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Alunas: Isabella Feques Amorim 15/0130635 e Rebeca de Camargos Lopes 19/0095032

Introdução
A violência e o espistemicídio foi um artifício amplamente utilizado durante a
colonização em países da América e posteriormente na colonização da África quando a mesma
foi partilhada entre os impérios europeus. Milhares de pessoas foram sistematicamente
assassinadas, torturados e forçados ao trabalho exaustivo. Em África, o processo de colonização
não foi muito diferente, se estipulou que se falasse a língua dos estrangeiros, também se utilizou
de escravismo e torturas, o que resultou na morte de milhares de pessoas e em acontecimentos
vergonhosos como o genocídio na República Democrática do Congo, liderado pelo imperador
Belga Leopoldo II bem como na exclusão, silenciamento e culpabilização dos povos
colonizados.
A violência e o epistemicídio como processo de dominação
Segundo Fanon (1961, p. 31-32), a violência foi usada também para impor a supremacia
dos valores do colono sob o colonizado, fazendo com que o ultimo fosse bestializado,
animalizado. O epistemicídio é uma forma de silenciar um povo subalternizado, tirando a
importância e o valor de sua história bem como a recusa de seus conhecimentos. Ballestrin
(2013, p. 101) diz ainda que essa violência era justificada por se tratarem de seres bárbaros, não
civilizados e que os mesmos precisavam ser controlados, para não se opor ao modelo social e
moral colonizador, era uma espécie de “guerra justa”, esse ato violento era inevitável e por
vezes visto como um ritual de sacrifício ou de passagem, de um estado de suposta animalidade
para um estado civilizatório. A emergência da colonialidade depende da guerra, do genocídio e
da conquista.
Ballestrin em seu artigo reflete sobre o aspecto do pós colonialismo e como os
conhecimentos são produzidos dentro desta área. O pós colonialismo para além dos processos
de independência, libertação e emancipação também se tratava dos métodos de desconstrução
dos essencialismos e as concepções dominantes de modernidade (2013, p.90). Desconstrução
essa que não seria facilmente aceita e realizada, pois, todos os processos de produção de
conhecimento, narrativas históricas e demais aspectos sociais e políticos eram fundamentados
nesses valores brancos, cristãos e dentro dos conformes eurocêntricos.
Esse tipo de exclusão do conhecimento e dos saberes, bem como esse silenciamento,
justifica e também se configura como um processo de violência, internalizando na cabeça do
colonizado que ele é inferior, que ele está fora do padrão racial estabelecido, que a sua religião
é considerada errada e que ele precisa lutar pela salvação de um Deus que o vê como inferior.
Essa internalização de uma certa inferioridade imposta pelo colono faz com que o colonizado
se torne de certa forma passivo. Para Fanon, o descobrimento de que essa supremacia e de que
sua vida não tem menor valor que a do colono causa um tipo de reação interna e dá uma
segurança revolucionária ao colonizado (1961, p.33-34).
Ballestrin pensa essa questão decolonial dentro do estudo acadêmico e das suas
produções, como que esses intelectuais podem continuar produzindo um estudo ainda
contaminado pelas ideias eurocêntricas e como alguns ainda não conseguem romper com a
episteme centro-norte, preferindo autores ocidentais (2013, p. 95-96). Sobre essa questão dos
intelectuais coloniais, Fanon também desenvolve a ideia de que eles, mesmo com uma intenção
de causar uma ruptura, acabam se perdendo do objetivo principal, que é a derrota do
colonialismo esquecendo de ver o problema como um “todo”, pois a divisão das disciplinas em
especialidades e domínios o fazem perder de vista a unidade do movimento(1961, p.37).
Considerações finais
O fato é que esse processo de desconstrução, segundo Fanon, não pode ser feito abrindo
mão da violência, que outrora foi utilizada para impor o mundo colonial (1961, p.25-26). A
descolonização pressupõe uma mudança na ordem, o que pode ser percebido nos processos de
independência de países como Haiti, México e demais países da América. Mas outro aspecto
da violência que pode ser percebido hoje é a urbana, causada principalmente pela desigualdade
e exclusão do mundo capitalista moderno, onde as cidades são divididas e uns tem mais
privilégios que outros. Isso cabe na noção de “exclusão recíproca” dita por Fanon, onde duas
zonas entramem conflito.
Essa zona dual de conflito que Fanon diz é sobre a cidade do colono, que tem
infraestrutura, é moderna, abriga os centros de trabalho e a cidade do colonizado, uma cidade
de corpos escuros, mal planejada, faminta. Esse aspecto de exclusão recíproca e desigualdade
é a realidade de muitos países que foram colonizados na América, as favelas seriam essa cidade
do colonizado, vista como um vetor da violência e uma ameaça a segurança e integridade do
“asfalto”, a cidade do colono. O colono se mantém afastado e protegido desse mundo através
das forças coercitivas do Estado, usadas para deter esse colonizado que leva a culpa pela
violência, Ballestrin (2013, p.101) também fala sobre essa culpa do colono e como isso também
é utilizado como justificativa para a violência, para o aprisionamento e para o afastamento
dessas pessoas das cidades e dos centros.
Bibliografia
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, n. 11, pp. 89-117, 2013.
FANON, Frantz. Da violência. In: FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio
de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968. pp. 23-74.

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