Curso de Pós-Graduação - Especialização em Humanidades
Adriano Agricio Alves Prontuário: PT3003779
Fichamento 2
TEMA: A ciência moderna
FONTE: NOUVEL, Pascal. "A ciência moderna". Filosofia das ciências. Tradução Rodolfo Eduardo Scachetti; Vanina Carrara Sigrist. Campinas: Papirus, 2013. p.43-56.
Nouvel começa o capítulo discutindo dois posicionamentos
divergentes na historiografia da ciência. Trata-se das controvérsias em torno da figura de Frances Bacon como o pai do método científico. Para Pascal Nouvel, as divergências entre historiadores como Koyré (que nega a Bacon o papel de investigador da ciência moderna) e Ian Hacking (que lega a Francis Bacon o criador da investigação científica moderna), é uma questão de “hermenêutica cultural”, isto é, uma interpretação do que venha a ser entendido como importante e decisivo, em uma determinada cultura, sobre o caracteriza o novo método da ciência moderna. Para Koyré é a matematização a pedra angular para o desenvolvimento das ciências; os fenômenos naturais são interpretáveis, exprimíveis, por meio de equações matemáticas simples e aplicáveis para todas as partes do universo. Nesse sentido, ele enxerga em Pitágoras e Platão “os inspiradores da ciência moderna (p.44)”. Já para Hacking, o que é decisivo não é a matematização, mas a experimentação. Daí se pode entender o porquê desse historiador ver em Bacon o precursor do novo método científico, enquanto Koyré o nega. Está no fato de Francis Bacon colocar em sua visão de ciência a experimentação como fundamental, sem a qual, na sua perspectiva, não se pode falar de ciência. Nouvel vai dizer que essa divergência entre dois historiadores da ciência é “instrutiva”, fazendo surgir dois modelos de ciência moderna: “a concepção matemática e a concepção experimental” (p.44). Esta bem vista por aqueles que utilizam a experimentação como método (por exemplo, a biologia) e aquela para aqueles que usam a matematização (por exemplo, os físicos). Entretanto, é curioso notar que um olhar historiográfico divergente, focado na experimentação ou na matematização, pode utilizar-se de uma mesma obra para defender aquilo que defende. A título de exemplo, Nouvel cita a Obra de Galileu. Esta apresenta tanto a matematização como princípio para os fenômenos, como a experimentação. A instrumentalização da ciência também é discutida por Nouvel como fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna. Ela provocou uma ruptura entre conclusões subjetivas e objetivas naturais, isso é, deu objetividade aos fenômenos que antes eram interpretados ao nível da subjetividade. Dois instrumentos são citados por Nouvel a fim de exemplificar essa preposição: o termômetro de Boyle e um aparelho capaz de medir a pressão do ar. Nesse sentido, fenômenos naturais vão ganhando objetividade por meio de leis e fórmulas matemáticas, por exemplo, a Lei de Boyle-Mariotte (P1 x V1 = P2 x V2) e a de Avogrado (PV = nRT). Daí Nouvel vai dizer que: “a matematização do mundo de que falava Galileu não concerne apenas aos movimentos dos planetas. Ela se estende a muitos outros aspectos da ciência” (p. 49). O autor dirá que na origem dessa nova concepção da natureza, que mistura experimentação e matematização, encontram-se três grandes contribuições: de Copérnico, Galileu e Newton. Nesse sentido, apresenta as principais contribuições desses pensadores a respeito da matematização e experimentação na investigação científica que levará uma ruptura entre filosofia e ciência. O papel de Copérnico está no seu modelo heliocêntrico do sistema solar, apresentado no livro Da revolução das órbitas celestes, publicado em 1543, ano de sua morte. Segundo Nouvel, a teoria de Copérnico é chamada de “revolução copernicana”, pois “provoca uma mudança de ponto de vista radical com a tradição antiga (tradição aristotélica) e, ao mesmo tempo, localiza-se historicamente no momento do nascimento da ciência moderna” (p. 49). Galileu também rompeu com modelos/ proposições da tradição aristotélica. Defendia o sistema Copernicano em seu livro “Diálogos sobre os dois sistemas do mundo”. Ele refutou a ideia aristotélica sobre a queda dos corpos. Provou isto com base em experimentações, formulando uma primeira lei sobre a queda dos corpos. Além disso, desenvolve um telescópio que lhe permite enxergar quatro satélites até então nunca vistos: são as luas de júpiter. Tais descobertas são apresentadas em 1610 no livro “As mensagens das estrelas”. Mais uma vez, nota-se o papel dos instrumentos para o desenvolvimento e descobertas científicas, agora, no nível celestial, da astronomia.
Para Nouvel (p. 53), com Galileu nasce uma ciência que associa experiência e formulação matemática. Entretanto, ele diz: é com Isaac Newton (1643-1727) que se obtém com sucesso o processo de matematização do real.
Newton formula leis universais exprimidas matematicamente. A sua
lei da gravitação universal é uma mais famosas: F=G x M 1 x M2/ d2. Esta e outras formulações foram publicadas no seu livro “Princípios matemáticos de filosofia natural”, publicado em 1687. Livro que servirá de base para filósofos posteriores: Locke, Hume e Kant.
Segundo Nouvel (p. 54), é a ideia de “lei da natureza” exprimível
matematicamente que, originada por Galileu, está se formando com Newton. A partir de então, surge às três raízes do pensamento científico. Primeiro princípio: sobre qualquer problema é possível mudar a orientação do olhar, e isso torna o que era complexo em algo simples. Segundo princípio: a experimentação permite estabelecer regularidades na natureza. Terceiro princípio: existem leis universais da natureza. Essas leis podem ser enunciadas de forma matemática.
Segundo o autor, é com Descartes que se considera o início da
ciência moderna. A filosofia, que era concebida como espelho das ciências na era clássica, vai se opondo a ela até haver uma ruptura entre ambas na ciência moderna. Ao romper as relações com a ciência, a filosofia “ganha” um novo objeto de estudo: entender e justificar os fundamentos metafísicos das ciências modernas (com Kant). Além disso, Nouvel diz que o método indutivo, cunhado por Bacon em oposição ao método dedutivo de Aristóteles, se tornará um problema, abrindo caminho para o que hoje se conhece por filosofia do conhecimento (p. 56).