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Psicoterapia Breve

ROTEIRO

1-Introdução e Conceitos Básicos Teóricos.


2-O Tratamento com Psicoterapia Breve.
3-Como trabalha o Psicanalista.
4-Como trabalha o Psicanalista Breve.
5-Uma sessão de Psicoterapia Analítica.
6-Uma sessão de Psicoterapia Breve Analítica.
7-Atendimento Grupal em Psicoterapia Breve Analítica.
8-Tipos de Intervenção Verbal do Terapeuta.
9-Traços Gerais de Contribuições do Terapeuta em Psicoterapia Breve.
10-Bibliografia.

1-INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS TEÓRICOS.


Psicoterapia é o tratamento, por meio psicológicos, de problemas de natureza emocional, no
qual uma pessoa treinada deliberadamente estabelece um relacionamento profissional com
o paciente, com o objetivo de remover, modificar ou retardar sintomas existentes, interferir
em padrões perturbados de comportamento, promover o desenvolvimento e crescimento
positivo da personalidade.
A Psicoterapia Breve é um tratamento de natureza psicológica, de inspiração psicanalítica,
cuja duração é limitada, buscam obter uma melhora da qualidade de vida em curto prazo,
escolhendo um determinado problema mais premente e focando os esforços na sua
resolução.
Dentre essas técnicas focais, uma que traz grandes benefícios em um prazo muito breve é o
processamento de situações traumáticas por estímulos bilaterais (EMDR).
Há três reações possíveis a uma situação de perigo. Lutar, fugir ou paralisar-se. A paralisia
é um último recurso para manter-se vivo, como um animal acuado que se finge de morto.
Mas, ao contrário do lutar ou fugir, ela impede o processamento da experiência produzindo
um trauma.
Uma experiência traumática não adquire um significado aceitável. Ela envolve uma
intensidade de energia emocional, maior do que o organismo foi capaz de descarregar. Esse
excesso de carga fica provocando o sofrimento.
As técnicas mais modernas permitem verificar que pessoas traumatizadas têm uma
atividade cerebral muito maior de um lado do cérebro do que do outro.
A EMDR é um tratamento através de estímulos (visuais, auditivos, táteis) que facilitam o
restabelecimento da comunicação entre os dois hemisférios cerebrais; vão se produzindo
pequenas descargas suportáveis que possibilitam o processamento da situação e o alívio do
sofrimento por uma re-significação da situação.
Vítimas de situações catastróficas ou de abuso físico, sexual ou emocional, e pessoas com
sintomas de fobia ou pânico, rapidamente se restabelecem com a EMDR. Há também as
situações dos pequenos abusos de situações opressivas ao longo de anos a fio que podem
ser beneficiadas por este tratamento.
Mas percebe-se também que todos nós temos "trauminhas", situações difíceis ao longo de
nossas vidas que não encontraram uma saída satisfatória, e que podem ser processadas
desta forma para nos propiciar uma sensível melhora em nossa disposição.
Essas situações podem produzir sintomas como depressão, estresse, ansiedade, pânico,
fobia, desamparo e amnésia, como uma determinada época da vida que não deixou
lembranças.
A psicoterapia, em seu sentido genérico, como prática que se propõe a ajudar pessoas com
sofrimentos psicológicos, mesmo que com distúrbios orgânicos (psicoterapia de pacientes
com câncer, de coronarianos, ou mesmo de doentes mentais de causa orgânica ou
bioquímica) se adaptará às novas ordens científicas, culturais e econômicas. Entre elas
existe a tendência de comprovação científica (matemática) de resultados, mesmo que para
isto se empreguem somente os critérios das ciências físicas ou biológicas e não, também, os
das ciências humanas, onde as psicoterapias estão igualmente inseridas. Esta é uma pressão
que, apesar dos protestos em contrário, implantará na psicoterapia do século XXI uma
política de resultados. Outro fator de pressão para "resultados" situa-se na tendência do
mundo ocidental especialmente do primeiro mundo, de submeter o atendimento médico aos
seguros-saúde. Desta forma, as psicoterapias ficarão atreladas às companhias de seguro,
privadas ou públicas, que exigirão psicoterapias breves, resultados objetivos e pouco
dispendiosos.
A Psicoterapia Breve Integrada coloca em dúvida o conceito de que para ajudar de modo
eficaz um paciente seja sempre necessário um tempo prolongado. Através de uma
abordagem psicoterapêutica mais dinâmica e flexível, essencialmente distinta da técnica
psicanalítica tradicional, a Técnica Focal da P.B.I. possibilita que os objetivos terapêuticos
sejam atingidos em prazo mais curto, através de um mecanismo denominado "Efeito
Carambola", em que as mudanças em uma determinada área podem conduzir a alterações
em outras áreas do comportamento do paciente.
Baseia-se no modelo de abordagem integrada biopsicossocial e privilegia a visão
psicodinâmica dos conflitos, permitindo a integração de diversas técnicas de diferentes
abordagens psicoterapêuticas, além da utilização conjugada do tratamento
psicofarmacológico.
O termo "Psicoterapia Breve" teve origem na intenção de S. Ferenczi e O. Rank (discípulos
de S. Freud), que em 1924 tentaram diminuir o tempo dos tratamentos psicanalíticos.
Posteriormente, outros psicanalistas também fizeram importantes "transgressões" à técnica
psicanalítica, sedimentando as características atuais da técnica de P.B.
Atualmente enfatiza-se a perspectiva teórica psicodinâmica da Teoria dos Afetos. A
denominação "breve" deve-se ao fato de que as características específicas de sua Técnica
Focal permitem abreviar a duração do tratamento e também reduzir o número de sessões. A
Técnica Focal da Psicoterapia Breve Integrada tem como objetivo ajudar o indivíduo na
busca de soluções mais adaptativas aos seus problemas, dentro do tempo mais breve
possível. É orientada para objetivos claramente delimitados e para mudanças legítimas nas
vidas das pessoas e não somente para autoconhecimento e apoio.

1.1- TÉCNICA FOCAL


O objetivo da Técnica Focal não é atingir todos os aspectos de mudanças estruturais, mas
sim, dar início ao processo e deixar o paciente suficientemente estabilizado de forma que
possa dar continuidade a esse processo de crescimento através de outros relacionamentos
em sua vida. O papel do terapeuta será o de catalisador nesse processo de facilitação de
mudanças proporcionando Experiências Emocionais Corretivas.
A Técnica Focal tem se provado extremamente eficaz em alguns transtornos mentais tais
como:
- Transtornos depressivos
- Transtornos ansiosos
- Transtornos de comportamento
- Transtornos alimentares
- Reações de ajustamento
- Transtorno de estresses pós-traumático

A técnica da P.B.I., baseia-se no princípio da flexibilidade, que permite a integração de


diversas técnicas de diferentes abordagens terapêuticas, além dos recursos da
psicofarmacologia.
Tem objetivo delimitado e enfatiza a realidade objetiva. Utiliza-se dos Triângulos de
Interpretação para a compreensão do psicodinamismo do paciente e também dos conceitos
de Experiência Emocional Corretiva (E.E.C.) e de Efeito Carambola para a explicação dos
mecanismos terapêuticos.
Além disso, a técnica de P.B.I. se sustenta no que foi denominado em 1984 por Vera
Lemgruber, de "Tríade da P.B".:
Atividade do terapeuta, que se opõe à Regra de Abstinência, já que a atenção seletiva do
terapeuta em P.B.I. contrapõe-se à atenção flutuante do psicanalista e evita-se o
estabelecimento da Neurose de Transferência também através de interpretações que
valorizem o vértice da realidade atual no Triângulo do Insight e do emprego de focalização
através de interpretação, atenção e negligenciar seletivos em relação ao foco de trabalho
previamente estabelecido e discutido pelo terapeuta com o paciente.
Planejamento das estratégias terapêuticas a serem utilizadas e dos objetivos a serem
atingidos, a partir da avaliação inicial e indicação terapêutica. É necessária uma avaliação
prévia das condições internas e estrutura de personalidade do paciente, através de um
diagnóstico nosológico (CID-10 e/ou D.S.M. IV) e de um diagnóstico psicodinâmico (com
base no esquema dos Triângulos de Interpretação), pois nem todo paciente tem indicação
para este tipo de técnica.
Foco estabelecido através da compreensão do psicodinamismo do problema do paciente,
obtida pela avaliação do Triângulo do Conflito, com base na Teoria dos Afetos. É
importante para o terapeuta, na P.B.I., uma adequada avaliação das dificuldades do paciente
e da gênese de seus problemas, para uma melhor compreensão dos conflitos
psicodinâmicos. Dessa forma, apoiado numa sólida teoria de desenvolvimento psicológico,
ele busca aumentar a probabilidade de propiciar Experiências Emocionais Corretivas.
A Focalização impede a Regra Fundamental da Associação Livre da Psicanálise, mantendo
o problema principal como o foco central do processo terapêutico. O paciente é levado a
identificar e correlacionar seus problemas e dificuldades, com as situações de sua vida
diária nas quais eles aparecem.
Essas características essenciais distinguem a técnica da P.B.I. da técnica psicanalítica
clássica, por se oporem às principais bases dessa.

1.2- EFEITO CARAMBOLA


Carambola é a expressão usada para identificar uma jogada de bilhar ou sinuca em que uma
determinada bola ao ser impulsionada por um taco, gera movimento em outras bolas que
não haviam sido atingidas diretamente mas que passam a mover-se impulsionadas pelo
movimento gerado pela primeira bola.
Por analogia à carambola do bilhar, o termo Efeito Carambola foi utilizado por Vera
Lemgruber para expressar o mecanismo interno de potencialização dos benefícios
terapêuticos obtidos através da técnica focal, com isso identificando a característica da
técnica focal, na qual, ao se resolver o conflito focal circunscrito a uma determinada área da
vida do paciente, outras modificações em diversos aspectos do indivíduo podem ocorrer,
como reflexo de repercussões positivas da reformulação desse aspecto específico que foi
focalizado e trabalhado durante a terapia.
O Efeito Carambola encontra-se fundamentado nas neurociências. A partir das
Experiências Emocionais Corretivas (E.E.C.) é possível uma formatação biológica do
domínio psicológico da ordenação e construção da experiência. Com isso propicia-se o
estabelecimento de novas redes de conexões neuronais.
No processo psicoterapêutico, com o objetivo de promover essas experiências de
reaprendizado que levam às modificações internas no modo como o indivíduo vê a si
próprio e aos outros, um importante elemento da facilitação de mudanças é a E.E.C.
"Efeito Carambola significa tornar um círculo vicioso em círculo virtuoso". (Comentário de
um paciente após alta do tratamento de um episódio depressivo).

1.3- TEORIA DOS AFETOS


Essa espécie de "kit-básico de sobrevivência" tem vantagens adaptativas para o ser humano
e pode ser classificado em 3 grupos:
- Afetos inibidores: restringem ou limitam reações.
- Afetos ativadores-reguladores: regulam experiência de separação e estabelecimento de
limites e da intimidade.
- Afetos ativadores-geradores de prazer: promovem interesse, conforto ou desejo sexual.
O neurocientista A. Damásio ("Os Mistérios da consciência", 2000), ressalta a visão de
Darwin sobre a evolução das emoções nos seres humanos, dizendo que, "do ponto de vista
evolutivo, o problema de vida e sobrevida é fundamental e influenciou a forma de
organização do cérebro humano, levando aos trilhões de sinapses cerebrais e redes nervosas
que configuram a complexidade da mente humana". Para ele, o fato de o ser humano ter
emoções é o que leva à criação do estado mental da consciência e permite ao ser humano
ter pensamento, memória, imagem do self e comunicação.
Porque os afetos são mais dinâmicos e menos fixos que os instintos e porque sua expressão
é passível de modificação pela aprendizagem, a Experiência Emocional Corretiva (EEC)
leva à possibilidade de mudança durante a psicoterapia pela reaprendizagem inerente ao
processo psicoterapêutico.

1.4- TIPOS DE PSICOTERAPIA BREVE


Assim, o primeiro ponto a ser determinado é o tipo de Psicoterapia Breve, pode ser
classificada em três tipos básicos:

a) Psicoterapia breve mobilizadora.


Trata-se de um processo que tem como objetivo a evidenciação da ansiedade contida em
processes mórbidos apresentados pelo paciente, mas que, devido a diversos fatores, ainda
não se encontra apto (ou mobilizado) para se submeter a um processo psicoterápico.

b) Psicoterapia breve de apoio.


Trata-se, por sua vez, de um processo de ação terapêutica que tem como objetivo diminuir a
ansiedade de um paciente que sofra de dificuldades emocionais, sejam elas de que origem
for. Notadamente eficiente no acompanhamento de pacientes da área hospitalar cuja
principal dificuldade está em lidar adequadamente com algum distúrbio somático que o
levou ao hospital, seja clínico ou cirúrgico.

c) Psicoterapia breve resolutiva.


Destina-se a procurar a origem intrapsíquica que originou a situação de crise vivida pelo
paciente com o objetivo de efetivamente resolver o quadro apresentado, com a resolução do
problema. É o tipo de Psicoterapia Breve que tem em sua determinação o principal objetivo
de uma psicoterapia que é óbvio ao meu ver, ser terapêutico, isto é, efetivamente tratar.
Tendo então delimitado o campo em que se pretende trabalhar, isto é, o terapêutico,
salientam-se algumas questões básicas como: as indicações dessa modalidade de
tratamento, o problema da "focalização", a duração do processo, o prognóstico esperado e,
destacadamente, a metodologia adequada a este tipo de processo.

A prática da psicoterapia psicodramática clínica converteu-se, influenciada principalmente


por modelos psicanalíticos, em um processo cada vez mais longo e mais amplo, do que
inicialmente idealizara Moreno. Para Moreno, que sem assim o definir foi um grande
defensor da Psicoterapia Breve, a psicoterapia psicodramática tem como meta a cura, a
possibilidade de atingir o retorno do paciente às suas condições psíquicas anteriores ao
transtorno apresentado, em um tempo mínimo, em que se consiga ajudar à pessoa a:

a) Aceitar a realidade de seu ser-no-mundo, isto é, como a pessoa é e quais são as suas reais
possibilidades de ser e agir;
b) Penetrar no psiquismo da pessoa e ajudá-la na realização de si mesma, a continuar
seguindo o caminho de sua vida que foi interrompido pelo estabelecimento de uma situação
especial de "doença" (uma crise, por exemplo) e permitir que ela tenha domínio sobre suas
próprias variáveis individuais.
c) O objetivo deve ser reintegrar o "doente" na cultura a que pertence, ajudando-o a
manifestar todo o seu potencial possível, restabelecendo seu potencial criativo e sua
espontaneidade.

Nos processes terapêuticos, o conto do "Patinho Feio", não importa ser "pato" ou "cisne",
mas o importante é conscientizar-se que se está no "lugar errado" e que se quer ser "pato"
quando se é "cisne" e vice-versa, muitas vezes perdendo a oportunidade de ser um "bom
pato, se é pato" ou um "bom cisne, se é cisne".
E assim se concentra a idéia de uma psicoterapia breve, isto é, a de procurar, ao lado do ser
que sofre, encontrar a solução para a sua aflição, pesquisando no campo do "mundo
externo", primeiramente, e a seguir no seu "mundo interno", as origens de seu sofrimento,
sem se estender em longos caminhos de modificação.
Portanto, o processo de psicoterapia breve envolve a criação de um vinculo transitório entre
terapeuta e cliente, baseado na relação dialógica, estruturado na empatia, com um nível
mínimo de consolidação para que se possa desenvolver, tanto no contexto dramático,
quanto no relacional, uma certa experiência emocional de correção ("Experiência
Emocional Corretiva", aqui empregada num sentido mais amplo do que o proposto por
Alexander, pois envolve não apenas a experiência relacional, mas tamb6m a revivência
psicodramática corretiva), possibilitando a emergência de aspectos inconscientes
transferencialmente agregados à situação vivida no presente pelo paciente, permitindo o
reconhecimento destes aspectos profundos (insight) e a liberação de cargas emocionais
bloqueadas ligadas a eles (catarse de integração).
Um outro elemento que se apresenta para a conceituação de psicoterapia breve é a questão
da determinação dos objetivos a serem alcançados pelo processo. E o objetivo,
primordialmente, não é outro senão o de se atingir aquele equilíbrio existente anteriormente
A crise, com a resolução destes aspectos transferenciais agregados.
Isto traz à tona outra questão: a da focalização, que merecerá um item destacado mais á
frente ainda neste capitulo. Mas, desde já é importante afirmar a necessidade da sua correta
identificação por parte do terapeuta, pois disto depende o êxito do processo.
Quanto a questão do termo breve, que indica um fator especifico nesta modalidade de
psicoterapia, trata-se efetivamente da limitação do tempo de duração do tratamento,
determinado desde o inicio do trabalho. Tem como fundamentação não somente as questões
sócio-econômicas institucionais ou particulares, mas também a observação de que uma
situação de crise é limitada no seu tempo de duração. Há também, em sua argumentação, a
proposição colocada por Malan de que o período predeterminado para a duração do
processo desencadeia uma "ansiedade positiva", algo como no principio existencialista de
que o "reconhecimento da morte possibilita a vida!"
Finalmente, neste item quero deixar ressaltado que os meios de alcançar o objetivo
terapêutico envolvem vários níveis de ação, que vão desde mostrar ao paciente o que esta
realmente acontecendo e de que forma ele está reagindo (clareamento), passando por uma
etapa pedagógica, em que lhe são oferecidas algumas alternativas de solução
(esclarecimento) até atingir a fase mais importante do processo que é a abordagem
psicodramática direta dos conteúdos do mundo interno que impedem o seu livre
desempenho (resolução).
Assim, neste sentido, a Psicoterapia Breve tem a finalidade de uma "experiência emocional
corretiva", em que se oferece ao paciente a oportunidade de vivenciar uma situação especial
em um contexto relacional de aceitação e segurança, onde ele possa chegar a uma
formulação interna do conflito e reestruturar a sua vivência de ansiedade frente a uma
situação emocional antes insuportável. Reunindo todos estes elementos apresentados é
possível chegar a uma conceituação de Psicoterapia Breve:
Uma forma de tratamento de distúrbios de natureza emocional, fundamentada no
referencial teórico do Psicodrama, que se utiliza alguns elementos técnicos e até mesmo
teóricos de outras linhas de psicoterapia; de objetivos terapêuticos determinados, na medida
em que se restringe a abordar certas áreas de conflito previamente limitadas em um foco;
caracterizada por se desenvolver em um tempo limitado de duração, fixado ao início do
processo; praticada por um terapeuta previamente treinado que adote uma atitude bastante
ativa, de verdadeiro "ego-auxiliar" baseando seu trabalho na relação empática; dando
especial ênfase ao "atual ". sem deixar de se preocupar com os conflitos internos no que
tenham de interligação com os atuais, na expectativa de que, através do insight e da catarse
de integração, posse ser restabelecido o equilíbrio psíquico anteriormente presente.

1.5 - CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO


Vários autores têm apresentado em suas publicações uma gama bastante variável de
indicações para Psicoterapia Breve, que vão de indicações bastante restritas, como as de
Sifneos (1977) para as muito amplas e flexíveis de Davanloo (1977), que incluem até traços
graves de caráter.
É indiscutível que nem todos os pacientes podem se beneficiar de um processo de
psicoterapia breve, levando-se em conta sua modalidade resolutiva, devendo a seleção
basear-se não apenas em critérios clínicos, que são fundamentais porém não suficientes,
mas também em hipóteses psicodinâmicas e sociodinâmicas.
Alguns quesitos são fundamentais para o sucesso do processo breve de psicoterapia como,
por exemplo, a chamada "força de ego" do paciente, isto é, sua capacidade egóica, sua
percepção do ambiente, sua avaliação de valores e seus sentimentos devem estar
equalizados e presentes; reconhecer-se em um estado alterado de seu psiquismo e querer
sair dele é condição "sine qua non" não só para o desenrolar da terapia como para sua
própria indicação. Usando uma linguagem estritamente psicodramática, pode-se auferir o
grau de maturidade e liberdade egóica de uma pessoa pela sua maior ou menor oferta de
papéis ao longo da vida: pessoas com pouco relacionamento interpessoal, com poucos
papeis sociais e poucas capacidades de abstração psicodramática são mais difíceis de se
trabalhar em qualquer psicoterapia.
De maneira geral, a indicação de Psicoterapia Breve se ampara em um tripé assim
estabelecido:
a) "Quadro clínico" - indicação para pacientes de quadros agudos, de origem imediata ou
muito recente, caracterizando situações de crise.
b) "Quadro Social" - disponibilidade econômica e/ou de pessoal, tanto da parte do paciente
quanto do agente terapêutico.
c) "Quadro de Expectativa" - avaliação do nível intelectivo-cultural, levando-se em conta o
nível de expectativa frente ao processo terapêutico apresentado pelo paciente.
Observe que, de maneira geral, está-se falando em psicoterapia breve resolutiva, sendo que
para as modalidades mobilizadora e de apoio não há tantas exigências.
Contra-indicações
Pouco eficaz, ou mesmo contra-indicada é a Psicoterapia Breve, segundo vários autores, de
acordo com dois aspectos básicos:
a) Diagnóstico clínico: psicoses, doenças psicossomáticas (que, de acordo com certas
interpretações têm sido consideradas como as "psicoses no corpo"), personalidades
psicopáticas, droga-dicção, homossexualidade, obsessões graves, tentativas potencialmente
eficientes de suicídio, agitação psicomotora com agressividade.
b) diagnóstico psicodinâmico: quando há grandes debilidades egóicas, com dependências
simbióticas intensas, ambivalência, tendência ao acting-out, escassa motivação para o
tratamento, dificuldade para se estabelecer um foco, devido ao entrelaçamento de situações
dinâmicas múltiplas.

1.6- FOCALIZAÇÃO.
Um outro ponto importante a ser abordado na delimitação teórica da Psicoterapia Breve é o
conceito de foco. Lemgruber (1984) define como foco: o material consciente e inconsciente
do paciente, delimitado como uma área a ser trabalhada no processo terapêutico atrav6s de
avaliação e planejamento prévios.
Fiorini (1978) faz uma excelente apresentação deste conceito em seu livro, descrevendo-o
como uma organização complexa da qual fazem parte formulações que enfatizam aspectos
sintomáticos (como, por exemplo, o próprio motivo da consulta), aspectos interacionais (o
conflito interpessoal que desencadeou a crise), aspectos caracterológicos ("uma zona
problemática do indivíduo"), além de aspectos próprios da díade terapeuta-cliente e o
desenvolvimento da técnica.
Partindo-se da premissa que tem sua base teórica na formulação gestáltica de que o mundo
fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo, que energizam e organizam o
comportamento, vemos que estas observações de Fiorinni seguem como que "um rio
canalizado", abrangendo diferentes níveis de um mesmo foco. Isto porque o indivíduo,
ainda segundo este pensamento, executa as atividades que levam à satisfação das
necessidades seguindo um esquema hierárquico em que desenvolve e organiza as figuras de
experiência segundo um certo grau de complexidade. A medida que as enfrenta, há sua
resolução e conseqüente desaparecimento, podendo o indivíduo continuar no caminho de
sua meta.
Ora, em uma situação terapêutica, temos como um único foco em seus diversos níveis - a
situação trazida por um paciente em que a "porta de entrada" seja realmente uma série de
sintomas somáticos (taquicardia, palpitações, falta-de-ar, tonturas), desencadeados num
segundo nível pela ansiedade ou angústia frente a uma situação especifica (da qual, em
muitos casos, a pessoa nem se deu conta). Deve-se ter em conta que a angústia é o
sentimento natural que se apresenta em um indivíduo perante uma situação de conflito.
Portanto, como delimitação do foco, tem-se a sintomatologia apresentada, a ansiedade que
Ihe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade. 0 conjunto atual é a situação
vivida pelo sujeito, que encontra dificuldades para resolver um problema (obstáculo) que a
vida lhe ofereça.
Este conflito atual, uma perturbação na relação eu-tu ou eu-isso que o indivíduo apresente,
pode ser "curto-circuitado" com uma situação emocionalmente semelhante vivida em seu
passado e mal elaborada por ele em seu desenvolvimento. Esta situação pretérita constitui
outro elemento do foco, já agora mergulhando no mundo interno, inconsciente, projetado
no presente pelo mecanismo da transferência.
Por aqui, chega-se ao conflito nuclear, muito provavelmente alguma situação ou momento
da vivência com figuras parentais em que altas cargas de emoção foram bloqueadas,
gerando o que comumente é chamado de "núcleos transferenciais".
Nas palavras de Fiorini de que "a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de
eficácia" compreendemos o sentido primordial do trabalho terapêutico breve, abandonando,
pelo menos no momento, a sugestão apresentada por Malan de se trabalhar com mais de um
foco em terapia breve, pois vejo nisto o risco de se perder a essência do processo breve e de
se criar uma outra forma alternativa de abordagem - que poderia ser aplicada em processos
psicoterapêuticos de duração limitada (como o trabalho realizado por residentes em
Hospital de Ensino ou o de Estudantes de Psicologia na Clínica-Escola) - mas que, a meu
ver, foge em precisão do termo "Psicoterapia Breve" em sua conceituação anteriormente
explicitada.
Com esta perspectiva de avaliação e ação sobre o foco, contraria-se a opinião de muitos
psicoterapeutas (principalmente psicanalistas) que afirmam ser o trabalho de Psicoterapia
Breve muito superficial, visando apenas a remoção de sintomas. Ora pois, ao se abordar em
um mesmo foco diferentes níveis de profundidade de um conflito, espera-se atingir o
"conflito nuclear", obtendo a sua resolução no seu mais profundo nível, ainda que - ligados
a este ponto conflitivo - existam outros pontos, outros focos a serem abordados. Esta
"ramificação" de conflitos profundos compõe toda a estrutura psíquica da pessoa e sua
abordagem completa realmente é apanágio das psicoterapias prolongadas.
Assim, creio ser importante distinguir-se entre profundidade e amplitude em Psicoterapia
Breve, visto que é possível ser atingida uma profundidade nuclear nesta forma de terapia,
sem que, no entanto, se tenha uma grande "amplitude" de campo de ação terapêutica,
No entanto, é preciso estar atento para que não se trabalhe realmente apenas no sentido de
suprimir os sintomas, como pode ocorrer em outras formas de abordagem (principalmente a
medicamentosa). Neste sentido é interessante observar a colocação de Jurandir Freire
(1978):
Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma estrutura e a estrutura é ela mesma.
Mais ainda, um sintoma sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele
é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito... Se a Psicoterapia Breve consegue fazer
com que o sintoma desapareça no ato da cura ou sua estratégia foi bem-sucedida, o sintoma
foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem, ou sua estratégia
foi malsucedida, o sintoma pode desaparecer, mas deu lugar a uma "sintomatização" do ego
ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer queira,
quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Neste sentido, a psicoterapia obteve um efeito
pleno...

1.7- DURAÇÃO E PROGNÓSTICO


" Se, durante nossa própria vida, assistimos a uma deterioração corporal irreversível, a
brevidade de nossa existência só faz torná-la mais excitante. Uma flor conhece apenas por
uma noite sua plena floração, mas nem por isso sua eclosão nos parece menos suntuosa".
(Sigmund Freud, "O efêmero", 1920).
Se assim o é na vida, assim o pode ser na nossa Psicoterapia, principalmente em se tratando
da sua brevidade de duração. Se, para os autores que trabalham com o referencial
psicanalitico, torna-se muitas vezes paradoxal e até mesmo impraticável o trabalho de curta
duração, para o Psicodrama este problema parece não aparecer, pois a teoria na qual se
apoia é fundamentalmente existencialista e reconhece as suas proposições, além de ter sido
criado por Moreno com este mesmo objetivo de praticidade e curta duração.. Como
trabalham com a transferência, e não com a relação télica (ou empática), os autores
psicanalistas ficam perdidos em contradições e acabam por impor, arbitrariamente, um
tempo qualquer para a evolução de, um processo que chamam de Psicoterapia Breve. Para
citar alguns autores e mostrar a variedade de posições neste campo, vale fazer uma
varredura bibliográfica. Assim, Perez-Sanchez e Cols (1987) falam em um mínimo de um
ano de tratamento; Sifneos (citado por Gillieron, 1983) diz ao paciente que o tratamento
será interrompido, mas sem dizer-se quando; J. Mann (também citado por Gillieron, 1983)
dispõe de 12 horas para realizar a psicoterapia, distribuindo estas 12 horas conforme a
natureza da problemática do paciente em 12 sessões de uma hora, 24 sessões de meia hora
ou 48 sessões de 15 minutos; Malan (1963) em seu primeiro trabalho sobre Psicoterapia
Breve não explicitava ao paciente a limitação do tempo no inicio do processo. Reconheceu
posteriormente que isto foi motivo de dificuldades ao se planejar o término da terapia,
vindo posteriormente a determinar a data de término do processo e não o número de
sessões; Bellak e Small (1980) determinam precisamente o número de seis sessões para
seus tratamentos de emergência; Knobel (1986) questiona muito estas questões, preferindo
deixar em aberto o tempo de cada sessão, sua freqüência e sua duração.
Por outro lado, tendo o Psicodrama e o existencialismo na retaguarda e um correto
diagnóstico de uma situação de crise autolimitada vivida pelo paciente, torna-se
relativamente simples delimitar o número de sessões para o processo de uma psicoterapia
breve resolutiva.
Em minha experiência clínica, passei,a adotar o critério de sempre definir com o paciente a
data do término depois de uma, duas, ou mesmo três sessões iniciais em que me detive na
apreciação da problemática apresentada para estabelecer um diagnóstico preciso de quadro
reativo, ou mesmo, de quadro agudo em um processo crônico que não procurarei atingir.
Assim, nos casos em que o paciente efetivamente apresentava uma situação de crise,
intensamente motivado para a psicoterapia, com estruturação de ego satisfatória (avaliada
pelo seu costumeiro desempenho de papéis), o trabalho não ultrapassou dez semanas de
evolução, levando-se em conta, ainda, um pequeno período para elaboração do ocorrido e
planejamento de novas atitudes perante a vida.
Portanto, em minha proposta de psicoterapia breve, sempre procuro avaliar de inicio a
possibilidade de sua aplicação (indicação) e só assim me sinto à vontade para estipular o
tempo limitado de dez semanas para a duração do processo, deixando em aberto a
possibilidade da realização de um novo "bloco" de mais dez sessões, ou então a indicação
de psicoterapia prolongada (o que na minha prática acabou por se restringir, em casos de
terapia individual, à indicação de um trabalho grupal).
Quanto ao prognóstico, respeitando-se - repito - os critérios rigorosos de indicação, são
extremamente favoráveis, sendo recomendável, apenas, a realização de entrevistas
periódicas de reavaliação.

1.8- SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE PSICOTERAPIA BREVE (PROPOSTA


DE UM MODELO DE AÇÃO TERAPÊUTICA)
Fugindo da proposição de muitos autores de que o Psicodrama é apenas "um ótimo recurso
de técnica" na terapia breve, minha proposta se baseia em que, de "método auxiliar", passe
o Psicodrama a ocupar o espaço que lhe atribuíra Moreno, qual seja o de técnica, teoria e
filosofia de compreensão e tratamento do ser humano, neste caso envolvido em uma
situação tão comum, ainda que especial, que se traduz por um quadro de crise ou
descompensação psicológica.
Pretendo apresentar aqui não uma série de "receitinhas" de como se fazer Psicoterapia
Breve, mas, apenas, esboçar um plano geral de atendimento nesta forma de abordagem que
leve em consideração os principais pontos de apoio em que pode se basear o terapeuta
psicodramatista que se proponha a utilizar este recurso, seja na clinica privada ou em
ambiente institucional. Inicialmente, procurarei apresentar uma idéia do psicoterapeuta
psicodramatista trabalhando na função de "ego auxiliar" de uma pessoa em crise. Encontra-
se em Moreno (1978) a afirmação que delimita esta postura, quando ele diz:
A situação de ego auxiliar consiste, pois, em atingir a unidade com uma pessoa, absorver os
desejos e necessidades do paciente e agir em seu interesse sem ser, contudo, idêntico a ele.
Para tanto, é preciso que, desde o início, o terapeuta se despoje de algumas posturas que
tomam corpo em nosso trabalho cotidiano devido aos vícios de se realizar uma psicoterapia
prolongada, onde sempre se tem tempo para deixar que o próprio cliente dirija o processo
terapêutico para uma exaustiva e profunda compreensão e elaboração de sua vida.
Na Psicoterapia Breve, o papel do terapeuta é muito mais amplo, muito mais ativo,
participativo e, por isso mesmo, muito mais responsável. Exige-se alguma experiência e
muito mais disposição para exercer ativamente o papel de terapeuta que se exige em
processos prolongados. Isto porque, se na terapia prolongada assumimos o papel de ser,
aquele que apenas carrega uma lanterna ao lado do paciente para iluminar os seus próprios
passos" (como nos ensina a experiência dos mais antigos), na Psicoterapia Breve temos o
dever de - ainda que por breve período de tempo - iluminar todo o momento de vida do
paciente. Assim, recebemos o indivíduo imerso em uma situação em termos comparada à
vivência da Matriz de Identidade Indiferenciada, ainda que em devido à uma situação
existencial especial. Portanto, cabe-nos assumir a função de ego auxiliar (em seu sentido
mais amplo), favorecendo a momentânea formação de um vínculo sólido e, através das
técnicas de treinamento da espontaneidade e reconhecimento do eu, reconduzirmos o
indivíduo para o seu pr6prio e livre caminho.
Este processo exige muito do terapeuta, pois além de simplesmente observar o paciente em
sua "viagem através de si mesmo", devemos viajar junto com ele, cedendo-lhe a nossa
"parte sadia". Moffatt diz que "com nossos núcleos histéricos nos introduzimos no mundo
do paciente representando e transmitindo emoções e com nossos núcleos esquizóides
,evitamos que no final do processo sejamos dois no fundo do poço em lugar de um só",
através da dissolução instrumental que permite que uma parte nossa acompanhe o paciente
em sua viagem, enquanto a outra permanece testemunhando o que está acontecendo e possa
conduzir o processo terapêutico a termo.
Disponibilidade e experiência são, portanto, dois pré-requisitos fundamentais para o
psicodramatista que se proponha a realizar a Psicoterapia Breve. Por outro lado, deve-se
exigir do paciente que ele tamb6m tenha "muita vontade" de se tratar e que esta situação em
que se encontra seja um quadro reativo, sem grande comprometimento da personalidade.
Na Psicoterapia Breve, cliente e psicoterapeuta formam uma dupla baseada na relação Eu-
Tu, devendo o terapeuta abandonar a postura de "agente catalisador" para apresentar um
papel muito mais intenso e atuante no trabalho, o de "agente participante". Terapeuta e
cliente embarcando juntos nesta experiência, impedindo a cronificação do quadro, pois se o
paciente tiver de conduzi-la sozinho, recorrera mais facilmente a mecanismos de defesa
cada vez elaborada,estruturada e mais subjetiva, vinda, eventualmente, a desenvolver
quadros neuróticos severos e até psicóticos.
É de fundamental importância salientar que, neste tipo de trabalho, o papel ativo do
terapeuta terá muitos efeitos sobre o paciente. Portanto, é preciso estar sempre atento para
que os fatores intervenientes de cura, como o efeito placebo, não se traduz na prática em
um efeito nocebo. A profundidade que se alcançará em um processo de terapia breve
dependerá da "força do ego" do cliente e da habilidade do terapeuta em aprofundar a
pesquisa da Psicodinâmica verticalmente, em um único foco.
Logo, é mais do que importante que o terapeuta tenha em mente a necessidade de, sempre
que possível, fornecer dados e elementos para o fortalecimento da parte sadia do cliente,
pois esta será a sua grande aliada na jornada pela recuperação do paciente.
Um trabalho amplo de Psicoterapia Breve, principalmente em nível institucional, requer
uma combinação de procedimentos oriundos das diversas especialidades que atuam em
saúde mental, notadamente dos serviços de enfermagem, terapia ocupacional e assistência
social.
Ressalto aqui, como já o fiz repetidas vezes, a importância da capacidade empática do
terapeuta, aliada ao seu conhecimento técnico e teórico e a sua espontaneidade em
caminhar ao lado do paciente, para que não se perca em elaborações c explicações que, por
mais sedutoras que sejam, possam implicar o desvio do objetivo determinado.
E, finalmente, reafirmo que é fundamental manter-se atento para que o ecletismo de
técnicas e teorias não sancione uma terapia desregrada, mas que contenham coerência e
harmonia entre si.

1.9- ESQUEMA TÉCNICO GERAL


O desenvolvimento de um processo de Psicoterapia Breve implica na estruturação de um
esquema técnico geral, que pode ser seguido em todos os casos em que se proponha realizá-
lo. Tal esquema pode partir do diagnóstico realizado por ocasião da entrevista inicial com o
paciente, em que se encontre predominância de ansiedade devida a uma história reativa
recente, sem antecedentes que façam pensar em um processo psicótico, desenvolvimento de
quadro neurótico crônico ou distúrbio caracterológico formal.
Isto não quer dizer que a Psicoterapia Breve não possa ser aplicada a neuróticos crônicos ou
a pacientes psicóticos. Apenas que, nestes casos, deve-se ter como expectativa não a
resolução do processo de base, mas apenas da situação de crise que se instalou sobre ele. 0
prognóstico portanto é mais reservado e a indicação mais restrita, sendo conveniente sua
utilização apenas como um processo de mobilização para uma psicoterapia prolongada.
Com expectativas de bons resultados em Psicoterapia Breve são aqueles pacientes que
apresentam quadros agudos de crise ou descompensação psicológica de inicio recente. Bons
resultados são também alcançados em pacientes em situações potencialmente criticas, como
adolescência, vestibular, casamento, graduação, descasamento, viuvez, aposentadoria,
rompimento amoroso, etc.
Segundo Lemgruber (1984), é fundamental para o sucesso terapêutico que já na fase de
diagnóstico averigúe-se a capacidade de o paciente formar uma "aliança terapêutica". Nas
suas palavras:
Este potencial se relaciona com a identificação do paciente com os objetivos do tratamento,
com a sua motivação para a mudança, com seu nível de frustração e com a existência de
uma "confiança básica" (capacidade de o indivíduo reagir às vicissitudes da vida por meio
de uma atitude positiva frente ao mundo).
O segundo passo no esquema técnico geral é o enquadramento, em que são estabelecidas as
regras gerais que norteiam todo o processo. Tais regras, que devem ter a plasticidade
exigida para cada caso, incluem limitar o número de sessões ou de semanas a serem
realizadas, sendo considerados o limite de tempo, a freqüência das sessões, previsão de
paralisações e retornos periódicos de reavaliação.
O número de sessões, a meu ver, deve ser calculado a partir da entrevista inicial com o
cliente, em que se levará em conta a gravidade da queixa apresentada. Como um “número
mágico” pode pensar em dez semanas como referência básica, aumentando ou diminuindo
o número de sessões semanais (3, 2 ,1 ou, mesmo, nenhuma) de acordo com a evolução do
processo. 0 principio que indica a delimitação precisa do número de semanas baseia-se na
idéia de um "sistema fechado" que impede derivações de foco e alimenta uma ansiedade
positiva (como uma "panela de pressão") que impulsiona o processo terapêutico em uma só
direção, com a rapidez necessária para satisfazer as exigências sociais, econômicas e
pessoais.
Como um exemplo, pode-se propor um "bloco" de, digamos, dez semanas de terapia, com
uma freqüência variável de sessões semanais (de acordo com a ansiedade do paciente) e nas
últimas serão discutidas as seguintes alternativas, de acordo com a evolução do processo:
a. Alta do paciente, propondo-se que sejam feitas reavaliações periódicas, com um intervalo
de inicio mensal e, posteriormente, semestral até a alta definitiva.
b. Prolongamento da Psicoterapia Breve, com um recontrato para mais um bloco de sessões
(que poderão até ter um número menor de semanas).
c. Indicação de um processo de psicoterapia prolongada.
Todas estas informações devem ser fornecidas ao paciente, assim como as normas básicas
do contrato terapêutico e, principalmente, a chamada "devolução de dados" em que lhe são
transmitidas, com a suficiente clareza de linguagem, a compreensão de seu quadro atual
(ainda que panorâmica e parcial). Ressalto que se deve deixar bem esclarecido que ele foi
entendido globalmente e que nos propomos a ajudá-lo a "sair desta"!
1.10- ESQUEMA TÉCNICO ESPECIFICO
O esquema de trabalho será dividido didaticamente em três etapas, procurando-se ordenar o
processo terapêutico, sem, no entanto, perdermos a noção de que tais etapas podem
acontecer simultaneamente, sobrepondo-se umas às outras no desenrolar do processo. As
três etapas, nomeadas pela sua característica principal, são as seguintes: acolhimento,
resolução e (Re)projetação .

1.11- ACOLHIMENTO (O INICIO DO PROCESSO TERAPÊUTICO)


Esta primeira etapa é de extrema importância, pois o êxito do processo terapêutico
dependerá substancialmente do sucesso de sua concretização. Aqui deverá o terapeuta
dirigir seus esforços no sentido de organizar uma estrutura de sustentação na qual o
paciente se instalará, criando uma verdadeira "placenta terapêutica". Ainda com o objetivo
didático, esta primeira etapa pode ser subdividida em duas fases, assim denominadas:
vinculação e ansiolitica.

a) Fase de vinculação
Pichon-Riviére, citado por Moffatt, diz da "necessidade do paciente, em estado de crise, de
que alguém lhe segure o medo". Neder (1984) cita as experiências do psiquiatra norte-
americano Eric Wright, que acompanhou pacientes em estado grave (de origem clinica ou
acidental) no transporte de ambulância desde o local em que foi encontrado até o hospital.
No trajeto, Wright mantinha-se próximo ao paciente e, segurando-lhe a mão, informava-lhe
brandamente: "Você não está sozinho, não se preocupe, eu estou aqui com você. Está tudo
sob controle; você já foi medicado e está tudo organizado. Não há com o que se preocupar.
Descanse! ". Segundo o seu relato, isto era feito mesmo com o paciente inconsciente e os
resultados revelaram uma diminuição no número de pacientes que faleciam antes de chegar
ao hospital, mesmo tendo o mesmo nível de apoio clinico.
Portanto, já a partir da primeira sessão de Psicoterapia Breve, o terapeuta deve estabelecer
uma comunicação com seu paciente em que se tenha em mente o processo da "confirmação
da existência" da pessoa.
Laing (1978), citando Buber e William James, faz a importantíssima afirmação: "O mais
ligeiro sinal de reconhecimento do outro confirma pelo menos a presença da pessoa em seu
mundo". 0 objetivo desta fase é, pois, despertar no cliente a sensação de que não está
sozinho neste mundo e que será compreendido e ajudado exatamente no que precisa. Para
tanto, é necessário que o terapeuta esteja familiarizado com os principais concertos da
teoria da comunicação desenvolvidos por Watzlawicki, Beavin & Jackson (1973).

b) Fase ansiolítica .
Esta é a fase em que será abordada a simultaneidade da ação músculo-emoção. Tal
simultaneidade de ação parte de um principio fisiológico que coloca o animal em posição
de "briga" ou de "fuga" frente a uma situação de perigo, mobilizando todo o seu esquema
muscular. 0 relaxamento muscular pode ser considerado como a mais antiga técnica de
acolhimento, pois é "nada mais, nada menos, do que o abraço e as caricias da mãe ante o
pânico infantil, abraço que é simultaneamente contenção, encontro e relaxamento"
(Moffatt, 1982).
É no jogo, no entanto, que encontramos a expressão psicodramática máxima. Monteiro
(1979) diz que o jogo permite ao homem reencontrar sua liberdade, através não só de
respostas a seus problemas, mas também na procura de formas novas para os novos
desafios da vida, liberando sua espontaneidade criativa. Bustos (1979) cita Moreno para
dizer que "ele adorava o jogo, porque ai se encontra a liberdade".
Nas psicoterapias de grupo, os mais variados jogos podem ser propostos, sempre tendo cm
mente que, nesta situação especial, cm que o indivíduo não esta trabalhando diretamente o
seu conflito, o nível de ansiedade se tornará cada vez menor, facilitando cm muito as
demais etapas do tratamento.
Nas psicoterapias bipessoais, devem ser estimulados os jogos com objetos intermediários,
como bonecos, fantoches, tintas, "jogos de armar", etc.

1.12- RESOLUÇÃO.
Esta etapa é a "espinha dorsal" de todo o tratamento. Trata-se do momento em que se irá
abordar dramaticamente o "foco" da situação critica apresentada pelo paciente. Deve, então,
o terapeuta trabalhar mantendo um "foco" de ação, termo que se refere As dramatizações
centrais que derivam diretamente da "queixa" do paciente. O paciente deve ser sempre
encaminhado para este foco, desprezando-se possíveis derivações que eventualmente
surjam durante a dramatização. Aqui novamente é solicitada a experiência do terapeuta,
pois de suas "hipóteses" dependerão a manutenção do "foco" em evidência.
Na situação de crise, a pessoa não se apercebe da presença de barreiras secundárias
(pertencentes ao seu mundo interno) que a limitam e se lança em campo em busca da
resolução de sua meta, at6 a qual só vê um caminho, sem se dar conta destas barreiras que,
obviamente, tornam árdua e desastrosa a caminhada, com evidente rebaixamento das
funções egóicas.
Portanto, o caminho para a meta é desviado pelas barreiras secundárias, levando o
indivíduo a direções refratárias, chegando a distanciar-se tanto de sua meta que, por fim, se
vê confuso, perdido e só, característico da crise.
Cabe ao processo de Psicoterapia Breve manter o indivíduo no caminho de sua meta,
parando a cada barreira, tentando solucioná-la. Ou, se isto não for possível devido à sua
amplitude e ramificação, deve-se ao menos contorná-la, sem perder o rumo da solução.
Em termos de "operação dramática", isto eqüivale a realização de sucessivos "atos
terapêuticos", em que cada obstáculo secundário é abordado isoladamente, tendo-se a
obrigatoriedade de encerrar a sessão sempre retomando o rumo da resolução do foco
primário.

1.13- (RE)PROJETAÇÃO.
Esta é a última e certamente a mais delicada etapa do processo de Psicoterapia Breve.
Delicada sim, pois se as duas etapas propostas anteriormente exigiam experiência e talento
do terapeuta, esta exige - além disto - sua capacidade télica.
Aqui novamente é requerida a "capacidade empática" do terapeuta, pois é preciso "trocar de
papel" com o cliente e, como no poema de Moreno, "vê-lo com seus próprios olhos", pois é
nesta fase final do processo terapêutico que será elaborado e encaminhado um novo projeto
de vida do paciente.
Massaro (1984), ao discutir o conceito de temporalidade em Berg-son diz: Para criar o
futuro, é preciso que algo lhe seja preparado no presente, e como a preparação só pode ser
feita utilizando-se o que já foi, a vida se empenha desde o começo em conservar o passado
e antecipar o futuro; numa duração em que o presente, o passado e o futuro penetram um no
outro e formam uma continuidade indivisa.
Assim, esta etapa ocorre em um “continuum” com a anterior, pois o papel social
potencialmente mobilizado na fase de Resolução será aqui solicitado a demonstrar seu
desenvolvimento e "lapidado" em suas arestas. Isto significa que, na elaboração de um
novo projeto, 6 fundamental a analise critica e o questionamento sucessivo, a fim de se
assegurar da solidez das soluções propostas.

1.14- CONSIDERAÇÕES FINAIS.


Não nos cabe discutir neste trabalho a validade ou não da psicoterapia Breve, em seu
sentido mais amplo. Isto porque as inúmeras publicações a respeito trazem informações
irrefutáveis de sua utilização e eficácia a curto, médio e até longo prazos. Mesmo em
relação às criticas de psicoterapeutas mais radicais e ortodoxos, nas quais se observa a
preocupação enfática dada aos conteúdos mais profundos da personalidade, o trabalho -
ainda que focal e de curta duração - responde com resultados que revelam alterações
significativas no comportamento das pessoas que dele se serviram, desenvolvendo uma
nova realidade existencial, com mais clareza e menos sofrimento.
As teorias de comportamento e técnicas de psicoterapia que têm surgido nos últimos anos,
cada uma dando ênfase a uma parte do psiquismo, a uma parte da pessoa, não se importam
em ver a pessoa como um todo em um dado momento de sua vida, inserida em seu
ambiente social e antropológico, em que novas regras e solicitações existem e são
construídas a cada momento, tornando pelo menos desatualizadas certas posturas mais
ortodoxas. Ou seja, habituamo-nos a ver o Homem em "cortes longitudinais", esquecendo
de vê-lo em sucessivos "cortes transversais" que compõem o seu cotidiano.
Assim, como o próprio Moreno cita: "Deve haver uma seleção do veiculo e também do
sistema de termos e interpretações que o paciente requer". Isto é, o "foco" da atuação
terapêutica deve estar no paciente e não na teoria.
E, pensando assim, vemos que há um enorme contingente de pessoas que sofrem de
ansiedade pura ou somatizada, atingindo já níveis que se poderia considerar endêmicos em
alguns centros como São Paulo. E, paradoxalmente, nada ou muito pouco se faz por estas
pessoas, devido a uma somatória interminável de fatores, em que pesam argumentos tanto
do lado do paciente quando do agente terapêutico. Alega-se pouca verba para ampliação de
instituições, ou porque se tem pouco profissional treinado na custosa área de Saúde Mental,
ou porque nossos esquemas teóricos não são tão abrangentes como se supõe, ou ainda
porque não se compreende a linguagem simples, concreta e superficial do homem comum.
Enfim, muitos são os motivos alegados para que não se realize um trabalho mais voltado
para a necessidade emergente da população, restringindo-se o trabalho terapêutico a uma
elite cada vez mais selecionada.
A Psicoterapia Breve, assim como foi apresentada neste trabalho, é, no entanto, apenas
mais um dos recursos do qual se pode valer uma instituição no sentido de ampliar seu
campo de ação para a comunidade que dela se serve.
Em seu livro, Kesselman (1971) fala de "processos corretores de duração e objetivos
limitados", desenvolvendo um amplo programa de saúde mental, incluindo o trabalho de
vários profissionais na área de saúde, em que a Psicoterapia Breve ocupa apenas um dos
níveis de atendimento, ao lado do social, familiar, ocupacional, etc.
Neste sentido é que se torna importante a elaboração de um plano de atendimento que
beneficie a todos que dele se servem, como, por exemplo, no trabalho realizado por
estagiários junto a departamentos de Psicoterapia, trabalho que teria, a meu ver, muito mais
sentido (tanto no referente á própria aprendizagem quanto no assistencial) se fosse
projetado com vistas aos objetivos e tempo limitados, porque na prática é assim que
acontece.
Tendo-se sempre em mente a noção de foco, é perfeitamente possível realizar-se um
trabalho de psicoterapia em que em cada "bloco" de atendimento seja abordado apenas um
foco crítico apresentado pelo paciente.
Há, no entanto, que se ressaltar que a Psicoterapia Breve não um inovador instrumento
milagroso que irá resolver todos os problemas apresentados por todos os pacientes.
Para tanto, é preciso que se firme o trabalho terapêutico em uma indicação precisa em que,
contrariando algumas das mais modernas tendências, é preciso partir-se de um diagnóstico
previamente elaborado, antes de se indicar o tratamento adequado.
Com isto, será possível distinguir um grande contingente de pacientes que, apresentando
quadros reativos ou mesmo neuróticos de origem recente, podem ter seu sofrimento
aliviado em pouco tempo, não apenas pela eficácia do processo terapêutico, mas também
pela eliminação da cansativa "fila de espera" para estes casos, possivelmente evitando-se,
assim, a sua cronificação.
Portanto, se bem orientada e indicada, a Psicoterapia Breve pode contribuir decisivamente
para:
a) Diminuição da ansiedade e conseqüente relaxamento de campo, permitindo a real
avaliação dos obstáculos.
b) Identificação da noção de "campo de liberdade" e responsabilidade, desenvolvendo na
pessoa a noção de que é livre dentro dos limites de seu campo de liberdade e impedindo
que se esmague no centro dele, impotencializando sua ação.
c) Chamar a atenção da pessoa para a sua própria vida e o sentido dela, contribuindo para
um enriquecimento pessoal, como o desenvolvimento de papéis até então desconhecidos ou
pouco desenvolvidos.
d) Maior ajustamento nas relações interpessoais: trabalho em muito facilitado na
psicoterapia de grupo, mas que também pode ser desenvolvido em trabalhos bipessoais na
medida em que se dá noções de uma comunicação clara e sadia.
e) Avaliação das perspectives pessoais, com a reorganização de um plano de vida, em que
se inclua suas percepções e reposicionamento durante o processo terapêutico.
Enfim, se não produz um ser humano novo, espontâneo e criativo, conhecedor intimo das
profundezas de seu ser, a Psicoterapia Breve pelo menos se propõe a acompanhar este
mesmo ser humano em um momento especial de sua vida, em que prevalecem a dor e o
sofrimento, ajudando-o a encontrar a melhor maneira de enfrentar e vencer um obstáculo
(real e/ou fantasioso) que se interpôs no caminho de uma meta de sua vida.
E, seja qual for o enfoque teórico dado ao procedimento técnico, todos aqueles que
trabalham em saúde mental e, notadamente, em Psicoterapia Breve, têm muito clara a
noção da necessidade de exercer esta profissão de ajuda com a dedicação que a situação
exige.

2-O TRATAMENTO COM PSICOTERAPIA BREVE


· Etapas iniciais de entrevistas, diagnóstico, contrato terapêutico e planejamento.
· “Rapport” : proximidade afetiva entre paciente e o terapeuta (aliança terapêutica).
· O terapeuta deve transmitir confiabilidade e interesse pelos problemas do paciente.
· Manter equilíbrio entre gratificações e privações do paciente.
· Permitir gratificações moderadas de necessidades emocionais (ex.: responder perguntas).
· Manter a posição frente-a-frente (usar a cadeira).
· Participar dando sugestões, em algumas ocasiões, nos problemas atuais do paciente.
· O terapeuta poderá buscar interpretar, lembrar causas, ajudando o paciente.

3-COMO TRABALHA O PSICANALISTA.


· Tornar conhecido ao paciente aquilo que há de estranho dentro dele.
· Saber fazer com que o paciente abra um diálogo, falando seus problemas.
· Ser flexível, tolerante, empático, paciente buscando um “relacionamento amigável”.
· Buscar conhecer o paciente.

4-COMO TRABALHA O PSICANALISTA BREVE.


· Desencorajar a neurose de transferência e a regressão.
· Buscar estimular um vínculo mais realista e definido.
· Manter uma proximidade mais afetiva do paciente.
· Fomentar uma rápida aliança terapêutica.
· Oferecer uma imagem confiável.
· Demonstrar interesse pelos problemas do paciente.
· Permitir certo grau de gratificações de necessidades emocionais, respondendo perguntas
formuladas pelo paciente.
· Usar cadeira no lugar do divã.
· Se posicionar frente-a-frente.
· Ter uma função mais ativa, na busca de resultados.
· Evitar o prolongamento excessivo do silêncio para evitar a ansiedade, regressão e perda
de tempo.

5-UMA SESSÃO DE PSICOTERAPIA ANALÍTICA.


· Já fez as entrevistas iniciais e contato verbal.
· Recebe o paciente com cortesia.
· Permite ao paciente se adapte ao ambiente.
· Fala: “muito bem, agora podemos começar o tratamento”.
· O paciente e o terapeuta devem sentar em poltronas.
· O consultório deve possuir : mesa de centro, escrivaninha, armário com livros e um divã.
· O terapeuta deve fazer uma avaliação com relato resumido das sessões anteriores.
· O terapeuta deve oferecer o divã para o paciente deitar. Caso o paciente se recuse pode
deixa-lo na posição ou lugar que lhe agradar.
· O terapeuta deve explicar que fará anotações.
· O paciente não deve esconder nada , relatando o que pensa, sem ordem, importância e não
deve se preocupar com coisas lógicas.
· O terapeuta deve informar ao paciente que a hora da terapia deve ser utilizada da forma
que ele quiser.
· O terapeuta pode relembrar fatos e solicitar pormenores ou permanecer calado enquanto o
paciente fala.
· Após 3 meses deve ser realizado um balanço se a terapia deve continuar da mesma
maneira.
· O paciente deve contar sonhos, o terapeuta deve escutar e comentar caso necessário.
· Os resultados são imprecisos ( a cura pode ou não acontecer).

6-UMA SESSÃO DE PSICOTERAPIA BREVE ANALÍTICA.


· É o mesmo de uma sessão de psicoterapia analítica, observando as diferenças técnicas.
· Motivar a aliança terapêutica.
· Participar ativamente e diretamente.
· Se posicionar frente-a-frente.
· Usar cadeira no lugar do divã.
· Valorizar o foco conflitivo do paciente.
· Cumprir um planejamento prévio.
· Elaborar critérios de alta do paciente.
· Elaborar relatórios: anamnese, diagnósticos e evolução clínica.
· Dar a sua visão no início e no final do tratamento.

7-ATENDIMENTO GRUPAL EM PSICOTERAPIA BREVE ANALÍTICA.


· Alcoólicos, Toxicômanos e Neuróticos Anônimos. Pais de excepcionais e grupos de
soropositivos de HIV.
· Grupos homogêneos (com as mesmas questões), em busca de apoio, consolo e alívio.
· A conivência com pessoas do grupo cria laços emocionais que contribuem para melhorar
a qualidade de vida dessas pessoas.
· As pessoas aprendem a avaliar seus padrões de comportamento através da ajuda de seus
pares, podendo experimentar mudanças internas e externas em suas relações.
· Abaixo seguem 10 fatores curativos propostos por Vera Lemgruber:
· Coesão grupal: atração do grupo para os seus membros e seus problemas que possibilita a
ocorrência de fatores curativos.
· Instalação de esperança: acompanhamento da evolução de cada membro do grupo, crédito
na própria dinâmica, no potencial de cada um e na existência de soluções viáveis para suas
questões.
· Compartilhamento de informações: são as questões introduzidas pelos terapeutas ou pelos
membros do grupo que depois de discutidas são incorporadas. As experiências novas, fruto
dos debates, podem gerar a reestruturação de novas atitudes em alguns membros do grupo.
· Universalidade: cada membro do grupo constata que não está só, nem é o único a
enfrentar tal problema.
· Altruísmo: oportunidade de ajudar o companheiro, sair de si mesmo para compreender o
problema do outro e encontrar soluções, partilhando sua dúvidas e celebrando suas
conquistas.
· Desenvolvimento de técnicas socializantes: atividade que se torna possível devido ao
convívio do grupo, que pressiona a cada um a deixar-se ajudar a contribuir para a melhora
dos outros, a reagir a provocações, a se defender, a se divertir, a reformular padrões de
reação, a entrosar-se e a respeitar a si próprio e aos outros.
· Comportamento imitativo: utilizar como modelos às relações estabelecidas entre o
terapeuta e o grupo, bem como dos membros do grupo entre si. É fundamental que as
relações sejam de boa qualidade para que a imitação seja de efeito positivo.
· Ventilação e catarse: intercâmbio de sentimentos gerados por experiências
compartilhadas, que por sua vez provocam a liberação de emoções que incomodam por seu
acúmulo.
· Recapitulação corretiva do grupo familiar primário: repetir no grupo terapêutico o padrão
relacional estabelecido com a família durante a infância. Em cima deste modelo o paciente
pautará o seu relacionamento com outros membros do grupo, substituindo pessoas
significativas da sua vida. Isto facilita a elaboração de conflitos reais ou imaginários que
serão resolvidos através do “feedback” oferecido pelo grupo e pelas interpretações do
terapeuta.
· Aprendizado Interpessoal: fato curativo que se sustenta na importância das relações
interpessoais. Cada indivíduo cria no grupo o universo interpessoal que é adaptativo no
sentido evolutivo e cultural.

8-TIPOS DE INTERVENÇÃO VERBAL DO TERAPEUTA.


· Interrogar : pedir ao paciente, dados precisos, explorar em detalhe as suas respostas.
· Proporcionar informações: o terapeuta é também um docente, dentro de uma perspectiva
mais profunda e abrangente de certos fatos humanos, como por exemplo, na interpretação
de um sonho.
· Confirmar ou retificar os conceitos do paciente sobre a sua situação.
· Clarificar: reformular o relato do paciente de modo que certos conteúdos e revelações do
mesmo adquiram maior relevo.
· Recapitular: resumir pontos essenciais sugeridos no processo exploratório de cada sessão
e do conjunto do tratamento.
· Assimilar: relações entre dados, seqüências, constelações significativas, capacidades
manifestas e latentes do paciente.
· Interpretar o significado dos comportamentos, motivações e finalidades latentes, em
particular os conflitos.
· Sugerir atitudes e determinadas mudanças a título de experiência.
· Indicar: especificamente a realização de certos comportamentos com caráter de prescrição
(intervenções diretas).
· Dar enquadramento à tarefa: local das sessões, duração e freqüência das sessões,
ausências e honorários.
· Meta intervenções: comentar ou aclarar o significado de haver recorrido a qualquer das
intervenções anteriores.
· Outras intervenções: anunciar interrupções, variações ocasionais nos horários, etc.

9-TRAÇOS GERAIS DE CONTRIBUIÇÕES DO TERAPEUTA EM PSICOTERAPIA


BREVE.
· O terapeuta deve manter uma postura solene.
· O paciente deve ter uma sensação de conforto e segurança com o terapeuta e o ambiente.
· O terapeuta deve ser se manifestar empaticamente utilizando-se da linguagem (sim...,
compreendo..., e então?...).
· O terapeuta deve transmitir “calor humano”, não ser indiferente, frio ou calculista com o
paciente.

10-BIBLIOGRAFIA.

BRITANNICA, ENCYCLOPAEDIA DO BRASIL Publicações Ltda.

ENCARTA, ENCICLOPÉDIA - 1993-1999 Microsoft Corporation.

NETO, FRANCISCO BATISTA, Psicoterapia Breve, SPOB, RJ.2000


NUNES, PORTELLA, Psiquiatria e Saúde Mental, Atheneu, SP- 2000

LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise – Martins Fontes, SP-2000

INTERNET - http://www.orgonizando.psc.br/zeg/breve.htm

INTERNET - http://www.ferreira-santos.med.br/ppb.html
Eduardo Ferreira-Santos

INTERNET - http://www.ipi.med.br/pbi.htm

Conceito de Foco

Embora alguns autores, Malan em especial, não associem a Psicoterapia Breve


necessariamente a um processo focal de psicoterapia ( é de Malan a idéia de uma
Psicoterapia breve multifocal), é voz corrente que um processo que tenha como objetivo
alcançar resultados rápidos e efetivos para o alívio do sofrimento psíquico das pessoas, só é
possível realizar-se dentro de uma série de preceitos bem definidos, cujo principal deles é o
correto estabelecimento do "foco terapêutico". MALAN (1963) descreve a técnica da
terapia focal como um método pelo qual o terapeuta tem um objetivo ou foco que deve ser
formulado idealmente como o eixo da terapia e deve ser perseguido quase que
obsessivamente, guiando-se o paciente até o mesmo através de interpretações parciais,
atenção e descuido seletivos e negando-se terminantemente a desviar o propósito
terapeutico deste caminho. Salienta, também, lembrando escritos de Michel Balint
publicados em 1957, que para o sucesso da técnica focal:

é obvio que também depende por completo de uma boa interação entre paciente e
terapeuta, que se deve descrever assim: a) o paciente oferece material que b) possibilita ao
terapeuta a formulação de um foco que c) o terapeuta oferece ao paciente, que d) o
paciente, por sua vez aceita trabalhar com ele.

SIFNEOS (1989), por sua vez, afirma que a questão da focalização em Terapia Breve é
crucial para o desenvolvimento do processo; cita também que "há um consenso geral" de
que conflitos edipianos não resolvidos , reações de luto e separação são , em si, focos, que,
quando bem trabalhados, dão origem aos melhores resultados terapêuticos. Pode-se ver
aqui, que Sifneos chama de foco, o que, talvez pudéssemos considerar como o "tema
principal" a ser abordado em Psicoterapia Breve. SIFNEOS deixa, porém, aberta a
possibilidade de haver outros possíveis focos, que não o edipiano, a serem trabalhados em
psicoterapia breve, afirmando ter escolhido trabalhar com pacientes que apresentassem esta
dinâmica apenas com finalidades de pesquisa. Ao explicar o que realmente significa "foco
edipiano" SIFNEOS diz:

Parece haver três categorias de problemas edipianos. A primeira categoria inclui aqueles
pacientes que permanecem um pouco demais em seu apego ao pai do sexo oposto,
tendendo a adiar a escolha de abandonar seus desejos por __ e competição com ___ seus
pais e encontrar um substituto adequado entre seus pares. A segunda categoria oferece um
quadro mais complexo e inclui os pacientes que, de uma forma ou de outra, foram
encorajados por seus pais a permanecerem apegados a eles... Finalmente, a terceira
categoria apresenta o maior numero de complicações. Aqui, um acontecimento externo
maior, na forma de uma situação vital realista ocorrida durante período edipiano, tende a
criar dificuldades que não podem ser alteradas e defronta o paciente com problemas que,
à primeira vista, parecem quase insuperáveis...Tais eventos se relacionam com morte ou
separação permanente dos pais...

Nestas colocações fica, a meu ver, a conceituação de "foco" como a simples descrição de
possíveis dinâmicas envolvidas no processo transferencial que se desenvolve em torno de
um obstáculo de vida e que pode gerar conflito e angústia.
Para outro conceituado autor em Psicoterapia breve, H. DAVANLOO (1979), a idéia de
foco se expande um pouco mais em amplitude, quando ele oferece a possibilidade de se
trabalhar em Psicoterapia Breve com diversos tipos de pacientes, em um processo que ele
mesmo chama de "largo foco" terapêutico; mas, mesmo assim, o conceito focal permanece
na proposição da meta a ser atingida na resolução da dinâmica apresentada pelo paciente.
Assim diz DAVANLOO:

Há certas similaridades e diferenças nos objetivos, critérios de seleção dos pacientes e


requisitos técnicos para o manejo dos processos de Psicoterapia Breve da Clínica
Tavistock (Malan), a Psicoterapia Breve Geradora de Ansiedade da Universidade de
Harvard (Sifneos) e a Terapia Breve de Largo foco da Universidade de McGill
(Davanloo). Por exemplo, enquanto a Psicoterapia Breve Geradora de Ansiedade aceita
pacientes apenas com foco edípico, a psicoterapia Breve praticada por Malan aceita tanto
os pacientes com foco edípico quanto aqueles cujo foco está perdido e a Psicoterapia
Breve Amplo Foco aceita, tanto os pacientes com foco edípico, quanto os que não é
possível delimitar o foco e, mais, aqueles com múltiplos focos...

WOLBERG (1979), talvez o menos teórico porém certamente o mais prático em termos de
se alcançar um resultado efetivo para o sofrimento de sus pacientes, apresenta, com a
clareza do nítido pragmatismo norte-americano o que se apresenta como o mais próximo de
se aceitar , a meu ver, como conceito de FOCO em Psicoterapia Breve.
Em seu trabalho, realizado para subsidiar Companias americanas de Seguro Saúde a
patrocinar processos de Psicoterapia Breve a seus associados, Wolberg compara a
Psicoterapia prolongada à breve, fazendo a analogia com o fato de um caçador entrar em
um bosque armado com uma carabina e começar a ir atirando a esmo, para todas as
direções, atingindo um ou outro animal por mera casualidade; passado algum longo tempo
no bosque, este homem certamente terá conseguido caçar muitos animais, mas isto não é
possível se se tem um tempo curto e os objetivos precisam ser atingidos neste período.
Assim, em suas palavras, WOLBERG define foco:

Portanto, compete mais ou menos ao paciente escolher a área particular de seu problema
que deve ser abordada. Freqüentemente, isto envolve a situação precipitadora da tensão ,
cuja exploração pode aliviar a tensão e servir para que o indivíduo recupere equilíbrio
adaptativo. Neste ponto, procede-se a uma tentativa para identificar a origem do distúrbio
imediato e relacioná-la com o conflito subjetivo do paciente. Desenvolve-se um esforço
para penetrar, pelo menos parcialmente, nos conflitos desencadeados pela situação de
tensão, tratando-os como fontes autônomas de ansiedade, ainda que derivem e se
correlacionem com certos conflitos nucleares subjacentes e fixos. O material histórico só é
levado em conta quando se relaciona com os problemas correntes.

Quem, no entanto, denuncia toda esta pluralidade e imprecisão na conceituação de foco é


FIORINI (1978), para quem a verdadeira focalização em Terapia Breve, consiste em
conseguir delinear um eixo central encadeante desde a queixa do paciente, aspectos
interacionais, conflitos atuais, conflitos nucleares até a concentração sistematizada do
paciente em um ponto de sua problemática, como resultante de uma força egóica advinda
de seus traços caracterológicos.
Em um trecho de seu livro sobre Teoria e Técnica de Psicoterapias, FIORINI escreve:

Dinamicamente a focalização é guiada pela dominância de uma motivação que


hierarquiza tarefas, com vistas a resolver certos problemas vividos como prioritários. Em
uma crise, por exemplo, o motivo da consulta condensa sintomas, uma certa trama central
de conflitos ligada aos sintomas e obstáculos criados para a resolução da situação. Por
esta capacidade de condensação, o motivo da consulta se transforma amiúde no eixo
motivacional organizador da tarefa, e, em conseqüência, facilitador da mesma...

FIORINI ressalta, ainda, a importância da relação interpessoal que se estabelece entre


terapeuta e cliente, salientando o poder da aliança terapêutica como agente transformador.
E esta é a premissa básica que norteia os trabalhos de Psicoterapia Breve, desde que Otto
Rank e, particularmente, Sandor Firenczi idealizaram um modelo de ação terapêutica que se
centrasse na ajuda ao paciente e não na confirmação da teoria psicanalítica. Certamente
muito pouco compreendida, esta proposta de cisão entre o logus e a praxis, sem perder o
paralelismo colaborador entre ambos , se mantém até hoje.
A retomada deste princípio por ALEXANDER reformulou a proposta psicanalítica e,os,
embora ele mesmo tivesse uma compreensão própria do que é "foco terapêutico",
restringindo este conceito aparentemente à simples meta da resolução do sofrimento de seu
paciente, sem qualquer direcionamento teórico para tal, deixou aberta a possibilidade de
uma ação terapêutica centrada no indivíduo e não na teoria.
Nos processos psicoterápicos em geral, o psicoterapeuta precisa estar muito atento para o
seu próprio momento de vida para poder enfrentar a realidade de seu paciente. As
experiências trazidas pelos pacientes, distorcidas por um desenvolvimento pessoal mal
conduzido, concepções errôneas de conceitos de vida (cognições) ou círculos viciosos de
comportamento mal-adaptativos, geram no terapeuta a mesma angústia e sofrimento
experimentado pelo paciente, se não estiver bem clara sua (do terapeuta) própria
psicodinâmica.
Apresentada desta forma, a obviedade dita acima pode causar um certo constrangimento e
uma sensação de "non sense", porém, é a base relacional, a díade que se estabelece numa
relação terapêutica a base de todo o sucesso ou fracasso do trabalho que se propõe realizar.
E é, também, a grande abertura para a identificação, estruturação e delimitação do foco
terapêutico a ser abordado em uma Psicoterapia Breve.
Embora seja fundamental no trabalho em Psicoterapia Breve, o conceito de "foco" recebe
diferentes apresentações de acordo com os diversos autores deste tema. Sem contar que
diferentes linhas de Psicoterapia podem ter seus próprios conceitos, mesmo entre aqueles
que se dedicam ao estudo da Psicoterapia Dinâmica Breve, tal conceito sofre de sérias
controvérsias.
Há, porém quase que um certo consenso entre aqueles que praticam a Psicoterapia
Dinâmica Breve de que o principal elemento a ser trabalhado junto ao paciente é o tal do
chamado "foco edípico" ou, para outros, o "pré-edípico", o que dá a impressão de que o que
se chama de "foco" é , na verdade, o objetivo final a ser atingido em um processo de
redimensionamento psicodinâmico da pessoa.
Tal compreensão advém do próprio nome como vem sendo reconhecida a Psicoterapia
Breve, principalmente na Argentina, como um "psicoterapia de tempo determinado e
objetivos definidos", sem no entanto, especificar estruturalmente esta apresentação.
Se, obviamente, temos o TEMPO como um elemento crucial na configuração do processo
terapêutico, o OBJETIVO é também um elemento fundamental para o êxito de uma terapia
focal, como também é conhecida. Tem-se então, a Psicoterapia Breve, Psicoterapia de
Tempo definido e Objetivos determinados, a Psicoterapia Focal como sinônimos de um
processo psicológico de ajuda que vem logrando cada vez mais espaço nos trabalhos
institucionais e privados, no mundo todo.
A meu ver, o verdadeiro foco em Psicoterapia Breve, ou mesmo aquele que surge em
processos de longa duração, é o conjunto formado por uma série de elementos pessoais,
transferenciais, conscientes e inconscientes que mobilizam determinada dinâmica do
paciente.
Para compreender melhor esta idéia, grosseiramente costumo evocar uma imagem
odontológica em que uma pessoa, com queixa de uma dor terrível nos dentes, ao ser
examinada por seu dentista, percebe-se que esta dor é exatamente no dente x, que apresenta
uma cárie de tal magnitude que tenha atingido o canal que precisa ser também tratado e
"obturado". Eventualmente tal patologia também possa ter atingido a tábua óssea que dá
sustentação ao dente e esta terá também que ser tratada.
Desta forma, o "foco" não é o problema ósseo, mas sim, toda esta estrutura encadeada que
começa com a queixa de dor, passa por suas causas imediatas e chega-se a sua origem
última, a tábua óssea. Isto é um foco, apenas um foco, porque trata-se de um único dente e
não toda a arcada dentária do paciente.
Assim, o foco, em uma imagem cônica invertida, tem sua manifestação inicial na própria
queixa do paciente, no conjunto de sinais e sintomas que nada mais são do que
transformações defensivas do ego em resposta a algum conflito transferencial consciente
ou, principalmente, inconsciente. Tal conflito provavelmente de origem recente, como uma
perda ou algo semelhante, traz consigo uma série de mecanismos transferenciais repetidos
na situação atual e cuja origem, alvo final da ação, encontra-se realmente em alguma
relação parental e pretérita não resolvida.
Portanto, o que eu vejo os dinamicistas chamarem de foco é, a meu ver, o "alvo", o ponto
final de toda uma dinâmica encadeada em sucessivas camadas de ações transferenciais,
repetidoras do comportamento fixado em determinada fase de vida da pessoa. NOBEL
(1986) faz uma boa referência ao conceito de foco, quando cita Kenia Ballvé Behr:

"Foco' ou 'conflito focal' refere-se ao conflito da situação atual do paciente, subjacente ao


qual existe o conflito nuclear exacerbado. Então, o que traz o paciente à consulta é o
choque entre as dificuldades inerentes a uma tarefa vital específica que ele deve enfrentar
e o conflito infantil não resolvido. Há, nesse contexto, necessidades pessoais, pressões
sociais, condições econômicas, culturais e ideológicas que, se por um lado estimulam o
desempenho desta tarefa, por outro reforçam a angústia e travam possibilidades de
elaboração, daí a importância da compreensão de como se processa o diálogo do paciente
com a realidade atual, além do entendimento de sua história e de sua estrutura
psicodinâmica, o que possibilita a avaliação do grau de doença e do potencial adaptativo
do paciente."

MORENO (1978), por outro lado, na sua formulação teórica do método psicodramático,
deixou bem claro o conceito de "ato terapêutico" que, na sua concepção de psicoterapia
enquanto ato e não processo, trazia implícita a idéia gestáltica de foco
Partindo da premissa que tem sua base teórica na formulação gestáltica de que o mundo
fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo que energizam e organizam o
comportamento, vemos que as formulações de Fiorini seguem como que "um rio
canalizado", o qual abrange diferentes níveis de um mesmo foco, isto porque o indivíduo,
ainda segundo esse pensamento , executa as atividades que levam à satisfação das
necessidades a partir de um esquema hierárquico, em que desenvolve e organiza as figuras
da experiência segundo certo grau de complexidade. À medida que as enfrenta, há sua
resolução é conseqüente desaparecimento, podendo o indivíduo continuar no caminho de
sua meta, de seus objetivos de vida.
Ora numa situação terapêutica, temos como foco único em seus diversos níveis a situação
trazida por uma paciente em que a "porta de entrada" seja realmente uma série de sintomas
somáticos desencadeados, num segundo nível, pela ansiedade frente a uma situação
específica (da qual em muitos casos a pessoa nem se deu conta dela). Nessa situação
específica estão envolvidos aspectos importantes de sua dinâmica intrapsíquica, o que
caracteriza outro nível desse mesmo foco, no qual apenas os aspectos firmemente
relacionados ao foco em questão serão abordados. (Por exemplo: num "role-playing" da
relação mãe e filho pode surgir a figura do pai em anteposição nesse caso, não é necessário
"trabalhar" o pai, mas apenas "apontar-lhe" a presença e deslocá-lo do caminho da meta).
Por conseguinte, como delimitação do foco, temos a sintomatologia apresentada, a
ansiedade que lhe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade ou angústia. O
conflito atual é a situação vivida pelo sujeito que, como se verá também no capítulo
seguinte, encontra dificuldades para resolver um problema (obstáculo) que a vida lhe
oferece.
Esse conflito atual - uma perturbação na relação EU-TU ou EU-ISSO que o indivíduo
apresenta -, por ser um "curto circuito" ligado a uma situação emocional semelhante vivida
no passado e mal elaborada por e em seu desenvolvimento. Tal situação pretérita constitui
outro elemento do foco, agora mergulhando no mundo interno, inconsciente, projetado no
presente pelo mecanismo transferência.
Por aqui chegamos ao conflito nuclear, muito provavelmente alguma situação ou momento
de vivência com figuras parentais em que altas cargas de emoção foram bloqueadas com a
geração do que Fonseca Filho (1980) chama de "núcleos-transferências".
O foco pode ser sintetizado no esquema da FIGURA 1.
Nas palavras de Fiorini, "a focalização da terapia breve é a sua condição essencial de
eficácia", compreendemos o sentido primordial do trabalho terapêutico breve,
abandonando, pelo menos no momento, a sugestão apresentada por Malan de se trabalhar
com mais de um foco em terapia breve, pois vejo nisso o risco de perder a essência do
processo e criar outra forma alternativa de abordagem, a qual poderia ser aplicada em
processos psicoterapêuticos de duração limitada (como o trabalho realizado por estagiários
e residentes, por exemplo), mas que, a meu ver, foge a precisão do termo "Psicoterapia
Breve" em sua conceituação anteriormente explicitada. O termo Psicoterapia Multifocal de
Tempo Determinado me parece mais apropriado para estas situações.

FIG.1: FOCO

Com essa perspectiva de avaliação e ação sobre o foco, contrariamos a opinião de muitos
psicoterapeutas (principalmente psicanalistas) que afirmam ser o trabalho de Psicoterapia
Breve muito superficial e que visa apenas à remoção à remoção de sintomas. Ora, ao
abordar em um mesmo foco diferentes níveis de profundidade de um conflito, esperamos
atingir o "conflito nuclear", obtendo a sua resolução no seu mais profundo nível, ainda que,
ligado a esse ponto conflitivo, existam outros pontos, outros focos a ser abordados.
Essa "ramificação" de conflitos profundos compõe toda a estrutura psíquica da pessoa e sua
abordagem completa realmente é apanágio das psicoterapias prolongadas.
Assim creio ser importante distinguir entre "profundidade" e "amplitude em Psicoterapia
Breve, visto que é possível atingir uma profundidade nuclear nessa forma de terapia, sem
que, no entanto, tenhamos uma grande amplitude do campo de ação terapêutica.
No entanto, é preciso estar sempre atento para não trabalhar apenas no sentido de suprimir
os sintomas, como pode ocorrer noutras formas de abordagem (principalmente a
medicamentosa). Nesse sentido é interessante observar a colocação de Jurandir Freire
(1978).
Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma estrutura e a estrutura é ela mesma.
Mais ainda, um sintoma sintetiza um conflito presente e uma história conflitual passada, ele
é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito....Se a Psicoterapia Breve consegue fazer
com que o sintoma desapareça no ato da cura, ou sua estratégia foi bem sucedida, o sintoma
foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu origem, ou sua estratégia
foi mal sucedida, o sintoma pôde desaparecer, mas deu lugar a uma "sintomatização" do
ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeiro caso, quer
queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Nesse sentido, a psicoterapia obteve um
efeito pleno...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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· EDUARDO FERREIRA-SANTOS é Psiquiatra, Psicoterapeuta, Mestre em Psicologia


Clínica. · É Médico-Supervisor do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do
Hospital da Clínicas da FMUSP e Professor-Supervisor e Membro do Colegiado Diretor da
Sociedade Paulistana de Psicodrama. · É autor dos livros "Espelho Vivo"(Ed. Moderna,
1983), "Ciúme, o medo da perda"(Ed Ática, 1996) e "Psicoterapia Breve : abordagem
sistematizada de situações de crise"(2. Ed, Ed Ágora, 1997).

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