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Republica dos Estados Unidos do Brazil – Quinta-feira, 12 de Julho de 1894

A PATRIA PARAENSE
DIÁRIO NOTICIOSO, COMMERCIAL E LITTERARIO
PROPRIEDADE DE UMA ASSOCIAÇÃO ANONYMA

Os nossos limites

Dissemos anteriormente que a Republica, encerrando os parenthesis de recente e


angustioso período anormal, póde e deve habilitar se á enfrentar e iniciar graves e
ponderosos problemas que reclamam a mais séria e acurada attenção, à par de criteriosa
e exacta solução.
D’entre tantos, que por sua complexidade se apresentam, destacaremos aquelle
que, affectando a integridade do território da republica, nos affecta de perto como
Estado, cuja autonomia só póde ser salvaguardada uma vez conhecidas e bem fixadas as
raias de sua jurisdicção.
Referimos-nos aos nossos limites.
A monarquia, no seu período de existência demasiado longo e estéril, quasi que
completamente descurou tão magno assumpto.
Fosse o receio de melindrar nações amigas como a França e a Inglaterra e até
mesmo a Republica Argentina, ou inépcia em diplomaticamente resolver a questão,
certo é que limitou-se simplesmente á procrastinal-a indefinidamente, dando assim larga
margem a avultarem as pretenções tomando descommunaes proporções.
A Republica, abrangendo em suas largas vistas os horisontes pátrios e deparando
com extensas soluções de continuidade em suas fronteiras, avaliou devidamente a
urgencia de preencher esses claros, por linhas seguras que, respeitando direitos
recíprocos, assegurem a nossa tranquillidade, salvaguardando o futuro sob bases
definitivamente constituidas capazes de facultar-nos ampla vida politica como nação,
isempta de appréhenções susceptíveis de conflictos internacionaes,
N’esse intuito procurou solver de prompto a questão com a Republica Argentina,
relativamente ao território das Missões.
O publico conhece as peripecias d’essa phase e qual a attitude do Congresso e do
Governo Federal.
Este, conscio de nossos direitos e no louvável intuito de evitar o adiamento da
questão, já por assim dizer, eternisada, e evitar um conflicto, conseguio mui
sensatamente que fosse Ella submetida á arbitragem imparcial dos Estados Unidos do
Norte, nação americana e como tal competente para amigavelmente solver conflictos
internacionaes americanos.
Por esse lado, portanto, só temos a aguardar o veridictum da arbitragem, ao qual,
naturalmente, se submetterão as duas partes.
Resta-nos, porém, a discriminação dos nossos limites com as Guyanas Franceza,
Ingleza e Hollandeza.
A’ vista do empenho e da orientação revelados pelo Governo Federal, não nos
externaríamos desde já sobre o assumpto, aguardando sua benefica e necessaria
intervenção a respeito.
Passam-se, porém, graves occurrencias na zona limitrophe contestada pela
França, ou antes, no territorio que Ella recalcitra em considerar como seu, apezar dos
elementos numerosos e concurrentes á nosso favor.
Não podemos, pois, nos conservar silenciosos; a qual oppõem-se o nosso dever
de jornalista e de brazileiro e o interesse especial do nosso Estado.

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