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Carlos Taveira
Ciência da Administração
A Governação nas Autarquias Locais
Introdução
A legitimidade das decisões das autarquias locais decorre da eleição dos respectivos
órgãos, sendo a câmara municipal e a junta de freguesia órgãos executivos e a
assembleia municipal e a assembleia de freguesia órgãos deliberativos. Exceptuando a
junta de freguesia, os demais órgãos referenciados são eleitos por sufrágio universal. Os
municípios e as freguesias são, portanto, elementos constitutivos da democracia e da
cidadania portuguesa.
É neste sentido que antes de mais temos de conhecer a evolução histórica do poder local
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
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PÓS-25 DE ABRIL
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A primeira alteração da Lei das Finanças Locais veio a realizar-se em1984, pelo
Decreto-Lei n.º 98/84, de 24 de Março. Com esta legislação chega-se à abolição do
mínimo de 18% de participação das autarquias nas despesas públicas (estipulado na lei
anterior), e as transferências passam a ser estipuladas (fixadas) ano a ano pela Lei do
Orçamento de Estado, ficando as autarquias em cada ano sujeitas ao que o Governo lhes
resolva conceder.
Em 1986, a Assembleia da República veio a aprovar uma nova lei (Lei n.º 1/87, de 6 de
Janeiro) que salientou o papel da Associação Nacional de Municípios como
representante dos interesses do poder local. No entanto, e apesar de todos os esforços
empreendidos no sentido de melhorar a vida do poder local, o que se pode observar é
que a carência de recursos próprios e consequente necessidade de financiamentos
centrais têm--se mantido até aos nossos dias.
O grau de dependência das receitas da Administração central parece estar relacionado
com o nível de desenvolvimento económico dos concelhos. A autonomia financeira dos
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Actualmente existem três tipos de autarquias locais: «uma autarquia municipal que
tradicionalmente se designa por Concelho, mas que a Constituição de 1976 consagrou
como Município; uma autarquia supra-municipal, o distrito, que ainda existe
actualmente, embora se preveja para breve a sua abolição e substituição por uma
autarquia supra-municipal mais ampla, designada por região administrativa; e uma
infra-municipal, chamada Freguesia.
Na apreciação das iniciativas legislativas que visem a criação de freguesias, nos termos
da Lei n.º 8/93, de 5 de Março, deve a Assembleia da República ter em conta:
O artigo 5.º da Lei n.º 8/93, de 5 de Março, refere um conjunto de critérios técnicos,
cuja verificação cumulativa à criação de freguesias fica condicionada, entre os quais se
destaca um certo número de eleitores mínimo, e a existência de um número de tipos de
serviço e estabelecimentos comerciais. Na criação, extinção e modificação de
municípios, a Assembleia da República deverá ter em conta:
• A vontade das populações abrangidas;
• Razões de ordem histórica e cultural;
• Factores geográficos, demográficos, económicos, sociais, culturais e administrativos;
• Interesses de ordem nacional e regional ou local, em causa.
A região administrativa é nos termos do artigo 1.º da Lei n.º 56/91, de 13 de Agosto,
uma pessoa colectiva territorial, dotada de autonomia administrativa e financeira e de
órgãos representativos, que visa a prossecução de interesses próprios das populações
respectivas, como factor de coesão social.
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• Subsidiariedade;
• Legalidade;
• Independência;
• Descentralização administrativa;
• Poder regulamentar;
• Administração aberta;
• Representante do governo;
• Tutela administrativa.
• Desenvolvimento económico;
• Ordenamento do território;
• Ambiente, conservação da natureza e recursos hídricos;
• Equipamento social e vias de comunicação;
• Educação e formação profissional;
• Cultura e património cultural;
• Juventude, desporto e tempos livres;
• Turismo;
• Abastecimento público;
• Apoio às actividades produtivas;
• Apoio à acção dos municípios.
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O governo local é actualmente atravessado por um tufão de ventos e chuvas fortes que
agitam políticos, dirigentes, funcionários e as populações locais. Há municípios a
gerirem directamente o sistema de fornecimento de água no concelho; outros entregam
tal serviço a empresas privadas; e outros ainda criaram empresas municipais para tal
efeito. Há municípios que processam o vencimento aos seus funcionários numa secção
do departamento de gestão de recursos humanos; outras já entregaram tal tarefa a uma
empresa privada externa, especialista nesta actividade. Como será o futuro? Vão
coexistir diversos modelos?
Em face desta taxonomia, parece-nos que o sistema português possui características dos
três modelos. É, em primeiro lugar, um modelo de patrocínio; em segundo lugar um
modelo de Estado-Providência e em terceiro lugar não tem características ainda, mas já
se vai falando em vir a ser um modelo de crescimento económico.
O sistema português é um modelo de patrocínio em virtude da primeira função do
político eleito local girar em torno da satisfação dos interesses locais através da
prestação de bens públicos. No exercício da sua função o político procura que esses
interesses locais estejam reconhecidos, representados e protegidos a alto nível.
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Este perigo é acentuado pelo facto de o sistema de controlo não ser eficaz. Há outras
formas de encarar o governo local. Foi representado como corpo intermédio entre o
Estado e a família de corporações. Aqui o município é autorizado pelo soberano para
exercer autoridade sobre os cidadãos de um território: é o grémio de vizinhos (José
Hermano Saraiva). Foi visto como subdivisão administrativa (Hobes, Hume e Kant).
Foi romantizado pelo liberalismo como o governo local cuja origem remontaria aos
romanos (Alexandre Herculano). Hoje, tende a ser uma «agência» local de serviços
públicos. Em rigor poderemos sempre reduzir os diversos modelos a dois pontos
extremos de um eixo: município independente e município dependente.
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Personalização da relação
Entre nós, a literatura portuguesa do século XIX (Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis e Eça de
Queirós), bem como a do século XX (Trindade Coelho e Aquilino Ribeiro) faz eco de uma
realidade política e sociocultural recorrendo ao que em castelhano se vulgarizou como cacique,
em francês como notables e em português como «influentes», «mandões», «graúdos» e
«patronos».
À volta deste cacique, notable ou graúdo faz-se a mediação entre as diversas e por vezes
contratantes constelações de interesses locais e o Governo. Oliveira Martins (1886) distingue
dois tipos de caciques, de um lado o «cacique proprietário» e de outro lado o «cacique
burocrata»
Houve evoluções fortes, naturalmente, mas a raiz cultural ainda parece permanecer. Isto
significa que qualquer político eleito, mesmo que pessoalmente queira assumir uma postura
diferente, encontra fortes resistências por parte das populações, por tal postura não se enquadrar
no seu imaginário.
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O exemplo Europeu
Sistemas de Autarquias Locais na União Europeia
Os actuais sistemas são o fruto de um conjunto complexo de factores que têm a ver: com
diferentes percursos históricos; com a diversidade dimensional, geográfica, cultural e humana
dos estados; bem como com factores económicos e sociais que condicionam o desenvolvimento
das infra-estruturas físicas.
A breve análise que se segue baseia-se numa tipologia descritiva, em função de critérios
essencialmente administrativos e jurídicos.
No entanto afigurar-se-á útil fazer esta comparação entre modelos dos Estados membros da
União.
Níveis de Autarquias
Antes de mais será importante relembrar que na União subsistem modelos diferentes de
Estados, desde os Estados unitários, os Estados Federais e ainda os Estados Regionais.
No entanto, grosso modo, o modelo do nível das autarquias varia entre um único nível
de autarquias locais até aos três níveis de autarquias locais.
Nos Estados unitários, todos os níveis de autarquias locais, que podem como já disse,
variar de um a três, pertencem todos a uma ordem jurídica única e não existem relações
de subordinação entre os diversos níveis.
Os defensores de um único nível de autarquias avançam que esta solução permite dar
uma resposta coerente ao conjunto de necessidades e aspirações ás comunidades locais.
A gestão e a coordenação dos serviços públicos encontram-se facilitadas pela existência
de órgãos executivos e deliberativos únicos para cada área do território, que podem ser
assim inequivocamente responsabilizados pelos resultados obtidos.
Portugal encontra-se aqui incluído pois as nossas freguesias não são consideradas
autónomas financeiramente, logo não incluídas num nível próprio de autarquia local.
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A grande maioria dos países unitários adopta assim os dois níveis de autarquias locais,
cobrindo o conjunto do território ou a maior parte dele (Grécia e Holanda), sendo que
noutros casos são adoptadas soluções específicas para zonas urbanas ou com
características particulares (Dinamarca, Irlanda, Suécia e Reino Unido)
Os defensores das soluções com dois níveis de autarquias locais fazem notar que elas
permitem proximidade das populações no controlo da gestão de um certo numero de
serviços locais, e, ao mesmo tempo, a transferência para as autarquias com área de
jurisdição mais vasta de serviços e funções, que quer pela sua complexidade ou
características, requerem pessoal técnico especializado e equipamentos ou
investimentos mais importantes.
Para estes serviços, a existência de um segundo nível de autarquia local constitui uma
alternativa á criação de associações ou fusão de municípios e a prestação destes serviços
por instituições especializadas, publicas ou privadas.
Outros ainda defendem um modelo misto, onde coabitem dois níveis de autarquia nas
áreas rurais e um único nível nas áreas urbanas ou em zonas com características
geográficas ou culturais específicas.
Nos Estados federais ou regionais, apenas a Áustria possui um único nível de autarquias
locais, para além dos estados federados ou regiões.
Nos restantes quatro casos (Alemanha, Bélgica, Espanha e Itália), dois níveis de
autarquias locais coexistem com as componentes territoriais principais do estado.
Por fim, identificamos o único Estado unitário com três níveis de autarquias locais, a
França.
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Acrescente-se o facto das regiões administrativas não terem sido ainda instituídas.
Convêm também salientar que as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto não serem um
nível de autarquia local, mas sim «associações de municípios de tipo especial».
a- Eleição directa pela população: Portugal é o único pai onde tal acontece
b- Eleição pelo órgão deliberativo, modelo mais utilizado
c- Comissões executivas eleitas pelos órgãos deliberativos, existentes na
Dinamarca e Suécia
d- Nomeação pelo chefe do executivo
e- Nomeação pelo Grão-Duque ou ministério do Interior, no caso do Luxemburgo
O aumento generalizado das competências dos órgãos das autarquias tem sido
generalizado por toda a Europa.
De facto a transferência de competências entre os órgãos e até mesmo entre os vários
níveis de autarquias tem vindo a tornar este item cada vez mais fundamental.
Neste sentido, a formação assume também ela um papel importante, sendo poucos os
países (Grécia, Itália e Luxemburgo) onde a formação dos representantes eleitos e do
pessoal não é prevista.
A complexidade crescente das tarefas torna cada vez mais importante pessoal
autárquico qualificado e motivado.
Nos países do norte da Europa, o pessoal das autarquias é bastante mais numeroso que o
pessoal que trabalha para a Administração central. Mas mesmo nos países onde as
autarquias locais têm um peso administrativo menor, elas constituem uma das principais
entidades criadoras de emprego.
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Conclusão
Podemos dizer que o modelo de dois níveis de autarquias locais é aqueles com maior
implantação, sendo transversal aos Estados unitários, Federais e Regionais.
No entanto, a simples transposição de modelos, sem adopção de mecanismos de
compensação, quer sejam eles resultantes de distintas realidades sociais, económicas e
culturais, seria um erro crasso.
Desde logo é indubitável assumir que, por exemplo, a visibilidade e peso político dos
Presidentes de Câmara Municiais portugueses excedem em muito a importância
económica e financeira das autarquias que dirigem.
A importância relativa das finanças locais no conjunto das finanças do Estado está
claramente desfasada da dimensão politica dos municípios e do conjunto de
competências que os mesmos são suposto exercer.
Ora esta necessidade da criação de outro nível de autarquia, vem desde já colocar a em
causa o futuro das freguesias. Se elas já não possuem autonomia financeira para sequer
serem consideradas um nível de autarquia, qual o seu papel num futuro alinhamento
município/ região administrativa?
E como resolver o caso das freguesias com mais de 25000 habitantes, sem
necessariamente as transformar em Municípios?
São estas algumas das questões que gostaria fossem tema de uma reflexão da sociedade
civil em geral, bem como das entidades estatais e autárquicas.
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Bibliografia
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