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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO- UFBA

TÓPICOS ESPECIAIS EM HISTÓRIA DA ARQUITETURA, URBANISMO E


PAISAGISMO: HISTÓRIA, HISTORIOGRAFIA E CRÍTICA DA
ARQUITETURA E URBANISMO MODERNO
RAQUEL DE SANTANA LOPES

Resenha crítica do texto “Considerações sobre o Ecletismo na Europa” de Luciano


Patetta.

O autor introduz a narrativa colocando que a crise do urbanismo do


movimento moderno levou a uma revisão das críticas ao neoclassicismo e ecletismo
e uma necessidade de rever o discurso historiográfico sobre as categorizações
feitas sobre os mesmos. Isso influenciou diretamente na atenção dada à proteção
do patrimônio histórico-cultural do séc XIX.
Fruto dessa análise histórica e historiográfica, parte a interpretação do
período da metade do século XVIII até a metade do XX como um “único longo
período”, já que a visão se volta para as questões políticas, sociais, econômicas e
culturais, e não apenas dos estilos em si, apesar de não ter sido um período
homogêneo.
Patetta traz no texto o conceito de estilo como uma linguagem coletiva e
conjunto de formas que transcende a individualidade dos produtores (arquitetos,
artistas e artesãos). Durante o século XIX o estilo era justamente o ecletismo, que
deve à clientela burguesia a característica da busca por referências em estilos do
passado, o apreço pelo progresso e pelo conforto que inclusive resultou em avanço
nas instalações técnicas e serviços sanitários da casa. Entretanto, apesar de falar
sobre a importância da indústria, o texto não fala sobre as questões sociais
intrínsecas, isto é a pobreza e precariedade de vida das populações operárias.
As bases do ecletismo foram principalmente a consolidação do poder
burguês e a civilização industrial. Dentre as correntes do ecletismo destacam-se 3: a
da composição estilística - são estilos praticamente imitativos de estilos do passado;
a do historicismo tipológico; e a dos pastiches compositivos. As obras desse período
tinham em comum algumas características como: o distanciamento para com o
modelo original que se pretendia imitar; a paralisação da criatividade; a intolerância
com relação a nudez estrutural; a imposição da mecanização sobre a produção
artística. Além disto, a imposição das leis econômicas sobre o canteiro de obras é
outra característica importante assinalada pelo autor, o que de certa forma fazia
com que os arquitetos da época fossem menos valorizados que os engenheiros por
pensarem que não poderiam alcançar o mesmo nível técnico-científico.
A forma de entender as construções do passado influi diretamente na
importância dada aos monumentos históricos presentes da Europa do século XIX e
na forma como vão ser tratados. Duas concepções opostas de restauração
aparecem: a do complemento estilístico e a da não interferência e pura
conservação.
Luciano Patetta dá enfoque para o estilo neogótico o qual tomou uma nova
roupagem no século XIX principalmente pelo uso do ferro nos elementos estruturais
do edifício, fazendo com que toda a obra ganhasse um visual distinto do estilo
original. Isso não acontecia quando o estilo era o neoclássico, por exemplo, já que
nele a estrutura não era algo à mostra nem valorizado, enquanto que no neogótico a
forma arquitetônica podia ser essencialmente uma forma estrutural. Os novos
materiais da era industrial permitiram a execução de vãos maiores com o uso de
ferro e também de cimento armado.
O texto cita algo interessante a respeito do foco de projeto, que antes era a
fachada, mas que no ecletismo muda para a planta baixa. Isso inclui também o
formato e disposição dos cômodos na planta, já que, como assinala Patetta, a
cultura burguesa não pretendia sacrificar a funcionalidade e o conforto por causa de
convenções formais, o que com certeza é algo revolucionário. A presença de maior
quantidade de banheiros dentro de casa também é outra característica marcante.
Começa a se tornar comum as fachadas assimétricas e com volumetria mais
variada, prova de que neste século a fachada representa mais um produto da planta
baixa, pensamento que perdura muito nos dias de hoje. Além disso, a decoração da
casa passa a ser objeto de atenção e planejamento, de forma a criar um ambiente
em que todos os elementos conversam.
Voltando na crítica sobre a historiografia do ecletismo, Luciano Patetta
comenta a falta de referência às transformações ocorridas no meio urbano
enfatizando que a mesma cultura por trás da linguagem arquitetônica estava
presente nos planos diretores e projetos urbanos das cidades. Com o aumento das
ferrovias, veículos, serviços urbanos e habitantes, as cidades tinham que mudar o
que ocorria através de intervenções sobre a cidade existente e através de
construção de novos bairros.
Neste ponto a análise crítica do autor com relação ao impacto da narrativa
historiográfica sobre o tratamento dado aos monumentos históricos se torna mais
compreensível e evidente, pois praticamente é capaz de direcionar a decisão sobre
quais monumentos são mais ou menos importantes, enaltecendo uns (fazendo-o ser
o ponto central de uma grande avenida, por exemplo) e destruindo outros para
alargar ruas ou construir outros edifícios no lugar.
O autor conclui o texto dizendo que na Europa da segunda metade do século
XIX, período às vezes considerado como desprovido de um “estilo” próprio, ou com
a coexistência de muitos estilos, a cidade alcançou, contraditoriamente, o ideal
querido por antepassados de homogeneidade de estilo.

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