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1. Os juízos morais
De uma forma geral, entende-se por juízo moral a faculdade que permite distinguir o bem do
mal, tendo em conta os padrõ es éticos que subjazem a qualquer açã o, decisã o ou
acontecimento. Ou seja, os juízos morais sã o aqueles que permitem orientar a nossa conduta e
avaliar a dos outros segundo um conjunto de normas e princípios éticos presentes na
consciência de cada um ou estabelecidos numa sociedade.
Sem juízos morais nã o seria possível determinar se uma qualquer açã o é boa ou má ou se
devemos aceitar ou condenar certos comportamentos, na medida em que estes nã o teriam
qualquer valor moral. Sã o eles que atribuem um conteú do ético aos acontecimentos e açõ es,
permitindo, assim, orientar a conduta dos seres humanos em sociedade.
Os juízos morais sã o juízos de valor, pois estabelecem uma preferência ou uma avaliaçã o.
Todavia, os juízos de valor podem nã o ser apenas dotados de um conteú do moral; nã o nos
posicionamos sobre as coisas tendo apenas presente o bem ou o mal, mas também outros
valores, como a beleza, o prazer, a utilidade, a religiã o, etc. Gostar de mú sica, literatura ou
desporto, preferir coisas prá ticas ou coisas intelectuais, sair à noite, dar importâ ncia ao
dinheiro ou à moda sã o escolhas que fazemos sem atender a um juízo moral.
2. Os juízos morais sã o juízos de valor; contudo, nem todos os juízos de valor sã o juízos
morais. Explique porquê.
3. Poderã o existir juízos morais que vã o contra a legalidade das normas jurídicas? Se sim,
mostre em que medida um juízo moral pode colidir com a legalidade jurídica.
Constatamos que, em cada uma das situaçõ es com que nos deparamos, poderemos formular
um juízo moral, mas também constatamos que os juízos morais de vá rias pessoas sobre um
mesmo assunto nem sempre sã o os mesmos. Se perguntarmos, por exemplo, sobre a vida e a
morte, provavelmente toda a sociedade será unâ nime em afirmar que todos os indivíduos têm
direito à vida e que a ninguém deverá ser recusado esse direito. Mas se, mantendo-nos neste
tema, perguntarmos sobre a eutaná sia, o aborto ou a pena de morte, as opiniõ es certamente
irã o divergir, pois uns acharã o algumas destas medidas corretas, outros achá -las-ã o
aceitá veis, outros, males necessá rios, e outros ainda, condená veis.
Dada esta discó rdia e diversidade de opiniõ es, surge inevitavelmente a questã o de saber qual
delas é mais vá lida; a partir daí, um novo problema se levanta: terã o os juízos morais um valor
de verdade? Ou melhor, poderã o os juízos morais ser universalmente verdadeiros?
Procurar responder a estas questõ es obriga-nos a refletir sobre a natureza dos juízos morais,
ou seja, sobre os fundamentos destes juízos. Destacam-se três perspetivas:
a. Subjetivismo moral
Esta perspetiva admite a existência de verdades morais, que, todavia, dizem respeito apenas
ao indivíduo. Cada sujeito tem o seu có digo moral e por isso os juízos por si formulados sã o
verdadeiros, dado que vã o ao encontro das suas crenças, valores e sentimentos. Deste modo,
nenhum juízo moral é objetivamente verdadeiro nem falso uma vez que nã o existe nenhum
critério que nos permita concluir isso.
Se alguém considerar, por exemplo, a eutaná sia um ato moralmente condená vel, esse juízo
será tã o verdadeiro quanto o de alguém que considere justamente o contrá rio. Admitir que
um destes juízos está mais correto do que o outro retira qualquer mérito à aná lise, uma vez
que coloca em causa a liberdade e a autonomia moral de cada indivíduo e revela nã o haver
qualquer respeito pela diversidade de crenças nem tolerâ ncia por valores contrá rios.
c. Objetivismo moral
Perspetiva segundo a qual os juízos morais sã o independentes das crenças e motivaçõ es dos
indivíduos ou da sociedade: a verdade ética nã o pode estar sujeita aos sentimentos e crenças
pessoais ou aos costumes sociais, mas tem de ser apoiada em critérios racionais imparciais
transubjetivos. Para o objetivismo, os valores morais existem em si e a funçã o do sujeito é
reconhecê-los.
Por exemplo, a sociedade e os indivíduos nã o consideram o homicídio um ato condená vel
pelas suas convicçõ es pessoais ou por causa de có digos morais sociais, mas sim porque o
homicídio é objetivamente condená vel. Nesse sentido, é possível admitir a existência de juízos
morais objetivos e por isso verdadeiros.
O objetivismo moral defende a existência de princípios morais universais cujo valor é
independente das convicçõ es pessoais e sociais, e o facto de existirem acordos globais em
certos temas, como o direito à vida e a condenaçã o do homicídio ou do roubo, mostra a
existência dessa objetividade. De outro modo, poderíamos ter de aceitar a moralidade de atos
reprová veis, como a escravatura, o racismo, a xenofobia ou a exploraçã o infantil.
1.1 Indique, em cada enunciado, a perspetiva quanto à natureza dos juízos morais que melhor
lhe corresponde. Justifique as suas opçõ es.
1.2 Todas as três perspetivas em relaçã o à natureza dos juízos morais apresentam falhas ou
argumentos discutíveis quanto à sua sustentabilidade. Apresente objeçõ es a uma das
perspetivas à sua escolha.