta. O saxofone emprega diversas
alizando pesquisa sobre ópera contemporânea. Muitas das suas obras foram técnicas que expandem sua sonoridade tradicional. Estas sonoridades são ex-
estreadas naquela capital, inclusive as óperas de câmara The moonflower (A pressividades concentradas portadoras de uma significação musical muito co-
Flor da Lua - 2011), e Ahaiyuta and the cloud eater (Ahaiyuta e o Comedor de municativa. Mas Sonora vai além da experimentação com novos timbres: uma
Nuvens), que teve também sua estreia brasileira, no Rio de Janeiro, durante o clara direcionalidade guia todos os eventos, construindo uma linha que conec-
11º Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens, em setembro de 2013. Em ta a obra do início ao final, com uma coerência que tanto surpreende quando
2005, o compositor ganhou o Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de Compo- é profundamente envolvente. Sonora é uma obra cheia de surpresas. Cria um
sição Camargo Guarnieri, com a Abertura Sinfônica Brasília. O Prêmio da Se- universo próprio que constantemente revela novos sentidos e novos cenários,
cretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro foi-lhe atribuído em 2012 pelo tornando sua audição uma experiência marcante.

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XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


16 de outubro de 2015, sexta-feira, 19h
(ver programação extraordinária às págs 24-26)

I
Felipe Lara Ventos uivantes**
Grupo CRON
flauta Felipe Marateo, clarinete Marcos Passos
fagote Jeferson Souza, violino Taís Soares
viola Rúbia Siqueira, violoncelo Janaína Salles

Marcos Lucas
regente Marcos Nogueira
Felipe Lara

Clayton Ribeiro Fragmentos**


trombone solo João Luiz Areias

Antônio Borges-Cunha Tempo e memória*


piano Ney Fialkow,
acordeão Antônio Borges-Cunha
violino Vagner Cunha, percussão Diego Silveira

Marcus Siqueira
bombo legüero Ernesto Fagundes
Clayton Ribeiro

Rubens Tubenchlak Cercado de neblina


com estilhaços no olhar**
flauta Andrea Ernest, clarineta/clarone Igor Carvalho
fagote Ariane Petri, violino Ana de Oliveira
viola Dhyan Toffolo, violoncelo Nora Fortunato,
vibrafone Leo Souza, violão Alexandre Gismonti
regente Alexandre Schubert
Antônio Borges-Cunha

Ivan Eiji Simurra


II
Marcos Lucas Três poemas de Alberto Caeiro*
(texto Fernando Pessoa) I − Passou a diligência pela estrada
II − Para além da curva da estrada
III − Leve, leve, muito leve
GNU
soprano Diana Maron, flauta Carolina Chaves
clarineta Batista Jr., violino Ayran Nicodemo,

Pauxy Gentil-Nunes
Rubens Tubenchlak

viola João Senna, violão Gabriel Lucena,


violoncelo Pablo de Sá
percussão Ana Letícia Barros
regente Marcos Lucas

Marcus Siqueira Signo sopro VI*

Ivan Eiji Simurra Shapiro Peer XI**

Pauxy Gentil-Nunes Noneto*


ABSTRAI Ensemble
flauta Pauxy Gentil-Nunes, clarineta Batista Jr.
sax Pedro Bittencourt, fagote Ariane Petri
trompa Waleska Beltrami, violino Mariana Salles
viola DhyanToffolo, violoncelo Marcus Ribeiro
contrabaixo Alexandre Brasil, piano Marina Spoladore
vibrafone Daniel Serale, celesta Katia Baloussier
percussão Daniel Serale
regente Roberto Victorio

coordenador Daniel Serale

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
20
Felipe Lara (Sorocaba/SP, 1979) iniciou estudos musicais como violinist e gui- Marcos Lucas (Rio de Janeiro/RJ, 3/9/1964) formou-se em composição e
tarrsita de roc k, MPB e jazz e estudou composição e trlha sonora no Berklee educação musical pela Universidade do Rio de Janeiro/UNIRIO e defen-
College of Music, Boston, cidade onde fez mestrado na Tufts University. Vive deu em 1994 a tese de mestrado “Textura na música do século XX” na
em Nova York e é doutor pela universidade local. Dentre seus professores, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Entre 1995 e 1999 realizou,
estão Mario Davidovsky, Tristan Murail, Brian Ferneyhough, Michael Jarrel e como bolsista da Capes, doutorado em composição musical na University
outros mais. Sua música, classificada como “brilhante” pelo New York Times, of Manchester/Inglaterra, e proferiu inúmeros seminários, masterclasses
é apresentada em vários países pelos mais diversos conjuntos musicais e re- e palestras sobre composição musical e música brasileira em universida-
cebeu diversas gravações em CD e em outros meios. Com o quarteto de cordas des britânicas. Representou o Brasil em festivais como ISCM World Music
Tran(slate), vendeu o Staubach Preis em Darmstadt, Alemanha. . Em 2011, rece- Days/Ljubliana, State of the Nation/Londres, VI Festival de Música Contem-
beu encomenda da Fromm Foundation, da Harvard University, e em 2013 foi um porânea Tres Cantos/Madrid, Festival Spazio 900/Cremona, e foi compositor
dos compositores em residência do Festival de Primavera de Heidelberg, Ale- convidado na Wesleyan University/Illinois em 2012, onde desenvolveu ativi-
manha, quando criou obras para alguns conjuntos musicais. Em 2016 obras suas dade pedagógica e dirigiu diversas obras suas. Entre os prêmios recebidos
receberão estreia mundial pela Orquestra Sinfonica do Estado de São Paulo e estão o 2º lugar no Procter Gregg Award/Inglaterra, 1997 e o 1º Prêmio no VI
pelo Ensemble InterContemporain, em Parisa. Felipe Lara leciona composição Concurso Nacional Funarte de Composição Musical na categoria “Orques-
no Departamento de Música da Universidade de Nova York. tra Sinfônica”. Duas óperas suas estrearam na Inglaterra: Inferno verde e
Ventos uivantes é um estudo sobre espacialização, elasticidade e uso da voz Stefan and Lotte in paradise; outra ópera − O pescador e sua alma − teve 35
na música instrumental. Ela se desenvolve gradualmente, evitando interrup- récitas em Brasília e no Rio de Janeiro. É professor associado de composi-
ções abruptas e contrastes, implementando objetos sonoros e motivos que são ção, harmonia, análise e música de câmara na UNIRIO, onde dirige desde
projetados na sala pelos grupos instrumentais. Ventos uivantes favorece uma 2003 o grupo de música contemporânea GNU. Tamabém é membro do grupo
experiência sonora que está sempre em fluxo. O título refere os sons eólios apre- de compositores Prelúdio 21.
sentados pelas madeiras, que os articulam em diferentes proporções temporais. Três poemas de Alberto Caeiro – esse heterônimo foi talvez o mais pragmá-
tico, imediatista e anti-metafísico dos que Fernando Pessoa criou, numa con-
Clayton Ribeiro (São Paulo/SP, 6/11/1975) estudou música através do violão eru- trapartida inocente, talvez um pouco ingênua, aos heterônimos Ricardo Reis e
dito e da guitarra, instrumento no qual fez curso intensivo de improvisação harmô- Álvaro de Campos. A obra celebra os cem anos da “morte” deste poeta imagi-
nica e melódica com Mozart Mello na Universidade Livre de Música Tom Jobim. nário. O primeiro movimento, Passou a diligência pela estrada, trata da inócua
Posteriormente realizou estudos em piano erudito, em harmonia tradicional e con- ação humana sobre a natureza. No segundo, o poeta revela sua atitude cética,
traponto com maestro José Cândido da Silva, em composição com Arrigo Barnabé importando-se somente com aquilo que está à sua frente, não vendo sentido
na Universidade Livre de Música Tom Jobim/ULM, em arranjo com Ricardo Simões algum em imaginar o que está Para além da curva da estrada. No terceiro po-
na Escola Municipal de Música de São Paulo. Em Brasília, participou de cursos in- ema, Leve, leve, muito leve, o poeta revela sua preocupação com o presente,
tensivos orientados por Jorge Antunes e Christopher Bochmmann, e de harmonia onde o pensamento vagueia sem destino como uma brisa.
e arranjo orientados por Ian Guest e Vittor Santos. Na ULM, atuou em arranjos,
gravações e como violonista de sua camerata de violões. Desenvolveu trabalhos Marcus Siqueira (Caratinga/ MG, 5/1/1974) estudou composição com Willy
pedagógicos em escolas de música e de ensino infantil/fundamental/médio, em Corrêa de Oliveira na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de
Ongs, em projetos públicos e sociais e em Casas de Cultura. Atualmente estuda São Paulo e em aulas particulares. Obras suas foram executadas na Amé-
composição na EMESP Tom Jobim, dedica-se ao estudo do violão e da guitarra, rica do Sul, Europa e Estados Unidos. As orquestras OSESP, OSN, OSUSP,
leciona em escolas de música e coordena a Orquestra de Cordas Dedilhadas Ipê OSUFRJ, OSU, OSRC e OFMG executaram algumas de suas obras para esta
no Centro de Convivência Clarisse Ferraz Wey, onde desenvolve pesquisas em formação. Tem CDs gravados pelo selo Água-Forte, Paulus, SESC, entre
música contemporânea para formações instrumentais variadas. Tem obras exe- outros, contendo grande parte de sua produção camerística, orquestral e
cutadas no Encontro Nacional de Compositores Universitários/ENCUN, da Univer- para solos. Atualmente reside na Itália onde atua como professor em cursos
sidade Federal de Goiás; no Panorama da Música Brasileira da Música Atual, da livres de música, no Conservatório Bruno Maderna/Cesena. É professor de
UFRJ; no Curto-Circuito Internacional de Saxofone Brasil/Canadá. educação musical na Faculdade Cantareira/SP.
A obra Fragmentos pode ser descrita com a palavra “abstração”. Ela se de- Signo sopro VI integra o ciclo intitulado Signo Sopro. Trata-se de uma obra
senvolve através de pequenos elementos compostos de fragmentos rítmicos aberta com diferentes propostas instrumentais camerísticas e orquestrais.
(células) de poucas alturas, que se apresentam de forma gradativa, ordenada Este conjunto obras busca dialogar com diferentes materiais que se mes-
e adornadas pelo material rítmico, essencial para promover a variedade de nu- clam em diferentes modos de jogos propiciando aos ouvintes um música
anças e da varredura dos registros possíveis do trombone. O elemento voz do que versa sobre o lírico, o abstrato, composição de cores e matizes sonoras
instrumentista também é utilizado com a emissão da alturas, promovendo ainda pouco usuais.
mais a variedade dos materiais selecionados.
Ivan Simurra (São Paulo/SP, 9/1/1984), compositor e pesquisador, bacharel
Antônio Borges-Cunha  (Bom Jesus/ RS, 21/10/1952) é orientador do Programa em composição musical e mestre em processos criativos no Instituto de Artes/
de Pós-Graduação em Música da UFRGS e diretor artístico e regente titular da UNICAMP, desenvolve atualmente nessa universidade sua pesquisa de dou-
Orquestra de Câmara Theatro São Pedro de Porto Alegre.  Esteve na Alemanha, torado em processos criativos sob a supervisão do Prof. Dr. Jônatas Manzolli
Estados Unidos, Canadá e Uruguai para apresentações de suas composições. e com o financiamento da FAPESP. É professor de harmonia, teoria e com-
Seu Concerto para Viola e Orquestra foi o objeto de pesquisa da tese de doutorado posição musical. Participou de vários festivais, masterclasses e workshops.
defendida por Ricardo Kubala na UNICAMP. Como regente, tem contribuído para Suas obras são executadas no Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos, Israel,
a atualização  do repertório e renovação do interesse do público pela música or- Portugal, Irlanda, Grécia e Rússia.
questral. Sua programação de concertos fundamenta-se na inclusão, conciliando O título da obra Shapiro Peer XI é um anagrama da palavra “Hiperprosexia”,
o repertório histórico com diferentes tendências da música atual, incluindo enco- a qual significa um estado anormal na qual uma pessoa concentra-se em uma
mendas e estreia de obras. A superação de fronteiras entre a música erudita e coisa com a exclusão de todo o resto. A peça tenta desenvolver um sistema a
a popular tem sido outra característica de sua atuação como regente. partir de uma teoria da administração de empresas chamada O Diagrama de
Tempo e memória comunica um dos interesses do compositor no momento atu- Espinha de Peixe. Shapiro Peer XI é relacionada, ainda, com o “efeito borbo-
al: a expressão do desejo de paz e de tranquilidade, contrapondo com a rea- leta”, quando mínimas mudanças podem ser capazes de transfigurar toda a
lidade do mundo que vivenciamos. O entrelaçamento de sonoridades, em um peça musical.
ambiente de colaboração e complementaridade, expressa a busca pela beleza
serena, valorizando a simplicidade e o diálogo do presente com o passado. Pauxy Gentil-Nunes (Rio de Janeiro/RJ, 3/7/1963) é compositor e flautista.
Mestre em composição e doutor em linguagem e estruturação musical, é
Rubens Tubenchlak (Rio Branco/AC, 14/5/1968), compositor e violonista, dedica- também professor de harmonia, análise e composição na Escola de Música
se à música contemporânea e ao estudo de novas linguagens musicais que con- da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem atividade criativa contínua e
virjam com outros meios de expressão artística, como as artes visuais, o cinema, diversas obras executadas e gravadas no Brasil e no exterior. Foi contemplado
o teatro ou ainda as novas mídias eletrônicas. Dentre suas obras, destacam-se a duas vezes com encomenda de composição para as Bienais de Música Brasi-
peça teatral Cantos malditos de Maldoror (2001), a ópera Lilith e o sonho de Laio leira Contemporânea de 2013 e 2015, pela Fundação Nacional de Artes – Funar-
(2007), o musical A deusa, o herói, o centauro e a justa medida (Bolsa Funarte de te. Integra o ABSTRAI Ensemble como instrumentista e compositor e integra o
Circulação Literária, 2010); a trilha sonora da Mostra de Arte Contemporânea em grupo de pesquisas MusMat, focado em aplicações de modelos matemáticos
Literatura Infantil (2013). em composição.
Cercado de neblina com estilhaços nos olhos foi concebida a partir do poema Noneto é um estudo singelo de texturas e desenvolvimento motívico relati-
Dragão de Origami, da escritora e ativista social norte-coreana Xiao Chen. O po- vamente tradicionais, com uma referência ao repertório camerístico da fase
ema, de inspiração surrealista, sugere variadas imagens e sensações. Perplexi- moderna da música de concerto brasileira, e especialmente às obras anto-
dade, dor e fragilidade, mas também graça e alegria, são algumas das emoções lógicas e homônimas de Villa-Lobos e Guerra-Peixe, às quais a peça presta
presentes no texto que o compositor buscou transferir para sua composição. homenagem e aponta retrospectivamente.

21
XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


17 de outubro de 2015, sábado,19h
(ver Programação extraordinária à pág 27)

I
Thiago Diniz Coriolis**
difusão Thiago Diniz

Aquiles Guimarães
Julian Maple Tuning**
sopranos Gabriela Geluda e Doriana Mendes
Thiago Diniz

flauta Sérgio Barrenechea


contrabaixo Antônio Arzola
difusão Julian Maple

Fliblio Ferreira Prayá (Ritual)**


flauta Sérgio Barrenechea
difusão Fliblio Ferreira

Rodolfo Coelho de Souza


João Pedro Oliveira Chroma*
piano Érica Ribeiro,
Julian Maple

percussão Ana Letícia Barros


difusão João Pedro Oliveira

II

Valério Fiel da Costa


Aquiles Guimarães Pataphysica**
Fliblio Ferreira

difusão Aquiles Guimarães

Rodolfo Coelho de Souza Bestiário I*


piano Marina Spoladore
difusão Rodolfo Coelho de Souza

Valério Fiel da Costa Funerais 3? *


difusão Valério Fiel da Costa
João Pedro Oliveira

Jocy de Oliveira Mobius II*


Jocy de Oliveira
(texto da compositora) soprano Gabriela Geluda
violoncelo Luciano Correa
percussão Siri, guitarra elétrica Aloysio Neves
viola João Senna
difusão Marcelo Carneiro de Lima

coordenadores Marcelo Carneiro de Lima e Paulo Dantas

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
22
Thiago Diniz (Belo Horizonte/MG, 16/8/1988) faz graduação em composição na Escola Rodolfo Coelho de Souza (São Paulo/SP, 8/8/1952) é professor de teoria e composi-
de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, na classe dos professores João ção musical do Departamento de Música da Universidade de São Paulo em Ribeirão
Pedro Oliveira e Rogério Vasconcelos Barbosa. Iniciou seus estudos musicais violão Preto. Anteriormente, de 2000 a 2005, foi professor do Departamento de Artes da Uni-
clássico na Fundação Artístico-Cultural de Betim. Em 2008 ingressou no Centro de versidade Federal do Paraná. Fez mestrado em musicologia na Escola de Comuni-
Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, em Belo Horizon- cação e Artes/USP e doutorado em composição musical na University of Texas at
te, onde se formou em violão e em violoncelo. Em maio de 2015, foi um dos repre- Austin, onde desenvolveu pesquisas de pós-doutourado na área de análise de música
sentantes da classe de João Pedro Oliveira nos Encontros Internacionais de Música pós-tonal. Foi coordenador do Laboratório de Computação Musical da UFPR/Laco-
Eletroacústica “Monaco Electroacoustique”, onde estreou a obra acusmática Ímã. mus e atualmente coordena o Laboratório de Teoria e Análise Musical/Lateam na
Usando exclusivamente sons gravados como material sonoro, Coriolis simula a in- USP em Ribeirão Preto. Entre 1984 e 1996 foi diretor assistente do Festival Música
teração de objetos que se movimentam sobre uma superfície em rotação. À medida Nova de Santos e São Paulo. Parte substancial de sua produção musical, tal como
que sons caminham em uma determinada direção, outros sons caminham no sentido na peça deste concerto, é dedicada à questão da interação entre sons de instrumen-
oposto e, quando se encontram, geram como consequência mais uma variedade de tos ao vivo e sons sintetizados ou transformados eletronicamente. Em 2006 o Centro
sons, que passam também a se movimentar por esse ambiente girando cada vez mais Cultural São Paulo lançou um volume dedicado à sua produção que contém partitu-
rápido. ras, catálogo de obras, análises e gravações de suas obras. Entre suas composições
destacam-se O livro dos sons, para orquestra e sons eletrônicos, encomendada pela
Julian Maple (São Paulo/SP, 16/6/1993) iniciou seus estudos formais de música em OSESP; Quatro cantigas del rey D. Dinis para soprano e orquestra, apresentadas na
2008 com aulas de piano complementadas com aulas de teoria musical, ambas com XVI Bienal de Música Brasileira Contemporânea, Concerto para Computador e Or-
professores particulares. Em 2011 ingressou no curso de bacharelado em composi- questra e Tristes Trópicos.
ção ou regência da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Bestiário I − os viajantes europeus que aportavam no Novo Mundo durante o período
estudando composição com os professores Achille Picchi e Alexandre Lunsqui, além colonial encantavam-se com a exuberante natureza dos lugares que visitavam. De
de composição com ênfase em eletroacústica com o professor Flo Menezes. Atual- volta à terra natal relataram suas experiências misturando-as com o imaginário da
mente cursa o quinto ano da graduação. tradição do bestiário medieval que descrevia animais fantásticos, como unicórnios
Tuning é, antes de tudo, uma obra de música eletrônica que explora a beleza dos sons e dragões. Entre os animais do Novo Mundo os viajantes relataram encontros com
harmônicos. O título em inglês foi pensado como alusão tanto à tradução da palavra o Hay, um animal do tamanho de um cão, com cara simiesca, o ventre com enormes
no nominativo, isto é, afinação, como em relação ao substantivo “tune”, cantiga/me- mamas pendentes, cauda e unhas longas. O mais impressionante é que ninguém ja-
lodia. Tuning, nesse caso, e com licença poética, seria algo como “melodizando”. O mais o vira comer nem beber, pois vivia de ar. A série de Bestiários para instrumentos
conceito de afinação serviu de inspiração sonora na concepção da obra que, com diversos e sons eletrônicos, que principia com esta peça para piano e sons eletrôni-
seus sons iniciais busca, mimetizar o ritual da afinação de uma orquestra. O papel da cos, procura recriar por meios sonoros o imaginário dos animais fantásticos descritos
melodia é exercido principalmente pelas cantoras. pelos viajantes coloniais. E possível que os sons eletroacústicos, talvez devido ao seu
emprego na linguagem cinematográfica, de fato se prestam a desenvolver no ouvinte
Fliblio Ferreira (Curitibanos/SC, 18/3/1978), duas vezes bolsista do Festival Interna- conotações associadas ao fantástico e ao monstruoso. A obra explora essa verten-
cional de Inverno de Campos do Jordão (2006 e 2008), vencedor do Primeiro Concurso te, mas também buscou uma estruturação pós-tonal rigorosa que homenageia os 75
Nacional de Composição Música Hoje (2010) e do Prêmio Catarinense de Música anos do compositor Ricardo Tacuchian, tomando de empréstimo a chamada “célula
(2014), é mestrando em composição musical pela Universidade Estadual de São Pau- T” que gerou seu sistema composicional.
lo/Unesp. Especialista em Análise Musical, fez licenciatura em música e graduou-se
em composição e regência na Escola de Música e Belas Artes do Paraná/EMBAP. É Valério Fiel da Costa (Belterra/PA, 16/9/1973) fez estudos formais de composição
também graduado em letras pela Universidade Federal do Paraná/UFPR, e atualmen- com Hans-Joachin Koellreutter, José Augusto Mannis, Almeida Prado e Denise
te dedica-se à composição de música de concerto e de música para o audiovisual. Garcia. É compositor, pesquisador e performer, professor de composição e matérias
Prayá (Ritual), concebida para flauta solo e eletroacústica, foi inspirada num hipoté- teóricas no Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba/UFPB e
tico ritual indígena em que os nativos da terra invocam seus deuses para combater membro do Laboratório de Composição Musical/Compomus e do Log3 (Grupo de mú-
o homem branco que tomou suas terras. O texto é apresentado em língua indígena sica eletroacústica e performance de música experimental), ambos da UFPB. Doutor
proveniente dos índios Xucurus, do nordeste do Brasil, e o flautista é o encarregado em processos criativos pela UNICAMP, dedica-se ao estudo da indeterminação e do
de recitar o texto em conjunto com sua performance musical. Os sons produzidos pelo acaso aplicados em música e ao desenvolvimento de um estudo de morfologia musi-
flautista através de sua flauta e de sua fala são então captados e eletronicamente e cal voltada para a obra aberta.
processados em tempo real para a constituição deste ritual. Funerais 3? retrata o alucinado processo de brainstorm da composição de uma
peça acusmática a ser chamada Funerais 3. A primeira Funerais foi escrita para
João Pedro Oliveira (Lisboa/Portugal, 27/12/1959) estudou órgão, composição e ar- piano preparado, tocado com acessórios a 12 mãos, e foi estreada na Bienal de
quitetura em Lisboa. Doutorou-se em composição na Universidade de New York em 2005. A narrativa desvela uma série de recursos e clichês de escritura, explíci-
Stony Brook.
Suas obras incluem uma ópera de câmara, um Requiem, várias obras or- tas operações de acaso envolvendo I-Ching, sorteio de moedas, dados e roleta
questrais, três quartetos de cordas, música de câmara, música para instrumento solo, russa e o processo é descrito desde a escolha por materiais sonoros, passando
música eletroacústica e vídeo experimental. Dentre os prêmios internacionais que pela escolha de um texto referência – Música com sombras, do autor paraense
recebeu, destacam-se os três no Concurso de Música Electroacústica de Bourges, Vicente F. Cecim – de critérios de organização paramétrica, testes preliminares
bem como o prestigiado Magisterium no mesmo concurso; o Prémio Giga-Hertz; o 1º mais ou menos definitivos, a busca pela melhor forma de representar, em música,
premio no concurso de música electroacústica Metamorphoses e no Musica Nova o tema do Funeral... mas será que este título seria mesmo o mais apropriado? A voz
Competition. É professor titular na Universidade Federal de Minas Gerais. Publicou do autor, na sua busca por uma forma adequada é onipresente. Sua entonação é
diversos artigos em revistas nacionais e internacionais, e escreveu um livro sobre natural, denota informalidade e a acústica remete ao ambiente de trabalho de um
teoria analítica da música do século XX. Contato: jppo@ua.pt, www.jpoliveira.com. pequeno e íntimo atelier.
Chroma (2014) é uma palavra grega que se refere à pureza de uma cor, o quanto está
livre de interferências do branco ou do cinza. No caso da música o atributo “cromá- Jocy de Oliveira (Curitiba/PR, 11/4/1936) é pioneira no desenvolvimento de um tra-
tico” refere-se à relação existente entre as 12 notas que constituem a divisão igual balho multimídia no Brasil envolvendo música, teatro, instalações, textos e vídeo sua
de uma oitava. Cada nota tem uma “côr” específica, que a identifica em relação às música em geral. Suas oito óperas tem sido apresentadas em diferentes países na
outras. Assim, Chroma explora essas relações entre as 12 notas da escala cromática, pas- Europa e nos USA, China, Mexico, Argentina e Brasil, em teatros e em festivais. Em
sando por cada uma delas e polarizando-a momentaneamente durante o decorrer da obra. 2008 o Instituto Oi Futuro, no Rio de Janeiro, promoveu durante dois meses uma re-
trospectiva de sua obra − “Imersão” − em forma de instalação, exposições, concertos
Aquiles Guimarães (Itapetininga/ SP, 28/1/1976) vive e trabalha em São Paulo. Atua e ópera, visitada por cerca de 20 mil pessoas. Foi solista sob a regência de Stravinsky
na cena da música experimental participando de concertos, exposições e festivais. e apresentou várias primeiras audições de compositores que a ela dedicaram obras,
Interessa-se por plataformas de programação multimídia, interatividade e constru- como: Xenakis, Berio, Santoro, Cage. Como pianista e compositora gravou 22 discos
ção de instrumentos eletrônicos. Trabalha como engenheiro de áudio e sonoplasta, no Brasil, Inglaterra, EUA, Alemanha e no México; gravou nos EUA e no Brasil a obra
fazendo masterizações, compondo trilhas sonoras e programando interfaces de con- pianística de Olivier Messiaen distribuída on line e streaming pela Naxos, que também
trole de áudio para espetáculos. Sua produção artística engloba variadas formas de assegura a distribuição dos DVDs que compilam sete óperas suas. Fez mestrado em
expressão, passando pela composição eletroacústica, música de câmara, vídeo-arte, Artes pela Washington University, St Louis/USA, é Doutor Honoris Causa pela Univer-
instalação, fotografia e assemblagem. Teve obras apresentadas no FILE, EIMAS e sidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Academia Brasileira de Música. Rece-
BIMESP. Estudou composição eletroacústica com Flo Menezes e foi compositor re- beu vários prêmios, como os da Guggenheim Foundation e da Rockefeller Foundation.
sidente do Studio PANaroma/Instituto de Artes/Unesp.  Atualmente trabalha na pla- É autora de cinco livros publicados no Brasil, nos USA e França. Em 2014 e 2015 seu
taforma pessoal RKZ Studio, estúdio de gravação/criação sonora e ateliê fotográfico. livro Diálogo com cartas foi publicado pela Edições SESI/SP, e sua versão francesa
O termo Pataphysica foi criado por Alfred Jarry, poeta e dramaturgo francês, que a Dialogue avec mes lettres pela Editions Honoré Champion, Paris.
definia como a ciência das soluções imaginárias e é considerado um dos precursores Mobius II: O anel de Mobius é um símbolo conceitual matemático que revela duas
da poética do absurdo. Seu personagem mais famoso é o Pai Ubu, protagonista da faces e sugere eterna continuidade. Este símbolo me leva de volta aos meus anos
peça de teatro Ubu Rei. Sob este apanhado de inspirações a obra se estrutura em 70/80 no que se refere a atmosfera meditativa e no explorar de uma polifonia microto-
três episódios distintos. O primeiro, de caráter introdutório, inicia com um fragmento nal gerada pela fusão de camadas sonoras. “Este é meu segundo Mobius que pode
rítmico que desencadeia uma sequência de camadas sonoras. O segundo episódio, também se estender por tempo indeterminado.
imaginário, apresenta densas camadas metálicas, formando harmonias, e processa- Uma continua parte eletroacústica lidera de forma delicada e sutil os intérpretes que
mento de sons de bicicleta. A bicicleta era um dos símbolos de Jarry, junto ao revólver se sobrepõem , pincelando e dando relevo às transparências. A parte cantada/falada
que sempre carregava e o absinto. A última seção, absurda, apresenta uma atmos- se integra ao envoltório sonoro plano e meditativo da música. Meu texto A mulher
fera de vozes humanas, infantis, grotescas, sarcásticas, extraidas de sonoplastias árabe é apenas um desejo de conhecer e reconhecer sua cultura e seu direito de
cinematográficas. ser diferente”.
23
XXI BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Sala Cecilia Meireles


18 de outubro de 2015, domingo, 19h
(ver programação extraordinária às pág 28-29)

I
Nikolai Brucher Who can turn skies back? **

Roberto Victorio Tetragrammaton XV b*


violão solo Gilson Antunes

Marisa Rezende
Nikolai Brucher

Alexandre Schubert Cenas da Paixão segundo Aleijadinho**


I – Introdução; II – A ceia; III – O horto;
IV – A prisão; V – Eis o homem;
VI – A cruz às costas ; VII – A crucificação
barítono solo Marcelo Coutinho

Emanuel Cordeiro
II
Roberto Victorio

Marisa Rezende Fragmentos*

Emanuel Cordeiro Transformações uirapurinas**

Flo Menezes PostScriptio*


violino solo Claudio Cruz
Alexandre Schubert

Flo Menezes

Orquestra Sinfônica Nacional / UFF


regentes Simone Menezes e Claudio Cruz

obras em estreia mundial:


*encomendadas pela Funarte em 2014
**vencedoras do Prêmio Funarte de Composição Clássica 2014
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Nikolai Brucher (Rio de Janeiro, 13/1/1979) é bacharel e mestre em composição em diversos CDs por intérpretes renomados e é membro do grupo Prelúdio 21.
pela Universidade do Rio de Janeiro/Unirio e pós-graduado pela Escola Superior Cenas da Paixão segundo Aleijadinho divide-se em seis movimentos que re-
de Música de Munique, na Alemanha. Suas obras orquestrais e de câmara foram presentam as cenas retratadas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nas
premiadas em diversos concursos e têm sido tocadas nas Américas, na Euro- Capelas dos Passos da Paixão de Congonhas do Campo.
pa e na Ásia. Analogamente às suas raízes teuto-brasileiras, sua música revela
frequentemente uma combinação de elementos da tradição musical europeia Marisa Rezende (Rio de Janeiro, 8/8/1944), compositora e pianista, obteve mes-
e da música contemporânea com aspectos das tradições musicais do Brasil, trado e doutorado na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e pós douto-
sendo que, para ele, o ideal artístico e a perfeição técnico-composicional são rado na Universidade de Keele, Inglaterra. Foi professora titular de composição
tão importantes quanto o estabelecimento de uma conexão com os intérpretes da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1989 e
e o público. Além da composição, Nikolai Brucher atua como produtor musical 2002, onde fundou o Grupo Música Nova, responsável por inúmeras estreias do
no Brasil e na Europa, tendo trabalhado com o Rio International Cello Encounter, repertório contemporâneo brasileiro. Participa ativamente da cena musical con-
o Festival de Berlim, o Festival Young Euro Classic (Berlim) e a Philharmonia of temporânea, tendo tido várias obras orquestrais encomendadas recentemente
Nations (Hamburgo). Reside atualmente em Hamburgo, onde trabalha com a pela Sala Cecília Meireles, OSESP e pelas Bienais de Música Brasileira Contem-
orquestra sinfônica local. (nikolaibrucher@yahoo.com.br) porânea da Funarte.
Who can turn skies back, para orquestra de câmara, foi composta em 2013 por Fragmentos explora a oposição entre o indivíduo, em seu anseio por voz e li-
ocasião do centenário de nascimento do compositor Benjamin Britten. Grande berdade, e o grupo, tanto acolhedor quanto coercitivo. Os pequenos trechos da
parte do material harmônico e melódico da obra é, portanto, derivado de alguns peça em um único movimento são marcados por campos harmônicos distintos e
temas retirados de obras do compositor inglês, sobretudo das óperas Peter Gri- submetem-se a outra oposição, a dos processos de expansão e retração, quem
mes e Gloriana, assim como do Concerto para piano e orquestra e de outras
obras. O título deriva de uma das árias cantadas pelo pescador Peter Grimes. sabe à procura de um ponto de equilíbrio, um apaziguamento talvez.

Roberto Victorio (Rio de Janeiro/RJ, 19/12/1959) bcharel em violão e re- Emanuel Cordeiro (Belém/PA, 15/10/1983) é bacharel em composição e arranjo
gência, é mestre em composição e doutor em etnomusicologia. Como pes- pela Universidade do Estado do Pará, especialista em Fundamentos da Criação
quisador tem o trabalho voltado para a música ritual da etnia Bororo de em Música pela Universidade Federal do Pará e mestre em composição pela
Mato Grosso. Como compositor tem em seu catálogo mais de duas cente- Universidade Federal da Bahia. Teve composições premiadas no 3º Festival Cul-
nas de obras gravadas e executadas nos principais eventos no Brasil e no tura de Música e no 3º Festival da Associação de Rádios Públicas do Brasil (AR-
exterior, recebendo inúmeros prêmios no exterior, como Latino Americano PUB). Já teve obras tocadas pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal
para orquestra (Uruguai), Contrechamps (Suiça), Festival Internacional de da Bahia, pelo Coro Carlos Gomes e por vários grupos camerísticos. Atualmente
Composição (Hungria), Sociedade Internacional de Música Contemporânea é professor do Curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado do
(Romênia), Tribuna Internacional da Unesco/Paris(1995/97/99), Oldenburg Amapá.
Festival (Alemanha), BAM Dialogue (Holanda). No Brasil, foi premiado pelo Transformações uirapurinas é baseada em um canto do uirapuru, pássaro en-
Projeto Rio Arte Contemporânea, Bahia Ensemble, 500 Anos das Américas, volvido por várias lendas e considerado bastante musical. Para a construção
Instituto Brasil-EUA, Funarte e Fundação Vitae. Como regente atuou com a da obra, foi transcrito um canto do uirapuru-verdadeiro (ciphorhinus arada) e
Orquestra de Câmara do Rio de Janeiro, a orquestra Sinfônica da Universi- a partir desta notação foram criadas séries de altura e ritmo manipuladas por
dade Federal de Mato Grosso em repertório exclusivamente voltado para técnicas seriais de transformação. Apesar da complexidade de elaboração e
a produção contemporânea, a Orquestra Sinfônica Nacional/UFF, Grupo da inspiração da obra na floresta amazônica, a intenção não foi a de imitar o
Música Nova da Universidade Federal do Rio de Janeiro e com os grupos canto do pássaro, mas utilizar sonoridades buscando recriar sons de diversos
de câmara formados nas Bienais de Música Brasileira Contemporânea e pássaros, diferentes ambientações e ruídos da floresta e mesmo a descrição da
no Festival Internacional de Campos do Jordão. É regente, diretor musical derrubada de árvores, fogo na floresta, animais aflitos e em fuga. No final, um
e instrumentista do SEXTANTE, grupo de câmara que fundou em 1986 no grande coro da natureza é ouvido através dos instrumentos que representam a
Rio de Janeiro e que até hoje, em Mato Grosso, trabalha exclusivamente sua vitória após a luta contra a destruição.
com a produção musical brasileira contemporânea, tendo realizado mais
de uma centena de primeiras audições de obras brasileiras de concerto. Flo Menezes (São Paulo/SP, 18/4/1962) estudou composição na Universidade de
É professor de composição, etnomusicologia e estética da música na gra- São Paulo com Willy Corrêa de Oliveira, música eletroacústica com Hans Hum-
duação e na pós-graduação em música na Universidade Federal de Mato pert no Studio für Elektronische Musik de Colônia, Alemanha, especializou-se
Grosso e idealizador das Bienais de Música Brasileira Contemporânea de junto ao Centro di Sonologia Computazionale de Pádua, Itália, e doutorou-se em
Mato Grosso. 1992 na Bélgica com tese premiada sobre Luciano Berio, orientada por Henri
TETRAGRAMMATON XV b integra um ciclo de 16 obras escritas para as mais di- Pousseur. Foi também aluno de Pierre Boulez, Luciano Berio, Brian Ferneyhough
versas formações, desde obras solo às obras sinfônicas. O ciclo está alicerçado e Karlheinz Stockhausen, de quem tornou-se assistente pedagógico em 1999 e
sobre os textos e preceitos do filósofo e alquimista do século XVI Jakob Boehme 2001. Atuou junto à Fundação Paul Sacher na Basiléia, na Suíça, e ao IRCAM, em
no que se refere à estrutura interna invisível da obra, suas relações numerológi- Paris, no mesmo ano de 1997 em que se tornou o primeiro livre-docente no Brasil
cas e arcos genéticos, em consonância com a palavra mater Tetragrammaton: em composição eletroacústica. Obteve alguns dos mais importantes prêmios in-
o nome indizível de Deus. ternacionais e nacionais de composição: Unesco, Paris (1991); Trimalca, Argen-
tina (1993); Prix Ars Electronica, Áustria (1995); Giga-Hertz-Preis de Karlsruhe/
Alexandre Schubert (Manhumirim/MG, 23/2/1970) fez mestrado e bacharelado Freiburg, Alemanha (2007); Concorso Luigi Russolo, Itália (1996); Prêmio Cultural
em composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor Sergio Motta, São Paulo (2002); Bolsa Vitae de Artes (2003). Autor de mais de 80
do Departamento de Composição. Autor de mais de 140 obras frequentemente obras, é professor titular da Unesp, fundador e Diretor do Studio PANaroma de
tocadas no Brasil e no exterior, recebeu 16 prêmios em concursos nacionais e Música Eletroacústica.
internacionais de composição, incluindo os primeiros lugares no Concurso de PostScriptio insere-se num ciclo de obras em torno do violino: Scriptio (2013)
Composição para Percussão – PAS Brazil Chapter e no Concurso Nacional de para violino solo, TransScriptio (2013) para violino e eletrônica em tempo real,
Composição Lindembergue Cardoso, além de prêmios em concursos realizados PostScriptio, e finalmente a peça acusmática MetaScriptio (2015). Sua escritu-
pela Funarte e de menção honrosa no Concurso Internacional de Composição ra, por um lado, baseia-se fundamentalmente em Scriptio, adaptando esta obra,
Fernando Lopes-Graça, em Portugal. Apresentou obras na série Composer’s Voi- através de pequenas alterações, à coordenação de conjunto entre solista e or-
ce, em Nova Iorque. Réquiem integrou a turnê Sonora Brasil e foi ouvido nas co- questra, mas, por outro lado, também desenvolve, no âmbito puramente instru-
memorações do Ano do Brasil em Portugal; De lumine foi apresentada em Dres- mental, procedimentos da eletrônica em tempo real de TransScriptio, os quais
den por membros da Filarmônica dessa cidade; compôs as Antífonas marianas são aqui “transcritos” ao universo da escritura instrumental, tais como o com-
para a turnê europeia dos Canarinhos de Petrópolis. Participou do World Music portamento espacial dos sons, os fatores de multiplicação aplicados a certos
Day (Suíça), da Copa Cultural (Berlim) e do III Festival Ibero-americano, em São agregados intervalares, o congelamento de determinadas alturas, os rebatimen-
Pestersburgo, com a Sinfonia Festiva. Tem obras encomendadas e gravadas tos (delays) e as antecipações de certas figuras. Como em várias obras do com-
positor, PostScriptio não abre mão do espaço total do teatro para a veiculação
de seus sons e para a atuação de seus músicos.

25
programação extraordinária

Espaço Guiomar Novaes


16 de outubro de 2015, sexta-feira, 15h30

Café
tragédia secular
(estreia a 13 de setembro de 1996, em comemoração aos 450 anos da fundação de Santos)

texto Mário de Andrade


música H. J. Koellreutter
soprano Margarita Schack baixo José Gallisa narrador Serafim Gonzales
Coral Municipal Zanzala, Coral do Colégio Universitas, Grupo Vocal Faz de Canto, Coral Municipal de Santos
(os coros representam o povo)

duas orquestras de câmara – direção H. J. Koellreutter


maestros auxiliares Maria Fernanda dos Santos Tavares Marques, Geraldo Magela Marques e Roberto Martins

Orquestra Sinfônica Municipal de Santos − direção musical e regência Luis Gustavo Petri

encenação e roteiro Fernando Peixoto cenografia Gianni Ratto cenotécnico Mario Marcio
figurinos Maria do Carmo Brandini 2 atores 5 cantores convidados 30 figurantes

produção do vídeo
Maria Célia Sacramento, Antonio Ferrer, Rita Okamura, Carlos Kober, Luiz Eduardo Crescente, Patrícia Barros

co-produção Secretaria de Cultura de Santos


prefeito David Capistrano Filho secretário de cultura Marco Antônio Rodrigues

A exibição do vídeo com a filmagem dessa “tragédia secular” foi possível graças à colaboração da
Fundação Padre Anchieta/TV Cultura, na pessoa de seu presidente Marcos Mendonça
e do chefe de seu Centro de Documentação José Maria Pereira Lopes.

Margarita Schack Luís Gustavo Petri Gianni Ratto Fernando Peixoto

A música contemporânea não visa, nem pode deleitar (no sentido de “distrair”). não sei, isto vocês vão dizer quando a ouvirem.
Senti na pele o problema como compositor, querendo musicar a obra Café, de Escrevi duas versões. Uma, para teatro, com cena e grande orquestra,
Mario de Andrade. Comecei a fazê-lo há 20 anos. Escrevi o princípio e o fim, composta de instrumentos de madeira e trompetes, além de violas, quatro pia-
embatuquei no restante. Não tive técnica para compor esta obra de linguagem nos e muita percussão. Na versão em forma de oratório, basta o acompanha-
muito pessoal, muito forte, mas muito complicada para um compositor moder- mento de quatro pianos e percussão. É claro que as duas versões não dispen-
no. Deixei de lado, mas ela me puxou. Sabe, trago sempre comigo três livros: a sam um coral.
Bíblia, o Fausto de Goethe e a terceira partitura da Arte da Fuga, de Bach. Pois
nesses 20 anos andei também com a peça de Mario de Andrade, para mim a obra De resto, trabalho, muito trabalho. Interesso-me pela relação música/ho-
teatral brasileira que contém toda a tragédia humana brasileira. mem, cultura em geral. Passei 10 anos mergulhado no Café. Agora, é abrir os
olhos e mergulhar em outras coisas.
No ano passado, decorrido tanto tempo, vi que já tinha condições de
escrevê-la e em seis meses a terminei. O problema foi encontrar uma lingua- H. J. Koellreutter
gem musical que complementasse o texto, que fosse inteligível para o público, (entrevista a Danúsia Bárbara,
porque a obra é toda um manifesto. Por outro lado, não podia escrever música Jornal do Brasil, 1/11/1975
como se fosse Ari Barroso. Eu não sou Ari Barroso. Ser o mesmo Koellreutter
26 mas fazendo algo compreensível a todos, este o X da questão. Se consegui,
Café − Tragédia secular
A gênese dessa “tragédia secular” tem relação com a queda da bolsa de Nova Me sinto “recompensado” eu falei, não tive a menor intenção nem sombra
York em 1929 e a consequente crise no porto de Santos, com a retração na ex- disso! De me dar por feliz. Como eu tenho uma saudade incessante dessa paz,
portação do café e o desemprego dos portuários e plantadores. dessa “PAZ” que os vitoriosos invocaram para um futuro mais completado em
Alguns textos de Mário de Andrade abordam essa gênese: sua humanidade. Eu tenho desejo de uma arte que, social sempre, tenha uma
liberdade mais estética em que o homem possa criar a sua forma de beleza mais
Não havia necessidade nenhuma de “reformar” a ópera mais uma vez [...]. Era convertido aos seus sentimentos e justiças do tempo da paz. A arte é filha da dor,
preciso apenas observar as fontes mesmas do teatro cantado universal e bus- é filha sempre de algum impedimento vital. Mas o bom, o grande, o livre, o ver-
car assuntos contemporâneos que tivessem para nós o mesmo interesse e a dadeiro será cantar as dores fatais, as dores profundas, nascidas exatamente
mesma possibilidade de coletivização e ensinamento. O Café! A imagem pulou. desta grandeza de ser e de viver.
Não seria possível acaso tentar uma ópera de interesse coletivo, tendo como Há de ser sempre amargo o artista verdadeiro, não sei si artista bom, mas
base de assunto o café?... [...] (“Do teatro cantado”, Folha da Manhã, São Paulo, verdadeiro, sentir que se esperdiça deste jeito em problemas transitórios, cria-
4/11/1943; in Jorge Coli: Música final. Campinas: Unicamp, 1998, p.103) dos pela estupidez da ambição desmedida. Um dia o grão pequenino do café
nunca mais apodrecerá largado no galho. Nunca mais os portos de todos hão de
se esvaziar dos navios portadores de todos os benefícios da terra. Nunca mais
Não se tratava apenas de fazer um libreto que pudesse interessar coletivamen-
os menos favorecidos de forças intelectuais estarão nos seus lugares, porque
te uma sociedade, mas que tivesse uma forma, uma solução técnica derivada do não tiveram ocasião de se expandir em suas realidades. Não terão mais de par-
conceito mesmo de coletividade. Uma ópera coral, concluí. Um melodrama que em tir, na busca lotérica do pão. Então estarão bem definidas e nítidas pra todos as
vez de lidar com indivíduos, lidasse com massas [...]: em vez de personagens so- grandes palavras do verbo. Terá fraternidade verdadeira. Existirá o sentido da
listas, personagens corais. (“Psicologia da criação”, Folha da Manhã, São Paulo, igualdade verdadeira. E o poeta será mais verdadeiro.
11/11/1943 ; in Jorge Coli: Música final. Campinas: Unicamp, 1998, p.103/105) Então o poeta não “quererá” ser, se deixará ser livremente. E há de cantar
mandado pelos sofrimentos verdadeiros, não criados pelos homens, mas deri-
Eu me sinto recompensado por ter feito essa épica. Dei tudo o que pude dar a vados naturalmente da própria circunstância de viver. Me sinto recompensa-
ela, pra torná-la eficaz no que pretende dizer; lhe dei mesmo com paciência os do por ter escrito esta épica. Mas lavro o meu protesto contra os crimes que
mil cuidados de técnica, pra convencer também pelo encantamento da beleza. me deixaram assim imperfeito. Não das minhas imperfeições naturais. Mas de
Mas duma beleza que nunca perde o senso, a intenção de que devia ser bruta, imperfeições voluntárias, conscientes, lúcidas, que mentem no que verdadeira-
cheia de imperfeições épicas. Nada de bilros nem de buril. Pelo contrário, muitas mente eu sou.
vezes a perversidade impiedosa da ideia definidora por exagero, fiz acompanhar São Paulo. 15 de dezembro de 1942
da perversidade tosca da voluntária imperfeição estética. (texto no final do resumo do terceiro ato do Café)

Textos e encenação
Os textos impressos em redondo e falados pelo narrador são de Mário de Andrade.
Os textos impressos em itálico são do roteiro do encenador Fernando Peixoto, onde os textos em caixa alta – como
CORAL DO QUEIXUME – remetem a textos de Mário de Andrade cantados pelos coros ou por solistas.

Primeiro ato
Cena 1 – Porto parado (cais)
NARRADOR: Desde muito que os donos da vida andavam perturbando a marcha natural do comércio de café. Os resultados
foram fatais. Os armazéns se entulharam de milhões de sacas de café indestinado. E foi um crime nojento. Mandaram quei-
mar o café nos subúrbios escusos da cidade, nos mangues desertos. A exportação decresceu tanto que o porto quase parou.
Os donos viviam no ter e se agüentavam bem com as sobras do dinheiro juntado, mas e os trabalhadores, e os operários, e
os colonos?
A fome batera na terra tão farta e boa. Os jornais aconselhavam paciência ao povo, anunciavam medidas a tomar. Fu-
turamente. A inquietação era brava e nos peitos dos estivadores mais sabidos do porto parado, numa hesitação desgraçada,
entre desânimos, a cólera surda esbravejava, se assanhavam os desejos de arrebentar.
Sacas de café amontoadas. É a crise do café na década de vinte em Santos. Os estivadores estão quase imóveis junto
aos sacos de café, sentados neles, deitados. Armazém sombrio. Um grupo pequeno joga truco. Entra um homem com
um jornal na mão, arrasta o jornal. Alguns olham para ele, mas ele atira o jornal no chão. CORAL DO QUEIXUME. Em
seguida MADRIGAL DO TRUCO. Ao fundo surgem mulheres, avançam em direção aos estivadores. Estão com fome,
não suportam mais a crise. CORAL DAS FAMINTAS.
NARRADOR: Quem pode dar pão?... O café pode dar pão. Sempre dera o pão, a roupa e a paz relativa dos pobres. Mas agora
aquele companheiro generoso de outros tempos, jaz ali, inútil, vazio de força, como o porto: vazio.
(Todos em silêncio, olhando as sacas de café amontoadas)
NARRADOR: Eles amam, sempre amaram aquele café paterno, que agora parece falhar. Mas ainda há de estar nele à sal-
vação de todos. As mulheres se aproximam das sacas, se abraçam com elas, contando os seus segredos de miséria, acari-
nham o grão pequenino que não falhará. E o grão pequenino lhes segreda o segredo que eles não se animavam a se revelar
Aquela fome que eles sentiam não era apenas uma fome de alimento, mas outra maior, a fome milenar dos subjugados,
fome de outra justiça na terra, de outra igualdade de direitos para lutar e vencer.
(Alguns abraçam as sacas. IMPLORAÇÂO DA FOME)

Cena 2: A Companhia Cafeeira S. A. (CAFEZAL)


NARRADOR: Também noutras partes daquelas terras a fome e a angústia vai feroz.

São mais ou menos 10h da manhã, no cafezal. Uma laranjeira carregada de frutas. Um garoto rouba uma laranja, vai
chupar, fura com o dedo, o gosto é horrível, ele joga a laranja fora. Velhos e velhas vêm o que se passa. (CORAL DO
PROVÉRBIO). Um dos velhos está revoltado. De repente chuta uma árvore. Neste mesmo instante entram os donos
e comissários. A DISCUSSÃO. São as mulheres dos colonos que reagem e enfrentam os patrões. Colonos e colonas
27
avançam coléricos em suas reivindicações. Os patrões sacam revólveres e apontam para os colonos. Silêncio. Os co-
lonos decidem abandonar o trabalho, a fazenda. É o desemprego, o caminhar no vazio, bater de porta em porta. Teriam
sido precipitados? Dois atiram os frutos ao longe com raiva. CORAL DO ABANDONO. Há um silêncio. As mulheres,
as velhas, depois também as casadas, começam a sair.

Segundo ato
Cena 1: Câmara de Deputados
Deputados, secretários, jornalistas, o presidente da Câmara, operários nas galerias. Fala o DEPUTADO DO SOM SÓ.
Alguns jornalistas anotam algumas coisas. Um policial interrompe o deputado e assume a palavra um jovem, o DE-
PUTADO DA FERRUGEM, que fala a EMBOLADA DA FERRUGEM. A galeria protesta: “pra que falar em ferrugem se
não há comida etc...” Ao terminar a fala, está entrando no barulho dos protestos da galeria o DEPUTADO CINZA, que
traz consigo a MÃE. O Deputado Cinza fez ela decorar um discurso de elogio ao poder político e econômico, mas ela
está nervosa. E na hora de falar esquece tudo e improvisa um discurso violento contra o poder. Alguns protestam,
jornalistas se agitam, o presidente toca o sino várias vezes, o Deputado Cinza lava as mãos... Entram vários policiais.
O povo foge e os policiais prendem a mãe.

Cena 2: Êxodo (Estação de trem)


NARRADOR: Estamos numa dessas estaçõezinhas de trem de ferro, postadas nos vilarejos de três, quatro casas, pra serviço
de embarque da grande indústria do café. Até lhe puseram o nome “ESTAÇÃO PROGRESSO”. É a tardinha. Pra cá da platafor-
ma e do edifício passa a linha do trem. No lusco-fusco rosado os trilhos ainda colhem um resto mais fraco de luz. A paisagem
do fundo ainda se percebe cafezal infindável, no ondular manso dos morros. Nada mais.
Estão entrando moços e solteiros, homens e mulheres. CORAL PURÍSSIMO. Eles brincam, namoram. Esperam um
trem. Estão mudos e pensativos. Todos esperam. Já não brincam mais. CORAL DA VIDA. Vai anoitecendo aos pou-
cos. Ouvem-se lamentos humanos, choro. CORAL DO ÊXODO. Entra o chefe da estação com um cartaz onde está
escrito que não haverá mais trem de segunda classe. Todos vão saindo pouco a pouco, lentos, abatidos.

Terceiro ato
Cena: Dia novo (Cortiço)
Dia Novo é o dia da vitória da Revolução. É noite. Palco vazio. O local é um cortiço com um muro ao fundo. Janelas de
casas de operários, interior de casa. Acende-se lentamente um lampião na rua. Uma operária ligou a luz. Numa casinha
cuja janela dá para o pátio do cortiço, uma mulher inquieta, sem saber o que fazer, aproxima-se da janela. Outras em
outras janelas. Nesta primeira casinha há duas ou três crianças dormindo e uma menina acordada que se dirige para
um pequeno rádio. Mexe nos botões, liga o rádio. O PARLATO DO RÁDIO. Ouve-se a voz do locutor afirmando que
a Revolução está quase vitoriosa, já foram tomadas as estações de rádio, correios e telégrafos. Uma valsa. A mulher
fecha o rádio irritada. Sai correndo um garoto de pouca idade. A mãe sai atrás dele e consegue segurá-lo, apertando-o
contra o peito num forte abraço, como para protegê-lo de um tiro. Outras mulheres surgem, outras crianças também.
Ouve-se a luta por trás dos muros. CÂNONE DAS ASSUSTADAS. Um grito de alarme rasga a cena. Um homem foge
por trás do muro. Armas, tiros, soluços. A garota liga o rádio novamente. Ouve-se uma valsa. A mulher fecha o rádio.
Continua a luta por trás do muro. ESTÂNCIA DE COMBATE. Entram dois operários trazendo um chefe revolucionário
bastante ferido. As mulheres começam a cuidar dele. Um dos operários volta para a luta. O outro, bem mais jovem,
fica olhando o chefe, de pé, chorando um pouco. O moribundo vê o jovem operário parado, olhando-o, e consegue
fazer um gesto dando ordem para que ele volte à luta. O rapaz hesita, aproxima-se, beija a testa do ferido e parte. O
chefe ergue um pouco o torso, sorri. Morre em seguida. As mulheres choram.
NARRADOR: As coisas se precipitam. A luta está completamente generalizada por detrás do muro. As mulheres, dignifica-
das pela morte do chefe, reagem, se entranhando na sanha da luta. Só a menina, completamente de alma azul, está mexendo
no rádio outra vez. Por vezes, em cima do muro há um reflexo de baioneta. O portão às vezes é violentamente sacudido.

ESTÂNCIA DA REVOLTA – invisíveis). Gritos de soldados, ruídos da luta. FUGATO CORAL. Clarão de incêndio ao longe.
Um soldado fugitivo aparece no alto do moro. As mulheres estão diante deles, prontas para a luta, decididas. O solda-
do pula para dentro do pátio. Um estudante revolucionário persegue-o. O soldado joga o fuzil para longe e se ajoelha
diante das mulheres pedindo perdão. Elas o estraçalham. O rapaz pega o fuzil, abre o portão e entra na luta armada. A
menina liga novamente o rádio: SEGUNDO PARLATO DO RÁDIO. Novas notícias da vitória revolucionária, inclusive a
de que o Presidente fugiu do Palácio. Luta geral. Todos os coros em cena. GRANDE CORAL DE LUTA.

NARRADOR: Os clarões dos incêndios agora clareiam toda a cidade longínqua, lambendo as paredes dos ilustres arranha-
céus, as pombas enlouquecidas se agarram nas marquesas dos arranha-céus. Piedade! Piedade! Berram os soldados jogan-
do longe as armas de aluguel. Perdão! Perdão! Perdão! Mas os revoltosos, cego, impiedosos, que piedade nada! Café! Café!
Café! Gritam desvairados, café! Café! Café vitória! Vitória!

Novamente ouve-se o rádio, agora anunciando a vitória. O Presidente suicidou-se. A menina desliga o rádio e vai
dormir. Entra a Mãe com uma bandeira vermelha na mão. Incêndios ao longe. A Mãe sobe um plano mais alto, perto
dela está o corpo do revolucionário que morreu. Ao seu lado estão todos, homens e mulheres revolucionários. Um
quadro estático final de vitória: HUNO DA FONTE DE VIDA. Junto com a platéia, as palavras finais: “FORCA! AMOR!
28 TRABALHO! PAZ!”
programação extraordinária

Espaço Guiomar Novaes


17 de outubro de 2015, sábado, 15h30

mesa-redonda

Música e política – entre Mário de Andrade e Koellreutter


debatedores Carlos Kater
Flavia Toni
Jorge Coli

mediador Flavio Silva

Carlos Kater é educador, musicólogo e compositor, doutor pela Uni-


versidade de Paris IV – Sorbonne, professor titular pela Escola de
Música da UFMG e autor de artigos e livros, como Música Viva e
H.J.Koellreutter: movimentos em direção à modernidade, Eunice Ka-
tunda − musicista brasileira, Musicalização através da canção popu-
lar brasileira, Musicantes e o boi brasileiro. Editou a revista Cadernos
de Estudo: Educação Musical, referência na vida acadêmica brasilei-
ra. Seu trabalho de criação musical inclui composições, arranjos e
atividades lúdicas. Criou e dirigiu vários grupos musicais, entre eles
o Grupo de Musicantes, com apresentações e oficinas em espaços
públicos, educativos, de saúde, de lazer e de reclusão. Realiza cursos
e projetos de formação criativa com música junto a professores, edu-
cadores, agentes sociais, bem como jovens e adultos de diferentes
condições sócio-econômicas. Idealizou e realizou Projetos “Música
na escola”, entre eles “A música da gente”, promovendo composição
coletiva com 340 crianças em escola pública, com CD gravado e di-
versas apresentações em São Bernardo do Campo/SP. É curador da
Fundação Koellreutter, da Universidade Federal de São João del Rei
e professor colaborador do Curso de Pós-Graduação em Música da
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo/ECA/
USP. Atua como conferencista, consultor e professor, ministrando
regularmente cursos e oficinas.

No Instituto de Estudos Brasileiros/IEB-USP, Flávia Toni é professora


titular, musicóloga, membro da Equipe Mário de Andrade e orienta-
dora nos programas de pós-graduação, função que também exerce
nos Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da
USP. Foi bolsista de produtividade do CNPq. Suas áreas de interesse
em torno da obra de Mário de Andrade compreendem as pesquisas do
intelectual sobre música brasileira, gestão cultural e patrimônio ima-
terial. Publicou Mário de Andrade e Villa-Lobos (Centro Cultural São
Paulo, 1987), A música popular brasileira na vitrola de Mário de An-
drade (SESC, 2004) e a correspondência ativa/passiva entre Camargo
Guarnieri e Mário de Andrade no livro Camargo Guarnieri – O tempo
e a música (Funarte/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001),
além de dezenas de artigos em revistas especializadas. Preparou, en-
tre outras edições anotadas, a Introdução à estética musical de Mário
de Andrade (Edusp/Hucitec, 1995) e a Enciclopédia brasileira (Edusp/
Giordano/Loyola, 1993).

Jorge Coli é professor titular em História da Arte e da Cultura e dire-


tor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas na Unicamp. Sua tese
de doutorado em estética, aprovada pela Universidade de São Paulo,
versa sobre o mundo musical de Mário de Andrade e foi publicada
pela Editora da Unicamp sob o título de Musica final. Publicou ainda
A paixão segundo a ópera (Perspectiva), O corpo da liberdade (Cosac
Naify), L’atelier de Courbet (Hazan), entre outros obras, além de inú-
meros artigos sobre questões envolvendo arte e cultura. Foi titular da
Chaire des Amériques na Universidade de Paris I/Panthéon-Sorbonne,
professor convidado nas Universidades de Osaka (Japão) e de Prince-
ton (USA) e assina uma coluna na revista Concerto.

Flavio Silva estudou piano com Hans Graff, Alda Caminha e Homero
Magalhães, e cursou musicologia e etnomusicologia em Paris com
Jacques Chailley, Tran Van Khê, Simha Arom e Claudie Marcel-Du-
bois, que orientou sua dissertação de mestrado Origines de la samba
urbaine à Rio de Janeiro. É autor de artigos sobre música em perió-
dicos brasileiros e servidor da Funarte desde 1976, onde atua como
foto Neném Krieger

Coordenador de Música Erudita no Centro da Música. Organizou a


edição do livro Camargo Guarnieri – O tempo e a música, para o qual
foto IEB/USP

também redigiu textos. Com Maria José de Queiroz Ferreira, realizou


as sete últimas Bienais de Musica Brasileira Contemporânea, assim
como a atual.
29
programação extraordinária

Espaço Guiomar Novaes


18 de outubro de 2015, domingo, 15h30

recital

Revivendo o Grupo Música Viva

Edino Krieger Três sonetos de Drummond


(textos de Carlos Drummond de Andrade) I – Os poderes infernais; II – Carta; III – Legado (canto e piano)

Eunice Katunda Dois estudos folclóricos
I – Canto praiano; II – Canto de Reis (piano solo)

César Guerra-Peixe Trovas capixabas


(textos folclóricos) I – Abaixai ó limoeiro; II – Ó lua que estás tão clara;
III – Tanto verso que eu sabia; IV – Ainda que o fogo apague;
V – Vou-me embora vou-me embora (canto e piano)

Eunice Katunda La dame et la licorne


I – La dame et sa suivante; II – Les lièvres; III – La licorne;
IV – Les étendards lunaires; V – Les joyaux et les fruits;
VI – Le lion (piano solo)

H.-J. Koellreutter Noturnos 1 e 2


(textos de Oneyda Alvarenga) (canto e piano)


Claudio Santoro A menina boba
I – Menina exausta XII; II – Asa ferida;
III – Menina exausta III; IV – Menina exausta I;
V – Menina exausta II (canto e piano)

Duo Ouvir Estrelas


canto Clarissa Cabral
piano Eliana Monteiro da Silva

palestra

O Grupo Música Viva e sua trajetória


por Carlos Kater

Edino Krieger César Guerra-Peixe Duo Ouvir Estrelas: Clarissa Cabral Carlos Kater Eunice Katunda Cláudio Santoro Hans Joachim Koellreutter
e Eliana Monteiro da Silva foto Julia Kater
30
Edino Kriger – dados biográficos à pagina 13. e menores sem funções tonais na parte do piano e melodia polimodal no canto.
Os Três sonetos de Drummond, baseiam-se em poemas recolhidos de coletâne- Hans Joachim Koellreutter – dados biográficos à pagina 13.
as diversas: Poderes Infernais em A vida passada a limpo, Carta em Antologia Os Noturnos 1 e 2, de 1945, foram publicados em 1947 em Montevidéu pela Co-
poética, Legado em Claro Enigma. A forma tradicional do soneto (dois quartetos operativa Interamericana de Compositores. Os versos de Oneida Alvarenga,
e dois tercetos) é adaptada por Krieger, com certa subjetividade, à fraseologia adaptados pelo compositor, fazem parte da coletânea A menina boba, de 1938,
de suas canções. Em Os poderes infernais, o período que abarca os dois quar- e apresentam métricas livres e rimas brancas, características do modernismo
tetos é seguido por uma seção contrastante pelo uso de um período irregular e brasileiro. Os Noturnos foram escritos para voz média e quarteto de cordas, com
pela métrica (4/4 em lugar de 5/4 da seção inicial). Arpejos quartais e uma melo- posterior transcrição do quarteto para o piano. Ambos utilizam livremente os 12
dia modal tecem a parte do piano na seção “A” e dão lugar a acordes formados sons da escala cromática, mas o primeiro utiliza no início a técnica dodecafô-
por trítonos na seção “B”, enriquecida com os 12 sons da escala cromática. nica e se encaminha para o atonalismo. São contrapontísticos e tem influência
Restrita a uma única sentença, a seção final “A’” retoma o esquema inicial. As direta do expressionismo schoenberguiano; abundam os intervalos de sétima
outras duas canções mantém a forma ABA’, mas adotam a harmonia tonal e to- maior e menor, os contrastes de intensidade e a métrica variável. Todas as re-
mam mais liberdades em relação ao tratamento das estrofes. A Carta tem cará- giões do piano são exploradas; da cantora é exigido o domínio de uma ampla
ter lânguido e esbanja lirismo, enquanto Legado é rítmico e pulsante. Elementos tessitura vocal.
de coerência entre as três peças são as notas repetidas nas partes do canto e o
intervalo de quarta nas partes do piano. Claudio Santoro (Manaus/AM 23/11/1919 – Brasília/DF 27/3/1989) obteve aos
12 anos bolsa do governo amazonense para estudar no Rio de Janeiro, onde
Eunice Katunda (Rio de Janeiro/RJ, 14/3/1915 – São José dos Campos/SP, ingressou no então Conservatório de Música do Distrito Federal, do qual tornou-
3/8/1990), foi pianista, cravista, organista, compositora, professora e regente se professor de violino e harmonia, após concluir o curso em 1936. Passou a
de coro e orquestra. Estudou piano com Mimma Oswald, Branca Bilhar, Oscar estudar composição com Koellreutter em 1940. Três anos depois, obra sua re-
Guanabarino e Marietta Lion; contraponto, harmonia e análise musical com Furio cebeu menção honrosa em concurso realizado em Washington e em 1946 rece-
Franceschini; composição com Camargo Guarnieri e Koellreutter; orquestração beu bolsa da Fundação Guggenheim para estudar nos EUA, o que não ocorreu
com Guerra-Peixe. Na Europa, entre 1948 e 1949, fez curso de regência com em função de sua ligação com o partido comunista, quando já era patente seu
Hermann Scherchen e de técnica serial com Bruno Maderna. Recebeu vários afastamento das diretrizes koellreuterianas. No ano seguinte, graças ao regente
prêmios e apresentou obras de Villa-Lobos, Hindemith, Stravinsky, Bela Bartók, Charles Munch, recebeu bolsa de estudos para Paris, onde estudou com Nadia
Alban Berg e Schoenberg no Brasil e no exterior, algumas delas em estreia Boulanger e Eugène Bigot. Em 1948, foi premiado pela Fundação Lili Boulanger,
mundial ou nacional. Sua ligação com o grupo Música Viva sofreu interrupção de Boston, participou do Congresso de Compositores em Praga, e passa a difun-
quando Guarnieri divulgou a “Carta aberta aos músicos e críticos do Brasil”, que dir o realismo socialista em arte, que defendeu até cerca de 1960, quando reatou
considerou “serena, sincera e clara. Tudo o que você diz nela é verdade.” Como relações com Koellreutter. Em 1962, coordenou a criação do Departamento de
Guerra-Peixe, seguiu a lição de Mário de Andrade e dedicou-se a pesquisas fol- Música da Universidade de Brasíli.
clóricas, mas ao contrário daquele compositor, voltou, anos depois, ao convívio As cinco canções sobre A menina boba começaram a ser compostas em 1944,
de Koellreutter. Dentre suas obras, destacam-se a cantata O Negrinho do Pasto- sobre textos da coletânea de Oneyda Alvarenga de que Koellreutter se servira
reio, a Cantata do soldado morto, os Quatro momentos de Rilke e a Sonatina 1965, em seus Noturnos. A menina exausta XII venceu o concurso da Associação
além de artigos em periódicos. Riograndense de Música e foi publicada em 1946 pela Cooperativa Interame-
Os Dois estudos folclóricos: datados de 1952 e estreados pela autora, são da ricana de Compositores com outra peça deste conjunto, Asa Ferida. Uma su-
fase nacionalista. Canto Praiano inspira-se em materiais recolhidos no litoral posta integral do ciclo, com quatro canções, foi publicada na década de 1980,
paulista; o movimento ininterrupto e assimétrico das ondas é sugerido mediante na Alemanha. Até então, pesquisadores e intérpretes de Claudio Santoro não
sobreposição de linhas melódicas com métricas distintas e um polimodalismo tinham conhecimento da quinta canção, que leva o número “III” no manuscrito
sem ligação com técnicas de vanguarda. Canto de Reis, baseado na Folia de Reis datado de 1946, do qual recebemos cópia graças à amabilidade de Gisele e de
de Ribeirão Preto, tem melodia acompanhada por baixo ostinato com acordes Alessandro Santoro, viúva e filho do compositor. Essa canção, até hoje inédita, é
sincopados; sua seção central é precedida por transição atonal livre. seguramente apresentada em primeira audição mundial.
La dame et la licorne, suite composta em 1982, inspira-se nas maravilhosas ta- Enquanto as quatro canções editadas foram escritas utilizando a técnica dode-
peçarias medievais conservadas no Museu de Cluny, em Paris, e serve-se de cafônica, embora apresentando certa flexibilidade em favor da expressividade,
procedimentos de compositores franceses impressionistas e/ou simbolistas que a quinta, manuscrita, afasta-se deste modelo pelo canto baseado em sons repe-
utilizavam escrita modal em suas composições, como Eric Satie em suas Gym- tidos. Construída sobre um baixo ostinato rítmico, conserva das demais a escrita
nopédies. La dame et sa suivante é polimodal e a mudança de modo determina contrapontística e o uso de intervalos dissonantes, inserindo os doze sons da es-
o início e fim de suas três seções. Les lièvres apresenta textura em cânone e cala cromática no compasso final. Talvez Santoro a tenha concebido para fazer
utiliza os 12 sons da escala cromática; o movimento das duas linhas melódicas par com A menina exausta I, que utiliza motivos rítmicos e melódicos sincopados
principais ilustra a atividade leve e ligeira de lebres brincando. La licorne traz que aludem aos ritmos populares brasileiros. Desta forma, a primeira funciona-
um contraponto de duas vozes em oitavas, como dois seres que caminham em ria como introdução, a segunda como um movimento mais lento e dramático, a
paralelo: o unicórnio e a dama. Les étendards lunaires tem textura homofônica, terceira e a quarta mais rítmicas e a última, de caráter improvisatório, seria uma
como num coral, o que dá à peça um caráter majestoso, quase sacro; as vozes coda do ciclo. Esta é a ordem em que estas peças serão apresentadas pelo Duo
se movimentam formando acordes maiores sem relação tonal entre eles. Les Ouvir Estrelas.
joyaux et les fruits é polimodal, com trinados e arpejos rápidos na região agu-
da do piano, simulando o brilho de joias numa pintura de natureza morta, com
uso de modos simétricos, como o pentatônico e o octatônico, característicos DUO OUVIR ESTRELAS
do impressionismo francês. Le lion alterna trechos homofônicos, em acordes, A mezzo-soprano Clarissa Cabral e a pianista Eliana Monteiro da Silva forma-
a outros com textura de melodia acompanhada; a peça também é polimodal, ram o Duo Ouvir Estrelas após o curso de mestrado na Universidade de São
mas apresenta trechos cadenciais para centros tonais. Tem caráter misterioso Paulo, onde pesquisaram obras de Clara Schumann. Enquanto Clarissa Cabral
e termina em suspensão. analisou seus lieder, Eliana Monteiro da Silva analisou a obra pianística dessa
compositora praticamente desconhecida no Brasil. Deste encontro resultram
César Guerra-Peixe (Petrópolis/RJ 18/3/1914 – Rio de Janeiro/RJ 26/11/1993) a publicação do livro Clara Schumann: compositora x mulher de compositor
realizou estudos de violino com Paulina d’Ambrosio e foi o primeiro aluno a com- (2011) e o CD Clara Schumann − lieder e piano solo (2012). Desde então o duo
pletar o curso de composição no Conservatório Brasileiro de Música. A partir vem se apresentando regularmente em recitais divulgando, principalmente, a
de 1944, começou a estudar com Koellreutter enquanto atuava em rádios ca- música de mulheres compositoras. Esta especificidade rendeu-lhes a home-
riocas fazendo orquestrações. Sua Sinfonia no 1, dodecafônica, foi estreada na nagem feita pela compositora Nilceia Baroncelli com a canção Ouvir estrelas,
BBC londrina em 1946 e três anos depois Hermann Scherchen convidou-o para sobre poema de Olavo Bilac) e com a peça para piano solo Os tons da clarida-
estudar regência em Zurich por dois anos. Já adepto das ideias de Mario de de. Suas atividades artísticas e acadêmicas são publicadas em site próprio e
Andrade, preferiu viajar para Recife e estudar a música popular e folclórica nor- página no Facebook: http://duoouvirestrelas.com/ https://www.facebook.com/
destina. Afastou-se gradualmente da pregação de Koellreutter, sem o radicalis- DuoOuvirEstrelas.
mo das atitudes de Santoro e de Eunice, mas em 1952 passou a manifestar total Clarissa Cabral é membro do Coral da OSESP e do Coral Audi Coelum. Tem
rejeição à dodecafonia. No ano seguinte, publicou o artigo “Que ismo é esse, atuado como solista da Camerata Antiqua de Curitiba, da Camerata Fukuda e da
Koellreutter”, violento ataque pessoal a seu ex-professor, com quem nunca re- Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Em São Paulo, estudou na Escola
atou relações, ao contrário de Santoro e de Eunice. Como Radamés, Guerra- Municipal de Música e na Escola de Comunicações e Artes da USP. Estudou
Peixe manteve intensa atuação como orquestrador de música popular, ao lado flauta transversal com Wilson Resende, cravo com Terezinha Saghaard e piano
de suas principais atividades – as de compositor, professor de composição e com Sonia Albano e Amilcar Zani. Sob orientação deste último concluiu bacha-
pesquisador. relado e mestrado na ECA-USP. Em 2003 iniciou trabalho de técnica vocal com
Criadas em 1955, as Trovas capixabas servem-se de quadras publicadas por o tenor brasileiro Marcos Thadeu, continuado com Rosa Dominguez e Ulrich
Guilherme Santos Neves no Cancioneiro capixaba de trovas populares e afir- Messthaler (Basel – Suíça).
mam a adesão do compositor ao nacionalismo mariano. Ainda que breves, essas Eliana Monteiro da Silva fez Bacharelado em piano pela Faculdade de Música
Trovas demonstram um nível de elaboração pouco acessível ao ouvinte comum, Carlos Gomes e mestrado e doutorado pela Escola de Comunicações e Artes
mesmo com a presença constante da síncope. Abaixai ó limoeiro é polimodal; Ó da USP. Teve como professores de piano Walkyria Passos Claro, Roberto Sa-
lua que estás tão clara tem melodia suspensa, sem pontos de apoio ou cadên- bbag, Gilberto Tinetti, Heloísa Zani e Beatriz Balzim, com quem desenvolveu
cias conclusivas; Tanto verso que eu sabia é das poucas que apresentam um pesquisa de doutorado financiada pela FAPESP. É autora de livros, capítulos de
centro tonal, em ré maior; Ainda que o fogo apague é atonal, com acompanha- livro e artigos em português e inglês em periódicos como Opus, Hodie, Revista
mento baseado em arpejos em quintas; Vou-me embora utiliza tríades maiores Brasileira de Música e Concerto; participa de festivais e congressos no Brasil
e no exterior.

31
programação extraordinária

Sala Cecília Meireles


19 de outubro de 2015, segunda-feira, 19h

Coletivo Chama canta Mário de Andrade


Mário de Andrade Viola quebrada (vinheta de introdução)
Mário de Andrade, Francisco Mignone Rudá
Mário de Andrade, Francisco Mignone Cantiga do ái 
Mário de Andrade, Lorenzo Fernandes Toada pra você
Mário de Andrade, Camargo Guarnieri Despedida sentimental
Mário de Andrade, Camargo Guarnieri Cantiga do Pai do Mato 
Thiago Thiago de Melo, Edu Kneip Certezas inacreditáveis
Thiago Amud, Guinga Brasiléia
anônimo Tatá Engenho Novo
Renato Frazão Dona da casa
anônimo, recolhido por Mario de Andrade Dona da casa
anônimo, recolhido por Mário de Andrade Róseas flores d’alvorada
anônimo, recolhido por Mário de Andrade Suíte da Nau Catarineta
Dobrado de chegada
Canto de remar
Romance da Nau Catarineta
Avarias
Barcarola final
Peã
Mário de Andrade Viola Quebrada
(harmonização de Heitor Villa Lobos)

arranjos e direção musical Ivo Senra e Thiago Amud


voz e violão Fernando Vilela, Renato Frazão, Thiago Amud, Thiago Thiago de Melo
voz, guitarra e percussões Pedro Sá Moraes violoncelo Pablo de Sá bateria e glockenspiel Lucio Vieira
sintetizadores, programação de sintetizadores e piano Ivo Senra

Formado por sete músicos e um artista visual – Cezar Altai, realizado no SESC em 2012, e em unidades da Caixa Cul-
Fernando Vilela, Ivo Senra, Pedro Sá Moraes, Renato Frazão, tural em 2014.
Sergio Krakowski, Thiago Amud e Thiago Thiago de Melo – o A partir de 2012, os artistas do Chama apresentam o pro-
Coletivo Chama marca espa- grama Rádio Chama, transmitido
ço na cena da nova música pela Rádio Roquette Pinto FM,
brasileira com seu espírito in- com um conceito bastante radical
quieto e busca constante em de diversidade musical, (do erudito
diálogo com a arte inventiva contemporâneo ao folclore africa-
de hoje e de sempre. no, da MPB ao free jazz europeu.
Desde 2011, o grupo Atualmente, o Coletivo está
promove uma programa- mergulhado numa curadoria de
ção cultural na qual se des- cinco espetáculos na Sala Funar-
tacam as quatro edições te Sidney Muller, como parte do
do festival anual “Brazilian projeto “Contemporâneos na Sala
Explorative Music”, que Funarte”, e na finalização do proje-
apresentou dezenas de ar- to de pesquisa “Música Chama”,
tistas brasileiros ao público com apoio da FAPERJ, para publi-
nova-iorquino; as edições car livro reunindo textos sobre sua
da série “Nascente e Foz”, atuação e sobre os questionamen-
realizadas em unidades da Caixa Cultural em 2014 e na tos em que está envolvido, dentro do universo da MPB, e
FLIP em 2015; o mini-festival Transversais do Tempo, para gravar o álbum “Todo Mundo é Bom”, o primeiro a reunir
com shows debates sobre música e cultura brasileira, canções de todos os seus artistas.

“A música popular brasileira tem poucos rivais no mundo, quando se trata de sofisticação estrutural. Isso não impediu que
pelo menos um grupo de exploradores se lançasse ao desafio de acrescentar ainda mais meandros. Os artistas do Coletivo
Chama empunham formas avançadas de construir, desmantelar e por vezes sacudir as bases de uma canção.”
Jon Pareles, NY Times
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Há setenta anos o Brasil perdia um de seus maiores poetas, Homenagear, hoje, o legado musical de Mário de An-
pesquisadores e pensadores. O inventor de Macunaíma, drade significa para o Coletivo Chama a busca por uma
poeta da Paulicéia desvairada, investigador da língua bra- compreensão, ao mesmo tempo responsável e fértil, da
sileira, correspondente contumaz e turista aprendiz, partiu complexa teia de influências e negativas, projetos e ruínas,
jovem mas deixou como legado uma obra multifacetada e memórias e recalques. Não há saída fácil – especialmen-
ecos incontornáveis da missão que tomou para si – muitas te quando se almeja construir vidraças, mais do que atirar
vezes, reconhecia, em detrimento de sua própria realização pedras – para os dilemas que se colocam: que vida ainda
artística: a de formular e propagar um sentido de pátria, resiste nos arbustos já ressequidos do folclore, sob o sol in-
uma síntese, mais propositiva do que descritiva, das dife- clemente da novela das nove? Como conciliar a potência da
rentes vertentes que conformavam o jovem Brasil. herança MPBista que acolheu e incorporou tanto elemen-
Ao contrário do que preconiza o receituário pós-moder- tos “nobres” quanto matéria prima “de consumo imedia-
no – a valoração da multiplicidade espontânea de brotações to”, com esta estéril impressão de “fim da história”, onde
híbridas de expressões culturais, de modo geral afinados não há mais montanhas a escalar?
pelo diapasão “espontâneo” do pop – Mário, modernista Esta é uma das primeiras vezes que o Coletivo sobe ao
que era, acreditava em ambiciosas sínteses. Entre a tradi- palco em conjunto. Selecionamos a maior parte do reper-
ção e o futuro, o erudito e o popular, o negro e o europeu, o tório entre as gravações que estão nos dois LPs do pro-
ganzá e o pentagrama. Por seu envolvimento com políticas jeto “Mário – 300, 350” lançado pela Funarte em 1983 e
públicas na área de cultura, concebeu e coordenou exten- dividido em dois blocos fundamentais: um com obras de
sas pesquisas e a catalogação de formas musicais popula- Guarnieri e Mignone sobre poemas de Mário e outro com
res em todo o país. Parte significativa do conhecimento e seis belas canções em torno do romance da Nau Catarine-
do valor que conferimos a esses mananciais deve-se a esse ta, cuja diversidade de formas e exuberância mítica ilustra
esforço de décadas. bem a pesquisa folclórica de Mário, além de revelar um
Outra herança da relação de Mário com a música, me- grande arquétipo formador do Brasil, que é a navegação. O
nos difundida e valorizada, é sua influência na formulação show também passeia por outros estilos da predileção do
de caminhos para o que ele chamava de “música artística” pesquisador, como a modinha imperial e o coco da Zona da
nacional. Nela, técnicas e tendências estéticas europeias se Mata, e por canções contemporâneas que dialogam com a
entrecruzariam com a inspiração mítica, temática e formal do herança andradiana.
folclore. Embora, em retrospectiva, nos seja fácil olhar com Os arranjadores e diretores musicais – Ivo Senra e
distanciamento a prescrição segundo a qual “o artista só tem Thiago Amud – motivados pelas reflexões que esboçamos
que dar pros elementos já existentes uma transposição eru- acima, mergulharam no material com a liberdade e a insti-
dita que faça da música popular, música artística”1, também gação que só os pontos de interrogação permitem. O feixe
é fácil perceber quão ricos, expressivos, fundamentais são de luz-canção não mais se concentra com uma lente de
tantos dos resultados motivados por essa busca. Difícil, na aumento sobre uma síntese-nação unívoca, mas se refrata
verdade, é compreender como é exígua a difusão de obras pelo prisma das questões em suspenso, projetando nas su-
como as de Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Lorenzo perfícies ao redor uma riqueza de geometrias e cores. Em
Fernandes e mesmo Villa Lobos, exceto entre círculos restri- busca desta abertura, são utilizadas estruturas desenvolvi-
tos de especialistas e connoisseurs. das na música de concerto contemporânea, como sentidos
Diria o poeta, sem papas na língua: “nós, modernos, escandidos de tempo, rompendo a lógica das quadraturas
manifestamos dois defeitos grandes: bastante ignorância e e compassos e a utilização de textura, ruído e aleatoriedade
leviandade sistematizada”2. Tomemos com doses de amo- em diálogo arquitetônico com os discursos tradicionais de
rosa cautela a verve crítica, virulenta, de Mário voltando-se versos, melodia e harmonia.
com frequência contra muito do que lhe chegava aos ouvidos Este show não é um empreendimento crítico e pode,
através do rádio ou da indústria de discos. Adjetivos como portanto, atirar-se no abismo de uma resposta sem dar
“popularesco” ou “submúsica”, usados para desqualificar a conta dos tantos argumentos e contra-argumentos que a
produção comercial contemporânea, indicam atitudes que boa dialética exigiria. Não nos consideramos, no entanto,
dificultam acompanhar e fazer justiça à complexidade do eximidos do diálogo com as estruturas e linguagens que
fenômeno MPB. 3 Ele brota na tumultuosa confluência entre vêm se combatendo e acumulando no campo da própria
agitação política e indústria cultural, num caldo formativo música. Foi necessário implodir cercados artificiais que
combinando educação formal e botequim, pau-de-arara e segregam popular e erudito; restabelecer a conexão com
vanguarda, e representa uma espécie de desdobramento uma linhagem de criadores brasileiros cujas obras perma-
tardio, ou canto do cisne, do projeto modernista. Uma voz necem vibrantes, ainda que seu projeto de nação tenha
– multifônica, às vezes cacofônica – brasileira, amplamente sido desconstruído; navegar rio acima em busca da seiva
compartilhada, combinando alto grau de realização artística, essencial do Brasil – confluência de mito e memória, po-
invenção, crítica e insight. roroca enfurecida de “nosso” e “alheio” – e rio abaixo, le-
No entanto, como é da natureza de tudo que é moder- vando notícias da Nau Catarineta para um futuro tanto mais
no, também esse fenômeno paulatinamente se dissolveu. ansiado quanto insondável.
Embora artistas de enorme talento sigam criando obras Pedro Sá Moraes
muito potentes, seu alcance, de modo geral, é restrito a
pequenos nichos. Impulsionado pelo diapasão surpreen-
dentemente consonante de rebeldia estético-política e de-
mandas cada vez mais conservadoras da indústria cultural,
o campo representado pela sigla MPB foi gradativamente 1 ANDRADE, M. de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo:
conformando-se ao imediatismo da recepção, da eficácia Martins, 1972, 3a ed., p.16.
comunicativo-comercial. Desenvolveu-se um novo crivo tá- 2 idem, p.13.
cito, que acolhe umas tantas coisas e estigmatiza formas 3 GONZÁLEZ, J. P. “Carne para alimento de rádios e discos o
que provoquem além de um certo nível de estranhamento, conceito de música popularesca na obra musicológica de Mário
ou que exijam maiores esforços de atenção, numa era em de Andrade”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 57,
que seu déficit torna-se norma e não desvio. 2013, p. 139–160.
33
Governo do Estado da Bahia
governador Rui Costa
Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social
secretário Geraldo Reis

Instituto de Ação Social pela Música


Conselho de Administração
Presidente
Roberto Figueira Santos
Vice Presidente
Manoel Joaquim F. Barros Sobrinho
Membros
Anna Helena Mariani Bittencourt, Augusto Sampaio de Souza, Daniel Maurice Elie Huet, Edivaldo M. Boaventura,
Jorge Sampaio, José Sérgio de Oliveira Andrade, Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz,
Mauricio Ganem Pitangueira, Maria Caetana Cintra Santos
Conselho Fiscal
Maria Quitéria Castro de Oliveira, Paulo Novais de Almeida,
Lucia Leão Jacobina Mesquita, Virginia Maria Veiga da Senna (suplente)
Direção Geral
Ricardo Castro
Direção Musical
Eduardo Torres
Direção Institucional
Beth Ponte
Gerência Pedagógica
Obadias Cunha
Gerência Administrativo-Financeiro
Suzana Viana

Orquestra Juvenil da Bahia
violinos I Guilherme Teixeira da Silva (spalla), Enã Deuel Barbosa Santos, Geisiane da Silva Santos,
George Lavigne dos Santos, Ícaro Smetak, Jeanderson Barbosa de Lima, Karen Gabriele Nino Rosa,
Marivaldo Liberato Neri Junior, Mateus Correia de Oliveira, Priscila Figueiredo Souza,
Priscila Gabrielle Rodrigues Silva Santos, Reinaldo Santos Silva
violinos II Dâmaris dos Santos (chefe de naipe), Adeilson Sodré, Ainoã Santos Cruz, Ana Celi de Carvalho Venturini,
Caique Spózito Guimarães da Silva, Eliel Santana Santos, Fabrizio D’Andreamatteo Filho, Karen Silva Santos,
Keila Maielle Salgado Oliveira, Mateus Rafael Mariani Miranda, Uiler Moreira de Souza, Bruno Henrique Smetak
violas Jhonatan dos Santos (chefe de naipe), Allan Resedá dos Santos Leite, Gerusa Maria França Conceição,
Ana Florência Paulin, Eduardo Lopes Conceição, Elson Freitas Jesus Santos, Tarsis Araújo Cruz
Lais Guimarães dos Santos Costa, Nataly Maria do Vale, Ramiris de Oliveira Silva
violoncelos Laís Tavares Gomes (chefe de naipe), Aleska Russo, Caio Barbosa Cunha de Azevedo,
Caio Soares de Brito, Jéssica Correia dos Santos, Joás Ferreira Neves, Nilton Cerqueira,
Marcos Vinícius Santana Magalhães, Victor de Oliveira Macêdo
contrabaixos Yaiza Prieto Garcia (chefe de naipe), Alexsandro Alves Souza, Eduardo Alemán,
Francisco Alves de Souza, Kivia Silva Santos, Marcelle Elvira Miranda
flautas Laila Yamilla Maleh Menehem (chefe de naipe), Clara Letícia Nascimento Correia,
Felipe Almeida Alves Silva, Jonadabe de Jesus Santos Batista
oboés Sandra Paola Romero Rojas (chefe de naipe), Erica Barreto Smetak, Jadison de Jesus Santos, Mariana da Cruz Sales
clarinetas Adauri Oliveira (chefe de naipe), Indira Dourado Monteiro da Costa, Amanda Müller (convidada)
clarone Renan Jesus Pinto
fagotes Valter Pedro Rodrigues (chefe de naipe), Esdras Santana Santos,
Luis Felipe Santana de Souza, Paulo Vitor Bispo Ferreira
trompas Orlando Afanador Florez (chefe de naipe), André Leite de Menezes, Uriel Borges Vieira Silva,
Washington Nascimento Pereira, Davi da Silva Brito (convidado)
trompetes Helder Passinho Jr. (chefe de naipe), Lucas Felipe Araújo Machado Silva,
Manoel Passos Ribeiro Neto, Rodrigo Reis Silva Santos Silva
trombones Michele Girardi (chefe de naipe), Bruno Duarte Souza Conceição, Otávio Correa da Silva, Pedro Degaut
tuba Jamberê Ribeiro de Cerqueira (chefe de naipe)
percussão David Oliveira Martins (chefe de naipe), Celso Teixeira do Amaral Neto, Everton Isidoro Santos Silva,
Fabio da Silva Santos, Rian Moares Mourthé, Tainnã Chagas Batista
harpa Diego Souza Gomes da Cruz Costa
piano Bruno Leão

produção técnica Rogério Lima, Daniel Machado


montador de orquestra Alânderson Silva
34
Universidade Federal do Rio de Janeiro
reitor Roberto Leher Reitor

Centro de Letras e Artes


decana Flora de Paoli Faria

Escola de Música
diretora Maria José Chevitarese

Setor Artístico
diretor adjunto Marcelo Jardim

Orquestra Sinfônica da UFRJ (naipe de cordas)


direção artística André Cardoso e Ernani Aguiar

violinos Adonhiran Reis, Fábio Peixoto, Felipe Prazeres e Marco Catto Ribeiro (spallas); Amanda Tavares,
Ana Judith Catto Ribeiro, André Bukowitz, Andreia Carizzi, Angélica Alves, Arthur de Andrade Pontes,
Caroline de Santa Rosa, Felipe de Souza Damico, Fernando Matta, Her Agapito, Inah Kurrels Pena,
Kelly Davis, Leonardo Bandeira, Marília Aguiar, Marcos Vinícius da Silva Graça,
Maressa Neves Portilho, Mauro Rufino, Ranan Antonini, Ricardo Coimbra,
Sarah Cesário, Sonia Katz, Talita Vieira, Thierry de Lucas Neves
violas Carlos Eduardo Batista Tavares, Cecília Mendes, Erick das Neves Alves, Francisco Pestana,
Ivan Zandonade, Jessé Pereira, Rúbia Siqueira, Thaís Mendes
violoncelos Diogo Moura de Souza, Eleonora Fortunato, Gretel Paganini, Liana Meirelles Paes, Mateus Ceccato,
Marzia Miglietta, Murillo Gandine Gonçalves, Paulo Santoro, Ricardo Santoro
contrabaixos Larissa Coutrim, Rodrigo Favaro, Saulo Generino, Tarcísio Silva, Voila Marques

produção Vanessa Rocha, André Garcez


montagem Paula Buscássio, arquivo Sérgio Di Sabbato
monitores Bianca Vieira, Clara Santos, Murillo Gandine, Raphael Linhares

Coro Brasil Ensemble-UFRJ


direção artística Maria José Chevitarese

sopranos Aline Talon, Kamille Távora, Crislaine Hildebrant Netto, Luísa Kurtz, Isabela Cristina Freitas, Isabela Oliveira,
Juliana Sampaio, Luísa Lima, Marcela Melo, Mariana Gomes, Marilda Sant’Anna, Priscila Bastos, Tatiana Nogueira
mezzos Beatriz Simões, Carla Antunes, Francielle Idala Dias, Hosana Aguiar Fernandes, Susan Cruz,
Maria Vitória Ferreira Borges, Telma Pará, Helena Lopes, Rafaela Fernandes
tenores Anderson Bruno de Azevedo, André Novaes, Bruno Anjos, Edmundo Cardoso Filho, Felipe Tenório,
Christopher Morgado, Guilherme Fonseca, Guilherme Moreira,
Roberto Monteiro Salles, Zangerolame Tabosa.
baixos Felipe Naim, Fernando Lourenço, Gabriel Giacomini Moura, Gilmar Garantizado, Kaique Stumpf,
Leon Nascimento, Leonardo dos Santos Soares, Marcelo Coelho, Ullisses Areias César

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Universidade Federal Fluminense
Reitor Prof. Sidney Luiz De Matos Mello
Vice-Reitor Antônio Cláudio Da Nóbrega

Centro de Artes
Superintendente Leonardo Guelman
Coordenador de Música Márcio Selles
Chefe da Divisão de Música Sinfônica Águeda Sano

Orquestra Sinfônica Nacional da UFF


Comissão Artística Deivison Branco, Janaína Salles, Murilo Barquette

violinos I Anderson Pequeno e Tais Soares (spallas), Leonardo Fantini (concertino), Álvaro Teixeira, Carlos Weidt, Elisa Pais, Giseli Sam-
paio, Holly Katz, Juan Marcelo Capobianco, Luisa de Castro**, Tomaz Soares**, Vera Kingkade
violinos II Deivison Branco, Daniel Andrade, Juliana Fernandes**, Keeyth Vianna, Ladislau Brun,
Priscila Araújo, Rubem de Oliveira, Sônia Nogueira
violas Fernando Thebaldi, Stoyan Gomide, Carlos Fernandes, Daniel Prazeres, Diego da Silva, Reneide Simões, Tina Werneck
violoncelos Diana Lacerda, , Marcus Ribeiro, Daniel da S. e Silva, Gabriela Sepúlveda, Henrique Drach,
Hudson Lima, Janaina Salles, Luciano Corrêa, Ronildo Alves
contrabaixos Raul d’Oliveira, Clay Protásio, Jorge Oscar, Lise Bastos**, Natália Terra
flautas Murilo Barquette, Andrea Ernest Dias, Helder Teixeira**
oboés Jeferson Nery, Moisés Maciel
clarinetas Anderson Alves, Marcio Costa
fagotes Otacílio Lima, Marcos Campos, Cosme Silveira**
trompas Marcos Vilas Boas, Geraldo Alves, Waleska Beltrami
trompetes Flávio Melo, Nelson Oliveira, Delton Braga, Elias Vicentino
trombones Sérgio de Jesus, Ezequiel Alexandre, Jorge Leite, Luiz Augusto Pereira
tuba Carlos Veja
percussões André Santos, Karla Bach**, Paulo Bogado, Nirailton Nascimento, Sérgio Naidin
harpa Vanja Ferreira

produção Aline Picanço Campos


inspetor Felipe Maximiano
arquivista e editor de partituras Glauco Martins Baptista
montadores Bruno Caldas, Robson Santos
administração Carla Moreno e Marilda Ribeiro
bolsista de produção cultural Raquel Lyra

(**) músicos em licença

36
Sobre a Funarte Bienal de Música Brasileira Contemporânea
A Fundação Nacional de Artes – Funarte é uma institui- As Bienais de Música Brasileira Contemporânea foram
ção do Governo Federal vinculada ao Ministério da Cul- criadas, em 1975, por Edino Krieger e Myriam Dauel-
tura. É responsável pelo desenvolvimento, em todo o sberg, com apoio da sala Cecilia Meireles, palco privi-
Brasil, de políticas públicas de fomento à música, às legiado desses eventos que já ocuparam diversos ou-
artes cênicas (teatro, dança e circo), às artes visuais tros espaços no Rio de Janeiro. A partir de 1981, elas
e às artes integradas. Seus objetivos principais são o passaram a ser organizadas pelo Centro da Música da
incentivo à produção e à capacitação de artistas, ao Funarte. Criadas num ano ímpar, elas foram realizadas
desenvolvimento da pesquisa, à preservação da me- sem interrupção desde sua primeira edição.
mória e à formação de público para a manifestação das As obras que apresentam passam por critérios de
artes no país. Para o cumprimento dessa missão, a Fu- seleção, em geral envolvendo concursos lançados no
narte concede bolsas e prêmios, mantém programas ano de realização de cada evento. A partir de 2010,
de circulação de artistas e de bens culturais, promove foi decidido que a seleção seria feita nos anos pares,
oficinas para reciclagem e atualização de gestores e envolvendo tanto concurso como encomendas.
de dirigentes de órgãos culturais e artísticos, fornece O mecanismo do concurso é relativamente sim-
consultoria técnica e apoia eventos artístico-culturais ples: lançamos um edital para obras inéditas, divididas
em todos os estados brasileiros e no exterior, além de em seis categorias, da orquestra sinfônica ao solo,
manter espaços no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas com as especificações necessárias e pagamentos di-
Gerais, Distrito Federal e no Recife. Sua atuação, em ferenciados para cada caso. As partituras recebidas
consonância com as secretarias do Ministério da Cul- são analisadas por uma comissão de compositores
tura, é exercida através de quatro Centros: Centro de e de regentes designada pela Funarte. Em 2014, 316
Artes Cênicas (incluindo circo, dança e teatro), Centro compositores propuseram 454 partituras, 37 das quais
de Artes Visuais, Centro de Programas Integrados e foram selecionadas; uma delas foi posteriormente
Centro da Música. desclassificada, quando constatamos que já estava
O Centro da Música/Cemus está dividido em três sendo divulgada pela internet desde 2013, em frontal
coordenações, voltadas para as bandas, a música eru- desacordo com o ineditismo exigido pelo edital.
dita e a música popular, numa separação mais formal As encomendas demandam uma engenharia mais
do que real, em função dos trabalhos conjuntos que sofisticada. Para evitar favoritismos, procuramos cri-
efetuam. As ações são realizadas tanto por meio do térios de seleção que tenham alguma objetividade.
lançamento de editais públicos como a partir de pro- Em 2010, foram encomendadas obras a compositores
gramas específicos, que objetivam a edição de livros que participaram de 14 ou mais Bienais. Como esse
e de gravações sonoras; o apoio a festivais, apresen- critério não poderia mais ser repetido, em 2012 defi-
tações e mostras de música; o fomento à criação e à nimos um colégio eleitoral formado por compositores
produção de obras, produtos e projetos; a distribuição que participaram de cinco ou mais Bienais e por regen-
de instrumentos de sopros a bandas de música; o es- tes que nelas dirigiram duas ou mais obras sinfônicas.
tímulo à circulação e divulgação de trabalhos musicais Cada membro desse colégio indicou 10 nomes; as
diversificados; a qualificação e difusão de conheci- encomendas foram atribuídas aos mais votados. Em
mentos e a capacitação, aperfeiçoamento, reciclagem 2014, o colégio eleitoral foi ampliado com a inclusão
e circulação de artistas e técnicos; a realização de cur- de professores de composição em cursos universitá-
sos de breve duração; a promoção e participação em rios de música.
debates sobre políticas públicas para a área musical. As obras apresentadas são gravadas e depositadas
em nosso Centro de Documentação. A partir de 2013,
passaram também a ser filmadas para divulgação na-
cional e internacional. As páginas seguintes trazem in-
formações estatísticas sobre a quantidades de obras
e de compositores que se apresentaram em todas as
edições da Bienal.
Mais informações sobre a Funarte podem ser en-
contradas no site www.funarte.gov.br, que traz seções
relacionadas aos Centros. O contato com o Centro da
Música pode ser feito através do e-mail cemus@funar-
te.gov.br e pelo telefone (21) 2279-8107.

37
Tabela A Tabela B
34 compositores concursados, 30 compositores contemplados
por ordem alfabética com encomenda de obra, por votos recebidos

Nomes Ano Votos Nomes


Alexandre Schubert 1970 29 Paulo Costa Lima
Alexandre Espinheira 1972 21 Liduino Pitombeira
Alexandre Ficagna 1983 18 Eli-Eri Moura
Aquiles Guimarães * 1976 16 Jorge Antunes
Caio Márcio dos Santos * 1981  15 Marisa Rezende
Caio Pierangeli 1987  15 Flo Menezes
Cadu Verdan * 1989  14 Roberto Victório
Clayton Ribeiro * 1975 14 Wellington Gomes
Danniel Ferraz 1989  12 Marlos Nobre
Daniel Vargas 1985  12 Harry Crowl
Emanuel Cordeiro * 1983  11 Marcos Lucas
Felipe Lara 1979  10 Jocy de Oliveira
Fliblio Ferreira * 1978  10 Silvio Ferraz
Fred Carrilho 1971  10 Edson Zampronha
Gilson Beck 1982  10 Pauxy Gentil-Nunes
Gustavo Penha 1983 10 Marcílio Onofre
Henderson Rodrigues * 1976 10 Aylton Escobar
Ivan Eiji Simurra 1984 10 Alfredo Barros
J. Orlando Alves 1970 9 João Pedro de Oliveira * -
Julian Maple * 1993  9 Marcus Siqueira
Lucas Duarte 1990 9 Edino Krieger
Mario Ferraro 1965  8 Antônio Borges-Cunha
Matheus Bitondi 1979 8 Valério Fiel da Costa
Mauricio Dottori 1960  8 Paulo Rios Filho
Nikolai Brucher 1979  7 Ricardo Tacuchian
Paulo Raposo 1983 7 Ronaldo Miranda
Roseane Yampolschi 1956 7 Rodolfo Coelho de Souza
Rubens Tubenchlak 1968  7 Alexandre Lunsqui
Sam Cavalcanti * 1982  6 Raul do Valle
Sérgio Kafejian 1967 6 José Augusto Mannis
Tauan Gonzales Sposito * 1991  388 Total de votos recebidos pelos 30 com positores
Thiago Diniz * 1988 
Ticiano Rocha 1982  Obs.: 202 compositores foram indicados para receber encomenda
de obra por um colégio eleitoral composto por 79 compositores,
Vitor Ramirez * 1993 regentes e professores universitários de composição, cada um dos
quais votou em 10 nomes. As encomendas foram atribuídas aos
Obs.: O Prêmio Funarte de Composição Clássica 30 nomes mais votados, considerando o critério de maior idade
2014 selecionou, mediante concurso, 37 obras para nos casos de empate. Desses compositores, apenas João Pedro
serem apresentadas na XXI Bienal. Para esse Prê- Oliveira participa pela primeira vez de uma Bienal.
mio, foram inscritas 454 obras de 321 composito-
res, 133 dos quais concorreram com duas obras. Os * compositor português, radicado em Belo Horizonte,
compositores Mario Ferraro e Daniel Vargas foram apresentado pela primeira vez numa Bienal
contemplados com duas obras.

* compositores apresentados pela primeira vez


numa Bienal

38
Tabela C
64 compositores de obras encomendadas e concursadas, por Unidade de Federação

UF Nomes C/E Totais UF Nomes C/E Totais


AC Rubens Tubenchlak C 1 Antônio Borges-Cunha E
RS 2
Alexandre Espinheira C Gilson Beck C
Danniel Ferraz C SC Fliblio Ferreira C 1
BA Paulo Costa Lima E 5 Aquiles Guimarães C
Paulo Rios Filho E Alexandre Lunsqui E
Wellington Gomes E Aylton Escobar E
Alfredo Barros E Caio Pierangeli C
CE Liduino Pitombeira E 3 Clayton Ribeiro C
Henderson Rodrigues C Felipe Lara C
Alexandre Schubert C Flo Menezes E
Daniel Vargas ** C Fred Carrilho C
Harry Crowl E Gustavo Penha C
João Pedro Oliveira * E SP Ivan Eiji Simurra C 20
MG J. Orlando Alves C 9 José Augusto Mannis E
Lucas Duarte C Julian Maple C
Marcus Siqueira E Mario Ferraro ** C
Thiago Diniz C Matheus Bitondi C
Vitor Ramirez C Paulo Raposo C
Emanuel Cordeiro C Raul do Valle E
PA 2
Valério Fiel da Costa E Rodolfo Coelho de Souza E
Eli-Eri Moura E Sérgio Kafejian C
Marcílio Onofre E Silvio Ferraz E
PB 4
Sam Cavalcanti C TOTAL 64
Ticiano Rocha C
 PE Marlos Nobre E 1
Observações:
Alexandre Ficagna C
PR Jocy de Oliveira E 3 1) Na primeira linha da terceira coluna: “C” indica compo-
sitor que teve obra(s) vencedora(s) no Prêmio Funarte
Tauan Gonzales Sposito C
de Composição Clássica 2014 (ter Tabela A); “E” indica
Cadu Verdan C compositor que recebeu encomenda de obra (ver Tabela
Caio Márcio dos Santos C B);
Edino Krieger E 2) O Estado informado é o de nascimento do compositor, e
Edson Zampronha E não o de sua residência ou formação musical;
Jorge Antunes E 3) Rio de Janeiro e São Paulo têm a maior quantidade de
Marcos Lucas E compositores por serem os centros com maior tradição
no ensino de música; os Estados não representados es-
Marisa Rezende E
RJ 14 tão na situação inversa;
Mauricio Dottori C
4) Assinalado com asterisco ( * ), o compositor João Pedro
Nikolai Brucher C Oliveira, nascido em Portugal, é professor de composi-
Pauxy Gentil-Nunes E ção na Universidade Federal de Minas Gerais.
Ricardo Tacuchian E ** Os dois compositores assinalados tiveram duas obras
Roberto Victório E vencedoras no Prêmio Funarte de Composiçao Clássica
Ronaldo Miranda E 2014. O total de 64 compositores é, portanto, inferior ao
total de obras concursadas e encomendadas para essa
Roseane Yampolschi C XXI Bienal, que é de 66.

39
Tabela D
Participação de 439 compositores
nas 21 Bienais de Música Brasileira Contemporânea
(a segunda coluna informa a quantidade de Bienais e de obras por compositor)

Acácio Piedade 1 Bruno T. Ruviaro 4 Edmundo Villani-Côrtes 8 Gerson Grunblatt 1


Agnaldo Ribeiro 13 Bryan Holmes 1 Edson Gianesi 1 Gilberto Carvalho 2
Alberto Nepomuceno 2 Cacilda Borges Barbosa* 1 Edson Tadeu 1 Gilberto Mendes 15
Alceo Bocchino 1 Cadu Verdan** 1 Edson Zampronha 8 Gilson Beck 3
Alda de Oliveira 4 Caio Márcio dos Santos** 1 Eduardo Bertola 3 Gisele Galhardo 1
Alessandro Ferreira 1 Caio Pierangeli 2 Eduardo Camenietzky 1 Guilherme Alencar Pinto 1
Alex Kantorowicz 1 Caio Senna 8 Eduardo Campolina 2 Guilherme Barroso 1
Alexandre Birnfeld 1 Calimério Soares* 5 Eduardo Campos 1 Guilherme Bauer 19
Alexandre Eisenberg 4 Camargo Guarnieri* 13 Eduardo Escalante 5 Guilherme Bernstein Seixas 3
Alexandre Espinheira 2 Carlos Almada 7 Eduardo Farias 3 Guilherme dos Santos 1
Alexandre Fenerich 2 Carlos César Belém 2 Eduardo G. Alvares* 11 Guilherme Hermolin 1
Alexandre Ficagna 2 Carlos Cruz* 12 Eduardo Miranda 1 Guilherme Milagres 1
Alexandre Fracalanza 1 Carlos dos Santos 2 Eduardo Ribeiro 1 Guilherme Nascimento 1
Alexandre Lunsqui 3 Carlos Galvão 1 Eduardo Seincman 4 Guilherme Paoliello 1
Alexandre Rachid 1 Carlos Henrique Pereira 1 Egberto Gismonti 3 Guilherme Vaz 2
Alexandre Sanches 1 Carlos Stasi 2 Elaine Thomazi Freitas 4 Guillherme Bertissolo 2
Alexandre Schubert 7 Carmo Bartoloni 1 Eli-Eri Moura 11 Gustavo Alfaix 1
Alfredo Barros 6 Celso Aguiar 2 Emanuel Cordeiro** 1 Gustavo Campos Guerreiro 1
Almeida Prado 17 Celso Loureiro Chaves 2 Emanuel Pimenta 1 Gustavo Penha 2
Alusio Didier 1 Celso Mojola 5 Emílio Terraza* 4 Gustavo S. de Souza 1
Amaral Vieira 2 César de M. Haddad 1 Ernani Aguiar 9 Guto Caminhoto 3
Ana Lucia Fontenele 1 César Guerra-Peixe* 12 Ernesto Hartmann 2 H. Dawid Korenchendler 17
Andersen Vianna 4 Chico Mello 3 Ernesto Nazareth* 1 H. J. Koellreutter* 13
André Martins 2 Christian Benvenuti 1 Ernst Mahle 17 Hans. Juergen Ludwig 1
André Pelágio Bessa 1 Cirlei de Hollanda 9 Ernst Widmer* 10 Harold Emert 1
André Vidal 1 Cláudia Alvarenga 1 Estércio Marques Cunha 3 Harry Crowl 11
Angélica Faria 5 Cláudia C. Branco 2 Esther Scliar* 2 Heber Schuneman 3
Antônio Borges-Cunha 5 Cláudia C. Simões 1 Eunice Katunda* 3 Heitor Alimonda* 4
Antônio Guerreiro 5 Cláudio Luz do Val 2 Fabia Ricci 1 Heitor Oliveira 1
Antônio Jardim 6 Cláudio Santoro* 12 Fábio Adour 1 Heitor Villa-Lobos* 2
Antônio Ribeiro 3 Clayton Mamedes 1 Fábio Bizzoni 2 Hélcio Müller 1
Antônio Valente 1 Clayton Ribeiro** 1 Fabio Costa 1 Helder Oliveira 1
Aquiles Guimarães** 1 Conrado Silva* 2 Fabio del A. Taveira 1 Hélio Bacelar Viana 1
Aquiles Pantaleão 6 Cristiano Figueiró 1 Fausto Borém 1 Hélio Ziskind 1
Armando Albuquerque* 5 Cristiano Melli 1 Felipe de Almeida Ribeiro 1 Henderson Rodrigues** 1
Armando Lobo 2 Cristina Dignart 2 Felipe Kirst Adami 1 Henrique Autran Dourado 2
Arnaldo di Pace 1 Cyro Delvizio 1 Felipe Lara 4 Henrique Iwao 1
Arrigo Barnabé 1 Daniel Barreiro 1 Felipe M. Castellani 2 Henrique Morozowicz* 9
Arthur Bosmans* 1 Daniel Havens 1 Felipe Pagliato 1 Henrique Vieira 1
Arthur Kampela 7 Daniel Moreira 1 Fernando Ariani 6 Hubertus Hofmann* 2
Arthur Rinaldi 1 Daniel Puig 3 Fernando Cerqueira 10 Hudson Lacerda 1
Ascendino T. Nogueira* 3 Daniel Quaranta 4 Fernando Iazzeta 7 Ignácio de Campos 3
Augusto Valente 2 Daniel Serale 1 Fernando Kozu 2 Igor Lintz-Maués 2
Aurélio Edler Copes 1 Daniel Vargas 2 Fernando Riederer 2 Igor Maia 1
Aylton Escobar 9 Danilo Valadão 1 Flávio Santos Pereira 3 Ilza Nogueira 4
Berthold Tuerke 1 Danniel Ferraz 2 Fliblio Ferreira** 1 Ivan Eiji Simurra 2
Beth Alamino 1 Denise Garcia 4 Flo Menezes 5 Ivan Papargerius 1
Brasílio Itiberê* 2 Dennys Walsh 1 Francisco Mignone* 9 J. Orlando Alves 7
Brenno Blauth* 8 Didier Gigue 4 Fred Carrilho 5 Jaceguay Lins* 4
Bruno Angelo 4 Diego Silveira 1 Frederico Richter 3 Jailton de Oliveira 2
Bruno Kieffer* 7 Dimitri Cervo 3 Frutuoso Vianna* 1 Jamary de Oliveira 4
Bruno Martagão 1 Diogo Ahmed 2 George Randolph 1 James Correa 4
Bruno Py 1 Edgard Felipe 1 Geraldo Magela 1 Jamil Maluf 1
Bruno Speranza 1 Edino Krieger 14 Germán Gras 1 Januibe Tejera 4
40
Jean-Pirre Caron 1 Marcelo Conduru 2 Otávio Soares Brandão 1 Rufo Herrera 5
João Carlos Dalgalarrondo 3 Marcelo Malta 1 Pablo Aldunate 1 Ruy Brasileiro Borges 1
João de Souza Lima* 1 Marcelo Ohara 1 Pablo Castelar 1 Salomão Habib 1
João Guilherme Ripper 13 Marcelo Rauta 2 Pablo Panaro 1 Sam Cavalcanti** 1
João Mendes* 5 Marcílio Onofre 4 Patrícia Regadas 1 Samuel Peruzzolo-Vieira 1
João Pedro Oliveira** 1 Marcílio Rufino dos Santos 1 Paulo César Santana 1 Sérgio Assad 1
João Svidzinski 1 Márcio Bartallini Conrad 2 Paulo Chagas 5 Sérgio Barboza de Souza 1
João Victor Bota 1 Márcio Cortes 1 Paulo Costa Lima 13 Sérgio Brandão 1
Jocy de Oliveira 18 Marco Feitosa 2 Paulo Dantas 3 Sérgio Canedo 1
Joélio Luis Santos 1 Marcos Branda Lacerda 2 Paulo de Tarso Salles 3 Sérgio di Sabbato 5
Jonatas Manzolli 3 Marcos Câmara 3 Paulo Guicheney 4 Sérgio Freire 4
Jorge Antunes 17 Marcos Campello 1 Paulo Libânio 2 Sérgio Guimarães 1
Jorge Meletti 3 Marcos da Silva 1 Paulo Raposo 3 Sérgio Igor Chnee 2
José Alberto Kaplan* 10 Marcos Lozano 1 Paulo Rios Filho 3 Sérgio Kafejian 2
José Augusto Mannis 8 Marcos Lucas 8 Pauxy Gentil-Nunes 14 Sérgio Roberto de Oliveira 3
José Penalva* 4 Marcos Mesquita 6 Pedro Augusto Dias 6 Sergio Rojas 2
José Rafael Valle 1 Marcos Nogueira 7 Pedro Kröger 4 Sérgio Vasconcellos-Correa 13
José Siqueira* 8 Marcos Silva Ramos 1 Peter Schuback 1 Sílvia Berg 1
José Vieira Brandão* 3 Marcos Steuernagel 1 Potiguara Menezes 1 Sílvia de Lucca 4
Julian Maple** 1 Marcus Alessi Bittencourt 3 Radamés Gnattali* 7 Silvio Ferraz 12
Juliano Valle 2 Marcus Ferrer 4 Rael B. Gimenes 1 Siri (Ricardo Mattos) 1
Juracy Cardoso 1 Marcus Siqueira 7 Rafael Bezerra 1 Tadeu Taffarelo 1
Kilza Setti 3 Maria Helena da Costa 2 Rafael Nassif 2 Tania Lanfer Marquez 1
Lau Medeiros 1 Maria Helena R. Fernandes 12 Randolf Miguel 1 Tatiana Catanzaro 2
Leandro Turano 1 Maria Ignez Cruz Mello 1 Raphael Baptista* 1 Tato Taborda 14
Lelo Nazário 1 Mário Ferraro 6 Raul do Valle 19 Tauan Gonzalez Sposito** 1
Leo Vieira 1 Mário Ficarelli* 21 Renato Godoy 1 Teresa Fagundes 6
Leonardo de Assis Nunes 2 Mário Tavares* 5 Renato Vasconcelos 1 Thiago Diniz** 1
Leonardo Fuks 2 Marisa Rezende 17 Ricardo Rapopport 1 Thiago Sias 2
Leonardo Martinelli 1 Marlos Nobre 12 Ricardo Szpilman 1 Ticiano Rocha 2
Leonardo Sá* 5 Martin Hauser 1 Ricardo Tacuchian 21 Tim Rescala 15
Liduíno Pitombeiraa 7 Martin Herraiz 1 Roberto Macedo Ribeiro 3 Vagner Bonella Cunha 2
Lindembergue Cardoso* 10 Matheus Bitondi 3 Roberto Toscano 1 Valéria Bonafé 1
Lindolfo Bicalho 2 Maurício de Bonis 3 Roberto Victório 17 Valério Fiel da Costa 3
Lívio Tragtenberg 4 Maurício Dottori 5 Roberto Vota 1 Vanda Freire 2
Lourdes Saraiva 2 Maurício R. de Vasconcelos 1 Rodolfo Caesar 12 Vânia Dantas Leite 12
Lourival Silvestre 7 Michelle Agnes 1 Rodolfo Coelho de Souza 14 Vera Terra 4
Lucas Duarte Neves 2 Miguel Kertsman 1 Rodolfo Richter 1 Vicente Alexim 1
Luciano Cardoso 1 Miguel Praguer Coelho 2 Rodolfo Vaz Valente 1 Victor Lazzarini 2
Luciano Leite Barbosa 1 Murillo Santos 20 Rodrigo A. Muniagurria 1 Vinícius Calviti 2
Lúcio Zandonadi 1 Mylson Joazeiro 1 Rodrigo Cichelli Veloso 10 Vinicius Giusti 1
Lucius Mota 1 Natan Ourives 1 Rodrigo Garcia 1 Vitor Ramirez** 1
Luigi A. Irlandini 9 Nayla Barros 1 Rodrigo Lima 3 Waldemar M. Reis 2
Luis Carlos Vinholes 3 Neder Nassaro 6 Rodrigo Marconi 1 Walter Smetak 1
Luis Felipe Damiani 1 Nelsindo de Moraes 1 Rodrigo Vitta 1 Washington Denuzzo 2
Luis Passos 1 Nelson de Macedo 9 Rogério Borda 1 Welligton Sousa 1
Luiz Carlos Csekö 15 Nelson Salomé 1 Rogério Constante 1 Wellington Gomes 11
Luiz Cosme* 1 Nestor de H. Cavalcanti 17 Rogério Costa 3 Wenceslau Moreira 1
Luiz E. Castelões P. Silva 2 Ney Rosauro 1 Rogério Krieger 2 Willy Correa de Oliveira 8
Luiz Gonçalves 1 Nikolai Brucher 5 Rogério Vasconcelos 3 Xico Chaves 1
Madalena Bernardes 1 Nilson Lombardi* 1 Ronaldo Miranda 18 Yahn Wagner 3
Manuel Falleiros 1 Norton Dudeque 1 Rosane Almeida 1 Yanto Laitano 3
Marcelo Birk 2 Odemar Brígido 9 Roseane Yampolschi 8 Yaskara Tonin 1
Marcelo Bittencourt 1 Oiliam Lana 2 Rubens Ricciardi 2 Yuri Prado 1
Marcelo Carneiro de Lima 5 Olivier Toni 1 Rubens Tubenchlack 2 Zoltan Paulinyi 2
Marcelo Chiaretti 1 Osvaldo Lacerda* 13 Rudá Brauns 1 Total de obras 1598

* Compositores falecidos
** C ompositores apresentados pela primeira vez em Bienal

41
Radio MEC
A Rádio MEC, desde sua fundação, teve a música clás- do acervo da emissora, e foram fundamentais para o re-
sica como base de sua programação musical. Alguns de gistro de diversas obras de compositores brasileiros. Mui-
seus programas fazem parte da história da música bra- tas dessas gravações foram transcritas para LPs e para
sileira, como Música e Músicos do Brasil, no ar há mais CDs, pela Funarte e pela Associação de Amigos da Rádio
de 50 anos. Esse perfil foi herdado pela MEC FM, que MEC. Está planejada a digitalização e disponibilização do
há 30 anos veicula gravações e programas ao vivo com acervo da emissora.
nossos mais importantes compositores e intérpretes. Espaço desde sempre aberto para a difusão da mú-
A lista de encontros e tangências pode começar com sica − em especial da brasileira −, a Rádio MEC FM
o maestro Edino Krieger, criador das Bienais, que por mui- está presente nessa XX Bienal mediante a organização
tos anos foi produtor atuante na emissora. De sua atua- de programas especiais trazendo as obras apresenta-
ção como divulgador de obras de compositores brasilei- das em eventos passados e, de novembro a dezembro
ros, destacam-se, entre outras realizações, a produção do próximos, as ouvidas na atual Bienal.
programa Música Viva, com H. J. Koellreutter, desde os Acessos: por e-mail − ouvinte@radiomec.com.br; pela
anos 1940; a criação da Orquestra Sinfônica Nacional e as internet − www.radiomec.com.br; pelo Facebook −ht-
gravações por ela realizadas, que figuram como raridades tps://www.facebook.com/radiomecfm

Academia Brasileira de Música


Fundada em 14 de julho de 1945, por Heitor Villa-Lobos, codepartituras@abmusica.org.br ou acessar http://
como instituição cultural sem fins lucrativos, tem como www.abmusica.org.br/musica_instrumental.html.
objetivo principal a divulgação da música clássica brasi- • Laboratório de Digitalização: oferece aos pesqui-
leira. É composta por quarenta acadêmicos, personali- sadores o arquivo digital do manuscrito original
dades de destaque no meio musical brasileiro nas áreas do compositor; aos intérpretes, oferece o mesmo
da composição e da educação musical, da interpretação arquivo digital tratado de modo a propiciar uma lei-
e da musicologia. Por Decreto de 6 de junho de 1947, é tura cômoda, facilitando a divulgação do repertório
órgão técnico consultivo do governo federal. musical brasileiro. As obras tratadas são incorpo-
radas ao Banco de Partituras de Música Brasileira.
Trabalhos que desenvolve Sua lista pode ser acessada pelo link http://www.
• Bibliografia Musical Brasileira: banco de dados on- abmusica.org.br/html/musicapartiturasdigitaliza-
das.html. Para mais informações, escrever para
line que reúne cerca de 120.000 informações so-
bancodepartituras@abmusica.org.br.
bre música brasileira, publicadas no Brasil ou no
• Selo ABM Editorial: voltado para a música brasilei-
exterior, e sobre a produção musicológica de brasi-
ra, compreende 20 livros, 17 catálogos de obrasde
leiros. Para consultar ou cadastrar publicações, es- compositores, 35 títulos de CDs do Selo ABM di-
crever para bibliografia@abmusica.org.br ou aces- gital e os 29 números impressos da revista Bra-
sar http://www.abmusica.org.br/html/bmb.html. siliana, que terá continuidade em formato digital.
• Banco de Partituras de Música Brasileira: progra- Para adquirir tais produtos, acessar http://www.
ma de editoração eletrônica de música brasileira, abmusica.org.br/html/livros.htmle http://www.ab-
que também incorpora obras já editoradas. Dispo- musica.org.br/html/cds.html, ou contatar vendas@
nibiliza cerca de 3.500 títulos para venda de par- abmusica.org.br
tituras ou aluguel de partituras e de material de
orquestra. Para consultar os títulos disponíveis, ou Para mais informações: www.abmusica.org.br,
depositar obras nesse Banco, escrever para ban- abmusica@abmusica.org.br

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