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SEGURANçANO TRABALHO
Prof. Me. Tiago Ribeiro da Costa
unidade I
TRABALHO E
SEGURANÇA
DO TRABALHO:
CONTEXTUALIZAÇÕES
Reitor
Wilson de Matos Silva
Direção Unicesumar
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância: Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson
C397 de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora
Seguranca No Trabalho / Professor Mestre Tiago Ribeiro da Costa. Cláudio Ferdinandi.
Publicação revista e atualizada, Maringá - PR, 2014.
108 p.
“Pós-graduação Núcleo Comum - EaD”. NEAD - Núcleo de Educação a Distância
1. Seguranca. 2. Trabalho. 3. EaD. I. Título.
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Coordenação de Sistemas Fabrício Ricardo Lazilha, Coordenação
CDD - 22 ed. ??? de Polos Reginaldo Carneiro, Coordenação de Pós-Graduação, Extensão e Produção de Materiais Renato
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Dutra, Coordenação de Graduação Kátia Coelho, Coordenação Administrativa/Serviços Compartilhados
Evandro Bolsoni, Gerência de Inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge, Gerência de Marketing Harrisson
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Brait, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da Rosa Moura, Design Educacional
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Larissa Finco, Diagramação Humberto Garcia da Silva, Revisão Textual Yasminn Zagonel, , Fotos Shutterstock.
Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
boas-vindas
Pró-Reitor de EaD
Willian Victor Kendrick
de Matos Silva
a importância da pós-graduação
Professor Mestre
Tiago Ribeiro da Costa
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estu-
dará nesta unidade:
• O trabalho e seus contextos;
• Evolução histórica do trabalho;
Objetivos de Aprendizagem • Revolução industrial: a crise que gestou a segu-
• Proporcionar o conhecimento, por parte dos acadêmicos, acerca rança do trabalho;
da contextualização do Trabalho, objeto de estudo da Segurança • O estado de crise da revolução industrial e o de-
do Trabalho, no plano das necessidades humanas e de seus di- senvolvimento dos primeiros princípios sobre
ferentes contextos (filosófico, econômico, religioso, científico e segurança do trabalho;
cultural-educativo) • Aplicação de princípios e diretrizes de seguran-
• Problematizar os conhecimentos acerca dos fatores históricos que ça e saúde no trabalho no Brasil;
desencadearam a Gênese dos princípios de Segurança do Trabalho.
• Estabelecer uma análise inicial sobre os dispositivos legais que
regem as ações de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional.
Prezado aluno, seja bem vindo! Estamos iniciando nosso estudo sobre
a Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional no contexto da
Gestão com Pessoas. Entretanto, como mencionado na apresenta-
ção desta obra, antes de falarmos sobre a Segurança do Trabalho em
si, precisamos nos convencer sobre a importância de seu estudo e de
suas aplicações no campo da Gestão com Pessoas.
Para tal, coloco-lhe a seguinte questão para sua reflexão: “Afinal, você
sabe o que é ‘trabalho’?”
Em um primeiro momento, sem o conhecimento teórico necessário, parece
difícil definir com precisão o que seja trabalho. Provavelmente você, se
não conseguiu estabelecer um conceito acerca do assunto, certamente
associou a palavra a alguma atividade desenvolvida pelo ser humano, às
vezes apresentando características ligadas ao prazer ou ligadas à lamúria.
Contudo, esta associação entre o termo “trabalho” e o desenvolvimento
de alguma atividade ou mesmo, a associação entre a atividade e algum
adjetivo, tal como fizemos, deve ser feita de maneira cautelosa e nós
vamos entender o motivo disto por meio da análise dos diversos con-
textos relacionados ao trabalho. Ademais, muitas vezes o “trabalho” é
associado aos adjetivos negativos por conta de alguns de seus contextos.
Não pude evitar pensar que você deve ter se perguntado: “Mas pro-
fessor, nem conceituamos ainda o que é o trabalho e já estamos
partindo para seus contextos...”. Em minha visão, penso que visua-
lizando alguns contextos principais, podemos conceituar com maior
propriedade o que é o trabalho, e de que forma o trabalho é realiza-
do, levando-se em conta estes contextos.
Em um segundo momento, ainda nesta unidade, evidenciaremos a
própria Segurança do Trabalho, de maneira conceitual, abrindo o leque
de possibilidades para o entendimento desta ciência e ainda, eviden-
ciando alguns de seus pontos chave que podem abrir portas para a
atuação do Gestor de Pessoas.
Está curioso? Vamos então abrir nossas discussões e nossas mentes.
Seguranca no Trabalho
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O TRABALHO
E SEUS CONTEXTOS
C
omo atividade inicial, peço para que você se concentre
nas palavras deste período do livro e siga rigorosamente
as reflexões aqui colocadas. Vamos lá?
Em algum momento de sua vida você já se deparou com uma
espécie de vazio provocado por questões não respondidas? Tratam-
se de questões que beiram o campo da filosofia e do papel exercido
pelo ser humano no universo, como por exemplo:
É difícil encontrar alguém que nunca explicação lógica, ou seja, todas as respostas
tenha se deparado com estas questões. àquelas perguntas encontravam-se direcio-
Saiba que tais questionamentos são naturais nadas à justificativa divina.
e pertinentes a qualquer ser humano, desde A própria definição de Teocentrismo
épocas remotas. Todavia, assim como você, ilustra esta supremacia divina:
eu nunca obtive respostas satisfatórias para
estas questões, mesmo considerando que “O teocentrismo, do grego theos (“Deus”) e
kentron (“centro”), é a concepção segundo
estamos em uma época onde o desenvolvi-
a qual Deus é o centro do universo, tudo foi
mento científico e tecnológico nos confere criado por ele, por ele é dirigido e não há
subsídios importantes à resolução destes outra razão além do desejo divino sobre a
questionamentos. vontade humana.” (TEOCENTRISMO.COM,
Reflita agora sobre esta mesma análise, 2012)2.
mas transporte-a para tempos mais remotos,
quando os subsídios que poderiam nos auxi- Não é nosso objetivo nos aprofundar em uma
liar na resolução destas questões eram mais discussão do campo sociológico quanto ao
raros. De alguma maneira, o ser humano, com Teocentrismo, contudo, você já deve ter per-
sua grande capacidade de adaptação ao am- cebido que tal ideologia, por sua característica
biente, não somente física e biológica, mas principal, subjuga o poder transformador do
também cognitiva, criou alternativas ao en- ser humano, ávido por modificar seu meio
tendimento das referidas questões. Desta em prol de suas necessidades.
forma, surgiram as primeiras teorias filo- Neste sentido, o Antropocentrismo, teoria
sóficas que buscavam dar suporte a estes a qual apregoa uma “troca” quanto ao ele-
questionamentos. mento principal do universo (de Deus para
São duas as principais teorias filo- ser humano), entrou em cena, em meados do
sóficas que foram criadas diante deste século XIV, com o Renascimento. Não obstan-
contexto, em ordem: a) o Teocentrismo; e, te, o nome “Renascimento” sugere o ressurgir
b) Antropocentrismo. do homem e de sua capacidade de modifi-
Segundo Souza (2009)1 o Teocentrismo car o meio a partir de um cenário de “trevas”
surgira em uma época de densa supremacia advindo da Idade Média.
da Igreja Católica, especialmente sob o ponto Neste momento o desenvolvimento da
de vista ideológico. Na Idade Média, período razão e das ciências permitiu ao ser humano
do auge do Teocentrismo, o ideário básico a compreensão de muitos fenômenos na-
suscitava a relação entre Deus e as coisas sem turais e humanos, até então creditados às
1 SOUZA, A.S. Concepções de Deus na Idade Média e no Iluminismo. entidades divinas. Não se tratava do primeiro
Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/concepcoes-de-deus- 2 TEOCENTRISMO.COM. Definição de Teocentrismo. Disponível em: <http://
na-idade-media-e-no-iluminismo/18518/>. Acesso em 26. Abr. 2012. teocentrismo.com/artigo1.php>. Acesso em: 26. Abr. 2012.
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momento histórico no qual o ser humano era elementos abstratos: a própria teoria filosófica
protagonista no desenvolvimento de suas do Teocentrismo foi criada pelo ser humano,
atividades, mas certamente foi o mais auspi- o qual estabeleceu uma relação causal entre
cioso nesta questão, afinal, graças ao poder um elemento abstrato (Deus) e as consequên-
inventivo do ser humano, traduzido por sua cias terrenas (concretas). Por isso que também
capacidade de modificar o meio (portanto é válido afirmar que o Teocentrismo possui
trabalho), grandes feitos na história da hu- sua parcela de contribuição em nossa tenta-
manidade foram executados, tais como as tiva de conceituar o termo “Trabalho”.
grandes navegações, o desenvolvimento das
leis universais da física e das demais ciências Mediante o exposto, portanto, depreen-
(sociologia, matemática, anatomia, dentre de-se que:
outras) e a própria Revolução Industrial, um
marco histórico no campo do trabalho que
O termo “trabalho” faz alusão à capacidade
modificou drasticamente as bases sociais,
humana de transformar o meio (consideran-
econômicas, ambientais e políticas da socie- do elementos abstratos e concretos) para o
pleno atendimento de suas necessidades.
dade Europeia, nos séculos XVIII e XIX e da
sociedade mundial no século XX.
Neste momento você deve ter percebi-
do que o antropocentrismo tem uma ligação Entretanto, a conceituação sobre o
bastante importante com o trabalho em si, Trabalho torna-se incompleta do ponto de
devido a sua característica de libertação da vista processual. Fazendo uma alusão com
capacidade transformadora e inovadora do a boa e velha gramática, é como se estivés-
ser humano. Todavia, ainda não é capaz de semos vendo claramente o que é a ação (o
solucionar todas as questões filosóficas es- verbo do predicado) e quem executa esta
tabelecidas na ânsia do entendimento do ação (ou seja, o sujeito). Entretanto esta ação
papel deste ser humano no universo. não se configura como “verbo intransitivo”,
O Teocentrismo, em menor grau e, princi- necessitando, portanto, de um complemen-
palmente o Antropocentrismo ilustram esta to, de um “objeto”, de um “para quem a ação
relação do ser humano com o universo, um ser é voltada”. Desta forma, caro aluno, de uma
ativo, atuante e que busca constantemente a maneira mais direta, eu lhe peço para que
transformação de seu meio para seu próprio tenha a seguinte reflexão:
benefício. A esta capacidade de modificação
do meio é que damos o nome de “trabalho”.
É importante salientar que esta “modifica-
ção do meio”supracitada pode ter efeitos tanto “Para quem o trabalho é voltado?”.
em elementos concretos como também em
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
TRABALHO
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P
rezado acadêmico: Até este momento, diminuindo. Tratou-se de um momento
além de conceituar o termo “traba- evolutivo de transição de um ser humano
lho”, desenvolvemos o conhecimento nômade para um ser humano sedentário,
acerca dos diversos contextos ligados a este fixado e cada vez mais dependente de seu
termo. A partir deste ponto, faremos uma re- grupo.
flexão sobre o desenvolvimento do trabalho Esta transição fora desencadeada por
ao longo da história da humanidade. Não se um dos primeiros marcos relativos ao tra-
preocupe, pois não faremos uma abordagem balho na humanidade: a “descoberta” da
detalhada sobre esta evolução, mas desta- Agricultura. Com sua capacidade amplia-
caremos alguns pontos chave que podem da de percepção, este “novo” ser humano
ser considerados como marcos evolutivos passou a observar mais atentamente os di-
do trabalho. versos fenômenos da natureza, a qual ficou
mais previsível pela associação de sinais na-
turais e suas consequências.
Assim, por observação quanto ao modo
de reprodução vegetal, especialmen-
te das plantas de reprodução assexuada
(reprodução vegetativa, a exemplo da man-
dioca, batata, banana e cana de açúcar), o
ser humano passou a cultiva-las nas proximi-
dades de seus aglomerados populacionais.
Este foi um fator de modificação não das artes, da cultura e das inovações pro-
somente dos padrões sociais, mas também dutivas e econômicas. No primeiro caso, às
da própria organização do trabalho, em ferramentas de trabalho foram somados os
termos de atividades e ferramentas. Cabe primeiros equipamentos rudimentares (o
salientar que este advento da Agricultura caso do tear) e os implementos de tração
possibilitou o desenvolvimento de ferramen- animal, bastante úteis na lida com a terra e
tas tidas como especializadas para a época, na construção da infraestrutura urbana. Por
como ferramentas de corte e de cultivo em sua vez, o segundo caso pode ser ilustrado
terra (não se fala ainda em aragem da terra pela criação do dinheiro e pela monetariza-
pois o arado, enquanto instrumento de ção dos produtos, que é a atribuição de valor
cultivo, somente fora concebido séculos equivalente a um lastro que representasse
depois pelos egípcios). o dinheiro, como por exemplo, cobre, prata,
O desenvolvimento da prática laboral, ouro e até mesmo sementes de cacau, no
durante séculos, teve papel importantíssimo antigo Império Asteca.
na definição dos padrões sociais, econômi- Contudo, não somente os avanços no
cos e políticos das diferentes sociedades campo do trabalho, mas, de maneira univer-
clássicas. Ao mesmo tempo, pode-se dizer sal, em todos os segmentos de reflexão-ação
que o trabalho também tem grande influ- sob influência humana foram paralisados na
ência no que tange a gestão dos recursos Idade Média, período que se estendeu dos
naturais. Séculos V ao XV depois de Cristo.
Na Grécia Antiga, no Império Romano A ampla influência religiosa impôs um
e mesmo no Império Egípcio, o trabalho, modelo de engessamento social, filosófico,
além de definir o posicionamento social cultural e econômico. O dinheiro e as ino-
(neste caso, a prática laboral estando ligada vações já não eram mais a fonte do poder
às classes inferiores, as quais exerciam estas e sim o acúmulo de terras. O trabalho havia
atividades em prol de uma representação se reduzido ao cultivo de alimentos para a
de autoridade, sendo o estado democráti- manutenção de uma sociedade crescente e
co na Grécia e o Imperialismo nos outros decadente. Todas as inovações, em quaisquer
exemplos), também definia o modo de utili- campos do conhecimento, eram considera-
zação dos recursos disponíveis (basicamente das como heresia e seus protagonistas eram
água, solos agricultáveis, fauna e flora) e o duramente punidos.
modo de descarte dos resíduos da ativida- Para se ter um panorama daquilo que
de humana. acontecia à época da Idade Média, o trabalho
Também é de se destacar que o desen- era direcionado à produção de alimentos e
volvimento do trabalho ao longo da Idade a ampliação de poder do mesmo modo que
Antiga contribuiu para o desenvolvimento os processos educacionais encontravam-se
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sobre a tutela da Igreja Católica, estando Fazendo uma reflexão sobre este
estes voltados à propagação dos princípios momento histórico e sobre a monetariza-
Teocentristas e, de maneira paradoxal, ao en- ção (criação do dinheiro), ocorrida na Idade
tendimento do espólio filosófico da Grécia Antiga, chegamos a um ponto crucial na
Antiga, uma vez que Aristóteles e Platão eram evolução histórica do trabalho: A própria
temas recorrentes aos acadêmicos europeus. capacidade excedente de trabalho, tra-
Diante deste cenário, torna-se válido duzida em força e/ou intelecto, passou
supor que o desenvolvimento do traba- pelo processo de atribuição de valores
lho, considerando seu conceito, encontrou (monetarização). Lembra-se do contex-
grandes barreiras. Logicamente que este en- to econômico do trabalho? Não se pode
gessamento promovido na Idade Média não afirmar claramente quando foi a primeira
pode ser encarado como absoluto, assim vez na história da humanidade que alguém
como a própria Idade Média, a qual teve seu foi pago pela execução de um serviço, mas
momento áureo por volta dos séculos VII e este conceito na Idade Moderna certamen-
IX, sendo decadente até sua derrocada, no te foi consolidado.
século XV. A partir do Século XVIII inseriam-se na his-
Havia o desenvolvimento da ciência e tória da humanidade as máquinas, as quais
inovação, entretanto em momentos pontu- executavam o mesmo processo humano
ais e sem maiores influências no cenário da com maior velocidade e precisão. Já não se
época. Entretanto, com o enfraquecimento falava em produção artesanal e sim em escala
deste modelo medieval e com a instauração e, mais ao final do século XIX, em produção
gradual do Renascimento (Idade Moderna), em série.
o trabalho ganhou novas matizes, ultrapas- Tais sistemas produtivos potencializa-
sando o modelo artesanal e se aproximando ram a comercialização dos excedentes de
de um novo modelo de produção, mais ra- trabalho e permitiram a popularização de
cional e eficiente à época: a Manufatura. bens de consumo, devido à redução nos
Esta, por sua vez, prezava a utiliza- custos produtivos. Isto somado a ampliação
ção de equipamentos e, em certo grau, da do poder aquisitivo derivado do aumento
setorização produtiva, o que ampliou con- da empregabilidade criara uma espiral de
sideravelmente a variedade de produtos consumo-produção, onde cada vez mais era
ofertados à uma sociedade, já não mais eu- necessário produzir tais bens.
ropeia, mas ocidental, em um momento de Se nós parássemos nossa análise neste
franca expansão do capitalismo, representa- ponto, seria coerente afirmar que a Europa
do, em princípio pelo mercantilismo e pela vivia neste instante (séculos XVIII e XIX)
ampliação de poder econômico e social de um momento auspicioso, quase de pleno
uma nova classe: a Burguesia. emprego, correto?
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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL:
A CRISE QUE GESTOU
A SEGURANÇA DO
TRABALHO.
R
espondendo ao último questionamen- Ademais, países europeus como Inglaterra,
to feito na seção anterior, podemos Alemanha e países Ibéricos (Espanha e
afirmar que, de fato, a Europa e, pos- Portugal), passaram anteriormente por re-
teriormente os Estados Unidos passaram formas sociais que praticamente dizimaram o
sim por um momento de pleno emprego, campesinato, afinal, em nome do progresso,
pois mesmo que já não fossem necessários mão de obra era necessária onde as indústrias
tantos trabalhadores no processo produtivo, estavam e o Estado necessitava de maior con-
devemos levar em consideração que se tra- trole sobre as terras (algo como matar dois
tavam de máquinas rudimentares, que ainda coelhos com uma pedrada). Assim, mesmo
necessitavam da ação e supervisão humana sem o trabalho no campo, as famílias tinham
para desempenhar suas ações. nas cidades, seu trabalho garantido.
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Entretanto devemos avaliar este trabalho crianças, jovens e idosos. Não importava a
pelo enfoque da qualidade. Nesta época o idade do trabalhador, mas sim sua aptidão
modelo capitalista vigente estava em tran- para a realização do trabalho.
sição (do capitalismo tradicional ao atual Notou que utilizei a palavra “usados” su-
capitalismo financeiro). Contudo, os prin- blinhada. Trata-se da mesma observação
cípios capitalistas estavam em seu auge e a realizada na apresentação desta obra e, não
acumulação dos lucros estava em patama- por acaso, o sentido de “usados” encontra-
res exorbitantes. se no aspecto mais visceral possível. Nesta
Tal fato não se traduzia, no entanto, em época, tamanha era a visão produtivista, que
investimentos produtivos ou de gestão o ser humano, agora proletário, tinha expro-
que garantissem um ambiente de trabalho priado de si mesmo sua própria humanidade.
seguro e saudável aos trabalhadores. Muito Tratava-se de um número funcional, uma
pelo contrário, não somente os ambien- mera engrenagem ao processo produtivo,
tes de trabalho eram assim, mas todos os a qual poderia ser trocada em caso de baixo
vilarejos nas proximidades das fábricas apre- rendimento, ou na pior das hipóteses, em
sentavam um ambiente deplorável quanto caso de quebra, algo que não acontece hoje
à saúde pública. em dia não é?
O termo SMOG (névoa de poluição), de- Aliás, reflita sobre a provocação supraci-
rivado dos termos FOG (neblina) e SMOKE tada e responda o seguinte questionamento:
(fumaça) fora concebido nesta época,
tamanho era o problema causado pelas di-
ferentes fumaças eliminadas nas chaminés
das fábricas. Muitas doenças respiratórias,
Você acha que o enfoque atual da
como asma e bronquite, foram potenciali- Gestão com Pessoas é semelhante ao
enfoque produtivista da Revolução In-
zadas neste ambiente.
dustrial? Caso sua resposta seja “não”,
Neste cenário, onde em termos de plane- qual seria o atual paradigma quanto
à relação trabalho – seres humanos?
jamento, somente a meta de produção era
considerada (somente a demanda e a pre-
visão de lucro pareciam fatores relevantes
aos burgueses industriais da época), a mão Duras jornadas de trabalho, por vezes
de obra passou por um amplo processo de ultrapassando 16 horas diárias, sem folgas
depreciação derivado das longas jornadas remuneradas; Ampliação dos trabalhos re-
de trabalho, necessárias ao atendimento das petitivos e, por consequência, das lesões
demandas. provocadas pelo esforço repetitivo nos
Não somente homens em idade produ- processos (era a primeira vez na histó-
tiva eram usados mas também mulheres, ria em que se falava em Lesão por Esforço
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O
s primeiros levantes trabalhistas e preservação da saúde e da segurança dos
o desenvolvimento do ideário re- trabalhadores.
volucionário do comunismo se Em 1833 fora promulgada na Inglaterra
constituíram como sintomas iniciais dos pro- a chamada “Lei da Fábrica”, a qual proibia o
cessos de mudança de uma sociedade em exercício do trabalho noturno para menores
busca de um novo paradigma e de um novo de 18 anos e limitava a jornada de trabalho,
estado de plenitude. em todos os turnos, para 12 horas por dia.
No campo específico da Segurança do Considerando a inexistência de quaisquer
Trabalho, os Estados europeus, a se iniciar iniciativas legais sobre Saúde e Segurança
pela Inglaterra, já consideravam na primei- do Trabalho, a Lei da Fábrica representou
ra metade do século XIX tratativas sobre a um avanço, mesmo que pouco significativo,
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Não pude evitar de pensar que você possa argumentos para criação destas convenções,
estar com este questionamento em mente. verificaremos que, muito além da questão da
E em resposta ao mesmo, de certa maneira, proteção, tais convenções foram publicadas
os países signatários das convenções da no sentido de aquietar os ânimos de uma so-
OIT, dentre eles o Brasil, seguiram as regras ciedade em crise.
das convenções como diretrizes para o Segundo Alvarenga apud. Costa (2011),
desenvolvimento de instrumentos legais os principais argumentos para a criação das
específicos às características do trabalho convenções da OIT sobre Saúde e Segurança
de cada país. do Trabalho são:
Por exemplo, no Brasil, durante as
décadas de 1920, até 1950, grande parte • A presença de condições difíceis,
dos dispositivos legais que versavam injustas e degradantes para muitos
sobre o tema Trabalho, eram voltados aos trabalhadores exercerem sua função
trabalhos portuários, tendo em vista a ca- (argumento humanístico).
racterística econômica brasileira da época • O risco de conflitos sociais que
(exportador de matérias-primas e do que pudessem ameaçar a paz (argumento
hoje chamamos de commodities). A partir político).
desta década, maior atenção foi dispen- • O fato de que países que não
sada ao setor da siderurgia e da indústria adotassem condições humanas de
de base. trabalho seriam um obstáculo para
O que se quer ilustrar é que as conven- a obtenção de melhores condições
ções da OIT não foram suficientes ou mesmo em outros países que adotassem
absolutas no que tange à preservação da tais condições (argumento
saúde e da integridade física dos trabalha- econômico).
dores. Inclusive, se analisarmos os principais
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APLICAÇÃO DE PRINCÍPIOS
E DIRETRIZES DE SEGURANÇA E SAÚDE NO
TRABALHO NO BRASIL
C
onforme discutido, o Brasil é um dos de 1920 até os dias atuais, o Brasil possui
países signatários das Convenções como diretrizes norteadoras das práticas de
da OIT sobre Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional
Segurança do Trabalho. A partir da década as seguintes convenções (Quadro 1).
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da Lei Federal 6.514/77 e as atuais Normas Regulamentadoras – NR´s (ABNT apud. ATLAS, 2012).
Dispositivo da Lei 6.514/77 NR equivalente
SEÇÃO III - Dos Órgãos de Segurança e de Medicina do Trabalho nas NR 4 - Serviços especializados em Engenharia de Segurança e em
Empresas. Medicina do Trabalho.
SEÇÃO IV - Do Equipamento de Proteção Individual. NR 6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI.
SEÇÃO V - Das Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho. NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO.
SEÇÃO XIII - Das Atividades Insalubres ou Perigosas. NR 15 – Atividades e Operações Insalubres e NR 16 – Atividades e
Operações Perigosas.
Demais seções. Equivalente ao desenvolvimento das demais NR´s.
Fonte: Elaboração do Autor (2014).
13 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de Outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012.
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Posto isto, pode-se afirmar que a lógica his- tardio das relações trabalhistas, em compara-
tórica da Segurança do Trabalho no Brasil ção com os países europeus, que as instituíram
ocorreu de maneira semelhante aos países com pelo menos 250 anos de antecedência,
europeus, embora o estado de crise social sem quaisquer princípios de segurança do tra-
não tenha sido provocado primordialmente balho que fossem relevantes.
pelas condições indevidas de trabalho. Para melhorar o entendimento, podemos
A questão da segurança do trabalho foi dizer que o Brasil “pegou o bonde andando”
tema secundário às reivindicações trabalhistas no que tange ao desenvolvimento de uma
brasileiras, muito mais pautadas na questão do cultura preservacionista da força de trabalho,
aumento salarial e na luta pelos direitos po- o que explica, em grande parte, a inexistência
líticos, especialmente na época da Ditadura de crises sociais de grande porte relaciona-
Militar. Isto se justifica pelo desenvolvimento das à questão da Segurança do Trabalho.
Quando falamos a respeito das Normas Re- celetistas. De fato, os dispositivos legais re-
gulamentadoras, um dos principais questio- lacionam a obrigatoriedade na adoção das
namentos relaciona-se à sua aplicabilida- NR´s apenas aos celetistas.
de. Para aqueles que consideram a cultura
preservacionista, todos os indivíduos que Todavia, os riscos não escolhem vínculos
exercem atividade laboral, independente empregatícios e segundo a juíza que par-
de seu vínculo devem ser protegidos pelas ticipou do caso, a Prefeitura deveria arcar
NR’s. E esse foi o entendimento dado pela com a responsabilidade do fornecimento
Defensoria Pública do Estado de São Paulo dos EPI´s e ainda, arcar com indenizações
em um litígio ocorrido entre funcionários e relacionadas aos acidentes ocorridos pelo
a Prefeitura do interior desse Estado. não obedecimento das NR´s. Tratou-se de
um caso onde a saúde e segurança dos tra-
A prefeitura alegou à época (2012), que não balhadores tiveram mais evidência que os
oferecia Equipamentos de Proteção Indi- princípios legais.
vidual (EPI´s) aos funcionários do setor de
limpeza, levando em consideração que se Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em
tratava de funcionários estatutários e não fatos reais.
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Considerações Finais
Prezado aluno, chegamos ao final da primeira foram desenvolvidos com maior destaque
unidade deste material e, com isto, finaliza- e impacto a partir da Revolução Industrial.
mos a contextualização sobre Segurança do Compreendemos ainda quais foram as
Trabalho. respostas dos Estados àquela situação de
Nesta unidade, abordamos didatica- crise, por meio da análise, principalmente,
mente o conceito sobre trabalho e quais os das Convenções sobre Saúde Ocupacional
seus principais contextos, ilustrando desde e Segurança do Trabalho da Organização
os mais perceptíveis (contexto econômico) Internacional do Trabalho – OIT. Revelamos
até os mais ocultos (contexto religioso). Você e problematizamos o pano de fundo destas
percebeu como a contextualização do traba- decisões e chegamos ao consenso de que,
lho apresenta-se rica de significados e como embora exista o aspecto humanista, o desen-
ela pode ampliar nossos horizontes acerca do volvimento destas soluções para situações
entendimento sobre Segurança do Trabalho de crise ponderam, com maior peso, os as-
e Saúde Ocupacional? pectos econômicos e políticos.
A partir dos conhecimentos adqui- Por fim, analisamos o desenvolvimen-
ridos sobre o Trabalho e seus contextos, to de tais princípios no Brasil e chegamos
desenvolvemos uma visão histórica sobre a conclusão que o desenvolvimento dos
o desenvolvimento dos princípios de mesmos ocorreu em clima de maior calmaria
Segurança do Trabalho a partir dos estados se comparado ao histórico europeu e norte
de crise social. americano.
Novamente reforço que a Segurança Com estas informações, estamos aptos a
do Trabalho em si não se originou a partir avançar ao entendimento sobre Segurança
do século XIX, afinal, como visto, existem do Trabalho e Saúde Ocupacional, para pos-
relatos da aplicação de princípios de se- teriormente, inserir estes conhecimentos em
gurança no trabalho que datam da época sua área de atuação. No mais, desejo-lhe bons
da Grécia Antiga. Entretanto, tais princípios estudos e até a Unidade II!
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Atividade de Autoestudo
Livro
Obra: Convenções da OIT (BRASIL, 2002)15.
Sinopse: Sinopse (sic): “A importância da Organização Internacional do
Trabalho no desencadear de temas estratégicos, garantindo o desen-
volvimento continuado das relações de trabalho no mundo, é ímpar. O
Ministério do Trabalho e Emprego reconhece e ressalta essa importância
e é com imenso orgulho que nos esforçamos para ampliar o conhecimen-
to público sobre as convenções da Organização relativas à Segurança e
Saúde no Trabalho.
A Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT/Departamento de Segurança
e Saúde no Trabalho – DSST espera com esta iniciativa prosseguir no seu
foco permanente de atenção, que é a redução significativa dos aciden-
tes de trabalho, com consequente melhoria da qualidade de trabalho.”
Disponível em: <http://por tal.mte.gov.br/data/files/
FF8080812BCB2790012BD507F4816CAA/pub_cne_convencoes_oit.pdf >
Acesso em: 10. Ago. 2014.
15 BRASIL. Convenções da OIT. Ministério do Trabalho e Emprego – MTe, Secretaria Nacional de Inspeção do Trabalho
– SIT. 1ª ed. Brasília: IMPRENSA OFICIAL, 2002, 62p.
Web
relato de
caso
Muitas vezes o Gestor com Pessoas se depara com O processo produtivo é realizado em diversos
situações onde sua intervenção é necessária no locais internos e externos. Para o processo produ-
auxílio ao reconhecimento dos riscos laborais, tivo são utilizados produtos químicos, máquinas,
utilizando-se de metodologias científicas qualita- ferramentas, água e energia elétrica.
tivas, a exemplo da “Análise Preliminar de Riscos”.
Sobre esta é que desenvolveremos o caso. De maneira geral, os processos se dividem da se-
guinte forma:
De maneira geral, a Análise Preliminar de Riscos
é uma metodologia quali-quantitativa, ou seja, • Limpeza de pisos (laminados, porcelanatos,
mescla características de análise qualitativa dos cerâmicos e imundos – calçadas e pedras);
riscos presentes em um ambiente, ao mesmo • Limpeza de paredes e esquadrias;
tempo em que relaciona esses riscos aos dife- • Limpeza de corrimões;
rentes graus de frequência e consequência, de • Limpeza de Azulejos;
maneira que essa gradação é que estabelece a • Limpeza de Banheiros;
prioridade das ações de mitigação dos riscos. • Impermeabilização;
• Limpeza de estofados à seco; e,
Para se ter uma ideia, a tríade risco-frequência- • Limpeza em altura (superior aos 2,0 metros).
consequência pode ter uma gradação iniciando
pelo nível “desprezível”, onde se verifica que o O levantamento dos riscos fora realizado por meio
possível acidente causará não mais que um susto, de observações dos ambientes de trabalho e das
até o nível “catastrófico”, onde mortes e danos formas como os colaboradores executavam suas
materiais são de grande monta. funções. Registros fotográficos também foram
obtidos para análises desses postos de trabalho.
Esse caso ocorreu em uma microempresa de
limpeza industrial e de limpeza pós-obra, de “Mas é só isso, professor?” – Você deve estar se
pequeno porte com um quadro funcional de perguntando, não é mesmo! Pois lhe digo que
cinco colaboradores, que estão diretamente alo- é só isso sim! Basta uma câmera fotográfica e
cados na área produtiva. A empresa referenciada logicamente o conhecimento sobre os riscos am-
situa-se na região de Maringá e está enquadrada bientais e sobre a metodologia, que tudo fica fácil.
no código e descrição da atividade econômica Mas, como esta metodologia foi aplicada neste
principal 43.30-4-99. Outras obras de acabamento caso? Peço para que observe o quadro a seguir,
da construção, que conforme a CNAE no quadro o qual é uma APR da função “Limpeza de pisos
I, da NR 4 (BRASIL, 2008), corresponde ao grau (laminados, porcelanatos, cerâmicos e imundos
de risco 3. – calçadas e pedras)”.
Gestão de Negócios
44
relato de
caso
relato de
caso
Pela análise do quadro, você pode perceber que a cada risco associa-se um
efeito indesejado, uma categorização (desprezível, marginal, crítica ou catas-
trófica), as medidas preventivas e os instrumentais associados (Equipamentos
de proteção individual e coletiva, máquinas, ferramentas e materiais). Veja
ainda que aqui não se verifica nada de quantitativo. Apenas se verifica a
descrição e a categorização dos riscos, as quais variam de acordo com o cri-
tério do observador.
Por isso, caro aluno, lhe digo: Qualquer pessoa que tenha conhecimento
sobre os riscos laborais pode fazer uma APR e o diferencial disso é que se trata
de uma metodologia rápida e eficiente, que antevê os riscos do ambiente.
O resultado desse caso pode ser traduzido pelo próprio quadro e pelos
demais quadros, das demais funções. Para cada função, medidas preventi-
vas foram elencadas e a aceitação de tais medidas foi grande na empresa
estudada.
Elaborado pelo autor, baseado em OLINI, M.G.; COSTA, T.R. Estudo dos riscos
ambientais de uma empresa de limpeza pós-obra da região de Maringá-
PR. Monografia: Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do
Trabalho – Universidade Estadual de Maringá. 2014. 90p.
2 SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará
nesta unidade:
• Segurança do trabalho: conceitos;
• Atores envolvidos no sistema de segurança do tra-
Objetivos de Aprendizagem balho e saúde ocupacional;
• Demonstrar aos acadêmicos conceitos, definições, prin- • Mecanismos que regem as ações de segurança do
cípios e principais mecanismos associados à Segurança trabalho e saúde ocupacional;
do Trabalho e Saúde Ocupacional • Revisitando o conceito de riscos associados à prática
• Estabelecer uma ligação, em nível de ação, do futuro laboral;
Gestor com Pessoas com as principais ferramentas, estraté- • Principais ferramentas da segurança do trabalho.
gias e metodologias utilizadas na Segurança do Trabalho.
• Permitir com que o futuro Gestor com Pessoas compre-
enda as principais estratégias aplicadas no sentido de
detectar, delimitar e reduzir/eliminar riscos laborais.
Caro aluno, chegamos praticamente à metade de nossos estudos
sobre Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. O interessan-
te é que nós não fizemos o estudo direto sobre o tema, da maneira
clássica, e garanto que você já possui uma ideia acerca do tema,
dadas as discussões da unidade anterior. Isto se chama “construção
do conhecimento”.
SEGURANÇA DO TRABALHO:
CONCEITOS
D
e alguma maneira, você formou seu 1. Para quê é feito: Se o título do tema
conhecimento acerca do assunto é “Segurança do Trabalho” e se
que estamos tratando por meio de discutimos ao longo da Unidade
seu conhecimento tácito, ou seja, de suas I o que é o trabalho e quais são
próprias visões e experiências de vida e por os contextos, depreende-se que
meio da discussão da Unidade I. se trata de algo relacionado à
Exercitando, a minha maneira, construi- aplicação de estratégias que
ria o conceito sobre Segurança do Trabalho garantam a integridade física e
da seguinte forma: a saúde no exercício de alguma
Pós-Graduação | Unicesumar
49
são indissociáveis, ou seja, não se consegue Esta definição não é absoluta e espero
cumprir com os princípios de Segurança do que você possa me ajudar a complementá-la
Trabalho sem considerar a manutenção de um com seu saber, afinal, estamos mesmo em um
ambiente saudável no trabalho e vice-versa. processo de construção do conhecimento.
Ainda no campo da conceituação sobre Podemos trabalhar um pouco mais em
o tema, faça o seguinte exercício: Digite no cima desta definição, antes de passarmos ao
buscador de páginas de internet de sua pre- próximo tema: Veja que esta definição se utiliza
ferência o termo “definição sobre Segurança do termo “conjunto de ciências e tecnologias”.
do Trabalho”. Fazendo este exercício, encon- De fato, a Segurança do Trabalho é trans e mul-
trei cerca de 1,5 milhões de resultados. tidisciplinar. É aplicada nos vários campos da
Apenas consultando os resultados da pri- atividade humana e depende destes para a
meira página, notei que existem algumas formação de seu arcabouço teórico.
coisas em comum entre os diferentes concei- Considerando a área de Gestão com
tos. Creio que você também deve ter notado. Pessoas, perceba que não existe uma norma
Listando as palavras ou termos de maior ocor- regulamentadora – NR, específica. Talvez a que
rência, temos: a) conjunto de estratégias; b) mais se aproxime é a NR-5, que trata sobre a
eliminação/minimização de riscos; c) prote- Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
ção física do trabalhador; e, d) preservação - CIPA. Contudo, os princípios de Segurança
da saúde do trabalhador. do Trabalho devem ser plenamente aplicados
Mesmo em minha tentativa de concei- nas atividades relacionadas à área e esta, por
tuar o assunto, na página anterior, utilizei sua vez, poderá contribuir para a formação de
de alguns termos que estão listados acima. normas específicas, como vem acontecendo,
Desta forma, vou apresentar uma definição por exemplo, com o setor da panificação.
que utilizo em minhas aulas. Esta definição Até os dias atuais, a NR 12 – Segurança
é uma adaptação formada por elementos do Trabalho em Máquinas e Equipamentos
de definições de outros autores, a qual julgo regia a Segurança do Trabalho nas instalações
adequada para definir o tema. Veja se você industriais de maneira geral. Contudo, desde
concorda com a mesma: 2010, a tendência é que sejam criadas novas
normas específicas para setores industriais dis-
tintos, como foi o caso da NR-36 (Segurança
“Trata-se de um conjunto de ciências e tecnologias
e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate
que visam à preservação da saúde e da integridade
física do trabalhador no desenvolvimento de suas e Processamento de Carnes e Derivados). Não
atividades. A diminuição dos riscos laborais é seu
significa o desmembramento da NR, tampou-
principal objeto. Por consequência, também há a di-
minuição dos acidentes de trabalho e das doenças co o desuso da NR 12 neste setor, mas toda
ocupacionais.”
a especificação, derivada da experiência pro-
fissional dos trabalhadores, é bem vinda e
Pós-Graduação | Unicesumar
51
R
eiterando nossas discussões anteriores, específicos (trans e multidisciplinares).
a segurança do trabalho é feita por seres Para facilitar o entendimento sobre os
humanos para seres humanos, diante atores que estão envolvidos nesta questão,
de uma prática laboral e de conhecimentos acompanhe o Quadro 3.
Seguranca no Trabalho
54
O Gestor com Pessoas deve participar ati- dos profissionais componentes daqueles
vamente dos processos junto à Comissão serviços.
Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA,
ou junto aos Serviços Especializados em COSTA, T.R. Segurança do Trabalho e Multidis-
Segurança e Medicina do Trabalho – SES- ciplinariedade. IV Congresso Iberoamericano
MT, prestando assessoria técnica nas áreas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacio-
do conhecimento que não são de domínio nal. Anais... Belo Horizonte, 2012. p.639-648.
Seguranca no Trabalho
56
A
lguns destes mecanismos já adicionar e/ou alterar as disposições
foram citados ao longo do texto, das normas regulamentadoras – NR´s;
como as Leis, Decretos e Normas d. Instruções normativas, as quais definem
Regulamentadoras. Entretanto, outros me- regras de condução dos trabalhos e
canismos também merecem destaque. Desta dos processos, considerando atividades
forma, fazendo um apanhado de todos os altamente específicas; e,
mecanismos envolvidos na promoção da e. Normas Regulamentadoras –
Segurança do Trabalho, têm-se: NR´s, que apresentam o conjunto
de instruções e regras voltadas à
a. As próprias Leis, as quais estabelecem promoção da Segurança do Trabalho
as diretrizes da ação; e Saúde Ocupacional em todas
b. Decretos, os quais regulamentam as as atividades listadas no Cadastro
leis (como serão aplicadas); Nacional de Atividades Econômicas
c. Portarias, editadas pelo Ministério do – CNAE (IBGE) e/ou em áreas
Trabalho e Emprego no sentido de específicas (caso da construção civil).
Pós-Graduação | Unicesumar
57
Achou esta atividade difícil? Provavelmente Quadro 4, mudou algumas opiniões. Quais
sim, pois só os títulos das NR´s, em alguns casos, foram estas opiniões modificadas? Qual é
não fazem justiça ao seu conteúdo. Entretanto a impressão inicial que você, futuro Gestor
esta dinâmica que nós trabalhamos foi pro- com Pessoas, apreendeu sobre sua ação
posital, para incentivá-lo a descobrir, por si só, no campo da Segurança do Trabalho e da
quais seus futuros caminhos de atuação como Saúde Ocupacional? Existem boas oportu-
Gestor com Pessoas na área de Segurança do nidades? É possível estabelecer uma boa
Trabalho e Saúde Ocupacional. rede profissional com os demais agentes do
Desta forma, se você é um aluno proativo, setor? Utilize o espaço a seguir para deixar
característica exigida pelo mercado de tra- suas impressões acerca de nossa discussão
balho, antes de realizar o preenchimento do até aqui.
Quadro 4, provavelmente buscou informações
em outras fontes. Parabéns por esta atitude,
IMPRESSÕES
mas se você não fez isso, não fique chateado. __________________________________________
Ao final desta unidade, no item “Na Web” você __________________________________________
__________________________________________
encontrará links onde poderá acessar maiores __________________________________________
informações a respeito das NR´s. __________________________________________
__________________________________________
Certamente você que fez a atividade __________________________________________
sem antes consultar ao menos as infor- _________________________________________
mações básicas sobre as NR´s, ao refazer o
N
o início desta unidade apresentamos à própria infraestrutura do ambiente de
o conceito de riscos ocupacionais trabalho.
como “elementos potencializado- Costa (2011) afirmou que todos os am-
res de ocorrências indesejadas no ambiente bientes e todas as práticas de trabalho
de trabalho”. Ainda, pela leitura das Normas apresentam riscos associados, desde as mais
Regulamentadoras, os riscos ocupacionais re- simples, até aquelas que apresentam maior
ferem-se à capacidade de uma grandeza que complexidade em sua execução.
possui potencial para causar lesões ou danos Tais riscos, como definidos por meio
à saúde das pessoas (PAGANELLA, 20112). da NR 9 – Programa de Proteção de Riscos
Ambos os conceitos convergem para o Ambientais – PPRA (ABNT apud. ATLAS,
fato de que os riscos do ambiente de tra- 2012) dividem-se em cinco classes, a saber:
balho encontram-se presentes, em maior a) Riscos Físicos; b) Riscos Químicos; c) Riscos
ou menor escala, dependendo de fatores Biológicos; d) Riscos Ergonômicos; e, e) Riscos
ligados à prática laboral, às máquinas e de Acidentes.
equipamentos associados, bem como Para melhor entendimento sobre o que
2 PAGANELLA, W.O. Reconhecimento e Controle de Riscos Ambientais
nas atividades de triagem de Material Reciclável. Monografia (Curso de é comportado em cada tipo de risco, leia o
Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul), 2011, 42p. seguinte trecho da NR 9:
Pós-Graduação | Unicesumar
61
“(...)
riscos ergonômicos estão ligados à inadap-
9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se tação dos diversos elementos componentes
riscos ambientais os agentes físicos, quími- da prática laboral (móveis, equipamentos, fer-
cos e biológicos existentes nos ambientes ramentas, EPI´s, etc.) ao empregado, e que
de trabalho que, em função de sua nature- os riscos de acidentes alocam as demais
za, concentração ou intensidade e tempo
interferências não alocáveis nos riscos an-
de exposição, são capazes de causar danos
à saúde do trabalhador. teriores, como por exemplo, máquinas que
não possuem as devidas proteções às suas
9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as transmissões de força ou mesmo atividades
diversas formas de energia a que possam perigosas, como o manuseio de combustível.
estar expostos os trabalhadores, tais como: Ademais, conforme o trecho destaca-
ruído, vibrações, pressões anormais, tem-
do da NR 9, observamos que um risco se
peraturas extremas, radiações ionizantes,
radiações não ionizantes, bem como o in- configura não somente pela natureza da ati-
frassom e o ultrassom. vidade, mas também pelo nível de exposição
ao agente causador do risco.
9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as Cada fator causador de riscos apresenta
substâncias, compostos ou produtos que seu respectivo nível de tolerância, estando
possam penetrar no organismo pela via
este descrito nas Normas Regulamentadoras.
respiratória, nas formas de poeiras, fumos,
névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, Não é nosso objetivo nos aprofundar na teoria
pela natureza da atividade de exposição, sobre níveis de tolerância em cada elemento
possam ter contato ou ser absorvidos pelo causador de risco (ruído, temperatura, vibra-
organismo através da pele ou por ingestão. ções, trabalhos com agentes radioativos, etc.),
até mesmo porque esta é uma competência
9.1.5.3 Consideram-se agentes biológicos
dos profissionais formados em Segurança do
as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, pro-
tozoários, vírus, entre outros. Trabalho e Saúde Ocupacional, mas, apenas
para ilustrar, vejamos o exemplo dos níveis
(...)” de tolerância para ruídos.
A seguir, apresentam-se os limites de
tolerância para ruído contínuo ou intermi-
A leitura do trecho escrito acima define clara- tente, de acordo com o Anexo I da Norma
mente quais são as interferências que podem Regulamentadora nº 15 (NR 15), Portaria 3.214
ser consideradas como riscos. Somando-se de 08/06/1978 (Ministério do Trabalho), a qual
a estas alocações, faltou mencionar que os dispõe sobre Atividades e Operações Insalubres.
Seguranca no Trabalho
62
PRINCIPAIS FERRAMENTAS DA
SEGURANÇA DO TRABALHO
C
omo a própria nomenclatura principalmente:
informa, tratam-se de equipa-
mentos que são utilizados para • A obrigatoriedade de fornecimento
minimizar e/ou eliminar os riscos ocu- destes equipamentos, em perfeito
pacionais a partir do momento em que estado de conservação, por parte do
as estratégias de proteção coletiva não empregador;
surtem efeito suficiente para eliminar a • A obrigatoriedade de uso por parte dos
fonte dos riscos. A Figura 2 ilustra alguns empregados expostos a fonte de riscos;
exemplos de EPI´s. • A observação de que os equipamentos
fornecidos devem estar aptos,
testados, certificados e aprovados pelo
Ministério do Trabalho e Emprego;
• A necessidade de capacitação dos
empregados e demais profissionais
expostos aos riscos ocupacionais que
condicionaram a utilização destes EPI´s;
• A coparticipação dos empregados
no que tange à conservação e
higienização dos EPI´s;
Seguranca no Trabalho
64
ambiente e, embora não especificado na NR Suponha que você foi contratado como
9, também devem ser levantados e diagnos- consultor auxiliar do caso ilustrado neste
ticados quanto a sua natureza e fonte. vídeo e que seja necessário executar o le-
Você quer experimentar os procedimentos vantamento de riscos e o planejamento
de um PPRA (diagnóstico dos riscos e planeja- de ações para controle destes riscos desta
mento para controle)? Assista o vídeo a seguir: atividade.
Aprecie todos os detalhes do vídeo e
Web elenque, no quadro abaixo, quais são os riscos
que você conseguiu identificar. Não se preo-
cupe com a questão dos níveis de tolerância
Usina de Reciclagem de Lixo
- http://www.youtube.com/ que caracterizam os riscos, apenas diga quais
watch?v=aU_Qm7wFmdk são os riscos que estão presentes, em sua
visão e como você os controlaria.
Categorias de Riscos
Formas de Controle
Riscos Físicos
• Calor, dentro das unidades de triagem (por exemplo); • Ampliação dos dutos de ventilação (por exemplo);
• •
• •
Riscos Químicos
• •
• •
• •
Riscos Biológicos
• •
• •
• •
Riscos Ergonômicos
• •
• •
• •
Riscos de Acidentes
• •
• •
• •
Seguranca no Trabalho
66
Este exercício lhe ajudará a entender o Por sua vez, o LTCAT é um Laudo, ela-
cerne de como é realizado o PPRA. A partir borado com o intuito de se documentar os
do diagnóstico de riscos e da elaboração agentes nocivos existentes no ambiente de
de estratégias de controle, fica mais fácil o trabalho e concluir se estes podem gerar
desenvolvimento do planejamento de se- insalubridade3 para os trabalhadores even-
gurança do trabalho e de saúde ocupacional tualmente expostos. Somente será renovado
dentro de uma empresa, que atenda às es- caso sejam introduzidas modificações no am-
pecificidades do “estado de arte” encontrado biente de trabalho.
naquela situação. O parágrafo 3º do Art. 58 da Lei 8.213/914,
Novamente perceba que o PPRA é bas- com o texto dado pela Lei 9.528/975 diz que:
tante específico a cada situação e que o
olhar clínico dos profissionais que auxiliam “A empresa que não mantiver laudo
técnico atualizado com referência aos
nesta elaboração, sejam eles da área de
agentes nocivos existentes no ambien-
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, te de trabalho de seus trabalhadores ou
Administrativa ou mesmo da área produtiva que emitir documento de comprovação
(empregados e empregadores), afinal, o PPRA de efetiva exposição em desacordo com
torna-se mais válido e legítimo quando da o respectivo laudo, estará sujeito à pena-
lidade prevista no Art. 133 desta Lei”.
elaboração participativa do mesmo. Apenas
não confunda elaboração participativa com
Responsabilidade Técnica, a qual compete O LTCAT deve estar disponível na empresa
somente aos profissionais de Segurança do para análise dos Auditores Fiscais da
Trabalho e Saúde Ocupacional. Previdência Social, Médicos e Peritos do INSS,
Apenas para conhecimento, existe devendo ser realizadas as alterações neces-
outra metodologia alternativa ao PPRA que sárias no mesmo, sempre que as condições
é o LTCAT (Laudo Técnico das Condições de nocividade se alterarem, guardando-se
Ambientais de Trabalho). Embora ambos os as descrições anteriormente existentes no
documentos estejam ligados às condições referido Laudo, juntamente com as novas
de segurança no ambiente de trabalho, cada alterações introduzidas, datando-se ade-
um se presta à finalidade diferente. quadamente os documentos, quando tais
O PPRA é um Programa, com a finalida- modificações ocorrerem.
de de reconhecer e reduzir e/ou eliminar
os riscos existentes no ambiente de traba- 3 Para maiores informações acerca da Insalubridade, consultar a NR 15 –
Atividades e Operações Insalubres (ABNT apud. ATLAS, 2012).
lho, servindo de base para a elaboração do 4 BRASIL, Lei n. 8.213 de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm>.
PCMSO (Programa de Controle Médico de Acesso em 11. Mai. 2012.
5 BRASIL, Lei n. 9.528 de 10 de Dezembro de 1997. Altera dispositivos das
Saúde Ocupacional). O PPRA precisa ser Leis n°s 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras provi-
dências. Brasília, 1997. Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/
revisto e renovado anualmente. paginas/42/1997/9528.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012.
Pós-Graduação | Unicesumar
67
Figura 3 – Representação dos riscos ocupacionais de acordo com a classe (físico, químico, biológico, ergonômico e
mecânico/de acidentes) e grau de risco (leve, médio e elevado).
Fonte: AREASEG.COM (2012). Disponível em: <http://www.areaseg.com/sinais/tabolas.gif>. Acesso em 17. Jun. 2012.
Seguranca no Trabalho
68
triagem de resíduos sólidos e número Considere o fato de que ainda não discuti-
de trabalhadores afastados por Dores mos sobre o papel do Gestor com Pessoas no
Osteomusculares Relacionadas ao lado humano (abordamos até aqui o papel
Trabalho - DORT); deste profissional no lado técnico). Assim,
• Estratificação; e, as possibilidades de parcerias de trabalho e
• Metodologia SWOT-FOFA (Fortalezas, enriquecimento de conhecimentos, quando
Oportunidades, Fraquezas e Ameaças – são associadas às duas áreas, são bastante
Wright et al. 2000)6. promissoras.
Considerações Finais
Prezado aluno, até aqui estamos obtendo riscos, quais sejam: a) Riscos Físicos; b) Riscos
ótimos avanços na compreensão sobre Químicos; c) Riscos Biológicos; d) Riscos
o tema Segurança do Trabalho e Saúde Ergonômicos; e, e) Riscos de Acidentes;
Ocupacional. Ao finalizar esta segunda focamos a discussão sobre as ferramentas
unidade, tenho a sensação, e espero que da Segurança do Trabalho que podem ser
esta sensação esteja sendo compartilha- de utilização do Gestor com Pessoas em sua
da por você que lê estas palavras, que a atuação na área. EPI´s, PPRA, PCMAT, PGR,
Gestão com Pessoas possui relação com a CIPA, SESMT, Mapa de Riscos Ocupacionais
Segurança do Trabalho. e Ferramentas de Qualidade: Este conjunto
Aliás, esta relação é bastante íntima e de siglas e conceitos agora já faz parte de
você mesmo pôde compreender, pelo exercí- seu arcabouço teórico e são processos que
cio proposto por meio do Quadro 4, que em você poderá auxiliar a executar em quais-
grande parte das Normas Regulamentadoras quer empresas.
– NR´s, pode haver o trabalho do Gestor com Em nossa próxima unidade, ampliare-
Pessoas. mos nossa discussão sobre o papel do Gestor
Em suma, além de exercitar nosso cog- com Pessoas nas estratégias de capacitação e
nitivo na descoberta dos significados que conscientização dos parceiros (empregados,
orbitam a Segurança do Trabalho, inseri- empregadores e outros atores envolvidos
mos, ao menos inicialmente, a Gestão com no certame), além de inserir um último ele-
Pessoas como componente da Segurança mento, o qual acentuará a proximidade dos
do Trabalho. Gestores com o universo da Segurança do
Também nos adiantamos quanto a um Trabalho. Trataremos da Qualidade de vida
dos componentes da Segurança do Trabalho, no trabalho.
os quais devem ser plenamente compreen- No mais, espero que você tenha bons
didos por você, caro aluno: Os riscos. estudos e lhe aguardo em nossa derradeira
A partir destas colocações sobre os unidade (Unidade III).
Seguranca no Trabalho
72
Atividade de Autoestudo
Livro
Título: Gestão de Pessoas e Segurança do Trabalho – O que a escola deixou de
te ensinar
Autor: MARTINS, ELI DAMARIS
Editora: LEON EDITORA
Sinopse: Este guia de Gestão de Pessoas traz vivências que a autora teve durante
vinte anos de experiência. Os fatos são reais, levando o leitor a refletir nas suas
atitudes diárias. Aos líderes, a esperança do entendimento que “para gerir
pessoas é preciso dar segurança”. Aos que pretendem conhecer um sistema de
liderança moderno, a certeza de estar no caminho correto, seguindo as orienta-
ções nesse contido. Aos amantes de uma boa leitura, a satisfação de um novo
conhecimento.
Pós-Graduação | Unicesumar
75
Web
• http://www1.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20081104143622.pdf
• Acesse os seguintes endereços para ficar por dentro das Normas Regulamentadoras de Segurança
do Trabalho e Saúde Ocupacional:
• Para saber maiores detalhes sobre o PPRA e outras metodologias de análise de riscos, acesse os se-
guintes endereços de internet:
• Para conhecer maiores detalhes sobre o Mapa de Riscos Ocupacionais, acesse o endereço a seguir:
Embora ainda não tenhamos discutido acerca dos relação a suas metas, expectativas, padrões e
aspectos relacionados à Qualidade de Vida no preocupações.
Trabalho, penso ser interessante trazer-lhe uma
leitura que ilustra o conceito e a importância da
Objetivos
Qualidade de Vida no Trabalho. Vamos a ela?
Programas de saúde é a ciência e a arte de ajudar
Vivemos numa sociedade em mudanças e num
pessoas a modificar seu estilo de vida em direção
momento excitante para as organizações. A socie-
a um ótimo estado de saúde, sendo esta com-
dade percebe que a Qualidade de Vida e a Saúde
preendida como o balanço entre a saúde física,
são ativos importantes, envolvendo dimensões
emocional, mental, social e espiritual. (American
física, intelectual, emocional, profissional, espiri-
Journal, 1989).
tual e social. Práticas inadequadas no ambiente
de trabalho geram impacto negativo na saúde Os programas de Saúde e QV objetivam facilitar
física e emocional dos empregados e na saúde mudanças no estilo de vida, combinando ações
financeira das empresas. e campanhas para consciência, comportamento
e envolvimento, que suportem suas práticas de
Baixa motivação, falta de atenção, diminuição
saúde e previna doenças.
de produtividade e alta rotatividade criam uma
energia negativa que repercute na família, na so-
ciedade e no sistema médico. Segundo Domenico Qualidade de Vida no Trabalho
de Masi, vivemos e trabalhamos numa sociedade O propósito de um programa de Qualidade de
do futuro, mas continuamos a usar os instru- Vida ou Promoção de Saúde nas Organizações é
mentos do passado. Felizmente, para algumas encorajar e apoiar hábitos e estilos de vida que
empresas inovadoras e conscientes, este cenário promovam saúde e bem estar entre todos os
não faz parte de sua realidade atual. funcionários e famílias durante toda a sua vida
As dez melhores empresas para se trabalhar (Guia profissional.
Exame 2001) transformaram o ambiente de tra- Um programa de Qualidade de Vida existe para
balho e a Saúde emocional e física em vantagem gerar estratégias com o intuito de promover um
competitiva, tendo plena convicção estratégi- ambiente que estimule e dê suporte ao indiví-
ca de que quanto mais eliciar satisfação, mais duo e à empresa, conscientizando sobre como
retorno terão em produtividade, criando assim sua saúde está diretamente relacionada à sua
a visão de uma organização mais privilegiada, qualidade e produtividade.
competitiva e equilibrada.
Não é suficiente ter em mente mudar relevante-
mente o estado de saúde dos profissionais, mas
Definição: também encorajá-los a cuidarem e gerenciarem
Segundo a Organização Mundial da Saúde, sua própria saúde, adquirindo um ganho subs-
Qualidade de Vida é um conjunto de percep- tancial na sua satisfação e crescimento, assim
ções individuais de vida no contexto dos sistemas como no aumento de produção e redução de
de cultura e de valores em que vivem, e em custos para a empresa
Pós-Graduação | Unicesumar
77
relato de
caso
Contudo, um profissional completo não se limita Não se quer afirmar, neste caso, que o uso do
somente aos conhecimentos ligados às suas atri- Aguapé é a solução única e definitiva. Aliás, o
buições profissionais. Então, por que não pensar problema dos materiais contaminantes ainda
em mitigar os riscos tratando diretamente as suas permanece quando se considera a produção de
fontes? E neste caso, as fontes estavam bastante efluente bruto, sendo necessárias medidas miti-
claras: Os resíduos líquidos oriundos da decom- gadoras em nível de trabalhador (EPI´s). Mas, o
posição de material orgânico. que se quer destacar é o empreendedorismo da
solução, a qual aliou os princípios de segurança
De maneira geral, empregam-se lagoas de estabi- do trabalho e os princípios de biorremediação,
lização em cadeia, nas quais se verifica a criação de com o uso de espécies vegetais, reduzindo a
um gradiente decrescente de material orgânico contaminação ambiental e a exposição dos tra-
e das demandas química e biológica de oxigê- balhadores aos agentes nocivos.
nio, o que significa, em resumo, que boa parte do
material orgânico já foi processado por micror- Elaborado pelo autor, baseado em SCHERER,
ganismos, tornando-se consolidado. No último M.A.; COSTA, T.R. Uso de biorremediadores
estágio, este resíduo, já chamado de efluente, como instrumento de acompanhamento, de-
caso obedeça parâmetros sanitários legais, pode tecção e redução de contaminação em lagoas
retornar à natureza, de maneiras diversas. de tratamento de efluentes – Estudo de caso.
Artigo: Curso de Especialização MBA em Gestão
No caso da empresa avaliada, não somente se veri- Ambiental e Desenvolvimento Sustentável –
ficava a problemática relacionada à contaminação Centro Universitário Cesumar. 2014. 17p.
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79
3 O GESTOR COM PESSOAS COMO AGENTE ATIVO NA SE-
GURANÇA DO TRABALHO
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará
nesta unidade:
• Perspectivas do tema “segurança do trabalho e saúde
ocupacional” no contexto da gestão com pessoas
Objetivos de Aprendizagem • O papel do gestor com pessoas nas estratégias
• Debater sobre a importância do Gestor com Pessoas de conscientização e de capacitação dos atores
no Contexto da Segurança do Trabalho. envolvidos
• Apresentar as perspectivas de atuação aplicada deste • Qualidade de vida no trabalho
Gestor nos processos de capacitação e conscientiza- • A importância da segurança do trabalho ao gestor
ção e na aplicação dos princípios de Qualidade de com pessoas como elemento de competitividade no
Vida no Trabalho. mercado de trabalho
• Demonstrar a importância do aprendizado sobre da
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional no con-
texto de ampliação da competitividade profissional
no mercado de trabalho.
Prezado aluno, finalmente chegamos à última unidade de nosso
material. Infelizmente nossa caminhada está terminando, mas com
certeza foi uma caminhada bastante prazerosa e elucidativa.
Você deseja ser este “novo” Gestor com Pessoas? Então acompanhe
as discussões desta última unidade. Vamos lá?
Seguranca no Trabalho
82
A
ssim como o desenvolvimento os dois temas sem também mencionar sobre
profissional tende a formação de a Gestão de Qualidade, afinal, nenhum dos
indivíduos com conhecimentos sis- pressupostos das áreas de conhecimento
têmicos e atitudes empreendedoras, as áreas discutidas tornar-se-iam reais sem o auxílio
do conhecimento, em especial as mencio- da Gestão da Qualidade.
nadas ao longo deste material (Gestão com Esta é a tendência, não somente para
Pessoas e Segurança do Trabalho) possuem estas três áreas, mas para as demais áreas do
a tendência de serem analisadas de maneira conhecimento. Pense que o “estado de arte”
imbricada, ou seja, sem barreiras entre si. de nossa sociedade tem apresentado proble-
Já lhe adianto que após a leitura desta máticas complexas, as quais não conseguem
unidade, você perceberá que já não é mais ser resolvidas pela aplicação dos conheci-
possível estudar ou falar somente sobre mentos de maneira compartimentada.
Gestão com Pessoas, ou somente sobre Mediante o exposto, passemos a discu-
Segurança do Trabalho, ou ainda, falar sobre tir os temas desta unidade.
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83
A
o se falar em estratégias de capacitação e de conscientização
de empregados e empregadores, estaremos nos reportan-
do diretamente a dois organismos dentro das empresas: O
SESMT e a CIPA.
Seguranca no Trabalho
84
Qual seria o meu papel, enquanto Gestor de comunicação? Como devo me comu-
com Pessoas, considerando os processos nicar?
QUALIDADE DE VIDA NO
TRABALHO
C
onforme observamos na Unidade I, o com que tenha lhe colocado desta forma,
desenvolvimento do Trabalho encon- afinal, o QVT é uma estratégia tão necessá-
tra-se paralelo à própria sobrevivência ria e “bacana” por parte das empresas.
do ser humano, uma vez que este é a repre- De fato, muitas empresas tem adotado
sentação da capacidade de transformação do os princípios de QVT, mas, conforme afirma
ambiente voltada ao atendimento de nossas Vasconcelos (2001)1, muitos destes princí-
necessidades. pios ainda estão focados meramente no
Verificamos ainda que, diante de um aumento de ganhos pecuniários. Trocando
enfoque capitalista, todos os elementos em miúdos, a ideia é que a QVT encon-
envolvidos na prática do trabalho, especial- tra-se instalada no ambiente de trabalho
mente considerando o ser humano e sua quando os colaboradores são justamente
capacidade laboral, tiveram valores atribu- recompensados por seu árduo trabalho.
ídos, ou seja, tornaram-se comercializáveis. Falácia!
Infelizmente, tal conceito também se Este é somente um dos elementos da
faz presente quando se debate sobre a QVT e não necessariamente devem haver
“Qualidade de Vida no Trabalho”. Mas, você estes ganhos pecuniários. Aliás, a adoção
1 VASCONCELOS, A.F. Qualidade de vida no trabalho: Origem, evolução e pers-
deve estar pensando nos motivos que fizeram pectivas. Caderno de Pesquisas em Administração. 8(1): 23-35. 2001.
Seguranca no Trabalho
88
destas estratégias torpes é que faz com que Quadro 5 – Evolução do conceito de
as verdadeiras estratégias de Qualidade de Qualidade de Vida no Trabalho
Vida no Trabalho sejam encaradas como Concepções Evolução do QVT Características ou Visão
apenas mais um ônus ao empregador, o Reação do indivíduo ao trabalho.
1. QVT como uma variável Investigava-se como melhorar
que justifica a frase que utilizei há alguns
(1959 a 1972) a qualidade de vida no trabalho
parágrafos. oara o indivíduo.
Ademais, é válido salientar que a O foco era o indivíduo antes do
resultado organizacional; mas ao
QVT não é um tema recente. Rodrigues 2. QVT como uma abordagem
mesmo tempo, busca-se traser
(1969 a 1974)
(1999)2 aponta que a QVT sempre esteve melhorias tanto ao empregado à
presente no desenvolvimento da prática direção.
Um conjunto de abordagens,
laboral humana, com outros títulos e em métodos ou técnicas para melhor
outros contextos. Segundo aquele autor, o ambiente de trabalho e tomar
o trabalho mais produtivo e mais
os próprios ensinamentos de Geometria 3. QVT como um método (1972
satisfatório. QVT era vista como si-
de Euclides de Alexandria, que datam de a 1975)
nônimo de grupos autônomos de
300 a.C. serviram como inspiração para a trabalho, enriquecimento de cargo
ou desenho de novas plantas com
melhoria dos métodos de trabalho na agri- integração social e técnica.
cultura às margens do Rio Nilo, no Egito. Da Declaração ideológica sobre a
mesma forma, Rodrigues (1999) também natureza do trabalho e as relações
dos trabalhadores com a organi-
cita o exemplo da Lei das Alavancas de 4. QVT como um movimento zação . Os termos “ administração
Arquimedes, formulada 13 anos depois (287 (1975 a 1980) participativa” e “democracia
industrial” eram frequentemente
a.C.), a qual foi utilizada na diminuição do ditos como ideias do movimento
esforço físico de muitos trabalhadores. de QVT.
Vasconcelos (2001) ainda aponta que Como panacéia contra a com-
petição estrangeira estrangeira,
a QVT, enquanto objeto de estudo das 5. QVT como tudo (1979 a problemas de qualidade, baixas
grandes áreas do conhecimento, foi ava- 1982) taxas de produtividade, proble-
mas de queixas e outros proble-
liada por muitos pesquisadores durante o mas organizacionais.
Século XX (pós estado de crise provocado No caso de alguns projetos de
pela Revolução Industrial do século XIX, por- QVT fracassarem no futuro,
6. QVT como nada (futuro)
não passará de um”modismo”
tanto). O Quadro 5 apresenta a evolução de passageiro.
conceitos ligados à Qualidade de Vida no Fonte: NADLER & LAWLER apud. FERNANDES (1996, pg. 42)3.
Trabalho:
2 RODRIGUES, M.V.C. Qualidade de vida no trabalho: Evolução e análise no 3 FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho: Como medir para melho-
nível gerencial. 1ª ed. Petrópolis: VOZES, 1999. rar. Salvador: CASA DA QUALIDADE EDITORA LTDA., 1996.
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O Brasil atualmente tem despontado com um dos países que mais investem em Qualidade
de Vida no Trabalho. Ademais, vale dizer que a QVT também é um dos pilares que susten-
tam a própria Segurança do Trabalho e a Saúde Ocupacional. Veja o ranking dos países que
apresentaram os melhores índices de qualidade de vida no trabalho.
Infelizmente existe uma grande dis- arcar com os custos da implantação de tais
tância entre os princípios de Qualidade de programas, considerando que os resultados
Vida no Trabalho e a realidade. Conforme dos mesmos só aparecem em médio e longo
Albuquerque, citado por França e Assis (1995, prazo), de ordem cultural (a manutenção do
pg. 28)6: status quo das lideranças engessando a inter-
pessoalidade dentro de uma empresa), além
“(...) existe uma grande distância entre o de dificuldades estruturais (as empresas ra-
discurso e a prática. Filosoficamente, todo
ramente possuem estruturas outras que não
mundo acha importante a implantação
sejam produtivas).
de programas de QVT, mas na prática pre-
valece o imediatismo e os investimentos Contudo, dada a importância da
de médio e longo prazo são esquecidos. Qualidade de Vida no Trabalho e seus be-
Tudo está por fazer. A maioria dos progra- nefícios, torna-se amplamente necessário
mas de QVT tem origem nas atividades de
que os atuais paradigmas sejam revistos.
saúde e segurança do trabalho e muitos
Conforme o último trecho citado, não se
nem sequer se associam a programas de
qualidade total ou de melhoria do clima pode falar em Qualidade Total em uma
organizacional. QVT só faz sentido quando empresa sem se falar em QVT. Parafraseando-
deixa de ser restrita a programas internos a, não se pode falar em Segurança do
de saúde ou lazer e passa a ser discuti-
Trabalho e Saúde Ocupacional e muito
da em um sentido mais amplo, incluindo
menos em um processo de Gestão de
qualidade das relações de trabalho e suas
consequências na saúde das pessoas e da Pessoas sem mencionar, implantar e con-
organização”. solidar os princípios de QVT na vida da
empresa e de seus colaboradores.
Este trecho acima citado pode resumir a ideia Nossa intenção ao discutir sobre QVT
sobre as dificuldades que você encontrará ao é apresentar mais um nicho de mercado
tentar implantar os princípios de QVT em sua para sua futura atuação. Contudo, não é
atividade profissional. São muitas as barreiras nossa intenção esgotar o assunto, afinal,
de ordem conceitual (nem todos conhecem ainda existiriam muitos outros aspectos
todas as dimensões da QVT), de ordem fi- que poderiam ser discutidos. Portanto,
nanceira (nem todas as empresas querem para ampliar seu aprendizado e suas visões
6 FRANÇA, A.C.L.; ASSIS, M.P. Projetos de qualidade de vida no traba-
lho: Caminhos percorridos e desafios. RAE Light. 2(2): 26-32, 1995. acerca da Qualidade de Vida no Trabalho,
Seguranca no Trabalho
94
S
egundo a reportagem de capa da A tendência do mercado é que os pro-
Revista ISTO É, de 26 de Abril de fissionais passem a desenvolver um enfoque
2012, intitulada “O profissional que o sistêmico acerca de suas demandas. Há
mercado quer”, o mundo do trabalho vive pouco, discutíamos sobre os sistemas de
sua maior transformação desde a Revolução gestão empresariais e ressaltamos o fato de
Industrial e busca um novo tipo de pessoas. que estes sistemas deveriam convergir e in-
Agora o que vale mais é ter formação diver- teragir entre si, considerando que possuem
sificada, ser versátil, autônomo, conectado e a mesma base e respeitando as tendências
dono de um espírito empreendedor (RUBIN, de mercado.
20127). Somente o Gestor com Pessoas, sem
Em outras palavras, dominar os conhe- maiores conhecimentos sobre a Gestão de
cimentos de apenas uma área ou curso é Qualidade e sobre os princípios de Segurança
pouco válido. Ainda mais considerando uma do Trabalho e Saúde Ocupacional não será
área tão competitiva como a da Gestão com capaz de atender as futuras demandas de
Pessoas. um mercado em expansão.
7 RUBIN, D. O profissional que o mercado quer. ISTO É [on line]. 2212 ed.,
São Paulo: ABRIL, 2012. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reporta- Conforme já abordado em momentos an-
gens/196912_O+PROFISSIONAL+QUE+O+MERCADO+QUER>. Acesso em:
17. Jun. 2012. teriores, a atuação do Gestor com Pessoas no
Seguranca no Trabalho
96
Considerações Finais
Nesta última unidade de nosso material operacionais das empresas com absenteísmo
você teve a possibilidade de perceber quais derivado de acidentes ou de instabilidades
são as perspectivas do tema Segurança do físicas e emocionais dos trabalhadores é re-
Trabalho e Saúde Ocupacional no contexto duzido drasticamente.
da Gestão com Pessoas sob três enfoques: Por fim, tecemos uma análise crítica
Comunicação e Animação dos processos, quanto à formação profissional do Gestor
Qualidade de Vida no Trabalho e Ampliação com Pessoas, destacando a inteligência, o
de competitividade profissional. empreendedorismo, a proatividade, a capa-
Verificamos que nos três enfoques as áreas cidade de comunicação e o conhecimento
do conhecimento abordadas (Segurança amplo e sistêmico como qualidades deman-
do Trabalho e Saúde Ocupacional e Gestão dadas pelo mercado de trabalho.
com Pessoas) tornaram-se indissociáveis, não Ademais, este conhecimento amplo
sendo possível avaliar uma problemática sob e sistêmico abarca diferentes áreas do co-
o enfoque isolado de uma destas ciências. nhecimento e raramente encontramos no
Também verificamos a forte ligação do mercado de trabalho profissionais que sejam
tema Segurança do Trabalho com o tema antenados na área de Segurança do Trabalho.
Qualidade de Vida no Trabalho. A Qualidade Verificam-se muitos profissionais com conhe-
de Vida no Trabalho, conforme observamos, cimentos isolados e nossa prática de estudos,
transcende a aplicação de técnicas espe- por meio deste material, visou justamente o
cíficas à cada caso, avançando no sentido contrário: Quero que você se forme com sua
de aproximar do profissional as condições visão crítica e sistêmica desenvolvida, inte-
pessoais ideais para a prática laboral, am- grando os conhecimentos das duas áreas
plificando sua produtividade por meio do trabalhadas neste material para que você
bem estar físico e mental dos colabora- possa ser um profissional responsável e de
dores. Ademais, vale dizer que os custos sucesso.
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99
Atividade de Autoestudo
Livro
Título: Stress e qualidade de vida no trabalho: Perspectivas atuais da saúde ocupacional. 1ª ed.
Autor: STEVEN L. SAUTER/ PERREWE/ ROSSI
Editora: ATLAS
Sinopse: Este livro aborda tópicos importantes nas áreas de stress, saúde ocupacional e qualidade de vida,
reunindo um grupo multidisciplinar de especialistas que fornecem análises aprofundadas sobre o tema.
Pelo fato de o stress no trabalho Ter se formado em uma preocupação mundial, este livro assume uma
perspectiva verdadeiramente internacional sobre o stress ocupacional e o bem-estar dos colaboradores.
A obra apresenta temas do que é atualmente uma literatura em expansão que visa atender as causas,
os efeitos e a prevenção do stress no local de trabalho. Começa com três capítulos sobre as diferentes
fontes de stress ocupacional, abordando de fatores organizacionais a atributos dos próprios trabalha-
dores. Os cinco capítulos seguintes atualizam a compreensão sobre os efeitos adversos que o stress
pode ter sobre os indivíduos, suas famílias e as organizações. O último grupo de capítulos do livro
tem um tom mais positivo, avaliando os benefícios de ambientes de trabalho saudáveis e formas de
superar a prevenir o stress no trabalho.
Livro
Título: Qualidade de vida no trabalho – QVT: Conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-in-
dustrial. 2ª ed.
Autor: Ana Cristian Limongi-Franca
Editora: ATLAS
Sinopse: Esta obra busca novos paradigmas na administração de empresas por meio de três vetores con-
ceituais nas questões de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). As escolas de pensamento, os indicadores
empresariais BPSO (Biológicos, Psicológicos, Sociais e Organizacionais) e os fatores críticos de gestão.
O intenso trabalho de pesquisa visou a uma nova Modelagem Conceitual, com base nas Interfaces da
Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) da administração de empresas. Os conceitos aqui tra-
tados foram construídos com base na combinação do método quantitativo - utilizando-se a análise
documental e do estudo quantitativo exploratório - por meio de pesquisa de campo com adminis-
tradores, alunos e professores da área de Administração e ampla análise documental, inclusive com
alunos do MBA-RH (FIA) em convênio com a USP, em projeto de pesquisa de livre-docência da autora.
Livro
Título: Extensão ou Comunicação? 6. ed.
Autor: FREIRE, P.
Editora: PAZ E TERRA,
Sinopse: Uma das maiores contribuições de Paulo Freire para o desenvolvimento de ações em conjunto
com Agricultores e Agricultoras Familiares encontra-se no livro “Extensão ou Comunicação?”. Por meio
da discussão estabelecida neste material, o leitor é levado a problematizar sobre o seu papel, como
agente de desenvolvimento, no sentido de promover os processos comunicativos dialogados na mesma
linguagem do agricultor, considerando seus saberes, costumes e identidade. Trata-se de uma leitura
obrigatória a todos os profissionais que desenvolvem ações em conjunto com estes atores sociais.
Seguranca no Trabalho
102
Web
relato de
caso
O transporte de cargas é um dos segmentos mais válido aos profissionais da área de Gestão, em es-
importantes para o desenvolvimento do Brasil, pecial os Gestores com Pessoas.
pois é através dele que se faz chegar a matéria
prima nas indústrias e o produto final ao consu- Pode-se dizer que em uma empresa que preten-
midor. Dentre as inúmeras cargas transportadas da ser referência no mercado, a existência de um
pelas nossas rodovias encontram-se os produtos Gestor com capacidade de multiplicar tais conhe-
perigosos, sem os quais seria inviável a produção cimentos promove não somente a defesa dos
de bens de consumo. recursos naturais, mas também a própria segu-
rança do trabalho.
Os riscos de desastres com produtos perigo-
sos acontecem entre os desastres humanos de O presente estudo revelou que as empresas que
natureza tecnológica, podendo localizar-se no investem em um sistema de gestão integrada em
Transporte Rodoviário, Aeroviário, Ferroviário, seus transportes, considerando a gestão ambien-
Marítimo, Fluvial ou Lacustre, no Deslocamento tal, de pessoas, de qualidade e da segurança do
por Dutos, e em muitos outros locais onde ocorre trabalho, reduzem seus custos operacionais em
o uso ou manuseio de produtos perigosos. 48%, considerando a comparação com empresas
que não adotam procedimentos que possam ser
Os acidentes com produtos perigosos que característicos das respectivas gestões.
ocorrem durante o seu transporte, armazena-
gem ou manuseio requerem das pessoas, que Da mesma forma, os dados revelados por este
possuam contato direto e indireto no processo, estudo indicam que o investimento em gestão
conhecimentos gerais e específicos para evita- integrada valoriza os papéis das empresas que
rem sinistros. O acidente ocorre todas as vezes possuem ações nas bolsas de valores, em especial,
que se perde o controle sobre o risco, resultado as empresas logísticas de maior porte. É válido
em extravasamento, causando danos humanos, salientar que estes processos de gestão integra-
materiais e ambientais. da são de competência do Gestor com Pessoas,
levando-se em conta que 35% das empresas ava-
Considera-se produto perigoso toda substância liadas no caso possuíam este profissional em seu
com propriedades físico-químicas como toxicida- bureau de planejamento.
de, corrosividade, inflamabilidade e outras que
podem causar danos à saúde das pessoas, desor- Desta forma, avalia-se como positiva a ação deste
dem ou destruição do meio ambiente e prejuízos profissional nos casos avaliados por meio deste
ao patrimônio de terceiros. trabalho, da mesma forma que se avalia como
necessária a multiplicação de conhecimentos
Esses produtos estão agrupados em nove classes sobre estratégias de segurança e contenção de
de risco, identificados, nos veículos, por painéis catástrofes nos transportes de cargas perigosas.
de segurança e rótulos de risco.
Elaborado pelo autor, baseado em SILVA,
Diante da necessidade de se transportar tais E.M.; COSTA, T.R. Transporte e armazenamen-
cargas, é conveniente afirmar que o conhecimen- to de cargas perigosas. Monografia: Curso de
to sobre a tipologia da carga bem como sobre suas Especialização em Engenharia de Segurança do
características físico-químicas e sobre as ações Trabalho – Universidade Estadual de Maringá.
para contenção de catástrofes é extremamente 2014. 70p.
Seguranca no Trabalho
104
CONCLUSÃO
Prezado aluno do curso de MBA em Gestão empreendedor, você certamente irá gostar
com Pessoas, a produção do livro “Segurança de ter estas dúvidas e de estar em frente aos
do Trabalho e Saúde Ocupacional” apresenta- novos desafios, ou seja, você terá a atitude
se como uma humilde contribuição literária necessária para descobrir mais sobre este
aos seus estudos e ao seu futuro exercício pro- mundo tão vasto e complexo da Segurança
fissional. Por meio desse material, muitos dos do Trabalho.
conceitos e do conhecimento acerca deste Estarei sempre a sua disposição para lhe
tema estratégico foram tratados, sempre com ajudar nesses assuntos. Entre em contato em
um foco realista e interdisciplinar. caso de dúvidas e sugestões, por meio do en-
Espero que você possa ter construído o dereço: tiago.costa@unicesumar.edu.br. Será
conhecimento sobre a importância, as ações, um prazer conversar com você!
os atores envolvidos e as perspectivas sobre Desejo lhe encontrar em uma próxima
os assuntos abordados e, se você realmen- oportunidade para novamente construirmos
te conseguiu este intento, terei cumprido o conhecimento.
minha missão em auxiliá-lo em sua jornada. Um grande abraço!
Contudo, sei que muitos conceitos e Prof. Tiago Ribeiro
muitas das discussões realizadas neste ma- Eng. Agrônomo, Eng. de Segurança do
terial não se acabam por aqui, podendo Trabalho, Me.
gerar novas dúvidas. Se você leu atenta- Professor Assistente – NEAD
mente este material, e possui um espírito UniCesumar
Pós-Graduação | Unicesumar
105
REFERÊNCIAS
GABARITO
(Footnotes)
1 GUIADOESTUDANTE.ABRIL.COM. Descrição
sobre o profissional de Engenharia de
Segurança do Trabalho. Disponível em:
<http://guiadoestudante.abril.com.br/
profissoes/engenharia-producao/engenha-
ria-seguranca-trabalho-602980.shtml>