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Dossiê

A psicanálise de crianças
é u m a s i t u a ç ã o c l í n i c a parti- A PSICANÁLISE DA
cular em que a violência psí-
quica tem um lugar maior.
O s i n t o n i a da c r i a n ç a , sua
não d e m a n d a , a i m p l i c a ç ã o
CRIANÇA: UMA
dos p a i s , a a t i v i d a d e do te-
rapcuta situam-se nessa di-
mensão. O d i s p o s i t i v o da
SITUAÇÃO VIOLENTA
cura o r g a n i z a os laços c se-
parações eíetivas e simbólicas
entre crianças e pais. O eixo
adulto-criança, feito de de-
pendência e de diferenciação,
estrutura a relação terapêuti- Bernard Pechberty
ca. Enfim, o a n a l i s t a , na es-
cuta e elaboração que ele
propõe, acolhe os movimen- T r a d u ç ã o : Inesita Machado
tos p u l s i o n a i s da c r i a n ç a .
Estes, ligados á sexualidade
infantil, têm ressonância no
sentir e na contra-lransferêii-
cia. A a t i v a ç ã o dos proces-
sos primários inconscientes c
a m p l i a d a em cada protago-
nista neste contexto particu-
lar. Os exemplos clínicos
ORIGENS
evocados esclarecem esses di-
ferentes parâmetros. Duas
formas de violência psíquica
a c o m p a n h a m assim o traba-
lho p s i c a n a l i t i c o : uma mortí- Diferentes d i m e n s õ e s da p s i c a n á l i s e da
fera, repetitiva, e outra sepa-
radora, portadora de vida, criança colocam a questão da violência psíquica: o
p o s s i b i l i t a n d o a simbolização lugar dos pais, o desejo da criança, o papel do cor-
dos conflitos.
Separação; dispositivo; vio- po no engajamento do terapeuta, o contato do ana-
lência psíquica; transferên-
lista com pacientes sem l i n g u a g e m . Essas questões
cia; conlratransíercncia
suscitaram, desde a origem, debates que ainda nos
CHILD PSYCHOANALYSIS: esclarecem. A violência própria do inconsciente foi
A VIOLENT SITUATION
Child psychoanalysis is a imediatamente sensível, e os analistas responderam a
particular clinical situation
ela de modo inovador.
in which psychic violence
has a ma/or place. The Melanie Klein enuncia a primeira das interpre-
child's symptom, Jus non
demand, the parents' implica- tações consideradas como violentas, ou até mesmo
tion, lhe therapist's activity
are situated at this dimensi-
t r a u m a t i z a n t e s . C o m o recuo, estas a p a r e c e m na
on. The cure organizes the medida das patologias encontradas: inibições graves,
links and lhe effective and
symbolic separations between distúrbios psicóticos e formas autísticas, como de-
parents and children. The
axe adult-child, made out ol
monstra o célebre Caso Dick. Suas intervenções es-
dependence and differenciati- tavam em ressonância com o caos interno da crian-
on, structures the therapeutic
relationship. The analyst re- ça, e sua eficácia deve-se a este laço estabelecido com
ceives the pulsional move-
ments ol the child. Clinical
as fantasias precoces. Ela descreve um universo que
exemplihcations clear up the- lhe foi transmitido pelos pacientes de que cuidava.
se diflerent axes. Two form
of psychic violence follow Suas interpretações referem-se a um i m a g i n á r i o do
the psychoanalytical work:
one is mortiferous, repetitive,
corpo e das fantasias vividas pela criança. As hipó¬
and the other leads to sepa-
ration and life, making con¬
llicts symbolization possible.
Separation; psychic violen-
Professor no Departamento de Ciências da Educação, da
ce: transference
Universidade de Paris V, psicólogo clínico, psicanalista.
teses de M. Klein estão de acordo com a experiência infantil em
que palavra linguageira e corporal estão misturadas.
O "mundo kleiniano" também fala de uma outra dimensão: a
de um real, sentido pelo jovem sujeito, mas que escapa a ele. Este
real é aquele de seus movimentos pulsionais, mas também da reali-
dade externa - por e x e m p l o , o fato da s e x u a l i d a d e dos pais. A
célebre intervenção "Trem Dick - Estação M a m ã e " é exemplar: ela
estabelece u m a equivalência simbólica estruturante para a criança,
mas ela diz respeito também ao encontro de Dick com a sexuali-
dade adulta - ela representa a penetração dos corpos, nomeia algo
real (Klein, 1930). A pertinência desta interpretação liga duas rea-
lidades pulsionais, a da criança e a do outro.
Se M. Klein trabalha com o mundo interno de seus pacientes,
Ferenczi, o primeiro, introduz a questão do ambiente. Ele explicita
a relação criança-adulto que atravessa os conflitos identificatórios e
reescreve o Édipo freudiano. A relação das mensagens sexuais in-
conscientes adultas com a vida psíquica da criança torna-se u m a
questão central. A "confusão das l í n g u a s " advém entre a ternura
infantil e a paixão adulta (Ferenczi, 1933). A violência nasce deste
encontro: vinda do outro, ela é imediatamente interiorizada, nos
temos próprios à criança; a libido situa-se a partir daí numa inter-
subjetividade e numa transmissão. Esta problemática torna-nos sen-
síveis a uma derivação: a interpretação pode, em alguns casos, apa-
recer como um f o r c i n g terrível do sentido. Assim, pode haver um
deslizamento para uma sugestão do terapeuta sobre a criança, se as
hipóteses dos praticantes se transformarem numa ideologia fechada.
O analista poderá então manter u m a violência patológica, sem o
saber, por seu modo de intervenção e a manutenção de uma atitu-
de imutável: as terapias não avançam mais.
Este texto será baseado sobre as conseqüências clínicas extraídas
de consultas familiares e sobre psicoterapias psicanalíticas conduzi-
das em instituição e em centros médico-psicopedagógicos. Movi-
mentos psíquicos arcaicos operam em torno do sintoma da crian-
ça, entre estas e os adultos, pais e terapeuta. A psicanálise supõe o
inconsciente e trabalha com transferências: ao se iniciar, ela bascula
a e c o n o m i a p s í q u i c a do paciente, de sua família, bem como os
valores culturais que dizem respeito ao lugar da criança.

A IMPOTÊNCIA ADULTA

A emergência do sintoma, corpo estranho, é p r i m e i r a m e n t e


uma violência ao ambiente. Para os pais, vir consultar é responder
a uma crise que se tornou insuportá- uma criança ideal, imaginária, herdei-
vel. Fracassos escolares, inadaptações, ra do n a r c i s i s m o dos p a i s (Freud,
d i s t ú r b i o s da p e r s o n a l i d a d e expres- 1914).
sam diferentes sofrimentos, segundo Esse contexto pesa no tratamen-
os autores. De acordo com os sinto- to e induz a família a exigências pa-
mas, u m a criança sentirá vergonha, radoxais: alguns pais querem ajudar a
indiferença ou encontrará prazer em c r i a n ç a confiando-a a u m a n a l i s t a ,
benefício de atenção suplementar. A m a n t e n d o p o r é m o c o n t r o l e dos
confusão dos pais é de u m a o u t r a processos. A psicanálise de u m a cri-
natureza, em relação com seu narci- ança é a c o m p a n h a d a de m ú l t i p l o s
sismo e a norma social: o encontro processos, como ressalta M. M a n n o ¬
com um terapeuta é uma saída aceita, ni: estes c o l o r e m a r e l a ç ã o c o m o
mas freqüentemente não desejada. t e r a p e u t a c o m o as c o n t r a - a t i t u d e s
Q u a n t o à c r i a n ç a , ela n a d a pede, deste (Mannoni, 1967). A desconfian-
pelo menos n u m primeiro tempo. ça, a transferência negativa em rela-
As dificuldades da criança foca- ção ao praticante colocam sob tensão
l i z a m antes de t u d o a i m p o t ê n c i a as primeiras entrevistas e são porta-
adulta. A demanda de cuidado é vi- doras de ruptura. A a m b i v a l ê n c i a é
v i d a c o m o u m fracasso e d u c a t i v o regra em todos os protagonistas.
pela família: o sintoma afasta, torna Se freqüentemente a a n á l i s e se
a c r i a n ç a estranha para seus próxi- reduz à psicoterapia e à e l i m i n a ç ã o
m o s . O r e c a l q u e da a g r e s s i v i d a d e dos s i n t o m a s m a i s v i s í v e i s , é por-
próprio dessa situação emerge desde que os pais não vêem mais utilidade
as primeiras entrevistas, as recrimina- em continuar: eles interrompem en-
ções aparecem: "Ele nasceu assim", tão a cura, contrariamente à opinião
diz um pai. O sistema de comunica- do t e r a p e u t a e da c r i a n ç a . Se esta
ção familiar fica abalado pelo início a m b i v a l ê n c i a p a r e n t a l não é sufici-
do t r a t a m e n t o , r e v e l a n d o as raízes entemente trabalhada, a criança tor-
i n t e r s u b j e t i v a s do s i n t o m a . As pri- na-se refém e desinveste o tratamen-
meiras entrevistas confirmam um fra- to. C o m o poderia ela continuar um
casso, uma decepção, e são revelado- t r a b a l h o p s í q u i c o c o n d e n a d o por
ras, possibilitam o aparecimento de seus próximos? Dominação, sedução,
diversas atitudes: ausência de um dos ódio reatualizam-se em t o r n o dela,
pais, comportamentos particulares em que, por seu sintoma, decepciona o
r e l a ç ã o ao s o f r i m e n t o p s í q u i c o da ideal familiar.
criança, em que a grande solicitude Instala-se u m laço complexo, a
revela seu c o n t r á r i o . A q u i l o que é exigência social prescreve um trata-
dito com freqüência é muito violen- mento, a criança nada pede e a im-
to; um dos pais evoca seu não-desejo plicação dos pais é, de i n í c i o , nula
de criança, diante de seu filho. C o m ou ambígua. Isto coloca a questão de
o estabelecimento do tratamento, a sua acolhida e de sua presença. Des-
impotência dos próximos mostra seu de o início da psicanálise da criança,
f u n d o de ó d i o . C o n f i r m a - s e u m a os terapeutas m a n t i v e r a m posições
desilusão, aquela de não se possuir a n t a g ô n i c a s s o b r e esse p o n t o : A.
Freud colocava-se v o l u n t a r i a m e n t e
n u m a p o s i ç ã o de e d u c a d o r a ; M.
Klein afastava os pais da cura; F.
Dolto, ao contrário, exigia a vinda
e o dizer parental no início de uma
terapia. As diferentes atitudes clíni-
cas em relação à família refletem con-
cepções teóricas e fantasmáticas, di-
vergentes por parte dos terapeutas.
C o m freqüência, a cura é pres-
crita pela escola ou por u m médi-
co: A proposta de terapia constitui
então uma violência para os pais. A
implicação familiar deve ser constitu-
ída pelos terapeutas.
"Pierre, 10 anos, tem pesadelos;
sua mãe o acompanha apesar da hos-
tilidade do pai ao tratamento: 'Ele
n ã o é u m i n t e l e c t u a l ' , d i z a mãe
para desculpá-lo. Na sessão, Pierre
não pára de falar no pai, indicando
seu valor protetor. Este é esportista,
e seu f i l h o i d e n t i f i c a - s e c o m ele.
U m dia o pai irromperá vivamente,
i n t i m a n d o o terapeuta a 'dizer-lhe
tudo'. Uma entrevista lhe é proposta
na semana seguinte, à qual ele não
comparece."
Essa manifestação de angústia
do pai corresponde à violência senti-
da pelo fato de comprometer-se pes-
soalmente com um tratamento sem
tê-lo desejado. A l é m da r i v a l i d a d e
com um outro homem, o terapeuta,
que se supõe ter mais êxito do que
ele, o pai descobre que a cura lhe
escapa, e, mais do que isso, escapa-lhe
a vida psíquica de seu filho.
Certas posições familiares emer-
gem: ataque ao quadro, críticas do
terapeuta, tentativas de colocar os
terapeutas uns contra os outros. Os
pais estão i n t i m a m e n t e i m p l i c a d o s
pelo trabalho que está em jogo. As
ausências, os esquecimentos das consultas da criança são também ex-
pressões da rejeição implícita na terapia.
Em certas patologias atuais, como as violências sexuais ou inces-
tuosas, o fracasso das prescrições psicoterapêuticas para uma criança
vítima de um dos pais é significativo desses paradoxos.
"Francois, 12 anos, vem à terapia; seu pai foi julgado e con-
d e n a d o por abusos sexuais sobre seus filhos, e p a r t i c u l a r m e n t e ,
sobre a irmã de Francois. Esta foi colocada n u m a outra família.
Após o cumprimento da pena, as condutas familiares tornaram-se
aparentemente normais. Os pais foram obrigados a se cuidar e a
fazer consultas. Na sessão, Francois desenha homens com corpos
fascinantes, heróis de histórias em q u a d r i n h o s . Durantes alguns
encontros, ele recusará a terapia, acusando sua irmã de sedução,
negando qualquer responsabilidade paterna. Muito rapidamente ele
decidirá não voltar mais."
O conflito das imagens parentais internas, as decisões judi-
c i a i s , o cuidado misturam-se para Francois. A confusão social e
psíquica atinge seu ponto m á x i m o . C o m o poderia ele iniciar um
tratamento, quando a elaboração do traumatismo sofrido supõe a
acusação dos pais, autores de abusos, mas também seres amados?
C o m o pode seu sofrimento aparecer-lhe como um sintoma, objeto
de cuidado, quando as diferentes formas de violência adulta, inter-
nas e externas, são confundidas nesse ponto? À beira da adolescên-
cia, Francois estreita suas identificações protetoras, i n c a p a z no
momento de aceitar o conflito interno.
O que também é violência é a indicação do tratamento conce-
bido como produto aplicável a diferentes sujeitos. A injunção tera-
pêutica, assimilada aqui a uma prescrição médica ou a um medica-
mento, é asseguradora num primeiro tempo; os processos psíquicos
m o b i l i z a d o s fundam ao contrário uma d i n â m i c a que i m p l i c a os
atores e as posições de m o d o diverso do retiro ou da des-respon-
sabilização. A família, a instituição, a criança encontram-se então
modificados por essas determinantes. Nesses locais de tratamento, a
psicoterapia é às vezes colocada assim, como u m p r o d u t o , não
considerando a experiência da criança: os mais sãos restabelecem
então uma boa medida.
"Victor apresenta problemas de inibição e de elocução: após
ter feito, durante muito tempo, tratamento psicomotor e fonoau¬
diológico, apresenta dificuldades escolares. Em reuniões de equipe,
diz-se que 'só lhe falta uma coisa', isto é, uma psicoterapia. Em sua
única consulta, Victor dirá ao terapeuta que ele agora quer 'ser
normal', isto é, não vir mais ao Centro após todos esses anos."
Essa transformação da indicação de psicoterapia para uma con-
sulta possibilitou a essa criança fechar seu trajeto de tratado. Esta
situação indica a contratransferência dos terapeutas e u m a deriva-
ção institucional possível. Pais, atendentes manifestam atitudes su-
perprotetoras que se tornam dominação. Aqui a violência tem ori-
gem no grupo atendente que nega a evolução da criança, fora de
seu controle.
Esses processos mostram duas faces da violência: uma, sofrida,
negando o conflito psíquico, repetitiva, e outra, viva, simbolizante.

TERAPIA, UM DISPOSITIVO SEPARADOR

Uma outra dimensão simbolizada é a da separação. De fato, se


o projeto analítico é conhecido, insiste-se menos sobre os efeitos
do d i s p o s i t i v o da cura e de seu q u a d r o . O t r a t a m e n t o i n s t i t u i
uma nova separação, violenta, entre a criança e sua família (Pech-
berty, 1985). Esta distingue-se das experiências anteriores: nascimen-
to do corpo materno, distanciamento da família, socialização pelo
grupo dos pares, na escola. O tratamento isola o jovem paciente de
seus pais, regularmente e por longo tempo: ela cria uma comunica-
ção em que o íntimo de uma criança diz-se, a u m adulto, devota-
do em ficar fora da família.
O tratamento i n t r o d u z diversas m o d a l i d a d e s de troca entre
adultos e terapeuta. O espaço terapêutico traz em si conflitos pos-
síveis: entre a dependência da criança de seus pais e a liberdade
encorajada durante as sessões. Mais radicalmente, os adultos vêem-se
c o n f r o n t a d o s à presença do i n c o n s c i e n t e em seu filho, e neles
mesmos. Os conflitos interiorizam-se: os pais são questionados sub-
jetivamente e em seus laços conjugais, diante de seu filho tornado
paciente. Aqui se fundem alguns fenômenos: atitudes pacentais sin-
gulares com relação à psicoterapia, mal aceita, confundida durante
meses, com "cursos", fantasias na relação criança-terapeuta, passagens
ao ato que interrompem brutalmente o tratamento quando os sin-
tomas começam a desaparecer.
A violência psíquica que circula deve ser decifrada: esta fabricou
o sintoma e condensa elementos da história coletiva e pessoal. Os
primeiros encontros são fundamentais e dividem os papéis de outro
modo. São às vezes imediatamente terapêuticos: o tratamento funciona
então como um rito de passagem, dando um novo lugar à criança.
"Hassan, 7 anos, menino apagado, tem enurese durante anos;
os pais, de origem marroquina, vêm falar, cada um de seu lado. A
mãe lembra-se e expressa o tempo de sua juventude, de sua adoles-
cência, 'de antes que a casassem' com este homem, a quem ela é
no entanto apegada. Há dois anos o pai parte, sozinho com os
filhos, durante as férias, para a terra
de origem. Ele sabe de sua desunião
conjugai, ele não compreende. Não é
necessário ir mais longe: paralelamen-
te às consultas de seus pais, Hassan
deixa de ser enurético, faz grandes
progressos escolares, adota condutas
mais viris. O trabalho psicoterápico
começa então para ele."
A vinda ao centro de tratamen-
to f u n c i o n o u aqui c o m o u m sinal
de reconhecimento cultural e pessoal:
o d i r e i t o de c u i d a r , o que é d i t o
nas entrevistas modificou o sistema
de comunicação do casal e da famí-
lia. Um corte simbólico delimitou as
experiências de outra maneira, o an-
tes e o depois de u m a h i s t ó r i a co-
mum. As dificuldades de Hassan ins-
creviam em seu corpo e em suas re-
lações com os outros u m a infância
mal s i m b o l i z a d a . O s i n t o m a era o
eco de seus sofrimentos familiares,
em que estava em jogo uma parte de
sua i d e n t i d a d e . A v i o l ê n c i a sentida
pode se t r a n s f o r m a r n u m c o n f l i t o
histórico portador de sentido.
O d i s p o s i t i v o da c u r a p o d e ,
muito rapidamente, entrar em resso-
nância com o traço daquilo que fez
t r a u m a t i s m o : o a n a l i s t a deve então
m a n t e r toda sua l i b e r d a d e no seu
m o d o de trabalhar. Ferenczi ressal-
tou o papel traumatogênico do qua-
dro (Ferenczi, 1932): o t r a t a m e n t o
pode manter a repetição, e não a
mudança, se o terapeuta não estiver
s u s t e n t a d o por u m desejo v i v o e
c o m p r o m e t i d o . Desse m o d o , o ma-
nejo das primeiras entrevistas revela
processos que o p e r a m entre vários
espaços, externo e i n t e r n o , entre a
s i t u a ç ã o f a m i l i a r e o a p a r e l h o psí-
quico da criança.
"Sonia, 5 anos, m e n i n i n h a por- mãe, ela i n t r o d u z as condições psí-
tuguesa, vem à terapia por proble- q u i c a s que lhe p e r m i t e m e l a b o r a r
mas de i n i b i ç ã o , de m u t i s m o e de uma parte esquecida de sua história.
grande dependência de sua mãe; ali- Se o terapeuta tivesse i n s i s t i d o
ás, ela se recusa a deixá-la durante as em ficar sozinho com Sonia, a situa-
sessões. Ora, encontra-se no primeiro ção teria repetido sem fim o trauma-
plano das entrevistas uma experiência tismo. A presença da mãe foi deter-
t r a u m á t i c a de separação precoce, a m i n a n t e , p o s s i b i l i t o u a j u n ç ã o da
que viveu essa m e n i n i n h a q u a n d o fantasia e de sua simbolização. Assim,
seus p a i s p a r t i r a m p a r a a F r a n ç a , a dimensão traumática do dispositi-
deixando-a com os avós durante um vo e da atitude terapêutica tem aqui
ano." efeitos clínicos importantes. Este dis-
" S o m a n u n c a fala ao a n a l i s t a , t a n c i a m e n t o c o n t r o l a d o tem resso-
exprime-se por meio de mímicas. Ela n â n c i a com outras separações mais
desenha, sempre em silêncio, um mar, s i m b ó l i c a s que o t e r a p e u t a deverá
uma costa, depois uma grande senho- considerar. Sem d ú v i d a a l g u m a s es-
ra v e s t i d a . c o m u m vestido verme- truturas de personalidade são imedi-
lho, com u m a p u l s e i r a de motivos atamente sensíveis a esta dimensão.
complicados. Pouco a pouco, Sônia Assim, o d i s p o s i t i v o psicotera-
c o n f i r m a tratar-se de sua m ã e , na pêutico tem uma função separadora.
época em que esta veio buscá-la em O tratamento isola a criança de seus
Portugal. Esta, presente, diz então, pais e remodela as relações com os
perturbada, que realmente ela usava adultos. M o b i l i z a n d o transferências,
este v e s t i d o e estas b i j u t e r i a s , tais ela reativa acontecimentos que marca-
como sua filha os desenha. Durante ram a história. Assim ela leva a pro-
v á r i a s sessões f a l a r e m o s em t o r n o cessos p s í q u i c o s em que a c r i a n ç a
deste acontecimento. No exterior, ao pode se separar de algumas fantasias,
mesmo tempo, as condutas de retrai- abandonar modos de gozo para avan-
mento evoluem, os sintomas motivo çar. A violência designa portanto di-
da consulta desaparecem e, a partir ferentes planos: os efeitos de ressonân-
daí, Sonia aceita vir sozinha." cia do inconsciente nos pais, a arbi-
Vê-se de que m o d o u m a parte trariedade de um tratamento sempre
do t r a u m a t i s m o é representada nos semelhante e como que colado, e fi-
sintomas: mutismo e retraimento re- nalmente a dimensão do trauma.
petem na cura e x p e r i ê n c i a s vividas
antes, quando do afastamento famili-
ar. Essas atitudes representam o pas-
sado, quase que diretamente, na apre- ESTRANHAMENTO
sentação transferenciai de Sonia. As
primeiras entrevistas com a menini-
CULTURAL
nha sozinha reativam a situação ini-
cial de separação, desta vez com a A extensão da análise para a crian-
possibilidade de opor-se a ela ativa- ça t a m b é m tem efeitos sobre as re-
m e n t e . V i n d o à c o n s u l t a com sua presentações sociais desta. Este pon¬
to, relativamente negligenciado, dá um sentido particular às rela-
ções terapêuticas que se instalam. Os projetos e as regras que fun-
dam o tratamento são dissonantes com certos valores culturais: o
"segredo" das sessões, a regra de livre associação, a atitude analítica
parecem estranhas ou angustiantes para os que estão à sua volta, e
opõem-se à exigência ideológica de um laço educativo transparente
e fraterno, entre adultos e crianças, próprio da nossa modernida-
de. A afirmação de uma vida psíquica da criança, a confidenciali-
dade da situação terapêutica, a suspensão da i n f l u ê n c i a paterna
r o m p e m com o ideal de uma c o m u n i c a ç ã o i g u a l i t á r i a e são mal
percebidos. O código e os valores do campo terapêutico são fontes
de i n c ô m o d o .
Nas instituições em que trabalham os psicanalistas de crianças,
observa-se a dificuldade de certos pais em se posicionar. O relativo
silêncio do terapeuta, condição da confiança da criança, inquieta. A
sociedade, por meio da escola ou do médico, prescreveu uma tera-
pia, a exigência de adaptação funciona, mas aparecem outras ques-
tões: o pagamento do tratamento leva alguns pais a uma atitude em
que o tratamento é percebido como algo devido. O terapeuta deveria
devolver-lhes alguma coisa, para estes que lhe confiaram seu filho:
um resultado rápido e tangível, avaliações. Assim as condutas reivin-
dicativas manifestam-se desde o início do tratamento.
A entrada na psicoterapia confirma uma estigmatização social e
muitos pais estabelecem laços difíceis com o terapeuta. As imagens
projetadas sobre ele são índices transferenciais, mas expressam tam-
bém os cenários culturais e fantasmáticos específicos; o analista é
colocado no lugar de um cirurgião - "Retire o mal de nosso filho
e devolva-nos em perfeito estado, como antes" -, de intérprete -
"Você que sabe, tente fazê-lo compreender que..." - ou de educador
todo-poderoso delegado pela sociedade.

VIOLÊNCIAS DURANTE A CURA

A) Jean
"Jean, 8 anos, dá a impressão de estar ao lado, fora; ele esque-
ce suas coisas, não brinca com as outras crianças, e o diálogo é
quase impossível. Durante as primeiras entrevistas, sua mãe diz que
não o queria, e o pai apresenta intervenções educativas contraditó-
rias. Os pais, religiosos, exercem grande d o m í n i o sobre o filho.
Q u a n d o seus resultados escolares baixam enormemente, eles o ma-
triculam n u m a escola religiosa, rejeitada pela criança."
"No tratamento, Jean encena seu retraimento, seu m u t i s m o .
Demonstra comportamentos paradoxais, desenha letras para papai e
mamãe, mensagens afogadas depois em mamadeiras. Faz jogos inter-
mináveis diante do espelho, coloca-se no lugar de u m a mãe que
protege seu bebê de agressões estranhas."
"O terapeuta raramente é solicitado. O retraimento de Jean é
rompido por breves momentos de autêntica comunicação e aparece
então uma maciça angústia: ele conta seus pesadelos, sua sensação de
não ter os olhos no lugar, cenas de abandono pelos adultos, à noite.
Mede-se então a violência da defesa, avesso da pulsão. A angústia
emerge numa relação: o terapeuta a sustenta antes que a criança possa
assumi-la sozinha. Esta angústia, afeto de base desqualificado (Laplan-
che, 1971), ligada ao enigma do desejo do outro (Lacan, 1962) evoca
experiências primárias, é o signo de situações precoces em que não
havia ninguém para estar em ligação com o bebê."
"Jean, em seus jogos com o espelho, ataca, protege. Expressa
pulsões, domestica-as falando e brincando. A terapia serve-lhe como
continente para que ele elabore e viva, talvez 'pela p r i m e i r a vez'
(Winnicott, 1958), um traumatismo, para que um recalque primário
se estabeleça."
"A violência também estava presente em torno do tratamento,
e o mal-estar familiar aparecia. A terapia de Jean foi muito maltra-
tada por seus pais: eles atacavam verbalmente os terapeutas (médico
e terapeuta), tentavam cindi-los, querendo utilizar o terapeuta como
substituto paterno eficaz. O pai nega a doença do filho, recrimi-
n a n d o o terapeuta por não se situar n u m plano educativo. Seria
necessário portanto proteger o trabalho, sustentar essas transferênci-
as negativas, condição para que o trabalho prossiga."
C o m freqüência irritei-me por não compreender Jean. Assim,
por um tempo insisti em que ele respondesse às minhas perguntas,
entrando por aí na tentação educativa - como o pai. Ao mesmo
tempo, eu falava m u i t o com ele, um pouco demais, mas m i n h a s
palavras tinham sobretudo uma função de garantia diante do caos
do m u n d o da criança. Somente q u a n d o não me i n c o m o d e i mais
com esta comunicação incompreensível que Jean ocupou um outro
lugar, ao mesmo tempo simbólico e real. Ele então me solicitou
para exprimir algumas angústias. Mais tarde, ele me acusou de ser
uma "boca costurada".
De fato eu queria fazer violência ao funcionamento de Jean
para fazê-lo entrar n u m diálogo coerente, maduro, que asseguraria
a todos e p r i m e i r a m e n t e a m i m , seu terapeuta. M i n h a s questões
visavam estabelecer u m sentido pelo diálogo, transformando-se em
injunção educativa. Minha angústia era a da distância muito grande
em relação a esta criança. C o m o terapeuta, não estaria me identifi¬
canelo com um pai melhor, como se
o êxito t e r a p ê u t i c o pudesse substi-
tuir o fracasso educativo? Essas ob-
servações p o s s i b i l i t a m identificar
melhor as contra-violências educativas
que se alimentam da angústia de não
compreender, diante da desorganiza-
ção psíquica.
B) Fabien
"Fabien, 6 anos, apresenta u m a
grave d e s a r m o n i a : ele se a p r e s e n t a
como uma criança imatura, com voz
de matraca; ele está adaptado para o
mínimo social, mas de fato está sepa-
rado dos outros, em sua bolha, mui-
to s o z i n h o . Está fora da r e l a ç ã o ,
numa comunicação incompreensível."
"Jogos com água solitários, his-
tórias contadas para si mesmo, Fabi-
en está em seu m u n d o . Ele lava os
objetos, as paredes e repete as mes-
mas brincadeiras. C o m freqüência eu
interpretava seu medo, seu ódio, sua
angústia, em relação a imagens inter-
nas insuportáveis. Nada tem efeito, as
palavras do adulto estão dissociadas
da sua e x p e r i ê n c i a , não a a t i n g e m ,
nada mudam em seu funcionamento:
Fabien está fora. U m dia, intervenho
para interromper esta lavagem, arran-
co a esponja das m ã o s de F a b i e n ,
p r o v o c a n d o então fortes reações
agressivas. A criança quer retomar o
objeto: cólera, corpo-a-corpo violento
com o terapeuta produzem-se então."
" C o m esta c r i a n ç a , a p r i m e i r a
questão foi e n c o n t r a r o c o n t a t o , à
imagem dos tratamentos de crianças
autistas (Tustin, 1986). O tratamento
demonstra outra coisa: este encontro
se passa fora da palavra in.terpretante.
Ele e n g l o b a o corpo do t e r a p e u t a ,
sua presença simbólica, mas também
efetiva, corporal. A i n t e r v e n ç ã o do
analista é aqui u m ato, a marca da
alteridade no tratamento."
"Fabien também brinca de tele-
fonar, s o z i n h o d i a n t e de m i m . O
que ele e x p r i m e do l o n g í n q u o , de
sua i m p o s s i b i l i d a d e de c o m u n i c a r
com esta chamada encenada? Ele mur-
mura e responde então numa língua
estranha. Eu tomo o partido de for-
çar a comunicação, de entrar em seu
jogo e d i z e r ' a l ô ? a l ô ? ' Fabien me
olha então estupefato e cheio de an-
gústia. A atividade vai parar, a rela-
ção está à beira da mudança."
Nessa observação, o ato do tera-
peuta é uma intervenção, e não uma
i n t e r p r e t a ç ã o dita. O c o m p r o m e t i -
m e n t o do terapeuta cria u m l u g a r
vazio para u m objeto de troca que
esteja ligado ao outro. Esta iniciativa
violenta a respeito da esponja possi-
b i l i t o u a c o m u n i c a ç ã o com Fabien,
com as representações das pulsões de
vida da criança, além das condutas
repetitivas fixas.
A m u d a n ç a terapêutica passou
por u m confronto. O terapeuta in-
terveio fisicamente, n u m a relação
com o corpo significante para a cri-
ança; esta presença real do terapeuta
p o s s i b i l i t o u a m o d i f i c a ç ã o do dis-
curso. Estabeleceu-se uma relação em
torno do objeto faltante que adqui-
riu u m valor simbólico: Fabien sen-
tiu u m n o v o tipo de a n g ú s t i a , do
lado da vida. Produziu-se u m a aber-
tura em seu m u n d o fechado, aconte-
ceu u m e n c o n t r o . Os desejos dos
p r o t a g o n i s t a s e r a m d i f e r e n t e s : no
a d u l t o , terapêutico e separador, na
criança, fechado sobre si; estes se li-
g a r a m às pulsões, c o n s t i t u i n d o um
conflito interno possível para Fabi-
en. U m novo e q u i l í b r i o entre pul¬
sões de v i d a e p u l s õ e s de morte mília não reconhece a dimensão psí-
opera-se sem dúvida. quica: aparentemente aceita, a psicote-
r a p i a é de fato r e c u s a d a . Os p a i s ,
'esquecendo' de levar seu filho às ses-
sões, transformam o tratamento em
UMA SITUAÇÃO consultas do tipo médicas, retoman-
do o poder sobre o dispositivo e o
COMPLEXA
terapeuta. A sensação de ser excluído
dos processos de mudança de seu fi-
Do exterior para o interior da lho, mobilizados por um outro adul-
cura, a violência psíquica exprime-se to, causou esta interrupção."
assim de diferentes modos. Vimos de Q u a n t o ao analista, u m a outra
que maneira os pais poderiam inter- violência pode infiltrar sua interven-
romper o tratamento quando os sin- ção, sem que ele perceba, e fechar
tomas da criança começavam a desa- definitivamente a comunicação: esta
parecer. O fato de que este retome pode tomar dois aspectos, o cuidado
sua e v o l u ç ã o p s í q u i c a fora de seu prolongado ou a tentação educativa.
controle pode revelar-se insustentável. O trabalho com a criança, pela mul-
"Isabelle, 8 anos, é i n i b i d a em tiplicidade das transferências que o
suas relações sociais, embaraçada, e atravessa - a dos pais, a da criança e
enfrenta u m fracasso escolar. Após a do terapeuta -, leva o a n a l i s t a a
alguns meses a situação melhora, até essas duas vertentes. Tratar de u m a
na escola. Neste m e s m o p e r í o d o a c r i a n ç a em d i f i c u l d a d e revela sua
menina produz, em terapia, u m a sé- própria experiência infantil e reativa
rie de d e s e n h o s : estes r e p r e s e n t a m nele uma identificação de pai ideali-
uma menininha móvel, dançante, feliz zada ou reparadora. Sua transferência
e testemunham a imagem de um cor- de analista anima as fantasias especí-
po novo, narcísico, em construção. ficas na c o n d u ç ã o do t r a t a m e n t o :
A mãe interrompe o tratamento, sem a n u l a r a f a m í l i a do paciente, fazer
aviso: ela não suporta a a u t o n o m i a nascer uma nova criança maravilhosa
de sua filha." graças ao tratamento, reeducá-la. Re-
As passagens ao ato e as resis- parar, tratar, educar são dimensões
tências paternas ao tratamento às ve- m o b i l i z a d a s no trabalho com a cri-
zes tomam a forma do sintoma. ança. Resulta daí u m certo tipo de
"Marc, 6 anos, sofre de ausências i m a g i n á r i o : este está sem d ú v i d a li-
epiléticas. Após uma fase de desconfi- gado à experiência paterna, específi-
ança e de rejeição, ele pode confiar ca do m u n d o a d u l t o . O p r o c e s s o
no terapeuta. A resistência à psicote¬ de humanização da criança é iniciá-
rapia vem da família e também terá tico e educativo: vem a c o m p a n h a d o
a forma de ausências: Marc se ausen- de identificações mútuas entre adul-
ta, seus pais não c u m p r e m com os to e criança. Durante seu crescimen-
h o r á r i o s das consultas, o terapeuta to, este se constrói a partir d a q u i l o
deve pedir novamente a presença re- que ele recebe e se apropria de seus
gular da criança. Aqui também a fa- ascendentes. Este ato é implicitamen¬
te m o b i l i z a d o no t r a b a l h o c l í n i c o
com a criança.
Todos esses parâmetros induzem
a uma situação complexa. Várias
perspectivas esclarecem então a natu-
reza da violência psíquica no traba-
lho com o paciente, o analista e na
própria situação terapêutica.
A) A criança
Para a criança as consultas ser-
vem de amplificador: a permissivida-
de dada à expressão dos fantasmas
ativa a expressão pulsional. A trans-
ferência com o adulto terapeuta, que
encoraja e reconhece todas as formas
de.sua atividade, mobiliza os confli-
tos internos. O tratamento irá favo-
recer p a r a a c r i a n ç a u m a v i v ê n c i a
poderosa alimentada pelo sentimento
de ter a p e n a s p a r a si o t e r a p e u t a ;
esta experiência vai rapidamente de
encontro à não resposta do analista.
À excitação sucede a agressividade. A
transferência infantil serve como câ-
mara de eco aos conflitos identifica¬
t ó r i o s que l e v a r a m ao s i n t o m a . A
a n g ú s t i a é a marca da m o b i l i z a ç ã o
psíquica, e este sentimento novo, em
relação a u m outro, gera violência.
Alguns traços especificam a
transferência infantil: o sentimento
do jovem paciente de estar dividido
entre os adultos - família e terapeuta
- indica a agressividade, a clivagem
da transferência e a desconfiança. A
r e g u l a r i d a d e das sessões, c o m o vi-
mos, separa a criança de seus próxi-
mos e a obriga a contar suas intimi¬
dades ao terapeuta, posto assim em
p o s i ç ã o de p e r s e g u i d o r . A e s c u t a
analítica remete ao sujeito da violên-
cia latente de sua expressão agressiva.
O desejo da criança de parar o trata-
mento em seu i n í c i o , com freqüên¬
cia, está l i g a d o ao medo dessa vio- ções que vem acompanhado de uma
lência interna. Além disso, a educa- expressão maior de sua agressividade.
ção paterna obriga p a r t i c u l a r m e n t e B) O analista
ao recalque das pulsões hostis. Isto A realidade psíquica infantil e o
reforça nas crianças neuróticas a for- contexto da cura induzem a transfe-
ça dos desejos de m o r t e e d í p i c o s , rências e a afetos específicos nos ana-
impossíveis de serem ditos em famí- listas. Manter seu lugar de analista é
lia; vão i n i c i a l m e n t e se m a n i f e s t a r u m a aposta, p o i s os p a r a d o x o s se
por uma transferência negativa diri- multiplicam: ele deve se deslocar das
gida ao terapeuta. posições parentais. O encontro com
C o m as psicoses e as inibições uma criança que não pediu para vir
g r a v e s , M . K l e i n foi a p r i m e i r a a o i n d u z a se i m p o r , a f o r ç a r a
v a l o r i z a r o c a r á t e r d e s t r u i d o r das transferência. O terapeuta s o l i c i t a ,
pulsões que se volta contra a identi- mantém o tratamento e seu sentido.
dade dos sujeitos: a i n t r i n c a ç ã o da A p a r t i r daí, ele t r a b a l h a t a m b é m
p u l s ã o de m o r t e com a l i b i d o ali- com sua contratransferência, e este é
menta então a transferência infantil. a c o m p a n h a d o por intervenções: ele
M. Klein também ressaltou a rapidez pode desejar afastar os pais para ter
do ritmo de expressão das fantasias m a i s êxito do que eles, ou querer
infantis, na sessão: estes acompanham apoiar-se sobre sua presença quando
as a t i v i d a d e s do paciente e a resis- o t r a t a m e n t o é m u i t o d i f í c i l . Os
tência se dá pela p a s s a g e m de u m fantasmas e d u c a t i v o s , p a r e n t a i s ou
r e g i s t r o de e x p r e s s ã o a o u t r o , do reparadores, fazem pressão sobre ele.
desenho do jogo ou ação. Assim o O analista é tão mais sensível a estas
avanço terapêutico da criança, a ne- quanto se inscreve nas transferências
cessidade de enfrentar seus conflitos familiares mobilizadas pelo tratamen-
e de ter que abandonar gozos regres- to. Esta situação obriga a u m a per-
sivos m o b i l i z a m as pulsões parciais, m a n e n t e v i g i l â n c i a sobre os efeitos
colocando à prova a unidade do eu. de sua atividade.
As identificações edípicas com fre- Enfim, reconhecer o desejo da
qüência estão próximas da gênese do criança, nomeá-lo, supõe uma identi-
eu n u m j o v e m paciente: isto pode ficação com seus conflitos psíquicos.
explicar o conselho dado por W i n n i ¬ O analista encontra então como um
cott aos terapeutas, de respeitar esta golpe a presença da sexualidade in-
f r a g i l i d a d e do eu, p a r t i c u l a r m e n t e fantil; ser terapeuta é t a m b é m rece-
nas crianças em período de latência. ber e metabolizar esses movimentos
Com o tratamento, as pulsões recom- libidinais. Essas intervenções recebem
põem-se n u m a nova organização li- e orientam a expressão das pulsões,
bidinal. Esta evolução facilita a matu- na s e s s ã o . A c o n t r a t r a n s f e r ê n c i a
ração e induz a mecanismos de defesa pode também indicar a confusão dos
violentos, na medida das m u d a n ç a s registros: por exemplo, uma excessiva
mobilizadas. Os pais constatam assim proximidade com a problemática do
com freqüência uma nova liberdade sujeito, experimentada numa vivência
de seus filhos, um recuo das inibi- fusional ou muito distante.
Encontra-se uma outra particularidade: F. Dolto ressaltava que
o Edipo, despertado no tratamento, deve se sentir nos pais reais
da criança, tais como eles são (Dolto, 1982). Querer substituí-los é
um fantasma possível do analista, que pode levar a um desvio per-
verso. Essas observações demonstram o lugar paradoxal do terapeu-
ta: ser o destinatário de transferências, mas aceitar imediatamente
assegurar a transição.
"Jim, 11 anos, é uma criança inteligente, hipercinética, ansiosa,
que manipula objetos e pessoas e falando sem parar. Tem um pen-
samento mágico em que tudo deve se realizar imediatamente. Essa
excitação patológica encontra suas raízes nas carências educativas
antigas. Durante vários anos, J i m não encontrava obstáculos a seus
desejos. O pai, particularmente, não lhe punha limites; consciente
deste erro, ele começa a fazê-lo, mas J i m consegue criar tensão tão
bem, que os golpes caem com m u i t a violência. Recentemente, o
casal quase se separou."
"O tratamento inscrevia-se nesse contexto. O analista também
assumiu esta excitação permanente, na sessão e no Centro. Quan-
do a família modificou suas atitudes educativas, J i m quis parar o
tratamento; o terapeuta, tido como amigo e aliado, tornou-se um
inimigo que deveria desaparecer de seu campo. A mutação de J i m ,
encontrando uma lei e seu pai de outro modo, foi acompanhada
de uma provocação incessante dirigida ao analista: injúrias, múlti-
plas condutas transgressivas. Este decidiu manter as sessões por um
t e m p o para não satisfazer de novo ao desejo todo-poderoso da
criança e dar u m sentido à transferência negativa."
O súbito a p a r e c i m e n t o da raiva e da v i o l ê n c i a de J i m , na
transferência, acompanha esta nova presença paterna, interditadora.
Opera-se uma clivagem: o terapeuta representa agora a face imagi-
nária e má de um pai que de agora em diante se faz realmente
respeitar. Estabelece-se um jogo entre o contexto familiar mais cal-
mo e o analista: a criança expressa com ele uma posição infantil
dominante, que está sendo ultrapassada. A violência é ao mesmo
tempo u m resto de passado arcaico e o sinal de que J i m deve se
d i r i g i r não m a i s ao terapeuta, tido c o m o responsável por esta
nova situação, mas a um pai.
Esta observação confirma que o analista recebe uma transferên-
cia da qual uma parte deve voltar aos pais. Os movimentos psíqui-
cos do paciente, despertados no tratamento, com freqüência perma-
necem não interpretáveis, sob o risco de se tomar u m a posição
parental ou educativa. Esta obrigação de ouvir, sem necessariamen-
te intervir, é também uma violência ao analista; a situação reforça
o efeito das pulsões e o questiona em sua própria dinâmica infan-
til. A o r i g i n a l i d a d e do contexto c l í n i c o , o e s t a b e l e c i m e n t o do
olhar e da sensorialidade no encon-
tro com a criança acentuam esta di-
mensão.
A dimensão da sedução original
designa o enigma das mensagens se-
xuais inconscientes adultas às quais a
criança é confrontada (Laplanche,
1989). Talvez esta seja uma das razões
da especificidade do t r a t a m e n t o da
c r i a n ç a . De fato, a m i s t u r a de de-
pendência, de expressão p u l s i o n a l e
de poder imaginário da criança exer-
ce u m fascínio sobre o a d u l t o e a
contratransferência em relação a ele
varia segundo o sexo, a i d a d e a as
estruturas clínicas dos pacientes.
As excitações transmitidas ao te-
r a p e u t a p r o v ê m da v i d a p u l s i o n a l
do paciente. O analista trabalha com
o que sente na transferência, e subli-
n h a r tal e l e m e n t o o r e m e t e à sua
própria d i m e n s ã o infantil. Suas in-
tervenções têm r e s s o n â n c i a com a
energia e os significantes pulsionais
da criança que ele lhe devolve, sob
forma de questionamento.
A pulsão, escrevia Freud, não é
inteiramente educável. A q u i , são as
pulsões parciais que estão mobiliza-
das atrás dos conflitos identificatóri¬
os e a e x p r e s s ã o dos d e s e j o s . Os
m o v i m e n t o s e d í p i c o s i n f a n t i s são
igualmente ativos, e trabalham-se por
alusão. Encontra-se aqui uma questão
essencial levantada por vários analis-
tas: o risco da interpretação sistemá-
tica. Winnicott ressalta que esta não
deve ser u m saber t o d o - p o d e r o s o ,
d i t a com as p a l a v r a s do a d u l t o : é
a i n d a a " v i o l ê n c i a " da i n t e r v e n ç ã o
kleiniana que é visada. A obra kleini-
ana tem de fato desencadeado reações
apaixonadas pela brutalidade de suas
interpretações. No entanto, estas não
gostariam de dar palavra à virulência do inconsciente. As pulsões manifes-
das pulsões despertadas no tratamen- tam-se de formas variadas, fantasias,
to, particularmente à sexualidade in- palavras e condutas diversas - excita-
fantil mais arcaica? A verdadeira ção, retraimento, ganchos. Qual será
q u e s t ã o é n ã o fechar o q u e s t i o n a - a resposta do terapeuta? Sua contra-
mento por uma atitude interpretado- transferência é fortemente solicitada,
ra que encerra, e finalmente defensi- fazendo eco com sua própria experi-
va. Os fantasmas descritos por M. ência infantil. As observações de Jean
Klein ligam-se às i n d i c a ç õ e s dadas e de Fabien, próximas à psicose, de-
por Freud sobre a amoralidade dada m o n s t r a m como eles ocupavam um
às pulsões. Para ela, o Édipo e a cas- lugar de objeto no desejo do outro,
t r a ç ã o , e l e m e n t o s e s t r u t u r a n t e s do r e p r o d u z i n d o i n d e f i n i d a m e n t e as
psiquismo, estão presentes, enquanto mesmas atitudes, e evitando qualquer
fantasmas, desde o início; a cura vai contato novo com o exterior. C o m
facilitar sua elaboração. A dificuldade as psicoses de forma autista, a pre-
do trabalho do analista é a de reco- sença do o u t r o é n e g a d a . Por sua
nhecer e interpretar esses elementos intervenção, o terapeuta faz violência
fundadores, sem adotar uma posição ao m u n d o fechado da criança: ele se
de saber e de mestria. introduz e se impõe como parceiro.
Ele representa as pulsões de vida para
um paciente levado às condutas repe-
titivas e à morte psíquica.
CRIANÇA, OBJETO OU Toda m u d a n ç a pode ser acom-
p a n h a d a por u m a regressão: certas
SUJEITO? crianças induzem uma relação fusio¬
nal, erotizada, que inclui o terapeuta
Winnicott compara a transferência em seu m o v i m e n t o . O a n a l i s t a se
de certos adultos psicóticos com as presta a isso, mas sua atividade sim¬
primeiras relações de um recém-nasci- bolizante é prova de u m a v i o l ê n c i a
do. Seu tratamento, escreve ele, insti- separadora. S u s t e n t a n d o a s i t u a ç ã o
tui uma experiência nova, a de uma terapêutica e seu enquadre, ele intro-
"primeira vez", em que um paciente duz uma distância que permite à cri-
pode, por exemplo, expressar finalmen- ança afastar-se de sua violência pulsi¬
te cólera. Toda análise inclui esta di- onal interna, deslocá-la. A relação te-
mensão de "primeira vez", de "primei- rapêutica pode então interiorizar-se,
ro encontro", entre si e o outro. Do e a c r i a n ç a p o d e e s t r u t u r a r - s e de
mesmo modo, aquilo que é novo para outro modo.
a criança é a experiência da transferên- C) O encontro terapêutico
cia e do modo de resposta que o tera- Assim, o encontro terapêutico é
peuta lhe dirige: ela pode então ex- sempre precário. Encontramos questi-
pressar de outro modo seu gozo in- o n a m e n t o s abertos no i n í c i o desse
fantil, sem afastá-lo para crescer. texto: i n d o da periferia ao n ú c l e o
Nas análises, o eixo da relação da situação analítica, mostram-se vári-
adulto-criança o r g a n i z a a expressão os n í v e i s de v i o l ê n c i a . A r e l a ç ã o
adulto-criança é solicitada, em vários
níveis, pelo tratamento; se seguirmos
as idéias de Ferenczi, a d i f i c u l d a d e
do tratamento pode ser descrita em
termos de "confusão de línguas". O
colóquio terapêutico reativa conflitos
psíquicos de base, pois recoloca em
jogo a transmissão original do dese-
jo de viver, entre o a d u l t o e a cri-
ança; esta situação mobiliza as figuras
da s e d u ç ã o o r i g i n a l e n t r e os d o i s
protagonistas, até a reativação da se-
xualidade infantil no terapeuta.
Por meio de sua transferência, a
criança projeta no analista i m a g e n s
parentais, mas também representações
ideais do adulto que ele poderia se
tornar. Repetem-se conflitos e fantasi-
as, mas no quadro de u m a nova ex-
periência, a de u m p r i m e i r o encon-
tro com u m terapeuta, a d u l t o . Esta
relação é efetiva, mas também mítica,
ideal, a b r i n d o a questão do desejo
de crescer. O tratamento torna-se um
l u g a r de p r o j e ç ã o do p a s s a d o , de
fantasias sobre um futuro possível,
idealizado ou malevolente. Distúrbios
neuróticos e psicoses também solici-
tam o terapeuta no eco de sua histó-
ria: cuidar, tratar u m a criança apro-
xima-o de sua dimensão infantil. Um
processo sutil amarra-se entre as iden-
tificações ideais que virão da crian-
ça, e a ressonância inconsciente do
t r a t a m e n t o no a d u l t o . Pai faltante,
i m a g e m de u m a mãe m i s t u r a d a , ou
f i g u r a h o m o s s e x u a l do d u p l o são
exemplos de projeções operadas pela
criança sobre o terapeuta. Este é cha-
m a d o a ocupar lugares i m a g i n á r i o s
na transferência, a entendê-los e até
mesmo a pô-los em palavras: ele ma-
nifesta a seu paciente como ele pode
sustentar a abertura do inconsciente,
nele e para o outro, mantendo seus ele i n t e r v i r á : v i m o s o q u a n t o sua
próprios recalques e uma posição de c o n t r a t r a n s f e r ê n c i a era s o l i c i t a d a ,
" a d u l t o " . Ferenczi m o s t r o u i g u a l - c o m o p a i ou c o m o e d u c a d o r n a
mente, em seu tempo, como a crian- c u r a . A v i g i l â n c i a em r e l a ç ã o às
ça persiste no analista adulto. Seus transferências em jogo, a necessidade
esforços técnicos ilustram essa insatis- de inventar, m u i t o sensível em ana-
fação e sua busca de u m a outra de- listas de crianças, fazem violência aos
finição da situação analítica. hábitos e às regras estabelecidas no
Assim, a c r i a n ç a r e p r o d u z seu campo analítico (Pechberty, 2000).
l u g a r de objeto p a r a seus p a i s na O tratamento apresenta uma
cura, mas também seu possível desa- a m b i g ü i d a d e fundadora: ela faz en-
pego ( L a c a n , 1969). Esta tensão a contrarem-se uma criança e um adul-
leva a formular questões que em par- to, figura estranha, l u g a r de proje-
te permanecerão sem resposta, pois ção. O analista, profissional autoriza-
dizem respeito ao i n t e r d i t o , funda- do pelos pais e pela sociedade para
dor de seu desejo. C o m o tratamen- o bem da criança, não propõe nada
to, ela desenvolve sua problemática e de tangível. N u m a posição instável
a modifica. Ela toma o analista ao entre o Ideal do Eu e o Eu Ideal,
pé da letra pelo modo com que este ele vai ocupar os lugares devolvidos
a ouve e responde a ela. Ela solicita pela t r a n s f e r ê n c i a de seu p a c i e n t e .
o inconsciente do terapeuta, levando- Por o u t r o l a d o , ele p o d e i m a g i n a r
o a i n t e r v i r de m o d o p r o t e t o r ou encontrar naquilo que ele sente a cri-
regressivo. Se este é sensível a esses ança que ele foi ou que ele poderia
processos infantis sem se confundir ter sido. Suas intervenções o ultra-
com eles, a violência traumática so- p a s s a m em p a r t e e a c u r a n a v e g a
frida pela criança pode se transfor- n u m paradoxo constante.
m a r em a b e r t u r a t e r a p ê u t i c a e em
criação. Assim, esta dimensão traumá-
tica manifesta igualmente seu aspecto
evolutivo possível. PSICANALIZAR UMA
A v i o l ê n c i a p u l s i o n a l atravessa
portanto necessariamente o encontro
CRIANÇA É PORTANTO
terapêutico. Objeto perdido, excita- UMA TAREFA
ções, restos de gozos atualizam-se aí.
Sublinhemos ainda os paradoxos que
IMPOSSÍVEL?
organizam o tratamento da criança:
a não-demanda do paciente obriga o O t r a t a m e n t o , suspendendo os
terapeuta a suscitar o interesse pela projetos educativos, m o b i l i z a o in-
cura, a sustentar um q u a d r o e u m consciente entre a criança e o adulto.
projeto, a r o m p e r com as a t i t u d e s Em certos m o m e n t o s , o laço tera-
habituais. A oferta de transferência e pêutico revela sua dimensão de sedu-
o laço com a criança e com sua fa- ção, no s e n t i d o d e f i n i d o a c i m a : o
mília fazem ressurgir no analista ele- inconsciente, as pulsões de vida e de
m e n t o s i n f a n t i s a partir dos q u a i s morte transmitem-se e circulam,
como o fizeram, desde a origem, nos Klein, M. (1930). L'importance de la
primeiros encontros entre os desejos formation du symbole dans le dé¬
do adulto e da criança. Duas formas veloppement du moi. Dans Essais
de violência psíquica organizam-se a de psychanalyse ( t r a d u c t i o n M.
partir daí: a primeira, mortífera, ali- Derrida) (pp. 263-78). Paris,
menta as repetições inconscientes tra- Payot, 1968.
balhando no sintoma. Esta encontra Lacan, J . ( 1 9 6 2 ) . L'angoisse. Docu-
a l g u m a s de suas raízes no s i s t e m a ment ronéotypé, Notes de cours.
das relações f a m i l i a r e s . A s e g u n d a , ( 1 9 6 9 ) . Deux notes sur
v i o l ê n c i a viva, separadora, é o fato l'enfant. Ornicar, 37, 13-6.
do processo do tratamento: ela apos- Laplanche, J . (1971). Problématiques
ta n a s forças de v i d a e i n d u z ao 1, l'angoisse. Paris, PUF.
conflito psíquico na criança. (1989). Nouveaux fonde¬
Esses tempos solicitam o analista ments pour la psychanalyse. Paris,
até no sentido de sua profissão: tra- PUF.
tar de u m a jovem paciente faz eco M a n n o n i , M . ( 1 9 6 7 ) . L'enfant, sa
em si mesmo, à criança sofredora e "maladie" et les autes, Paris, Seuil.
viva que ele foi. Esta ponte estreita Pechberty, B. (1985). Approuche cli-
traz novamente para o adulto antigas nique de la séparation en psycho¬
questões e sua sublimação profissio- thérapie d'enfant. Le goupe famili-
nal: por que querer ser a n a l i s t a de ar, 108, 21-4.
crianças? • (2000). L'infantile- et la clini-
que de l'enfant. Paris, Dunod.
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