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Ano Letivo 12 / 13

Disciplina: Português – 9º Ano

TEXTO DE APOIO

OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES

Como percebeste pelas informações obtidas até agora, Os Lusíadas são uma Epopeia inspirada na
Antiguidade Grega e Romana e, por isso, seguem, rigorosamente, as regras estabelecidas para o Género
Épico. Vamos recordar, então, qual é a Estrutura Externa desta obra e conhecer um pouco mais da sua
Estrutura Interna:

A – Estrutura Externa de Os Lusíadas:

1. Dividem-se em 10 cantos.
2. Cada canto compõe-se por um número variado de oitavas (estrofes formadas por 8 versos).
3. Cada verso contém 10 sílabas métricas e, por isso, é chamado verso decassilábico.
4. O esquema rimático de cada estrofe é AB/AB/AB/CC.
5. Este esquema rimático indica que existe uma combinação rimática cruzada nos seis primeiros
versos e emparelhada nos dois últimos.

NOTA: Quando é pedida a Análise Formal de uma estrofe de Os Lusíadas, é esta análise que se deve
fazer.

B – Estrutura Interna de Os Lusíadas:

1. Ainda mais importante do que a forma é o conteúdo, pois é através da sua análise que nos
apercebemos das mensagens, das intenções, das interpretações possíveis.

2. Dizemos, então, que estamos a analisar a Estrutura Interna, ou seja, o “interior” do texto, aquilo
que não se vê como forma e que é preciso procurar cuidadosamente, a interpretação.

3. Como já percebeste, o herói de Os Lusíadas é o Povo Português. A esta “personagem” se


chama herói coletivo, por representar todos os portugueses.

4. A História principal aqui narrada é a Viagem de Vasco da Gama à Índia. Diz-se, por isso, que esta
é a ação principal.

5. Porém, e uma vez que esta viagem não representava o único feito digno de admiração deste povo,
Camões dá-nos a conhecer outros factos verídicos da História de Portugal contados pela boca
de Vasco da Gama (a Batalha de Aljubarrota, a Morte de Inês de Castro...).

6. De maneira a dar um “toque” clássico, Camões junta à verdadeira História de Portugal uma História
de deuses pagãos (não cristãos) e faz com que estes acompanhem toda a viagem de Vasco da
Gama (é o chamado Maravilhoso Pagão). Por outro lado, o Deus Cristão surge, também, ao longo
da epopeia, cumprindo-se o ritual de um país católico e ainda dominado pelas leis da Inquisição
(nesses momentos assiste-se ao Maravilhoso Cristão).

7. Ao longo desta narrativa em verso assistimos a uma espécie de “três filmes” que se vão
articulando, e desenrolando, quer paralelamente quem em interação. Dizemos, então, que
existem três Planos de Desenvolvimento na narração (para saberes mais, consulta a página
252 do teu manual).

8. Por outro lado, os episódios desta obra camoniana também se agrupam conforme o seu
conteúdo: uns falam de batalhas, outros de histórias de amor… Confirma como se
classificam estes episódios na página 253 do teu manual.

9. Lembras-te das Categorias da Narrativa, mais propriamente da Organização das Sequências


Narrativas? Ora bem, na generalidade, Os Lusíadas têm a sua ação organizada de uma forma
ALTERNADA (organização por ALTERNÂNCIA), ou seja, a acção principal interrompe-se para,
constantemente, se introduzir uma ação secundária, no final da qual se retoma a ação principal. No
entanto, por vezes, damos conta de acções encaixadas, como é o caso do episódio do Adamastor
que irás estudar:
10. Vais reparar também que a narração da viagem de Vasco da Gama não começa quando a armada
parte de Belém, em Lisboa. Pelo contrário, Camões começa a contar-nos pormenores da viagem
quando os marinheiros se encontram já no Oceano Índico. A este processo de iniciar a narração
“a meio” chamamos in medias res e constitui uma regra das antigas epopeias gregas e romanas.

11. Claro que Camões vai, mais tarde, voltar atrás e contar como foram as Despedidas em Belém.
Chama-se a esse “recuo” na narrativa Analepse. O autor faz estes recuos frequentemente ao longo
da obra, avançando, depois, na ação através de Prolepses.

12. Depois de estares informado destas particularidades, podes recordar que Os Lusíadas se
organizam segundo uma estrutura interna fixada pela antiguidade clássica; de facto, todo o poema
épico se deveria dividir em quatro partes: PROPOSIÇÃO, INVOCAÇÃO, DEDICATÓRIA e
NARRAÇÃO.

13. Segundo foi estudado, cada uma destas partes tem um assunto específico:

 PROPOSIÇÃO – Ao gosto das epopeias gregas e romanas, Camões começa por anunciar
o assunto fundamental da sua obra (a viagem à Índia) e quais os grandes objetivos dessa
escrita:
a) Cantar o Povo Português, os homens ilustres, os seus actos heróicos, a sua
valentia e vitórias.
b) Engrandecer, de tal forma, o nosso Povo, que toda a memória dos antigos heróis
seja apagada (os heróis gregos e romanos).
c) Fazer com que, através da sua escrita, a História de Portugal seja conhecida por
todo o Mundo.

 INVOCAÇÃO – Escrever a história de um povo não é uma tarefa fácil.


Muito menos escrevê-la de forma tão complexa e arquitetada... Então, como mandavam as
regras clássicas, o Poeta deveria pedir a alguém força, inspiração, capacidade,
grandiosidade e facilidade nas palavras. Camões invoca, por isso, as ninfas do Tejo, as
Tágides (criaturas irreais, filhas do rio), de forma a poder iniciar tão dura tarefa.

 DEDICATÓRIA – As epopeias da antiguidade clássica eram sempre


dedicadas a alguém importante. Camões não foge à regra e dedica a sua epopeia a D.
Sebastião, rei de Portugal, durante onze estrofes.

 NARRAÇÃO – Só depois destas formalidades quase “extra – história” é


que o poema vai ganhar o seu aspeto definitivo, começando-se a narrar a viagem de Vasco da
Gama propriamente dita, intervalada por outros episódios. Esta é a parte mais longa e também
a mais importante do poema.

C – Mais algumas notas sobre os Lusíadas:

A origem da palavra Lusíadas – Conta a lenda que Luso, filho de Baco, deus do vinho, fundou, no
extremo ocidental da Península Ibérica, um reino, ao qual deu um nome derivado do seu: Lusitânia.
Na realidade, quando os Romanos se estabeleceram na Península Ibérica, por uma questão administrativa,
dividiram-na em três províncias, conservando o nome Lusitânia para toda a região compreendida a sul
do Rio Douro.
No século XVI, os escritores nacionais começaram a usar a palavra Lusitanos como sinónimo de
Portugueses, o que foi aproveitado por Camões.
Foi com base nisso que o poeta criou uma palavra nova que iria dar nome à sua obra épica: Os Lusíadas,
ou seja, o Povo de Luso – os Portugueses.

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