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BACHARELADO EM PSICOLOGIA
ESTUDO DAS DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS
Fortaleza - CE
2020
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
ESTUDO DAS DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS
Fortaleza - CE
2020
SUMÁRIO
2
1. INTRODUÇÃO 3
2. DESENVOLVIMENTO 4
3. CONCLUSÃO 14
4. REFERÊNCIAS 15
1. INTRODUÇÃO
para a aprovação na disciplina, ministrada pela professora Ms. Ingrid Coelho Borges
Pragmácio.
Por fim, o trabalho irá buscar uma melhor compreensão, de forma reflexiva sobre as
mudanças no âmbito familiar, social e afetivo dos efeitos do uso do crack pelo indivíduo.
2. DESENVOLVIMENTO
O conceito de família
como esse, quais as repercussões na vida dos sujeitos que dela fazem parte e como a adicção
de algum membro familiar pode interferir no percurso histórico dos outros membros.
É assim e deste modo que alguns processos de adicção são iniciados. Dá-se o uso
abusivo de drogas lícitas e ilícitas, pois quando se conhece o limite, destruí-lo dá ao sujeito
desafiador um sentido de vitória e a possibilidade de encontrar-se em um outro lugar social e
familiar.
Costa e Pereira (2003) consideram que a fase da adolescência tem particularidades que
intervém no decurso familiar e uma adicção nessa fase, pode ser o resultado de uma situação
familiar transgeracional, como um sintoma passado de geração a geração. E quando a adicção
se estende da adolescência e vida adulta, a formação de um outro núcleo familiar por este
sujeito é tida como infrutífera e fadada ao fracasso, tendo em vista que a situação em que se
encontra, é tida como um fracasso pessoal.
5
Essa reelaboração do que espera-se e projeta-se nos filhos, nunca é fácil pois diz
respeito também a uma ligação em que os pais têm com seus genitores e que ainda não
encontrou vias de ressignificação. Querem ser para os filhos o que esperavam de seus pais. A
queda do filho imaginário, perfeito, projetado, organizado, pelo real de toda desordem que
uma adicção pode trazer, é extremamente dolorosa para todos os membros do núcleo familiar
interno e externo.
No que diz respeito ao lugar de filho com deficiência, o seu tratamento e sua mãe, do
quanto esse filho como sintoma pode representar, Mannoni (1985) escreve:
A mãe nunca deixa de lutar pelo filho débil... Mas, de repente, interrompe uma
psicoterapia bem encaminhada, enterra-se na doença quando o espírito do filho
ressuscita, lança-se ao suicídio nas vésperas da cura. [...] Porque era, na verdade,
pela sua própria existência que ela lutava; [...] Descobre-se que a existência da mãe
englobava também a debilidade do filho; que a doença do filho servia para proteger
a mãe contra a sua angústia profunda. Lutando pelo filho - para curá-lo sem o curar -
era antes por si mesma que lutava, com risco de acabar por lutar também contra ele,
em nome dessa parte doente dele que é ela, e cujo desaparecimento ela não poderia
suportar (MANNONI, 1985, p. 11)
Sob este filho ou filha, tem-se a impressão de que todos os esforços para educá-lo
foram desperdiçados ou insuficientes e os pais tendem a questionar em que momento
falharam ou apenas consideram o vício como uma forma de não assumir responsabilidades
perante a vida, de não se desprender das facilidades encontradas em casa. Outros lutarão
arduamente para serem ainda mais persistentes do que a fissura do vício, em uma tentativa de
recuperar o sujeito das armadilhas que elabora para si, recuperá-lo de seu desejo.
Para salvar os filhos do uso abusivo das drogas e de seus malefícios, os pais tendem a
investir tudo o que tem ou tentam, por meios próprios, expurgar os filhos deste “estranho”.
Conseguir que o sujeito em adicção aceite o tratamento, na maioria dos casos sendo
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Um outro fator é que um filho adicto assume o lugar do filho débil, como se possuísse
uma deformação, não visível inicialmente em sua aparência que se modifica com o uso
excessivo de drogas, mas em seu ser. Roubando-lhe até mesmo a capacidade de decisão. Vale
ressaltar que há casos em que os pais fazem uso das drogas e os filhos tendem assumir esse
lugar parental.
Das cavernas, das aldeias às casas burguesas de alvenaria, o convívio social foi sendo
confinado dentro de quatro paredes e deste modo desenvolveu-se o sentido de intimidade,
principalmente com a reorganização dos cômodos da casa e da diferenciação do lugar de cada
um dentro da mesma.
da substância através das mídias sociais que atrelava-o a vulnerabilidade social. (Nappo;
Sachez; Oliveira, 2011).
Antes de iniciarmos como o crack surgiu, faz-se necessário entender a origem do seu
termo. O termo crack mostra-se a partir de uma figura de linguagem conhecida como
onomatopeia, ou seja, o nome é associado ao estalo que é emitido durante a produção da
substância. De acordo com HART (2014, p. 163), alguns componentes como a “cocaína e
bicarbonato de sódio são dissolvidos em água e aquecidos até que se formem cristais de
cocaína que produzem um característico estalido.”
No Brasil, como citado anteriormente, o crack foi descoberto em São Paulo por
agentes que atuavam na redução de danos com drogas injetáveis. As primeiras pesquisas que
se referiam ao uso da droga partiam de meios de comunicação de páginas policiais, que
enxergavam a substância e os usuário que a utilizavam como geradores de balbúrdia e
violência, portanto, os sujeitos denominados “crackeiros” deveriam ser punidos e castigados
pelo uso indevido desta droga. Com o passar dos anos, diversas manchetes que apresentavam
o aumento do consumo da droga foram publicadas com os seguintes títulos: “Traficante
vendia a pedra da morte” (A Tarde, 1996); Polícia monta esquema especial para combater o
tráfico de crack” (A Tarde, 1997); Polícia apreende crack e maconha plantada em vaso (A
Tarde, 1997); "Delegacia especial combate o crack" (A Tarde, 1997); "Crack: Dependência
implacável" (Correio, 1997).
Então, quais fatores chamariam atenção para o consumo dessa droga? Embora
saibamos que alguns aspectos midiáticos e econômicos contribuíram para o aumento do
consumo do crack como o preço da droga, que chega a ser mais barato do que maconha,
tabaco, cachaça e cocaína, outros aspectos relacionados aos fatores neuroquímicos como o
tempo e os efeitos relacionados às reações da substância também tornam o consumo atraente,
principalmente para o jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade. (Nappo,
Galduróz & Noto, 1996; Reinerman & Levine, 2000).
O crack é considerado cada vez mais como uma droga de fácil obtenção. Um estudo
realizado em 2005, de âmbito nacional, mostrou que houve aumento na facilidade de
obter drogas. Enquanto que, em 2001, 36,1% dos brasileiros referiram ser muito fácil
obter o crack, em 2005, este percentual subiu para 43,9%. Com relação ao uso de
drogas, aumentou o percentual de pessoas que relataram ter visto frequentemente
outras pessoas sob o efeito de drogas nas vizinhanças, de 33,6% para 36,9%. Quanto a
venda de drogas, o percentual de pessoas que relataram terem visto traficantes
vendendo drogas nas vizinhanças aumentou de 15,3% para 18,5%. (CEBRID, 2005, p.
166)
Por ser um estimulante ilícito que atua no sistema nervoso central e uma apresentação
da cocaína utilizada de forma mais acessível pela população, o crack pode ser consumido de
diversas formas, tais como fumado em latas ou cachimbos, aspirado e misturado a outros tipos
de cigarros. Durante o consumo, ele é absorvido de forma imediata pelos pulmões e em
seguida efeitos subjetivos e fisiológicos apresentam-se nos usuários. (Paquette et al, 2010)
Alguns impactos físicos são comumente associados a complicações pulmonares, perda
do olfato e do paladar, obstrução nasal e rinorréia. (Nassif et al, 1999) Nos impactos
subjetivos, o uso do crack prejudica os demais espaços de convívio social do usuário. Logo,
os aspectos estão ligados a uma dificuldade de inserção na sociedade, falta de apoio familiar,
criminalidade e maiores índices de mortalidade. (Ribeiro et al, 2008).
Segundo Jorge et al (2013),”o ambiente em que se consome o crack é pautado pela
desconfiança; os usuários que antes conseguiam compartilhar as experiências positivas do uso
começam a se desorganizar socialmente, ou tendo que se organizar de outra forma”, ou seja,
embora exista compartilhamento durante o uso da substância, ao mesmo tempo ocorrem
fatores que que dificultam o convívio social entre esses sujeitos.
Quando pensamos nos tipos de sujeitos que fazem o uso dessa substância devemos
levar em conta não somente o efeito, mas todo o contexto e as características dos grupos que a
utilizam. Além de apresentarem vulnerabilidade, fatores como gênero, faixa-etária, falta de
instrução e baixa escolaridade são fortes contribuintes para uma aproximação do crack com o
usuário. Estudos apontam que pessoas do sexo feminino e que já sofreram abuso físico e
sexual, além de jovens e adultos em situações precárias utilizam o crack como forma de
experimentar algo novo e se desligar de suas vidas sociais.
Como aponta Sayago (2013 apud Ribeiro et al., 2010):
Nota-se assim, que o uso do crack não compromete apenas a saúde física nos seus
aspectos mais diretos. O uso da substância leva o sujeito usuário a um adoecimento
generalizado, afetando esferas psicológicas, cognitivas, sociais, além de facilitar o surgimento
de outras doenças e infecções.
É importante destacar um dado colhido pelos autores Horta et al (2014), que diz
respeito do uso compartilhado do crack com familiares. Segundo a pesquisa exploratória dos
autores, 250 entrevistados (que corresponde a 48,3% dos entrevistados) relataram ter
consumido crack com algum outro membro da família. Os autores discutem que “as famílias
não se situam apenas no polo de proteção, mas podem contribuir para a iniciação, para a
manutenção ou para o retorno ao consumo de drogas” (p. 110). Esses dados podem contribuir
para a desconstrução que existe no imaginário a respeito do conceito de família, já discutido
no primeiro item deste artigo.
Sobre os impactos que o uso do crack traz para o contexto familiar, é válido ressaltar
que a dependência química é uma doença que traz prejuízos não apenas para a estrutura física
do indivíduo, mas também seu contexto social. Os autores Medeiros et al. (2013) pontuam
11
que a dependência química deve ser compreendida como uma doença biopsicossocial, tendo
em vista suas complexidades e múltiplas dimensões.
O adoecimento dos filhos abala profundamente a autoestima dos pais, uma vez que
significa que houve falhas no sistema familiar. A constatação de uma doença pode
gerar um desequilíbrio em toda a estrutura familiar [...] Nesta situação, tornam-se
comuns os conflitos emocionais, a depressão, o sentimento de medo e as incertezas
relacionadas ao prognóstico e ao tratamento. Além disso, ocorrem preocupações com
a condição financeira, propiciando uma quebra da rotina e uma sobrecarga familiar.
Muitos são os impactos que a dependência química do crack podem trazer para a
estrutura familiar, cuja representação social se apoia na proteção e cuidado. Mas, assim como
existe uma representação social do conceito de família, é relevante ressaltar a representação
que se tem do dependente químico e do uso de substâncias psicoativas. O chamado
“crackeiro” é aquele indivíduo classificado e marcado pela representação social
marginalizada, o que traz influência aos impactos que marcam as estruturas familiares, pois a
família muitas vezes reproduz essas representações. Esse fenômeno explica o motivo de
muitos familiares não conseguirem lidar com a problemática da dependência, que possui um
peso moral na sociedade, ocasionando no impacto mais discutido por pesquisadores: a quebra
de vínculos familiares (MEDEIROS et al, 2013). Como sustentar uma relação de confiança
que aparentemente foi trocada pelo relacionamento com a substância? Nimtz et al (2014)
pontua:
como influência no grau dos impactos causados nos relacionamentos familiares e sociais. É
percebido um certo despreparo em saber lidar com um familiar dependente, o que nos faz
refletir que a família precisa estar inserida na rede de apoio.
Foi dito, no início deste subitem, que a família e o histórico do indivíduo atuam como
grande influência no uso de substâncias psicoativas. Mas, é importante ressaltar que a família
também é agente relevante no tratamento e reabilitação do familiar dependente do crack.
Nimtz et al. (2014) lança a problemática do papel da família no tratamento ser um fenômeno
bastante sofrido, porque a família também adoece e “necessita transformar a visão que tem
sobre si, de vítima a coparticipante” (p. 671).
3. CONCLUSÃO
Portanto, a discussão buscou mostrar que o crack é uma droga que afeta não só o
usuário, mas toda a estrutura familiar. Traz sequelas permanentes, não só estéticas como
psicológicas. Desencadeia na maioria das vezes outras doenças, sejam elas biológicas ou
psíquicas; e puxa a percepção e validação do processo de tratamento ao longo da vida, a
necessidade do acolhimento no seio familiar, e a validação do sujeito como um ser capacitado
14
para exercer seus direitos como cidadão mesmo diante de um situação de dependência
química.
4. REFERÊNCIAS
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1986.
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HART, C. Um Preço Muito Alto: a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão
sobre as drogas. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
MANNONI, Maud. A criança retardada e a mãe. Rio de Janeiro: Livraria Martins Fontes
Editora Ltda, 1985.
15
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SAYAGO, Cristina Beatriz et al . Fatores protetivos e de risco para o uso de crack e danos
decorrentes de sua utilização: revisão de literatura. Aletheia, Canoas , n. 42, p. 164-174,
dez. 2013.