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Você vai ouvir cada vez mais a palavra Cosmovisão. Apesar dela não fazer parte de
nosso vocabulário diário, ela sempre foi muito usada nos meios teológicos e
filosóficos e é imprescindível que o resto de nós, leigos, tenhamos a compreensão do
que ela representa. É um pássaro? É um avião (até rima)? É um bicho exótico - e
será que ele morde?
Disse que você vai ouvir cada vez mais esta palavra, porque está em andamento uma
movimentação muito intensa, no meio evangélico, para estabelecimento de escolas
evangélicas, que ensinem todas as matérias a partir da perspectiva cristã da vida.
Para isso, há a necessidade de que se ensine e se dissemine uma cosmovisão
cristã. A fé cristã deixa de ser uma “questão religiosa” para o domingo, mas volta a
assumir o seu posto original, e que havia sido resgatado pela reforma do século 16.
Nesse sentido, Deus tem sido pregado como soberano real do universo em
comunidades teologicamente arminianas. Escolas de igrejas que “fogem” da teologia
reformada, não piscam quando livros tais como: Calvinismo (de Abraham Kuyper) e E
Agora, Como Viveremos (que tem como co-autora Nancy Pearcey – que estudou com
o filósofo e teólogo calvinista, Francis Schaeffer), são recomendados, apresentados
e suas idéias ensinadas. Tais círculos têm compreendido que é impossível se
praticar a verdadeira educação das esferas de conhecimento, sem a coesão
proporcionada por uma cosmovisão cristã reformada, na qual Deus é
verdadeiramente regente do universo, e não um mero espectador, que reage às
circunstâncias, procurando “consertar” as coisas.
Por isso é necessário que o pastor e líder cristão, e até nós, leigos, tenhamos uma
boa compreensão deste tema. Porque precisamos também orientar os irmãos e
familiares nesse entendimento. Cosmovisão cristã, também, tem tudo a ver com o
estudo de Governo e Economia, e outras áreas de conhecimento e de atividades
humanas que, para serem adequadamente compreendidas e exercitadas, não podem
ser divorciadas dos princípios contidos nas Escrituras.
Por isso, devemos considerar sempre a cosmovisão cristã. Nossa lente são as
nossas premissas. Nossas premissas são verdadeiras, porque se fundamentam na
revelação de Deus ao homem – As Escrituras. Não precisamos pedir desculpas por
nossas pressuposições, apenas devemos reconhecê-las claramente e demonstrar
que todas as demais cosmovisões possuem suas próprias pressuposições. Quando
falamos de cosmovisão cristã, portanto, já expressamos o entrelaçamento de nossa
visão do universo e da vida, com as premissas da nossa fé cristã, reveladas de forma
objetiva e proposicional nas Escrituras.
A Bíblia nos ensina que o criador é Deus de ordem (1 Co 14.33 – “... Deus não é
Deus de confusão...”). Quando estudamos o universo, criação de Deus, verificamos a
ordem matemática das estruturas. A criação é governada por leis matemáticas, por
seqüências lógicas (Sl. 19.1-2), que refletem o caráter daquele que a formou. Muitas
leis da criação são definidas em termos da matemática. Observamos uma precisão
maravilhosa na natureza e na física. Isso deve nos levar a exaltar a pessoa de Deus,
constatando que essa precisão só é possível porque emana dela.
Ciência
Ciência é o estudo próprio da criação de Deus. Os fatos da criação somente podem
ser entendidos apropriadamente, quando olhados através das lentes das Escrituras. A
Palavra de Deus nos ensina que a questão das origens, mesmo se constituindo uma
base para ciências, é, acima de tudo, uma questão de fé, de pressupostos, de
postulados. Hb 11.3, ensina: “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela
palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê”. Mas quando a
ciência, os fenômenos observáveis da criação, são estudados partindo da informação
Bíblica de que Deus é o criador, tudo adquire sentido, coerência e forma.
O estudo das ciências revela a glória de Deus (Sl 19.1), o poder de Deus, a beleza da
obra de suas mãos e a arquitetura, com similaridades, nas suas criaturas – indicando
procedência criativa de um ser todo-poderoso, pensante. A criação foi efetivada pela
sabedoria divina e o homem é parte dela, tendo sido chamado a subjugá-la para a
glória de Deus. Ainda no Jardim do Édem, Deus assinalou ao homem a tarefa de
regência sobre os animais e plantas, na guarda da terra. Sob a autoridade de Deus,
ele deveria cultivar a terra, cuidar dela e desenvolver cada aspecto do conhecimento
sobre esta mesma terra, para a glória de Deus. Certamente o conhecimento das
ciências esteve presente em Adão, para o cultivo da flora e classificação da fauna.
Para que dominemos a terra, como Deus nos comanda, temos de adquirir o
conhecimento científico sistematizado e organizado. Pelo estudo tanto das leis físicas
como das demais criaturas, aqueles que assim o fazem na compreensão de que
procedem de Deus, aprendem a utilizar esse conhecimento segundo os preceitos de
Deus. Cada nova descoberta sobre o mundo e o universo criado por Deus, deve levar
ao reconhecimento de que Jeová é único. Deve levar, igualmente, a um cuidado
maior por essa criação divina. Para que isso ocorra, o estudo da ciência tem que estar
subordinado à Palavra de Deus. Não é que a Bíblia virá suprir a todo o conhecimento
necessário nesses campos, mas a criação nunca deve ser vista como algo que é
independente do seu criador.
Saúde
O propósito do estudo da saúde e da educação física é o cuidado dos nossos corpos
para a glória de Deus. Essa perspectiva da cosmovisão cristã difere da compreensão
contemporânea do chamado “culto do corpo”. Somente Deus é para ser cultuado e o
fazemos com nossas mentes e corpos. Um corpo saudável nos possibilita o serviço
diligente à causa do mestre e realizar os deveres que nos são comandados. Assim,
os princípios de termos dietas saudáveis, o exercício sistemático, o descanso
apropriado – são todas áreas de ênfase, nesta esfera de conhecimento, para que
nossa saúde se mantenha em excelência, para a glória de Deus. Devido ao pecado
as pessoas têm a tendência à preguiça e indolência. O exercício físico e os esportes,
combinados com a santificação do caráter interno, condicionam o corpo ao comando
da mente; encorajam o desenvolvimento da auto-disciplina.
Geografia
Para que o homem exerça o domínio sobre a terra, como Deus comanda, ele
necessita ter um conhecimento prático de geografia. Nesse estudo ele deve levar em
consideração os dados da Palavra de Deus, bem como os relatos históricos do
grande cataclismo que foi o dilúvio e seus efeitos sobre a aparência e configuração da
terra. Ignorar este evento e suas implicações, é o caminho seguido pelos eruditos
descrentes contemporâneos, mas as conclusões a que chegam divergem
consideravelmente da realidade e veracidade à qual pode chegar aquele que possui
uma cosmovisão cristã.
História
A Bíblia revela, claramente, que Deus é Senhor da história. Ele governa os povos e
nações por intermédio de sua providência. Ele age tanto direta, como indiretamente
na história, derramando bênçãos e executando julgamentos sobre a terra (Dt 28). A
Palavra de Deus registra profecias e muitas dessas já foram cumpridas,
demonstrando que não somente a história foi planejada por Deus, mas se desenrola
de acordo com o seu propósito. Todos os aspectos da história (antiga, medieval,
moderna e contemporânea) devem ser vistos como a regência soberana de Deus
sobre os atos dos homens, na terra. Tantos os indivíduos como as nações devem
prestar contas a Deus. A história e os atos de Deus, nela, nos ensinam a viver o
presente.
Sociedade
Na cosmovisão cristã, o estudo das sociedades, ou sociologia, começa com a pessoa
de Deus, que subsiste em um relacionamento social eterno na trindade. A Bíblia
enfatiza que Deus é unidade e pluralidade, bem como causa final de todas as coisas.
Por isso, nas Escrituras, não encontramos nem o indivíduo nem a sociedade
corporativa, um acima do outro. O cristianismo representa a única solução aos
problemas gerados pelo humanismo que postula uma luta constante entre
individualismo e coletivismo.
A Bíblia também nos apresenta fatos sociais que devem ser ensinados. Por exemplo,
existe extremo valor didático e muitos princípios a serem extraídos do estudo de como
Deus se relacionou com o seu povo, em uma época e situação específica, no Antigo
Testamento. Como aquela sociedade foi estruturada, por Deus, para resistir a
fragmentação gerada pelo pecado. Quais os contrastes e similaridades daquela
sociedade com os povos sem Deus que a rodeavam. A apresentação bíblica da
ordem social é necessária para nos ensinar como Deus lida com a corrução moral e
social em diversas ocasiões. A legislação moral encontrada na Palavra de Deus é
uma ferramenta de análise das diversas estruturas sociais das nações e povos.
Governo
O estudo correto do governo, ou das ciências políticas, na cosmovisão cristã, deve
ser fundamentado na Palavra de Deus. O estudo da lei civil e do governo torna
necessário a compreensão do padrão infalível de Deus, para uma adequada
percepção do que é justiça e do que é injustiça. O governo civil se ocupa da
promulgação da lei. Isso significa que sua esfera de atuação abrange a definição do
certo e do errado. Certo e errado, entretanto, são conceitos que não podem ser
divorciados de moralidade e moralidade está na essência da religião. Assim, governo
civil é, por sua própria natureza, uma instituição religiosa – no sentido de que se rege
pela religião (verdadeira, ou humanista) e presta contas a Deus (ou deixa de prestá-
las, atuando como se fosse autônoma, para sua própria destruição.
Reconhecemos que Deus trabalha de formas diferentes em eras diferentes (Hb 1.1-4)
e que a legislação civil do Antigo Testamento foi promulgada para um povo
específico, com propósitos específicos e com caráter temporal, não sendo normativa
em seus detalhes à nossa sociedade. No entanto, a cosmovisão cristã procura
estudar os princípios e valores contidos por trás daquelas legislações específicas e
reconhece o aspecto didático desse estudo.
Economia
Deus é o proprietário da terra, a fonte de toda a riqueza. Ele é o dono de tudo e
delega tal propriedade a quem lhe apraz. De Deus procedem, também, leis que
governam a esfera da economia humana. Deus concedeu ao homem o direito de
possuir propriedade privada, de ocupá-la ou desenvolvê-la, de objetivar a
lucratividade e de definir como o a receita deve ser aplicada. No entanto, pelo próprio
fato de que Deus é o Senhor de tudo e de todos, somos ensinados a exercitar todos
esses direitos responsavelmente, como mordomos de Deus.
Cultura e Arte
As artes e a cultura são dons concedidos aos homens pelo Espírito Santo. Quando
um artista compõe uma música, pinta um quadro de qualidade, um arquiteto projeta
um edifício – cada um desses aplica, em sua específica esfera, o talento recebido de
Deus. Na cosmovisão cristã, cada dom será utilizado para refletir a glória e sabedoria
do doador e imitar a beleza e utilidade da obra criativa de Deus.[1]
Tecnologia
Uma maneira de entender tecnologia, é considerando-a como a ciência aplicada à
mecânica da vida, à multiplicação do potencial humano de realização. Ela tem algo de
arte e cultura, pois é a interação da criatividade humana com as descobertas do
funcionamento da criação de Deus (por exemplo: as chamadas leis físicas e químicas,
o código do genoma, etc.), resultando em construções ou produtos colocados a
serviço do homem. Se "fazer ciência" é algo que compreendemos como
possível exatamente pela existência de Deus, como âncora metafísica maior, que
estruturou e mantém uma criação em harmonia - não caótica, a tecnologia só é
possível em função dessa mesma harmonia.
A cosmovisão cristã não rejeita a tecnologia, mas não a considera um fim em si, nem
que a sua servitude se exaure no melhoramento da humanidade. Enxerga a fonte e o
destino dela - o Deus do Universo. Sabe que ela pode ser utilizada tanto para o bem
como para o mal, e que isso é uma consequência do fator pecado, que deixa suas
marcas em todas as áreas de realizações humanas.
Conclusão
Diversas outras áreas de conhecimento poderiam ser apresentadas sob o prisma de
uma cosmovisão cristã. Nosso propósito, é o de que você se convença que as
Escrituras são pertinentes ao todo da nossa vida. Isso tem uma conseqüência dupla:
(1) Torna legítima as múltiplas esferas de conhecimento, ao cristão, que deve dominá-
las para a Glória de Deus; (2) Desenvolve o nosso pensar como cristãos, objetivando
a verdadeira transformação de nossa mente, em vez da conformação com o
pensamento do mundo, fazendo-nos ávidos inquiridores e pesquisadores da Palavra
de Deus, para ver o que ela tem a nos ensinar em cada segmento do conhecimento
humano.