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Português

Texto não literário


Entrevista

Entrevista a Ricardo Araújo Pereira, membro dos Gato Fedorento


"O discurso das pessoas revela muito para além daquilo que estão a
dizer"

Os "Gato Fedorento" passaram pela Covilhã para dois espetáculos da sua digressão.
Ricardo Araújo Pereira, talvez o mais mediático dos elementos, concedeu com toda a
simpatia e boa disposição uma entrevista. Exigiu ser tratado por "tu" e revelou como
tem sido esta experiência do "Gato Fedorento" e da popularidade que tem acarretado,
assim como um pouco da sua vida.

Urbi @ Orbi – Do jornalismo à comédia, como é que foi este trajeto?


Ricardo Araújo Pereira – Eu não creio bem que se possa dizer que foi do jornalismo à
comédia porque, embora eu tenha feito comunicação social, apercebi-me cedo que não queria
ser jornalista, pelo menos no sentido estrito. O jornalismo que eu acabei por fazer durante
algum tempo foi um jornalismo particular, foi no "Jornal de Letras", é um jornalismo cultural
sobre livros, escritores, pintores, temas que me interessam. (…)
U@O – Como é que começou o "Gato Fedorento"?
R.A.P. – O "Gato Fedorento" enquanto programa de televisão teve origem nuns pequenos
sketches que o Zé Diogo Quintela e eu fazíamos no programa "O Perfeito Anormal". (…)
U@O – De onde é que vem tanta imaginação, onde é que se inspiram?
R.A.P. – O programa é muito sobre coisas do dia a dia. Eu acho que uma das razões porque as
pessoas se relacionam com o programa é porque ele fala das coisas da vida de todos os dias,
dos políticos em geral, dos jornalistas, das pessoas que estão na rua, do discurso das pessoas.
Sobretudo o que nos interessa é a linguagem, o discurso das pessoas é muito interessante
porque revela muito para além daquilo do que as pessoas estão a dizer, outras esconde ou
tenta esconder, e com essa tentativa também revela outras coisas.
U@O – Quais são as tuas referências em termos humorísticos?
R.A.P. – A referência portuguesa principal é o Herman. Depois nos sketches, os Monty Pyton
continuam a ser insuperáveis. O Rowan Atkinson, mais conhecido por Mister Bean, os Smith and
Jones e também o Big Train, (…).
U@O – Qual é o objetivo do vosso humor?
R.A.P. – O nosso primeiro objetivo é fazer rir. Aparentemente conseguimos mais algumas
coisas além disso, o que nos agrada imenso, mas por muito que isso me agrade nós não nos
sentimos com uma função social. Como não tentamos fazer rir com palavrões ou escatologia e
as nossas obsessões não são desse nível, é possível que além de fazer rir aquilo contribua para
mais qualquer coisa.
U@O – O nosso país tem bom material para fazer humor?
R.A.P. – Eu acho que sim, todos de um modo geral têm. No nosso, como nós nos conhecemos
melhor e sabemos as nossas fraquezas e forma particular de sermos aldrabões ou espertos, por
aí fora, tudo isso é muito passível de ser satirizado.
U@O – Projetos para o futuro?
R.A.P. – Neste momento nem sequer sei se temos, estamos a fazer isto e muito envolvidos
nesta onda em que há muita coisa para fazer. Mas há aqueles projetos de longo prazo, escrever
qualquer coisa de maior fundo. (…)

MOREIRA, Fábio – "O discurso das pessoas revela muito para além daquilo que estão a dizer". Urbi et orbi, Jornal online
da Ubi. Covilhã. Edição n.º 270, 5 a 11 de abr. 2005 [consult. 13 out. 2011] Disponível em www.urbi.ubi.pt [com
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