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RESUMO DE AULAS DA CADEIRA DE TEORIA GERAL DE DIREITO CIVIL

Nota introdutória
O presente resumo de aulas é referente a aulas ditas antes da suspensão de Aulas devido ao
surto do novo corona vírus. Assim, os temas que estão aqui, correspondem a aulas dadas e
anotadas por mim.

Âmbito da Teoria Geral do Direito Civil.


Impõe-se-nos um estudo do direito civil que considere o direito civil na perspectiva de uma
teoria geral. Neste sentido, não vamos curar de problemas específicos de qualquer dos
sectores ou divisões que se possam estabelecer dentro do direito civil.

Divisão da Teoria Geral do Direito Civil.


O nosso estudo encontra-se dividido em duas partes: a teoria geral da norma jurídica civil e
a teoria geral da relação jurídica civil e são teoria geral do direito.

Divisão do Direito Civil

Livro I – Parte Geral (artigos 1.º a 396.º)


Livro II – Direito das Obrigações (artigos 397.º a 1250.º)
Livro III – Direito das Coisas (artigos 1251.º a 1575.º)
Livro IV – Direito da Família (artigos 1576.º a 2023.º)
Livro V – Direito das Sucessões (artigos 2024.º a 2334.º).

Neste sentido, note-se que se estabelece uma parte geral que engloba os temas
relativos aos elementos comuns às outras partes e estas, por sua vez, correspondem ao
direito aplicável a quatro espécies ou modalidades diversas de relações jurídicas –
sistematização germânica ou plano de SAVIGNY.

Direito Público e Direito Privado.


( Critérios de Distinção).

Critério da natureza dos interesses.


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Um critério é o que delimita o direito público e o direito privado segundo a chamada teoria
dos interesses. Assim sendo, estaríamos perante uma norma de direito público, quando o
fim da norma fosse a tutela de um interesse público, isto é, de um interesse da
colectividade; deparar-se-ia uma norma de direito privado, quando a norma visa tutelar ou
satisfazer interesses individuais, isto é, interesses dos particulares como tal.

Apreciação Crítica

Todo o direito visa proteger simultaneamente interesses públicos e interesses


particulares.

Com efeito, as normas de direito privado não se dirigem apenas à realização de interesses
dos particulares, tendo em vista, frequentemente, também, interesses públicos. Olha-se o
Artigo 875.
Por sua vez, as normas de direito público, para além do interesse público visado,
pretendem, também, dar adequada tutela a interesses dos particulares.

Critério da posição dos sujeitos

Segundo este critério, o direito público disciplina relações entre entidades que estão
numa posição de supremacia e subordinação ou, se quisermos, de supra-ordenação e infra
ordenação, enquanto o direito privado regularia relações entre entidades numa posição
relativa de igualdade ou equivalência.

Apreciação Crítica
Este critério não se afigura adequado, na medida em que: o direito público regula, por
vezes, relações entre entidades numa relação de equivalência ou igualdade, como acontece
com as relações entre as autarquias locais; e o direito privado disciplina, também, situações
onde existem posições relativas de supra-ordenação e infra-ordenação, como acontece com
as responsabilidades parentais, a tutela, relações entre associações e sociedades e os seus
membros e a relação laboral.
Em suma, pode apenas dizer-se que a equivalência ou posição de igualdade dos sujeitos
das relações jurídicas é normalmente característica da relação disciplinada pelo direito
privado e a supremacia e subordinação característica normal da relação de direito público.
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5.1.3. Critério da qualidade dos sujeitos.


O critério mais adequado e que hoje reúne a maioria dos sufrágios pode ser designado
por teoria dos sujeitos, em virtude de assentar na qualidade dos sujeitos das relações
jurídicas disciplinadas pelas normas a qualificar como de direito público ou de direito
privado, rectius, na posição em que intervêm os sujeitos.
Segundo este critério, o direito privado regula as relações jurídicas estabelecidas entre
particulares ou entre particulares e o Estado ou outros entes públicos, mas intervindo o
Estado ou esses entes públicos em veste de particular, isto é, despidos de imperium ou
poder soberano.
Por outro lado, se a relação jurídica disciplinada pela norma não se apresenta com estas
características, então, estamos perante uma norma de direito público. Este ramo do direito
é integrado, portanto, pelas normas que estruturam o Estado e outras pessoas colectivas
dotadas de qualidades ou prerrogativas próprias do poder estadual ou disciplinam as
relações desses entes providos de ius imperii entre si ou com os particulares.

Alcance prático da distinção


Em primeiro lugar, note-se que a distinção entre direito público e direito privado vai
muitas vezes determinar as vias judiciais a que o particular que se lesado pelo Estado ou
por uma autarquia local deve recorrer ou vice-versa.
Se o particular tem uma pretensão contra o Estado ou contra um ente público menor ou
vice-versa, há que averiguar, no fundo, se a relação jurídica donde essa pretensão deriva é
uma relação de direito privado ou de direito público. Essa averiguação irá determinar o
tribunal competente para a apreciação da lide, pois a competência deste é demarcada,
também, segundo um princípio de especialização, isto é, em função da matéria sujeita à sua
apreciação.

O Direito Civil como parte do Direito Privado.


Importa determinar o domínio próprio do direito civil, delimitando-o de outros ramos do
direito. Ora, o direito civil é direito privado. Segundo uma clássica distinção, o direito
divide se em dois grandes ramos: direito público e direito privado. Com efeito, o direito
civil constitui direito privado em geral.
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O direito civil constitui o núcleo fundamental do direito privado, no entanto, não significa
ser todo o direito privado, mas apenas, como se disse já, o direito privado comum.

Formas de surgimento das normas jurídicas civis.


Os modos de aparecimento das normas integradoras do ordenamento jurídico civil vêm
indicados nos primeiros artigos do CC, regulando, pois, a matéria das fontes de direito,
devendo notar-se que o fazem com um alcance que transcende o âmbito do direito civil
para abarcar o modo de surgimento das normas jurídicas em geral2.
Com efeito, esta inclusão no CC de matérias gerais, não privativas da matéria civilística,
evidencia como, na evolução histórica e no momento actual, o direito civil tem uma
localização nuclear no ordenamento jurídico. Ora, essa sua situação no ponto central do
direito objectivo advém-lhe pela matéria por ele regulamentada: a personalidade no seu
desenvolvimento e realização através das relações com outras pessoas.

Principais características do tipo de formulações legais utilizado.


Um Código Civil pode corresponde a modelos diversos, sob o ponto de vista do tipo de
formulação legal adoptado. Com efeito, LARENZ distingue três tipos de formulação legal:
 Formulação casuística;
Traduz-se na emissão de normas jurídicas prevendo o maior número possível de situações
da vida, descritas com todas as suas particularidades e fazendo corresponder-se uma
regulamentação extremamente minuciosa, bem como no uso de uma linguagem acessível a
qualquer cidadão.
 Conceitos gerais-abstratos;
Traduz-se na elaboração de tipos de situações da vida, mediante conceitos claramente
definidos e recortados (conceitos fixos ou determinados) aos quais o juiz deve subsumir as
situações a decidir e as soluções respectivas.
 Meras directivas.
Neste tipo, o legislador recorre a linhas de orientação que fornece ao juiz, enuncia critérios
valorativos de apreciação (cláusulas gerais), formula conceitos maleáveis e
fluidos, onde não há sequer uma zona nuclear segura e cujos contornos e extensão
aparecem indeterminados (conceitos indeterminados).
Ora, o Código Civil Moçambicano adopta, fundamentalmente, o tipo de formulação
mediante conceitos gerais-abstratos. De facto, este método, possibilitando um mais elevado
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grau de segurança e uma razoabilidade das soluções em geral, pode, todavia, em razão da
variedade da vida e da diferenciação entre as situações reais, levar o juiz a decisões menos
rectas para o caso concreto. Ora, a atenuação desta desvantagem foi visada pelo legislador,
introduzindo neste diploma legal cláusulas gerais, isto é, critérios valorativos e apreciação
e recorrendo, por vezes, a conceitos indeterminados para construir hipóteses ou estatuições
legais.
Os princípios fundamentais do direito civil moçambicano

1.O princípio da autonomia privada;

2.O princípio da boa fé;

2.Responsabilidade civil.

TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍD

Conceito de relação jurídica.


A expressão relação jurídica pode ser tomada num sentido amplo e num sentido
restrito ou técnico. Em sentido amplo, relação jurídica é toda a relação da vida social
relevante para o Direito, isto é, produtiva de efeitos jurídicos e, por isso, disciplinada pelo
Direito. Em sentido restrito ou técnico, é a relação da vida social disciplinada pelo Direito
mediante a atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição a outra pessoa
de um dever jurídico ou de uma sujeição.

Estrutura da relação jurídica.


Consideramos estrutura da relação jurídica o seu conteúdo, o seu cerne. Trata-se do
vínculo, o nexo, a ligação que existe entre os sujeitos. Assim, considerámo-la integrada por
um direito subjectivo e por um dever jurídico ou por uma sujeição. Com efeito, são eles
que constituem a estrutura interna da relação jurídica.

O direito subjectivo propriamente dito.


O direito subjectivo stricto sensu é o poder de exigir ou pretender de outrem um
determinado comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão). Com efeito, são
direitos subjectivos propriamente ditos os direitos de crédito, os direitos reais e os direitos
de personalidade.
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Ora, o Código Civil português adopta, fundamentalmente, o tipo de formulação mediante


Conceitos gerais-abstratos. De facto, este método, possibilitando um mais elevado grau de
segurança e uma razoabilidade das soluções em geral, pode, todavia, em razão da
variedade da vida e da diferenciação entre as situações reais, levar o juiz a decisões menos
rectas para o caso concreto. Ora, a atenuação desta desvantagem foi visada pelo legislador,
introduzindo neste diploma legal cláusulas gerais, isto é, critérios valorativos e apreciação
e recorrendo, por vezes, a conceitos indeterminados para construir hipóteses ou estatuições
legais.

Constitutivos: produzem a constituição de uma relação jurídica por ato unilateral do seu
titular. Ex.: constituição de servidão d e passagem em benefício de prédio encravado (art.
1550.º).

Modificativos: tendem a produzir uma simples modificação numa relação jurídica


existente e que continuará a existir, embora modificada.
Ex.: mudança de servidão para outro sítio (art. 1568.º).

Extintivos: Tendem a produzir a extinção de uma relação jurídica existente.


Ex.: direito de extinção da servidão por desnecessidade (art.1569.º/2 e 3).

Elementos da relação jurídica.


Os elementos da relação jurídica são: os sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia.
Os sujeitos da relação jurídica são as pessoas entre quem se estabelece o enlace, o vínculo
respectivo. São os titulares do direito subjectivo e das posições passivas correspondentes:
dever jurídico ou sujeição.

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