A psicanálise de crianças
é u m a s i t u a ç ã o c l í n i c a parti- A PSICANÁLISE DA
cular em que a violência psí-
quica tem um lugar maior.
O s i n t o n i a da c r i a n ç a , sua
não d e m a n d a , a i m p l i c a ç ã o
CRIANÇA: UMA
dos p a i s , a a t i v i d a d e do te-
rapcuta situam-se nessa di-
mensão. O d i s p o s i t i v o da
SITUAÇÃO VIOLENTA
cura o r g a n i z a os laços c se-
parações eíetivas e simbólicas
entre crianças e pais. O eixo
adulto-criança, feito de de-
pendência e de diferenciação,
estrutura a relação terapêuti- Bernard Pechberty
ca. Enfim, o a n a l i s t a , na es-
cuta e elaboração que ele
propõe, acolhe os movimen- T r a d u ç ã o : Inesita Machado
tos p u l s i o n a i s da c r i a n ç a .
Estes, ligados á sexualidade
infantil, têm ressonância no
sentir e na contra-lransferêii-
cia. A a t i v a ç ã o dos proces-
sos primários inconscientes c
a m p l i a d a em cada protago-
nista neste contexto particu-
lar. Os exemplos clínicos
ORIGENS
evocados esclarecem esses di-
ferentes parâmetros. Duas
formas de violência psíquica
a c o m p a n h a m assim o traba-
lho p s i c a n a l i t i c o : uma mortí- Diferentes d i m e n s õ e s da p s i c a n á l i s e da
fera, repetitiva, e outra sepa-
radora, portadora de vida, criança colocam a questão da violência psíquica: o
p o s s i b i l i t a n d o a simbolização lugar dos pais, o desejo da criança, o papel do cor-
dos conflitos.
Separação; dispositivo; vio- po no engajamento do terapeuta, o contato do ana-
lência psíquica; transferên-
lista com pacientes sem l i n g u a g e m . Essas questões
cia; conlratransíercncia
suscitaram, desde a origem, debates que ainda nos
CHILD PSYCHOANALYSIS: esclarecem. A violência própria do inconsciente foi
A VIOLENT SITUATION
Child psychoanalysis is a imediatamente sensível, e os analistas responderam a
particular clinical situation
ela de modo inovador.
in which psychic violence
has a ma/or place. The Melanie Klein enuncia a primeira das interpre-
child's symptom, Jus non
demand, the parents' implica- tações consideradas como violentas, ou até mesmo
tion, lhe therapist's activity
are situated at this dimensi-
t r a u m a t i z a n t e s . C o m o recuo, estas a p a r e c e m na
on. The cure organizes the medida das patologias encontradas: inibições graves,
links and lhe effective and
symbolic separations between distúrbios psicóticos e formas autísticas, como de-
parents and children. The
axe adult-child, made out ol
monstra o célebre Caso Dick. Suas intervenções es-
dependence and differenciati- tavam em ressonância com o caos interno da crian-
on, structures the therapeutic
relationship. The analyst re- ça, e sua eficácia deve-se a este laço estabelecido com
ceives the pulsional move-
ments ol the child. Clinical
as fantasias precoces. Ela descreve um universo que
exemplihcations clear up the- lhe foi transmitido pelos pacientes de que cuidava.
se diflerent axes. Two form
of psychic violence follow Suas interpretações referem-se a um i m a g i n á r i o do
the psychoanalytical work:
one is mortiferous, repetitive,
corpo e das fantasias vividas pela criança. As hipó¬
and the other leads to sepa-
ration and life, making con¬
llicts symbolization possible.
Separation; psychic violen-
Professor no Departamento de Ciências da Educação, da
ce: transference
Universidade de Paris V, psicólogo clínico, psicanalista.
teses de M. Klein estão de acordo com a experiência infantil em
que palavra linguageira e corporal estão misturadas.
O "mundo kleiniano" também fala de uma outra dimensão: a
de um real, sentido pelo jovem sujeito, mas que escapa a ele. Este
real é aquele de seus movimentos pulsionais, mas também da reali-
dade externa - por e x e m p l o , o fato da s e x u a l i d a d e dos pais. A
célebre intervenção "Trem Dick - Estação M a m ã e " é exemplar: ela
estabelece u m a equivalência simbólica estruturante para a criança,
mas ela diz respeito também ao encontro de Dick com a sexuali-
dade adulta - ela representa a penetração dos corpos, nomeia algo
real (Klein, 1930). A pertinência desta interpretação liga duas rea-
lidades pulsionais, a da criança e a do outro.
Se M. Klein trabalha com o mundo interno de seus pacientes,
Ferenczi, o primeiro, introduz a questão do ambiente. Ele explicita
a relação criança-adulto que atravessa os conflitos identificatórios e
reescreve o Édipo freudiano. A relação das mensagens sexuais in-
conscientes adultas com a vida psíquica da criança torna-se u m a
questão central. A "confusão das l í n g u a s " advém entre a ternura
infantil e a paixão adulta (Ferenczi, 1933). A violência nasce deste
encontro: vinda do outro, ela é imediatamente interiorizada, nos
temos próprios à criança; a libido situa-se a partir daí numa inter-
subjetividade e numa transmissão. Esta problemática torna-nos sen-
síveis a uma derivação: a interpretação pode, em alguns casos, apa-
recer como um f o r c i n g terrível do sentido. Assim, pode haver um
deslizamento para uma sugestão do terapeuta sobre a criança, se as
hipóteses dos praticantes se transformarem numa ideologia fechada.
O analista poderá então manter u m a violência patológica, sem o
saber, por seu modo de intervenção e a manutenção de uma atitu-
de imutável: as terapias não avançam mais.
Este texto será baseado sobre as conseqüências clínicas extraídas
de consultas familiares e sobre psicoterapias psicanalíticas conduzi-
das em instituição e em centros médico-psicopedagógicos. Movi-
mentos psíquicos arcaicos operam em torno do sintoma da crian-
ça, entre estas e os adultos, pais e terapeuta. A psicanálise supõe o
inconsciente e trabalha com transferências: ao se iniciar, ela bascula
a e c o n o m i a p s í q u i c a do paciente, de sua família, bem como os
valores culturais que dizem respeito ao lugar da criança.
A IMPOTÊNCIA ADULTA
A) Jean
"Jean, 8 anos, dá a impressão de estar ao lado, fora; ele esque-
ce suas coisas, não brinca com as outras crianças, e o diálogo é
quase impossível. Durante as primeiras entrevistas, sua mãe diz que
não o queria, e o pai apresenta intervenções educativas contraditó-
rias. Os pais, religiosos, exercem grande d o m í n i o sobre o filho.
Q u a n d o seus resultados escolares baixam enormemente, eles o ma-
triculam n u m a escola religiosa, rejeitada pela criança."
"No tratamento, Jean encena seu retraimento, seu m u t i s m o .
Demonstra comportamentos paradoxais, desenha letras para papai e
mamãe, mensagens afogadas depois em mamadeiras. Faz jogos inter-
mináveis diante do espelho, coloca-se no lugar de u m a mãe que
protege seu bebê de agressões estranhas."
"O terapeuta raramente é solicitado. O retraimento de Jean é
rompido por breves momentos de autêntica comunicação e aparece
então uma maciça angústia: ele conta seus pesadelos, sua sensação de
não ter os olhos no lugar, cenas de abandono pelos adultos, à noite.
Mede-se então a violência da defesa, avesso da pulsão. A angústia
emerge numa relação: o terapeuta a sustenta antes que a criança possa
assumi-la sozinha. Esta angústia, afeto de base desqualificado (Laplan-
che, 1971), ligada ao enigma do desejo do outro (Lacan, 1962) evoca
experiências primárias, é o signo de situações precoces em que não
havia ninguém para estar em ligação com o bebê."
"Jean, em seus jogos com o espelho, ataca, protege. Expressa
pulsões, domestica-as falando e brincando. A terapia serve-lhe como
continente para que ele elabore e viva, talvez 'pela p r i m e i r a vez'
(Winnicott, 1958), um traumatismo, para que um recalque primário
se estabeleça."
"A violência também estava presente em torno do tratamento,
e o mal-estar familiar aparecia. A terapia de Jean foi muito maltra-
tada por seus pais: eles atacavam verbalmente os terapeutas (médico
e terapeuta), tentavam cindi-los, querendo utilizar o terapeuta como
substituto paterno eficaz. O pai nega a doença do filho, recrimi-
n a n d o o terapeuta por não se situar n u m plano educativo. Seria
necessário portanto proteger o trabalho, sustentar essas transferênci-
as negativas, condição para que o trabalho prossiga."
C o m freqüência irritei-me por não compreender Jean. Assim,
por um tempo insisti em que ele respondesse às minhas perguntas,
entrando por aí na tentação educativa - como o pai. Ao mesmo
tempo, eu falava m u i t o com ele, um pouco demais, mas m i n h a s
palavras tinham sobretudo uma função de garantia diante do caos
do m u n d o da criança. Somente q u a n d o não me i n c o m o d e i mais
com esta comunicação incompreensível que Jean ocupou um outro
lugar, ao mesmo tempo simbólico e real. Ele então me solicitou
para exprimir algumas angústias. Mais tarde, ele me acusou de ser
uma "boca costurada".
De fato eu queria fazer violência ao funcionamento de Jean
para fazê-lo entrar n u m diálogo coerente, maduro, que asseguraria
a todos e p r i m e i r a m e n t e a m i m , seu terapeuta. M i n h a s questões
visavam estabelecer u m sentido pelo diálogo, transformando-se em
injunção educativa. Minha angústia era a da distância muito grande
em relação a esta criança. C o m o terapeuta, não estaria me identifi¬
canelo com um pai melhor, como se
o êxito t e r a p ê u t i c o pudesse substi-
tuir o fracasso educativo? Essas ob-
servações p o s s i b i l i t a m identificar
melhor as contra-violências educativas
que se alimentam da angústia de não
compreender, diante da desorganiza-
ção psíquica.
B) Fabien
"Fabien, 6 anos, apresenta u m a
grave d e s a r m o n i a : ele se a p r e s e n t a
como uma criança imatura, com voz
de matraca; ele está adaptado para o
mínimo social, mas de fato está sepa-
rado dos outros, em sua bolha, mui-
to s o z i n h o . Está fora da r e l a ç ã o ,
numa comunicação incompreensível."
"Jogos com água solitários, his-
tórias contadas para si mesmo, Fabi-
en está em seu m u n d o . Ele lava os
objetos, as paredes e repete as mes-
mas brincadeiras. C o m freqüência eu
interpretava seu medo, seu ódio, sua
angústia, em relação a imagens inter-
nas insuportáveis. Nada tem efeito, as
palavras do adulto estão dissociadas
da sua e x p e r i ê n c i a , não a a t i n g e m ,
nada mudam em seu funcionamento:
Fabien está fora. U m dia, intervenho
para interromper esta lavagem, arran-
co a esponja das m ã o s de F a b i e n ,
p r o v o c a n d o então fortes reações
agressivas. A criança quer retomar o
objeto: cólera, corpo-a-corpo violento
com o terapeuta produzem-se então."
" C o m esta c r i a n ç a , a p r i m e i r a
questão foi e n c o n t r a r o c o n t a t o , à
imagem dos tratamentos de crianças
autistas (Tustin, 1986). O tratamento
demonstra outra coisa: este encontro
se passa fora da palavra in.terpretante.
Ele e n g l o b a o corpo do t e r a p e u t a ,
sua presença simbólica, mas também
efetiva, corporal. A i n t e r v e n ç ã o do
analista é aqui u m ato, a marca da
alteridade no tratamento."
"Fabien também brinca de tele-
fonar, s o z i n h o d i a n t e de m i m . O
que ele e x p r i m e do l o n g í n q u o , de
sua i m p o s s i b i l i d a d e de c o m u n i c a r
com esta chamada encenada? Ele mur-
mura e responde então numa língua
estranha. Eu tomo o partido de for-
çar a comunicação, de entrar em seu
jogo e d i z e r ' a l ô ? a l ô ? ' Fabien me
olha então estupefato e cheio de an-
gústia. A atividade vai parar, a rela-
ção está à beira da mudança."
Nessa observação, o ato do tera-
peuta é uma intervenção, e não uma
i n t e r p r e t a ç ã o dita. O c o m p r o m e t i -
m e n t o do terapeuta cria u m l u g a r
vazio para u m objeto de troca que
esteja ligado ao outro. Esta iniciativa
violenta a respeito da esponja possi-
b i l i t o u a c o m u n i c a ç ã o com Fabien,
com as representações das pulsões de
vida da criança, além das condutas
repetitivas fixas.
A m u d a n ç a terapêutica passou
por u m confronto. O terapeuta in-
terveio fisicamente, n u m a relação
com o corpo significante para a cri-
ança; esta presença real do terapeuta
p o s s i b i l i t o u a m o d i f i c a ç ã o do dis-
curso. Estabeleceu-se uma relação em
torno do objeto faltante que adqui-
riu u m valor simbólico: Fabien sen-
tiu u m n o v o tipo de a n g ú s t i a , do
lado da vida. Produziu-se u m a aber-
tura em seu m u n d o fechado, aconte-
ceu u m e n c o n t r o . Os desejos dos
p r o t a g o n i s t a s e r a m d i f e r e n t e s : no
a d u l t o , terapêutico e separador, na
criança, fechado sobre si; estes se li-
g a r a m às pulsões, c o n s t i t u i n d o um
conflito interno possível para Fabi-
en. U m novo e q u i l í b r i o entre pul¬
sões de v i d a e p u l s õ e s de morte mília não reconhece a dimensão psí-
opera-se sem dúvida. quica: aparentemente aceita, a psicote-
r a p i a é de fato r e c u s a d a . Os p a i s ,
'esquecendo' de levar seu filho às ses-
sões, transformam o tratamento em
UMA SITUAÇÃO consultas do tipo médicas, retoman-
do o poder sobre o dispositivo e o
COMPLEXA
terapeuta. A sensação de ser excluído
dos processos de mudança de seu fi-
Do exterior para o interior da lho, mobilizados por um outro adul-
cura, a violência psíquica exprime-se to, causou esta interrupção."
assim de diferentes modos. Vimos de Q u a n t o ao analista, u m a outra
que maneira os pais poderiam inter- violência pode infiltrar sua interven-
romper o tratamento quando os sin- ção, sem que ele perceba, e fechar
tomas da criança começavam a desa- definitivamente a comunicação: esta
parecer. O fato de que este retome pode tomar dois aspectos, o cuidado
sua e v o l u ç ã o p s í q u i c a fora de seu prolongado ou a tentação educativa.
controle pode revelar-se insustentável. O trabalho com a criança, pela mul-
"Isabelle, 8 anos, é i n i b i d a em tiplicidade das transferências que o
suas relações sociais, embaraçada, e atravessa - a dos pais, a da criança e
enfrenta u m fracasso escolar. Após a do terapeuta -, leva o a n a l i s t a a
alguns meses a situação melhora, até essas duas vertentes. Tratar de u m a
na escola. Neste m e s m o p e r í o d o a c r i a n ç a em d i f i c u l d a d e revela sua
menina produz, em terapia, u m a sé- própria experiência infantil e reativa
rie de d e s e n h o s : estes r e p r e s e n t a m nele uma identificação de pai ideali-
uma menininha móvel, dançante, feliz zada ou reparadora. Sua transferência
e testemunham a imagem de um cor- de analista anima as fantasias especí-
po novo, narcísico, em construção. ficas na c o n d u ç ã o do t r a t a m e n t o :
A mãe interrompe o tratamento, sem a n u l a r a f a m í l i a do paciente, fazer
aviso: ela não suporta a a u t o n o m i a nascer uma nova criança maravilhosa
de sua filha." graças ao tratamento, reeducá-la. Re-
As passagens ao ato e as resis- parar, tratar, educar são dimensões
tências paternas ao tratamento às ve- m o b i l i z a d a s no trabalho com a cri-
zes tomam a forma do sintoma. ança. Resulta daí u m certo tipo de
"Marc, 6 anos, sofre de ausências i m a g i n á r i o : este está sem d ú v i d a li-
epiléticas. Após uma fase de desconfi- gado à experiência paterna, específi-
ança e de rejeição, ele pode confiar ca do m u n d o a d u l t o . O p r o c e s s o
no terapeuta. A resistência à psicote¬ de humanização da criança é iniciá-
rapia vem da família e também terá tico e educativo: vem a c o m p a n h a d o
a forma de ausências: Marc se ausen- de identificações mútuas entre adul-
ta, seus pais não c u m p r e m com os to e criança. Durante seu crescimen-
h o r á r i o s das consultas, o terapeuta to, este se constrói a partir d a q u i l o
deve pedir novamente a presença re- que ele recebe e se apropria de seus
gular da criança. Aqui também a fa- ascendentes. Este ato é implicitamen¬
te m o b i l i z a d o no t r a b a l h o c l í n i c o
com a criança.
Todos esses parâmetros induzem
a uma situação complexa. Várias
perspectivas esclarecem então a natu-
reza da violência psíquica no traba-
lho com o paciente, o analista e na
própria situação terapêutica.
A) A criança
Para a criança as consultas ser-
vem de amplificador: a permissivida-
de dada à expressão dos fantasmas
ativa a expressão pulsional. A trans-
ferência com o adulto terapeuta, que
encoraja e reconhece todas as formas
de.sua atividade, mobiliza os confli-
tos internos. O tratamento irá favo-
recer p a r a a c r i a n ç a u m a v i v ê n c i a
poderosa alimentada pelo sentimento
de ter a p e n a s p a r a si o t e r a p e u t a ;
esta experiência vai rapidamente de
encontro à não resposta do analista.
À excitação sucede a agressividade. A
transferência infantil serve como câ-
mara de eco aos conflitos identifica¬
t ó r i o s que l e v a r a m ao s i n t o m a . A
a n g ú s t i a é a marca da m o b i l i z a ç ã o
psíquica, e este sentimento novo, em
relação a u m outro, gera violência.
Alguns traços especificam a
transferência infantil: o sentimento
do jovem paciente de estar dividido
entre os adultos - família e terapeuta
- indica a agressividade, a clivagem
da transferência e a desconfiança. A
r e g u l a r i d a d e das sessões, c o m o vi-
mos, separa a criança de seus próxi-
mos e a obriga a contar suas intimi¬
dades ao terapeuta, posto assim em
p o s i ç ã o de p e r s e g u i d o r . A e s c u t a
analítica remete ao sujeito da violên-
cia latente de sua expressão agressiva.
O desejo da criança de parar o trata-
mento em seu i n í c i o , com freqüên¬
cia, está l i g a d o ao medo dessa vio- ções que vem acompanhado de uma
lência interna. Além disso, a educa- expressão maior de sua agressividade.
ção paterna obriga p a r t i c u l a r m e n t e B) O analista
ao recalque das pulsões hostis. Isto A realidade psíquica infantil e o
reforça nas crianças neuróticas a for- contexto da cura induzem a transfe-
ça dos desejos de m o r t e e d í p i c o s , rências e a afetos específicos nos ana-
impossíveis de serem ditos em famí- listas. Manter seu lugar de analista é
lia; vão i n i c i a l m e n t e se m a n i f e s t a r u m a aposta, p o i s os p a r a d o x o s se
por uma transferência negativa diri- multiplicam: ele deve se deslocar das
gida ao terapeuta. posições parentais. O encontro com
C o m as psicoses e as inibições uma criança que não pediu para vir
g r a v e s , M . K l e i n foi a p r i m e i r a a o i n d u z a se i m p o r , a f o r ç a r a
v a l o r i z a r o c a r á t e r d e s t r u i d o r das transferência. O terapeuta s o l i c i t a ,
pulsões que se volta contra a identi- mantém o tratamento e seu sentido.
dade dos sujeitos: a i n t r i n c a ç ã o da A p a r t i r daí, ele t r a b a l h a t a m b é m
p u l s ã o de m o r t e com a l i b i d o ali- com sua contratransferência, e este é
menta então a transferência infantil. a c o m p a n h a d o por intervenções: ele
M. Klein também ressaltou a rapidez pode desejar afastar os pais para ter
do ritmo de expressão das fantasias m a i s êxito do que eles, ou querer
infantis, na sessão: estes acompanham apoiar-se sobre sua presença quando
as a t i v i d a d e s do paciente e a resis- o t r a t a m e n t o é m u i t o d i f í c i l . Os
tência se dá pela p a s s a g e m de u m fantasmas e d u c a t i v o s , p a r e n t a i s ou
r e g i s t r o de e x p r e s s ã o a o u t r o , do reparadores, fazem pressão sobre ele.
desenho do jogo ou ação. Assim o O analista é tão mais sensível a estas
avanço terapêutico da criança, a ne- quanto se inscreve nas transferências
cessidade de enfrentar seus conflitos familiares mobilizadas pelo tratamen-
e de ter que abandonar gozos regres- to. Esta situação obriga a u m a per-
sivos m o b i l i z a m as pulsões parciais, m a n e n t e v i g i l â n c i a sobre os efeitos
colocando à prova a unidade do eu. de sua atividade.
As identificações edípicas com fre- Enfim, reconhecer o desejo da
qüência estão próximas da gênese do criança, nomeá-lo, supõe uma identi-
eu n u m j o v e m paciente: isto pode ficação com seus conflitos psíquicos.
explicar o conselho dado por W i n n i ¬ O analista encontra então como um
cott aos terapeutas, de respeitar esta golpe a presença da sexualidade in-
f r a g i l i d a d e do eu, p a r t i c u l a r m e n t e fantil; ser terapeuta é t a m b é m rece-
nas crianças em período de latência. ber e metabolizar esses movimentos
Com o tratamento, as pulsões recom- libidinais. Essas intervenções recebem
põem-se n u m a nova organização li- e orientam a expressão das pulsões,
bidinal. Esta evolução facilita a matu- na s e s s ã o . A c o n t r a t r a n s f e r ê n c i a
ração e induz a mecanismos de defesa pode também indicar a confusão dos
violentos, na medida das m u d a n ç a s registros: por exemplo, uma excessiva
mobilizadas. Os pais constatam assim proximidade com a problemática do
com freqüência uma nova liberdade sujeito, experimentada numa vivência
de seus filhos, um recuo das inibi- fusional ou muito distante.
Encontra-se uma outra particularidade: F. Dolto ressaltava que
o Edipo, despertado no tratamento, deve se sentir nos pais reais
da criança, tais como eles são (Dolto, 1982). Querer substituí-los é
um fantasma possível do analista, que pode levar a um desvio per-
verso. Essas observações demonstram o lugar paradoxal do terapeu-
ta: ser o destinatário de transferências, mas aceitar imediatamente
assegurar a transição.
"Jim, 11 anos, é uma criança inteligente, hipercinética, ansiosa,
que manipula objetos e pessoas e falando sem parar. Tem um pen-
samento mágico em que tudo deve se realizar imediatamente. Essa
excitação patológica encontra suas raízes nas carências educativas
antigas. Durante vários anos, J i m não encontrava obstáculos a seus
desejos. O pai, particularmente, não lhe punha limites; consciente
deste erro, ele começa a fazê-lo, mas J i m consegue criar tensão tão
bem, que os golpes caem com m u i t a violência. Recentemente, o
casal quase se separou."
"O tratamento inscrevia-se nesse contexto. O analista também
assumiu esta excitação permanente, na sessão e no Centro. Quan-
do a família modificou suas atitudes educativas, J i m quis parar o
tratamento; o terapeuta, tido como amigo e aliado, tornou-se um
inimigo que deveria desaparecer de seu campo. A mutação de J i m ,
encontrando uma lei e seu pai de outro modo, foi acompanhada
de uma provocação incessante dirigida ao analista: injúrias, múlti-
plas condutas transgressivas. Este decidiu manter as sessões por um
t e m p o para não satisfazer de novo ao desejo todo-poderoso da
criança e dar u m sentido à transferência negativa."
O súbito a p a r e c i m e n t o da raiva e da v i o l ê n c i a de J i m , na
transferência, acompanha esta nova presença paterna, interditadora.
Opera-se uma clivagem: o terapeuta representa agora a face imagi-
nária e má de um pai que de agora em diante se faz realmente
respeitar. Estabelece-se um jogo entre o contexto familiar mais cal-
mo e o analista: a criança expressa com ele uma posição infantil
dominante, que está sendo ultrapassada. A violência é ao mesmo
tempo u m resto de passado arcaico e o sinal de que J i m deve se
d i r i g i r não m a i s ao terapeuta, tido c o m o responsável por esta
nova situação, mas a um pai.
Esta observação confirma que o analista recebe uma transferên-
cia da qual uma parte deve voltar aos pais. Os movimentos psíqui-
cos do paciente, despertados no tratamento, com freqüência perma-
necem não interpretáveis, sob o risco de se tomar u m a posição
parental ou educativa. Esta obrigação de ouvir, sem necessariamen-
te intervir, é também uma violência ao analista; a situação reforça
o efeito das pulsões e o questiona em sua própria dinâmica infan-
til. A o r i g i n a l i d a d e do contexto c l í n i c o , o e s t a b e l e c i m e n t o do
olhar e da sensorialidade no encon-
tro com a criança acentuam esta di-
mensão.
A dimensão da sedução original
designa o enigma das mensagens se-
xuais inconscientes adultas às quais a
criança é confrontada (Laplanche,
1989). Talvez esta seja uma das razões
da especificidade do t r a t a m e n t o da
c r i a n ç a . De fato, a m i s t u r a de de-
pendência, de expressão p u l s i o n a l e
de poder imaginário da criança exer-
ce u m fascínio sobre o a d u l t o e a
contratransferência em relação a ele
varia segundo o sexo, a i d a d e a as
estruturas clínicas dos pacientes.
As excitações transmitidas ao te-
r a p e u t a p r o v ê m da v i d a p u l s i o n a l
do paciente. O analista trabalha com
o que sente na transferência, e subli-
n h a r tal e l e m e n t o o r e m e t e à sua
própria d i m e n s ã o infantil. Suas in-
tervenções têm r e s s o n â n c i a com a
energia e os significantes pulsionais
da criança que ele lhe devolve, sob
forma de questionamento.
A pulsão, escrevia Freud, não é
inteiramente educável. A q u i , são as
pulsões parciais que estão mobiliza-
das atrás dos conflitos identificatóri¬
os e a e x p r e s s ã o dos d e s e j o s . Os
m o v i m e n t o s e d í p i c o s i n f a n t i s são
igualmente ativos, e trabalham-se por
alusão. Encontra-se aqui uma questão
essencial levantada por vários analis-
tas: o risco da interpretação sistemá-
tica. Winnicott ressalta que esta não
deve ser u m saber t o d o - p o d e r o s o ,
d i t a com as p a l a v r a s do a d u l t o : é
a i n d a a " v i o l ê n c i a " da i n t e r v e n ç ã o
kleiniana que é visada. A obra kleini-
ana tem de fato desencadeado reações
apaixonadas pela brutalidade de suas
interpretações. No entanto, estas não
gostariam de dar palavra à virulência do inconsciente. As pulsões manifes-
das pulsões despertadas no tratamen- tam-se de formas variadas, fantasias,
to, particularmente à sexualidade in- palavras e condutas diversas - excita-
fantil mais arcaica? A verdadeira ção, retraimento, ganchos. Qual será
q u e s t ã o é n ã o fechar o q u e s t i o n a - a resposta do terapeuta? Sua contra-
mento por uma atitude interpretado- transferência é fortemente solicitada,
ra que encerra, e finalmente defensi- fazendo eco com sua própria experi-
va. Os fantasmas descritos por M. ência infantil. As observações de Jean
Klein ligam-se às i n d i c a ç õ e s dadas e de Fabien, próximas à psicose, de-
por Freud sobre a amoralidade dada m o n s t r a m como eles ocupavam um
às pulsões. Para ela, o Édipo e a cas- lugar de objeto no desejo do outro,
t r a ç ã o , e l e m e n t o s e s t r u t u r a n t e s do r e p r o d u z i n d o i n d e f i n i d a m e n t e as
psiquismo, estão presentes, enquanto mesmas atitudes, e evitando qualquer
fantasmas, desde o início; a cura vai contato novo com o exterior. C o m
facilitar sua elaboração. A dificuldade as psicoses de forma autista, a pre-
do trabalho do analista é a de reco- sença do o u t r o é n e g a d a . Por sua
nhecer e interpretar esses elementos intervenção, o terapeuta faz violência
fundadores, sem adotar uma posição ao m u n d o fechado da criança: ele se
de saber e de mestria. introduz e se impõe como parceiro.
Ele representa as pulsões de vida para
um paciente levado às condutas repe-
titivas e à morte psíquica.
CRIANÇA, OBJETO OU Toda m u d a n ç a pode ser acom-
p a n h a d a por u m a regressão: certas
SUJEITO? crianças induzem uma relação fusio¬
nal, erotizada, que inclui o terapeuta
Winnicott compara a transferência em seu m o v i m e n t o . O a n a l i s t a se
de certos adultos psicóticos com as presta a isso, mas sua atividade sim¬
primeiras relações de um recém-nasci- bolizante é prova de u m a v i o l ê n c i a
do. Seu tratamento, escreve ele, insti- separadora. S u s t e n t a n d o a s i t u a ç ã o
tui uma experiência nova, a de uma terapêutica e seu enquadre, ele intro-
"primeira vez", em que um paciente duz uma distância que permite à cri-
pode, por exemplo, expressar finalmen- ança afastar-se de sua violência pulsi¬
te cólera. Toda análise inclui esta di- onal interna, deslocá-la. A relação te-
mensão de "primeira vez", de "primei- rapêutica pode então interiorizar-se,
ro encontro", entre si e o outro. Do e a c r i a n ç a p o d e e s t r u t u r a r - s e de
mesmo modo, aquilo que é novo para outro modo.
a criança é a experiência da transferên- C) O encontro terapêutico
cia e do modo de resposta que o tera- Assim, o encontro terapêutico é
peuta lhe dirige: ela pode então ex- sempre precário. Encontramos questi-
pressar de outro modo seu gozo in- o n a m e n t o s abertos no i n í c i o desse
fantil, sem afastá-lo para crescer. texto: i n d o da periferia ao n ú c l e o
Nas análises, o eixo da relação da situação analítica, mostram-se vári-
adulto-criança o r g a n i z a a expressão os n í v e i s de v i o l ê n c i a . A r e l a ç ã o
adulto-criança é solicitada, em vários
níveis, pelo tratamento; se seguirmos
as idéias de Ferenczi, a d i f i c u l d a d e
do tratamento pode ser descrita em
termos de "confusão de línguas". O
colóquio terapêutico reativa conflitos
psíquicos de base, pois recoloca em
jogo a transmissão original do dese-
jo de viver, entre o a d u l t o e a cri-
ança; esta situação mobiliza as figuras
da s e d u ç ã o o r i g i n a l e n t r e os d o i s
protagonistas, até a reativação da se-
xualidade infantil no terapeuta.
Por meio de sua transferência, a
criança projeta no analista i m a g e n s
parentais, mas também representações
ideais do adulto que ele poderia se
tornar. Repetem-se conflitos e fantasi-
as, mas no quadro de u m a nova ex-
periência, a de u m p r i m e i r o encon-
tro com u m terapeuta, a d u l t o . Esta
relação é efetiva, mas também mítica,
ideal, a b r i n d o a questão do desejo
de crescer. O tratamento torna-se um
l u g a r de p r o j e ç ã o do p a s s a d o , de
fantasias sobre um futuro possível,
idealizado ou malevolente. Distúrbios
neuróticos e psicoses também solici-
tam o terapeuta no eco de sua histó-
ria: cuidar, tratar u m a criança apro-
xima-o de sua dimensão infantil. Um
processo sutil amarra-se entre as iden-
tificações ideais que virão da crian-
ça, e a ressonância inconsciente do
t r a t a m e n t o no a d u l t o . Pai faltante,
i m a g e m de u m a mãe m i s t u r a d a , ou
f i g u r a h o m o s s e x u a l do d u p l o são
exemplos de projeções operadas pela
criança sobre o terapeuta. Este é cha-
m a d o a ocupar lugares i m a g i n á r i o s
na transferência, a entendê-los e até
mesmo a pô-los em palavras: ele ma-
nifesta a seu paciente como ele pode
sustentar a abertura do inconsciente,
nele e para o outro, mantendo seus ele i n t e r v i r á : v i m o s o q u a n t o sua
próprios recalques e uma posição de c o n t r a t r a n s f e r ê n c i a era s o l i c i t a d a ,
" a d u l t o " . Ferenczi m o s t r o u i g u a l - c o m o p a i ou c o m o e d u c a d o r n a
mente, em seu tempo, como a crian- c u r a . A v i g i l â n c i a em r e l a ç ã o às
ça persiste no analista adulto. Seus transferências em jogo, a necessidade
esforços técnicos ilustram essa insatis- de inventar, m u i t o sensível em ana-
fação e sua busca de u m a outra de- listas de crianças, fazem violência aos
finição da situação analítica. hábitos e às regras estabelecidas no
Assim, a c r i a n ç a r e p r o d u z seu campo analítico (Pechberty, 2000).
l u g a r de objeto p a r a seus p a i s na O tratamento apresenta uma
cura, mas também seu possível desa- a m b i g ü i d a d e fundadora: ela faz en-
pego ( L a c a n , 1969). Esta tensão a contrarem-se uma criança e um adul-
leva a formular questões que em par- to, figura estranha, l u g a r de proje-
te permanecerão sem resposta, pois ção. O analista, profissional autoriza-
dizem respeito ao i n t e r d i t o , funda- do pelos pais e pela sociedade para
dor de seu desejo. C o m o tratamen- o bem da criança, não propõe nada
to, ela desenvolve sua problemática e de tangível. N u m a posição instável
a modifica. Ela toma o analista ao entre o Ideal do Eu e o Eu Ideal,
pé da letra pelo modo com que este ele vai ocupar os lugares devolvidos
a ouve e responde a ela. Ela solicita pela t r a n s f e r ê n c i a de seu p a c i e n t e .
o inconsciente do terapeuta, levando- Por o u t r o l a d o , ele p o d e i m a g i n a r
o a i n t e r v i r de m o d o p r o t e t o r ou encontrar naquilo que ele sente a cri-
regressivo. Se este é sensível a esses ança que ele foi ou que ele poderia
processos infantis sem se confundir ter sido. Suas intervenções o ultra-
com eles, a violência traumática so- p a s s a m em p a r t e e a c u r a n a v e g a
frida pela criança pode se transfor- n u m paradoxo constante.
m a r em a b e r t u r a t e r a p ê u t i c a e em
criação. Assim, esta dimensão traumá-
tica manifesta igualmente seu aspecto
evolutivo possível. PSICANALIZAR UMA
A v i o l ê n c i a p u l s i o n a l atravessa
portanto necessariamente o encontro
CRIANÇA É PORTANTO
terapêutico. Objeto perdido, excita- UMA TAREFA
ções, restos de gozos atualizam-se aí.
Sublinhemos ainda os paradoxos que
IMPOSSÍVEL?
organizam o tratamento da criança:
a não-demanda do paciente obriga o O t r a t a m e n t o , suspendendo os
terapeuta a suscitar o interesse pela projetos educativos, m o b i l i z a o in-
cura, a sustentar um q u a d r o e u m consciente entre a criança e o adulto.
projeto, a r o m p e r com as a t i t u d e s Em certos m o m e n t o s , o laço tera-
habituais. A oferta de transferência e pêutico revela sua dimensão de sedu-
o laço com a criança e com sua fa- ção, no s e n t i d o d e f i n i d o a c i m a : o
mília fazem ressurgir no analista ele- inconsciente, as pulsões de vida e de
m e n t o s i n f a n t i s a partir dos q u a i s morte transmitem-se e circulam,
como o fizeram, desde a origem, nos Klein, M. (1930). L'importance de la
primeiros encontros entre os desejos formation du symbole dans le dé¬
do adulto e da criança. Duas formas veloppement du moi. Dans Essais
de violência psíquica organizam-se a de psychanalyse ( t r a d u c t i o n M.
partir daí: a primeira, mortífera, ali- Derrida) (pp. 263-78). Paris,
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tar de u m a jovem paciente faz eco M a n n o n i , M . ( 1 9 6 7 ) . L'enfant, sa
em si mesmo, à criança sofredora e "maladie" et les autes, Paris, Seuil.
viva que ele foi. Esta ponte estreita Pechberty, B. (1985). Approuche cli-
traz novamente para o adulto antigas nique de la séparation en psycho¬
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