Daniel Pedro
Universidade Rovuma
2020
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Daniel Pedro
Universidade Rovuma
2020
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Índice
1. Introdução..............................................................................................................3
4.1. A adolescência....................................................................................................20
6. Considerações finais............................................................................................30
7. Referencias Bibliograficas...................................................................................32
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1. Introdução
O presente trabalho aborta vários conteúdos relacionados com a didactica geral que é
uma disciplina muito importante para quem já é professor, porque lhe dá oportunidade
de refletir sobre a sua prática pedagógica e para o que ainda não o é, de entrar em
contato com um campo da ciência discriminado (que é o campo das ciências humanas)
pelos que adentram nas áreas experimentais laboratoriais, mas que nos permite um
conhecimento das teorias que regem o ensino e a aprendizagem. Um professor que
desconhece os saberes fundamentais que cercam os princípios da aprendizagem, como
poderá oferecer um ensino que dê oportunidades de construção e produção do
conhecimento de uma maneira metódica, crítica, científica e ética?
Apresentam-se neste artigo alguns aspectos de uma investigação sobre pensamento ético
e deontológico dos professores. Partindo do conceito de natureza ética da educação,
procura-se saber que princípios e valores presidem às práticas docentes, como é que os
professores concebem os seus deveres profissionais, que tipo de relação estabelecem
entre deveres e princípios e como encaram a possível criação de um código
deontológico da profissão. Discute-se ainda a possível influência da situação do
professor na carreira no modo de conceber estas questões.
natureza social indicava com relação à instrução, à moral e à religião. Estes três
aspectos seriam trabalhados de forma integrada, uma vez que, através da instrução, o
homem conseguiria enxergar sua vida além das limitações do tempo.
É, pois, em Comênio que encontramos uma proposta metodológica de como ensinar
tudo a todos, distanciada da prática da época na qual o ensino era para poucos
privilegiados. As descobertas, assim como o comércio em grande escala, as novas
invenções, os avanços da ciência, a produção visando compra e venda, tudo fazia parte
de uma revolução em todos os aspectos da vida do homem.
O seu livro Didática Magna contém uma concepção educativa baseada numa
perspectiva religiosa, a tal ponto que ao se eliminar o aspecto didático, prejudica de
forma total o primeiro. Ele começou a ser escrito em 1627 e foi concluído cinco anos
depois, quando se encontrava exilado em outro país por causa de perseguições
religiosas, no entanto o original manuscrito só foi encontrado duzentos anos depois de
sua morte e publicado após quase dez anos.
Ele contém quatro partes: a primeira, apresenta o homem como a criatura mais perfeita
que existe na face da terra e inclui, também, os fundamentos teológicos e filosóficos da
educação; a segunda, apresenta os princípios da didática geral baseados nas leis da
natureza; a terceira, voltada à didática especial, apresenta os métodos para ensinar
letras, ciências, artes mecânicas, moral e piedade; e a quarta, apresenta um plano
orgânico de estudo para os quatro graus da escola de acordo com as características
gerais do desenvolvimento da criança e do jovem.
O método Comeniano baseia-se nos seguintes princípios: aquilo que o aluno deve saber,
deve ser ensinado; o que é ensinado dever ter aplicação prática; a explicação do que se
está ensinando deve ocorrer da forma mais clara possível; e ensinar de acordo com as
necessidades e no seu devido tempo.
Comênio propôs os fundamentos da arte de ensinar no âmbito escolar preocupando-se
com uma arte que não só se igualasse às demais áreas do artesanato, mas que lhes fosse
superior e que servisse de balisamento, uma vez que equiparou o processo de produção
intelectual escolar ao processo de produção material dos artesãos e manufatureiros.
A arte de ensinar abrangia tanto a transmissão de conhecimentos quanto o método
empregado para tal fim. Por isso, para ele, ensinar consistia em marcar, fazer sinais,
gravar etc., indicando a ação de uma pessoa sobre outra, de maneira que o papel do
professor é fazer marcas no aluno: em sua inteligência, vontade, memória e emoções ao
ponto de fazê-lo diferente das outras pessoas que não frequentaram a escola. É aqui que
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Portanto, para a primeira fase, condenou a forma como as crianças eram tratadas e
apregoou que era de forma natural que ela se desenvolvia e aprendia. Para a segunda
fase, ainda não era momento de uma educação impositiva, com a transmissão de um
ensino fechado estipulado por antecipação, mas o acompanhamento do desenvolvimento
natural. Para a terceira fase, o conhecimento formal aconteceria, mas de acordo com a
curiosidade e o interesse natural, priorizando aqueles com possibilidade de aplicação
prática. Por fim, para a quarta fase, priorizou os aspectos relacionais, isto é, a vida em
comum com as outras pessoas, além da ministração da educação religiosa.
Para ele, os pressupostos da educação baseavam-se na crença da bondade natural do ser
humano e na percepção de que todo o mal tinha origem na sociedade. Portanto, educar
uma criança implicaria em acolher a bondade natural dela em protegê-la corrupção que
assolava a presente sociedade. A metodologia apregoada por ele tinha como foco uma
ação do professor no sentido de preparar o aluno para ser um homem aproveitando o seu
desenvolvimento natural, mas exigindo, para tal, um ambiente favorável, isto é,
altamente organizado.
Outro aspecto interessante no seu modelo de educação formal, era que ele não via
necessidade em apressar o desenvolvimento intelectual, deixando que cada criança
externasse interesse sobre um assunto e só a partir daí o professor iria respondendo suas
curiosidades. Só a partir da adolescência é que deveria ser ministrado o ensino formal.
Ele foi um filósofo que pregou que cada fase da vida tem a sua existência própria e
contribuiu para a compreensão de que o método da natureza vale para todas as coisas e
disse que não deveria se estabelecer um modelo quando se lida com educação de
crianças.
Ele foi um severo crítico da escola do seu tempo, com sua forma exagerada de cobrar a
memorização do que era ensinado. Pelo contrário, ele propôs uma educação que
envolvia a experiência pessoal da criança, começando por ela aprender a usar
instrumentos do ofício do seu pai e através deles aprenderia a medir, contar, pesar e
comparar. Então, por meio dessas atividades familiares elas aprenderiam a aplicar
aquilo que lhe foi ensinado em sala de aula.
A maior contribuição de Rousseau para a educação foi olhar para a criança como um ser
completo em termos de sentimentos, interesses e desejos próprios, o que concorreu para
o avanço da psicologia do desenvolvimento por ter dado atenção às diversas fases do
desenvolvimento da criança e por sugerir uma educação diferenciada para cada uma
dessas fases.
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sistematização que consiste na elaboração teórica do novo conceito; e, por fim, o quinto
passo, é a aplicação que é a utilização pelo aluno do aprendido em suas atividades.
Portanto, caro aluno, percebemos que o pensamento desses teóricos, com o passar do
tempo, concorreram para que a escola fosse colocada no centro das ideias de mudança
para atender de forma mais adequada aos novos tempos e às novas realidades marcadas
pelas inovações tecnológicas responsáveis por transformações em todos os aspectos da
vida humana.
Tanto é verdade, que esses pensadores e teóricos que se preocuparam com um novo
modelo de escola divulgaram seus estudos, teorias e experiências desde o séc. XVI e só
quatro séculos depois é que o foco da educação na escola saiu do campo do professor e
do ensino para o campo do aluno e da aprendizagem.
3. Deontologia para a educação:
Na obra intitulada “Os Usos da Filosofia”, Mary Warnock afirma a sua convicção de
que a educação deve ser orientada para a incrementação da liberdade das pessoas,
entendendo isto como uma espécie de elevação a partir de uma dada situação sobre a
qual, geralmente, se não reflecte. Tratar-se-ia, então, de possibilitar o conhecimento da
história e do desenvolvimento das instituições e da sociedade em que se vive, bem como
dos instrumentos conceptuais utilizados, como meios de proporcionar essa elevação. E
como a liberdade é um valor, continua a autora, então a educação é intrinsecamente
valorativa.
Salvas as devidas distâncias, não será difícil encontrar aqui ecos da metáfora platónica
da educação como libertação da ignorância - da ilusão - por meio de uma dialéctica
ascensional que é também um processo de crescimento intelectual, moral, humano, em
suma, que conduz da “caverna” para a luz; e do pedagogo como aquele que,
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propriamente falando, nada ensina, a não ser o esforço da ascensão e a sua simbólica
libertadora (Platão, República, 514a- 517c).
Embora seja corrente tomar os termos ética e moral como sinónimos e usá-los
indiferenciadamente, no campo filosófico a distinção faz-se e justifica-se pelas
diferentes áreas semânticas que os dois termos cobrem: ética significa a teoria do certo e
do errado na conduta e reporta-se aos valores que a ela presidem; moral tem que ver
com a prática, isto é, com os comportamentos efectivos das pessoas em articulação com
os valores (Billingdon, 1988). Assim, a ética refere-se aos princípios, ao que deve ser
em geral - que Kant, por exemplo, designou por imperativo categórico,
aprioristicamente concebido - enquanto a moral remete para as máximas da acção, isto
é, para o modo como cada indivíduo interpreta o dever geral em função da situação
particular (Kant, 1960).
Sejam quais forem as origens dos princípios éticos, problema que não cabe no âmbito
deste trabalho discutir, é pertinente, no entanto, questionar até que ponto devem eles ter
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expressão no processo educativo, já que é mediante este processo que o ser humano se
torna apto a agir de forma simultaneamente autónoma e integrada. Semelhante
perspectiva pode encontrar-se já no pensamento de Platão, quando considera que só a
educação permite formar o cidadão virtuoso, isto é, o cidadão moral, estabelecendo
uma estreita vinculação entre ética e pedagogia. Não se trata, por certo de uma
pedagogia qualquer nem, muito menos, da pedagogia relativista e pragmática do sofista
Protágoras, para quem cada indivíduo é medida e critério das suas próprias verdades,
que o mesmo é dizer das suas próprias acções. Platão exemplifica este ponto de vista
com as palavras que põe na boca do personagem Cálicles: “(...) aquele que quiser viver
bem deverá deixar crescer à vontade as suas paixões, sem as reprimir e por maiores que
elas sejam, deverá ser capaz de as satisfazer graças à sua coragem e inteligência, dando-
lhes tudo aquilo que elas desejarem.” (Górgias, 491e - 492a); a este, contrapõe a sua
própria concepção de vida, representada pela dramatis personae Sócrates: “Tal é,
parece-me, o objectivo que cada um deve visar durante a vida. Todos os seus esforços,
todos os seus actos, devem ser dirigidos no sentido de adquirir a justiça e a temperança
como condições de felicidade, sem consentir nunca que as paixões campeiem (...)”
(idem, 509d-e), acrescentando que só pelo cultivo da filosofia este objectivo de
autonomia e autodeterminação pode ser atingido e que cabe precisamente ao filósofo,
mestre pela palavra e pelo exemplo, orientar os alunos neste caminho que cada um tem
de fazer por si mesmo.
social que ajuda a construir e a renovar; da sua (boa) formação ética dependerá, pois, a
de toda a sociedade (Cordero, 1986). O mesmo autor insiste, aliás, na necessidade de
tornar conscientes os professores da inevitável orientação teleológica do processo
educativo. É que não são indiferentes os fins que se pretende atingir e que determinam,
consequentemente, o tipo de educação que se vai realizar. Portanto, na raiz de qualquer
projecto educativo está uma intencionalidade ética que o orienta e legitima. Do mesmo
modo, o professor nunca é neutro quando escolhe os caminhos pedagógicos que vai
percorrer e é a sua própria pessoa que está em jogo quer quando escolhe quer quando
actua em função das escolhas feitas.
Vão neste mesmo sentido as reflexões de Billington (1988), quando analisa a etimologia
da palavra educação a partir das duas palavras latinas educare e educere. Diz ele que,
embora as palavras possam parecer semelhantes, há entre elas “um hiato de sentido tão
largo que é difícil imaginar que possam ambas coabitar no contexto curricular de uma
escola” (p. 259) e justifica o seu ponto de vista através da explicitação do respectivo
sentido.
Assim, educare significa treinar, equipar alguém com determinadas habilidades (skills)
físicas ou intelectuais, em articulação com o desempenho de uma ocupação ou
profissão. Desta interpretação decorrem duas importantes consequências educativas: a
primeira é que a valoração dos temas incluídos no currículo escolar é determinada pelas
necessidades económicas e sociais da comunidade ou do estado. A motivação para
aprender - e ensinar - um assunto será a da qualificação que esse assunto confere ao
aprendente para a obtenção de determinado emprego.
Por sua vez, o valor semântico de educere - encaminhar para fora, exteriorizar - conduz
a um outro olhar sobre a educação, vista agora como o meio de preparar os estudantes
para o conhecimento do mundo e de si mesmos; não por qualquer razão pragmática,
mas pelo valor intrínseco da própria educação e das competências que ela proporciona.
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Aqui, a motivação para aprender não é dada de fora, mas é interior, o que significa que
será o aluno a construir os sentidos das suas aprendizagens que, aliás, estarão sempre
em construção; a aprendizagem é um processo permanente. O grande objectivo da
educação entendida segundo esta perspectiva é o formar seres humanos capazes de
tomar decisões fundamentadas, apreciar os valores sustentados pelos outros e julgar de
forma autónoma.
Sem que tome explicitamente partido por qualquer destas orientações, antes as
reconhecendo, a ambas, como necessárias no sistema educativo, não deixa o autor,
porém, de chamar a atenção para as dificuldades que se levantam a todos os que
pretendem conciliá-las num mesmo projecto educativo; daí que questione se educere
não será apenas um ideal no espírito de algumas pessoas .
Cordero (1986), por seu turno, parece privilegiar a raiz educere de educação, ao
considerar que a profissão do educador consiste em trabalhar na formação do homem,
fazendo desabrochar a personalidade humana. Nesta perspectiva, a personalidade é
conquista de cada um e supõe um esforço pessoal de autoconstrução em função das
normas sociais e culturais vigentes. Mas cabe ao educador “(...) desenhar o tipo de
sujeito humano e de sociedade que se pretende conseguir através do trabalho educativo
para, em seguida, escolher os meios necessários à realização desse objectivo.” (p. 471).
Assim sendo, a responsabilidade que recai sobre o educador é incontestável, acentuando
mais uma vez a dimensão ética da sua acção; e para levar a cabo esta acção, o professor
precisa de estar imbuído de determinadas características que, permitindo-lhe respeitar a
personalidade dos outros, lhe garantam a possibilidade de efectivamente ensinar e que
são geralmente referidas como “autoridade moral”.
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Quanto à autoridade moral, pensa que é pela atitude do professor face à tarefa educativa
que ela se revela e que apresenta duas características distintivas: a primeira consiste no
facto de o professor indicar, pelo modo como se relaciona com o seu trabalho, que a
tarefa educativa, comum a professores e alunos, possui valor intrínseco; aprender é um
valor em si, sem precisar de motivações extrínsecas. Este professor compromete-se com
o sentido educere da educação, seja qual for o objecto do seu ensino. A segunda
característica, intimamente ligada à anterior, é a da capacidade do professor para
motivar o estudo, sem recorrer ao “fantasma” dos exames finais, o que requer
entusiasmo e empatia com os alunos, sem perder de vista os direitos de ambos os
participantes no processo educativo.
Também na mesma linha se pode ler Gusdorf (1978), apesar das diferenças de discurso,
ao caracterizar a exemplaridade e a autoridade do mestre nos seguintes termos: “(...) é
um exemplo em que nos podemos inspirar, (...) a sua influência reveste a significação de
um apelo de ser, que exorta à edificação da personalidade. (...) a autoridade do mestre
exerce uma acção que a um tempo constrange e suscita a aspiração.” ( p. 255).
Lembra ainda a autora que entre os vários aspectos que permitem caracterizar o
profissionalismo se conta o “ (...) exercício correcto e autónomo de uma função
socialmente reconhecida como altruísta, de que o código ético constitui uma expressão”,
como se fosse uma espécie de “imagem de marca da profissão.” (p. 188)
Reflectindo sobre este tema, D’Orey da Cunha (1996) começa por comparar o estado da
reflexão deontológica em vários grupos profissionais, colocando de um lado médicos,
juristas e jornalistas e, do outro, professores. Enquanto os primeiros terão desenvolvido
reflexões sistemáticas em torno da deontologia e, na sequência desse processo,
elaborado códigos deontológicos, os segundos, reconhecendo embora a natureza ética
da profissão docente, não consubstanciaram os princípios éticos numa deontologia
codificada.
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O autor justifica esta diferença recorrendo aos paradigmas que, no seu entender,
suportam os respectivos procedimentos: o paradigma deontológico de médicos e
juristas, dada a natureza liberal de ambas as profissões que estabelecem com o cliente
uma relação directa, é um “paradigma de responsabilidade”; aqui, são as necessidades
do cliente que determinam os deveres tornando-se estes, por sua vez, critérios de
controlo da qualidade profissional. Os professores, em contrapartida, dada a sua
situação de empregados por conta de outrem, seja o empregador o estado ou uma
entidade privada, tomam como referência um “paradigma deontológico de direitos” e os
deveres, de origem administrativa, são-lhes impostos ou, em certos casos, negociados,
sistematizados sob a forma de estatutos ou de contratos; é o caso do Estatuto da Carreira
Docente que consigna os direitos e os deveres dos professores, na sequência de um
processo negocial.
instrumento de consulta à tradição antes de uma deliberação que tenha em conta todas
as exigências da situação” (p. 119).
Quanto à estrutura, propõe cinco pontos organizadores: (1) Preâmbulo; (2) Deveres para
com os alunos: na ordem do seu desenvolvimento integral, do saber, da relação
pedagógica e da isenção; (3) Deveres recíprocos dos docentes; (4) Deveres dos docentes
para com a comunidade educativa e (5) Deveres para com a sociedade.
Também Estrela (1993), depois de ter analisado alguns códigos provenientes de vários
países, pensa ser possível inferir aspectos caracterizadores e distintivos que poderiam
ser resumidos no seguinte quadro:
Extensão 10 ou 12 normas
Várias dezenas de normas
numa mesma escola, o que pode ter efeitos contraproducentes na união da classe
justificando, assim, as intenções de muitos professores de se constituírem como ordem;
(3) não possuem força legal, mas apenas força moral, com todas as limitações daí
decorrentes. Em todo o caso, parece ser convicção de M. T. Estrela que as sanções
aplicáveis pelas associações aos seus membros, embora “de carácter moral e psicológico
(...) atingem o infractor no seu bom nome profissional (...) concorrendo para que o
exercício profissional se processe dentro dos limites circunscritos pelas normas
veiculadoras de um determinado conceito de profissionalismo.” (1993, p. 190).
4.1. A adolescência
São muitas as culturas em que ritos de passagem existem para demarcar o fim da
infância.
Em diversas delas, significa o início da vida adulta. Nas sociedades mais complexas, por
exigir maior formação para o ingresso no mercado de trabalho, a passagem para a vida
adulta pode ser mais longa e menos claramente demarcada.
Para a classe média brasileira, o final da adolescência significa ter competência para
ganhar seu próprio sustento e independência, o que pode acontecer por volta de 22 anos
de idade ou com o ensino superior completo. Todavia, para uma grande parcela da
população, esta fase termina por volta de 16 anos, com a possibilidade legal de ingresso
no mercado de trabalho e, muitas vezes, com uma gravidez não planejada. Nestes casos,
a ocupação não é especializada, resultando em ganhos baixos e pouca probabilidade de
superar o ciclo da pobreza. A adolescência, como um fenômeno cultural, não tem um
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final demarcado. Dizemos que o fim da adolescência ocorre quando a pessoa assume
papéis sociais adultos, como independência emocional, afetiva e econômica,
possibilidade de responder à legislação, de poder votar, casar se, dirigir etc. São esses
pequenos “rituais” que vão colocando as pessoas no lugar de adultas, deixando a
adolescência para trás.
A adolescência, portanto, é um fenômeno social e cultural que é visto de diferentes
modos, dependendo do contexto social. É diferente da puberdade, que é um fenômeno
universal, uma vez que as modificações do corpo, como crescimento e amadurecimento
orgânico, vão ocorrer de modo semelhante para todas as pessoas, em quaisquer
contextos.
Neste sentido, a adolescência começa com a puberdade, processo que conduz à
maturação sexual ou fertilidade e que significa a possibilidade de reprodução. A
puberdade tem início mais cedo para as meninas, por volta de 11 a 12 anos, e dos 13 aos
14 anos nos meninos.
É acompanhada por mudanças físicas que implicam em um crescimento de forma geral,
independentemente do sexo. Tais mudanças têm desdobramentos psicológicos e é
relativamente comum, nesse período, que tanto meninos quanto meninas fiquem
descontentes com sua nova aparência e seu novo tamanho.
Essa fase é conhecida como a dos reflexos, pois ao nascer à criança herda os reflexos
que permitirão os primeiros contatos com o mundo exterior. Segundo Piaget (2011),
esse período é marcado por um extraordinário desenvolvimento mental, embora não se
dê muita importância por não ser acompanhado de palavras que permitam seguir, passo
a passo, o progresso da inteligência e dos sentimentos, como ocorre em outros períodos.
No sensório motor, o contexto aparentemente desordenado se transforma por intermédio
do movimento e da repetição da ação da criança, surgem os esquemas, que são modelos
de ação interna dos objetos e das pessoas que a criança passa a conhecer em
consequência da vivência que estabelece com os mesmos (BLAJ, p. 16, 2008).
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O referido autor ressalta ainda, que nesse estágio, o ponto de partida das ações está no
movimento reflexo: sugar e agarrar. Os lábios e a boca podem sentir a forma, textura e
temperatura dos objetos que passam ser concebidos por estas, sensações, bem como
pelo domínio motor que por meio dos exercícios se torna mais refinado. Outro aspecto
relevante está em relação à visão, que passa a ser mais um recurso nesta etapa, onde a
criança começa a focalizar os objetos a segui-los e a conhecê-los. E mais, nesta fase, a
repetição de suas ações e constância do vínculo com as pessoas, dá a criança segurança
para as novas descobertas, ou seja, os bebês respondem basicamente por reflexos
espontâneos e quais vão evoluindo no confronto com o mundo envolvente, e, por isso
mesmo, os primeiros esquemas de ação são esquemas reflexos inatos, como a sucção e a
preensão (Piaget, 1981, apud BLAJ, p.17, 2008).
O segundo estágio Piaget chamou de pré-operatório, referente aos dois anos e
aproximadamente até sete anos, segundo Papali (1998). Nesse período, está à função
simbólica, as crianças raciocinam por imaginação. É possível notar que a criança nessa
fase está presa a uma forma subjetiva de pensar e necessita do concreto para dar
explicações e entender as situações do dia-a-dia. Esta forma rica em detalhes aparece
com clareza no desenho, pois as formas são justapostas, sincréticas e as explicações são
egocêntricas e tudo é possível entrando no pensamento intuitivo e imaginário (BLAJ,
p.19, 2008).
Felizmente, algumas escolas, principalmente as de Educação Infantil, já planejam as
suas atividades de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo. Nas classes
com crianças entre dois e três anos, por exemplo, não é difícil perceber que elas estão
em plena descoberta da representação, do “faz de conta”. Começam a brincar de ser
outra pessoa, com imitação das atividades vistas em casa e dos personagens das
histórias.
De acordo com a Coletânea de Planos de Estudo da Escola Solange Ana Copetti - Ijuí-
RS (2006, p.10):
Observa-se no cotidiano de nosso trabalho, crianças brincando de faz
de conta, de jogos simbólicos, como costumamos dizer, é a capacidade
que desenvolvemos de representar, de simbolizar, o uso do símbolo-
de considerar uma coisa como sendo outra. Por isso o faz de conta é
um pouco isso: desejar algo e apostar que é possível ter uma solução
criativa para se ter/ser/ viver o que se quer. A brincadeira é o fazer da
criança. É através dela que ocorre as aprendizagens básicas para o ser
humano. Portanto, devemos estimular situações que ela brinque, uma
vez que mesmo sem nenhum brinquedo ela pode realizar atividades
básicas porque o corpo ainda é seu.
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A criança pensa, agindo concretamente sobre os objetos. Ela opera, pensa a realidade,
transformando-a e aos poucos este pensar vai deixando de se apoiar no concreto. Ao
demais, para além dos seus pensamentos expressos, as crianças têm muitos pensamentos
não expressos e, como afirma Piaget, ficam por exprimir precisamente porque são
egocêntricos, isto é, incomunicáveis. Para transmiti-los aos outros, a criança teria que
ser capaz de adotar os seus pontos de vista. “Poder-se-ia dizer que o adulto pensa
socialmente, mesmo quando se encontra só, ao passo que as crianças com menos de sete
anos pensam e falam egocentricamente, mesmo em sociedade com os outros” (Piaget,
1964 apud VIGOTSKY, caderno 29, p. 56).
Na idade de sete a 12 anos aproximadamente, as crianças passam para o estágio de
desenvolvimento denominadas operações concretas. Elas são menos egocêntricas e
podem usar o pensamento, são capazes de distinguir a fantasia, o jogo simbólico da
realidade, possuem melhor compreensão da conservação, da diferença entre aparência e
realidade e dos relacionamentos entre os objetos. A partir dos sete anos, pouco a pouco,
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Isso significa dizer que cada sujeito constrói o conhecimento de acordo como percebe e
organiza as informações em sua estrutura cognitiva, isto é, construímos conhecimento
que nos permitem adaptar ao meio em que estamos inseridos e para, então, resolver os
problemas desse meio. Cabe ao professor possibilitar ao sujeito as oportunidades
necessárias para essa construção. (GOMES; GHEDIN, p. 227, 2012),
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6. Considerações finais
Para este estudo, consideramos a aproximação do conceito de Didática a partir de
Comenius, em sua obra mais importante, Didática Magna, onde ele tenta sistematizar o
processo de ensino, e afirma, a Didática é a “arte de ensinar tudo a todos” (CO-
MENIUS; GOMES, 1966).
Delineia-se um ideal de comportamento profissional pautado por valores
essencialmente éticos (honestidade, solidariedade, tolerância...), exigindo profissionais
dotados de “competência” e “excelência” e capazes de “disponibilidade total”; no
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7. Referencias Bibliograficas
Billington, R. (1988). An introduction to moral thought. London and NewYork:
Routledge.
Bogdan, R., & Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto
editora.