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TÉCNICAS DE MELODIA - POR TURI COLLURA

A CORRELAÇÃO ESCALA/ACORDE E A IMPROVISAÇÃO


HORIZONTAL – PARTE 1.

Apresentei já, nesta coluna, os conceitos de Improvisação Vertical e de


Improvisação Horizontal, dizendo que a abordagem vertical à improvisação se
baseia no acorde, enquanto a abordagem horizontal se baseia em um
pensamento linear, fundamentado na correlação escala/acorde.
Nesta edição aprofundarei o discurso sobre a Improvisação Horizontal.
Tratarei então das perguntas: Para que utilizar o critério da correlação
escala/acorde e como fazê-lo? Indico aqui algumas possibilidades:

A. Com o objetivo de evidenciar escalas comuns a dois ou mais acordes sobre os quais
utilizar uma só escala. Veja o Exemplo 1: as notas da frase pertencem todas à
escala de Dó maior. Conforme apresentado nas edições passadas, as três
escalas da seqüência estão baseadas nas sete notas da escala de C Maior. D
Dórico e G Mixolídio são escalas derivadas da escala maior de C. Então, ao
longo dos três compassos, pode-se pensar em uma só escala.

Exemplo 1

Atenção: não basta simplesmente utilizar a escala adequada e as notas certas,


para construir bons improvisos. Precisa construir frases que façam sentido. Por
exemplo, mesmo que todas as notas da seqüência do Exemplo 2 estejam
“corretas”, pois pertencem à escala de C Maior, elas não produzem um bom
resultado melódico. Confira:

Exemplo 2

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Em cada acorde existem notas mais “importantes” do que outras, notas estas que
definem melhor a harmonia. Estas são as notas do acorde, que representam as notas
“R” de cada momento. O Exemplo 3 mostra as notas “R” (brancas) e as notas
“T” (pretas). Lembro que “R”= Nota de Repouso; “T”= Nota de Tensão Melódica (para
esses conceitos veja o n°122 da revista).
Na minha opinião, o pensamento horizontal traz ótimos resultados quando combinado
com o pensamento vertical: é importante que os movimentos lineares (escalas) levem a
uma nota de resolução (“R”) ao mudar do acorde.

Exemplo 3

B. A correlação escala/acorde pode ser usada, também, quando cada acorde


leva a própria escala. Nesse caso, usamos as escalas para criar uma
continuidade melódica. O exemplo 4 utiliza duas escalas diferentes: D Jônico
sobre D7M e Bb dim T-S sobre Bb°. Veja:

Exemplo 4

Os dois pontos A. e B. acima apresentados se referem ao máximo de coerência


entre a escala e o acorde. Existem, porém, outros casos, em que, por exemplo,
queremos criar maior tensão melódica, digamos frases mais “apimentadas”.
Esse é o caso do ponto C.

C. Os Exemplos 1 e 3 mostraram o uso das escalas dórica, mixolídia e jônica em


uma sequência II-V-I. Com o objetivo de criar maior tensão melódica, podemos
introduzir alguma “interferência” no fluxo de notas. O Exemplo 5 mostra como:
mantendo o D dórico e o C Jônico, colocamos no meio uma escala diferente
sobre o G7. Essa escala cria uma saída temporária da tonalidade. A escala que
usei foi a Superlócria, apresentada em alguma edição passada desta coluna.
Veja o Exemplo:

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Exemplo 5

O Exemplo 6 mostra uma frase no estilo jazzístico que utiliza a idéia


apresentada acima.

Exemplo 6

No acorde G7 inserimos maior tensão, resolvida na nota Sol do acorde de C7M.


Algum outro cromatismo sobre o acorde de Dm7 poderia ser usado para
aumentar a tensão melódica naquele trecho.
O conceito de Tensão e Resolução é próprio de todas as artes. Esse é, também, o
princípio básico dos opostos, como a vida e a morte, o Yin e o Yang, a noite e o dia, etc.
Na arte, busca-se um equilíbrio entre a excitação e a calma, entre a ação e o descanso.
A forma de alcançar esse equilíbrio gera a obra de arte.

TURI COLLURA é pianista e compositor, professor da


EM&T de Vitória. É autor do método “Improvisação:
Práticas Criativas para a Composição Melódica na
Música Popular”. Gravou recentemente seu CD
“Interferências”, com composições e arranjos próprios.
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