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Nesta edição, publicamos o trabalho vencedor

do concurso da FLAQT, realizado durante o


www.abqct.com.br
XX CONGRESSO DE QUÍMICA TÊXTIL, entre os
dias 16 e 20 de novembro de 2010, em Lima,
Peru.
sumário
Edição 101

Tingimento Pág 3
Corantes reativos em
tecido de algodão

Tecidos Funcionais Pág 13


Desenvolvimento de não tecido de
poliamida aromática para a filtração
de particulados finos

Processos
Acabamento Pág 22 Solubilidade diferencial das Pág 59
O tato e os tratamentos fibras químicas de celulose
com plasma em tecidos

Qualidade 27 Produtos e
Cuidados no tratamento de limpeza
Pág
Serviços Pág 63
de tecidos e beneficiamento têxtil
são contradições?
Referências
Bibliográficas Pág 64
Efluentes Têxteis Pág 32
Reuso de efluentes têxteis gerados
por tingimentos de algodão efetuados
com corantes pretos

Preparação Pág 44
Preparação enzimática em fios de
algodão retorcido em dois cabos
Sumário | Revista Química Têxtil
Editorial
XX CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE QUÍMICA TÊXTIL
Brasileiro vencedor do Prêmio da FLAQT

Diretoria Nacional
Presidente: Evaldo Turqueti
Vice-Presidente: Lourival Santos Flor
Conforme amplamente divulgado, aconteceu em Lima, Peru, entre os dias 1º Secretário: Walter José Mota
16 e 19 de novembro, o XX Congresso Latino-Americano de Química Têxtil, 2º Secretário: Ricardo Vital de Abreu
convocado pela FLAQT e organizado, nesta oportunidade, pela Associação 1º Tesoureiro: Adir Grahl
2º Tesoureiro: João Lino Gonçalves
Peruana de Técnicos Têxteis. Diretor Técnico: Humberto Sabino da Silva

Durante o evento, foram realizadas 28 palestras técnicas e 3 painéis, além Núcleo Americana
de desfile de modas e visitas a fábricas. Na parte social, foram oferecidos Coordenador: Durval B.F. Costa
passeios para as acompanhantes dos participantes e um almoço de Vice-coordenador: João José Globo
Secretário: Izaias Ezipati
confraternização em um local típico e pitoresco, com participação de um Tesoureiro: Eduardo Junger
grande número de colegas de vários países. Suplente: José Antonio M. Lima
Suplente: Irani Monteiro
O evento contou com 711 participantes, sendo que a delegação brasileira
Núcleo Nordeste
foi a maior entre as estrangeiras, com um total de 78 componentes. Coordenador: Célia Elioni Ferreira de Carvalho
Vice-coordenador: Silvagner Adolpho Veríssimo
Tradicionalmente, a FLAQT organiza um concurso de trabalhos inéditos de Tesoureiro: Francisco Paiva Costa
pesquisas, que são apresentados através das associações membros da fede- Secretário: Milton Glavina
Suplente: Manuel Augusto Vieira
ração, e desenvolvidos por professores pesquisadores de Universidades de
cada país participante. Núcleo Santa Catarina
Coordenador Geral: João Vergilio Dias
Neste congresso, foram apresentados 12 trabalhos, sendo 4 do Brasil, 3 da Vice-coordenador: Walter Alvaro da Silva Junior
Secretário: Vitor Alexandre dos Santos
Argentina, 3 do Peru, 1 do Equador e 1 da Colômbia. Para nossa satisfação, Tesoureiro: Sérgio da Costa Vieira
o trabalho vencedor foi: “Processos de Oxidação Avançados – UV/H2O2: Suplente: André Luiz Klein da Silva
Estudo de reuso de Efluentes por Tingimento de Algodão Efetuados com Suplente: Luiz Alexandre Schneider
Corantes Pretos”, de autoria dos brasileiros JORGE MARCOS ROSA (Escola
SENAI “Francisco Matarazzo”) e ELESANDRO ANTONIO BATISTA e JOSÉ Corpo Revisor
Esta edição da Revista Química Têxtil contou com uma equipe técnica
CARLOS CURVELO SANTANA (Universidade Nove de Julho – UNINOVE). O para revisar os artigos aqui publicados.
prêmio foi entregue ao autor Jorge Marcos Rosa, durante palestra realizada A equipe é formada pelos seguintes profissionais:
em 23/11, na cidade de Americana(SP). Este artigo está publicado nesta Agostinho Pacheco
Dimas Novaes
edição da revista. Humberto Sabino
Ricardo Vital de Abreu
No Brasil, a ABQCT organizou duas palestras, sendo uma em Americana Rafael Ramos
(SP) no dia 23 de novembro, apresentada pelo Prof. Luis Ponsá, Presidente Reinaldo Ferreira

da Associação Espanhola de Químicos Têxteis, e outra em Blumenau (SC) Os autores devem enviar seus artigos para publicação
no dia 3 de março, pelo Prof. Josep Valldeperas, da Universidade Politécnica com pelo menos 3 meses de antecedência.
da Catalunha. O tema dessas palestras foi “Os Novos Caminhos da Indústria
Têxtil no Mundo”. Expediente
Química Têxtil é uma publicação da Associação Brasileira de
Químicos e Coloristas Têxteis. Os artigos publicados aqui são de inteira
Aproveitando essas duas oportunidades, a ABQCT fez o lançamento oficial responsabilidade dos seus autores. ISSN 0102-8235
do livro “TINGIMENTO TÊXTIL: FIBRAS, CONCEITOS E TECNOLOGIAS”, de Periodicidade: trimestral (março/ junho/ setembro/ dezembro)
autoria do nosso saudoso colega VIDAL SALEM, fundador e ex-presidente Distribuição: mala direta para os associados da ABQCT: indústrias têxteis,
tinturarias e entidades filiadas à FLAQT e AATCC.
da ABQCT. O livro já se encontra disponível para a venda através da ABQCT. Circulação: São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Ainda nestas ocasiões a ABQCT apresentou um esboço do curso de ensino Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará e Paraná.
a distância (EAD), que deverá estar disponivel em março de 2011.

A Diretoria da ABQCT agradece aos participantes dos eventos acima


Diretora: Simone Farah
citados, pois é isso o que engrandece nossa associação, e comunica que Jornalista Responsável: Thais Gebrim MTB 13.743
seu mandato termina neste mês (Dezembro), quando convocaremos Produtora Gráfica: Miriam Allodi
novas eleições. Financeira: Elizabeth Del Busso
Direção de Arte: Valdir Canado
Revisão: Raphael Farinazzo
Desejo aos nossos leitores um Natal cheio de paz e saúde junto com seus Ilustração: Caio Moreira
familiares e amigos e um Ano Novo repleto de realizações, tanto pessoais Imagens: Dreamstime
como profissionais. faleconosco@ambientedecriacao.com.br / www.ambientedecriacao.com.br
Rua Afonso Brás, 579, 8º andar, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, (11) 3053 3053

Impressão: IPSIS Gráfica


Evaldo Turqueti
Presidente

Administração e Departamento Comercial


Praça Flor de Linho, 44, Alphaville, 06453-000, Barueri, SP
11-4195 4931 / Fax 11-4191 9774 / abqct@abqct.com.br
Tingimento

CORANTES REATIVOS EM TECIDO DE ALGODÃO

Autores:
C. M. Moraes (cm.moraes@yahoo.com.br)
S. P. Ravagnani (ravag@feq.unicamp.br)
E. Bittencourt (bittencourt@uol.com.br)
Universidade Estadual de Campinas
Faculdade de Engenharia Química

Revisão Técnica:
Dimas Novaes

O estudo teve como foco a melhor interação entre o corante e a fibra diretos e faturamento. Nesse sentido, o acabamento na área têxtil
visando, ao mesmo tempo, a fixação da cor e a redução de resíduos requer grande atenção pela quantidade de dejetos tóxicos gerados
industriais durante o processo de tingimento, pois são resíduos compostos de
corantes dissolvidos, porém com alta durabilidade referente à cor,
RESUMO segundo Conchon (1999) apud Zamora e Souza (2005).
O processo de tingimento destinado à área de acabamento nas As fibras têxteis podem ser divididas em dois grupos: naturais
indústrias têxteis é de relevada importância, devendo os corantes e sintéticas. Conforme Garatini e Zanoni (2000), as naturais mais
ter boa afinidade com a fibra a fim de garantir a uniformidade da utilizadas são constituídas de celulose composta de cadeias
cor. Entretanto, são eles os principais responsáveis pela poluição poliméricas lineares de glucose e proteína que são polímeros
ambiental, já que apresentam ótima durabilidade e são de difícil complexos compostos de diferentes aminoácidos, presentes na lã,
degradação natural. A melhor interação entre o corante e a fibra seda, algodão e linho, como ilustra a figura 1.1.
resulta em uma também melhor transferência de massa do
corante do banho para o tecido e garante que se atinja o grau de Figura 1.1 – Celulose natural e proteína
esgotamento total do processo.
Com o objetivo de estudar a afinidade corante/fibra durante
o processo de fixação, através de ensaios tintoriais experimentais
foi possível determinar as curvas de concentrações de corante/
tempo sobre o grau de esgotamento total, tanto para o corante
presente no banho, quanto para a cor adquirida pelo tecido,
correlacionando-os com as variáveis do processo.
Constatou-se uma linearidade entre as concentrações dos corantes
nos banhos residuais e as dos corantes absorvidos pelas fibras.
As correlações dos dados experimentais foram obtidas com os
corantes tintos a frio representando o processo para estabelecer a
quantidade adsorvida pela fibra têxtil.

1. INTRODUÇÃO
A indústria têxtil desempenha papel importante na economia de
muitos países. No Brasil, destaca-se entre os oito principais setores da
atividade industrial, ocupando os primeiros lugares em empregos

Tingimento | Revista Química Têxtil 3


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Revista Química Têxtil |


Para uma fibra, em particular, a mobilidade das cadeias moleculares comprimento, desde curtas (4mm), denominadas línter, até longas
se caracteriza pela transição de segunda ordem, ou seja, a (60mm).
temperatura de transição vítrea (Tg). As mudanças que ocorrem na
região da Tg e acima dela afetam a capacidade de tingimento dessa 1.2 CORANTE
fibra, aumentando a acessibilidade das regiões não cristalinas por Conforme Maluf et al. (1996), os corantes atualmente sintéticos
meio do aumento da movimentação dos segmentos nas cadeias são compostos orgânicos complexos e, quando aplicados às fibras
poliméricas. têxteis, têm a habilidade de criar certa cor. Assim, substâncias que
À medida que a temperatura sobe, o movimento dos segmentos possuem cromóforos (Azo, Nitro, Nitroso) em diferentes arranjos
aumenta, até que os espaços produzidos sejam iguais em tamanho produzem a sensação de diversas tonalidades de cor. Embora os
ao segmento da cadeia, aumentando, assim, o volume livre, cromóforos forneçam cores às substâncias, a intensidade ou o brilho
acessível para a difusão do corante, de acordo com Bird (1975). da cor depende da presença de um ou mais produtos químicos,
O processo de tingimento é a etapa de acabamento, ou etapa final, e denominados Auxicromos (Amino, Carboxílicos, Hidroxílicos).
agrega valores ao produto acabado pronto para ser comercializado. As cores dos corantes resultam da absorção da radiação
Algumas características são levadas em consideração perante o eletromagnética na faixa da luz visível pelos compostos. Cada cor
consumidor, como o alto grau de fixação dos corantes em relação à está relacionada com seu comprimento de onda já determinado.
luz, à lavagem e à transpiração. Somente compostos com várias ligações duplas conjugadas na sua
Para ter um grande aproveitamento tintorial corante/fibra, estrutura química são capazes de absorver radiação na faixa do
devem ser consideradas a natureza da fibra têxtil, as características visível e é pela frequência e maneira como ocorre a absorção da luz
estruturais, a classificação e as propriedades de fixação compatíveis, que se define a cor do composto. A cor observada é complementar
entre outras. à cor absorvida. E, quanto mais estreita for a faixa de absorção, mais
É estimado que um bilhão de quilogramas de corantes são brilhante e intensa será a cor observada, conforme citado por Ciba
produzidos anualmente no mundo, dos quais 70% pertencem (2001).
à classe dos corantes Azo (-N-N-). Contudo, cerca de um a dois A facilidade de penetração dos corantes em uma fibra depende da
milhões de quilogramas são descartados no meio ambiente devido interação fibra/água. As fibras hidrofílicas contêm grupos polares,
às moléculas de corantes não fixadas à fibra durante o tingimento que ionizam em água e têm uma proporção relativamente alta de
(Allen, 2003). regiões amorfas, o que aumenta a sua acessibilidade aos corantes.
Para prevenir o desperdício de água e minimizar a quantidade de Os corantes penetram nas fibras têxteis podendo reagir ou não
resíduos provenientes dos processos de tingimento que agridem o com elas durante o processo de tingimento.
meio ambiente, os corantes precisam ter uma boa afinidade com Os componentes têxteis que controlam a fixação da molécula
a fibra a ser tinta, na qual deve se fixar e não desbotar em cromofórica no substrato são a base para que ocorra a divisão dos
lavagens sucessivas, garantindo um tingimento equalizado. corantes têxteis em categorias, sendo que, para cada tipo de fibra,
De um modo geral, a retenção das partículas do corante pelas existe uma classe de corantes correspondente. Por estrutura, os
fibras do tecido envolve várias forças atrativas, como interações corantes são classificados em: Reativos, Diretos, Azóicos, Ácidos, à
iônicas, forças de Van der Waals, pontes de hidrogênio e, no caso Cuba, de Enxofre, Dispersos e Pré-metalizados, entre outros.
dos corantes reativos, as ligações covalentes. Existem vários tipos de corantes reativos, contudo, os principais
Os corantes reativos são conhecidos no ramo têxtil devido às contêm a função Azo e Antraquinona como grupos cromóforos
excelentes propriedades de brilho e solidez e dominam o mercado e os grupos Clorotriazinila e Sulfatoetilsulfona como grupos
para o tingimento e estamparia de algodão, conforme Bonan e reativos. Nesses corantes, a reação química se processa através da
Koroishi (2002). substituição direta do grupo nucleofílico pelo grupo hidroxila da
Portanto, para minimizar a quantidade de resíduo industrial e a celulose, segundo Garatini e Zanoni (2000) e Lee (2006).
porcentagem de corante presente no banho de tingimento, faz-se A etapa de fixação é definida pelo estabelecimento de uma
necessária a otimização da fixação do corante nas fibras através de ligação covalente entre o corante e a fibra, que confere maior
estudos que determinam as condições ideais do processo. estabilidade à cor do tecido quando comparado a outros tipos de
O cenário do Brasil para os próximos anos será de escassez de corantes em que o processo de coloração resulta de ligações de
água e energia, valorização da mão de obra e mais investimentos maior intensidade, conforme apresenta a figura 1.2.
na modernização industrial e otimização de processos. Os sistemas
de produção deverão proporcionar respostas rápidas às demandas Figura 1.2 – Interação corante/fibra
do mercado. Será também dada mais ênfase à higiene e segurança
do trabalho e à proteção ambiental.

1.1 ALGODÃO
A fibra de algodão é um pelo que se desenvolve de uma única
célula epidérmica do tegumento externo da semente, sendo um
tricoma. É obtida a partir dos frutos de algumas espécies do gênero
Gossypium da família da Malvácea. Portanto, os corantes devem ser capazes de se difundir nas fibras
De acordo com Maluf e Kolbe (2003), as fibras podem variar em nas condições de tingimento.

Tingimento | Revista Química Têxtil 5


1.3 TINGIMENTO
Durante o tingimento, as moléculas do corante se difundem de Durante o tingimento por Esgotamento, os corantes reativos
alguma forma na fase externa, geralmente aquosa, para dentro da são aplicados adicionando-se NaOH ou Na2CO3 para alcalinizar
fibra. Como as regiões cristalinas são de difícil penetração, mesmo o banho e proporcionar à penetração mais fixação do corante
para a água, é importante a relação regiões cristalinas/regiões na fibra. No término do processo de tingimento, algo entre 70%
amorfas no processo. Quanto mais perfeito for o alinhamento das e 80% do corante está fixado na fibra e o restante é considerado
cadeias do polímero ao longo do eixo da fibra, tanto mais ela é hidrolisado, que está substantivamente montado e difundido
orientada e, consequentemente, mais difícil será a penetração do na fibra celulósica. Para obter um tingimento com boa solidez,
corante, principalmente se a molécula for grande, conforme citado deve-se eliminar por completo o hidrolisado através de enxágue
por Clarke (1977). e ensaboamento com auxílio de um detergente, de acordo com
De acordo com Aspland et al. (1980), o caráter iônico das fibras Salem (2000).
influencia fortemente o seu tingimento. Se as cadeias do polímero Atualmente, o tingimento reativo é uma especialidade cuja chave é
das fibras tiverem, ou forem induzidas a ter, cargas iônicas por meio o conhecimento técnico e a compreensão dos processos. Conforme
da seleção adequada das condições do banho de tingimento, serão M. Furrer, apud Clariant (2005), os aspectos mais importantes para
potencialmente capazes de interagir com cargas opostas dos íons um melhor tingimento reativo são: Substantividade, Migração,
coloridos. Esgotamento, Fixação, Comportamento na lavagem posterior,
Adicionalmente, os parâmetros do processo de tingimento – em Reatividade, Penetração e Difusão.
particular, o pH, a força iônica e a temperatura – influenciam a Para um melhor tingimento, antes da adição do álcali deve-
interação corante/fibra. se sempre comparar a fase de Migração, que é o movimento
Além dessa relação, deve-se estabelecer o tipo do processo de (equalização) do corante, com a fase de Substantividade, que,
tingimento a ser realizado – Contínuo (Semicontínuo) ou por antes da adição do álcali, revela a quantidade de corante presente
Esgotamento (Descontínuo). Quase todos os processos podem ser no material têxtil, interpretada em função da temperatura. O
divididos em duas partes principais, que são a aplicação da solução esgotamento do corante mostra o máximo de corante fixado ou
do corante seguida pela sua fixação. não na fibra, porém, nunca pode ser mais alto do que o valor de
No processo por Esgotamento, o corante se desloca do banho esgotamento total. A reatividade é uma função do álcali, ou seja,
para a fibra, sendo o banho várias vezes mais volumoso em relação quanto maior é a adição do álcali, mais rapidamente se processa a
ao peso do substrato. fixação, conforme ilustra a figura 1.4.
Três etapas são consideradas importantes no processo de
tingimento: a montagem, a fixação e o tratamento final. Os Figura 1.4 – Curvas de esgotamento e fixação
tingimentos podem ser realizados em banhos chamados frios
(mornos) ou quentes.
Segundo Salem (2000), a reatividade de um corante é função
do seu grupo reativo. A escolha de um corante depende de
alguns parâmetros, como o substrato, o maquinário, o sistema de
automação e o tipo de processo (Contínuo ou por Esgotamento).
A figura 1.3 apresenta os principais grupos reativos dos corantes
para os tingimentos a quente e a frio.

Figura 1.3 – Escala de reatividade

Fonte: Salem, 2000 Fonte: Salem, 2000

6 Revista Química Têxtil | Tingimento


1.4 PRINCÍPIOS TEÓRICOS DO TINGIMENTO COM Tabela 1.1 – Quantidades de Cloreto de Sódio e Carbonato de Sódio
CORANTES REATIVOS
Segundo Salem (2000), os corantes reativos reagem com grupos
hidroxílicos da celulose e, para que isso ocorra, há a necessidade da
ionização desta última:

Existem duas razões para a adição de álcali no processo de


tingimento: a ionização da celulose e a neutralização do ácido Por último, completou-se com água, totalizando um banho de
formado durante a reação. 25mL cada, uma vez que foi trabalhada a relação de banho de 1:5,
Durante o tingimento, ocorrem duas reações em meio alcalino, a menor possível, e amostra de tecido de 5g. O tecido utilizado
uma desejável, com a fibra, e outra indesejável, porém inevitável, consiste de uma tela de gramatura 405g/m2, 100% algodão
com a água. Elas se distinguem em reação por Substituição e cardado, de título Ne 4/1 OET para a Trama e 8/2 OET para o
reação por Adição. Urdume, fornecido pela empresa Maliber Ltda., pronto para tingir,
A reação por Substituição se dá quando o grupo reativo do corante ou seja, alvejado. A tabela 1.2 mostra os corantes e as respectivas
é portador de um ou mais átomos de Cloro ou de Flúor. Exemplos: condições de processo.
Corantes de Monoclorotriazina, Diclorotriazina, Tricloropiridina,
Diflúor e Monocloropiridina, entre outros. A reação por Adição Tabela 1.2 – Condições para cada processo de tingimento e respectivo corante
ocorre quando se trata de um corante Vinilsulfônico.
No processo de tingimento com corante reativo, devem ser
estabelecidas condições que maximizam o rendimento da reação
com a fibra e, consequentemente, minimizam a reação com a água.

2. PARTE EXPERIMENTAL
2.1 CORANTES E REAGENTES
Os corantes azul-marinho Bezaktiv S-MAX e azul-marinho Bezaktiv
S-LF, da indústria química CHT, e os corantes azul-marinho Drimaren
CL-R e azul-marinho Drimaren X/GN 150%, da indústria Clariant, 2.2 PROCEDIMENTOS
foram dissolvidos em soluções aquosas na proporção de 100mL de Nos ensaios, foram utilizadas amostras de tecidos, corantes
água para 1g de corante cada. Depois, pegou-se uma alíquota de e reagentes da mesma procedência, assim como o mesmo
2,5mL de cada solução, pois se trabalhou com uma concentração equipamento, a fim de garantir a melhor reprodutibilidade do
de corante igual a 0,5%. processo.
Nos ensaios experimentais, além dos corantes, foram adicionados Todos os ensaios foram realizados em uma máquina laboratorial
aos banhos de tingimentos Cloreto de Sódio – NaCl (sal) e Carbonato semelhante ao modelo HT MATS, com capacidade para doze tubos,
de Sódio – Na2CO3 (barrilha) para melhor fixação e migração. As que simula o tingimento experimental em grande escala.
quantidades desses reagentes foram estipuladas pelos respectivos O procedimento do equipamento consiste em um banho de
fabricantes, de acordo com a proporção de corante usada em cada glicerina, na qual todo o preparo do tingimento e a amostra
tingimento. A tabela 1.1 mostra as quantidades utilizadas de Cloreto de tecido são colocados dentro de um tubo de ferro fechado
de Sódio e Carbonato de Sódio aquosas na proporção de 100mL de individualmente, que, por último, é posto na máquina à
água para 1g de corante cada. Depois, pegou-se uma alíquota de temperatura desejada e constante agitação.
2,5mL de cada solução, pois se trabalhou com uma concentração As amostras dos banhos foram coletadas em intervalos de 5
de corante igual a 0,5%. minutos até atingir o tempo total de 45 minutos, com triplicatas,
Nos ensaios experimentais, além dos corantes, foram adicionados trabalhando-se com uma concentração ≤ 0,5% de corante sem
aos banhos de tingimentos Cloreto de Sódio – NaCl (sal) e Carbonato adição de Soda Cáustica. O mesmo foi feito com os tecidos.
de Sódio – Na2CO3 (barrilha) para melhor fixação e migração. As Para as soluções (banhos), os espectros de absorção na
quantidades desses reagentes foram estipuladas pelos respectivos região VIS foram registrados em espectrofotômetro DU-650
fabricantes, de acordo com a proporção de corante usada em Spectrophotometer, da Beckman; para os tecidos, as concentrações
cada tingimento. A tabela 1.1 mostra as quantidades utilizadas de de cor foram determinadas pelo Método de Colorimetria, com o
Cloreto de Sódio e Carbonato de Sódio. aparelho Spectraflash SF-600, da Datacolor.

Tingimento | Revista Química Têxtil 7


3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.2 CORRELAÇÕES
3.1 ENSAIOS DE TINGIMENTOS Foram propostas correlações para representar o comportamento
Nos quatro ensaios de tingimentos, percebeu-se um dos tingimentos para os corantes tintos a frio, onde se tem uma
comportamento similar entre os corantes por meio das curvas de reação mais efetiva com a celulose, comparado com o tingimento
concentrações. a quente.
Constatou-se o esgotamento total dos corantes durante todo Essas correlações serão determinadas com base nos dados
o processo dos banhos de tingimentos, uma vez que no final experimentais de concentrações dos corantes na solução e no
dos experimentos, praticamente a concentração de corante tecido em função do corante, tempo e a interação entre corante e
permaneceu constante para cada um dos corantes, conforme tempo, como descrito na equação 3.1:
apresenta o Gráfico 3.1: Eq 3.1
Correlação = A + B.corante + C .tempo.corante.tempo
Gráfico 3.1 – Concentrações (solução) / Tempos dos quatro corantes
Foram propostas correlações para representar o comportamento
dos tingimentos para os corantes BEZAKTIV S–MAX e Marinho Dri-
maren CL–R, escolhidos por serem classificados para o tingimento
a frio, através da Eq.1.1 já mencionada.
Para representar os dados correlacionados, foi preciso dividí-los
em níveis, da mesma forma utilizada no planejamento experimen-
tal, sendo o corante BEZAKTIV S-MAX representado como nível -1,
e o corante Drimaren CL-R como nível 1, para conseguir determinar
as correlações.
O estudo das correlações foi executado em duas partes do pro-
cesso de tingimento, devido à fase de Substantividade, sendo a pri-
meira nos primeiros vinte minutos de tingimento, onde ocorreu a
difusão e a segunda para os vinte e cinco minutos restantes do pro-
cesso, dada pela reação, ambos para as concentrações dos corantes
/ solução e corantes / tecido.
Entre os intervalos de tempos 20-25 minutos, verificou-se em Os valores encontrados a partir destes estudos para as correlações
todos os tingimentos um pico referente à etapa de Substantividade. corantes / solução (g/mL) e corantes / tecido (%) com corante, tem-
Nos tempos de 0-20 minutos, com a adição do Cloreto de Sódio, que po (min) e interação corante e tempo para os 20 primeiros minutos
atua como eletrólito, os corantes montam na fibra, ocorrendo os e 25 minutos restantes são descritos respectivamente nas Eqs 3.2
fenômenos de difusão, e a adição do álcali Carbonato de Sódio, que a 3.5.
também atua como eletrólito, provoca um esgotamento adicional
dos corantes, tornando mais eficiente sua fixação, uma vez que, Concentrações de corantes na solução
entre os primeiros 20 minutos, os corantes montam somente na Eq 3.2
superfície, sem reagir com a fibra, como se estivesse em constante Correlação = 0,3608 ± 0,01752 + 0,02417 ± 0,01752.corante -
movimentação do banho com a fibra, se difundindo mediante a 0,01560 ± 0,001278.tempo + 6,667.10-5 ± 1,28.10-3.corante.tempo
Eq 3.3
temperatura. Nas curvas de concentrações dos corantes no tecido
Correlação = 0,2485 ± 0,01822 + 0,02550 ± 0,01822.corante -
(Cor), os resultados mostram que as interações corantes/solução 0,004100 ± 0,0005102.tempo + 1,667.10-4 ± 5,102.10-4.
e corantes/fibra são inversamente proporcionais, confirmando os corante.tempo
tingimentos. O Gráfico 3.2 mostra as curvas de concentrações da cor
no tecido para cada corante, com um grau médio de Substantividade Concentrações de cor no tecido
de 85%, comprovando que os tingimentos foram efetivos. Eq. 3.4
Correlação = 1,395 ± 5,550 - 7,105 ± 5,550.corante + 5,221 ±0,4053.
tempo + 0,3615 ± 0,4053.corante.tempo
Gráfico 3.2 – Concentrações (tecido)/Tempos dos quatro corantes

Tingimento | Revista Química Têxtil 9


Eq. 3.5 Gráfico 3.4 - Concentrações de corantes na solução versus tempos e corantes
Correlação = 33,88 ± 3,174 - 14,92 ± 3,174.corante + 1,512 ± (25 minutos restantes), sendo (a) para corante -1 e (b) para corante 1
0,08888.tempo + 0,3119 ± 0,08888.corante.tempo

Contudo, como podemos observar pelas equações 3.2 e 3.3, a


interação corante.tempo pode ser considerada nula, pois não
tem significado físico uma vez que, quando aplicados os desvios
encontrados, assume valor zero. Assim sendo, para a correlação
dos corantes na solução desconsiderando a interação corante.
tempo, temos as seguintes novas equações:

Eq. 3.6
Correlação = 0,3608 ± 0,01707 + 0,02500 ± 0,006967.corante -
0,01560 ± 0,001246.tempo
Eq. 3.7
Correlação = 0,2485 ± 0,01796 + 0,01967 ± 0,003557.corante -
0,004100 ± 0,0005030.tempo

Os gráficos 3.3 e 3.4 mostram o efeito da correlação, confirmando


que os valores representam adequadamente o processo.

Gráfico 3.3 - Concentrações de corantes na solução versus tempos e corantes


(primeiros 20 minutos), sendo (a) para corante -1 e (b) para corante 1

10 Revista Química Têxtil | Tingimento


Para a correlação obtida para a cor no tecido, a interação corante- Gráfico 3.6 - Cor no tecido versus tempos e corantes (25 minutos restantes),
tempo também foi desprezível nos 20 primeiros minutos do sendo (a) para corante -1 e (b) para corante 1
tingimento, obtendo-se a equação 3.8.

Eq 3.8
Correlação = 1,395 ± 5,715 - 2,586 ± 2,331.corante + 5,221 ± 0,4174.
tempo

O gráfico 3.5 apresenta os resultados obtidos.

Gráfico 3.5 - Cor no tecido versus tempos e corantes (primeiros 20 minutos),


sendo (a) para corante -1 e (b) para corante 1

4. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Os resultados atestam que todos os corantes tiveram um bom
desempenho no processo de tingimento experimental. Contudo,
para ter um esgotamento total, além da escolha adequada da
temperatura, a adição do Carbonato de Sódio é essencial para melhor
aproveitamento do corante e menor geração de resíduo industrial.
Dessa forma, com a combinação da temperatura e quantidades de
sal e barrilha adequadas e indicadas pelos fabricantes, se alcançou
um tingimento equalizado. Um estudo das correlações dos corantes
Para os 25 minutos restantes, todas as variáveis correlacionadas de destinados ao tingimento a frio foi executado, comprovando que
acordo com a Equação 3.5 resultaram em um bom ajuste entre os os resultados dos tingimentos experimentais são representados
valores simulados e experimentais. O gráfico 3.6 ilustra a correlação pela correlação proposta, tornado-se eficiente para descrever o
da cor no tecido. processo com relação ao tempo de processo de tingimento.

AGRADECIMENTOS
Capes – Concessão de bolsa de estudos, CHT – Brasil Química Ltda., Clariant, Maliber – Ind. e Com. Têxtil Ltda.

Tingimento | Revista Química Têxtil 11


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Tecidos Funcionais

DESENVOLVIMENTO DE NÃO TECIDO DE POLIAMIDA


AROMÁTICA PARA A FILTRAÇÃO DE PARTICULADOS FINOS

Autores:
Ceron, Luciano Peske1; Einloft,
Sandra Mara Oliveira1,2;
Ligabue, Rosane Angélica1,2;
Lopes, Natália Feijó2
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecno-
logia de Materiais (PGETEMA), Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Porto Alegre - RS (Brasil)
e-mail: luciano@rennertextil.com.br
2
Faculdade de Química, PUCRS
Porto Alegre - RS

Revisão Técnica:
Dimas Novaes

O estudo comparou o desempenho de um novo têxtil - não te- emissão de particulados e inflamabilidade, seguindo a NBR 13098,
cido composto de microfibra fibrilada de para-aramida e fibra de de preparação de corpos de prova para ensaios em laboratório.
meta-aramida - com o da poliamida aromática atual do mercado, a Os resultados de desempenho mostram uma retenção de filtra-
chamada meta-aramida pura ção de particulados com menos de 2,5 micros, estabilidade de alta
dimensão com durabilidade de longo prazo e maior resistência à
RESUMO chama com redução de rachaduras.
Não há nenhuma fibra natural que pode ser usada para fabricar As fibras precisam ter propriedades que ajudam a maximizar a
material filtrante apropriada para todas as situações. Em termos duração de um não tecido como elemento filtrante. Isso inclui o
de propriedades químicas, físicas e mecânicas, um meio filtrante nível adequado de temperatura e resistência mecânica e química,
de sucesso deve ser adaptado para atender aos requisitos especí- além da estabilidade dimensional.
ficos de um determinado sistema de filtragem. Em outras palavras, Todas essas avaliações foram aprovadas nesse novo têxtil, testa-
o meio filtrante ideal deve ser determinado para cada caso, sendo do em condições extremas, obtendo uma eficiência superior com-
cada aplicação escolhida individualmente. parada com outra meta-aramida pura.
Como resultado, as atividades de investigação e desenvolvimen-
to de novos têxteis para atender à área de filtração de gases quentes 1. INTRODUÇÃO
têm sido focadas na prestação de uma vasta seleção de produtos O avanço da ciência e da tecnologia têxtil para a produção de so-
de filtração de forma a satisfazer às necessidades das plantas indus- fisticadas estruturas de fibras, fios e tecidos tem sido a força motriz
triais e os protetores do meio ambiente. Em aplicações que exijam no desenvolvimento de metodologias que proporcionem determi-
resistência à chama, a estabilidade dimensional da poliamida aro- nadas qualidades dos materiais têxteis, para a aplicação na filtração
mática em condições de calor e chama ajuda a manter a integridade de particulados, como a resistência à chama e retenção de finos.
do elemento filtrante e a resistir às rachaduras no não tecido. Dessa forma, a tecnologia pode ser considerada um fator importan-
Os testes de desempenho do novo não tecido foram acompanhados te na obtenção de vantagens competitivas, assim como os avanços
em laboratório pelos seguintes métodos: microscopia, determinação das ciências de polímeros e de fibras que vieram satisfazer um mer-
da massa por área, espessura, permeabilidade, resistência à tração, cado cada vez mais competitivo e inovador.

Tecidos Funcionais | Revista Química Têxtil 13


Figura 1 – Reação de obtenção da poliamida

A poliamida é fabricada a partir da reação da hexametilenodia-


mina e do ácido adípico, conforme pode ser observado na figura 1.
Esses compostos são dissolvidos em metanol e sofrem aqueci-
mento, formando um “sal nylon” que tem sua policondensação
terminada a 280 ºC. Essa massa fundida é fiada e se solidifica ao
ar frio. À saída da fieira, as cadeias de polímeros apresentam uma
disposição caótica, conferindo ao fio baixa resistência. Depois, são
submetidos a um processo de estiramento, com o objetivo de para-
lelizar os fios e aumentar a resistência da fibra[1]. A estrutura quími-
ca dessa fibra apresenta grupos amida, os quais formam, através do
hidrogênio, ligações cruzadas entre as cadeias metilênicas. As ma-
cromoléculas de poliamidas contêm, em pequeno número, grupos
funcionais ativos (amino e carboxi) nas terminações das cadeias[2].
Em poliamidas aromáticas (figura 2), pelo menos 85% das li-
gações amida estão unidas diretamente a dois anéis aromáticos.
Quando conjugados aos grupos amida, os anéis aromáticos de
benzeno formam uma ligação forte e resistente ao ataque químico
e adquirem elevado grau de resistência ao calor. Como resultado, a
poliamida não derrete e pinga apenas quando é exposta por perío-
dos prolongados à alta temperatura, próxima de 290 ºC[3].
Conforme a NBR 13370, um não tecido é formado por uma es-
trutura plana, flexível e porosa, constituído de um véu ou manta de
fios ou filamentos orientados direcionalmente ou ao acaso e con-
solidados por vias mecânicas, químicas ou térmicas e, ainda, pela
combinação destas[4]. Segundo Hardman[5] e Donovan[6], na aplica-
ção de não tecidos para filtração de pó, a formação da torta ocorre
mais lentamente que em tecidos, tendo maior vida útil. Portanto, os Além disso, a fibra de poliamida propaga combustão ao ar at-
não tecidos tornam-se ideais para a filtração de particulados finos, mos-férico, pois tem LOI (índice limite de oxigênio) de 21% e possui
pois o espaço disponível para passagem do fluxo é constituído por resistência excepcional a fagulhas. Suporta temperaturas de 220 ºC
caminhos preferenciais, que bloqueiam os particulados menores por cerca de 15 minutos e, na temperatura de operação normal, até
por impactação ou deposição inercial. 200 ºC, apresenta um encolhimento máximo <1%[8] sobre as condi-
Os não tecidos como elementos filtrantes em filtros de mangas ções originais.
têm sido largamente utilizados no combate à poluição atmosféri- Um filtro de profundidade forma “torta” na superfície de entrada,
ca, causada pela dispersão de materiais particulados no ar e que se assim, sua vida útil é comprometida, reduzindo significativamente
origina dos mais diversos processos industriais e de extração, tais a eficiência na captura de particulados finos. Entretanto, um filtro
como: mineração de carvão natural, cimenteiras, indústrias cerâmi- de superfície corretamente projetado deve remover e impedir a
cas e indústrias de transformação química[7]. migração de partículas finas pelo não tecido, evitando a emissão
A fibra de poliamida como um não tecido para filtração de parti- ao meio ambiente.
culados tem resistência moderada a ácidos e álcalis, resistência fra- Este artigo aborda as principais propriedades de uma nova for-
ca à hidrólise, resiste até 6% em volume de H2O e 20% em volume mulação de fibras de poliamida aromática, utilizada como não te-
de O2 e, acima deste valor, sofre oxidação. cido em filtro de mangas, para filtração de gases quentes sujos em

Figura 2 – Poliamida aromática

Fonte: DuPont, 2009

14 Revista Química Têxtil | Tecidos Funcionais


fábricas de asfalto, cimento clínquer, forno elétrico a arco para fer- Figura 4 – Permeabilímetro
ro e metais não ferrosos, ferros-liga, fundições, indústrias de brita,
alumínio, coque, química, siderúrgica, cerâmica, cal, gesso e outras.
O objetivo deste trabalho é o estudo do desempenho do não te-
cido formado pela mistura de microfibra fibrilada de para-aramida
e fibra de meta-aramida, comparado com a poliamida aromática
atual do mercado, a meta-aramida pura.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os testes foram desenvolvidos nos laboratórios das empresas Du-
Pont do Brasil e Renner Têxtil, respectivamente responsáveis pela fa-
bricação da fibra (figura 3-a) e produção do não tecido (figura 3-b).

Figura 3 – (a) Fibra de m-aramida + p-aramida;


(b) Não tecido de m-aramida + p-aramida

(a) (b)

2.1 MORFOLOGIA DAS FIBRAS 2.5 EMISSÃO DE PARTICULADOS


As microfotografias das fibras em não tecidos foram realizadas Os ensaios em laboratório para teste de desempenho foram rea-
em microscópico PZO Poland, para observar as diferenças de áreas lizados no aparelho simulador de filtragem ETS (figura 5), seguindo
superficiais entre as misturas. a norma ASTM D6830-02. O equipamento controla a emissão de
particulados, massa total, pressão residual inicial e média, tempo
2.2 GRAMATURA E ESPESSURA de ciclo de filtração média e número de ciclos de filtração. Um sen-
O controle da variabilidade da gramatura e espessura está asso- sor de imagem óptico acompanha a opacidade da poeira e do ar,
ciada ao desempenho do não tecido, pois a filtração com micro- para verificar se o sistema é estável durante todo o período do tes-
fibra fibrilada deve ser melhorada. A determinação de massa por te[9]. A filtração e as condições de limpeza foram adaptadas a partir
área foi realizada segundo a NBR 12984 em balança semianalítica do método alemão VDI 3926, para simular as condições que preva-
PB1502 Metter Toledo. A medida da espessura foi realizada em es- lecem nas operações reais de filtração.
pessímetro seguindo a NBR 13371. O procedimento do teste foi constituído de três etapas distintas:
1) carregamento contínuo de pó, seguidos de 10.000 ciclos de lim-
2.3 PERMEABILIDADE peza, com pulsos rápidos a cada 3 segundos; 2) rápido acondicio-
O método consiste em medir o fluxo de ar que atravessa o não namento, que consistiu de 30 ciclos de filtração normal com carga
tecido em função do tempo, ajustado a uma condição constante de poeira continua, formando um bolo de poeira para adequar o
de pressão, seguindo a NBR 13706. A amostra do têxtil é colocada têxtil, até atingir uma diferença de pressão de 1000 Pa; 3) teste de
no orifício do permeabilímetro Karl Schröder KG (figura 4) e medida performance, realizado em 6 horas de duração, com ciclos de lim-
durante 30 seg. ajustada com pressão constante de 20 mm de colu- peza e carregamento de poeira feitos constantemente e gravados.
na d’água. O resultado é expresso na unidade de L/min.dm2. As concentrações de poeira expelidas são medidas até 2,5 μ (PM
2.5), assim como o ganho de peso de cada substrato.
2.4 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO As condições fixas do teste foram realizadas com:
O ensaio tem por objetivo verificar a tensão máxima necessária • Teste do pó: Alumina (1,5 ± 1,0 μ de diâmetro médio de massa);
para romper um corpo-de-prova no momento da ruptura, confor- • Taxa de alimentação: 100 ± 20 g/h;
me a NBR 13041. O aparelho utilizado foi uma máquina universal de • Temperatura do gás: 25 ± 2º C;
ensaios Frank, modelo 81565 IV. • Pressão do pulso de limpeza: 1000 Pa.

Tecidos Funcionais | Revista Química Têxtil 15


Preparação Tinturaria Acabamento Estamparia Corante
Figura 5 – Esquema do equipamento ETS de simulação laboratorial pela aglomeração de partículas no interior do meio, que passam
a agir como novos elementos coletores, melhorando a captura de
Fonte: Renner Têxtil, 2001 finos[12]. A maior captura de finos inicialmente proporciona uma
menor emissão de particulados, o que, em certos processos, é uma
condição necessária, devido à localização destes sistemas dentro
de cidades.

3.2 PROPRIEDADES FÍSICO-MECÂNICAS


Os resultados das propriedades como gramatura, espessura,
permeabilidade e tensão de ruptura da m-aramida+p-aramida e a
sua comparação com a m-aramida pura são mostrados na tabela
1. Cada resultado representa a média de dez amostras realizadas,
com seu respectivo desvio padrão.
Como já era esperado, com a adição de microfibras fibriladas de
p-aramida conseguiu-se preencher melhor os espaços vazios, com-
pactando as fibras com outra configuração interna no não tecido.

Tabela 1 – Resultados gramatura, espessura, permeabilidade e tensão de


ruptura para a m-aramida pura e m-aramida + p-aramida

2.6 INFLAMABILIDADE
O ensaio de inflamabilidade é um método comparativo de de-
terminação dos efeitos de um pequeno foco de incêndio sobre a
superfície de têxteis, também conhecido como hot metal nut, que
simula o impacto de partículas superaquecidas. Esse ensaio foi re-
alizado em câmara confinada com temperatura em 290 ºC para o
cilindro metálico central, controlando o tempo e a queima da áre
afetada, seguindo a norma britânica BS 4790:1987.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 PROPRIEDADES MORFOLÓGICAS


As morfologias das fibras como um não tecido foram examina-
das em corte transversal, como mostra a figura 6.

Figura 6 – (a) m-aramida pura; (b) m-aramida + p-aramida

(a) (b)

A figura 6 mostra que houve uma incorporação homogênea


das microfibras fibriladas de p-aramida (figura 6-b) na malha da
m-aramida (figura 6-a).
De forma geral, a filtração se dá primeiramente pela captura de
particulados no interior do meio filtrante, na superfície das fibras.
A essa etapa, segue-se a impregnação do têxtil e a formação de
uma camada superficial de material particulado, denominado de
torta de filtração[10]. Com o transcorrer da filtração e consequente
coleta das partículas, inicia-se uma fase de transição, com a for-
mação de dendritos[11]. Esses dendritos são estruturas formadas

Tecidos Funcionais | Revista Química Têxtil 17


Consequentemente, conseguiu-se diminuir a espessura e permea- Figura 7 – Efeito da gramatura na espessura e permeabilidade
bilidade quando comparado com a m-aramida pura (figura 7). Essas do não tecido
características modificadas no não tecido melhoram a performance
de captura de particulados finos.
A propriedade de resistência à tração foi melhorada com o reforço
híbrido de m-ramida + p-aramida, aumentando a vida útil do mate-
rial em aplicações, pois a tensão de ruptura aumentou entre 10% e
25% de forma linear, comparados com a meta-aramida (figura 8).
Para não tecidos de mesma gramatura, consegue-se aumentar
a eficiência da filtração de pó com o decréscimo do diâmetro das
fibras. De modo geral, mantendo-se a densidade do têxtil, têm-
se, com a redução do diâmetro das fibras, um comprimento total
maior da fibra, uma maior área superficial e a redução dos poros[13].

Figura 8 – Efeito da gramatura na tensão de ruptura do não tecido

Tecidos Funcionais | Revista Química Têxtil 19


3.3 PROPRIEDADES DE RETENÇÃO Os resultados comparativos entre as curvas revelam maior efici-
A tabela 2 e a figura 9 apresentam os resultados do método VDI ência de filtração para o não tecido de m-aramida + p-aramida. Já
3926, comparando as emissões por vazamentos conforme a grama- para não tecidos mais leves com microfibras (452), mostram uma
tura dos não tecidos em teste. Cada resultado representa a média performance similar de emissão em relação às gramaturas superio-
de quatro amostras realizadas, com seu respectivo desvio padrão. res de m-aramida (524).
Os resultados comparativos entre as curvas revelam maior eficiên-
cia de filtração para o não tecido de m-aramida + p-aramida. Já para 4. CONCLUSÕES
não tecidos mais leves com microfibras (452), mostram uma perfor- A vasta gama de tipos de agressões ao meio ambiente nas ativi-
mance similar de emissão em relação às gramaturas superiores de dades industriais exige novas tecnologias para inovar materiais e
m-aramida (524). processos, surgindo, assim, os têxteis técnicos que revolucionam
a indústria têxtil.
3.4 PROPRIEDADES TÉRMICAS Este trabalho descreve a fabricação de estruturas híbridas em
O comparativo térmico de fusão entre os dois materiais, subme- não tecido com microfibras e a combinação das propriedades das
tidos a uma mesma temperatura de chama, ocorreu em tempos estruturas de meta-aramida e para-aramida, fabricadas sob forma
diferentes de exposição ao cilindro metálico central. Os resultados de composto. Obteve-se, dessa maneira, um efeito de sinergia de
levam a caracterizar que as fibrilas de para-aramida aumentam o propriedades, em que cada uma das fibras contribuiu com as suas
grau de resistência ao calor, retardando a fusão do não tecido por propriedades para a obtenção de um não tecido com proprieda-
partículas aquecidas, conforme mostra a figura 10. des melhoradas, para a filtração de particulados finos em aplicação
para filtros de mangas.
Tabela 2 - Resultados do método VDI 3926
Figura 10 – (a) m-aramida 465 g/m2: 5 seg;
(b) m-aramida + p-aramida 452 g/m2: 30 seg

(a) (b)

5. AUTOR
Os desvios padrões menores nas amostras de m-aramida + p- Luciano Peske Ceron é engenheiro químico; doutorando em En-
aramida caracterizam uma melhor compactação das microfibras genharia e Tecnologia de Materiais; mestre em Engenharia e Tec-
pelas estruturas internas de não tecido ( menor permeabilidade). nologia de Materiais; especialista em Gestão Ambiental e em Ges-
tão Empresarial. Atualmente, é engenheiro químico nas empresas
Figura 9 – Emissão de poeira conforme a gramatura Renner Têxtil (responsável técnico pela fabricação de não tecidos
e confecção de mangas filtrantes) e Inbrape (responsável técnico
pela fabricação de persianas de não tecido e plásticas). Participa do
conselho editorial da revista Meio Filtrante.

Tecidos Funcionais | Revista Química Têxtil 21


Qualidade

CUIDADOS NO TRATAMENTO
DE LIMPEZA DE TECIDOS
E BENEFICIAMENTO TÊXTIL
SÃO CONTRADIÇÕES?

Autores:
Dipl.-Ing. Pamela Krix, chefe do projeto
Pesquisa & Desenvolvimento Técnico de
Aplicação, na área de cuidados no trata-
mento de tecidos da Fa. BÜFA -, Sistemas
de Limpeza GmbH + Co. KG, em Olden-
burg, na Alemanha

Tradução:
Ursula Liedgens

Revisão Técnica:
Humberto Sabino

Os cuidados profissionais objetivam garantir que o tecido não seja Parceria têxtil
danificado e que a sua vida útil não diminua, por isso, as lavanderias Antes de qualquer coisa, é importante esclarecer que o alvo de
devem se orientar por regras de caracterização de cuidado no todos os envolvidos é o mesmo, ou seja, prolongar a vida útil de
tratamento de limpeza, grau de sujeira e tipo de tecido tecidos. É necessário que o beneficiador e o confeccionista saibam
qual é o tipo de desgaste que um tecido sofre durante o processo de
A limpeza profissional de tecidos tem sua origem em um dos mais lavagem ou limpeza. Em contrapartida, o profissional encarregado
velhos e tradicionais ofícios. Consciência de moda e qualidade de desse processo adquire informações referentes à fabricação e ao
vida são, hoje em dia, impensáveis sem o serviço das lavanderias beneficiamento de tecidos.
profissionais. Especialmente no tratamento clássico de lavagem Depois da fabricação – seja em tear, malharia, etc. –, o tecido ainda
ou limpeza de tecidos, não se medem esforços para proporcionar não está pronto para a confecção. É o beneficiamento que acarreta
aos tecidos de vestuário ou a qualquer outro tipo, um tratamento as características necessárias de uso que o tecido não possui após
adequado e ecologicamente correto. a fabricação ou, então, só possui em partes.
Tanto as pequenas lavanderias quanto as grandes empresas Essas qualidades se modificam sob a influência dos ciclos de
encarregadas da lavagem ou limpeza trabalham com técnicas lavagem ou limpeza, fatores ambientais e, não por último, do
altamente desenvolvidas, não agressivas ao meio ambiente, e com desgaste normal. Muitas vezes, essas modificações aparecem
processos que exigem profissionais bem formados e altamente somente após um tratamento.
especializados.

CAUSADORES DE DANOS
estatística 2008

Qualidade | Revista Química Têxtil 27


Uma estatística de 2008* mostra a seguinte classificação de danos corantes. Sendo um tratamento úmido impossível, um tratamento
causados em tecidos: local com presença de um solvente deve ser possível. De qualquer
1º lugar – por desgaste normal (31%), forma, deve-se levar em consideração a resistência ou a solidez da
2º lugar – durante a fabricação (29%), cor contra solventes. Às vezes, uma peça de vestuário não pode ser
3º lugar – por limpeza ou lavagem (25%). limpa ou lavada.
Manchas gordurosas e oleosas de alimentos devem ser tratadas
Em caso de danos, o consumidor quase sempre culpa, em localmente – na presença de solvente – antes de um tratamento
primeiro lugar, a lavanderia. A insatisfação do consumidor dificulta molhado. Nesse caso, pode ser que um corante disperso de baixa
o esclarecimento devido ao envolvimento emocional e, às vezes, solidez e solvente, utilizado no tingimento de uma entretela de
somente um perito pode resolver a questão. PES, migre durante a secagem. Nas normas Ginetex (associação
internacional para etiquetagem de cuidados com produtos têxteis)
Cuidados no tratamento de limpeza para a caracterização de limpeza de 2009, o símbolo “Não tratar
A limpeza profissional divide-se em dois tipos de tratamento: com solventes” exclui um tratamento com solventes.
limpeza com percloroetileno ou outro tipo de solvente, e lavagem Durante o tratamento de limpeza, sempre podem ocorrer
com água. situações que gerem discussões sobre o comportamento de um
O profissional de limpeza decide qual é o tratamento adequado tecido. Às vezes, consumidores dizem que a qualidade e o conforto
após examinar e separar os tecidos, sempre observando as de uma peça de vestuário se perdem durante o tratamento de
informações existentes sobre os tecidos. Essas informações limpeza profissional. O profissional de limpeza, nesse caso, deve
indicam qual é o tratamento máximo permitido. Além disso, o grau contestar a opinião incondicionalmente. Existe a possibilidade de
de sujeira é avaliado e, normalmente, manchas e peças bastante se aplicar novamente certos acabamentos como, por exemplo,
sujas são pré-tratadas. antiestático, amaciamento, acabamentos hidrófilos ou hidrófobos,
Antes, é feita uma prova em uma parte interior de uma peça, antifogo e outros. Deve-se observar que essas aplicações não
como na bainha, por exemplo, com a finalidade de testar se resistem a uma limpeza profissional e devem ser reaplicadas depois
a solidez da cor é adequada para o produto a ser utilizado. Bastante de cada tratamento de limpeza.
sensíveis são a seda, a viscose e o acetato. Frequentemente,
ocorrem clareamentos ou mudança de cor nesses materiais mais
sensíveis; quando um tecido é friccionado, aplicando localmente
um produto, danos em fibras – principalmente de tecidos finos Acabamentos que podem
– são inevitáveis. Os peritos da área de tratamento de limpeza
também devem ter uma solução para os problemas de limpeza e ter influência sobre a
lavagem de tecidos finos.
Um risco incalculável para as lavanderias são vestuários com percepção subjetiva através
entretelas escuras. Por exemplo: uma lavanderia recebe uma
jaqueta bege/marrom, com uma entretela marrom, que apresenta do toque em um tecido
manchas de café. Essas manchas devem ser removidas com
tratamento local. Consegue-se removê-las, porém, uma nova devem ser prioridade para
mancha surge no local da limpeza, provocada por um sangramento
da entretela. Constata-se, assim, que a solidez úmida do tingimento o beneficiador
da entretela foi insuficiente. Em caso de dúvida, o cliente deve ser
avisado antecipadamente do problema que pode surgir, a fim de
evitar discussões e mal-entendidos posteriores. O principal motivo Acabamentos que podem ter uma influência sobre a percepção
que leva a reclamações é a mudança de cor, que representa 20% do subjetiva através do toque em um tecido devem ser prioridade
total de reclamações. para o beneficiador. Os tecidos devem manter suas características
Se qualquer tratamento úmido deve ser efetuado com cuidado, mesmo após o tratamento de limpeza ou lavagem.
o mesmo precisa ser feito em um tratamento com solventes como,
por exemplo, em um tratamento com percloroetileno. Caracterização de cuidados
Os métodos aplicados em testes de solidez úmido de tingimentos Na Alemanha, a utilização dos símbolos de cuidado é opcional,
ou estampas têm normas. Seguindo as normas ISO (International porém, a aplicação das regras e dos regulamentos vigentes é
Standardisation Organization), avalia-se com escala cinza obrigatória.
a mudança de tonalidade (ISO 105-A02) e o sangramento no Os símbolos de cuidado devem ser aplicados integralmente, sem
material acompanhante (ISO 105-A03). Mesmo assim, podem dar margem a erros de interpretação. As informações têm que ser
ocorrer mudanças de tonalidade por causa da transferência de verídicas e o tratamento de limpeza é sempre determinado de
acordo com o componente mais delicado.
O confeccionista tem o dever de colocar uma etiqueta que indique
*Fonte: Associação Alemã de Lavanderias (DTV – Deutscher Textil-Reinigungs- os cuidados a serem tomados para o tecido em questão. Para
Verband), anuais 2009/2010, pág. 60 obter essas informações, ele precisa obter da rede de fabricantes

Qualidade | Revista Química Têxtil 29


RECLAMAÇÕES estatística 2008 As reclamações sobre revestimentos (coatings) são frequentes
e ocupam o segundo lugar na estatística (11% em 2008).
Se uma jaqueta que dever suportar diversas condições de
tempo tem uma caracterização de material que indica PVC, mas
na característica de cuidado recomenda-se um tratamento com a
presença de solvente, o encarregado da limpeza deve reconhecer
que, nesse caso, a orientação está errada.
Quando se trata de uma jaqueta de couro artificial sem indicações
sobre o material com que ela foi produzida, ou mesmo nenhuma
caracterização de cuidado, pode se testar a presença de PVC com
a conhecida Prova de Bernstein.

Execução da prova de Bernstein:


- Ponha um fio de cobre sobre uma chama até o mesmo
incandescer.
- Pressione o fio sobre o material a ser tratado (tecido ou, como
nesse caso, couro artificial).
- Ponha o fio de cobre novamente sobre uma chama. Se agora a
chama se tornar verde, cloro está sendo liberado, o que significa
que há presença de PVC no material.

(tecelagem, beneficiamento, botões, zíper, etc.) todas as Uma lavagem com água é sempre indicada quando há suspeita
informações necessárias sobre os cuidados a serem tomados ou quando há uma descrição correta que indique que a peça de
para, assim, manter a qualidade de cada componente. Como o vestuário em questão contém revestimento com PVC, tratamento
confeccionista é responsável pela exatidão, todos os fornecedores de PU ou couro acrílico.
devem declarar o que o material fornecido pode ou
não pode suportar.
Os símbolos internacionais devem conter todos os detalhes
do material e da fabricação, inclusive os detalhes de aplicações
e enfeites. Mesmo as sequências de tratamentos de limpeza ou de Características de cuidado
lavagem devem ser consideradas.
Peças de vestuário que não podem ser submetidas a nenhum tipo insuficientes ou ausentes
de tratamento de limpeza ou lavagem devem apresentar em suas
etiquetas o símbolo adequado. exigem um aviso de risco
A pergunta “o profissional e, respectivamente, a lavanderia,
trabalham conforme as características de cuidado?” está sempre em para o consumidor
pauta, porque as indicações de cuidados nas etiquetas dão certa
garantia de que o tecido não sofrerá dano durante o tratamento
de limpeza. Porém, a caracterização de cuidado não é uma garantia
de qualidade, assim como não garante que todo tipo de sujeira CONCLUSÃO
ou mancha será eliminado. As etiquetas de cuidado são, muitas A disposição do responsável pela limpeza e lavagem de tecidos de
vezes, consideradas incômodas e, por isso, eliminadas. Mas são se aperfeiçoar, de procurar a comunicação com outros profissionais
as características de cuidado que dão informações insubstituíveis do ramo, a fim de trocar experiências, é de suma importância para
sobre a atenção a ser considerada durante o tratamento de limpeza evitar reclamações de mudança de cor, revestimentos, etc.
ou lavagem. Informações sobre novos processos de beneficiamento, métodos
Características de cuidado insuficientes ou ausentes exigem de tingimento ou solidez inferior, como consequência da proibição
um aviso de risco para o consumidor. Nesse caso, o sucesso do de determinados grupos de corantes, são indispensáveis para
tratamento de limpeza depende do profissional, que deve ser o profissional da área de limpeza e lavagem.
experiente e estar sempre disposto a se informar com outros Um resultado final bem aceito por todos só é garantido quando
profissionais do ramo sobre experiências adquiridas na prática, os detalhes do processo de cuidado são considerados na sua
a fim de ampliar os seus conhecimentos e garantir o sucesso de seu totalidade. Gerar a satisfação do cliente deve ser o interesse de todos
trabalho. A troca de informações, nesse caso, é fundamental. os envolvidos no processo de limpeza e lavagem. Somente assim
Tratamentos mais suaves ou temperaturas abaixo do que é que se garante o retorno do cliente. É indispensável promover
é indicado nas etiquetas são sempre permitidas. Como perito, confiança e isso só se consegue pela cooperação de todos os
o profissional encarregado do tratamento de limpeza ou lavagem envolvidos, ou seja, fabricantes, beneficiadores e responsáveis pela
deve diagnosticar se uma etiqueta de cuidado está ou não correta. limpeza e lavagem.

Qualidade | Revista Química Têxtil 31


Efluentes Têxteis
TRABALHO VENCEDOR DO CONCURSO DA FLAQT, REALIZADO DURANTE O XX
CONGRESSO DE QUÍMICA TÊXTIL, REALIZADO ENTRE 16 E 20 DE NOVEMBRO DE
2010 EM LIMA, PERU.

REUSO DE EFLUENTES TÊXTEIS GERADOS POR TINGIMENTOS


DE ALGODÃO EFETUADOS COM CORANTES PRETOS

Autores:
Jorge Marcos Rosa1,2; Elesandro Antônio
Baptista2 e José Carlos Curvelo Santana2
1
Escola Senai Francisco Matarazzo
R. Correia de Andrade, 232 – Brás
CEP 03008-020 – São Paulo – SP
e-mail: jorge.rosa@portal.sp.senai.br
2
Programa de Mestrado em Engenharia de Produção
Universidade Nove de Julho
Av. Francisco Matarazzo, 612 – Água Branca
CEP 05001-100 – São Paulo – SP
e-mail: jotarosa@uninove.edu.br

Revisão Técnica:
Felipe Gonçalves de Menezes

O objetivo dos autores é analisar o comportamento de corantes


Figura 1 - Produção, em toneladas, do beneficiamento de algodão em 2008/2009
pretos em efluentes oriundos de tingimentos de tecidos compostos por
fibras celulósicas tratados com UV/H2O2, para verificar a possibilidade
de reaproveitamento total dos banhos de tingimento

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi estudar a reutilização de efluentes
têxteis oriundos de tingimentos de fibras celulósicas na cor preta.
Foram estudados quatro tipos de corantes: direto, sulfuroso e dois
tipos de reativos. Depois de efetuados os tingimentos segundo
orientações dos fabricantes, os efluentes foram diluídos na
proporção de 1:9 com pH 7, submetidos à radiação ultravioleta
na faixa de λmáx = 237 nm em presença de 3,50 x 10-2 mol.L-1 de
H2O2 e à temperatura de 296 K durante 120 minutos. A eficiência
na descoloração ficou em 9% para o sulfuroso, 52% para o direto,
98% para o corante Reativo A e 99% para o corante Reativo B. Os
efluentes obtidos foram utilizados para tingimento de algodão
na cor branca e comparados com um tingimento efetuado com
água da Sabesp. Os resultados então, foram comparados por Levando-se em consideração o fato de que todo esse produto
espectrofotometria UV/VIS, Sistema CIELab, em DL, sendo: DLSabesp é tinto, lavado ou estampado e que, para tanto, é utilizado um
(Padrão) = 0,0; DLDireto = -0,28; DLReativo A = -0,17 e DLReativo B = 0,10, volume expressivo de água, em torno de 50 a 100 L.kg-1 (Ruschioni,
indicando como mais positiva a reutilização do efluente oriundo 2007), chega-se a um alarmante aumento do consumo médio de
do tingimento com corante Reativo B. água de aproximadamente 3,2 mil m³.
Além desse aumento, é fato que a indústria têxtil, em particular,
1. INTRODUÇÃO apresenta elevada demanda de água em seus processos, gerando
Nos dias de hoje, a busca por sustentabilidade tem sido árdua. grande quantidade de águas residuárias, as quais, geralmente,
Segundo Prado & Prado (2010), no biênio 2008-2009 houve um contêm altas cargas de sais dissolvidos, surfactantes, sólidos
aumento de 3,87% no beneficiamento de tecidos de algodão, suspensos e matéria orgânica, principalmente de corantes na
como demonstrado no gráfico da figura 1. forma de moléculas complexas (Neamtu et al., 2002).

32 Revista Química Têxtil | Efluentes Têxteis


corante C.I. Acid Orange usando processos oxidativos avançados
(POA) via UV/H2O2. A rede foi alimentada com concentrações
iniciais de corante e peróxido, valores de pH da solução e tempo
de irradiação, sendo o resultado expresso em eficiência de
descoloração. Os demais dados introduzidos foram de outros
trabalhos dos autores. Como esperado, a concentração inicial de
H2O2 teve uma relevância significativa de 48,89%, aparentando ser
a variável mais influente no processo de descoloração.
Este trabalho tem como fim verificar o comportamento de
corantes pretos em efluentes oriundos de tingimentos de tecidos
compostos por fibras celulósicas tratados com UV/H2O2, visando à
possibilidade de reaproveitamento total dos banhos de tingimento.

1.2 CORANTES
Com o intuito de verificar o perfil da classe de corante preto
utilizada nos dias de hoje, foi feita uma pesquisa entre nove
significantes tinturarias da Grande São Paulo. Foram efetuadas
cinco questões, dispostas junto com os resultados descritos na
tabela 1.

Tabela 1 – Perfil da cor preta em fibras celulósicas

O fato torna-se ainda mais preocupante quando concatenamos


esses dados com o estudo de Oliveira e Von Sperling (2005), no
qual foram analisadas 166 estações de tratamento de efluentes
em operação no país, todas com desempenho considerado
insatisfatório.

1.1 EFLUENTES
Recentemente, vários estudos de alguns agentes alternativos
utilizando biomassa como adsorvente também têm despertado
atenção. Nos últimos anos, alguns trabalhos têm sido realizados
utilizando carvão ativado de coco, bambu, casca de eucalipto 1.2.1 DIRETOS
e quitosana como materiais adsorventes. Já os tratamentos São corantes substantivos, solúveis em água, de relativa facilidade
biológicos convencionais requerem um longo tempo para que de aplicação. Com boa solidez à luz, são utilizados basicamente
o efluente atinja os padrões exigidos, além de possuir uma faixa para a coloração do algodão, pelo qual possui grande afinidade.
pequena de pH e temperatura na qual o sistema pode atuar (Kunz Unem-se à fibra somente através de Ligações de Hidrogênio e Forças
et al., 2002; Teixeira e Jardim, 2004). de Van der Waals e, por esse motivo, não possuem boa solidez aos
Salgado (2009) utilizou processos de oxidação avançada, Fe2+/ tratamentos úmidos quando em cores médias ou escuras (Salem,
H2O2 e UV/H2O2, na descoloração de dois efluentes sintéticos, 1999). Na figura 2, exemplo da estrutura de um corante direto.
contendo os corantes dos tipos índigo e azo, e de um efluente de
lavanderia industrial. Foram tratadas soluções com concentração 1.2.2 REATIVOS
de 20 mg.dm-3 dos corantes índigo carmim e vermelho congo em Segundo a Abiquim (2009), a utilização de corantes no Brasil
pH3. Todas as amostras foram submetidas a diferentes condições concentra-se principalmente nos corantes reativos para fibras
oxidantes sob temperatura ambiente (27 ºC). As remoções de cor e celulósicas, que hoje respondem por 57% do mercado.
de DQO foram avaliadas em cada sistema oxidativo estudado. Os corantes reativos são utilizados em grande escala no
Os resultados adquiridos mostraram que os processos tingimento de fibras celulósicas e, pelo fato de reagirem não só
utilizados são muito promissores na descoloração dos efluentes. A com o substrato bem como com a água, acabam sendo um dos
descoloração completa das soluções foi alcançada nos processos principais constituintes dos efluentes de tinturarias.
Fenton e com UV/H2O2. Existem dois grupos de corantes reativos: os halogenoheterocíclicos
Em outro estudo, Aleboyeh et al. (2008) utilizou o auxílio de redes (HHC), que reagem por substituição nucleofílica, e os vinilsulfônicos
neurais para prever a descoloração fotoquímica de uma solução do (VS), que reagem por adição nucleofílica.

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 33


O corante também pode ser homobifuncional, quando possui 2. MATERIAIS E METODOLOGIA
dois grupos reativos idênticos (VS+VS), ou heterobifuncional, 2.1 MATERIAIS
no caso de dois ou mais grupos reativos diferentes (VS+MCT). 2.1.1 EQUIPAMENTOS
O processo de coloração da celulose com esse tipo de corante é Balança analítica; Reator com duas lâmpadas UV-C (253,7 nm)
efetuado em presença de álcali e, devido a esse fato, o efluente de 6W cada e agitador magnético; Espectrofotômetro UV-VIS
gerado também possui pH alcalino. As etapas das reações podem Datacolor SF-600 Plus; HT Mathis ALT-1; Cubetas de acrílico com 1
ser observadas em Rosa (2008). cm de caminho ótico; pHmetro e Tecido ½ malha de algodão 100%.

2.1.2 REAGENTES
Figura 2 Solução tampão Acético/Acetato; Preto Enxofre RDT (RDT); Preto
-1
C.I. Direct Black 78, de massa molar igual a 791,79 g.mol (Zollinger, 1991) Direto NF 1200% (NF), Amarelo CL-2R (CL-2R), Vermelho CL-5B (CL-
5B), Preto Reativo CL-WN (CL-WN), C.I. Reactive Yellow 145 (RY 145),
C.I. Reactive Red 239 (RR 239), Preto MIX à base de C.I. Black 5 (MB
5); Cloreto de Sódio; Carbonato de Sódio; Metassilicato de Sódio;
Umectante; Tensoativo não iônico; Peróxido de Hidrogênio 50%;
Enzima Catalase; Ácido Sulfúrico 98%; Hidróxido de Sódio 50 ºBé;
Redutor à base de glicose e oxidante à base de Clorito de Sódio.

(Nota do autor: Não foi possível a descrição do nome e número de


C.I. de alguns corantes, devido à política de sigilo do fabricante).

Figura 4 – Estrutura provável do C.I. Sulphur Black 1 (Zollinger, 1991)

Figura 3
C.I. Reactive Black 5, de massa molar igual a 991,81 g.mol-1 (Rosa, 2008)

A figura 3 apresenta a estrutura do C.I. Reactive Black 5, base da


mistura de um dos corantes que fazem parte do estudo, um corante
homobifuncional do tipo VS.

1.2.3 SULFUROSOS
Zollinger (1991) define os corantes sulfurosos como uma classe
de corantes que, após aplicação, são compostos macromoleculares
caracterizados por pontes dissulfetos ou polissulfetos entre anéis
aromáticos, insolúveis em água.
De acordo com Salem (1999), esses corantes necessitam de
uma redução em banho alcalino para solubilização. Depois de
reduzidos, possuem as mesmas propriedades dos corantes diretos,
ou seja, tingem as fibras celulósicas estabelecendo ligações de
Hidrogênio e geram um efluente extremamente poluente. Na figura
4, apresenta-se a estrutura do C.I. Sulphur Black 1, presumidamente
um derivado fenotiazonatiantreno.

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 35


2.2 METODOLOGIA 3. RESULTADOS
2.2.1 PREPARAÇÃO DO EFLUENTE 3.1 EFLUENTES
Com a finalidade de obter um efluente real de tingimento para Após os tingimentos, a luminosidade das amostras tingidas foi
posterior tratamento fotoquímico, foram efetuados processos comparada por espectrofotometria, Sistema CIELab, sob iluminante
completos de tingimento com os quatro corantes pretos em D65, apresentando os seguintes resultados:
tecido ½ malha de algodão 100%, alvejado segundo procedimento Amostra Sulfuroso = 0,0; Amostra Direto = 0,63; Amostra Reativo
descrito em Gomes Melo et al. (2009) e tinto nas quantidades A = 0,14 e Amostra Reativo B = -0,98.
descritas na tabela 2 (ao lado), conforme procedimentos propostos Esse resultado demonstra uma diferença não muito significativa
pelos fabricantes dos corantes. de intensidade entre as amostras. Já os efluentes, após a diluição
e correção do pH, apresentaram uma diferença bem maior, como
Tabela 2 – Receitas de tingimento demonstrado na figura 5, sendo, da esquerda para a direita, Sulfuroso,
Direto, Reativo A e Reativo B, com valores referentes à λmáx em
590 nm, 480 nm, 590 nm e 600 nm, respectivamente.

Figura 5 – Diferença de absorbância entre as amostras de efluentes

2.2.2 TRATAMENTO FOTOQUÍMICO E ANÁLISE


ESPECTROFOTOMÉTRICA UV/VIS
Foram coletados separadamente todos os banhos de todos os
processos de tingimentos. Após a coleta, foi efetuada uma diluição
na proporção de 1:9 (uma parte de efluente para 9 partes de água)
com acerto de pH para 7. Em alíquotas de 1,0 L de cada um dos
efluentes, adicionou-se 3,50 x 10-2 mol.L-1 de H2O2 para posterior
tratamento fotoquímico a 296 K em reator composto por um
agitador magnético e duas lâmpadas de 6W do tipo UV-C (237 nm),
com coletas de 10 mL efetuadas em intervalos de 15 minutos e
posterior análise espectrofotométrica UV/VIS.
Foram utilizados os espectros de absorção na região do visível,
em comprimento de onda de máxima absorção dos corantes (λmáx).
A leitura dos dados foi efetuada no espectrofotômetro Datacolor
SF-600 Plus, utilizando-se cubetas de acrílico de caminho ótico de
1 cm. A partir dos dados obtidos, foram calculados a conversão e a
eficiência.

2.2.3 REUTILIZAÇÃO DO EFLUENTE TRATADO


Cada uma das amostras dos efluentes tratados foi utilizada para
um tingimento na cor branca, para posterior comparação com um
tingimento efetuado com água, utilizando-se a seguinte receita:
6,0 mL.L-1 de Peróxido de Hidrogênio 50%; 3,0 mL.L-1 de Hidróxido
de Sódio 50 ºBé; 1,5 g.L-1 de Metassilicato de Sódio; 1,0 g.L-1 de
Sequestrante; 1,0 g.L-1 de Detergente não-iônico e 1,0% de Branco
Óptico. O processo foi feito a 80 ºC durante 30 minutos.

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 37


3.2 TRATAMENTO FOTOQUÍMICO
O comportamento do processo de fotodecomposição dos
efluentes está retratado nas figuras 6 (Sulfuroso), 7 (Direto), 8
(Reativo A) e 9 (Reativo B).

Figura 6 - Fotodecomposição do Efluente Sulfuroso

Figura 7 - Fotodecomposição do Efluente Direto

38 Revista Química Têxtil | Efluentes Têxteis


Figura 8 - Fotodecomposição do Efluente Reativo A

Figura 9 - Fotodecomposição do Efluente Reativo B

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 39


A conversão e a eficiência foram calculadas segundo as equações Figura 12 – Efluente Reativo A
1 e 2, respectivamente:

Equação 1:

Equação 2:

Figura 13 – Efluente Reativo B


Na sequência, as figuras 10, 11, 12 e 13 retratam os gráficos
contendo os valores de Absorbância (Abs) em relação ao tempo
de exposição fotoquímica. Nota-se que o efluente contendo preto
sulfuroso é extremamente resistente ao ataque fotoquímico,
comportamento observado tanto no gráfico de varredura (figura 6)
quanto no gráfico de decaimento de absorbância (figura 10).

Figura 10 – Efluente Sulfuroso

Na tabela 3, são apresentadas as absorbâncias iniciais e finais


de cada tratamento, juntamente com seus respectivos valores
de conversão.
A conversão obtida no efluente Sulfuroso foi muito baixa, o
que levou a não utilização deste efluente como reutilizável para o
tingimento de branco.

Tabela 3 – Conversão máxima admissível dos efluentes


Figura 11 – Efluente Direto

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 41


3.3 TINGIMENTO COM EFLUENTE TRATADO VERSUS Figura 15 – Curvas de transmitância dos tingimentos de branco
TINGIMENTO COM ÁGUA
Para o tingimento na cor branca, foram utilizados somente os
efluentes dos corantes Direto, Reativo A e Reativo B, devido à baixa
conversão obtida no efluente Sulfuroso, conforme observado nas
figuras 6 e 10 e visualizado na figura 14.

Figura 14 – Amostras de efluentes pré e pós-tratamento

Sulfuroso Direto

Reativo A Reativo B

Como visto no gráfico da figura 15, apesar de curvas bem


próximas, verificou-se que o melhor tingimento de branco
foi realizado com o corante Reativo B. Isso também pode ser
observado através do valor DL = 0,10 (Tabela 4), muito próximo ao
do tingimento efetuado com água. A porcentagem de eficiência na
descoloração do efluente também foi maior do que a dos demais;
99% ante 98% do Reativo A e 52% do Direto.
Os tingimentos na cor branca foram avaliados por
espectrofotometria UV/VIS, Sistema CIELab, apenas no eixo da 4. CONCLUSÃO
luminosidade e sob iluminante D65, apresentando os resultados As pesquisas para tratamento de efluentes vêm cada vez mais
descritos na tabela 4. Na figura 15, pode-se observar as curvas de ganhando espaço nos dias de hoje. Os POA têm sido muito
transmitância dos tingimentos. explorados, quer sejam feitos com UV/H2O2, Ozônio, Ferro-Fenton
ou UV/H2O2/TiO2 porém, já não são mais novidade.
Tabela 4 – Comparação no item Luminosidade dos tingimentos brancos Entretanto, muitas pesquisas para a reutilização de efluentes
tratados em tingimentos ainda estão sendo feitas. Uma das variáveis
que faz com que as pesquisas sejam inúmeras, e trabalhosas, é
a diversidade de classes de corantes e auxiliares de tingimento.
São gerados efluentes contendo altas cargas de sais dissolvidos,
surfactantes, sólidos suspensos e matéria orgânica ficando claro
que, dos impactos ambientais, um dos principais problemas na
indústria têxtil diz respeito à geração de efluentes poluidores
(Hassemer e Sens, 2002; Baban et al, 2004).
Neste estudo, ficou comprovado que, de três classes de
corantes utilizados para tingimentos de fibras celulósicas em cor
preta de mesma intensidade, somente o efluente de uma delas
pode ser tratado e reutilizado para tingimentos posteriores. Desta
classe, foram estudados corantes provenientes de dois fabricantes
distintos, Reativo A e Reativo B.
Apesar de resultados bem próximos em decomposição
fotoquímica e reaproveitamento para tingimentos de branco, o
corante Reativo B levou ligeira vantagem com maior conversão, _=
0,99 contra _= 0,98 e propiciando um branco mais claro, DL = 0,10
contra DL = - 0,17.

Efluentes Têxteis | Revista Química Têxtil 43


Preparação

PREPARAÇÃO ENZIMÁTICA EM FIOS DE ALGODÃO


RETORCIDO EM DOIS CABOS

Autores:
Akmey Brasil Ind. e Com. de Produtos Químicos Ltda.
Alexandre Cezar Aragão (Blumenau – SC)

Revisão Técnica:
Rafael C. Leonetti Bisco

A finalidade prioritária do trabalho a seguir foi buscar soluções para cerização após a tecelagem; esses corantes apresentam excelente
reduzir ou eliminar os problemas relativos à igualização tintorial em solidez ao meio oxidativo, ao cloro e a altas quantidades de álcalis.
bobinas cruzadas Muitas tinturarias de fios de algodão singelo em bobinas cruzadas
com peso próximo a 1 kg por unidade convivem com a dificuldade
de conseguir tingimentos bem igualizados, que apresentem uni-
RESUMO formidade em todas as camadas da bobina. O ponto crucial dessa
O estudo teórico e prático sobre tinturas de fios 100% algodão
desconformidade está próximo ao porta-material do fio, o conical.
retorcidos em dois cabos busca soluções para reduzir ou eliminar
Tratando-se de fios retorcidos em dois ou três cabos, o proble-
o problema de igualização tintorial em bobinas cruzadas utilizan-
ma de desigualização se acentua em grande escala e praticamente
do corantes reativos. A aplicação de composição enzimática à base
todas as partidas apresentam um percentual que é separado para
de enzimas pectinases e celulases, combinadas com tensoativos
segunda qualidade, variando de 5% a 12%, valores obtidos em qua-
de caráter não iônicos, tendo como alternativas processuais as mu-
tro grandes empresas do mercado brasileiro.
danças de pH, direcionamento do fluxo de banho, temperatura do
Este trabalho tem como finalidade prioritária desenvolver com-
pré-alvejamento e a dureza removida do algodão, tem como fator
binações de enzimas com tensoativos e processos para reduzir ou
proeminente e essencial, para otimizar a igualização do tingimento,
eliminar esse problema das tinturarias, causador de enormes preju-
o controle de pH. Quanto mais próximo de neutro, mais igualizado
ízos para as indústrias de tingimento em bobinas cruzadas de algo-
será o processo. Porém, ocorre um déficit no que diz respeito ao
dão retorcidos e não retorcidos.
grau de alvura, porque nessa condição o peróxido de hidrogênio
Foram obtidos bons resultados de igualização, porém, com de-
não libera oxigênio nascente suficientemente oxidante para pro-
ficiência no grau de branqueamento da fibra, podendo-se avaliar
mover o alvejamento. Desta feita, temos uma boa igualização, mas
que o teor de álcali no sistema é determinante para obtenção de
alvura deficiente. O caminho a seguir é alvejar com pH levemente
bons resultados no pré-alvejamento. Em trabalhos realizados com
alcalino utilizando catalisadores de peróxido de hidrogênio.
pH próximo a 7,0, o grau de igualização mostrou-se excelente e o
Delta E de avaliação de cor entre as camadas da bobinas ficou em
1. INTRODUÇÃO 0,2 entre o meio e as extremidades.
O mercado brasileiro de preparação e tingimento de fios de al- A formação de precipitados e o efeito filtro são os fatores básicos
godão retorcidos em dois cabos tem seu potencial no Sul do país, para que ocorra a desigualização tintorial.
distribuído para outros centros. Sua aplicação é direcionada para
artigos de malhas retilíneas, felpudos e, em menor escala, para teci- 1.1 JUSTIFICATIVA
dos planos com titulagem muito fina. Os problemas causados pela desigualizacão nos tingimentos em
A maioria das bobinas de fio de algodão é tinta com corantes re- bobinas cruzadas de algodão retorcidos de dois ou três cabos, com
ativos pelas suas cores limpas e com brilho, pelo processo fácil, boa peso superior a 900 g, têm como hipótese a formação de filtro pro-
reprodutibilidade e razoável solidez à lavagem. Em fios direcionados cedente dos componentes do próprio algodão e outros elementos
para camisaria de alta qualidade, são aplicados corantes a tina/cuba físicos-químicos referentes às mudanças comportamentais do fio
cujos processos industriais utilizam o recurso de alvejamento e mer- nas condições específicas quando em sua preparação para o tingi-

44 Revista Química Têxtil | Preparação


mento, o que promove diferentes tensões na extensão da camada Figura 1 – Composição do algodão
da bobina. Essa deficiência tintorial é causada por vários motivos:

1. Acúmulo de sabões insolúveis;


2. Encolhimento do fio de algodão;
3. Aumento da tensão entre os fios e
4. Deficiência no potencial da bomba.

Os custos que essas perdas de qualidade provocam são elevados


tanto nos processos produtivos, na rebobinagem, malharia ou te-
celagem plana, quanto na venda ou no reprocessamento dos fios,
que estão tintos em várias cores e precisam de descoloração quími-
ca e retingimento ou tingimento de preto intenso.

1.2 OBJETIVO GERAL


O trabalho tem como objetivo aplicar combinações de enzimas
e tensoativos nos processos produtivos de tingimentos de fios de
algodão de dois ou três cabos em bobinas cruzadas, reduzindo ou
eliminando problema de igualização.
Fonte: Palestra Novozyme

1.2.1 OBJETIVO ESPECÍFICO


O processo de tingimento em bobinas cruzadas, fio singelo ou
2.4 BINAGEM DOS FIOS
retorcido, normalmente apresenta um percentual expressivo de se-
Os fios retorcidos ou binados apresentam várias vantagens para
gunda qualidade que causa grande prejuízo às empresas. Este tra-
a tecelagem, para o processo total, assim como características fun-
balho buscou, especificamente, reduzir essas condições em fios de
cionais, como o toque e a sua beleza indiscutível. Nos processos de
dois cabos, trabalho solicitado por uma indústria de felpudo (não
retorção, os fios recebem torções em sentidos contrários (Pessanha
autorizada a divulgação do nome), que, devido a essas condições,
& Rangel, 1989) proporcionando um efeito de pressão que ocorre
tem prejuízos de R$ 300 mil ao ano.
quando as fibras intumescem e encolhem. Em especial nos pontos
em que os fios se cruzam, esse fenômeno otimiza a formação de
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA maiores tensões no corpo da bobina, característica que nos parece
2.1 IMPORTÂNCIA DOS FIOS RETORCIDOS ser o fator crucial para a formação da desigualização tintorial de fios
NA INDÚSTRIA TÉXTIL de dois ou três cabos tintos em bobinas cruzadas.
O maior centro brasileiro de preparação e tingimento de fios de
algodão retorcidos em dois cabos encontra seu potencial no Sul do
país, especificamente em Santa Catarina, produzindo 400 ton/mês.
Após o beneficiamento, é distribuído para outras localidades indus-
triais, tendo sua aplicação direcionada para artigos de malhas reti-
líneas ou circular, felpudos e, em menor escala, para tecidos planos
com titulagem muito fina.

2.2 INTUMESCIMENTO E ENCOLHIMENTO DO ALGODÃO


O álcali e os tensoativos utilizados nos processos de alvejamento
fazem com que a fibra celulósica absorva água e outros componen-
tes do sistema; a água ocupa os espaços intermoleculares da fibra
e provoca o seu intumescimento. O movimento de contração das
fibras e seu entorce característico tendem a provocar o encolhi-
mento da fibra. Esse processo físico terá variáveis conforme a quan-
tidade de álcali utilizada, tipo de algodão, estrutura do fio e tecido.
Segundo Pacheco (2004), quanto mais a fibra encolhe, mais re-
duz os espaços entre as camadas de fio, intensificando a tensão en-
tre elas, fator primordial na formação do filtro mais intenso próximo
ao conical.

2.3 PRECIPITAÇÃO DOS SABÕES DE CÁLCIO E MAGNÉSIO


A constituição química do algodão fornece valores acima de 4%
dos sais alcalinos terrosos e 1,7% de ácidos graxos (Basf, 1977). Com
a saponificação dos ácidos graxos pela soda cáustica na presença
de íons catiônicos dos sais alcalino terrosos, ocorre a formação de
sabões insolúveis de cálcio e magnésio, que ficam circulando no
sistema e, lentamente, vão se aglomerando nos fios das camadas
de maior tensão da bobina cruzada, que localizam-se crescente-
mente próximo ao conical. Quanto maior for a quantidade de sais
alcalino terrosos no sistema, maior será a dificuldade para dispersar
esses precipitados, que se fixam à fibra promovendo, no momento
tintorial, diferenças de tonalidades em relação aos níveis de fios da
bobinas.

Preparação | Revista Química Têxtil 45


2.5 FIBRA DE ALGODÃO ordenação (Morton, 1975). Essas uniões dificultam a alteração de
O algodão é uma fibra celulósica constituída por moléculas de ordem relativa às diferentes moléculas no esforço à tração e, conse-
glucoses, unidas umas às outras glucosidicamente. O grau de po- quentemente, influem nas propriedades das fibras. No inchamento,
limerização, mediante ao qual se expressa o número de moléculas as fibras podem se romper em parte.
de glicose unidas glicosidicamente na cadeia, depende da proce- As fibras celulósicas se deformam mais facilmente no estado mo-
dência e das condições da fibra, como, por exemplo, branqueamen- lhado do que no estado seco. Consequentemente, nos tratamentos
to, mercerização, tingimento, etc. (Basf, 1973). molhados têxteis das fibras celulósicas, é muito importante manter
o mais baixo possível o esforço à tração. Tanto em condição seca
como molhada, o inchamento da fibra celulósica ocorre com um
Figura 2 – Estrutura da fibra de algodão aumento do diâmetro e um encolhimento no sentido longitudinal
da fibra, produzindo contração da superfície da fibra (Basf, 1973).

2.6 UTILIZAÇÃO DE COMPOSTO ENZIMÁTICO


As enzimas utilizadas em processos são apresentadas em estado
“puro” ou em formulações enzimáticas. Entende-se por formula-
ções enzimáticas, líquidas ou sólidas aquelas que contêm a quanti-
dade correta de uma ou mais enzimas, com uma mistura de quími-
cos auxiliares que permitam obter o efeito desejado com a melhor
qualidade e o menor custo possível (Andreus, 2001).
Foi elaborada a composição enzimática combinada com tenso-
ativos específicos para trabalhar em fios de algodão em bobinas
cruzadas que propiciam detergência, umectação, dispersão e reu-
mectacão do fio tratado. Trabalhou-se com as enzimas pectinases
alcalinas e celulases neutras, e os químicos de pré-alvejamento,
como soda cáustica e peróxido de hidrogênio, foram reduzidos em
40%. Os resultados de alvura ficaram levemente abaixo do ideal,
mas aceitável. Porém, a desigualização foi reduzida não o suficiente
para obter resultados tintoriais satisfatórios.

2.6.1 TENSOATIVOS ESPECÍFICOS


Foram utilizados tensoativos de caráter não iônico, produtos
derivados de alcoóis poliglicólicos etoxilados com óxido de etile-
no em vários graus estequiométricos, com a intenção de combinar
uma boa detergência com excelentes propriedades de umectação
acopladas à função de desaerante e agentes de fluidez de banho
(Cavaco-Paulo, 2003). O uso de tensoativos não iônicos garante
uma total eficácia das enzimas, pois os detergentes de caráter ani-
ônico, como os dodecilbenzenos sulfonados, os alcoóis sulfatados
ou mesmo os poliglicólicos etoxilados sulfatados, tendem a reagir
com os sítios reativos das enzimas, reduzindo sua atividade sobre
a substância com a qual deveria reagir. Essa combinação favorece
uma boa igualização tintorial das camadas da bobina, porém, não
garante total eficiência do processo, apresentando alta taxa de se-
gunda qualidade.
Neste trabalho, serão direcionados esforços para conseguir uma
composição enzimática com tensoativos, aditivos específicos e grá-
Fonte: Palestra Novozymes fico processual que nos leve à eliminação da segunda qualidade de
fio, causada pela desigualização tintorial nas camadas da bobinas.

O número de moléculas de glicose corresponde, aproximada- 2.6.2 ENZIMAS


mente, ao grau médio de polimerização (PM) da fibra celulósica em As enzimas são um tipo especial de proteína produzida dentro
questão. Nas fibras celulósicas naturais, esse número varia entre das células dos organismos vivos. Envolvidas em todos os proces-
2.000 e 3.000. sos naturais, servem para auxiliar a digestão, rearranjar moléculas,
processar nutrientes, produzir energia, dar destino a produtos resi-
2.5.1 INCHAMENTO duais e regular uma grande variedade de outras funções metabóli-
As grandes e variadas moléculas de celulose não se encontram cas. Sem elas, a vida não existe.
organizadas. As fibras estão dispostas aleatoriamente e formam Enzimas são moléculas tridimensionais de proteínas, constituí-
as fibrilas, onde as moléculas estão, na maior parte, orientadas no das por cadeias polipeptídicas, obtidas através do processo de fer-
sentido do centro da fibra. Essa ordenação se encontra nas zonas mentação de fungos ou bactérias, sendo a maioria geneticamente
cristalinas da celulose. modificada. Essas cadeias aceleram as reações entre a enzima e um
Entre essas zonas, encontram-se também zonas semicristalinas determinado substrato, propriedade característica da catálise. São
e amorfas, que têm uma grande importância no comportamento fundamentais para a formação e sustentação da vida em todo nível
físico-têxtil e químico-têxtil das fibras celulósicas. evolutivo, sendo denominadas tecnicamente de catalisadores bio-
Entre as distintas moléculas da cadeia da celulose ocorrem uni- lógicos (Locke, 1969).
ões e forças por valências secundárias (ponte de hidrogênio, forças Certas enzimas são altamente específicas, outras controlam am-
de Van der Waals), que estabilizam determinados estados da fibra. pla gama de reações. São subdivididas em categorias de acordo
Atuando no âmbito molecular, essas forças físico-químicas atu- com os compostos sobre os quais agem ou com o tipo de reação
am preferentemente entre as cadeias celulósicas, com alto grau de que controlam, recebendo quase sempre o sufixo “ase” em seu

Preparação | Revista Química Têxtil 47


nome (Cavaco-Paulo, 2003). A celulase, por exemplo, decompõe a 2.6.4 ENZIMA PECTINASE
celulose, a protease converte proteínas em aminoácidos, a lipase A preparação enzimática da fibra natural do algodão tem como
decompõe lipídios e gorduras em glicerol e ácidos graxos, e a ami- finalidade eliminar os componentes que dificultam e prejudicam o
lase degrada amido em açúcares simples. processo tintorial, como graxas, pectinas, hemiceluloses e sais mi-
Para funcionar corretamente, as enzimas precisam de certas con- nerais, assim como as impurezas de industrialização, como lubrifi-
dições específicas. São ativas numa faixa estreita de pH e sensíveis a cantes e gomas de tecelagem. Esse processo promove ao algodão
mudanças de acidez ou alcalinidade em seu meio ambiente. excelentes características de molhabilidade, facilitando os proces-
Comparadas a reações químicas, agem sob condições relativa- sos subsequentes, como pré-alvejamento, mercerização, tingimen-
mente brandas em termos de temperatura (temperatura ambiente to, estamparia e acabamentos. (Novozymes, 2003; p.1).
ou temperatura do corpo humano, por exemplo) e de acidez (valo-
Figura 4 – Esquema funcional enzimático
res de pH próximos ao ponto neutro). As extremozimas constituem
uma exceção da regra, já que, produzidas por bactérias extremófi-
las, são ativas sob circunstâncias extremas, presentes em ambien-
tes extremos, como gêiseres, mares polares frios e lagos altamente
salinos.
As enzimas podem apresentar, também, efeitos secundários in-
desejados, como o deterioramento de alimentos, razão pela qual
os processos industriais de alimentos consistem em impedir que as
enzimas os decomponham ou deteriorem por meio de tratamentos
térmicos, para destruir quaisquer microrganismos vivos e desativar
as enzimas.
Em muitos casos, as enzimas podem substituir substâncias quí-
micas sintéticas e contribuir para os processos de produção e gerar
benefícios para o meio ambiente, por meio da biodegradabilidade
e menor consumo de energia. São mais específicas em sua ação do
que as substâncias químicas sintéticas.
Os processos que empregam enzimas, portanto, produzem me-
nos subprodutos residuais, propiciando a obtenção de produtos de
Fonte: Palestra Novozymes
melhor qualidade e diminuindo a probabilidade de poluição (www.
cib.org, 2008). A pectina é o maior componente da parede celular. Esses polis-
Nos processos a úmido na indústria têxtil, o uso de enzimas pro- sacarídeos podem ser degradados por enzimas pectinas, denomi-
porciona a hidrólise de elementos específicos, os compostos inso- nadas pectinases. Podem ser classificadas em enzimas desesteri-
lúveis são transformados em produtos solúveis. O uso das enzimas ficantes e despolimerizantes. Pectinases são importantes enzimas
amilases iniciou-se em 1950, com a remoção do amido das gomas industriais, utilizadas principalmente para aumentar a eficiência de
dos fios engomados em tecidos. Devido a sua remoção efetiva, filtração e clarificação de sucos de frutas. Na maceração, liquefa-
mostrou-se uma excelente alternativa para processos têxteis a úmi- ção e extração de tecidos vegetais, podem ser responsáveis pela
do. Recentemente, entretanto, as celulases foram as enzimas mais patogênese em plantas. São amplamente produzidas por fungos
usadas em processos a úmido, como no chamado stonewashing do Aspergillus sp. Atualmente, o processo de preparação biológica do
tecido denim jeans, para a produção de efeitos especiais nas calças, algodão utiliza enzimas pectinases para degradação da parede
e no biopolimento de artigos de algodão, eliminando fibrilas super- matrix de pectina contida na primeira camada da fibra. Poderosa
ficiais, processo muito usado na América do Norte e, ultimamente, goma biológica, é constituída por ácido poligalactúrico que, em
no mercado brasileiro. quase sua totalidade, é transformado em sais de cálcio, magnésio
Figura 3 – Estrutura Enzimática ou ferro durante o crescimento da planta.
A maioria desses sais insolúveis de pectinas serve para aglutinar
as graxas, proteínas e ceras na primeira camada da fibra de algo-
dão em um matrix, formando a proteção da fibra durante o seu
crescimento. Hidrolisar a pectina na primeira camada torna-se uma
condição essencial para romper superficialmente essa proteção,
abrindo espaço para liberação de outros elementos que favorecem
a absorção de água sem danificar a estrutura da celulose (www.
biota.org.br, 2009).
Enzimas pectate lyase alcalinas são enzimas pectinases que de-
gradam a pectina contida na fibra celulósica na primeira camada;
entretanto, não são todas as pectinases que apresentam a facilida-
de de hidrolisar a pectina. As pectinases mais indicadas para essa
função são aquelas que atuam em baixa alcalinidade. Muitas enzi-
mas pectinases não são viáveis comercialmente.
As enzimas usadas na preparação enzimática são selecionadas
com base no seu pH e temperatura compatível, levando em conta
Fonte: Palestra Novozymes o tempo requerido, a qualidade do produto final, a absorbância de
água, a alvura e a pectina residual (Hoondal et al, 2002).
2.6.3 GRÁFICO DA REAÇÃO CATALÍTICA DAS ENZIMAS
O entendimento das características catalíticas das enzimas está 2.6.5 ENZIMA CELULASE
relacionado diretamente ao substrato, visto que, com a reação, As enzimas celulases auxiliam a degradação da celulose por um
toma lugar o complexo enzima-substrato (Leadlay, 1993). Para sa- processo de hidrólise, causando a perda de massa e diminuindo
ber como a enzima trabalha, é preciso conhecer não só a estrutura o grau de polimerização. A coleção de celulases livres e/ou com-
da enzima nativa, mas, também, o complexo enzima-substrato, in- plexos multicomponentes é chamada de celulosomas (Bayer et al,
termediário e o produto final (Fersht, 1999). 1998; Andreaus, 2001).

Preparação | Revista Química Têxtil 49


Figura 5 a) Endogluconases ou Endocelulases (EGs): degradam, em especial,
Esquema simplificado da hidrólise da celulose com pectinase as regiões do complexo da celulose. Quando hidrolisam uma liga-
ção, atuam em regiões aleatórias ao longo da cadeia de celulose. A
ação da EG resulta na quebra da celulose amorfa (região interna)
em grandes fragmentos da cadeia principal. São mais ativas nas re-
giões menos cristalinas. Em muitas aplicações práticas, a atividade
da EG tem sido prejudicial à resistência das fibras. São compostos
das enzimas ácidas que atuam em pH 4,5 –5,5 e temperatura de 50
a 60 graus;

b) Celobiohidrolases ou Exocelulases (CBHs): esses componentes


de celulase também degradam as regiões cristalinas do material
de celulose. Quando as CBHs se inserem no filamento de celulose,
partem da extremidade da cadeia e podem também atuar em regi-
ões cristalinas da celulose. A ação das CBHs resulta em dímeros de
glicose chamados de Celobiose;

c) Celobiase: a celobiase degrada a celobiose, resultando em dois


açúcares de glicose. Pode ter efeito destrutivo em artigos têxtil,
porque remove a celobiose, que inibe as reações de degradação
da celulose;

d) Exoglucanases: são ativas na celulose cristalina. Hidrolisam a


celulose das extremidades das cadeias produzindo polímeros de
glicose de baixo peso (Enhancement of Seed Coat Fragment Remo-
val from cotton by Enzymatic Treatment; Juhea Kim; Dissertation;
Athens, Geogia, 2000, p 14,15). Nos processos de biopolimento, as
endogluconases fazem a maior parte do trabalho de remoção de
fibrilas (www.fcf.usp.br, 2009).

Figura 6 - Modelo de uma celulase, produzida por T. Fusca, baseado na estru-


Fonte: Palestra Novozymes tura Pdb 1 Js4

A hidrólise ocorre quando uma ligação glucosídica beta covalen-


te – 1,4 é quebrada pela inserção de uma molécula de água sobre a
ligação. Vários tipos de celulases devem trabalhar juntos para que-
brar a celulose em açúcares solúveis.
Normalmente, as composições enzimáticas contêm múltiplos
elementos enzimáticos com o objetivo de eliminar ou amenizar os
efeitos indesejáveis no processo de biopolimento. A catálise de celu-
lase necessariamente não está ligada exclusivamente à presença de
aminoácidos ácidos, pois foi constatado que a atividade de celulase
alcalina, como observado para endoglicanases de Bacillus subtilis,
depende de um resíduo Ser287 e um Ala296, desde que as muta-
ções do sítio sejam dirigidas alterando esses aminoácidos e modi-
Fonte: Palestra Novozymes
ficando a característica de hidrólise das enzimas (Said et al, 2004).
Em termos de seus mecanismos de reação catalítica, as celulases
assemelham-se a outras hidrolases glicosídicas, tais como lisozi- A degradação da celulose exige vários tipos de enzimas, como as
mas e amilases, embora diferenças sutis também sejam verificadas endugluconases (EC:3.2.1.4), celobiohidrolases (EC:3.2.1), exogluca-
nas especificidades macroscópicas do substrato (Teeri, 1997). nases ou xilanases (EC:3.2.1.8). Estruturalmente, a celulase é cons-
Capazes de tornar os tecidos mais lisos e macios, degradando tituída pelo domínio catalítico, que ingressa no binding domain
as fibras da superfície (fibras soltas e microfibrilas), essas fibras são (CBD) por uma ligação rica em prolina e ou hidroxiamino ácido. O
compostas basicamente de celulose, constituindo material não bindind domain é encontrado nas extremidades dessas enzimas,
biodegradável, tornando-se, por isso, um problema para o trata- quer no terminal N ou no terminal C.
mento de efluente (www.enq.ufsc.br, 2009). A maioria das celulases fúngicas é constituída por dois domínios:
As enzimas ácidas (pH 4,5–5,5) podem ser aplicadas com eficiên- um grande domínio catalítico e um pequeno domínio de ligação da
cia em equipamentos de baixa ação mecânica. Para preparações celulose (Cellulose Binding Domain – CBD). O domínio catalítico é
em fios de algodão em bobinas cruzada, nas quais o processo me- o local em que ocorre a hidrólise das cadeias de celulose, ou seja,
cânico para atuação das enzimas é muito lento, recomenda-se o é o centro ativo que reage com o substrato (Heikinheimo, 2002).
uso de enzimas celulases cujo percentual da endogluconases seja A catálise das ligações glicosídicas 1,4 – Beta – D está associada à
elevado em combinação com celubiose. presença de grupos aminoácidos, como o aspartato ou glutamato.
Nos artigos mais sensíveis, em que a atuação enzimática deverá O CBD estabelece a ligação ao substrato via ligações hidrofó-
ser mais amena e a agressividade reduzida, recomenda-se traba- bicas e interações de Van der Waals. É essencial a atividade na ce-
lhar com enzimas em pH mais próximo ao neutro. lulose cristalina, apesar de possuir atividade própria de hidrólise,
São sistemas multienzimáticos, que atuam sinergisticamente. As mas interage sinergisticamente com o domínio catalítico. A ligação
enzimas constituintes são: do CBD com o domínio é realizado por um polipeptídio, conhecido

50 Revista Química Têxtil | Preparação


Figura 7 Figura 8
Binding Domain Máquina horizontal Thies para tingimento de fios em bobinas

Fonte: Palestra Novozymes Fonte: Karsten

como linker. O linker é responsável pela flexibilidade dos dois do- Tabela 1 – Receita para alvejamento e tingimento convencional
mínios. A presença do CBD é essencial para a degradação da celu-
lose cristalina sólida. Segundo Andreaus (2001), a remoção do CBD
tipicamente resulta na diminuição de 50% a 80% da atividade da
celulose fúngica nos substratos insolúveis, mas não nos solúveis.

2.7 REDUÇÃO DO ÁLCALI


Observou-se que, quando se retira a soda cáustica do proces-
so e é trabalhado com carbonato de sódio (pH 9,0) na etapa do
pré-alvejamento, os resultados de igualização foram muito bons,
apresentando o Delta E de 0,2 para as camadas internas e 0,5 para
camadas externa do conical. Em contrapartida, o grau de alveja-
mento ficou muito abaixo do desejado, que era de D65 - 93,76. O
processo foi reprovado pelo controle de qualidade, que não aceita
diferenças no grau de branco, pois teriam que ser mudadas todas
as receitas de tingimento utilizando esse novo fundo.

2.8 REDUÇÃO EM PESO DO FIO NA BOBINA Fonte: Akmey Brasil


Essa possibilidade é bastante eficiente quanto à qualidade tin-
torial das bobinas. Normalmente, os tingimentos apresentam boa
igualização, com diferenças de tonalidades inferiores a 0,3 de Del- Os produtos são colocados conforme a ordem observada no grá-
ta E. Entretanto, essa condição não é econômica pois, reduzindo fico abaixo. Aquecer a 95°C em 20 minutos, permanecendo por 40
o peso da bobina, aumenta-se a relação de banho, são usados minutos. Em seguida, adicionar o redutor de peróxido de hidrogê-
mais corantes reativos para atingir o mesmo grau de intensidade nio, circulando por 10 minutos. Transbordar por 10 minutos e soltar
em relação de banho mais baixas, diminui-se a produção e, con- o banho. Lavar por 10 minutos a 80°C, soltar o banho e lavar por 10
sequentemente, o custo dos artigos aumenta. A maioria dos equi- minutos a 60°C
pamentos para tingimento modernos apresenta configuração para
trabalhar com bobinas com peso próximo a 1,0 kg e operar com Gráfico 1 – Processo de pré-alvejamento e tingimento convencional
relação de banho entre 1:6 e 1:8.

2.9 PROCESSO DE PRÉ-ALVEJAMENTO E TINGIMENTO


CONVENCIONAL
Processo utilizado atualmente, serão feitas as alterações e com-
parações de alvura, tempo, aparência, igualização do fio baseados
nessas condições de temperatura.

Fonte: Akmey Brasil

Nos itens a seguir, são relacionados os problemas causados por


esse processo.

Preparação | Revista Química Têxtil 51


2.9.1 FILTRO Tabela 2 - Condições aplicadas nos testes
Devido à quantidade usada de álcali – Soda Cáustica 50 Bé – 3,0
g/l, o pH de preparação atinge o patamar de 13,5. Essas marcas são
elevadas e promovem o intumescimento, inchamento e a precipi-
tação dos elementos insolúveis no sistema, condição que favore-
ce a formação do efeito filtro na bobina. Esse efeito se intensifica
próximo ao porta-material, causando as diferenças tintoriais, tanto
pela pressão entre os níveis das camadas do fio como pela dificul-
dade do corante para atingir a fibra, impedido pelos precipitados
adsorvidos pela própria fibra.

2.9.2 DESIGUALIZAÇÃO TINTORIAL


Devido às pressões internas do fio de algodão – causadas pelo in-
tumescimento e encolhimento da fibra, resultando na diminuição
da porosidade interna das camadas de fios na bobina – e aos resí-
duos sólidos filtrados nessa situação ocorrem diferenças tintoriais
utilizando o método da Média no Volume por Whitaker de 1985
(Revelo, 2001). Fonte: Akmey Brasil

2.9.3 PERDA DE RESISTÊNCIA DO FIO 3.1 EXPERIMENTOS INDUSTRIAIS


O processo agressivo alcalino/oxidativo, catalisado pelas tempe- 3.1.1 PRIMEIRO TESTE
raturas altas (100ºC–110º C), tende a causar a despolimerização das Inicia-se o teste colocando o composto enzimático em pH le-
fibras celulósicas. A média de polimerização do algodão é de 2.000 vemente alcalino (pH 7,7). Reduzindo-se as quantidades de soda
a 3.000, mas, após processos agressivos de alvejamento, esse nível cáustica em 33%, elimina-se o detergente, desairante, antiespu-
pode atingir 1.500. Dessa forma, o algodão perderá suas caracte- mante e o redutor de peróxido inorgânico, que são substituídos
rísticas próprias, em especial a resistência à tração, tornando o fio por enzima catalase.
menos resistente e provocando sérias ocorrências na urdição, en-
gomagem, tecelagem plana e malharia. Tabela 3 – Receita do primeiro teste

2.9.4 AUTOÍNDICE DE FIO CLASSIFICADO PARA 2A QUA-


LIDADE
Os resultados das desigualizações tintoriais causam as excessivas
perdas de fios que vão para a segunda qualidade, atingindo, em
algumas empresas, 5% do peso total dos fios tintos.

2.9.5 DIFICULDADE DE REBOBINAGEM


O volume de álcali usado nos processos tintoriais, tanto na pre-
paração quanto no tingimento, geram muito pó, que se mistura
ao entrelaçamento das fibrilas entre os fios, condição que dificul-
ta o desenrolar do mesmo do porta-material de tingimento para o
porta-material que será utilizado nas tecelagens e urdições. Essas
condições diminuem o bom desempenho da rebobinadeira.
Fonte: Akmey Brasil

3. METODOLOGIA
Todos os testes foram realizados em planta, em equipamento de Aquecer o banho a 55°C, verificar pH 7,0-8,0. Adicionar os pro-
produção, com o intuito de obter resultados o mais próximo pos- dutos conforme o gráfico abaixo, circular por 40 minutos e soltar o
sível da realidade. As avaliações dos fios após a preparação foram banho. Adicionar a Soda Cáustica e Água Oxigenada aquecendo a
feitas no laboratório físico-químico da empresa. 95°C por 20 minutos, circular por 20 minutos e soltar o banho. Lavar
a 95°C por 10 minutos . Encher a máquina, acertar o pH para 6,0-7,0
e adicionar os produtos para o tingimento.

Gráfico 2 – Primeiro teste

Fonte: Akmey Brasil

Preparação | Revista Química Têxtil 53


3.1.2 SEGUNDO TESTE COM ENZIMAS Tabela 5 - Receita do terceiro teste
Serão usadas as mesmas condições de equipamento, banho,
tempo de direcionamento do banho, com as mesmas quantidades
de soda cáustica da receita convencional e com o composto enzi-
mático em pH levemente ácido (pH 5,0).
Tabela 4 – Receita do segundo teste

Fonte: Akmey Brasil


Fonte: Akmey Brasil

Aquecer o banho a 60°C, adicionar o ácido e acertar o pH para Aquecer o banho a 65°C, adicionar os produtos conforme o grá-
4,5-5,0. Adicionar o composto enzimático, permanecer por 40 mi- fico, acertar o pH para 5,0, permanecer por 40 minutos e soltar o
nutos e soltar o banho. Adicionar a Soda Cáustica, sequestrante e banho. Adicionar os produtos para o alvejamento, aquecer a 105°C,
água oxigenada, aquecer a 105° em 20 minutos e permanecer por permanecer por 30 minutos, resfriar para 95°C e soltar o banho.
30 minutos. Resfriar a 95°C e soltar o banho. Lavar a 95°C por 10 Lavar a 95°C por 10 minutos e soltar o banho. Encher a máquina
minutos e soltar o banho. Encher a máquina e acertar o pH para e acertar o pH para 6,0 – 7,0 e adicionar os produtos para o tingi-
6,0-7,0 e adicionar os produtos para o tingimento. mento.

Gráfico 3 – Segundo teste Gráfico 4 - Terceiro teste

Fonte: Akmey Brasil Fonte: Akmey Brasil

3.1.3 TERCEIRO TESTE COM ENZIMAS 3.1.4 QUARTO TESTE COM ENZIMAS
Com a intenção de melhorar a reumectação, será inserido deter- Neste teste, elimina-se totalmente a quantidade de soda cáusti-
gente/umectante; e, para remover mais a dureza, adicionado se- ca. A primeira parte do processo com enzimas será trabalhada em
questrante/dispersante. pH levemente ácido (5,7).

Preparação | Revista Química Têxtil 55


Tabela 6 - Receita do quarto teste
Aquecer o banho a 65°C, adicionar os produtos conforme o gráfi-
co, acertar o pH para 5,0, permanecer por 40 minutos e soltar o ba-
nho. Adicionar os produtos restantes, aquecer a 105°C, permanecer
por 30 minutos, resfriar para 95°C e soltar o banho. Lavar a 95°C por
10 minutos e soltar o banho. Encher a máquina e acertar o pH para
6,0 – 7,0 e adicionar os produtos para o tingimento.

Gráfico 5 - Quarto teste

Fonte: Akmey Brasil

Fonte: AkmeyBrasil

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Tabela 7 – Resultados obtidos

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.4 PREPARAÇÃO SEM ÁLCALI


Nesse processo em que o pH está próximo ao neutro no alveja-
Como resultado pôde-se constatar: mento e na preparação enzimática, trabalhou-se com pH levemen-
te ácido. Foi obtido excelente índice de igualização, com ótima reu-
O processo ácido diminuiu o teor de dureza do fio, porém não mectação e baixa dureza final, porém, com o grau de alvura muito
houve igualização. Vimos que na parte interna da bobina a suji- inferior ao desejado.
dade é maior, junto com a diferença de cor delta E. A reumecta-
ção também é inferior. Essas ocorrências têm relação direta com
o acúmulo de resíduos provenientes dos precipitados e sujidades 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
em geral , e com o efeito filtro intensificado nessas regiões. O fio O problema causado pela má igualização tintorial em bo-
foi reprovado. Foram feitos testes alterando os tempos de direcio- binas cruzadas sobre fios 100% algodão retorcido em dois cabos
namento do fluxo de banho para 5 minutos (DF e FD), porém os ainda causa prejuízo para a indústria têxtil. Nos processos de pre-
resultados não se alteraram. A parte externa sempre é mais clara e paração enzimática, nos quais o alvejamento é dispensável em tin-
a interna mais escura e menos hidrófila. gimento de cores médias e escuras, os resultados de uniformidade
Em paralelo, foram feitos testes sem álcalis, com o intuito de ob- tintorial são muito bons e a segunda qualidade é drasticamente
servar o efeito do no sistema. reduzida, chegando a níveis próximos de zero, assim como é bom
4.1 REDUÇÃO DE ÁLCALI o desempenho nas rebobinadeiras, na urdição e na tecelagem. Os
Observa-se que quando a soda cáustica é retirada do processo e fios beneficiados são mais arredondados e apresentam maior resis-
trabalha-se com carbonato de sódio (pH 9,0) na etapa do pré-alve- tência mais brilho, ótima reumectação e flexibilidade acentuada.
jamento, os resultados de igualização são muito bons, apresentan- Quando são tratados os fios rebobinados de algodão dois cabos
do o Delta E de 0,2 para as camadas internas e 0,5 para as camadas para cores claras, nas quais o alvejamento é necessário, os proces-
externa do conical. Em contrapartida, o grau de alvejamento ficou sos enzimáticos combinados com alvejamento melhoram em mui-
muito abaixo do desejado, que era D65 – 93,76. O processo foi re- to as características fisico-química do fio, entretanto, não foram
provado pelo controle de qualidade, que não aceita diferenças no obtidos resultados expressivos.
grau de branco, pois seria necessário mudar todas as receitas de Chega-se à conclusão de que, mesmo reduzindo a dureza a va-
tingimento utilizando esse novo fundo. lores baixos, a desigualização continua com pequenas melhorias.
Na alternativa para trabalhar em cores claras, nas quais o alveja-
4.2 MEIO ÁCIDO mento é imprescindível, deve-se desenvolver tratamento no qual o
O processo ácido melhorou a redução da dureza do fio, mas não algodão não promova o movimento de torção sobre seu eixo longi-
a igualização. Concluí-se que, na parte de dentro da bobina, piora tudinal com grande intensidade. Para que isso ocorra, é necessário
a sujidade do fio, é maior a diferença do Delta, e assim, como a reu- utilizar produtos que degradem o peróxido de hidrogênio em pH
mectação é inferior em outras partes da bobina. Essas ocorrências 10,5, bem como submeter a temperaturas mais baixas que 100 ºC.
têm relação direta com o acúmulo de resíduos provenientes dos Deixam-se, assim, algumas informações para novas pesquisas, com
precipitados e sujidades em geral e com o efeito filtro intensificado a certeza de que os procedimentos enzimáticos evoluirão e trarão
nessas regiões. mais benefícios nessa área da indústria têxtil.
4.3 DIRECIONAMENTO DO FLUXO DO BANHO
Foram feitas alterações no direcionamento do fluxo de banho
para 5 minutos. Os resultados não modificaram DF e FD.
Sempre, a parte externa é mais clara e as camadas de dentro são
mais escuras e menos hidrófilas.
Preparação | Revista Química Têxtil 57
Processos

SOLUBILIDADE DIFERENCIAL DAS FIBRAS


QUÍMICAS DE CELULOSE
Este ensaio de caracterização da estrutura fina das fibras foi aplicado a substratos
de diferentes fibras celulósicas, como viscose, modal, polinósicas e liocel

Autores:
Joaquín Gacén e Diana Cayuela
Universidade Politécnica de Catalunha – Espanha

Tradução:
Agostinho S. Pacheco – ABQCT

Revisão Técnica:
Rafael Ramos

RESUMO
Foi estudada a solubilidade diferencial de fibras químicas de o ensaio de solubilidade diferencial das fibras de poliamida em
celulose em dissoluções cloreto de zinco/ácido fórmico. Este misturas fenol/isopropanol e o aplicaram em substratos preparados
ensaio de caracterização da estrutura fina das fibras foi aplicado com diferentes relações de estiramento, ou termofixados em
a substratos de diferentes fibras celulósicas, tais como viscose diferentes temperaturas.
(fibra descontínua e fio contínuo), modal, polinósicas e liocel. A Neste estudo, pretende-se adaptar o ensaio de solubilidade
técnica desenvolvida permitiu a identificação de diferenças de diferencial às fibras de celulose. Por seu caráter não termoplástico,
estrutura fina em substratos de diversas famílias de fibras químicas a estrutura fina dessas fibras não costuma ser sensível aos
celulósicas e, inclusive, em substratos da mesma família e/ou forma tratamentos térmicos e hidrotérmicos habitualmente aplicados
de apresentação (fibra descontínua, fio contínuo). no processamento têxtil. Por outro lado, as diferentes famílias
de fibras químicas de celulose são fabricadas em condições que
1.INTRODUÇÃO conduzem a produtos bastante diversificados, tais como viscose,
Gácen, Maillo e Baixauli desenvolveram o ensaio de solubilidade modal, polinósica (processo xantato), liocel (fiação em dissolvente
diferencial como método de caracterização da estrutura fina das ou fiação em seco/úmido em NMMO) ou cupro (8) (9).
fibras de poliéster (1) e acrílicas (2). Essa técnica é muito sensível Essas variantes de fibras celulósicas diferem de dúvida: o correto
para identificar diferenças de estrutura fina em substratos objetos não seria diferem em? suas propriedades de tração, sobretudo
de comparação e ajuda a explicar comportamentos tintoriais não em condições úmidas e em meio fortemente alcalino, como
uniformes ocasionados por diferenças de estrutura fina. consequência de variações na sua estrutura fibrilar (mais ou menos
A solubilidade diferencial é definida como a porcentagem de ordenada e/ou orientada). Por outro lado, as fibras celulósicas de
uma fibra dissolvida em uma determinada mistura (dissolvente/ uma determinada família podem apresentar diferenças de estrutura
não dissolvente) depois de permanecer em contato com ela fina em função de terem sido fabricadas em condições diversas
durante um tempo fixado, em uma temperatura determinada. por diferentes produtoras ou, advertida ou inadvertidamente,
Quando se tratam de fibras de poliéster, utiliza-se mistura fenol/ por uma mesma produtora. Neste último caso, podem apresentar
tetracloroetano (1) ou fenol/água (3). A solubilidade diferencial comportamentos tintoriais diferenciados e situações conflitantes.
dessas fibras é muito sensível às variações da estrutura fina que De acordo com a hipótese dos autores, o ensaio de solubilidade
produzem os tratamentos térmicos nas condições em que estes diferencial poderia ser sensível às diferenças de estrutura fina
são aplicados (4). que apresentam as várias famílias de fibras químicas de celulose
No caso da fibra acrílica, a mistura utilizada é dimetilformamida/ e, inclusive, às diferenças que, por uma ou outra razão, possam
água (2) e a técnica é muito sensível às variações da estrutura fina estar presentes em fibras de uma mesma família fabricadas por
que se produzem como consequência da aplicação do relaxamento diferentes produtoras ou até por uma mesma produtora. Sendo
ou estabilização em diferentes condições. O ensaio de solubilidade assim, seria útil como técnica de caracterização das estruturas fina
diferencial das fibras acrílicas também é muito sensível à das fibras químicas de celulose.
composição relaxamento/retração dos fios de alto volume (HB), Em primeiro lugar, devemos proceder à seleção de um sistema
já que os componentes de relaxamento e de retração apresentam dissolvente/não dissolvente com capacidade controlada de
solubilidades muito diferentes (5). dissolução da celulose. Cuculo e outros (10) e Arranz (11,12) se referiram
Recentemente, Gacén, Cayuela, Maillo e Tzvetkova (6) (7) definiram a dissolventes diretos da celulose com efeito de desenvolver

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produtos celulósicos de melhor qualidade. Por outro lado, O ensaio de solubilidade diferencial adaptado a fibras químicas
soluções com cuproamônio (CUAM) (13), cuprietilendiamina (CUEN) celulósicas poderia ser útil para detectar diferenças de estrutura
e tartrato férrico/sódico (EWNN) (14) são usadas na determinação da fina entre fibras da mesma família, mas de origens diversas. Isso
fluidez ou do grau de polimerização da celulose por viscosimetria. poderia ser útil para explicar comportamentos não uniformes
Também pode ser assinalado que o zincato sódico e as soluções (tingimentos com diferentes intensidades de cor).
de cloreto de zinco/ácido fórmico são usados na análise química Este estudo foi realizado usando nove substratos de viscose,
das misturas algodão/fibras químicas celulósicas (15). Essas soluções um de fibra modal, um de fibra polinósica e dois de fibras liocel.
atuam dissolvendo ou dispersando a fibra química celulósica da Foram feitos estudos em todos esses substratos, determinando
correspondente mistura. suas solubilidades diferenciais em sistemas cloreto de zinco/ácido
Neste estudo, foi aplicado o sistema cloreto de zinco/ácido fórmico fórmico, com diferentes concentrações de cloreto de zinco. Também
da Norma ISO 1833, Método nº 3, utilizado para a determinação foi determinada a sua capacidade de absorção de água, o valor de
quantitativa das misturas de algodão/viscose (15), usando-se uma retenção de água (WRV) (16), de grande sensibilidade quanto à variação
solução de ácido fórmico de 85% que continha 20% de cloreto da estrutura fina das fibras químicas celulósicas. Isso permitirá
de zinco anidro. Nas condições descritas neste método, podemos comparar as respostas desses dois ensaios frente às diferenças
obter a dispersão completa das fibras de viscose. Sabendo-se que de estrutura fina entre substratos objetos de comparação.
a capacidade de dispersão do componente viscose deve estar
relacionada à concentração de cloreto de zinco na dissolução, cabe 2. PARTE EXPERIMENTAL
esperar que, usando uma concentração de cloreto de zinco abaixo 2.1 MATERIAL
da indicada na Norma (20%) e mantendo constantes as demais - 9 substratos de viscose, 6 de fibra descontínua (V.1–V.6) e 3 de fio
condições do ensaio, seja possível obter como resultado diferentes contínuo, têxteis de diferentes produtoras europeias.
níveis de solubilização do componente viscose. - 1 substrato de fibra modal (M.1) fornecido por uma produtora
Desse modo, podemos obter curvas de solubilidade diferencial europeia.
de uma fibra química de celulose em função da concentração - 1 substrato de fibra polinósica (P.1) fornecida como tal, porém, de
de cloreto de zinco no sistema cloreto de zinco/ácido fórmico. procedência desconhecida.
Sabendo-se que entre as diversas famílias de fibras celulósicas - 2 substratos de fibras liocel, um deles convencional (L.1) e um não
existem importantes diferenças de estrutura fina, é possível que fibrilável (L.2) fornecidos por uma produtora europeia.
estas se traduzam em respostas diversas ao ensaio de solubilidade
diferencial em determinadas condições.

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2.2 TRATAMENTOS da dissolução em regiões mais compactas ou ordenadas que
Os substratos foram purgados em um banho, que continha 1,5 afetariam a dissolução, mais ou menos completa, das regiões ou
g/l de Cotemoll TO (mistura de tensoativos aniônicos e não iônicos) entidades estruturais correspondentes. Assim, na medida em que
e 1,5 g/l de carbonato de sódio, durante 30 minutos a 100º C, com aumenta a concentração de cloreto de zinco, iria sendo dissolvida
uma relação de banho 1/30. a matéria localizada em regiões mais compactas, aquelas que não
Após o tratamento, os substratos foram lavados com água, seriam acessíveis às dissoluções com menores concentrações de
neutralizados com ácido acético diluído (0,75 ml/l), lavados cloreto de zinco.
repetidamente com água destilada em temperatura ambiente e
secos ao ar livre. Tabela 1. Solubilidade diferencial (%) em dissoluções de cloreto de
zinco/ácido fórmico e valores de retenção de água (WRV) de fibras
2.3 SOLUBILIDADE DIFERENCIAL químicas celulósicas
O ensaio foi realizado seguindo-se as indicações do International
Standards Organization, ISO 1833, Método nº. 3 (15) (norma UNE 40-
110-94) para determinar a composição quantitativa das misturas
algodão/viscose.
Em um tubo de ensaio de 100 ml e com tampa esmerilhada,
são introduzidos 50 ml de uma solução de cloreto de zinco anidro
(7,5%–15%) em ácido fórmico de 85%. Em equipamento provido
de termostato, o tubo é aquecido até 40º C, então é introduzida
uma amostra de 0,5 g. Essas condições são mantidas durante duas
horas e trinta minutos, agitando-se duas vezes em intervalos de 45
minutos. O conteúdo do tubo de ensaio é então filtrado através de
um crisol de placas filtrante (nº 1) e a amostra, enxaguada com 20
ml da mesma solução.
O resíduo contido no crisol é lavado com 100 ml de uma solução
aquosa que contenha 20 ml de uma solução concentrada de
amoníaco (_ = 0, 880 g/ml), em um volume total de 100 ml. Lava-se
com água fria abundante. Seca-se o crisol com o resíduo até peso
constante, esfria-se e pesa-se. O conteúdo de umidade da amostra
é determinado por comparação, secando uma amostra paralela a
105º C até peso constante.
A perda de peso verificada pela amostra é calculada e expressa
como porcentagem de peso seco e é conhecida como “solubilidade
diferencial” nas condições do ensaio. Os seis substratos de viscose fibra descontínua podem ser
separados em três grupos de solubilidades diferenciais bastante
2.4 CAPACIDADE DE RETENÇÃO DE ÁGUA diversos (V.1–V.2, V.4–V.5 e V.3–V.6). As diferenças mais claras entre
O WRV nos substratos ensaiados foi avaliado segundo a Norma esses grupos se apresentam nas dissoluções que contêm 7,5% e
DIN 53814 (12), que se baseia na determinação da quantidade 12,5% de cloreto de zinco. Excetuando o substrato V.3, que possui
de água que as fibras podem absorver e reter em condições um WRV (84%) muito superior aos demais, esse parâmetro da
estritamente controladas. Esse parâmetro é expresso como uma estrutura fina está compreendido entre 77% e 80,5%. Essa diferença
relação entre a massa de água retida depois de uma agitação de é importante se considerarmos a grande reprodutibilidade do
duas horas, uma centrifugação de 20 minutos e a massa da amostra ensaio (+/- 0,5%). Por outro lado, esse intervalo de WRV está de
absolutamente seca (105º C) por quatro horas. acordo com o citado na bibliografia mais recente (70%–80%) (17, 18) e
difere do assinalado anteriormente (90%–120%) (8, 9). O menor WRV
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO de todos os produtos de viscose regular do mercado atual indica
A tabela 1 mostra a solubilidade diferencial dos substratos que sua estrutura fina é mais ordenada ou compacta do que a dos
estudados em dissoluções de cloreto de zinco/ácido fórmico com mesmos produtos fabricados alguns anos atrás.
diferentes concentrações de cloreto de zinco. Os valores da tabela Em princípio, caberia esperar que um maior WRV correspondesse
correspondem à média de dois ensaios e o erro experimental, a uma maior solubilidade diferencial e vice-versa; do mesmo modo,
expresso como desvio calculado a partir de diversas amostras caberia esperar solubilidades similares em produtos com parecida
ensaiadas em diferentes dias, é de +/- 3%. retenção de água. Isso nem sempre acontece dessa forma, pois:
Também foram indicados os valores do WRV ou a capacidade de a) O substrato V.2 com um WRV de 79,2% apresenta solubilidades
absorção, técnica muito sensível às variações da estrutura fina das diferenciais inferiores às do substrato V.6 com WRV de 75,7%.
fibras químicas de celulose. Ainda na tabela 1, podemos observar b) Os substratos V.3 e V.6, com solubilidades muito similares, quase
que a solubilidade diferencial dos diversos substratos aumenta sempre apresentam WRV muito diferentes (84,1% ante 75,3%).
na medida em que o faz a concentração de cloreto de zinco na c) Os substratos V.2 e V.4, com WRV muito similares, apresentam
dissolução utilizada. O aumento pode ser atribuído à penetração solubilidades diferenciais significativamente diversas.
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Pelo exposto, pode-se deduzir que os aspectos da estrutura Dos dados anteriormente expostos, percebe-se que, em
fina avaliados através da solubilidade diferencial não são igualdade de condições, os maiores valores da solubilidade
necessariamente os mesmos que os avaliados quando a estrutura diferencial correspondem às fibras de viscose, seguidas, em ordem
fina se caracteriza determinando o WRV. decrescente, pelas fibras modal, polinósicas e liocel. As diferenças
Em resumo, é possível dizer que as diferentes produtoras de observadas correspondem a diferenças de ordem e/ou orientação
viscose descontínua europeias oferecem ao mercado produtos de na estrutura fina das diversas famílias de fibras químicas celulósicas.
estruturas finas diferentes, que podem conduzir a comportamentos A resposta das fibras estudadas quanto à solubilidade diferencial
tintoriais também diferentes, fato que, no caso de misturas de está de acordo com dados publicados sobre a cristalinidade,
diferentes procedências ou partidas, poderiam dar origem a orientação e módulo em úmido das fibras químicas celulósicas.
defeitos de fabricação nos tecidos. Concretamente, foram encontrados valores de cristalinidade
Dos três substratos de viscose fio contínuo, dois (V.7 e V.8) de 0,38, 0,39 e 0,62 para fibras de viscose, modal e liocel,
apresentam solubilidades muito similares e muito mais baixas do respectivamente (20). Por outro lado, quanto ao valor de orientação
que as dos substratos de fibra descontínua estudados. Ao contrário, total, foram atribuídos 0,41 para fibras de viscose, 0,45 para fibras
os substratos V.7 e V.8 apresentam WRV bastante diferentes. modal e 0,59 para fibras liocel. Finalmente, os módulos em úmido
Também pode ser notado que o substrato V.9 apresenta uma das fibras químicas celulósicas são 50 cN/tex (viscose), 120 cN/tex
solubilidade diferencial muito superior à dos outros dois e WRV (modal), 230 cN/tex (polinósica) e 200-350 cN/tex (liocel) (9).
próximo ao substrato V.7. A solubilidade diferencial do substrato
V.9 é menor do que a dos substratos V.7 e V.8 e mais similar aos 4. CONCLUSÕES
substratos de viscose fibra descontínua. Nas condições experimentais deste estudo, podemos concluir
A fibra modal estudada tem uma solubilidade diferencial similar que:
à das fibras de viscose descontínua de menor solubilidade (V.1 e 1 - Os diversos substratos de viscose descontínua podem apresentar
V.2), exceto quando se usa uma dissolução com 12,5% de cloreto solubilidades diferenciais muito diferentes.
de zinco, que, neste caso, é muito maior do que a destas (96% ante 2 - A dissolução de cloreto de zinco/acido fórmico com 12,5% de
62%). Como o WRV dessa fibra modal é muito menor do que a das cloreto de zinco pode ser útil para detectar diferenças de estrutura
fibras de viscose descontínuas de similar solubilidade diferencial, fina entre substratos de viscose descontínua.
fica confirmado ainda com maior clareza que as características 3 - Os substratos de fio contínuo têxtil de viscose costumam
da estrutura fina avaliadas por meio do ensaio de solubilidade apresentar solubilidades diferenciais muito mais baixas do que as
diferencial não são as mesmas do que quando a caracterização é das fibras de viscose descontínua.
realizada atendendo à retenção de água. 4 - Contrasta a elevada solubilidade diferencial da fibra modal em
A solubilidade diferencial da fibra polinósica ensaiada é muito relação ao seu baixo WRV.
inferior à das fibras viscose e modal usadas no estudo. Quanto ao seu 5 - O substrato de fibra polinósica ensaiado apresenta WRV não
WRV, verifica-se que é muito menor do que os das fibras de viscose muito diferente do WRV da fibra modal, mas sua solubilidade
regular e algo menor do que a da fibra modal. Neste caso, coincide diferencial é muito mais baixa.
uma menor solubilidade diferencial com menor WRV. Não devemos 6 - As fibras de liocel apresentam níveis de solubilidade muito mais
estranhar as menores solubilidades diferenciais da fibra polinósica baixos do que as de outras famílias de fibras químicas de celulose.
em relação àquelas da fibra modal. Ambas são consideradas como 7 - Como era de se esperar, dado seu caráter reticulado, a fibra de
fibras químicas celulósicas de alto módulo em úmido, mas as liocel não fibrilável apresenta solubilidades muito mais baixas do
polinósicas possuem uma estrutura fibrilar mais ordenada e mais que as da fibra liocel padrão.
orientada, o que se traduz em maior estabilidade aos álcalis e maior 8 - Nem sempre o maior ou menor WRV corresponde a uma maior
capacidade de fibrilação(8). Esta última característica explica o seu ou menor solubilidade diferencial, respectivamente. Isso poderia ser
emprego preferencial na fabricação de artigos com acabamentos interpretado no sentido de que essas técnicas não consideram os
de toque de pele de pêssego. mesmos aspectos da estrutura fina das fibras químicas celulósicas.
Quanto às fibras liocel, podemos dizer que a sua solubilidade 9 - As dissoluções de cloreto de zinco/acido fórmico utilizadas
diferencial é muito inferior à de qualquer outra fibra química de no estudo permitem detectar diferenças de estrutura fina entre
celulose. Isso se deve a sua estrutura fina mais orientada substratos de diversas famílias de fibras químicas de celulose,
e ordenada (19). O substrato L.2 corresponde a uma fibra de e inclusive entre substratos da mesma família e/ou forma de
liocel não fibrilável por ter sido reticulada durante o processo de apresentação (fibra descontínua, fio contínuo).
fabricação antes de se proceder a sua secagem. Isso explica sua 10 - A diferente resposta das diversas famílias de fibras químicas
baixa solubilidade diferencial, que, por sua vez, explica que os celulósicas ao ensaio de solubilidade diferencial em dissoluções
retículos formados são estáveis em meio ácido no qual transcorre de cloreto de zinco/acido fórmico é consequência de diferenças
o ensaio de solubilidade diferencial. Por outro lado, o substrato L.2 na cristalinidade e/ou orientação de sua estrutura fina. O
possui maior WRV do que o substrato L.1. Isso se deve ao fato de comportamento observado está de acordo com valores publicados
que a formação de retículos no estado molhado conduz a um maior de sua cristalinidade, orientação e módulo das diferentes famílias
volume de poros, uma maior superfície interna, maior tamanho de fibras químicas celulósicas.
médio de poros, maior inchamento e maior acessibilidade em
relação às fibras de liocel padrão (20).

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