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O objetivo desta palestra é fazer uma breve reflexão sobre os novos horizontes
analíticos que têm surgido no campo da História da Religião, desde o debate sobre suas
categorias de análise até a exploração de novos objetos; especificamente nos interessa
apresentar o novo campo de estudos acadêmicos sobre a História do Esoterismo
Ocidental, que tem relação direção com nosso objeto de estudo no mestrado de Ciências
da Religião, o Movimento Gnóstico do esoterista colombiano Samael Aun Weor.
Os estudos positivistas vão evoluir para análises muito mais relativistas em torno
do fenômeno religioso: Gilbert Durand, por exemplo, destaca o papel do imaginário
como responsável pelas prórpias estruturas do pensamento humano, e como o mediador
de todo processo de aquisição de conhecimento; esse protagonismo das imagens na
estrutura do pensamento torna verdades subjetivas como a religião muito mais
relevantes para o pensamento e para a criação de significações do que fenômenos
observáveis (DURANT: 427). O antropólogo Clifford Geertz destaca a função cultural
da religião enquanto criador a de uma estrutura de mundo e de sentido, ordenando e
transformando a experiência humana no mundo (GEERTZ: 67).
Se as correntes esotéricas ocidentais não constituem uma cosmovisão estática, mas estão
em constante transformação, se adaptando a novas circunstâncias, isso traz à tona a
questão de como definir e delimitar o campo de estudo. De um ponto de vista
estritamente histórico a questão não é problemática: a história do esoterismo
compreende o estudo da “filosofia hermética e das correntes relacionadas”. Segundo
Hanegraaff, partindo-se do conceito wittgensteiniano de family-resemblance
(semelhança familiar), a Nova Era pode ter pouco ou nada em comum com o
hermetismo renascentista do século XV (para não mencionar os hermetistas da
antiguidade tardia) e ainda assim estar historicamente ligada a ele por meio de conexões
intermediárias. Trata-se de uma estratégia pragmática para delimitação de campo; como
definição, de uso limitado, o autor sugere um modelo que podemos resumir da seguinte
forma:
A cultura ocidental usa três estratégias gerais para “encontrar a verdade”, de
caráter típico-ideal (ou seja, não se encontram em estado de “pureza” e não são
necessariamente excludentes; pelo contrário, normalmente são complementares): a
primeira baseia-se na razão humana, na observação e na argumentação; é a abordagem
básica da filosofia racional e da pesquisa cientifica. A segunda baseia-se na autoridade
de uma revelação divina aceita coletivamente, que se acredita constituir uma visão que
transcende o humano: essa abordagem é essencial para as religiões institucionais e a
doutrina teológica. A terceira, finalmente, baseia-se na autoridade de uma experiência
espiritual pessoal ou iluminação interior: essa abordagem pode ser convenientemente
chamada de gnosis, e sempre terá uma relação problemática com as duas primeiras
abordagens, pois o fato de seus adeptos procurarem uma verdade que vai “além da
razão” pode fazer com que pareçam obscurantistas aos olhos da filosofia racionalista e
da ciência, e o fato de que eles acreditam ter um acesso pessoal à revelação divina pode
provocar a suspeita de que eles estão ignorando a autoridade da religião estabelecida e
sua fonte de revelação reconhecida coletivamente.
Em resumo: os adeptos da terceira abordagem são acusados de irracionalismo e
individualismo excessivo, ao mesmo tempo em que acusam seus adversários de serem
religiosamente autoritários ou excessivamente racionalistas e céticos (HANEGRAAFF,
2004: 492).
BIBLIOGRAFIA
OLSON, Carl. Religious Studies: the Key Concepts. New York: Routledge, 2011.
SCHULTZ, Adilson. O irrenunciável papel da Teologia nos Estudos de Religião. In
Perspectiva Teológica, n. 39. São Leopoldo: EST, 2007.