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BS A ESTRANHA SENSAGAO DE JA TER VIVIDO ALGO psicologia * psicandlise * neurociéncia Bree ee Pee ee eet evi ete Teeter Sey ic) Rear alae [eee eee Deane Pence oscar te Peer ciic RISCOS:E BENEFICIOS Usados como medicamento, compostos da cannabis aliviam sintomas de dor crénica, Ce Pol Ext eM Joye Ns lale on Te tte) excessivo pode causar danos fisicos e mentais |) HAH ay pF ay FH ay Hy Hy AH ay Hy Hy 5 HAYA SAA SAH Ay A HS HS Hy A yA yA sy AH Gy AH Gy AH AH AH Ay, YA YH yA Sy PA Sy Ay Ay Hy Hy Hy Hay Hy YA AAA Sy Sy Ay Ay Hy PH Hy HFS 35 Fs 43> HAYA AA AH Sy Hy Hy Hy Hy A gy Hy YAH yA yA Sy Hy Hy HH, Ay Hy Hy WV carta da editora Baseado em pesquisas alar em maconha fora de grupos homogéneos, com formas muito similares de pensar, & quase sempre sindnimo de polémica: raramente ha consenso. Nem a ciéncia nos oferece esse conforto. O consumo apresenta tiscos? Sim, como ocorre com qualquer substancia psicoativa, o uso exces- sivo causa prejutzos a sate fisica e mental, em especial na adolescéncia. Recentemente, pesquisado- res das universidades Northwestern e Harvard avaliaram o funcionamento neurolégico de jovens com idades entre 18 ¢ 25 anos, divididos em grupos de usuarios e no usuarios, os submeteram a exames de ressonancia magnética e concluiram que o consumo recreativo de cannabis pode estar associado a alteragdes no sistema de recompensa. Diversos artigos apontam que mesmo o uso casual da droga pode prejudicar o cérebro de jovens, tor- nando-os pouco interessados em atividades prazerosas que nao incluam o uso da erva. Embora muitos ‘que combatem o uso recorram a estudos como esse para embasar suas opinides, ¢ preciso considerar que 105 pesquisadores nao levaram em conta a influéncia de outras substancias, como élcool e tabaco. Aliés, uma pesquisa publicada pelo periédico The Lancet mostra 0 dlcool como a quarta droga mais perigosa, atrés do crack, da heroina e da metanfetamina. O tabaco aparece em oitava posico €a maco- raha, em 124 Mas também hé beneficios no uso da maconha em determinados casos? Muitos estudos mostram {que sim. Além de diminuir a intensidade e frequéncia de crises de epilepsia em circunstancias espect- ficas, compostos da cannabis estimulam 0 apetite (um grande beneficio para pacientes que precisam manter 0 peso) e ajuda a aliviar nduseas que atormentam pessoas com cancer, submetidas & quimio- terapia. Além disso, 2 maconha tem propriedades que interrompem a transmissao dos sinais de dor e ainda podem proteger os neurbnios dos danos causados por traumas. Outra “contradigao”. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC) revelou evidéncias de outro uso da maconha: a redugdo de danos para medicamentos com alta capacidade de dependéncia, como os analgésicos, muitas vezes usados de maneira desenfreada nos Estados Unidos. “Cons tatamos que as pessoas recorrem a cannabis como uma droga de safda para reduzir o uso de substincies po- tencialmente mais nocivas, como medica¢do para dor, 05 opidceos’, conte Zach Walsh, professor de psicologia na UBC. O estuclo, publicado no periddico cientifico Clinical Psychology Review, também indica evidéncias de ‘que a cannabis pode sjudar contra sintomas de depressio, estresse pés-traumético e ansiedade social. Porém, ‘0.uso nao é recomendado para aqueles que apresentam sinais de transtorno bipolar ou psicose. O problema é {que nem sempre as pessoas sabem que sto predispostas a apresentar esses quadros psiquidtricos. Ou sefe, faz mal? Sim. Faz bern? Sim. Depende de quem consome — e de quanto, como e quando se usa. Boa leitura GLAUCIA LEAL, editora-chefe ‘slaucaleal@edhtorasegmente.com.br W sumario | setembro 2018 v especial ¢ déja-vu Como a ciéncia ea a estranha sensacao de cap a “reviver” uma situacio 38 Vocé ja viu isso! MACONHA | © te rperesugeaaes rps ops : Pic ceases ete pee riscos e terisneriil fips iconic see © misterioso fendmeno da percepgio temporal 44 Outra forma de captar a realidade ientistas acreditam que, se compreenderem ssa experiéncia, ampliarao os conhecimentos sobre o funcionamento da consciéncia, distarbios da meméria ea maneira como interpretamos a realidade 48 Fabrique seu proprio d Pesquisador criou técnica para que voluntérios ibili éuti tivessem a impressdo de jd ter ouvido 16 Fossibilidades terapéuticas ee ee es vende apenas haviam feito asst Soret maconha podem proteger 0 cérebro dos efeitos do trauma, conter lesdes cerebrais, aliviar espasmos da esclerose miiltipla eepilépticos 21 Possiveis relagde: biologicas com autismo Estudo com modelos animais sugere que sistema endocanabinoide pode estar alterado.em casos de transtomo do espectro autista (TEA) 25 Maconha: um pequeno guia ‘Contra ou a favor da legalizagdo? Para formar qualquer opiniao, é fundamental ter informacBes basicas sobre o assunto 6 Sim, vocé sabe ler mentes A capacidade “telepstica” de compreender intencdes e sentimentos alheios requer um processo cerebral complex, sem nada de sobrenatural 30 Vantagens de escrever amio Tomar notas de préprio punho pode ser mais, ceficaz para o processo de aprendizagem do que digitar; especialistas acreditam que processo ajuda a reter informagoes 34 Idosos buscam respostas sobre sexo na internet Falar sobre o tea costuma ser tabu tanto para os mais velhos, quanto para seus ‘uidadores e parentes; felizmente, a tecnologia pode ser muito util na hora de procurar informacoes. 52 A arte de ouvir o siléncio Monja zen-budista propde exercicios praticos para aquietar a mentee acessar a sensacio de bemestar e centramento, independentemente do lugar onde voc8 ests secdes ‘3 CARTA DA EDITORA 58 LIVRO ~ LANCAMENTO. jando o vide pede um rove 60 CAA UIDICA Acompanhe a @mentecerebro ‘no Instagram Saiba com antacedénciaqul sas o tema da caps daprra eigso www.mentecerebro.com.br Pratident: denieon Cari Maree Gudslefa Mates on chefe: Clic el (Clceradee: Ma Sela {Rear Josen eit) “tens do ager Dale Cru Signs Produ pe Sidney it ds Sastos PusuicDADe arnt A Lopes SImor@editonsepretocom bt cotcoe ean: rie Soe Brio (en nan soot 04 Sena@edionsegmentocom >: Fede jacio Elsen Bboss (2h 43.3846 (21) $0105 dso Berhen@edensgmertcom br ‘ecnoLoain ‘Geren P Cordero ‘als proamader Dage dfehade Besinvladere: Esters peer = eae ceetee ite indade EE Cone ‘ASSINATURAS ECIRCULAGHO Speier: Cuda Stes Ebene Serore Malo Satouran Fotetace na Meme cere sr pbbiaca0 ‘ens a ra Serer | Crveus ester ores por pleaces sob hence de Sent rman ‘pela der wissen Gtapepecicht Sorogt 35 (S125 Heidelberg Aer once CatenKoneher (Gere etna eewg Hanser eGetaréTageser Meyre € ceazan0 OM UNE Vat nosso ae pre de reset ees soc igs ‘reementcarsroconr icone Sepen @reeaeurare seD4Gh0 Comers sbroo conte ogee ote ‘rufa ereatea ‘ndocnecpebicrasegrerieconbr Si iresen fet 39s610| tenor seit Mere tr andre Ste Pouo/sP crmave anase mensopns deere rome ¢ ocr ow. Ferrastesepayo ovre clas pede pcan de forma oni FusucADe drurce m Mere «Cire fle com ‘pico mised do Bel. steir@ediortegnerte comb cenreat oe ars forsee sb ona ‘marge enrega tenereo ‘impresao de bolt, sotto de ‘rerio de eempures ona) 25 ‘So Ful (1) 3038506 De segunda era ds 23025 1h tenlretebedtorasegmentacon.b: erwedtossezmemocemb Hovas assis pode ser soltads paste rlasegrert cone cule ‘Ceti de Merdnens Letor Wimerusaresados poder se succeed ert de Rencimento 30 Lor peoemsi Serdnertabiapedtonsegreet ‘eielasgrert con be mapeerinc Infrmapes sobre premp,oes ‘akeinggeoracegena com. a segment a CuehaGage412— andar cio) 0 305, setenv de 2018, percepcao Sim, vocé sabe ES mentes! cidade, nem sempre consciente, de compreender ria do outro — mesmo sem que algo tenha sido expresso em palavras SamRV ale la complex © humana; os mecanismos cerebrais eevee nesse processo ajudam neurocientistas a compreender o fu 1ento cerebral > percencéo esde pequenos aprendemos uma série de coisas sO observando o mundo que nos cerca. Nos pri- meiros anos de vida comecamos a entender a tris- teza, alegria, desilusdo e citimes dos outros como correlatos emocionais de nossos comportamentos. "Nao chora, mamée’, provavelmente dira a garotinha ao ver a mae emocio- nada por alguma razdo. Por volta dos 4 anos. as criancas dao os primeiros passos em direcdo ao dominio das habilidades sociais: copiam gestos. imitam palavras e atitudes e. geralnen- te, desenvolvem simpatias. Dessa forma, sinalizam que fazem parte dos mesmos circulos de que todos nos participamos para nos tornar “membros da tribo". capazes de compartilhar com- portamentos socialmente Estimulos emocionais que captamos e a maneira como os interpretamos se transformam em respostas e desencadeiam rea¢gd6es fisicas, como transpiragao, taquicardia e aumento da pressdo arterial contagiantes como chorar. bocejar, sorrir, gargalhar € fazer caretas de nojo. Imaginar 0 que se pas- sa com a outra pessoa. por qual razao alguem fez ou disse determinada coisa nos confere alguma sensa- cdo de tranquilidade, como se © mundo a nosso redor fizesse sentido e, contornado pela logica, se tornasse menos ameacador. Esse tipo de intuicao surge naturalmente para a maioria de nés - mas nao para todos. Pessoas com autismo. nao dispdem desse recurso. O transtorno do desenvolvimento afeta uma pessoa em cada 500 (essa cifra varia, dependendo de como definimos o disturbio). Atualmente, tem sido adota- re percep¢ao POR VOUTA DOS 4 ANOS, ae ciancas tacam of primeics pazsos em direc a0 dominio das habildades socials: coplar gestos,imitar palavas edeserwolvem simpatias do o termo “transtornos do espectro do autismo” para ressal- tar que a patologia varia amplamente em grau de seriedade. mas mantém em comum trés sintomas: profunda auséncia de habilidades sociais, baixa capacidade de comunicacao e com- portamentos repetitivos. Independentemente da gravidade da manifestacdo. na base dessas caracteristicas estéo os proble- mas de intuicdo social Autistas tem dificuldade em se aproximar de outras pes- soas porque nao construiram um repertorio de habilidades de desenvolvimento que permite que os humanos se tornem “especialistas em ler a mente alheia”. Nao falamos aqui da habilidade especial de descobrir pensamentos, mas da capa- cidade de inferir o que os outros estao pensando e sentindo em diferentes circunstancias. “Existem evidencias, com base em estudos de imageamen- to do cerebro, de que regides do cortex pré-frontal - principal- 8 > percenéo mente o cértex frontoinsular € © cértex cingulado anterior. nor- malmente ativados por interacdes sociais - estao praticamente inativas em autistas’, explica o psicologo Bruce M. Hood, dire- tor do Centro de Desenvolvimento Cognitivo de Bristol, da Uni- versidade de Bristol. Inglaterra. “Dados de autdépsias também indicam que as estruturas do cortex frontoinsular e do cértex cingulado anterior sao alteradas nos casos de autismo.” O pesquisador John Allman, do Instituto de Tecnologia da California. acredita que boa parte desse deficit social pode ser atribuida a falta de um tipo especial de neurdnios fusiformes, tambem conhecidos como neuronios de Von Econo- Pesquisadores supdem que mo. em homenagem 20 as informacées sobre 2 . seu descobridor. que os estado corporal sdo enviadas opsevouem 1925. Neuro- em diversas estagdes de nios fusiformes consistem Pprocessamento cerebral para, em um neurénio bipolar por fim, serem armazenadas _ bem desenvolvido encon- na insula como uma espécie _ trado somente no cértex de “pacote subjetivo” frontoinsular e no cortex cingulado anterior. que. acredita-se. fornece a interconexdo entre as areas do cérebro ativadas pela aprendizagem e pelo contato social Essa loca- lizagao pode explicar por que neurénios fusiformes so foram encontrados em espécies particularmente sociais, como todos os grandes simios. elefantes. baleias e golfinhos. Dentre todos os animais, os humanos sao os que tem numero maior de neurdnios fusiformes localizados no cortex frontoinsu- lar eno cortex cingulado anterior - as mesmas regides que po- dem ser comprometidas no espectro de transtornos do autismo. “Acredita-se que os neurdnios fusiformes funcionem como ras- treadores das experiéncias sociais, levando a uma rapida avalia- 9 re percepcao do de situagées similares no futuro”, observa Hood. Segundo © pesquisador, essas estruturas fornecem a base da aprendiza- gem social intuitiva quando observamos e copiamos os outros. “Pode. portanto. nao ser coincidéncia o fato de que a densidade de neurdnias fusiformes nas regides sociais aumenta desde a infancia até atingir niveis de adulto ja por volta do terceiro ou quarto ano de vida em criancas normais”, ressalta Hood, Nesta idade, considerada por muitos especialistas em de- senvolvimento _ infan- til o divisor de aguas. ocorre uma mudanca consideravel nas ha- bilidades de intuicao social Ja pessoas com autismo. que tiveram atividades de areas do cortex frontoinsular € do cortex cingulado anterior interrompidas. apresentam difi- culdade de realizar o que o resto de nés sabe fazer sem ter de pensar muito: descobrir 0 que se passa com nosso semelhante — basta prestar atencao. No entanto. nao raro. subestimamos nossa capacidade de percepcao a respeito do que as pessoas sentem e pensam Neur6énios-espelho E por meio das interacdes sociais que aprendemos 0 que € importante para nossa sobrevivéncia e a nos identificar com as emocgées dos outros, reconhecer seus desejos. perspecti- vas, intencdes. Tudo que nosso semethante faz ou deixa de fazer nds podemos compreender, jA que nosso cérebro tem a capacidade de organizar uma representacao da vida interior 10 re percepcéo de outra pessoa, independentemente de nosso proprio estado mental Portanto, experimentos neurocientificos focados em reagdes individuais talvez expliquem muito pouco da natureza humana. E preciso considerar também as vivéncias grupais. Evidéncias neurocientificas a favor da empatia humana co- mecaram a surgir na década de go, na Italia. A equipe lidera- da pelo neurocientista Giacomo Rizzolatti, da Universidade de Parma, estava pesquisando o controle motor em macacos. © para isso havia implantado eletrodos em neurdnios do cortex pré-motor. Depois de realizarem as tarefas, os ma- cacos recebiam amendoins. Para dar 0 petisco, o pesqui- sador se aproximava do ani- mal que havia sido testado até que. de repente. o sensor ao qual o cérebro de um de- les estava conectacdlo come- cou a registrar alguma coisa Eup compeandenes cs erineros ans rao spamueneso gs neurénios do cortex pré- sone eiaines Satimitos Serene -motor estavam sendo ativa- dos. apesar de o macaco permanecer imével. Os italianos chamaram essas células “neurdnios-espetho’, porque entram em acdo ndo apenas em situacdes em que um movimento é executaco, mas também quando 0 individuo observa a mesma acGao realizada por outros. Os neurdnios-es- pelho nos permitem internalizar a acdo alheia e nos colocar virtualmente no lugar do outro. Isso significa que nds ndo sé compreendemos os sentimentos dos outros simplesmente re percepcéo porque nosso cérebro apreende sua perspectiva. mas porque realmente compartilhamos tais sentimentos ou sensacdes. Ador alheia Para aprofundar a pesquisa desse fendmeno, 16 casais volun- tarios participaram de um experimento muito original. A mulher se submetia a ressonancia magnetica funcional e o marido ou namorado sentava-se ao lado dela. A m4o esquerda de ambos. estava conectada a eletrodos, pelos quais recebiam descar- gas eletricas de diferentes intensidades. As mais fortes doiam como uma picada de abelha. mas duravam apenas um segun- do e nao deixavam marcas. Em um monitor. setas de cores diferentes mostravam para a mulher se 0 parceiro estava re- cebendo os choques e a que intensidade. Um nao via 0 rosto do outro. guiavam-se apenas pelos sinais do monitor. Quando a mulher recebia uma descarga de baixa intensidade, todo o circuito de assimilacao da dor de seu cérebro era ativado: insula. cortex ssomatossensorial primario e secundario, cdrtex cingular anterior, talamo. cerebelo e certas re- gides do tronco cerebral Essas eram justamen- rear raaes : ———— ieeeteeee =a OQ jogo da imitagao neurocientista Giacomo Rizzolatti, da Universidade de Parma, pesquisava o controle cértex pré- dos “neurénios-espelho”. Essas estruturas microscépicas entram em acdo nao apenas quando um movimento é executado, mas também quando o individuo observa uma aco realizada por outros. Os neurénios-espelho nos permitem internalizar a aco alheia e nos colocar virtualmente no lugar do outro. Isso significa que nés ndo s6 compreendemos os sentimentos dos outros simplesmente porque nosso cérebro apreende sua perspectiva, mas porque realmente compartilhamos tais sentimentos ou sensacdes. tor nos animais. Rizzolatti e sua equipe descobriram, por acaso, a existéncia 7 re percepgao “Usamos informagées armazenadas em uma espécie de banco de dados emocional para antecipar certos eventos, tanto para nés mesmos quanto para os outros”, diz o pesquisador Kevin Dutton, da Universidade de Cambridge te as reagdes esperadas, Eniretanto, quando o parceiro recebia estimulos doloridos. e a mulher era informada disso pelo monitor. a maior parte dessas “areas da clor” do cérebro dela tornava-se ativa, especialmente regi6es emocionalmente relevantes como o cortex cingular anterior € a insula. E como se 0 cérebro se com- padecesse da dor do parceiro. Contudo, a magnitude da reacéo variava entre as mulheres: as que haviam se mostrado especial- mente empaticas numa entrevista feita antes do experimento reagiram de forma mais intensa, com uma nitida elevacdo da ati- vidade nos centros cerebrais associados & dor. Em compensacao, duas importantes regides do cérebro fe- minino permaneceram em absoluto siléncia: os cértices soma- tossensorial primario e secundario, relacionados a localizacao corporal da dor. O resultado ¢€ totalmente plausivel. pois inter- nalizar a dor subjetiva do outro ja basta — a informagao senso- rial nao € necessaria. Mas, se o estimulo doloroso atinge nosso proprio corpo, temos de saber exatamente onde ele nos afeta para poder combaté-lo ou fugir dele. Aexperiéncia puramente corporal sempre esta acompanhada de sensacdes subjetivas que atuam como ameacas e promovem alteragGes de humor. Os cientistas supd6em que nossa aversdo emocional a dor esta relacionada com a atividade de regides como 0 giro cingulado anterior e a insula; ambas permaneceram ativas nas mulheres que sabiam que seus parceiros estavam re- cebendo uma picada dolorida. Outros estudos tém fornecido in- B > percepcao formagGes importantes sobre o possivel papel dessas duas es- truturas na assimilacao da dor. bem como de outras sensacées. Estimulos emocionais - mesmo dos negativos. que nos cau- sam desconforto - desencadeiam alteragdes e reacdes em nosso corpo: transpiracdo, taquicardia, aumento da pressao arterial Os pesquisadores supdem que as informacgdes sobre o estado corporal sao enviadas em diversas estaces de pro- cessamento cerebral para. por fim. serem armazenadas na in- sula como uma espécie de “pacote subjetivo”. Menos rudes Outras pesquisas com neuroimageamento mostram que a ati- vidade na insula aumenta até quando as pessoas apenas pen- sam que alguma coisa vai doer. *Fica evidente. portanto. que usamos informagGes armazenadas em algum tipo de banco de dados emocionais para antecipar certos eventos, para nos mesmos. e€ também para os outros’. salienta 0 pesquisador Kevin Dutton. do Instituto Faraday da Faculdade St. Edmund, Universidade de Cambridge. Para ele, a capacidade de em- patia deve ter a ver com um sistema que codifica experiéncias pessoais. “Nosso proprio universo de sensacdes torna-se en- téo matéria-prima para a compreensdo das emocées alheias, © que permite concluir que podemos nos por no lugar de outra pessoa, sentir como ela se sente, se ja tivermos alguma vez na vida experimentado sensac6es parecidas”, afirma. Portanto. o altruismo pode ser resultado da arquitetura cerebral. fato de que propriedades humanas to profundas tenham um fundamento neuronal € 0 que torna a neurociéncia social cogni- tiva uma area tao interessante. Por que a natureza nos dotou de empatia? Ao que tudo indica. para facilitar a vida em sociedade e, talvez. nos tomar animais menos rudes - e até mais felizes. ry Setembro ae Més ccf pre! encao ao suicidio E preciso agir e reduzir as taxas de suicidio! Encontre ajuda em campanhasetembroamarelo.com.br ptaeasl CBP ONGRESSO- “ citi A 17 A 20 DE OUTUBR Ut ee y capa ¢ maconha Possibilidades terapéuticas da ( Estudos recentes indicam que compostos da maconha podem proteger o cérebro dos efeitos do trauma, aliviar espasmos da esclerose multipla e reduzir crises epilépticas. Trabalho preliminar mostra que as substancias tem . potencial para retardar Se © crescimento de tumores : e reduzir a lesdo cerebral ' em casos de Alzheimer - v capa + maconha polémica a respeito da Cannabis sativa, a maco- nha, € antiga, mas vem se tornando cada vez mais atual, a medida que surgem novos estudos a res- peito dos efeitos da substancia nas fun¢des cere- brais (como atencdo. motivacdo. memoria). bem como dos riscos da utilizagdo e de seu potencial terapéutico. Inimeras pesquisas publicadas nos utimos anos - muitas delas feitas em tubos de ensaio e animais, mas algumas executadas em humanos - sugerem que os canabinoides, ingredientes ati- vos da maconha. podem ter usos medicinais. até alem dos Alguns reconhecidos e aprovados legalmente em alguns paises. estudos A questao, porém, nao se restringe a compreen- sao dos efeitos neurologicos que o consumo provoca. auger E preciso antes entender alguns pontos importan- que o THC eo tes. O composto quimico da maconha que induz canabidiol podem = g. atucinacées, 0 delta-9-tetraidrocanabinol aumentar o fluxo de (THO), foi isolado em 1964. Varios outros sangue no cérebro, componentes foram descritos desde trazendo 0 oxigénio ento, inclusive 0 canabidiol (com- e nutrientes para os posto que nao provoca euforia). neurénios em risco; usado por pacientes com epilepsia. ee No final da decade de 1980 e inicio dos porém, nao anos 1990. cientistas Pabeatarn a identificar e - a mapear dois grupos de moléculas. conhecidos € totalmente - como receptores, no sistema nervoso central e no compreendido sistema imune, que ajudam canabinoides a se ligarem a células. Essa interagdo parece desempenhar um papel critico sobre diversos efeitos da maconha. O cérebro dispde de pequenas quantidades de seus proprios canabinoides, os endocanabinoices, que tambem se ligam a esses receptores. v7 Ay cara {USO MEDICINAL: Organizacio Mundial da Sade [OMS) recomenda que o derivado canabidiol nfo sea tatado como Grogs, eubeincia ter ido ompregads no tatamente de doancat neurologic © pata lviar cintomae Ge cincet CB1, 0 mais comum dos dois receptores principais, se distribui amplamente pelo cérebro. com concentragdes elevadas no cortex e no hipocampo (uma regio importan- te para formar novas memorias e mais recentemente reco- nhecido pela neurociéncia como uma area importante para conferir 0 tom emocional associado a recordacées). Recep- tores de CB1 ocorrem tambem em partes do cerebro envol- vidas na percepcao da dor. Ha niveis baixos de CB1 no tron- co cerebral. onde as funcdes cardiacas e respiratorias sao reguladas: sua relativa escassez nessa regido pode explicar por que. ao contrario de opioides. mesmo doses pesadas de canabinoides nao representam ameacas graves ao coracdo ou a capacidade respiratoria. CB2, 0 outro receptor principal de canabinoide, & encontrado principalmente no sistema imune. A sua presenca la interessa a cientistas. pois o sistema imune desencadeia a infla- macdo, e estudos mostram que a maconha pode ter efeito anti- -inflamatorio. ‘V capa * maconha No cérebro. quando 0 componente psicoativo THC se liga ao CB1, ele interfere na acdo de neurotransmissores, que sao moléculas sinalizadoras liberadas pelos neurdnios. O re- sultado @ a euforia pela qual a maconha e famosa, muitas vezes acompanhada do prejuizo temporario da memoria de curto prazo. Dois outros efeitos bem conhecidos da ligacdo THC-CB1 sa0 0 estimulo do apetite. um beneficio para pacien- tes com aids e outros que precisam manter o peso corporal. e a supressdo de nauseas, excelente para alguns pacientes com cancer submetidos a quimioterapia. Foi demonstrado que 0 THC interrompe a transmissao dos sinais de dor. Varias pesquisas recentes sugerem que o THC tambem pode proteger os neurénios do trauma. Os primeiros es- tudos em tubos de ensaio apontaram para esse efei- Diferentemente to, bem como um estudo clinico publicado em do que ocorre outubro passado. Nele, 0 cirurgiao de trauma com os opioides, David Plurad e seus colegas fizeram uma mesmo as doses revisao retrospectiva de 446 traumatis- pesadas de canabinoides mos cranio-encefalicos (TCE), casos tratados no Harbor-UCLA Medi- nao representam ae m a cal Center, de janeiro de 2010 a gas gra’ fe dezembro de 2012. Segundo es- ao coragdo ou tudo publicado na revista American Surgeon. foi descoberto que 82 desses pacientes tiveram teste positivo para THC. e dois deles morreram, o que representa 2.4% da amostra. O indice de mortalidade entre os 364 pacientes que nao tinham THC em seu sistema foi de 11.5%, quase cinco vezes superior. Levando em conta outros fatores como idade. gravidade da lesao e nivel de alcool no sangue, pesquisadores conclui- acapacidade respiratoria ,“ 19 V capa * maconha ram que a relacdo entre o THC e uma menor taxa de mortali- dade nesses pacientes era evidente. Embora os mecanismos nao sejam plenamente compreendidos, a investigacaéo ante- rior sugere que 0 THC e canabidiol podem aumentar o fluxo sanguineo no cérebro. trazendo 0 oxigénio necessario. bem como nutrientes para os neur6nios em risco. Como eles ini- bem o glutamato, podem evitar tambem efeitos toxicos que ‘ocorrem apés trauma encefalico quando os neurénios po- dem ser superestimulados pelo neurotransmissor. Ha comprovacdes de que a maconha prejudica a per- cepcao e 0 tempo de reacao. por isso pode ter contribuido para os acidentes que Plurad estudou - €. ao mesmo tempo. talvez tenha ajudado algumas pessoas a sobreviver a eles. A ironia néo passou despercebida pelo cirurgiao. “Nunca havera uma unica resposta para quest6es sobre maconha’, acredita Plurad. “E bom para vocé: é ruim para vocé. Nunca sera um ou 0 outro. Ela sempre estara em algum lugar no meio.” 20 VY capa maconha es uU me) 7) YW < . W” = ©, © “) oO animais sugere que sistema endocanabinoide pode estar K v capa * maconha s endocanabinoides se diferenciam dos neu- rotransmissores classicos, entre outros fatores, por terem um sistema de transmissao retrogra- do, ou seja, se propagam do neurdnio pos-si- naptico para o pré-sinaptico. Na pratica. isso significa que os endocanabinoides e os receptores CB1 influenciam eventos que ocorrem no neurdnio pré-sinaptico, como a liberacao de neurotransmissores como GABA e glutamato, envolvidos no balanco inibitorio-excitatorio das células. Assim. os receptores CB1 influenciam de forma indireta a “O aumento jiberacdo da dopamina, pois ‘inibem 0 efeito inibidor’ do de dopamina, — asa sobre a dopamina, de forma que esta é libe- efeito indireto rada em diversas estruturas do cérebro, incluindo da droga, afetou as que fazem parte do sistema de recompen- a busca natural por sa - por isso ha aumento de dopamina no recompensa social; o cérebro quando ha aumento da dispo- mesmo fato foi relatado por nibilidade ~~ ene nas fen- outros estudos em modelos Hie uae, ; Ba Em um estudo conduzido animais que usaram o canabinoide exdégeno THC, presente na Cannabis Sativa", diz pesquisadora na Universidade Presbiteria- V capa *maconha na Mackenzie, em Sdo Paulo. a pesquisadora Fernanda Tei- xeira Ribeiro usou uma medicacao para aumentar a quanti- dades de endocanabinoides no cérebro de ratos e observar como essa intervencao afetava o desempenho dos animais em testes sociais. A medicacdo usada foi um inibidor de enzi- mas endocanabinoides chamado JZL195. Seu efeito consis- te em inibir as enzimas FAAH e MGAL (que fazem o catabo- lismo, respectivamente, dos endocanabinoides anandamida A sindrome que faz tudo perder a gracga m efeito experimentado por pessoas | J eve ssemrmacotn co Fave observado clinicamente e chamado por especialistas de sindrome amotivacional. Embora sejam necessarios mais estudos para documentar esse quadro, o que muitos especialistas ressaltam & que usudrios com esse sintoma deixam de ter interesse por atividades em geral que causam prazer, incluindo a socializagao. No estudo em que comparou ratos saudéveis com animais com tragos de sintomas de autismo, a pesquisadora Fernanda Teixeira Ribeiro analisou os efeitos de uma medicacao que aumentava a disponibilidade de canabinoides enddgenos no cérebro desses animais. Ela verificou que os roedores saudéveis que receberam a medicacao apresentaram comportamentos similares ao que se poderia descrever como uma sindrome amotivacional, mostrando pouco interesse em interacao com estimulos sociais, quando submetidos a testes de comportamento social. Ribeiro explica que a medicagao inibe a aco das enzimas, aumentando a disponibilidade de endocanabinoides. “A meméria estava preservada, mas eles optavam por no interagir”, afirma a neurocientista. @ 2-AG) e aumentar, assim. a disponibilidade desses endocanabinoides na fen- da sinaptica. Ratos sauda- veis e ratos com sintomas de transtorno do espectro autista (modelo animal usa- do pelo grupo de pesquisa) foram submetidos a testes comportamentais de socia- bilidade depois de terem recebido a medicacéo. A medicagaéo nao teve efeito nos animais com sintomas de transtorno do espectro autista (TEA). No entanto, nos animais sauda- veis, reduziu seu interesse em interagir com estimulos sociais nos testes. “Acredi- tamos que © aumento de dopamina, efeito indireto V capa » maconha da droga. afetou a busca natural por recompensa social O mesmo efeito ja foi relatado por outros estudos em modelos animais que usaram o canabinoide exogeno THC, presente na Cannabis sativa’, diz. Na tentativa de buscar uma corre- lacgdo biologica para a auséncia de efeito da medicacao sobre a sociabilidade dos animais com sintomas de autis- mo, a pesquisadora e colegas analisaram a concentracéo de receptores CBi em diversas estruturas do cerebro dos animais pesquisados por meio de uma técnica chamada Elisa. que quantifica proteinas especificas. Foi detectada uma diferenca no hipocampo desses animais, que apre- sentaram uma quantidade reduzida de receptores CB1 nessa estrutura. O hipocampo tem importancia inconteste na formacao de memoria emocional e na importancia dada ao que vivemos e sentimos. Em estudos futuros 0 grupo de pesquisa pretende explorar esse caminho. ou seja. es- tudar possiveis alteragdes na sinalizagao canabinoide do hipocampo nesse modelo animal de TEA e. assim, buscar correlagdes neurobioldgicas para os sintomas de autismo. 28 um peeled eonie OWEN oleaaic} formar qualquer opiniao, é “fundamental compreender informacées basicas No Brasil, 0 uso é proibido tanto para uso recreativo quanto medicinal jefe) maga lao calr- V capa * maconha elatos de 2700 aC. descrevem o cultivo e uso da Cannabis sativa, a maconha. como analgésico € ansiolitico na China. No final do século 19. cigarros ida planta e extrato liquido eram vendidos em far- miacia - indicados. por exemplo, para induzir ao sono e con- trolar a bronquite crénica. Depois de decadas de proibicao da cannabis e seus derivados ao longo do século 20. estados americanos e alguns paises comecaram a liberar 0 uso mé- dico da planta Nesses locais. a prescricao médica se baseia no equilibrio das proporcées de dois fitocanabinoides (os componentes que interagem com o sistema endocanabinoide do cérebro) principais: tetraidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD). Ou seja: variedades padronizadas da planta sao receitadas de acordo com a maior ou menor porcentagem desses canabinoides. O uso medicinal seguro de cannabis depende da produc&o controlada de variedades da planta com proporcées padronizadas; a extracao obedece a procedimentos especificos que, se desrespeitados, podem alterar as propriedades v capa * maconha Uso medicinal Bare coe Mute le Wa da oes tse) Fe eerste eek eRe ne EME caret Regt ESE CEO uCN Rela PCE cee tare da planta. Ou mesmo 0 uso por inala¢ao com fete Ont ee Cane eee ee as proporsies de canabinoides variam de acordo eon Na Holanda. por exemplo. a variedade Bediol (6% de THC e 7.5% de CBD), produzida de forma padronizada e distribui- da em farmacias pela companhia Bedrocan, é indicada para alivio da dor e combate a processos inflamatdrios. Seu uso ndo causa as alteracées mentais caracteristicas da maconha recreativa porque a proporcao mais alta de CBD (que tem propriedades antipsicoticas e ansioliticas) ameniza a agao do THC, responsavel pelos efeitos psicoativos - confusdo men- tal, euforia, fluidez de pensamentos e outros que variam de uma pessoa para outra. Assim, é possivel se beneficiar das Le) ite Wavelet Acannabis é atualmente proibida no Brasil, st Peete Prat ot: eM ete rere Re cae une omer ken ite Pe encrienen ace yee (consumidor) nao sao objetivos, dependem de PREG ee Sete noe Gee ee ee ei Om Ee penalidades so mais brandas no segundo caso. ers Oe ae re eee) maior quantidade de CBD que de THC, obtidos Poeun auleaets om V capa * maconha qualidades terapéuticas do CBD e do THC (componentes que tém efeitos comprovados no controle de dores) sem so- frer alteragées psiquicas como efeito colateral. Nesse caso, a administragdo é feita por inalac&o. com o uso de um vaporizador. por exemplo. Como explica o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cére- bro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). € possivel usar a maconha como fitoterapico desde que se tenha co- nhecimento da proporcao de canabinoides. “No caso da inalacdo com vaporizadores, é possivel ter muito controle da dose. Os efei- tos sao imediatos e o médico pode admi- nistrar doses bem pequenas. medidas com preciso, até atingir 0 efeito desejado.” Regulamentacao fan cen Eka ees ee tee aCe Sa) Pee re ee eee oe Cee Rea See eure) maconha é vendida apenas para uso medicinal, em dispensédrios, com receita médica. Na Holanda, 0 uso recreativo é permitido em locais especificos, que vendem a droga com indices controlados de canabinoides, bem explicitos 20 PIMs V capa * maco' Descriminalizagao Nee eee) eRe cel rk cred COT eet a ee sd reac cy e « & THC X CBD SAO OS COMPONENTES DA MACONHA MAIS ESTUDADOS. — Orc eur Ue ec responsavel pelos efeitos psicoativos CP ew ence) Pe eet eee ec PEW ORCL EL LoLod Gee erase e ear See eee enters eee eae we wv we ee Ge Ke O canabidiol (CBD) tem efeito AAUTORA ERR iteMe ti eirec tier Rouen Eee Ue era eK a nisl uso controlado no Brasil, de forma que ere eae ke aac bales ocho componente podem ser importados Lenni Ce ema ie meee Riad eC ole a a DEEZ) Puerer inne Sree ence Sc ued peer hcahri See seein see fees eters KEK EK «Ke i cognicéo Tomar notas de proprio punho pode ser mais eficaz para ) o processo de aprendizagem do que digitar; especialistas acreditam que processo ajuda a reter informa¢des m busca de comodidade, cada vez mais deixamos de lado o papel e optamos por digitar. De fato, parece mais pratico escrever um e-mail do que uma carta. Mais ainda enviar uma mensagem rapida pelo celular do que encaminhar um bilhete. Mas como tudo tem seus pros contras, nessa area tambem nao é diferente. E. quando se trata de redigir. um grupo de cientistas alerta que nem sempre o metodo mais rapido @. necessariamente. o melhor. Segundo os pesquisadores da Universidade de Princeton, tomar notas a mao favorece a capacidade de sintese. ajuda a focar o essen- cial e - melhor - a reter conceitos com mais facilidade. re cognicéo & pebguidadoses O psicologo Daniel Oppenheimer e sua equipe chegaram a essa conclusdo quando pediram a alguns estudantes que as- sistissem a uma palestra e fizessem anotacées - parte deles a mao e parte usando um notebook. Depois de 30 minutos. os pesquisadiores fizeram entrevistas com os voluntarios sobre aspectos fatuais e conceituais do conteudo visto e descobri- ram que aqueles que escreveram com papel e caneta se sai- ram significativamente melhor, sobretudo em relacdo a ideias abstratas, ainda que 0 restante tivesse registrado maior quan- tidade de informa¢des no computador. Os pesquisadores ressaltam que, quan- & do tomamos notas. selecionamos deter- dw minados dados, nés os codificamos e os Univeisidade de recordamos mais tarde, 0 que favorece o Princeton, tomar armazenamento e facilita a aprendizagem nolas ev mio favor eve Quando o registro se torna muito facil . tendemos a nos dispersar e perdemos a a capacidade de oportunidade de absorver algo novo, prin- Sindee, ajuda a focat cipalmente quando se trata de conceitos e a eSsencial e - melhe nao fatos. Escrever & mao, por outro lado. ~ a sete’ conceites nos obriga a focar o essencial ja que, em com mas facilidade geral. nao somos fisicamente capazes de escrever cada palavra do que é dito. o que termina facilitando a assimilacdo. Os resultados publicados na Psychological Science ajudam aesclarecer um fenomeno que os psicologos chamam de “di- ficuldade desejavel’, para se referir a necessidade de esforco e investimento com 0 intuito de assimilar novos conteudos. “As vezes. os obstaculos que nos frustram nos ajudam a aprender’. diz Oppenheimer. a Registrar de forma orientada experiéncias traumiticas pode ajudar pessoas a refletir sobre si ea superar a dor da perda. Segundo estudo publicado ‘no Joumal of Paliative Medicine, a “escrita terapéutica” ajuda o paciente a descrever detalhes de experiéncias negativas, explictar sentiments, colocar 105 fatos em ordem cronolégica e estabelecer nexos. O artigo se apoia nna ideia de que descrever os proprios sentimentos e emmogdes em uma narracao coerente dos fatos tem utilidade em situacdes especificas, como claborar o luto da morte de uma pessoa querida. Para medir a eficécia da técnica, os pesquisadores avaliaram os pacientes deprimidos depois desses voluntérios terem passado por uma perda significativa e pediram que registrassem regularmente seus sentimentos, Curiosamente, foi constatada melhora no estado geral de humor e animo das pessoas apés 0 exercicio. “Estudos recentes com ressondncia magnética funcional demonstraram. que nosso cérebro trabalha de forma diferente antes, durante e depois de escrevermos’, observa o psicélogo James Pennebaker, diretor do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas em Austin. Pioneiro nese tipo de pesquisa, ele investiga desde a década de 90 a ligacao entre a capacidade de escrita expressiva e alteracies biolégicas. Aeescrita terapéutica, complementar @ terapia da fala, nao se contrapoe a ‘expressio oral. Pelo contrdrio: permite associacdes inesperadas, que muitas vezes levam a questdes inconscientes intrincadas —e fundamentais para 0 tratamento. ientistas reconhecem, porém, que a neurobiologia da escrita terapéutica ainda apresenta muitos pontos obscuros. Algumas tentativas de registrar 2 atividade neural antes e depois de a pessoa escrever renderam poucas informacdes, pois as regides ativas esto localizadas em areas muito profundas do cérebro. O que se sabe é que a escrita ativa um conjunto de vias neurol6gicas— e varios estudiosos esto comprometidos em descobri- las. Atualmente na Universidade do Arizona, o neurocientista Richard Lane, doutor em psicologia, usa técnicas de imagem cerebral para estudar a neuroanatomia das emocdes e a forma como elas sao expressas. Colecao Histéria da Pedagogia Vigotski + Wallon * Freire + Rousseau + Dewey Entenda o que eles pensaram. E se prepare para pensar a educacao daqui para frente. A .colecao que apresenta as visdes essenciais da pedagogia organizadas ‘em seis volumes acondicionados em estojo. Para voc® ter sempre 3 mao, consultar, debater e aplicar no dia a dia de trabalho. Conhega e entenda a contribuigao de cada pensador para a pedagogia, salba identificar suas teses principais e os resultados que suas idelas geram até hoje nas escolas, Conte também com extensa bibliografia comentada para ajuda-lo a organizar 0s prdximos passos ¢ continuar aprendendo. Histéria dda Pedagogia. Essencial para quem quer fazer histéria na educacao. Resa Reserve sue led oreeba om cast ntocom.br sexualidade Falar sobre o tema para os ma quant cuidadores e felizmente, a tecnol pode ser muito util na hora de procurar iniorma¢coes is velhos ) para seus es, costuma ser tabu tanto gia Idosos buscam respostas sobre S@EXOna internet ma pesquisa sugere que um nu- mero crescente de idosos conti- nua a ter vida sexualmente ativa. © que colabora com a satide ea felicidade. Embora boa parte hesite em discu- tir quest6es intimas com 0 médico, um novo estudo revela que muitos tém langado mao de comunidades online para ter entre si as respostas € 0 apoio de que necessitam re sexualidade Aatividace sexualentre adultos com mais idade ¢ comum - mais de metade dos homens e um ter- co das mulheres na faixa dos 70 anos. casados ou nao, relataram fazer sexo pelo menos duas ve- zes por més em um estudio publi- cado na Archives of Sexual Beha- vior. Mas isso pode ser complicado. Problemas médicos que costumam surgir com a idade. como diabetes e doencas car- diacas, podem afetar o desejo sexual e o desempenho. Muitos vilves que comegam a namorar novamente mais tarde na vida nao sabem como se proteger de doencas sexualmente trans- missiveis ou abordar alguém por quem tém interesse. Para pio- rar as coisas. os esteredtipos relacionados coma idade - como a ideia de que idosos sao “muito velhos para o sexo” - podem criar difculdades para que eles cheguem as respostas. Uma revisao recente da literatura cientifica mostra que, alem de os idosos raramente conversarem sobre sexo com os mé- dicos, muitos desses profissionais se revelam hesitantes em apresentar o tema. "Os resultados, a literatura cientifica e a mi- dia atual mostram que boa parte dos prestadores de cuidados de saude, das equipes de casas de repouso para idosos e das proprias clinicas que atendem essa populacdéo costuma igno- rar a salide. a necessidade e os direitos sexuais de seus clien- tes e moraciores”, afirma a cientista social Liza Berdychevsky. da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. Aluz dessa preocupante tendéncia, Berdychevsky e sua cole- ga Galit Nimrod. pesquisadora da area de comunicacao da Uni- 35 > sexualidade versidade Ben-Gurion do Negev, em Israel. decidiram investigar se idosos conseguiam encontrar apoio sobre temas sexuais em foruns online. Depois de terem analisado aproximadamente 700 milmensagens postadas no espaco de um ano em diversas co- munidades da rede, de varios paises. elas encontraram cerca de 2.500 posts dedicados a discussdes de quest6es relaciona- das com a sexualidade. Menos de 0.4% do total de mensagens. Apesar disso. alguns desses topicos eram muito populares. com milhares de visualizacdes, 0 que sugere que. embora nado participassem dos debates, muitos membros da comunidade acompanhavam as pautas. Os pesquisadores identificaram também evidén- cias que sugerem que esses lugares ajudavam a responder a perguntas dos usuarios, deixando-os mais confortaveis sobre o amadurecimento da sexualida- de. segundo um artigo publicado em ju- nho no Journal of Leisure Research. “As comunidades oferecem aos membros a garantia de que nao estao sozinhos e de que tudo 0 que experi- _ mentam é enfrentado por muitos outros em sua faixa etaria’. diz Berdychevsky. Alem disso, os foruns online oferecem “um canal para comparti- (har dificuldades. ganhar conhecimento em primeira mao e trocar conselhos’. Ela e outros investigadores continuam a enfatizar a importancia de methorar a comunicacao face a face sobre sexo, principalmente em ambientes de cuidados de saude. No entanto, amedida que mais idosos ganham acesso a internet sua vida se- xual tende a melhorar e. em geral também seu bem-estar geral % NEUROEDUCACAO Oe... vo & especial ¢ déja-vu y a Vocé ja viu 1Sso! De repente surge aquela impressdo de ja termos vivido algo — e a sensacdo é, quase sempre, de estranhamento: é o que chamam de déja-vu. Neurologistas e psicdlogos tentam compreender esse misterioso fendmeno da percep¢do temporal 38 D> especial + deja-vu locé ja se “lembrou" de ter vivido determinado mo- mento segundos antes de ele ter ocorrido? A sensa- ao costuma ser acompanhada de certo desconfor- to. Mas quando foi isso? Sera possivel? Esse tipo de experiéncia de déja-vu. a sensacao difusa de ja ter vivido antes uma nova situacéo exatamente da mesma forma. € comum. Algumas pessoas chegam a sentir esse momento como irreal. como num sonho. O sentimento de poder prever com exatidao o que vai acontecer no momento seguinte tambem nao é raro. E, vez por outra, um lugar parece estranhamente conhecido. para uma pessoa. apesar de ela ter certeza de nunca ter esta- do la antes. Por isso, desde tempos imemoriais os déja-vus $40. considerados indicios de vidas passadas e de renascimentos. Para 0 psicologo e neurocientista Akira O'Connor. pesquisa- Ha mais de um século, Sigmund Freud levantou a hipotese de que déja-vus resultariam do desejo de recapitular eventos teprimidos, funcionando como mecanismo de defesa contra experiéncias traumaticas dor da Universidade de Saint Andrews. na Escécia. 0 fendmeno pode ser resultado de uma espécie de “checagem da memo- ria’, realizada periodicamente pelo cérebro. Em um estudo, ele e sua equipe procura- ram induzir 0 déja-vu em 21 voluntarios os submeteu a exames de ressonancia magnética (veja texto na pag 48) Ele previa que durante os exames de neuroimagem fossem ativadas as regides cerebrais as- sociadas 4 memoria (como o hipocampo). mas © pesquisador se surpreendeu com 0 resultado: o que constatou foi um maior funcionamento das partes que participam das tomadas de decisdes. Para O'Connor, os resultados apresentados na Conferén- 39 > especial « deja-vu cia Internacional da Memoria, em Budapeste. confirmam que o déja-vu ocorre quando areas frontais do cérebro revisam nos- sas lembrancas em busca de algum tipo de erro na meméria. 0 que provocaria uma espécie de conflito entre a busca por uma recordacao e a certeza de que nao vivemos aquele momento. Nao é alucinagao Também estudioso do assunto, o neurocientista Uwe Wolfradt. professor do Instituto de Psicologia da Universidade Martin. em Halle-Wittenberg. na Alemanha. entrevistou mais de 220 estu- dantes a respeito dessa experiéncia. Segundo ele, 80% disse- ram acreditar que. durante um deja-vu. estavam se lembrando inconscientemente de um acontecimento que haviam esque- cido temporariamente. Essa no¢ao lembra a ideia de Sigmund Freud (1856-1939) de que déja-vus resultam do desejo de re- capitular eventos reprimidos. Ou seja, um mecanismo de defe- sa contra experiéncias traumaticas. 40 D> especial « déja-vu A psicologia cognitiva tambem traz a tona processos in- conscientes para explicar 0 déja-vu, os processos da mems6- ria “implicita” ou "nao declarativa’. Suponhamos que voce veja um velho armario em uma feira de usados e de repente toda a situacao lhe parece conhecida, mas voce se esqueceu de uma coisa: quando ainda era crianca, havia um armério muito parecido na casa dos seus avds! Estimulos subliminares Uma teoria da psicologia da cogni¢ao diz que nds podemos tera sensacao de que uma pessoa. um local ou um aconteci- mento nos sao familiares mesmo quando ja experimentamos anteriormente apenas um aspecto determinado deles - como um odor caracteristico - em outro contexte. Esse elemento unitario - que nds, porém, esquecemos ou percebemos na €poca apenas inconscientemente - desencadeia uma sen- sacdo de familiaridade que é transferida Na maioria dos casos, 0 fendmeno ocorre na sequéncia de uma situagdo de tens&o, quando, apos 0 pertodo de vigilancia e depois de cansaco, finalmente relaxamos para toda a “composicao” Algumas suposicdes também se baseiam no processamento inconsciente de infor- macées, afirmando que falhas de aten- ¢ao seriam as responsaveis pelo déja-vu' ao dirigir um carro. por exemplo. vocé se concentra no transito. Vocé vé uma mulher de blusa vermetha na calcada, com um cachorrinho na coleira, mas nao registra a cena conscientemente. Um instante de- pois, vocé tem de pararno semaforo e tem tempo de olhar em volta com calma. Nes- se momento, a mulher que atravessa com A p> especial + déja-vu 0 cdo lhe parece estranhamente familiar. apesar de vocé achar que nunca a viu antes. Expressa de forma generalizada, nessa situac&o. a primeira percepcao sob distracdo € imediatamen- te seguida de uma segunda com atengao total. A informagao pouco antes interiorizada inconscientemente é interpretada de forma errénea como lembranca. Estudos sobre a percepcao subliminar fornecem supor- te empirico para essa hipotese. O psicologo Larry L. Jacoby, da Universidade de Washington em St. Louis. e seus colegas mostraram em 1989 aos participantes de seu estudo uma pa- lavraem um monitor durante tempo tao curto que eles mal pu- deram percebé-la. No entanto. os voluntarios declararam com mais frequéncia, mais tarde, durante uma nova apresentacao mais longa da mesma palavra. que ja a haviam visto antes. O Processamento inconsciente de estimulos subliminares faz com que estimulos posteriores semethantes sejam processa- dos mais rapidamente - um procedimento denominado pri- ming (preparacao) e hoje ja bastante estudado. Essa e outras hipdteses sobre a atencdo impressionam 42 re especial + déja-vu principalmente porque sdo bastante ade- quadas as circunstancias que acompanham 0 déja-vu. No inicio do seculo passado, Gerhar Heymans, considerado o fundador da psicologia na Holanda. realizou um es- tudo com 42 universitarios. O pesquisa- dor lhes pediu que, durante seis meses, Ppreenchessem um curto questionario imediatamente apds uma experiéncia de déja-vu. As- sim. descobriu que pessoas que sofrem de variacées de hu- mor, fases de apatia ou que tém um ritmo de trabalho irre- gular sao mais afetadas por essas ilusées da memoria Varios autores associam os déja-vus a um grande volume de viagens, forte cansaco e grande fardo devido ao estresse. Em um estudo da Universidade de Halle-Wittenberg. 46% dos estudantes se lembravam de estar mais relaxacios na ocasiao do fendmeno; cerca de um tergo chegou mesmo a descrever seu estado de espirito como alegre. Provavelmente, 0 déja-vu ndo € desencadeado imediata- mente no momento da tensao por estresse. quando estamos extremamente vigilantes. mas depois. quando nos tornamos cansados e relaxamos. Porém, também sao plausiveis outras circunstancias nas quais nds, por um curto periodo, nao perce- bemos mais nosso entorno conscientemente. Um de nossos estudos com mais de 300 universitarios mostrou. por exemplo. que déja-vus estéo fortemente relacionados a capacidade de mergulhar em fantasias, deixando-se levar pela imaginacao. Hoje os deja-vus estao incluidos entre os disturbios da memo- ria, mas nada indica que pessoas que os experimentam com frequéncia sofram de problemas nessa area. especial,» déja-vu ee Ny Durante a vivéncia, duvidamos da realidade por uma fragao de segundo. Para neurocientistas, observar o fenédmeno pode ajudar a entender melhor a consciéncia, os disturbios de memoria como 0 cérebro produz uma imagem continua do que experienciamos > especial » deja-vu Ha mais de um século ja se especulava sobre o que seria realmente o deja-vu. Uma das conquistas recentes da ciéncia € a diferenciacao entre 0 fendmeno e disturbios especificos. Por exemple: alucinagdes sao percep¢des nado associadas a estimulos externos, enquanto as imagens no déja-vu sao sem- pre vinculadas a realidade. A ilusao, neste Ultimo caso, consiste no fato de que, por um curto instante, algo desconhecido de- sencadeia uma sensacao de familiaridade. Atualmente, os fundamentos neuronais do déja-vu ainda sao conhecides apenas de forma fragmentada. Durante mui- to tempo, foi bastante popular a ideia de que uma transmis- so neuronal atrasada seria responsavel por ele. Naturalmente. nos mais altos centros de processamento do cérebro. as infor- magées ambientais vindas de diferentes regides precisam ser fundidas a qualquer momento em uma impressdo coerente. Seria, portanto, muito plausivel que atrasos em um dos cami- nhos de transmissao causassem uma grande confusao e tal- vez também um déja-vu O pesquisador Robert Efronja causou sensacao em 1963 com uma teoria detalhada, feita no Hospital Ad- Avaga ministrativo dos Veteranos em Boston, em sensacao de ja conhecermos um local apesar de o visitarmos pela primeira vez faz com que algumas pessoas vejam ai um indicio da reencarna¢ao Massachusetts. Seus experimentos com a percepcao temporal o levaram a hipdtese de que o hemisfério esquerdo. mais es- pecificamente o lobo temporal. seria res- ponsavel pela organizacao de tempo das impress6es que chegam ao cérebro. Ali, todas as imagens apreendidas pela viséo chegariam duas vezes, consecutivamen- te, com um intervalo de poucos milisse- gundos - uma vez diretamente, outra com 45 > especial + deja-vu um desvio pelo hemisfério direito. Se a transmissao indireta se atrasasse por algum motivo, entéo o lobo temporal esquerdo perceberia a diferenca interpretando a cena, na segunda vez, como algo que ja ocorreu. Conexées com epilepsia A ideia basica de Efron da dupla percepcao até hoje nunca foi refutada nem comprovada e. por outro lado, sabe-se que os lobos temporais tem um importante papel. Assim, alguns pacientes com dano nessa regiao cerebral relataram experién- cias frequentes de déja-vu.O mesmo ocorreu com pessoas que sofriam de epilepsia. Foi constatado que 0 foco epilético se encontrava no lobo temporal A partir dai, alguns estudiosos supuseram que os deja-vus fossem nada menos que minia- cessos do cérebro. Avancos no campo da neurologia logo reforcaram a impor- tancia do lobo temporal. Quando um grupo de pesquisadores, coordenado pelo neurocirurgido Wilder Penfield (1891-1976), em Montreal. estimulou eletricamente 0 cerebro aberto de seus pacientes epiléticos durante uma operacado em 1959. al- guns deles relataram experiéncias do tipo déja-vu. O neurofi- siologista Jean Bancaud (1921-1993) e seus colegas do Centro. Paul Broca, em Paris, fizeram um relato semelhante em 1994: a estimulacao do lobo temporal lateral ou medial desencadeou ocasionalmente em seus pacientes “estados oniricos”. entre os. quais 0 déja-vu também esta incluido. Apesar de ser questionavel o quanto a experiéncia desen- cadeada artificialmente se assemelhasse a natural. as desco- bertas sao plausiveis: afinal. o lobo temporal medial compro- vadamente participa da memoria declarativa e consciente. O hipocampo é fundamental para memorizacéo de eventos es- > especial « deja-vu Quando vivemos _petificos. 0 que nos permite revivé-los essa experiéncia, mentalmente mais tarde. como um filme. Ao seu lado esto 0 cértex para-hipocam- pale o rinal, assim como as amigdalas. . John D. E. Gabrieli e pesquisacores da um momento; Para Universidade Stanford apresentaram na os cientistas, os Science resultados que sugerem que 0 pequenos “erros" cortex para-hipocampal e o hipocampo ajudam a entender cumprem diferentes funcdes no processo ofuncionamento — da memoria enquanto 0 ultimo permite a dos processos lembranca consciente de vivéncias, 0 giro de consciéncia para-hipocampal poderia distinguir entre estimulos conhecidos e nado conhecidos, e sem obrigatoriamente recorrer a uma lembran¢a concreta. A partir disso, Josef Spatt, do Instituto Ludwig Boltzmann, por exemplo. formulou em Viena a hipotese de que um déja-vu sur- ge quando 0 para-hipocampo desencadeia uma sensacéo de familiaridade sem a participacao do hipocampo. Nesse instante, uma cena momentaneamente percebida seria entendida como conhecida, mesmo que nao possa ter clara referéncia temporal. Provavelmente. diversas regides cerebrais participam do dé- Jja-vu: a intensiva sensacdo de estranhamento de si mesmo e da realidade, por exemplo, assim como a no¢ado de tempo as ve- zes alterada indicam complexos processos conscientes. Duran- te um déja-vu. nos duvidamos da realidade por uma fragéo de segundo. Ao mesmo tempo. essa pequena falha possibilita aos. neurocientistas observar processos da consciéncia. Talvez as proximas pesquisas sobre déja-vu ajudem nao apenas a expli- car como surgem disturbios de memoria, mas também como o cerebro consegue produzir uma imagem continua da realidade. tendemos a duvidar da realidade por a7 r especial « déja-vu Fabrique seu proprio déeja-vu Pesquisador criou técnica para que voluntarios tivessem a impressao de ja ter ouvido determinada palavra, quando na verdade apenas haviam feito uma associagao . com outras de sentido proximo re especial + déja-vu estudo metodologico sobre a sensacao de ter vivide algo que nao foi experienciando de fato nao é simples, ja que o fendmeno nao se anun- cia, algumas pessoas nunca o tém e outras ra- ramente o experimentam. Por causa disso. cientistas quase sempre tém de confiar na memoria dos voluntarios quando eles relatam 0 fendmeno - o que nem sempre garante in- formagoes precisas. Para driblar essas dificuldades, o psicdlogo e neurocien- tista Akira O'Connor. pesquisador da Universidade de Saint Andrews, na Escécia, desenvolveu técnicas para estimular voluntarios que participavam de seus experimentos a viver experiéncias de deja-vu. Para induzir os participantes a essa sensa¢ao, O'Connor e sua equipe liam para eles uma lista de palavras relacionadas, como cama. travesseiro. noite, sono. Pelo menos uma vez na vida A expressao déja-vu — em francés, “jd visto antes” — foi utilizada pela primeira vez em 1876 por Emile Boirac (1851-1917). Provavelmente, foi inspirada pelo poema Kaléidoscope, do francés Paul Verlaine (1844- 1896); 0 autor, no entanto, utilizou outra expresso, déja vécu, que tem significado aproximado, quer dizer ja vivido antes. Em 1896, 0 médico F. L. Arnaud adotou a expressao e passou a usé-la no campo cientifico. Dados sobre quantas pessoas tém déja-vus variam de estudo a estudo. A maioria das pessoas adultas jé teve pelo menos uma experiéncia desse tipo em sua vida e, em geral, relata que, apesar da familiaridade com o acontecimento, Ihe falta a lembranga concreta. O fenémeno esté entre as mais frequentes formas de paramnésia, entre as quais se incluem disturbios de meméria como lembrancas adulteradas, ilusdes e alucinacdes. Com 0 aumento da idade, os déja-vus costumam ser cada vez menos relatados. Talvez 0 fenédmeno realmente nao ocorra mais com tanta frequéncia nas fases mais tardias da vida. Mas também é possivel que idosos prestem menos atengio a eles ou os esquecam mais facilmente. 9 > especial » deja-vu O'Connor e sua equipe liam uma lista de palavras relacionadas, como cama, travesseiro, noite, sono. No entanto, nao pronunciavam 0 vocabulo que uniria todas No entanto, nao pronunciavam 0 vocabulo elas: nesse que uniria todas elas: nesse caso. ‘dormir’. caso, “dormir” Se nessas circunstancias alguém per- guntasse aos participantes se acredita- vam té-la ouvido, muitos teriam a falsa lembranca de que sim. Mas o que O'Connor fazia na verdade era indagar aos voluntarios se tinham ouvido alguma pala- vra que comecava pela letra d. ao que eles respondiam que nao. E depois thes perguntava se tinham ouvido 0 vocabulo “dormir”. Os participantes estavam conscientes de que nao podiam té-la escutado (pois comeca por d). Simultaneamente. porém. a ideia thes parecia muito fami- liar Segundo reconhece o proprio psicdlogo. um problema desse tipo de método é que os participantes frequentemente dizem aos pesquisadores o que acreditam que querem ou- vir. "Com boa intencao, alguns tentam nos convencer de que realmente tiveram um déja-vu. embora saibamos que nao é@ um fendmeno real. e sim um andlogo experimental. apenas similar’, diz O'Connor. Essa constatacao nao chega a compro- meter o estudo, mas dificulta alguns aprofundamentos. 50 ooo o oa Conhecimento einformacdao aum clique. Na Loja Segmento vocé tem acesso acontetido de qualidade sobre os mais variados assuntos, da gestdo de pessoas ‘4 matematica no dia a dia, do universo da beleza profissional aos mistérios da mente humana. 0 que vocé precisa para ampliar sua visdo de mundo estd em nossas revistas, livros, DVDs, eventos e cursos. Acesse e confira. Oo Oo Oo Oo Oo 00000 (segmento www.lojasegmento.com.br oo saude mental A arte de ouvir o silencio Autora de um livro recém-langado no Brasil, monja zen-budista prope exercicios praticos para aquietar amente e acessar a sensagao de bem-estar e centramento, independentemente do lugar onde vocé esteja Pe saude mental ao seis da tarde. Nesta época do ano, a noite cai cedo e mergulha a floresta numa doce penumbra. O vento brando nas arvores. 0 repique dos sinos da igreja ao longe. depois os do templo protestante, como um eco. Os passaros se calam. Um farfalhar e alguns estalos sugerem a presenca de animais selvagens. Aqui na regiao costumamos to- Par com corgas e javalis. sem falar num numero impressionante de aves de rapina. corvos e gatos errantes. O crepusculo é tran- uilo, como se 0 préprio tempo estivesse suspenso. O inverno é tao relaxante para quem sabe ouvi-lo! Sim: ouvir o siléncio, o espaco entre as palavras, a calma na tempestade e a passagem do tempo. Reaprender a provar: 0 sabor de um instante, 0 aroma de um prato, a espuma dos dias e o calor do fogo. Rea- Alguns segundos de siléncio “roubados" de nossa rotina atarefada sao como um desvio ‘ , : prender a sentir o da estrada monotona da rotina, CORES BES FESS. Ur podem mudar o estado mental coragdo que bate, o eo tom de um dia inteiro espaco que se abre e ‘0 tempo que para Mas vale assinalar 0 fato de que o siléncio nao tem nada a ver com a auséncia de barulho. Todo mundo ja viveu a experién- cia do ilimitado em algum momento: caminhando no coracéo, de uma floresta; parando subitamente em meio a uma multidado em movimento; voltando para casa de dnibus no meio da noite: escutando as conversas de amigos - de longe - sem realmente ouvi-las.. Todas as vezes, o silencio estava a espreita. Entre as palavras, entre as imagens habituais, entre as sensa- ¢6es familiares. existe um universo paralelo. uma calma absolu- 53 re saude mental ta e benéfica, e seu acesso é zelosamente guardado pelas sen- tinelas da concentra¢ao e da aten¢ao plena. Pois entao sejamos claros: o siléncio nao tem nada, mas rigorosamente nada a ver com a auséncia de barulho! Seria simples demais. Se. para saborear o siléncio e a paz in- terior, bastasse nos trancarmos duas horas por dia numa capsu- la de isolamento sensorial. todos fariam isso! axa fugir Q, Muito na moda nos anos 1970, os cha- & ETreTeSaG) ° 6. Mados tanques de flutuacao ressur- so” computador, fixeum ponto © giram recentemente nas grandes 3 emqualquer lugar da tela. 0 & cidades. Como essa pratica é 0. recite fae eae 3 desaconselhavel aos claustro- direcgo precisa. Em seguida, permita que surja uma nova percepedo do seu fobicos e inacessivel aos orga- corpo e uma a percepgaio “ mundo = mentos mais modestos, preferi que o cerca, Respite profun propor aqui experiéncias mais @ sentindo o ar passar por suas narinas. S* ps Faca essas pausas visuais detrés © poéticas completamente gra- minutos a cada duas horas tuitas. O universo sonoro € mais rico € sua busca pelo siléncio. sem duvida, bem diferente da nossa. De tanto conviver com esses especia- listas. aprendi a erquer minhas prdéprias orelhas com entusiasmo, e curiosidade em todas as direcdes. Ouvir mais me conecta ao momento presente e - em ultima instancia - ao silencio. Quando volto a agitagao da cidade. quase sempre preciso fa- zer 0 caminho oposto. E bem dificil. depois de passar horas de- 33 re saude mental Instale em seu celular senvolvendo uma sensibili- um aplicativo de “gongo” dade auditiva, retornar ao ou “sino de mindfulness”. caldeirao barulhento que Existem varios aplicativos gratuitos, que podem ser ajustados a frequéncia @ 0 centro urbano. COME gue voc8 programa. De hora em hora, r encanto, meu cérebro. 1 exermplo. Quando o alerta soar, por exempl adotou uma ‘fenica bas- relaxe o maxilare sinta o efeito . de um relaxamento total tante simples e eficaz para no corpo lidar com isso: 0 esquecimento sonoro. Em meio a correria do dia a dia, nosso cérebro “se esquece” de escutar. Ou seja: deixa os sons passarem pelo corpo sem prestar atencdo neles. E muito pratico e € o que a maioria das pessoas faz de maneira incons- ciente para sobreviver & cacofonia do ambiente. Exceto quando estamos muito cansados, os sons so chegam até nds filtrados, gracgas a uma espécie de dessensibilizagdo sonora automatica. Nossa capacidade de adaptacao é realmente notavel E a boa noticia € que, embora nao pareca, as cidades também est&éo Cheias de silencio e serenidade! p> saude mental Um minuto, por favor Nada melhor que uma pequena experiéncia para testar a ma- gia do silencio em tempo real. Nao importa onde vocé esteja neste momento: no dnibus, na sua cama, debaixo de uma ar- vore. em Sdo Paulo, na Tailandia... Erga os olhos neste momento. Observe 0 que ha ao seu redor. reto- Toda manha, me a consciéncia de seu corpo, de sua respira- antes de sair da cama, tome consciéncia de seu Cao. € fique exatamente onde esta. sem fazer primeiro pensamentoao nada, por alguns segundos. Um minutinho. despertar. Deixe-o passar, 2 Sessenta segundos bem mais agradaveis do observe o seguinte e | comece o dia de maneira que aquele minuto de siléncio que comparti- consciente lthamos em caso de luto nacional. Trata-se aqui de um minuto de silencio volun- tario, retirado da marcha do tempo. Um “minutinho* de siléncio. Nada melhor que uma pequena experiéncia para testar a magia do silencio em tempo real Tome um tempo para esse exercicio simples. Pode comecar. Vocé percebeu os segundos se passando? Sentiu o tempo correndo mais devagar? Um espaco diferente se abre e os con- se ae re sauide mental Pelo menos uma ou duas vezes por semana, almace sozinho e em 7 silncio, sem o celular por perto. tornos do mundo ficam mais niti- ki pelea Uma solidao consentida e luminosa. dos. E isso nao é nada se com- Nessa pausa voce dedicara ternpo a parado a todas as descobertas —_mastigar cada pedaco, saboreando com é consciéncia a sua refeigao. Vocé vai cue voc® poderia fazer se paras A te tes caue se algumas vezes ao longo do dia um imenso espaco de tranquilidade e olhasse para 0 céu. Nosso minu- pode surgir mesmo no meio to de siléncio parece parar 0 tempo. de um dia agitado. A AUTORA KANKYOTANNIER é monja zen-budista, ‘autora de recém langado A magia do silencio (Sextante, 2018). Este artigo fo) adaptado ‘com base na obra, ‘com autorzacae daedtora E magico! E mais facil de constatar quando © corpo tambem permanece imovel Entao tente praticar esse minuto de siléncio sem se mexer. apenas fique atento ao que muda e acontece. Para entrar de verdade nessa experiéncia, pense na seguinte metafora: voce esta dirigindo em alta velocidade na estrada. A paisagem desfila la fora, familiar, reconfortante; ha uma curva aqui, outra ali, mas a maior parte do caminho segue em linha reta. Vocé se sente seguro. Mas é grande o risco de comecar ase entediar. Nao ha muito que ver, os pontos de parada sao sinistros e 0 ar dentro do carro parece sufocante. E se vocé pe- gasse a primeira saida? E se explorasse uma estrada diferente por alguns quilémetros? E se tentasse pegar a ‘trilha menos per- corrida"? Um minuto de siléncio roubado de nossa rotina atare- facia € como um desvio da estracia mondtona - pode mudar o tom de um dia inteiro. 87 livros | langamentos Cancer - Quando a vida pede por um novo ajuste Bel Cease Cais, 2018. 37% pigs. RS 43.0, O cancer revisitado Autora especializada no acompanhamento de pessoas com doengas terminais partilha sua experiéncia em tom ao mesmo tempo delicado e assertivo psicéloga Bel César est4 acostumada a lidar com a realidade da mor- te iminente. Com formaco em musicoterapia no Instituto Orff, em Salzburgo, naAustria,atualmenteelatratadepessoascom quadrosdeestresse pés-traumatico, seguindo o método Somatic Experiencing (SE), e se baseia em pre- ceitos e filosofia do budismo tibetano tanto para acompanhar pacientes que se pre- param para morrer quanto para ajudar familias a lidar com o luto. No ano passado, trés semanas antes de embarcar para uma viagem 2o Tibete, ela recebeu 0 mesmo diagndstico que, $6 entre 2018 e 2019, aproximadamente 1,2 milhao de brasileiros tiveram ou ainda terdo de enfrentar, segundo estimativas do Instituto Nacional do Cancer (Inca). Os tumores de tiroide, que acometeram a psicdloga, estdo entre os cinco tipos de cancer mais frequentes entre mulheres. Ela ouviu o médico dizer: “Seu ultrassom indica nédulos bilaterais a direita, de limites maldefinidos, com cal- cificagées internas ¢ vascularizacdo central”. E decidiu tornar sua experiéncia signi: ficativa, de forma que pudesse trazer beneficios para outras pessoas. O resultado dessa jornada é 0 livro Cancer - Quando a vida pede por um novo ajuste. livros | langamentos Escrita em tom generoso e pessoal, a obra apresenta informagées técnicas, mas nao se furta ao tom emocional. Estado presentes no livro a tristeza inicial com © recebimento da noticia, a extrema importancia do amparo recebido das pessoas queridas, as dividas sobre decisées a serem tomadas, as certezas que surgiram quando, em meio ao turbilhao, a mente pode silenciar. “Escrever foi importante para me manter motivada para buscar novas informa- ges sobre o cancer da tiroide e 05 aspectos mais comuns que envolvem esse as sunto, como as diferentes opinides médicas sobre a possibilidade de fazer ou no cirurgia, a real necessidade de extracZo total dessa glandula e os tratamentos mais adequados apés a cirurgia, a exemplo da iodoterapia e do uso da levotiroxina com- binada ou ndo com outros horménios naturais bioi- dénticos”, afirma a psicéloga na abertura da obra, ‘Além de dar énfase aos dados cientificos, Bel Cé. sar retoma sua histdria bem anterior ao diagnéstico. “Actedito que uma experiéncia pessoal compartilha- da beneficia tanto quem escuta como quem relata. Escutar a narrativa de alguém frente a um desafio comum e face a face com o desconhecido nos ajuda a reconhecer € aceitar nossas forgas e vulnerabilida- des; contar o que aconteceu nesse proceso amplia a percep¢do que temos de nossa propria historia.” “Acredito que uma Autora de varios livros — Morrer nao se improvisa experiéncia pessoal (Gaia, 2005), O livro das emogoes (Gaia, 2004), Ma- compartilhada beneficia nia de sofrer (Gaia, 2006), Stitil desequilibrio do estres- tanto quem escuta como quem relata. Escutar a narrativa de alguém frente aum desafio comum e face a face com o desconhecido nos ajuda a reconhecer e aceitar nossas forcas e vulnerabilidades; contar o que aconteceu nesse processo amplia a percepcdo que temos de nossa propria histdéria” se (Gaia, 2011), ¢ Grande amor (Gaia, 2015), entre outros -, a psicdloga partilha também os ensina- mentos budistas recebidos e praticados nos ultimos 30 anos, assim como sua experiéncia clinica com 0 método Experiéncia Somitica. E discorre de manei- ra direta ¢ cativante a respeito dos caminhos que percorreu no Tibete e na China, acompanhada por seu mestre, Lama Gangchen Rinpoche, e seu filho, Lama Michel Rinpoche — um trajeto em busca da cura do cancer, mas n&o sé, também do equillbrio do corpo, da mente e da alma. 59 livros | caixa ludica eau PS a ‘Amenina feita de “Nem-te-ligo" cee feito de nuvens Com delicadeza, livro conta a historia de uma garotinha com vitiligo, uma doenca autoimune caracterizada pela despigmentacao da pele er diferente nem sempre é facil — principalmente na infancia, quando 0s olhares ou atitudes de outras criancas (e até mesmo de adultos) podem despertar sentimentos de rejeicdo e, eventual mente, traumas emocionais. A designer gréfica Tati Santos de Oliveira, mae de Maria Luiza, de 6 anos, e Joao, de 3, encontrou uma maneira delicada de lidar com as marcas do vitiligo que, hé aproximadamente dois anos, comegaram a aparecer pelo corpo da filh riou uma narrativa amorosa sobre a situacao © resultado € 0 livro A menina feita de nuvens, no qual Tati conta jus- tamente a histéria de Maria Luiza, uma garotinha de cabelos negros que tem um “segredo’ sua pele ¢ enfei- tada com manchinhas que lembram Goriurnoneniihae beaneas, nuvens branquinhas (que as vezes se que As vezes se tomam rosadas tornam rosadas como algodao-doce como algodiio-doce ou sorvete de ou sorvete de morango, quando a me- ™morango, quando ela se exp6e ao sol_—_ "ina se expoe ao sol). Algumas formas se parecem com flores, barquinhos e bichinhos que ga- nham até nome. Porém, nem sempre é facil lidar com o preconceito de pes- soas que no sabem apreciar a beleza de ter nuvens pelo corpo - e as vezes, Maria Luiza se entristece. Por isso ¢ tao importante ter gente carinhosa por perto e uma histéria que a ajude a se lembrar de que no hé vergonha ou pro- blema nenhum em ter vitiligo - ou “nem-te-ligo”, como ela mesma costuma dizer. (Por Glaucia Leal, editora-chefe de Mente e Cérebro) livros | caixa lidica O vitiligo ¢ uma doenca dermatolégica autoimune nao transmissivel, caracterizada pela perda da pigmentacao natural da pele. Patologicamente, o vitiligo caracteriza- se pela reducao no ntimero ou funcao dos melanécitos, células localizadas na iderme responsaveis pela producao do pigmento cutaneo, a melanina. © proprio sistema imunoldgico se desorganiza e o sistema que confere cor a pele falha. O problema pode surgir em qualquer idade, mas é mais comum entre os 10 ¢ 15, anos e dos 20 aos 40,Embora nao haja consenso a respeito da causa, psicdlogos e médicos consideram que fatores emocionais, como estresse e ansiedade, costumam desencadear ou agravar 0 quadto. As manchas brancas, chamadas hipocromia, surgem em variados tamanhos, em qualquer parte do corpo, © maior problema enfrentado pelas pessoas com a doenca (algo em torno de 1% da populacio brasileira) ¢ o preconceito. Um estudo desenvolvido no Programa de Pés-Graduacdo em Psicologia da Universidade Federal de Sao Carlos (UFSCar) aponta que mulheres com vitiligo apresentam mais risco de desenvolver baixa autoestima e depressio. ‘Segundo a pesquisadora Larissa Ruiz, os pacientes se constrangem com preconceito em relacdo a doenca, em grande parte provocado pelo medo infundado de contagio. A psicéloga enfatiza que o impacto psicolégico da despigmentacao da pele nao pode ser negligenciado. Nesse sentido, A menina feita de nuvens pode ser de grande ajuda para combater o preconceito. 6 00 00 00 Conhecimento einformacao aum clique. 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