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Pesquisa e do
Trabalho Científico
Claudio Kleina
ÉTICA
E METODOLOGIA
CIENTÍFICA
Parte
1 O pesquisador, o trabalho
e o conhecimento científico
A pesquisa não ocorre apenas em grandes laboratórios e instituições de ensino. Ela está presente
em nosso dia a dia. Assim, por exemplo, se quisermos nos bronzear na praia, com o tempo teremos
aprendido qual o fator de proteção do creme, qual o tempo de exposição ao sol e quais os melhores
horários. Como conseguimos chegar a esse conhecimento, se para cada pessoa esses indicadores são
diferentes?
Uma possibilidade é a experiência: vou testando protetores solares com diferentes índices de pro-
teção e em diferentes horários, verificando os resultados.
Outra forma pode ser por meio de pesquisa em revistas, livros e internet, buscando os horários e
os fatores de proteção mais indicados para minha cor de pele. Posso também perguntar a alguém que
sempre vai à praia se bronzear e tem a cor da pele semelhante à minha.
Como podemos observar, há diversas formas de buscar o conhecimento. E os caminhos percorri-
dos referem-se ao tipo de pesquisa que usamos para chegar a esse conhecimento.
No dia a dia nos deparamos com diversos tipos de conhecimento que têm seu valor em determi-
nadas situações. Vejamos alguns:
• Conhecimento empírico (também chamado conhecimento popular ou senso comum) – é
o conhecimento obtido por meio da experiência e do uso dos nossos sentidos (visão, audi-
ção etc.). Esse conhecimento, na maioria das vezes, é gerado ao acaso, mediante ações não
planejadas. Esse conhecimento é transmitido entre grupos de pessoas, familiares e tradições
culturais. Exemplo: “As plantas produzem mais quando são plantadas na lua crescente”.
• Conhecimento filosófico – é o conhecimento racional, geral, sistemático e crítico gerado por
meio da reflexão subjetiva com objetivo de dar sentido aos fenômenos gerais do universo.
Trabalha com ideias e relações conceituais que transcendem a realidade material e a própria
ciência. Exemplo: “Qual o sentido da vida?”.
• Conhecimento teológico – é o conhecimento gerado e mantido pela fé ou crença religiosa.
Apoia-se em doutrinas e textos sagrados que apresentam verdades que não devem ser ques-
tionadas ou postas em dúvida, apenas aceitas. Exemplo: “Meu filho tinha câncer e foi curado
por um milagre”.
Parte
2 Grupos de trabalho e
relacionamento ético
Dificilmente realizaremos uma pesquisa científica sem o envolvimento de outras pessoas,
visto que podemos ter mais de uma pessoa trabalhando no mesmo projeto, como, o orientador –
no caso de um Trabalho de Conclusão de Curso, ou pessoas que fazem parte da população pesquisada
etc. Cada ser humano é diferente, tem sua formação, princípios e características próprias, e trabalhar
com pessoas requer essa compreensão.
A ética é o conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade
e tem função de equilibrar o funcionamento social para que ninguém saia prejudicado. No trabalho em
grupo, a base do relacionamento ético é conhecer a outra pessoa, saber suas competências e limitações.
É comum que cada integrante do grupo tenha expectativas e envolvimentos diferentes na realiza-
ção do trabalho em conjunto.
Assim, por exemplo, posso ter em minha equipe uma pessoa muito ansiosa e outra muito calma.
Uma que quer fazer pesquisa para tirar nota máxima e outra que se satisfaz em obter nota suficiente
para ser aprovada. Quanto maior a diferença de perfil entre as pessoas envolvidas numa pesquisa, maior
será a dificuldade.
Portanto, é necessário que no início da realização de uma atividade esteja bem claro o que se es-
pera de cada uma das pessoas envolvidas e o grau de qualidade do trabalho.
Alguns elementos devem estar presentes na realização de um trabalho em equipe, como:
• empatia – colocar-se no lugar do outro;
• cordialidade e assertividade – saber como falar;
• autoconhecimento – conhecer as próprias características positivas e negativas;
• ética – não agir de forma deliberada para comprometer alguém ou quebrar acordos e
compromissos.
Outra questão que devemos considerar é que trabalho em equipe não é trabalho em grupo. O tra-
balho em grupo pode ser considerado uma linha de produção, onde há divisão do trabalho e cada um
se preocupa em fazer somente sua tarefa. O trabalho em equipe requer que cada integrante saiba o que
todos estão fazendo e reconheça a importância para o sucesso da tarefa.
Svinkin/Shutterstock
O objetivo final do trabalho em equipe deve estar claro para todos os integrantes e a comunicação
é fundamental para sua concretização. Como a atividade em equipe é resultado de um esforço conjunto,
o sucesso ou fracasso é responsabilidade de todos. Dessa maneira, quando algum membro da equipe
está enfrentando alguma dificuldade na execução de sua tarefa, deve haver um esforço conjunto com
a finalidade de superá-la.
O estudo sobre a ética nas pesquisas científicas baseia-se na reflexão acerca das questões morais
da conduta humana na produção de conhecimento.
No Brasil, questões éticas sobre a realização de pesquisas foram levantadas principalmente me-
diante a preocupação com a exposição dos sujeitos da pesquisa na área médica, motivando a criação de
diversos comitês de ética que validam os projetos de pesquisa antes de sua realização.
A integridade da pesquisa envolve o respeito às normas éticas de publicação, visando evitar frau-
des, dentre as quais estão: falsificação, manipulação ou fabricação de dados, duplicidade na publicação
e plágio (PITHAN; OLIVEIRA, 2014).
A integridade da pesquisa não deve estar presente apenas no momento da redação do texto. Deve
permear todo o processo de obtenção dos dados, respeitando todas as pessoas e instituições envolvidas.
Deve-se ter o cuidado de não expor, julgar ou agir de forma preconceituosa em relação às pessoas que
participam da pesquisa.
Lembre-se que o pesquisador deve ser neutro e interferir o mínimo possível no meio em que rea-
liza seu estudo.
Parte
4 Propriedade intelectual e legislação
1 www.ufal.edu.br/nit/propriedade-intelectual
Parte
5 Plágio, infrações éticas e punições
O plágio acadêmico ocorre quando um aluno faz uso de ideias, conceitos ou frases de outros auto-
res de livros, artigos, revistas e conteúdos disponibilizados na internet, sem citar o autor original como
fonte de pesquisa.
Reproduzir, mesmo que em pequenas partes ou com alteração de algumas palavras do texto origi-
nal, sem indicar a fonte também é considerado plágio.
Os alunos devem ser capazes de articular os conceitos obtidos com a leitura de materiais de outros
autores para fundamentar e embasar suas próprias conclusões. É uma atividade difícil, pois exige muita
leitura, interpretação e reflexão que muitos alunos não estão dispostos a fazer, principalmente com a faci-
lidade de copiar textos já elaborados e disponíveis na internet.
Porém, é um processo de aprendizagem que permitirá ao aluno dar maior solidez aos trabalhos
acadêmicos, pois todas as afirmações e conclusões estarão embasadas em autores e não apenas no
“achismo” ou no senso comum. A norma para citações em trabalhos acadêmicos é a NBR 10520/2002,
a qual contém a forma correta de citar diferentes tipos de materiais, como artigos, teses, textos de jor-
nais, revistas, filmes etc. Vale lembrar também que, além de citar de forma correta, todos os autores
mencionados no texto deverão estar listados ao final do texto em Referências.
Segundo o Instituto de Arte e Comunicação Social:
O plágio acadêmico se configura quando um aluno retira, seja de livros ou da Internet, ideias,
conceitos ou frases de outro autor (que as formulou e as publicou), sem lhe dar o devido crédito,
sem citá-lo como fonte de pesquisa.
Trata-se de uma violação dos direitos autorais de outrem. Isso tem implicações cíveis e penais. E
o “desconhecimento da lei” não serve de desculpa, pois a lei é pública e explícita.
Na universidade, o que se espera dos alunos é que estes se capacitem tanto técnica como teorica-
mente. Que sejam capazes de refletir sobre sua profissão, a partir da leitura e compreensão dos
autores da sua área.
Faz parte da formação dos alunos que estes sejam capazes de articular as ideias desses autores de
referência com as suas próprias ideias.
Para isto, é fundamental que os alunos explicitem, em seus trabalhos acadêmicos, exatamente o
que estão usando desses autores, e o que eles mesmos estão propondo. Ser capaz de tais articu-
lações intelectuais, portanto, torna-se critério básico para as avaliações feitas pelos professores
(IACS, 2014, p. 1).
Professor orientador
O professor pode aceitar ou não o convite para ser orientador de um Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC). Ao aceitá-lo, esse professor deve garantir que o TCC fique bem elaborado e esteja em
consonância com o regimento interno da faculdade. Ao praticar o plágio, o aluno está em desacordo
com o regimento interno e o professor orientador tem o dever de informar essa situação à faculdade,
caso contrário pode ser penalizado por omissão. Dessa forma, o professor orientador responderá ao
crime de plágio com seu aluno, pois ele deve ter a capacidade de identificar tal delito.
por toda a comunidade acadêmica. Do lado dos alunos, promover a capacitação sobre a escrita de textos
científicos e a declaração de autoria, em que ele atesta a originalidade do trabalho realizado.
Extra
O texto a seguir é parte do artigo de Pithan e Oliveira (2013, p. 241), intitulado Ética e integrida-
de na pesquisa: o plágio nas publicações científica.
Embora o uso da expressão “integridade na pesquisa” no Brasil para designar fraudes nos
artigos científicos seja recente, o tema, propriamente dito, não o é, e podemos encontrar algumas
publicações que demonstram que sua preocupação surgiu, em nosso país, praticamente na mesma
época em que os estudos sobre a ética na pesquisa.
[...]
A publicação científica feita de forma eticamente correta tem relação com a credibilidade da
ciência e com a própria reputação do autor da pesquisa, que busca reconhecimento comunitário
pelos seus estudos e descobertas.
Conforme a historiadora da ciência Maria Helena Freitas:
Ao publicarem textos, os estudiosos registram o conhecimento (oficial e público), legiti-
mam disciplinas e campos de estudos, veiculam a comunicação entre os cientistas e pro-
piciam ao cientista o reconhecimento público pela prioridade da teoria ou da descoberta.
Desse modo, as revistas científicas são arquivos através dos quais os estudiosos deixam
“testemunho da autoria de uma observação, um pensamento ou um invento”. Entretanto, para que
seja deixado este testemunho de autoria de forma íntegra e para que se garanta credibilidade na
área científica investigada, o autor de uma publicação científica deve obedecer a “regras de con-
duta ética, a padrões de qualidade, a métodos científicos de pesquisa e a procedimentos editoriais
reconhecidos no meio [...]”.
Interessante notar que, dentre os procedimentos editoriais próprios do meio científico, têm-
-se intensificado as preocupações de caráter ético, a fim de evitar diferentes tipos de fraude nas
publicações. Editores de periódicos manifestam-se neste sentido, buscando alertar seus articulis-
tas sobre a importância de publicar de forma eticamente correta, garantindo a credibilidade da
produção científica.