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Disciplina de Filosofia

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA. Título original: “Twelve


Angry Men”. Direção: Sidney Lumet. Produção/Distribuição:
Fox/MGM. Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley, E.G.
Marshall, JackWarden, Martin Balsam, John Fiedler, Jack Klugman,
Edward Binns, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber.
EUA. 1957. Drama.
Seguindo o encerramento do caso do julgamento do assassinato cometido por um
adolescente, os membros do júri devem chegar a um consenso sobre qual será o
veredito. Enquanto os 12 indivíduos estão fechados em uma sala para tomar uma
decisão, onze deles votam pela condenação do réu, porém um deles acredita na
inocência do jovem e tenta convencer os outros a mudarem seus votos, dando início a
um conflito que ameaça inviabilizar o delicado processo que vai decidir o destino do
acusado.

Hermenêutica do filme:
O filme em referência, decorre inteiramente no interior da sala do júri
de um Tribunal americano, na cidade de Nova York. Apenas a cena
inicial é fora desta sala. Esta, passa-se na sala de audiências, quando
o Juiz, de forma clara, orienta os doze jurados para a regra básica a
ser utilizada para a definição do veredito. Este poderia conduzir o
réu à pena de morte pelo crime de homicídio (contra o seu próprio
pai). Os jurados só deveriam condenar ou absolver o réu quando
tivessem certeza do veredito e, em caso de dúvida ou discordância
quanto a sua culpa ou inocência, deveriam utilizar do bom senso e
fazer com que prevalecesse a inocência (até que existisse

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unanimidade entre os doze).

O que o juiz quis dizer é muito simples: é necessário certeza para se


condenar ou absolver um indivíduo, para que não se cometam
injustiças e um inocente seja condenado ou se absolva um culpado.
Ambos os vereditos seriam injustos: a condenação injusta, seria cruel
para com o réu, ao lhe ser privado o direito de viver, por um crime do
qual não foi responsável; já a absolvição indevida seria injusta para
com a sociedade, colocando-a em risco ao absolver um elemento
perigoso, libertando-o indevida e prematuramente para o convívio
social.

Neste pressuposto é necessário que o júri responsável se certifique de


todas as circunstâncias atenuantes e agravantes, que observe
atentamente todas as provas e analise criteriosamente todos os
testemunhos e indícios, o que, em essência, se traduz por ser uma
análise hermenêutica (desconstrução das teses apresentadas).

Ao júri não cabe proceder a uma análise hermenêutica de um texto, de


um livro ou de um filme, mas sim de um processo judicial, onde caberá
aos jurados exprimir um veredito final quanto à culpabilidade ou
inocência do réu e, tratando-se de Tribunais de alguns Estados
americanos, esta sentença que será proferida pelo juiz, com base no
veredito do júri, poderá decidir pela pena de morte ( o que seria o
caso).

Já recolhidos à sala do júri, os doze jurados seguiram o procedimento


padrão, quando fizeram uma votação preliminar, antes mesmo de
discutir quaisquer aspetos, apenas para conhecer o entendimento
prévio de cada um e, de todos eles, no seu conjunto. E surge a
surpresa não esperada por onze dos jurados, quando apenas um
deles declarou entender ser inocente o réu. Em seguida, fez este
jurado questão de salientar que ele não tinha certeza da inocência do
réu; mas que também não estava convicto quanto a sua culpa.
Defendia a posição da presunção de inocência. Queria, em diálogo
com os outros, acabar com esta dúvida esgrimindo argumentos a
favor/contra a condenação do rapaz.

A despeito dos atritos ocorridos entre os jurados, naquela sala do júri,


iremos atender à análise hermenêutica com a qual esse jurado
discordante, que aqui chamaremos de “ 8º Jurado”, procurou

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conduzir a investigação para a apuração das provas, indícios que
demonstrassem e/ou comprovassem possibilidade de culpa e/ou de
inocência.

O “8º Jurado” apresenta aos demais onze membros do júri a


necessidade de se analisar hermenêuticamente cada uma das provas
apresentadas pela promotor público, cada um dos detalhes dos
depoimentos prestados por cada uma das testemunhas, cada um dos
factos, objetos e circunstâncias ligadas à cena do crime, ao ambiente
próximo e interligado a esta cena, além de detalhes mínimos e
específicos, particulares e individuais, ligados às próprias
testemunhas. Paulatinamente (passo a passo), os jurados dissecam
os factos de todos e cada um dos elementos que lhes foi apresentado
durante o julgamento.

Discutiu-se sobre o tempo que o comboio levava a passar


(provocando um imenso barulho, o suficiente, para impedir ser crível
que uma das testemunhas pudesse assegurar, com certeza, que
realmente ouviu ser a voz do réu ameaçar o próprio pai de morte;
questionou-se a alegação do promotor público, quanto a questão de
ser incomum a faca usada para o crime, baseando-se esta alegação
no facto de na loja em que a vítima adquiriu a faca, aquela ser única
na loja, quando o “8º Jurado” consegue provar que o mesmo modelo
de faca existia em uma outra loja do mesmo bairro; procurou-se
reconstituir o tempo necessário para amparar ou negar a alegação do
testemunho do vizinho que, sendo manco de uma perna e estando no
seu quarto, sentado na cama no momento do crime, afirmava ter visto
o réu, imediatamente após o som do corpo da vítima ter caído no
chão, descer as escadas e cruzar com ele, na porta da sua casa;
debateu-se a respeito dos possíveis motivos para o lapso de memória
do réu, o qual, tendo alegado estar no cinema no momento do crime,
não conseguia se lembrar do título do filme ou dos seus atores;
reavivou-se na memória dos jurados o facto da testemunha, que
morava em frente ao local do crime, mesmo tendo as características e
marcas físicas, sobre o nariz, adquiridas pelo uso de óculos, garantir
ter visto o assassinato (mesmo tendo um comboio a passar entre a
sua janela e a janela do crime e, como afirma a testemunha-estar
deitada na cama-onde se deduz que ninguém usa óculos).

O “8ºJurado”, sente a resistência de quase todos os outros onze


jurados, mas rapidamente, um a um, começam a sentir-se inseguros
quanto ao seu posicionamento inicial de defenderem a culpabilidade

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do réu.

A cada votação, ao mesmo tempo em que se ampliava a contagem


dos votos de “inocente”, cada um dos próprios jurados
conseguia “ver” de forma diferente o mesmo facto, o mesmo dado, a
mesma prova, depoimento, circunstância anteriormente analisados, na
sala de audiência. O trabalho hermenêutico serviu para demonstrar
que, sob óticas diferentes, um mesmo objeto ou facto pode
ser “visto” por ângulos ou prismas diferentes. Um provável e inicial
veredito de culpado, passa a ser lentamente transformado, num
veredito de inocente, não apenas pela simples mudança dos
vocábulos, de substantivos, mas sim de entendimento do significado
real de cada facto, cada dado, prova, depoimento, circunstância
anteriormente analisados.

Os jurados permitiram-se exercitar a sua capacidade de ver com


outros olhos e percecionar os factos de outro modo. E essa
capacidade deve-se, unicamente, à disposição de não se cingirem ao
significado frio, puro e simples, das palavras, dados, provas, indícios,
depoimentos, circunstâncias e, até, do inconsistente álibi do réu.

Cada um dos depoimentos prestados na sala de audiências,


analisados de forma individual, por cada um dos doze jurados
(isoladamente), deu-lhes uma impressão absolutamente diferente da
que agora percecionavam, naquela sala do júri, quando analisados
considerando-se o conjunto dos factos, das provas, depoimentos,
circunstâncias, ambiente do crime e, também, do álibi do réu. Ou seja,
uma informação isolada apresenta um sentido, um significado diverso
do que poderá assumir, quando exposta num conjunto de outras
informações.

Aliás, é assim que funciona com os textos. Quando lemos,


simplesmente, as palavras ali escritas, inicialmente o que se identifica
são substantivos, verbos, adjetivos, advérbios, pronomes e
conjunções que, devidamente intercaladas com vírgulas, ponto-e-
vírgula, pontos de exclamação, interrogação, reticências, parágrafos,
etc., no seu conjunto, escrevem frases. As expressões somente
surgem quando se dá a primeira compreensão do sentido daquela
frase. Aquela expressão, ao lado de uma e tantas outras, farão surgir
os textos.
As Leis também são textos. Formadas por expressões que traduzem
frases escritas com palavras às quais se adiciona o aspeto imperativo
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(próprio das normas jurídicas).

Com um veredito, não poderia, jamais, ser diferente. Ressalve-se,


contudo, que um veredito fará a “leitura de trás para frente”, o que
permite que a hermenêutica se dê a partir da compreensão, até se
chegar ao facto. O detalhe é que a compreensão dar-se-á analisando,
primeiro, a essência da Lei (que determina que o júri deve julgar de
forma consciente e convicta), o que somente será possível refazendo-
se o processo, contudo, no sentido inverso ao da ordem natural dos
factos.

Então, procurando-se provar que o réu era culpado, chegou-se à


certeza de sua inocência, utilizando-se os mesmos instrumentos e
recursos: a hermenêutica jurídica.

Nota: foi através da argumentação e contra argumentação que se


chegou ao veredito de INOCENTE.
Na tua pesquisa procura alguns dos argumentos utilizados quer pelos
jurados que estavam a favor, quer pelo jurado que defendeu desde o
início a presunção de inocência do réu.
Constrói, também, dois argumentos a favor e contra a pena de morte.

http://ensina.rtp.pt/artigo/fim-pena-morte/

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