Você está na página 1de 21
035 047 063 07s 087 indice INTRODUCAO Sentir, pensar, agir Ana Pais VECTORES DE INFLUENCIA Esfera publica através da performance Bojana Cvejié e Ana Vujanovié ALL MY INDEPENDENT WO/MEN — CARLA CRUZ O corpo ao manifesto: linguagem, futurismo e performance Sandra Guerreiro Dias PARTITURAS PARA O CORPO, O EDIFICIO E A ALMA PARA © SAO LUIZ TEATRO MUNICIPAL - DAVID HELBICH A performance como arte e Festa: democratizacao, eventos colectivos e espaco publico Isabel Nogueira Aviragem social: o mal-estar na colabora¢ao Claire Bishop TROCO TUDO — ELEONORA FABIAO 107 128 139 PONTOS DE FRICCAO Coreografias de resisténcia no movimento do parque Gezi de 2013, na Turquia Sevi Bayraktar Leitura, apropriacio, protesto € conversagao: expressées sonoras no espaco piblico Maria Andueza Olmedo HIT, HIT MAKER, HIT PARADE — CHRISTOF MIGONE A PERFORMANCE E A MENSAGEM — RU! MOURAO Quando a performance encontra o museu: em didlogo com Catherine Wood Liliana Coutinho Aparecer em publico enquanto piblico Peggy Phelan em conversa com Ana Pais e Ana Bigotte Vieira REINO — LEIF ELGGREN/KREV 187 159, 173 183 195, 199 an 27 LINHAS DE TENSAO © AMOR ESTA NO AR — ANA BORRALHO E JOAO GALANTE Desterro - Desterritorializagées na danca/performance contemporanea: dois episédios recentes do contexto portugués Silvia Pinto Coelho ‘Avanguarda da frente para tras: retroperformance musical portuguesa e comunicacao entre as décadas de 1980 e de 1910-1920 Joao Macdonald O reenactment politico da performance e seus microativismos de afetos Christine Greiner © CHAO NAS CIDADES: UMA PERFORMANCE CATALISE — ANDREA MACIEL Performance, activismo e esfera publica: arquivo, repertério e reperformance nos novissimos movimentos sociais Paulo Raposo TRABALHOS UTEIS PARA ARTISTAS UTOPICOS (DA SERIE «ACTIVISMO IMAGINARIOn) — GUILLERMO GOMEZ-PENA Lista de colaboradores 223 Agradecimentos Sentir, pensar, agir ‘Ana Pais «Depois de Trump, é preciso comecar», diz Alain Badiou a um publico de estudantes e professores da Universidade da California, no rescaldo da eleicao de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América. Partilhando a sua surpresa face ao resultado e diagnosticando as suas causas, o filésofo defende que, nas eleicdes norte-americanas de 2016, faltou uma visao estratégica alternativa para o momento que vivemos, reflexo de uma igual lacuna a nivel mundial. Caracterizando esta conjuntura como uma «crise glo- bal», a era do capitalismo neoliberal, que subverteu a divisio entre o publico e o privado e agudizou a clivagem entre trabalho material e imaterial, Badiou aponta as «monstruo- sas desigualdades» sociais resultantes, a que os novos movimentos de protesto politico procuram dar voz. Mais do que uma crise econémica, trata-se de uma «crise de subjec- tividade», na medida em que o «destino dos seres humanos é cada vez menos claro para eles préprios». Badiou defende que nos tiltimos dois séculos houve sempre uma alternativa, uma «escolha estratégica» desse destino, escolha essa que se vem dissipando desde os anos 80 do século xx. Esta lacuna, sublinha, nao existe apenas no plano poli- tico mas também, e de forma crucial, no plano simbélico. E preciso criar outras politicas de vida em comum através do pensamento, da acco e da determinacio politica, Depois de Trump, preciso pensar e agir. E preciso nao nos submetermos a «lei dos afectos»: ‘Sabem, para mim, mas penso que para muitas pessoas também, foi de certa forma uma surpresa, uma espécie de surpresa. E nés estamos frequentemente, nesse tipo de surpresa, sob a lei dos afectos: medo, depressao, raiva, panico e assim por diante, Mas sabemos que, filosoficamente, estes afectos nao sao realmente uma boa reaccao porque em certa medida, é por demasiado afecto diante do inimigo. Por isso, penso ser uma necessidade pensar além do afecto, além do medo, da depressao, e assim por diante. Para pensar a situacao de hoje, o que precisamos de fazer é precisamente nao estar sob a lei dos afectos, de afectos negativos, mas estar ao nivel do pensamento, da acco, da determinagio politica. (Badiou 2016) Talvez o problema resida exactamente aqui. Alain Badiou propée continuar na bolha eli- tista que gerou surpresa porque nao ouvimos os lamentos do mundo e insistimos em menorizar o poder dos afectos ~ entendidos como negativos - no pensamento e na accdo. Nao obstante a conferéncia proferida a quente, no a seguir as eleicdes, as afirmacies de Badiou mostram dicotomias entre pensari/sentir. Acarretam pressupostos que nos condenam a viver sob a «lei dos afectos» como escravos de um principio que controla 0 Comportamento humano, mas que desconhecemos; implicam que os afectos, sendo bons 5 ae ee ee INTRODUGAO ‘ou maus, obstruem a visio e o pensamento claro; implicam ignorar controlar, dissimu. lar, calar 0s afectos para poder «pensar além» deles. Porém, se continuarmos iE n0ra5 as causas geradoras desses afectos - medo, depressao, ra! olectivos iva, panico ~ ov a Menosprerar a culagio de transmissao, tocom o mundo, sera mais Fm a escutar importancia de conhecer os processos individuais e co € activacio de afectos que modelam e medeiam 9 nosso contac dificil pensar e agir. Se ha imperativo no nosso momento actual, é acomesa 0 outro e permitir-nos reconhecer € nomear o que sentimos Nos diversos momentos ¢ conjunturas da vida individual e social. Muitas vezes: antigas constelagoes repetem-se 7 3 A 's ir sob uma nova aparéncia. Depois de Trump, é preciso sentir, pensar € 26! Espacos agénicos | Mouffe afirma, no livro On the Political, que nao mobilizada por processos colectivos papel crucial na construgao de ntes no campo politico posto salutar na pratica democré- Numa critica ao racionalismo, Chantal devemos ignorar a dimensao afectiva da politica, de identificacao e projeccao em que as paixdes tém um desejos e fantasias:As paixdes ou emogdes sao forcas actual que alimentam e determinam o conflito de pontos de vista, tica. O modelo agonistico de Mouffe tem sido influente para repensar a nocao de esfera publica actual como espaco discursivo onde actuam forcas ideologicas, éticas e afectivas. ) Tomando em consideracdo os desejos e os afectos no debate de ideias, esta nocao dis- tancia-se da definida por Habermas, autor da obra de referéncia que cunhou o conceito de esfera publica. Ao identificar 0 surgimento da esfera publica no contexto da ascen- sio da burguesia no Ocidente no século xviii, Habermas afirma a centralidade do poder argumentativo da razdo como meio para atingir consensos entre pessoas que partilham determinado conjunto de valores e sao consideradas iguais. Se considerarmos o poder mobilizador dos afectos, sublinhado por Mouffe, no debate de ideias da esfera publica, a argumentacao racional nao basta para compreender a sua dinamica e os processos colectivos que dele relevam e, consequentemente, o afectam. Aesfera publica é também historicamente situada. Actualmente, tende a ser consi- derada como um espaco globalizado, onde convivem e se debatem uma pluralidade de esferas piblicas correspondentes a grupos de interesse especializados, cujas opinides circulam nos média e nas redes sociais. Quem decide o que é do interesse publico é 0 mercado neoliberal, quem pode falar sao os opinion makers, a par de movimentos colecti- vos de protesto emergentes e da sociedade civil nas redes sociais. Porém, ao contrario da esfera publica do século xvi, o melhor argumento nao leva necessariamente a deciso politica adequada, isto é, a sociedade civil tem um poder limitado de pressio e influéncia junto do poder deliberativo. Mas alguém é realmente ouvido? Estaremos de facto numa imrnoougAo posicio de igualdade nessa(s) esfera(s)? Que afectos cireulam e quais é possivel escutar ef jou sentir? Embora Badiou ¢ Moufte utilize os termos: calectos» ¢ «paixoes» como sindni- mos de semogdes», tecorra a uma nogio mais abran ente que inclui a qualidade sensivel da experiéncia que muitas vezes nao sabemos nomear, isto ¢, entendo afectos como formas de atectare ser afectado numa constelagio de forgas politicas, econdmicas, culturais e afectivas, No ensaio «Agonistic Politics and Artistic Practices» do volun e Agonistics: Thinking the World Politically, Chantal Mouffe estende a sua reflexao sobre a forca politica dos afec- tos as artes, defendendo que estas tém um papel relevante na luta contra-hegeménica, na medida em que actuam politicamente na construgao de outras percepcdes do mundo na experiéncia afectiva, Os projectos participativos, em que se convida o espectador para uma experiéncia empoderadora, posto que participa activamente no fazer da obra, tem sido a este respeito tao emblematicos quanto problematicos. O espectador activo idea- lizado pelo futurismo surge nos anos 60-70, nomeadamente na performance arte, como participante, aspecto crucial na obra de Alan Kaprow, por exemplo. Entende-se aqui por performance arte o género artistico nascido no inicio do século xx com o futurismo ita- liano, tal como defende RoseLee Goldberg em A Arte da Performance, intensificando-se e afirmando-se nos anos 60-70. Caracterizada por um conjunto de estratégias estéticas pre- dominantemente auto-reflexivas, a performance arte desafia a relacdo com o espectador, 0s limites do objecto artistico e a propria ideia de artista, extremando a premissa moder- nista da fusdo arte-vida. Se o teatro, por exemplo, se ofereceu durante séculos como lugar de encontro social de uma esfera publica em que, justamente, os afectos detinham um papel evidente no exercicio da cidadania’, a performance arte opde-se ao paradigma da representacao para criar formas de estar com o espectador conviviais e reflexivas, na rea- lidade do aqui-agora. Este é um dos alicerces do potencial politico da performance arte nos anos 60-70, de que as variadas praticas performativas contemporaneas sao herdeiras. Onde se situa a performance arte portuguesa neste quadro? Sintomaticamente, a per- formance irrompe em Portugal em configuracdes de mudanca (instauracao da Repiiblica, Revolucao dos Cravos, adesao a Comunidade Econémica Europeia - CEE), abrindo nesses contextos tempos e espacos de respiracao. A sua histéria é constituida por episédios fuga- zes nas diferentes artes (poesia, miisica, artes visuais, artes performativas). Depois da con- feréncia futurista, proferida por Almada Negreiros em 1917 no Teatro da Repiblica (actual Sao Luiz Teatro Municipal), que podemos considerar como marco inaugural de uma pos- sivel historia da performance portuguesa, s6 nos anos 60-70 as artes plisticas, a musica e a poesia experimentais participam no processo revolucionario do 25 de Abril com accdes € happenings. Subsequente a entrada de Portugal na CEE, a performance manifesta-se no teatro e na danga, num periodo de vitalidade que enfraqueceria aos primeiros reflexos 1 Sobre este assunto, cf. Wiles (2011) e Balme (2014). FF INTRODUGAO internos da crise financeira mundial de 2007-2008. Posto que ocorre sistematicamente em momentos de mudanca politica, é possivel ver nos modos de participacao da performance arte na esfera publica uma linhagem. Esta abordagem permite-nos, por um lado, equacio. nar a forca mobilizadora da performance nos diferentes momentos de emergencia e, por outro, pensar a forma como cada campo attistico activa uma participagao especifica na esfera publica, por via da performance. ‘ : Pode a performance arte hoje participa, construir e recriar 0 espaco piblico? Como podem os mundos criados pela performance reconfigurar as possibilidades politicas,ét. cas e estéticas do encontro com o outro, de acco no mundo e da relacdo entre a esfera privada e publica? Para responder a estas questoes, é necessério descortinar as polit. cas de afectos que alicercam cada obra, criando as condig6es éticas, politicas e estéticas do encontro que promove. Como recorda Lauren Berlant em Cruel Optimism, as esferas pliblicas sio mundos de afectos. Estdo impregnadas de normas e ideologias que mode- Jam desejos e formas de vida através de praticas sociais (no trabalho, na familia, nas inst- tuigées). A performance arte opera na formagao das ligacdes afectivas condicionadas por essas normas e narrativas implicitas, que sustentam desejos publicamente negociados e partilhados, criticando-os, subvertendo-os ou implodindo-os. Aceitando que para «come- atm é preciso sentir, a par de agir e pensar, a performance arte pode entao ter um lugar relevante num processo de escuta colectiva de sentimentos publicos e, porventura, de mobilizacio afectiva do pensamento e da ac¢ao. Aniversarios futuristas Este livro pretende contribuir para pensar o modo como a performance arte actua na esfera publica: como torna visiveis questées éticas, sociais e politicas que tém pouca expressao publica, como cria espagos de circulagao de ideias e opinides, como gera mundos de afectos que mostram quanto as condigées da experiéncia afectiva determi- nam 0 modo de pen armos e agirmos; como torna, por vezes, claro que todos os dias tomamos dec! isGes que afectam a nossa vida e a dos que nos rodeiam. Tragamos aqui © enquadramento deste volume, pensado como um movimento de escuta e reflexao sobre o que as artes, ¢ a performance arte em particular, nos podem dar a sentir para agir e pensar. Tendo em conta 0 contexto cultural e socioecondmico diagnosticado por Badiou na conferéncia referida, importa perceber como a performance arte faz politica por via das experiéncias provocadoras, desconcertantes, excessivas e polémicas que gera, abrindo espago para outras possibilidades de pensar e sentir. Se ela pode fazer tudo isto (provocar, desconcertar, ser excessiva, criar polémica), € porque assume um compromisso estético 8 intRoDUGko ¢ ético com a mudanca. Neste sentido, é relevante e na esfera publica, lugar de debate, i Ges, varios trabalhos académicos n ‘quacionar o seu potencial de accao fluéncia e mobilizacao. Partilhando estas inquieta- ‘© campo dos Estudos de Performance tém trazido importantes contributos para pensar o papel da performance arte na vida piiblica ea vida publica como performance, como evidencia © recente estudo Tactical Performance: The Theory and Practice of Serious Play, de L. M. Bogad, entre muitos outros, Este livro surge no ambito do Projecto P!, em colabora¢ao com Pedro Rocha e Levina Vale anos da conferéncia futurista de Almada Negre tivo sobre a historia da performance arte portu; um programa de reflexio e curadoria, tim, desenvolvido a pretexto dos cem iros, que motivam um olhar retrospec- guesa. As duas outras vertentes sio uma conferéncia internacional (na Fundacao Calouste Gulbenkian) e a apresentacao de per- formances (no Sao Luiz Teatro Municipal, no Maria Matos Teatro Municipal, no Museu Nacional de Arte Contemporanea do Chiado), com destaque para a teinvencio da confe- réncia futurista por catorze artistas de varias areas e eracées numa ocupacao do lugar onde foi originalmente apresentada - 0 Sao Luiz Teatro Municipal. Impulsionadas pelo centendrio do Manifesto Futurista de Marinetti (2009), tem pro- liferado historias periféricas da performance arte, desviadas do discurso anglo-saxénico dominante, em particular da proposta de RoseLee Goldberg, em paralelo com o processo de institucionalizacao da performance arte - pelo museu, pelo mercado, pela tendéncia Programatica dos reenactments. Ampliando perspectivas sobre 0 movimento futurista ¢, consequentemente, a genealogia da performance arte, varios autores dedicaram-se a ever a historia das vanguardas, por exemplo, Mirella Bentivoglio e Franca Zoccoli, que publicaram um estudo sobre mulheres futuristas italianas nas artes visuais, ou Chris- tine Poggi, que identifica uma ambiguidade subterranea no fascinio dos futuristas pela guerra ou pela velocidade que resulta do impacto da revolucao industrial em Inventing Futurism: The Art and Politics of Artificial Optimism. De geografias periféricas relativamente a0 epicentro norte-americano da performance nos anos 60-70, como os paises eslavos ou a Irlanda, surgem publicacdes que procuram escrever ou rescrever a historia da per- formance arte local, considerando as especificidades das suas conjunturas, tais como o trabalho de Amy Bryzgel em Performing the East: Performance Art in Russia, Latvia and Poland since 1980 ou o de Aine Phillips em Performance Art in Ireland: A History. O Projecto P! insere- “se neste movimento retrospectivo. O presente volume organiza-se em trés secgdes que, nao sendo estanques (isto , os arti- 80s podem apresentar tracos das seccdes em que nao esto incluidos) tém por objectivo salientar as ligacdes que cada conjunto de textos sugere. Na primeira parte, vecrores DE INFLUENCIA, os ensaios reunidos oferecem informagao contextual sobre os concei- tos de esfera publica e participacao, bem como sobre dois momentos de charneira para a So 029 caRta cruz L 047 DAVID HELBICH | INTRODUGAO ismo performance arte em Portugal: 0 movimento futurista € 0 experimental dos an0s 69.75 : Z enci. Ss Ni Consideram-se aqui os diferentes vectores de influéncia entre os planos nacional e inter. —ae 0 que condicionam os fendmenos emergente, nacional, politico ¢ historico, ético e est s Qe ance arte. na esfera publica e na perform. - : m para uma compreensao histori Os dois primeiros ensaios contribuem par: « ica da estery publica e do movimento futurista portugués, do ponto de a As Performance arte. Por um lado, Bojana Cvejié e Ana Vujanovié fazem uma cartografia ap soa istoricamente situada de concepgdes de esfera publica no Ocidente, em Esfera publica através da per. formance. Destacam os seus paradigmas de referéncia da construcao cultural da esferg publica ~ a democracia ateniense e 0 século xvitt -, mostrando como, no contexto neg. liberal das democracias mediatizadas actuais, a relagao entre performance (no sentidg lato de um fazer perante um publico) e piblico se complexifica, na medida em que sio og interesses privados que, cada vez mais, controlam o que piblico. / Por outro lado, 0 exercicio retrospectivo de interrogar a conferéncia futurista de Almada Negreiros como o marco fundador da performance arte portuguesa exige ques- tionar o alinhamento ou desalinhamento do futurismo portugués em relacdo as van- guardas modernistas internacionais. No artigo © corpo ao manifesto: linguagem, futurismo e performance, Sandra Guerteiro Dias identifica um dialogo entre os futu. rismos nacional e internacional, numa genealogia que remonta a geracao de Orpheu, com destaque para a obra de Almada Negreiros. Tendo em conta que a activacao performa- tiva da materialidade sonora, plastica e semantica pelo dizer/fazer estético e politico é central no futurismo, a autora apela a uma revisao deste movimento através do conceito de performance. Esta influéncia do plano internacional no plano nacional é igualmente identificada Por Isabel Nogueira, num artigo sobre experimentalismo nas artes visuais na década de 1970, associado a poesia e 4 miisica. Em A performance como arte e Festa: democrati- 2aGao, eventos colectivos e espaco piiblico, aborda as acces colectivas, exposicées ¢ novos Protagonistas que surgem no pés-25 de Abril, mobilizados por afectos de esperanca, alegria e entusiasmo, Particularmente evidentes no ideal estético da festa defendido por Ernesto de Sousa, os artistas autodesignados «operadores estéticos» construiram uma esfera piblica artistica ao servico de um ideario democratico da arte, Neste ideario, 0 convite a participacao do piblico nas obras, oferecendo uma experiéncia directa e no elitista da arte, é central. Actualmente, porém, a Participacao tem vindo a ser criticada, na medida em que o desejado vinculo da arte com a emancipagao democratica apresenta fragilidades complexas, Claire Bishop faz uma critica contundente aos Projectos parti- cipativos, denunciando a falta de relacio entre estes com um Projecto politico de fundo, © que aleva a questionar a mudanca social como resultado inevitavel, Aviragem social: © mal-estar na colaboragao consiste numa adaptacao do primeiro capitulo de Artificial 10 INTRODUGAO Hells: Participatory Art and the Politics of Spectatorship (2012), que no contempla os estudos de caso do original. A questao ética da estratégia da colaboracao é particularmente equa- cionada na analise de Bishop, que discute as teorias de Jacques Ranciére sobre o especta- dore a relacao entre estética e politica+ Na segunda parte, PONTOS DE FRICCAO, os artigos mostram os atritos que podem emergir nos encontros (e confrontos) estéticos e politicos que se dao tanto no plano da accao da performance arte na esfera publica como resisténcia, protesto e intervencao, dentro e fora das instituigées, quanto no plano das accées politicas de protesto enquanto performance, que frequentemente recorrem as estratégias estéticas da performance arte. No seu artigo Coreografias de resisténcia no movimento do parque Gezi de 2013, na Turquia, Sevi Bayraktar mostra como a danca e a performance se tornaram fer- ramentas de mobilizacao dos manifestantes, cruciais para a sua interacgao e colabora- do. Aautora analisa dois tipos de movimento utilizados, permanecer de pé e dangar em circulos, argumentando que a aprendizagem colectiva durante os protestos é central para entender o poder de mobilizacao, a resisténcia da coreografia e o potencial performativo da repeti¢ao na aquisicao de vocabulario corporal. Tal como a danga e a performance produ- zem friccdes produtivas entre os manifestantes e o poder policial e politico no territério da cidade, as intervengées sonoras de que nos fala Maria Andueza Olmedo actuam na elacao entre espaco piblico e os habitantes da cidade, renovando-a. Em Leitura, apro- Priacdo, protesto e conversacao: expressées sonoras no espaco publico, Andueza Olmedo poe em relevo as estratégias de utilizagao do som como meio para (re)criar liga- des com a cidade ou para activar 0 seu potencial performativo nos trabalhos de Suzanne Lacy (Estados Unidos), Hong-Kai Wang (Taiwan), Dora Garcia (Espanha) e Teatro Ojo (México). Ao abordar este aspecto através da arte sonora, 0 artigo permite ainda eviden- ciar a performatividade do som na construcao de espacos colectivos que transgridem as fronteiras fisicas do espaco e transformam a experiéncia da cidade. Mais agudas sao as friccdes entre performance arte e museu. Se, por um lado, © museu encontrou na performance arte uma forma de cativar 0 publico com as expe- Tigncias que ela oferece, por outro, a efemeridade da performance - os seus protocolos, Praticas e condigdes de trabalho e de apresentacao - levanta problemas a instituicdes Cuja missao prioritaria é coleccionar e conservar? Na entrevista conduzida por Liliana Coutinho Quando a performance encontra o museu, é possivel conhecer a posicao de Catherine Wood, coordenadora do departamento de Performance da Tate Modem, rela- tivamente a relacao entre a performance arte e o museu. A terminar a sec¢do, a conversa 2 Para um interessante contraponto da viragem social nas artes performativas, cf. Jackson (2011) € Harvie (2013). 3° Para uma anilise aprofundada destes temas, cf. Jackson (2014). " ELEONORA FABIA 087 ii Rurmounto 125 4 17 chnistor micowe 153 LEIF ELoGREN/KREV INTRODUGAO. a ¢ cu propria Aparecer em pablico en, entre Peggy Phelan, Ana Bigotte Publico reflecte sobre varios tépicos candentes no debate da esfera pablica actual, 6 papel da performance arte ¢ 0 protesto como performance, tais como: a crise de refugia, dos na Europa, forcada a reequacionar as suas politicas de hospitalidade; 0 movimento Occupy nos Estados Unidos ¢ a sua inspiradora forga de contaminasao; 08 contornog sinistros no que toca a liberdade democratica do proceso da destituigao da ex-presidente Dilma Rousseff no Brasil; e a retorica teatral que gera ficgdes percepcionadas como reali. dade durante a campanha presidencial nos Estados Unidos, 0 que dialoga com o referido diagnéstico de Badiou. : Na tiltima seccdo, LINHAS DE TENSAO, 0s artigos revéem conceitos a luz de priticas artisticas que recorrem a estratégias da performance arte. Ao fazé-lo, tensionam e toni- ficam quer os conceitos, quer as obras ou contextos que analisam, contribuindo para a ipagao da performance arte na esfera publica. Uma ques- os contornos e as especificidades da performance arte eflexao sobre os modos de parti to que se impée é a de saber quai portuguesa contemporanea. Urge escutar os ecos da disseminacao das suas estratégias noutros géneros artisticos que, porventura, a actualizam e redefinem. Nomeadamente a partir da década de 1990, essas estratégias chegam a danga e ao teatro ja filtradas pelas pra- ticas pos-dramaticas, por criadores que comegam a usufruir de uma participacao efectiva nas redes europeias e no discurso artistico internacional. O texto de Silvia Pinto Coelho Desterro - Desterritorializacgées na danca/performance contemporanea: dois episédios recentes do contexto portugués faz uma breve contextualizacao destes processos no evento da Nova Danga Portuguesa e convida-nos a pensar a performance arte enquanto «poténcia de desterritorializacao», isto é, enquanto forga de destabilizacao. Aautora pde em didlogo os conceitos de desterritorializacao e reterritorializacao de Félix Guattari com nocées de territério artistico, desterro ou gentrificacdo, a partir de dois casos. (Muito atento.a tudo o que esté a passar, de Pizamiglio/Furtado, e Art Piss, On Money and Politics, de Joao Borralho e Ana Galante). Enquanto este artigo identifica as linhas de tensao entre o local, a populacao, a performance e a recepcao, 0 texto de Joao Macdonald reflecte sobre as tensdes entre a provocacio, o piblico e as bandas do pop-rock portugués dos anos 80. Talvez em busca de uma referéncia inspiradora que as enquadrasse, algumas das bandas mais emblematicas dessa década exploraram as estratégias estéticas dos modernistas, de forma mais ou menos explicita. Enquadrando este gesto no contexto internacional da historia do rock, Joao Macdonald, em A vanguarda da frente para tras: retroperfor- mance musical portuguesa e comunicacio entre as décadas de 1980 e de 1910-1920, estabelece pontes entre a provocagao de Manuel Jodo Vieira (Ena Pa 2000), Rui Reininho (GNR) e Herdis do Mar e a irreveréncia de Santa Rita Pintor, Almada Negreiros e Raul Leal. A apropriacao de estratégias do passado relaciona-se com o formato contemporaneo do reenactment - o refazer, reactivar, recriar de uma acco -, na medida em que procura 12 IntRoougho activar aspectos latentes de um gesto performative num fazer presente, Ox dois enraion 110 livro abordam este tipico, que fech O reenactment oferece possibilidades de entendimento do caracter politico constitu tine Greiner, a forga destabilizadora da performance enta na sua capacidade de criar espacos de tivo da performance arte. Para Chr arte a abertura e partil vés de um «microactivismo de afectos», como sugere performance e seus microativismos de afetos. Com a com 0 outro atra 1m O reenactment politico da exemplos de casos de criadores brasileiros (Marcelo Evelin, Nucleo Marcos Moraes ¢ Oriana Duarte), como esses microactivismos podem eclodir em casas nha performatica» e no corpo de uma performer, Greiner mostra s de Teresina, 4 mesa de uma «cozi- Segundo Paulo Raposo, o reenactment (ou reperformance) surge como uma categoria politica proveitosa para pensar as varias formas de protesto e a propria logica do hash- tag como reapropriacao de uma vida publica plena. Raposo reflecte sobre as formas de sociabilidade digital como acco politica em Performance, activismo e esfera publica: arquivo, repertério e reperformance nos novissimos movimentos sociais. Além de meios velozes de circulacao de informagao e de opinides, determinantes na mobilizacao dos protestos de rua, as redes sociais constituem também ferramentas de activismo poli- tico que recorrem a diferentes formas de performatividade. Ao longo do livro, o leitor encontrar paginas de artistas (intervengées e textos) que, de forma mais ou menos explicita, reflectem sobre as suas praticas artisticas no debate da esfera publica actual. Elas dispensam o tipo de apresentacao que os ensaios exigem, mas organizam-se segundo uma dramaturgia cuidada, que procura assina- lar as ressonancias que as paginas tém com os artigos e as tematicas neles tratadas. Importa ainda sublinhar que estes contributos atribuem uma preciosa dimensao sensi- vel, elementos de humor, reflexdes profundas disfarcadas de quase nada, imprimindo uma dinamica que acredito poder contagiar a leitura. Este conjunto de ensaios e pagi- nas de artistas desenha vectores, pontos e linhas que sinalizam influéncias, friccdes e tensdes da complexa constelacao geopolitica do momento actual no mundo globali- zado, em que o papel da performance arte para sentir, pensar e agir na esfera publica é tanto mais premente quanto contingente. 13 AR 197 AnoneA Acie, GUILLERMO GOMEZ-PERA 213 t 7 INTRODUGAO, Referéncias BADIOU, Alain, 2016, «Alain Radiou; Reflections'on the Recent Election. http: /wwwversobooks comy blogs/2940-alain-badiou-reflections-on-the-recent election. BALM, Christopher, 2014. The Theatrical Public Sphere. Cambridge: Cambridge University Press BENTIVOGLIO, Mitella, ¢ Franca Zoccoli, 2008, Futuriste Italiane Nelle Arte Visive. Roma: De Luca Editori tary BERLANT, Lauren, 2011, Cruel Optimism, Durham: Duke University Press. MIsHOF Claire, 2012, Artificial Hels: Participatory Art and the Politis of Spectatorship. Londres: Verso, NOGAD, L. M, 2016, Tactical Performance; The Theory and Practice of Serious Play. Londres: Routledge. brvz Latvia and Poland since 1980. Nova lorque: Tauri, EL, Amy. 2013, Performing the East: Performance Art in Russia, GoLDMERG, RoseLee, 2007. AArteda Performance: Do futurismo ao presente. Lisboa: Orfeu Negro, HABERMAS, Jrgen. 1991. The Structural Transformation of the Public Sphere: An Inquiry into a Category of Bourgeois Society. Cambridge, MA: The MIT Press. HARVIE, Jen. 2013, Fair Play: Art, Performance and Neoliberalism. Houndmills: Palgrave Macmillan, JACKSON, Shannon. 2011 Social Works: Performing Arts, Supporting Publics. Londres: Routledge. —. 2014. «Performativity and Its Addressee». Em On Performativity, editado por Elizabeth Carpenter. Vol.1 de Living Collections Catalogue. Mineapolis: Walker Art Center, http://wwwawalkerart.org/collections/ ublications/performativity/performativity-and-its-addresseel. Mourre, Chantal. 2005. On the Political. Londres: Routledge. —. 2013. Agonistics: Thinking the World Politically. Nova lorque: Verso. Putiips, Aine. 2015. Performance Artin Ireland: A History. Chicago: The University of Chicago Press, POGGI, Christine. 2009. Inventing Futurism: The Art and Politics of Artificial Optimism. Princeton: Princeton University Press. wuts, David. on. Theatreand Citizenship: The History ofa Practice. Cambridge: Cambridge University Press 14 VECTORES DE INFLUENCIA TROCO TUDO! — ELEONORA FaBIAO PROGRAMA? Me aproximar de desconhecidos e perguntar: «Vocé troca alguma coisa comigo? Te dou alguma coisa minha, algo que eu esteja vestindo ou carregando, ¢ vocé recebe. Vocé me 4a alguma coisa em troca e eu recebo.» A aco sé se conclui quando tudo o que possuo no nicio for trocado. licado originalmente (trechos e imagens) em) Ag epecki. 2015. Rio de Janeiro: Tamandua Arte (come pela mesma editora). Aqui amplio a ap esse livro. Para mais informag®es sobre a pt nos Ultimos dez anos. Sobre o tema, cf Fab —F isse 0 hot Quero essa bola de encher amarela, di mem & sombra da estétua do Capistrang 0. Nem pensar, nBo troco nada que esta ny, hi ‘a esse short novin! Be Are Te te or igifo? TO vendo al urna nota de RS 2,00; quer trocar por causa 2 meu corpo. E por 4 suada mas € nova. Troco nada néo, minha fia. Nao estou gutta? Toma minha bermuda, ta bola de encher amarels, disse 0 homem & some ° interessada. Nao quero. Quero oe ta que & isso? Por que voos faz ie80? Pra que senee statue do Capistran® oe vee esmalte de unha, Toco por essa maquininha de calcular a Tenho um espanador mas no Sbom) serve? Prejuizo por quay aa, 2 Jécio € 0 seguinte: primeiro vocé deve perguntar O seu negécio nao é trocar tudo? O neg isa: 96 d . ° preco da coisa ao lado, como se estivesse interessado nessa coisa; 86 depois vocé pergunta © prego daquilo que realmente te interessa, entendeu? Tenho uma pergunta: o que vocé jg trocou, vocé troca outra vez? Nao, levo para casa e uso; e se for de comer eu como. Que tal uma caneta? Espera, vou ver se funciona. Quer um pedago? E muito gostoso. Onde fica 0 lixo? Aqui nao tem lixo, joga ali mesmo. Quero essa bola de encher amarela, disse 0 homem a sombra da estatua do Capistrano de Abreu. Eu queria trocar de satide mas nao tem como. Eu queria 0 casaco que vocé trocou com ela ali. Entao vai la e troca com ela por alguma coisa sua. Joana vem ca, vocé vai gostar disso! Capistrano de Abreu foi um dos primeiros grandes historiadores do Brasil; trabalhou também com etnografia e linguis- tica. Era adepto do determinismo sociolégico e buscou com seus estudos descobrir «as leis fatais que regem a sociedade brasileira». Volta amanha cedo, traz mais coisa. Espera, Senta aqui um pouquinho, vamos trocar uma ideia. Quer trocar esses dois brincos peque- nos por um grande? E que perdi o par do grande. Vé na sua bolsa. © que vocé realmente auer? O que vocé quer de mim? © que vocé quer em troca? Toma uma pedra, Toma la, da ca, Uma camiseta por uma camiseta. Coube direitinho. Um pouco justo mas tudo bem. Me aerta, sufoca. Hoje néo, obrigada, Hoje em dia as coisas nao séo como antigamente. Nada em valor. Isso aqui no tem prego. Tudo tem um prego. Cada coisa, por menor que seja, tem seu valor. Cadé aquela camiseta verde, ja trocou? Vi locé acha essa troca justa? Olha, Guerida, Justi¢a nao existe. Nunca vi, nunca encontrei, nao ha. Preciso s6 te avisar que esse relégio adianta o tempo. Mas quanto? i Acho que uns quinze minutos. Quinze minutos nao faz diferenca, 838 tense #3: troco tudo ~ praga Dom José 4g Rio-Pr oe (Festival Internacional de Teatro, Série Precérios: troco tudo Precarious Series: to trade everything ~ campus da Universidade de Concérdia @ (IX Encontro do Instituto Hemisférico de Performance e Politica, 2014) / um broche vermelho de feltro (simbolo da greve estudantil ne das anuidades nas universidades em 2012), relégio de pull Por beljo, trés délares americanos por um suco de laranja) com forint amarelas que foi da mae e ainda tem o che er Concluimos que ele nao precisava mais is daquele m rada e, no final ne contas, 0 importante seria pas Assim, a moeda com estrela dourada = «Repub Muerte» - foi trocada por um pregador de eza, que ele levasse um presente meu para madrepérola verde e branca, Duragdo da agao em Montréal no dia 27 le Quarenta e trés anos antes, em maiod 90 {0s artistas] néo sabem se esto fazendo algo que ainda tem valor nesses tempos em que os problemas sociais So tao vitais e criticos. Me pergunto sobre isso. Por que ainda sou uma artista? Por que nao estou me juntando aos revolucionérios violentos? Entdo entendi que destruigdo nao é 0 meu jogo. Revolucionérios violentos estdo tentando destruir 0 esta- lishment, Isso ¢ bom. Mas como, matando? Matar é uma coisa tio artless lignorante, canhestra). Tudo 0 que vocé precisa é de uma garrafa de Coca-Cola na mao e pode matar. Mas as pessoas que matam dessa forma se tornam, na maioria das vezes, depois de terem matado o antigo, 0 préximo establishment. Isso porque estado utilizando o mesmo método que o velho establishment utilizou para destruir.[..] Os artistas ndo esto aqui para destruir ou criar. Criar 6 algo tao simples e artless a fazer quanto destruir. [...] O trabalho de um artista nao é destruir mas mudar o valor das coisas, (2015, 215) Um ano depois, em 1972, Hélio Oiticica escreveu inspirado por Yoko Ono: «Criar nao é a tarefa do artista. Sua tarefa 6 a de mudar 0 valor das coisas» (Oiticica 2009, 108). Nem mais, nem menos. Nada mais, nada menos. Assim, 0 que convencionalmente tem pequeno valor passard a ter grande valor; e 0 que supostamente tem grande valor passara a ter pequeno valor. Mas no apenas isso - inverter valores estabelecidos é dobra importante mas nao suficiente. Esta em questo a transvaloragao de valores, a heranca nietzschiana - 0 desinteresse por valores absolutos, por crencas e morais absolutas, seja a metafisica platénica, a moral crist& ou 0 totalitarismo mercado-capital. Transvaloragao de valores que se faz por meio do reconhecimento da historicidade e da relatividade de valores tidos como universais, da coragem e da impetuosidade do ultrapassamento, e da valorizacao do corpo e da imanéncia para a potencializagao da vida. Valorizagao do corpo e da imanéncia para potencializagao da vida como enfatiza a arte da performance. Uma arte que nao é apenas visual mas é arte de dar a ver. Arte de dar a ver corpos, circunstancias, relacées, valores. Hoje, em novembro de 2016 - em tempos de capitalismo neoliberal avangado, de ter- rorismo disseminado, de crescimento de movimentos de extrema-direita, de crise ecolé- iticica, Como gica alarmante -, retomo as atualissimas poeticas ético-politicas de Ono e sugerem, 0 trabalho do artista nao é criar nem destruir mas mudar, modificar, transformar valores, Essa é a experimentagao em questdo. Entretanto, como fazer? Me parece que agir reativamente nao 6 a melhor resposta. Mudar valores é tarefa propositiva e no reativa. Explico: uma reagéo, por definicdio, 6 uma a¢do no sentido contrario aquela que a provo- cou. Assim sendo, opera sobretudo alterando a direcao da forga a qual reage, porém nao Sua qualidade, padrao ou modo. Trata-se de um revide, néo de uma subversdo; de uma vinganga, nao de uma promessa. Apenas uma insubordinagdo estratégica (ndo uma retar 'iagéo impulsiva) permitird que novos modos de agao sejam concebidos (mesmo conce- biveis). Articulando de outra maneira: agir reativamente contra o que enfraquece, contra que corréi, contra o que mata é atitude absolutamente legitima, claro, porém talvez no a1 — sente. Afinal, reagir a algo é reconhecer a ex; légica propondo outra ldgica é& es des, “la, des}, ativar linha: , 8 de fuga estratégicg, Mla 8S; labo. * labo, ‘ar © Tatar sup, VO. vitaetag jentemente efic erar uma ceber escapes no escapistas, que possibilitem combater da maneira que interes, 88, d perar mudangas de valores de modo py ; 0) corpo e performance sigam sempre nascendo, Positi um buscando. A cada ago. D Por mei . De io acordo com a ese 40 out, Por meio de encontros. De troca em t alae o a : roca, cance E mais outro. de Pensament, resulte sufic Se a a0 passo que SUP sta é con al para que experiment sca e seguirei Estou em bu: Acada encontro. de cada agao. um dia depois do outro. em pensamento, Referéncias 3, «Programa Performativo: 0 corpo-em-experiéncian. ILINX - R >. ILINX ~ Revista do Luy IME 4, FABIAO, Eleonora. 201. br/revistadigital/index.php/lume/article/view/2: w/276. http://www.cocen.unicamp. oiricica, Hélio, 2009. «Experimentar o Experimental (1972)». Em Encontros Héli Iélio Oiticica, Ri Rio de Janeiro: Beco do Azougue: 104-9. on What i 0, Yoko. 2015. «What isthe relationship between the world and the artist? Woman Show 1960-1971. Nova lorque: MoMA: 215-6. artist?» Em Yoko Ono One PONTOS DE FRICCAO

Você também pode gostar