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Copyright © 2020 Sara Ester

Capa: Barbara Dameto


Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra ficcional


Qualquer semelhança entre
nomes, locais ou fatos da vida real é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é
crime estabelecido na lei nº. 9.610/98
e punido pelo artigo 184 do código
penal.
Índice

Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Libertino — livro 2 — Linhagem
González
Agradecimentos
Sinopse
O que fazer quando um único
acontecimento é capaz de mudar o rumo
das nossas vidas?
Lorenzo González sentiu isso na
pele a partir do momento em que se
deparou com o mais incrível par de
olhos azuis que já viu. Nascido dentro
de uma família de homens
conquistadores, libertinos e apaixonados
— características essas que os
destacavam dos demais — ele passou a
questionar cada uma das estranhas
reações e emoções que sentia desde que
conheceu Giovanna, uma mulher
misteriosa, porém repleta de doçura.
O plano não era que ele se
sentisse encantado, considerando que
apenas deveria ajudar a mulher
desconhecida e, em seguida, seguir seu
caminho.
Mas por que raios seu coração
estava batendo tão forte no peito?
A resposta para essa pergunta
era tão clara quanto a certeza de que
Giovanna Basile, no momento em que
deixou a prisão, cometeu seu primeiro
crime de reincidência: roubar o coração
do descendente direto dos González.
Prólogo
Lorenzo

Aquele podia ser mais um dia


qualquer, com nuvens negras
preenchendo o céu que, outrora, estava
azul. A umidade tomou conta do ar, e
fortes rajadas de vento frio passaram a
completar o cenário ao meu redor.
Repito, aquele podia ser mais um dia
qualquer, mas não era...
Eu nunca fui taxado como uma
pessoa agradável de se conviver, porque
meu lema sempre foi: observar primeiro
e falar depois. Minha facilidade em ler
as pessoas por vezes me trouxe
vantagens, considerando que conseguia
descobrir o outro lado. O lado que se
mantinha escondido.
Entretanto também me colocava
em encrencas, já que a inveja do
diferente, geralmente é a desculpa para
atacar. Para ferir. Nunca considerei um
problema o fato de não ser tão sociável
como a maioria, apesar de me pegar, por
muitas vezes, desejando a popularidade.
Por outro lado, cresci num lar
amoroso, tendo pessoas que me amavam
incondicionalmente. Tive a melhor
educação e o melhor da vida;
oportunidades de conhecer e
experimentar tudo o que quis e que o
dinheiro permitiu. Infelizmente não fui
agraciado com muitos amigos, porém um
deles se sobressaiu, porque ficou
marcado. Luigi era um rapaz igualmente
tímido, contudo eu e ele tivemos
facilidade de entrosamento. Juntos,
começamos a criar um laço quase
fraternal. E embora ele fosse mais velho
do que eu, nossa amizade não perdeu a
força, considerando que tínhamos algo
em comum: o vício em jogos de vídeo
game. Entretanto, às vezes, eu
desconfiava que ele estivesse me usando
apenas para se aproximar da minha irmã
Eva, porque na época, ele tinha quinze
anos e eu apenas dez.
Os anos passaram, e nós
amadurecemos com eles. Luigi e eu
seguimos rumos diferentes, mas eu nunca
me esqueci da nossa amizade. Aliás, ele
havia sido o único amigo de verdade
que tive o prazer de ter.
Eu não quis aceitar quando
recebi uma carta, informando sobre a
morte dele. Foi um choque. Algo que
não previ. Sequer imaginei que ele
estivesse doente, muito menos que
tivesse tido uma filha aos dezoito anos.
O choque da notícia não permitiu que eu
raciocinasse sobre o pedido feito no
final daquela pequena carta de
despedida.

“Por favor, Lorenzo,


cuide da minha filha. Você
é o único a quem posso
confiar o meu bem mais
precioso, meu leal amigo.”
Mesmo tendo passado dois anos
desde a leitura da tal carta, eu não
consegui me preparar o suficiente para
aquele momento. Poderia ligar o foda-se
e, simplesmente ignorar, mas minha
consciência não permitia. Luigi estava
morto, mas eu estava ali e precisava
fazer aquilo por ele. Precisava honrar
sua confiança em mim.
Respirei fundo assim que escutei
o barulho das trancas, seguido pelo som
do grande portão de ferro sendo aberto.
Desci do meu carro.
Levando os olhos para além dos
poucos metros que nos separava, eu a
vi...
O primeiro detalhe que chamou
minha atenção foi a cor dos belos
cabelos, castanho escuro. Depois prestei
atenção nos olhos, que era de um azul
tão intenso que, eu me vi hipnotizado.
Cativo na verdade.
O plano não era que eu me
sentisse encantado, considerando que
apenas deveria ajudar a mulher
desconhecida e, em seguida, seguir meu
caminho. Mas por que raios meu
coração estava batendo tão forte no
peito?
Fascinado, admirei seus passos
enquanto ela caminhava na minha
direção, como se estivesse certa sobre
mim. Sem medo. Sem dúvidas. O corpo
era miúdo, porém perfeito aos meus
olhos.
— Oi — soprou, assim que
parou na minha frente, deixando-me
momentaneamente desestabilizado com
tamanha beleza. — Você é o meu
protetor?
Arrepios inundaram minha pele
quando a pergunta foi feita e com ela
olhando diretamente nos meus olhos,
sem titubear.
Havia doçura em seu tom de voz,
porém contradizia sua postura, que
berrava selvageria. Seu olhar escondia
toda a sua ferocidade.
Descruzei os braços e me
aproximei dela, que continuou no mesmo
lugar.
Nos olhamos por alguns
instantes.
— Sim, senhorita Giovanna —
respondi, enrolando seu nome em minha
língua. — Eu serei seu protetor.
E ali selei meu destino.
Giovanna, uma mulher que no
momento que deixou a prisão cometeu
seu primeiro crime de reincidência:
roubar meu coração.
Capítulo 1
Lorenzo

Assim que nos ajeitamos dentro


do meu carro, eu encarei aquele intenso
par de olhos azuis. Não consegui
encontrar maldade dentro deles, pelo
contrário. Giovanna parecia ter um
enorme vazio por trás do sorriso
esperto.
— Estou com alguma coisa
estranha no rosto? — perguntou,
divertida, já que eu não parava de
encará-la.
Sacudi a cabeça, sem jeito.
— Perdoe-me. — Liguei o carro
na ignição e nos tirei dali.
Notei que ela ficou olhando pelo
retrovisor, enquanto o carro se afastava
do prédio que foi sua casa por longos
anos.
Obviamente que eu tinha
conhecimento sobre seu delito, porém
não seria mal educado ao ponto de
comentar isso com ela; minha função era
apenas levá-la para onde ela quisesse ir
agora que estava livre.
— Aonde você vai querer que eu
a deixe? — perguntei, quebrando o
silêncio.
O suspiro desanimado chamou
minha atenção e, eu a encarei de soslaio.
— Em qualquer lugar no centro,
por favor — disse num tom baixo.
Franzi o cenho, estranhando.
Não precisava ser um gênio para
perceber que aquela garota não tinha
para onde ir. Nas minhas pesquisas,
Luigi era o único parente próximo a ela,
e com a morte dele, ela estava sozinha
no mundo.
Meu coração se apertou com tal
possibilidade, o que era ridículo,
considerando que mal nos conhecíamos.
— Como conheceu meu pai? —
Puxou assunto.
Pisquei, ao ouvir a voz rouca.
Era tão sensual quanto a maneira intensa
como ela encarava meu rosto.
— Éramos amigos de infância —
respondi apenas.
O silêncio voltou a reinar.
Era possível ouvir o barulho do
maquinário da sua mente; Giovanna
estava preocupada, apesar da liberdade
tão almejada. Não conseguia imaginar a
vida dentro daquele lugar; certamente
mexia com a mente de qualquer pessoa.
— Você pesquisou sobre mim,
né? — Voltou a falar.
Dessa vez, dei uma rápida
olhada em seu rosto. Sorri.
— Acabei de buscá-la numa
penitenciária, senhorita Giovanna —
falei. — Honestamente, isso não me
deixa muito confortável.
— Acha que eu posso atacar
você? — Havia diversão em seu tom de
voz.
Voltei a sorrir.
— De maneira alguma —
respondi. — Por que teria medo disso?
Ela se ajeitou no banco,
encarando-me. Minha atenção estava no
trânsito, mas conseguia captar cada uma
das suas ações.
— Não sei. Mas estou
acostumada a ser julgada erroneamente.
— Deu de ombros.
Fiquei pensativo, analisando
suas palavras.
Ela tinha sido condenada por
fraudes na empresa em que trabalhava,
há três anos. O próprio CEO a
denunciou, pessoalmente.
Pensei em tecer mais algum
comentário, contudo hesitei. Não era da
minha conta. Ela não era da minha conta.
Estacionei o carro numa parte
movimentada do centro da cidade.
Inspirei profundamente, olhando
nos olhos azuis.
— Tem certeza de que ficará
bem, senhorita Giovanna?
Ela engoliu em seco quando
olhou para fora da janela. Parecia
assustada.
— Eu ficarei — respondeu. —
Obrigada.
Colocou a mão na maçaneta e
abriu a porta. Algo dentro de mim gritou
para impedi-la de sair, mas não dei
ouvidos.
Luigi só pediu um favor: pegar a
filha dele na penitenciária e isso eu fiz.
∞∞∞
Passava das dez da noite quando
saí do meu escritório; não era minha
intenção ficar trabalhando até tão tarde
da noite, mas por alguma razão uma
tempestade azul não abandonou meus
pensamentos.
Não era algo que me deixava
confortável, pois não estava acostumado
a perder o controle, mesmo que das
minhas emoções.
Estacionei meu carro em um
drive-in e fiz meu pedido. O rádio
estava ligado num volume ameno,
apenas para fazer meus pensamentos
silenciosos. Minha personalidade
introvertida não me permitia ignorar;
minha mente ficava digerindo e
digerindo e digerindo... o olhar de
Giovanna ficou cravado em minhas
lembranças.
— Aqui está o seu pedido,
senhor — disse o atendente.
Fiz o pagamento e, em seguida,
saí dali.
A chuva estava torrencial, e
batia com força no parabrisas do carro.
Por mais que tivesse concentrado no
trânsito a minha frente, eu vi a figura
feminina tentando correr da chuva. As
rajadas de vento castigavam o corpo
miúdo e delicado, assim como a chuva,
deixando-a ensopada.
Joguei o veículo no acostamento
e abri um pouco o vidro.
— Giovanna? — gritei, sem
querer acreditar que era ela mesmo. —
Giovanna? — chamei mais alto. Ela me
olhou, mas fez um sinal negativo com a
cabeça. — Entra no carro. Você vai
pegar uma pneumonia, droga! — ralhei,
quando ela continuou negando. —
Giovanna!
Depois de poucos minutos e, sem
alternativas, seu orgulho foi vencido e
ela veio até mim.
A porta se abriu e ela entrou,
respingando água pra tudo quanto é
lado. Os cabelos estavam encharcados.
— Pelo visto você mentiu
quando disse que tinha onde ficar —
falei, ligando o carro e nos tirando dali.
Capítulo 2
Lorenzo

Quando acordei naquela manhã,


não tinha ideia de que o dia terminaria
daquele jeito. Era estranho, porque o
controle não estava em minhas mãos.
Eu deveria apenas ter dado uma
carona para a filha do Luigi. Não trazê-
la para minha casa!
Droga.
Andando de um lado ao outro,
era impossível não pensar na minha
nova realidade. Aliás, com meu
nervosismo tudo o que eu conseguia
fazer era pensar. Minha vida não havia
sido programada para dois; eu não
funcionava bem com mais pessoas.
Quando jovem, minha família
não me entendia... Fui julgado várias
vezes pelo meu modo mais calado de
ser; pela minha maneira de encarar...
Veja bem, demorei a descobrir que meu
sistema era diferente. Eu precisava de
mais tempo para digerir e entender as
coisas. Por isso, as mudanças não eram
bem vindas.
— Está tudo bem? —
Empertiguei-me ao ouvir o som rouco
atrás de mim. Ao virar o corpo, eu me
deparei com Giovanna, parada no arco
da porta da sala. Ela coçou a garganta,
nervosa. — Espero que não se importe,
mas não tenho nenhuma roupa, além das
que eu estava usando, então... — se
calou, constrangida, enquanto apontava
para si mesma dentro de uma das minhas
camisas, que mais pareceu uma camisola
nela.
Engoli em seco.
Porra!
— Não se preocupe com isso. —
Consegui dizer, apesar da dificuldade de
concentração. Apontei para a cozinha.
— Está com fome? Eu pedi três lanches.
— Você come três lanches? —
Pareceu surpresa, arqueando as
sobrancelhas.
Apenas dei de ombros.
— Não gosto de ser pego
desprevenido — respondi. — Peço
sempre uma quantidade maior para o
caso de um lanche só não suprir minha
fome.
Ela apenas me encarou.
Cada um tomou um assento à
mesa da cozinha.
Fiquei quieto olhando para ela
quando a mesma pegou um dos lanches.
Vi o momento em que levou o sanduíche
à boca e o mordeu, fechando os olhos
em puro contentamento.
— Oh, céus, que delícia! —
Suspirou. — Já tinha me esquecido do
quanto essa porcaria recheada de
calorias e toda essa baboseira do-que-
não presta é boa. — Sorriu, dando mais
uma mordida generosa.
Joguei-me para trás, analisando-
a.
— Por que não me disse que não
tinha para onde ir, Giovanna?
Ela depositou o lanche em cima
do prato, limpando a boca com o
guardanapo.
Seu olhar abandonou o meu.
— Sua promessa ao meu pai era
clara, Lorenzo — disse em tom seco. —
Me buscar na frente daquela merda de
penitenciária. Só isso.
Travei o maxilar.
— Então está dizendo que eu
deveria tê-la deixado no meio da
estrada, na chuva?
Ela suspirou, incomodada.
— O que estou dizendo é que
não te conheço e nem você me conhece
— resmungou. — Não me sinto
confortável em depender de estranhos.
— Eu também não me sinto
confortável em abrigar estranhos. —
Franzi a testa. — Mas seu pai me pediu
para ajudá-la e não gosto de falhar com
meus compromissos.
Ela sorriu, antes de voltar a
comer.
— Por que o sorriso? —
perguntei.
Sacudiu a cabeça.
— Você é engraçado —
respondeu. — Todo cheio de olhares e
respostinhas prontas. Lorenzo, você não
é obrigado a nada. — Bebeu um gole do
refrigerante. — Meu pai apenas jogou a
responsabilidade nas suas costas antes
de morrer. — Revirou os olhos. — Ele
nunca me ajudou quando era vivo.
Analisei suas palavras. Depois
de adultos, Luigi e eu não tivemos muito
contato, considerando que ambos nos
mudamos de Madrid.
— Ele era sua única família? —
perguntei, apesar de já saber a resposta.
— Sim. Perdi minha mãe ainda
criança. — Terminou de comer. — Você
nem tocou no seu lanche. — Apontou
para o meu sanduíche intocado.
— Não estou mais com fome.
— Se importa? — questionou,
com os olhos brilhantes, enquanto
tencionava pegar o outro para comer.
Sorri, encantado com seu jeito.
— Claro que não. Fique a
vontade. — Empurrei o lanche para ela,
que sorriu, eufórica como uma criança.
Os olhos brilhantes me
chamavam como uma chama acessa.
Eram como dois faróis.
— Você deve estar me achando
gulosa, né? — perguntou, divertida. —
Fica aí me olhando...
Sorri junto com ela.
— Gosto de admirar as pessoas
que comem com vontade. É
reconfortante.
O silêncio voltou com força
total. Entrelacei meus próprios dedos e
permaneci quieto, porém pensativo.
De repente, meu telefone
começou a tocar, tirando-me do torpor
da visão magnífica que era aquela
mulher.
— Com licença, por favor.
Deixei a cozinha.
Era minha irmã.
— Oi, Eva. — Atendi.
— Por que não atendeu minhas
ligações anteriores, Lo? Poxa, você
sabe que fico preocupada, ainda mais
depois de saber que você ficou de
buscar uma ex-presidiária.
Rolei os olhos diante de todo
aquele drama. Eva sempre foi protetora
comigo, e piorou quando decidi ir
embora de Madrid. Mesmo, eu sendo um
homem de trinta e cinco anos, minha
irmã não deixava de se preocupar.
— Me desculpe, Eva, mas tive
um dia cheio hoje — respondi.
— E quando é que você não tem
um dia cheio, Lo? — zombou. Mantive
o silêncio, fazendo-a acrescentar: — E
então? Está tudo bem?
Apertei minhas têmporas.
— Está tudo bem, Eva. Não há
razão para se preocupar.
— Tem certeza?
— E como estão nossos velhos?
— perguntei, louco para mudar o foco.
Odiava ter que dar satisfação da minha
vida.
Ela riu, percebendo minha
intenção.
— Está certo, Lo, eu entendi —
Riu. — Bom, nossos pais estão bem.
Agora resolveram viajar em um
cruzeiro.
— Sério? — Dei risada.
— Sério! Você sabe como eles
são, né? — brincou. — Depois que a
mamãe esteve doente, o papai faz de
tudo para deixá-la bem e feliz. Os dois
estão parecendo adolescentes agora.
A fragilidade da saúde da nossa
mãe nos fez miseráveis por algum
tempo, pois o susto foi muito grande.
— Ah, mas isso é algo bom. Os
dois merecem curtir a vida sem
preocupações agora.
Ela também riu.
— É verdade — falou. —
Depois vou te mandar as fotos que a
mamãe mandou; são hilárias.
Conversamos por mais um tempo
e, em seguida, encerrei a ligação.
Prestes a voltar para a cozinha,
freei os passos ao me deparar com
Giovanna, me encarando com a testa
franzida.
— Era a sua namorada?
Arqueei as sobrancelhas e ela
baixou os olhos, constrangida.
— Perdoe-me, não é da minha
conta. — Coçou a garganta. Tentei não
olhar para suas pernas a mostra, mas era
uma missão impossível. — Hã... Vou
dormir no sofá hoje e prometo que
amanhã sairei da sua vida, viu? Não
quero atrapalhar mais a sua rotina e nem
causar qualquer constrangimento.
Era divertido observá-la, porque
o mistério por trás dos seus olhos me
deixava cada vez mais curioso.
— Você pode ficar com o quarto,
Giovanna — falei, fazendo um enorme
esforço para manter o olhar em seu rosto
e não arrastá-lo por seu corpo sedutor.
— Amanhã é um novo dia, pedaço do
céu.
Virei-me, pronto para ir ao
banheiro tomar um banho frio.
— Pedaço do céu?
Não respondi e apenas acenei,
me retirando da sala.

∞∞∞
— Bom dia.
Desviei os olhos da folha de
jornal assim que ouvi a voz rouca.
— Bom dia — devolvi a
saudação. — Dormiu bem?
— Tão bem como há muito
tempo — respondeu, tomando um dos
assentos. — Obrigada.
Eu já tinha acordado cedo e ido
até a confeitaria, então a mesa já estava
posta para o café.
— O que está planejando fazer
hoje? — perguntei. — Honestamente —
alfinetei.
Vi quando ela inspirou fundo.
— Trabalhei durante os três anos
que estive presa — respondeu, sem me
olhar. — Então vou ver se consigo um
lugar para ficar. Preciso dar um rumo a
minha vida, Lorenzo.
Baixei o jornal e, em seguida,
beberiquei um gole de café.
— Por que não fica aqui por um
tempo? — A pergunta saiu da minha
boca antes mesmo que eu conseguisse
impedir. Giovanna me encarou num
misto de surpresa e desconfiança. —
Bem... — pigarreei, nervoso — eu
posso ajudá-la enquanto não consegue
um emprego. Você também precisa
comprar roupas novas... — me calei por
um instante. — Você não tem ninguém.
O silêncio invadiu o cômodo.
— Pelo visto tenho você agora.
— Ela comentou de repente, sorrindo.
Surpreendi-me com o sorriso
tomando conta dos meus lábios, além do
estranho alívio preenchendo meu
coração.
— Isso aí! — exclamei. —
Somos amigos.
Capítulo 3
Giovanna

Passado

Estar em frente ao prédio


imponente da JK Comunication era
assustador, porém deliciosamente
satisfatório, pois eu estava entrando
como a mais nova Assistente pessoal, do
CEO Jason Keene.
Cresci, praticamente, sozinha e
batalhei muito para alcançar meus
objetivos. Perdi minha mãe, ainda
criança, e tive bem pouco do meu pai,
que acreditou que seria melhor que eu
vivesse num Convento, a me educar
pessoalmente. Não o culpava por tal
pensamento, pois podia imaginar as
dificuldades de se criar uma criança
quando recém tinha deixado de ser um
adolescente cheio de hormônios.
Ali, caminhando pelo salão
suntuoso da empresa — que foi tão
almejada por mim — era impossível não
reviver meus passos lá atrás. O sabor da
vitória estava na minha língua e, ele era
extremamente doce.
— Bom dia. — Por onde
passava, eu ia saudando as pessoas,
igualmente vestidas com requinte.
Estávamos no inicio de ano em
Nova York, contudo a temperatura
variava muito. A maioria estava usando
roupas de frio, pois estava nevando.
Assim que deixei o elevador,
segui direto para minha mesa. O sorriso
não abandonava meus lábios, pintados
de um tom rosa claro. Nunca fui adepta a
maquiagens fortes, pois gostava da
minha aparência natural; apreciava a
mulher que me encarava de volta no
espelho — todos os dias.
— Seja bem-vinda, Giovanna.
— Me virei a tempo de reconhecer a
bela mulher do dia da entrevista. Ela
tinha tentado a minha vaga. — E meus
parabéns pela conquista da vaga.
Sorri.
— Oh, obrigada, Justine. —
Aceitei seu cumprimento gentil. —
Então ambas conquistamos uma vaga de
emprego? — comentei, feliz por ela.
— Sim! — exclamou, eufórica.
— Me tornei a Secretária do Diretor de
Finanças — explicou.
— Ah, que maravilha!
Ela apenas sorriu e, em seguida,
se afastou, alegando que já estava
atrasada.
— Vamos almoçar juntas? —
perguntou, antes de se afastar totalmente.
— Vou adorar — respondi,
animada por já ter feito uma amiga no
meu primeiro dia de trabalho.
Longos minutos mais tarde, eu
me preparei para iniciar meu expediente
assim que meu chefe passou pela minha
mesa, saudando-me. Jason era um
homem muito bonito e muito bem
humorado.
— Pode entrar, senhorita
Giovanna. — Ouvi quando bati na porta
da sua sala.
Aproximei-me da sua mesa,
carregando meus materiais. Era
impossível ignorar o quanto aquele
homem era atraente e sedutor.
Entretanto, eu precisava me concentrar
no que era prioridade. Minha carreira
acima de tudo.
— A senhorita possui olhos
lindos — comentou, de repente. Meu
coração acelerou um pouco. — Sei que
esse comentário foge totalmente do
profissionalismo entre nós dois, mas eu
precisava dizer.
Ficamos nos encarando por um
tempo, que mais pareceu uma
eternidade. Não era ingênua ao ponto de
não perceber a malícia por trás daquele
olhar sexy, mas ele era meu chefe...
Eu era apenas uma garota
simples que lutou muito para chegar até
ali.
— Obrigada, senhor.
— Jason — disse, sério. — Me
chame apenas de Jason.

∞∞∞

Presente
Duas semanas havia se passado
desde que eu me vi fora daquela prisão,
entretanto não tinha conseguido
conquistar minha real liberdade. Muito
de mim havia se perdido lá atrás; meus
sonhos e planos; minha carreira.
Contudo nada disso importava. Não
mais.
Meu bem mais precioso possuía
um significado muito maior e não
poderia ser comprado.
De tudo o que pensei que
pudesse acontecer depois que saísse da
Penitenciária, minha nova realidade nem
passou perto da minha imaginação. Em
uma das cartas que meu pai chegou a me
enviar houve a menção ao nome do
Lorenzo, embora sem muitos detalhes.
Acho que nem mesmo meu pai o
conheceu direito.
A convivência com meu estranho
protetor não estava sendo de todo o
ruim. Demorei um pouco para entender
seu jeito. Lorenzo me parecia ser uma
pessoa muito reflexiva, ou seja, tinha o
hábito de refletir profundamente sobre
os assuntos. Era bastante observador, o
que, às vezes, era algo um pouco
incômodo, pois eu nunca conseguia
decifrar suas expressões.
Nos primeiros dias, tudo parecia
muito confuso e, radical, considerando
que nós mal nos conhecíamos, mas aos
poucos, eu sentia que uma barreira
estava sendo quebrada e uma linda
amizade estava se formando entre nós
dois. Nunca conheci um homem tão
incrível. Lorenzo, apesar de ser um
pouco reservado, estava conseguindo —
em tão pouco tempo — me fazer sentir
eu mesma de novo, sem aquele aviso
gigantesco na testa: EX-PRESIDIÁRIA.
Sua capacidade de me escutar, de
alguma forma, gerava certa intimidade
entre nós.
— Giovanna?
Dispersei meus pensamentos e
saí do quarto. Tinha acabado de tomar
banho, então meus cabelos ainda
estavam úmidos.
— Chegou cedo hoje —
comentei, chegando ao hall no mesmo
momento em que ele estava fechando a
porta.
Lorenzo me encarou e, eu tentei
não demonstrar o quanto seu olhar me
desconcertava. Era tão intenso quanto
ele todo.
— Eu já tinha adiantado algumas
coisas, então... — deu de ombros, vindo
até onde eu estava. Fechei os olhos
assim que senti o toque dos seus lábios
em minha testa. Ele era tão fofo. —
Trouxe comida japonesa. — Mostrou as
sacolas.
Não que eu tivesse direito, mas
poderia questioná-lo sobre comer em
casa, quando poderíamos sair para
lanchar fora; entretanto o pouco que o
conhecia sabia que ele preferia às
atividades caseiras a interações sociais.
— Como descobriu que é minha
comida preferida? — perguntei,
esfregando uma mão na outra em
expectativa.
Ele me encarou com um
sorrisinho charmoso.
— Você já deve ter percebido
que sou um bom observador — brincou,
fazendo-me sorrir.
— Como foi o seu dia? —
perguntou.
Lorenzo trabalhava,
basicamente, como um anjo da guarda
de empresários, salvando empresas a
beira da falência.
— Certamente não mais
divertido que o seu, aposto. — Pisquei
um olho, zombeteira.
Ele riu.
— Analisar gráficos e apontar
erros e decisões erradas nem sempre é
divertido, pedaço do céu.
Eu estava bem atrás dele —
perto da mesa da cozinha — quando se
virou, dando de cara comigo. Ambos
arquejamos com o contato abrupto.
— Você ainda não me disse o
motivo de me chamar de pedaço do céu
— soprei, espalmando seu peito com
minhas mãos trêmulas.
Sua respiração travou, assim
como a minha. Nossas bocas estavam
tão próximas...
Fechei os olhos ao sentir o toque
das suas mãos em minha nuca; seus
dedos embrenhando-se em meus cabelos
molhados.
— Porque olhar dentro dos seus
olhos é como estar olhando para o céu
— murmurou, rouco. — É fácil se
perder, Giovanna... — seu olhar seguia
o movimento dos seus dedos em meus
lábios — Muito fácil.
Estava prestes a abrir a boca
para implorar que ele se perdesse em
mim, mas seu corpo se afastou do meu,
causando-me frio momentâneo.
Depois disso, ele coçou a nuca,
olhando para tudo quanto era lugar,
menos para mim.
— Bem, eu vou tomar um banho
— falou. — Não precisa me esperar se
quiser comer, viu? — Piscou um olho
antes de deixar a cozinha.
Meu coração ainda batia
descompassado, deixando-me
apreensiva.
Talvez fosse a carência de um
contato mais íntimo, entretanto eu não
podia me enganar em afirmar que
Lorenzo não estava mexendo comigo,
porque estava.
E mais do que eu gostaria.
Capítulo 4
Lorenzo

A convivência com Giovanna


estava sendo interessante; o que me
deixava curioso, já que nunca fui bom
em dividir espaço com alguém. Era
difícil acompanhar toda a intensidade
dela, porque meu ritmo sempre foi mais
lento do que dos demais.
Ela estava morando comigo há
um mês, e desde nosso quase beijo, as
coisas se tornaram mais complicadas.
Era complicado ignorar as faíscas;
Giovanna me chamava como a um imã.
Obviamente que já tive outras
mulheres, embora com passagens
rápidas na minha vida. Mas Giovanna
parecia ser diferente, ela tinha algo que
despertava meu instinto protetor; eu
desejava guardá-la em meus braços para
garantir que nenhum mal a atingisse.
E essa certeza estava me
deixando inquieto.
Sufocado.
Eu não sabia lidar com tantos
sentimentos e emoções conflitantes ao
mesmo tempo, porque era muita coisa
para absorver.
— O que está pensando? —
Pisquei ao ouvir a voz rouca do alvo
dos meus pensamentos. — Você está
mais silencioso do que o normal.
Estávamos sentados a mesa,
tomando o café da manhã.
Sacudi a cabeça, sem graça.
— Não é nada, apenas
problemas do trabalho — menti.
Ela me encarou, com aqueles
olhos incríveis e intensos. Às vezes, eu
temia que ela fosse capaz de me
decifrar... de descobrir meus segredos;
descobrir o quanto estava fascinado por
ela.
— E então... — dei uma mordida
no meu pão — O que pretende fazer
hoje? — perguntei.
Vi quando ela soltou um suspiro.
— Surgiu uma vaga em uma loja
no centro, então pretendo ir até lá para
conversar com a gerente — respondeu,
sem muita expectativa. — Você sabe que
alguém com minhas referências custa a
conseguir um emprego.
— Mas eu já falei que posso
conseguir uma vaga para você na minha
empresa, Giovanna.
Ela rolou os olhos, entediada.
— Ah, está certo, falou o cara
que está me dando abrigo e comida —
zombou, mas consegui sentir a
impotência no seu tom de voz.
— Desculpa, não imaginei que
isso a fizesse se sentir mal.
Rapidamente, suas mãos vieram
até as minhas.
— Não, Lo, eu quem preciso
pedir desculpas aqui — murmurou,
culpada. — Sou e serei eternamente
grata a você por tudo o que fez e
continua fazendo por mim. — Sorriu
lindamente. — Mas existe algo no meu
passado que não há como ser esquecido
— comentou, com a voz sufocada. — E
eu não posso me acovardar agora. Estou
livre e, finalmente posso lutar.
Apertei suas mãos, nas minhas,
entendendo seu ponto. Giovanna era uma
mulher forte.
Em todos aqueles dias ali
comigo, ela se recusou a me deixar
pagar por suas coisas, além de se
recusar a aceitar minha oferta de
emprego.
— Tudo bem, pedaço do céu. —
Sorri junto com ela. — Entendo você.
Erguendo minhas mãos, ela as
levou aos lábios e beijou os nós dos
meus dedos.
— Obrigada por cuidar de mim.
Meu coração idiota começou a
palpitar freneticamente, deixando-me
zonzo e ainda mais confuso.
O clima se tornou tenso de
repente, me fazendo questionar o
motivo, o que era ridículo, pois o
motivo estava bem ali... me olhando com
aquele intenso par de olhos azuis.
Engoli em seco quando
Giovanna soltou minhas mãos, nervosa
também. Talvez, impaciente pela minha
falta de atitude, ou constrangida por
sentir que algo estava fora de lugar entre
nós dois.
Cocei a garganta.
— Posso deixá-la no endereço
da tal loja se quiser — comentei, apenas
para preencher o silêncio que se
estabeleceu.
— Uhum — resmungou. Parecia
tensa enquanto enfiava um pedaço de
pão na boca. — Vou adorar a carona.

∞∞∞
— Olha só, você tem certeza de
que não quer aceitar minha proposta de
emprego? — insisti, assim que
estacionei o carro perto do local
indicado por Giovanna.
A verdade era que a ideia de vê-
la criando asas me causava desespero,
porque significava que ela logo sairia da
minha vida.
Giovanna sorriu e, em seguida,
se inclinou e depositou um beijo
estalado em minha bochecha.
— Eu tenho certeza! —
exclamou, antes de abrir a porta. — Me
deseje sorte — pediu.
Coloquei a cabeça para o lado
de fora da minha janela.
— Boa sorte! — gritei, fazendo-
a olhar para trás, sorrindo para mim.
Era impossível meu coração não
se derreter a cada sorriso daquele.
Prestes a voltar a ligar o carro,
meu sentido alerta vibrou, trazendo
pequenos calafrios em todo o meu
corpo. Olhei para frente, e vi o exato
momento em que a Giovanna estava
atravessando a avenida, na faixa de
pedestres. Um carro desgovernado
surgiu do nada, fazendo meu coração
parar de bater por alguns instantes
perante a cena. Com um reflexo
impressionante, ela se jogou para o
lado, caindo com tudo no chão.
Desesperado, saí do carro e fui
até ela.
— Você está bem? — perguntei,
ajudando ela a se levantar. Algumas
pessoas se aglomeraram, preocupadas
ou apenas curiosas.
Giovanna gemeu um pouco.
— Eu... acho que sim —
respondeu, ficando de pé, agarrada a
mim. — Foi apenas o susto mesmo.
Olhei ao redor, em busca do
carro, mas o motorista imprudente tinha
sumido de vista.
Desgraçado!
— Você está ferida — comentei,
analisando seu pé e uma das suas
pernas. Fechei os punhos, irritado por
não ter conseguido protegê-la.
— Não foi nada, Lo. Eu estou
bem — disse.
— Vou levá-la ao hospital —
avisei, sem deixá-la retrucar.
Peguei-a em meus braços,
sentindo suas mãos enrolando-se em
meu pescoço. Seu perfume inundou meus
sentidos, deixando-me tonto
momentaneamente.
— Você está exagerando —
disse, agitada. — Foi um acidente bobo,
Lorenzo, será que não vê?
Cheguei até o carro e abri a
porta.
— O que vejo é que você quase
foi atropelada e acabou se ferindo no
processo — falei, sério. — A queda
pode ter ocasionado em alguma
contusão.
Coloquei-a sentada no banco do
carona e, em seguida, dei a volta no
veículo. Quando entrei, ela estava me
encarando.
— Você sabe que isso é loucura,
né? — questionou. Parecia divertida. —
Além do mais, isso vai prejudicar sua
agenda de afazeres na empresa. — Não
falei nada, apenas liguei o carro. —
Lorenzo, é sério, eu estou bem!
— Isso o médico irá dizer.
Ouvi seu resmungo, mas ignorei.

∞∞∞
— Viu? Eu disse que não era
nada. — Giovanna resmungou assim que
deixamos o pronto socorro. — Perdeu
metade da sua manhã à toa.
— Não diria isso — falei,
prestando atenção no trânsito. — Ao
menos agora tenho certeza de que você
está bem.
Ela ficou em silêncio e, eu me
obriguei a olhá-la de soslaio.
— O que foi? — perguntei.
Sacudiu a cabeça.
— Nada — disse.
— Te conheço tempo suficiente
para saber quando algo está deixando
sua mente inquieta, pedaço do céu.
Ela deu uma risadinha.
— Eu só não estava mais
acostumada a ter alguém se preocupando
comigo — murmurou, um pouco
encabulada.
— E isso é ruim? — encarei-a
rapidamente.
Vi que deu de ombros.
— Não é ruim — respondeu. —
Eu só não sei se mereço todo esse
apreço.
Analisei suas palavras, me
perguntando se ela estava se referindo
ao seu passado, contudo decidi não falar
nada. Preferi guardar aquilo para outra
hora.
Minutos depois, estacionei o
carro em frente ao prédio que abrigava
meu escritório.
— Por que paramos aqui?
— Eu só preciso pegar uma
pasta com documentos para poder
analisar mais tarde. Já volto.
Em seguida, abri a porta do
carro e saí.
No retorno, entreguei a pasta a
Giovanna, pedindo que ela guardasse
dentro do porta-luvas.
— São os gráficos da empresa?
— quis saber, ameaçando vasculhar os
papéis.
Impedi.
— Por favor, não olhe — pedi,
retirando a pasta da sua mão e
guardando dentro do porta-luvas.
Não olhei para ela, mas percebi
que minha atitude rude a desagradou.
— Claro — resmungou. — São
documentos importantes para estarem
nas mãos de uma ladra.
— Giovanna...
— Não! — cortou-me, com a
voz embargada. — Não precisa inventar
argumentos, Lorenzo. Eu entendo.
Respirei fundo, frustrado por não
saber me expressar como deveria.
Com o maxilar travado, eu liguei
o carro e nos tirei dali.
O trajeto foi feito em um silêncio
absoluto, o que me deixou bem
incomodado, considerando que já
havíamos ultrapassado aquela linha.
Não gostava de toda aquela tensão entre
nós dois, ainda mais tendo certeza de
que Giovanna estava magoada comigo.
Assim que chegamos em casa,
Giovanna seguiu direto para o quarto.
Fui atrás dela.
Arregalei os olhos quando a vi
abrindo o guarda-roupa e remexendo em
suas roupas.
— O que está fazendo?
— Algo que já deveria ter feito
há muito tempo — respondeu, fungando
o nariz. — Saindo da sua vida.
— Giovanna...
Voltou a me cortar:
— Lorenzo, você não precisa de
mim. Não precisa do fardo que eu
represento.
— Para com isso, por favor.
— Não. Minha ficha criminal
sempre irá me perseguir.
Irritado com todo aquele
descontrole emocional, eu a segurei
pelos ombros, forçando seus olhos nos
meus.
— Já chega! — exclamei,
levando minhas mãos ao seu rosto. —
Eu sei que você foi condenada por
fraudes na antiga empresa no qual era
Assistente pessoal do CEO, mas isso
não me diz absolutamente nada,
Giovanna — falei.
— Mas...
Foi minha vez de interrompê-la:
— Você é culpada?
O lindo rosto se contorceu com
novas lágrimas, enquanto sua cabeça
balançava de um lado para o outro.
— Não — respondeu,
preenchendo meu coração de puro
alívio. Havia tanta sinceridade em seu
tom de voz e em sua expressão que foi
impossível não acreditar nela. — Eu
nunca roubei nada. Eu juro.
— Acredito em você, pedaço do
céu.
Puxei seu corpo para se sentar na
cama e, em seguida, entreguei a pasta —
de outrora — em suas mãos.
— Abra — pedi.
Mesmo desconfiada, Giovanna
abriu.
— Mas isso é...?
— Sobre a JK Comunication —
respondi seu questionamento mudo. — A
empresa de Jason Keene abriu falência.
— Meu Deus! — exclamou, se
levantando num sobressalto. — Então
isso significa que...
Franzi o cenho quando ela se
calou de repente.
— Significa que... — a instiguei
a continuar o pensamento.
Os lindos olhos azuis se
ergueram, mantendo-se fixos nos meus,
atentos.
— Lorenzo, eu tenho um filho
com o Jason — confessou, deixando-me
em choque. Nenhuma das informações
que pesquisei sobre ela mencionava um
filho. — Meu menino ainda era um bebê
quando fui presa, mas nunca deixei de
pensar nele um só segundo.
Engoli em seco.
— E a criança está sob a guarda
do Jason, suponho.
Ela assentiu, chorosa.
— Meu desespero em estabilizar
a minha vida é justamente para
conseguir ter meu filho de volta —
explicou. — E agora com essa nova
novidade, penso que terei mais chances.
— De repente, ela veio até mim,
jogando-se aos meus pés. — Lorenzo,
você não pode salvar a empresa dele.
Por favor, não faça isso — implorou.
Pisquei rápido, sentindo meu
coração acelerando gradativamente.
— Certo. — Respirei fundo,
antes de erguê-la e colocá-la novamente
sentada sobre a cama. — Fique calma
— pedi. — Eu estou e estarei do seu
lado para ajudá-la no que for preciso,
Giovanna, porém quero que você me
conte tudo. Está disposta?
Nervosa, ela apenas assentiu.
— Bom... — acariciei seu rosto,
enxugando o rastro de lágrimas. — Vou
pedir o nosso almoço — avisei. —
Depois, nós poderemos conversar.
Capítulo 5
Giovanna

Passado

Olhar para trás e analisar toda


a minha trajetória de vida, às vezes, me
causava torpor e, às vezes, decepção.
Acordar todos os dias ao lado do
homem, que era meu chefe, não era
motivo de orgulho, tampouco amenizava
meu desconforto emocional.
Desde o meu primeiro dia na
empresa, Jason demonstrou interesse em
me transformar em algo além de sua
funcionária. Obviamente que sua beleza
sempre chamou minha atenção, pois
qualquer mulher caía aos seus pés.
Contudo, aquilo não fazia parte dos
meus planos. Não. Eu queria crescer
profissionalmente. Tinha metas a
alcançar.
Minha obstinação durou exatos:
um ano e quatro meses. Não tive mais
forças para resistir a toda aquela névoa
de sedução que Jason me submetia cada
vez que estávamos juntos e sozinhos.
Passamos de chefe e funcionária, para
amantes intensos e apaixonados.
Jason me levava a todos os
lugares; praticamente, rodamos o mundo.
Às vezes, a trabalho; às vezes, a lazer.
Cada um dos momentos com ele era
incrível. Passei a conhecer o homem por
trás daquela fachada de CEO e,
verdadeiramente me apaixonei.
E tal sentimento se tornou um
problema, pois na verdade, Jason nunca
me prometeu amor. Aliás, ele nunca me
prometeu nada.
Nosso relacionamento nunca foi
exposto, porque ele não gostava de estar
em manchetes da mídia. Meu único
conforto era a Justine, uma amiga, que
acabou se transformando no meu melhor
ombro amigo dentro da empresa.
Inclusive, ela foi a primeira, a saber, da
minha gravidez, pois eu estava nervosa
quanto a reação do Jason.
Era uma noticia tensa, já que
nossa relação não tinha uma base sólida.
Porém, Jason me surpreendeu quando
abraçou a surpresa, tão bem quanto eu.
Depois disso, ele me convidou para
morar com ele, alegando que eu
precisaria de todos os cuidados por
causa do bebê.
Na ocasião, eu achei o gesto
fofo, contudo, nada mudou. Eu
continuava me sentindo vazia — no
relacionamento. Justine chegou a
comentar que o pessoal da empresa
estava falando mal de mim pelas costas,
me chamando de a vadia do chefe. Isso
fazia meu coração doer, porque eu sabia
dos meus sentimentos. Sabia do meu
valor.
E para piorar, Jason não tornava
as coisas fáceis. Ele me olhava, mas
sequer parecia me enxergar. Eu o amava,
mas não sabia se era correspondida.
Com a descoberta da gravidez, a relação
deu uma melhorada, porém demorei a
perceber que a mudança se deu pelo
bebê. O alvo era a criança.
— Ei? — Pisquei, sendo pega
desprevenida quando Jason se remexeu
na cama e me abraçou. — Por que está
acordada? Está sentindo alguma dor? —
preocupou-se.
Neguei com a cabeça,
aninhando-me em seus braços.
Respirei fundo.
— Não é nada, Jason — menti.
— Estou bem.
∞∞∞

Presente
— Eu vou lavar a louça —
avisei, levantando-me da cadeira e me
preparando para fazer o que me dispus,
porém fui impedida por Lorenzo.
— Vamos conversar agora,
Giovanna — disse. — Deixe a louça
para depois.
A seriedade do seu tom de voz
me deixou ainda mais nervosa.
— Está bem. — Esfreguei as
duas mãos, sentindo-as frias.
Segui-o até estarmos num dos
sofás. Lorenzo fez questão de me dar
espaço, o que me deixou ainda mais
inquieta. Eu queria sentir-me segura.
Queria sentir que não estava sozinha.
Respirei fundo.
— Eu tinha vinte anos quando fui
contratada pela JK. Naquela época, eu
me vi em êxtase, pois aquela era uma
oportunidade de ouro para uma garota
que cresceu, praticamente, dentro de um
Convento.
— Você cresceu num Convento?
— Sim. — Baixei os olhos. —
Mas isso não me impediu de seguir meus
sonhos, sabe? Estudei. Batalhei por cada
um dos meus objetivos. — Suspirei. —
Meu envolvimento com o Jason não foi
do dia para noite; eu relutei muito,
Lorenzo, porque minha prioridade
sempre foi minha carreira. — Olhei para
ele. — No fim das contas, acabei me
deixando seduzir e logo estava nos
braços do homem que pensei que me
amaria, o que era ridículo, porque Jason
Keene jamais me prometeu amor. —
Revirei os olhos, esforçando-me para
não me abater com as lembranças. —
Quando eu engravidei, ele me
surpreendeu, porque não me abandonou.
Jason mais do que ninguém queria ser
pai. Ele quis o filho.
— O que aconteceu depois? —
perguntou quando eu me calei.
— Eu me mudei para a cobertura
dele e nossa relação foi ganhando força
— expliquei. — Nunca fui apresentada,
formalmente, como mulher dele, mas
entendia que Jason precisava de tempo.
— Você estava apaixonada. —
Não foi uma pergunta.
Assenti, sentindo-me burra.
— Quando nosso filho nasceu,
eu fiquei em casa por quatro meses —
continuei narrando. — Nesse meio
tempo, outra funcionária ocupou a minha
vaga.
— Funcionária nova?
Neguei.
— Antiga. Justine — respondi.
— Era uma amiga.
— Entendi.
— Uma semana antes da
acusação, eu comecei a sentir o
distanciamento do Jason. Ele passou a
chegar tarde em casa, além de se tornar
um pouco agressivo comigo. — Olhei
para minhas mãos. — Eu não conseguia
entender o motivo para toda aquela
mudança, pois não havia feito nada que
pudesse deixá-lo irritado. Pensei que
talvez fosse pelo fato de ter modificado
meus horários para poder estar em casa
mais cedo e cuidar do nosso filho, mas
não. Era algo pior.
Calei-me, inspirando fundo.
— Houve um grande escândalo
de manipulação contábil que chegou a
inflar o lucro da empresa. Contudo,
através de uma auditoria, o relatório
deixou nítidas as sistemáticas
manipulações contábeis ocorridas
dentro da empresa. Uso de notas frias e
documentos com valores falsos para
registros verdadeiros; Erros propositais
em cálculos para aumentar ou diminuir o
faturamento da empresa, dentre outros.
— Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Inacreditavelmente, o meu nome foi o
único a aparecer na participação das
irregularidades. Jason nunca me assumiu
publicamente, mas naquele dia, ele fez
questão de me humilhar na frente de todo
mundo. — Perdi a luta contra as
lágrimas. — Quando eu cheguei para
trabalhar, ele já estava me esperando
com a polícia. Saí de lá, algemada, sem
direito a defesa, porque as provas
pareciam ser incontestáveis, então minha
palavra não valia de nada.
— Você não conseguiu um
advogado? Seu pai não tentou ajudá-la?
— Senti impotência em seu tom de voz.
— Meu pai ajudou, mas naquela
época ninguém conseguiria parar a ira
de Jason Keene — falei. — Ele tinha
certeza que eu o havia traído. Jogar-me
dentro de uma cela de prisão e me
manter longe do nosso filho foi a
maneira mais cruel que ele encontrou
para me punir.
Parei de falar.
O silêncio que tomou conta da
sala me deixou sufocada, enquanto
apenas meus soluços podiam ser
ouvidos.
— Por favor, fala alguma coisa,
Lorenzo — pedi.
Mas ele não disse nada.
Sentindo o tremor em todo o meu
corpo e o suor em minhas mãos, eu me
levantei.
— Entendi — soprei, sentindo-
me fracassada. — Você não consegue
acreditar em mim.
Virei-me para sair do cômodo,
mas tive meu movimento freado por
mãos fortes.
— É claro que eu acredito,
droga! — exclamou, segurando meu
rosto com as duas mãos. Seu olhar era
sofrido perante meu estado emocional.
— Mas tudo o que acabou de me contar,
ainda está martelando aqui. — Apontou
para a própria cabeça. — Estou me
fazendo diversas perguntas; tentando
decifrar todo esse enigma.
— Não há enigma algum, Lo —
falei. — Alguém quis me incriminar e
conseguiu. — Dei de ombros. — Eu
fiquei sozinha.
— Mas agora as coisas são
diferentes. — Ele garantiu, fazendo meu
coração acelerar ainda mais. — Você
tem a mim.
Admirei seus lábios enquanto
seus dedos limpavam minhas lágrimas.
Era quase possível ouvir o barulho dos
nossos corações acelerados. Batendo
forte um pelo outro.
— Eu tenho?
O lindo rosto se aproximou um
pouco mais.
— Sim, você tem — confirmou.
Deslizei minhas mãos do seu
peito ao seu rosto, adorando sentir o
pinicar de sua barba rala entre meus
dedos finos.
Não foi preciso mais palavras,
pois o desejo estava vibrando em cada
um dos nossos poros. Tomei a iniciativa
e uni nossos lábios sedentos.
Foram longos dias de vontade
reprimida.
Lorenzo abriu a boca, aceitando
a passagem da minha língua. O contato
fez com que ambos gemêssemos,
sentindo a exigência dos nossos corpos
febris.
A boca se afastou da minha, para
trilhar a pele do meu queixo ao pescoço
com beijos molhados.
— Lo... — gemi, desejosa,
puxando seus cabelos, enquanto
tremores inundavam meu corpo todo
conforme as mãos ágeis percorriam pela
minha pele em conjunto com a língua
quente e macia.
— O que foi? — A voz estava
carregada de desejo também, assim
como seu olhar no meu.
— Você tem certeza disso que
estamos fazendo?
Um sorriso de derreter calcinhas
tomou conta dos seus lábios, inchados,
pelo nosso recente beijo.
Seus braços circularam minha
cintura, me impulsionando para cima.
Abracei seu quadril com minhas pernas,
gemendo quando suas mãos apertaram
minhas nádegas.
— A única certeza que paira na
minha cabeça desde que coloquei meus
olhos em você, Giovanna, é que a quero
como a nenhuma outra.
Dizendo isso, ele simplesmente
voltou a me beijar como se não
houvesse amanhã.
Ou melhor, como se eu fosse um
tesouro a ser explorado.
Capítulo 6
Lorenzo

Ouvir a história de Giovanna


pelas palavras dela me causou um
frenesi de emoções, porque foi
impossível não sentir a veracidade dos
fatos. Obviamente que eu já tinha
investigado a fundo, então tinha
conhecimento de todo o acontecido e,
certamente, houve uma fraude na
empresa.
A Jk Comunication era uma
empresa de marketing, voltada para o
comércio exterior; estava no auge da
expansão quando houve o escândalo
envolvendo a Giovanna. O processo da
prisão dela foi rápido, considerando a
gravidade da acusação. Na época, mal
se ouviu falar desse acontecido, o que
me fazia acreditar que Jason pagou para
retirarem as manchetes a respeito da
empresa dele.
Quando um dos meus
representantes me trouxe a proposta —
dias atrás — para investir na JK, eu me
vi de mãos atadas. Era difícil não julgar
uma pessoa quando todas as provas
indicavam a direção ruim.
O que eu conhecia da mulher que
fui buscar na porta de uma prisão?
Nada.
Entretanto, com a convivência
durante aqueles dias, em contrapartida
com a sua confissão sofrida, eu não tive
dúvidas. Giovanna tinha sido uma vitima
de armação. Alguém a queria longe.
Jason Keene, talvez?
Não tinha como saber sem
investigar. Porém, com a falta de
estabilidade financeira, Giovanna teria
mais chances para reaver o filho e com
isso recomeçar sua vida.
Ali, enquanto caminhava com ela
até o quarto, minha única certeza era de
que lutaria até minhas últimas forças
para fazê-la feliz; para fazê-la voltar a
confiar em si mesma.
— Lo...
Abri a porta do quarto.
— Shiii... — soprei com a boca
colada na sua. Minhas mãos apertaram
suas nádegas com mais força. — Vou
amá-la como você merece, meu pedaço
do céu.
Delicadamente, eu a coloquei
sobre o colchão, mas sem afastar minha
boca do seu corpo, tão ardente quanto o
meu. Ela ameaçou levar as mãos em
minha camisa, mas impedi o movimento.
— Eu quero tocar em você... —
reclamou, chateada.
O movimento da sua respiração
chamou minha atenção para o seu peito,
que subia e descia freneticamente.
— E você vai — avisei. — Mas
depois que eu fazê-la gozar até cansar.
Arrepios inundaram minha pele
com os gemidos que escaparam por seus
lábios.
Rapidamente, eu a sentei,
erguendo seu vestido de modo a tirá-lo
pela cabeça. Os seios ficaram livres e
os mamilos despontaram em minha
direção. Voltei a deitá-la na cama,
ansioso para decifrar cada polegada
daquela pele alva.
Ficando sob meus joelhos, eu
levei a mão pela lateral do corpo
entregue, adorando as reações fáceis.
Por onde minha mão passava, Giovanna
se arrepiava e se contorcia toda.
Deliciado, eu inclinei a cabeça de modo
a castigar os doces lábios com os meus.
Giovanna remexeu-se quando desci
minha boca pelo queixo, seguindo pelo
pescoço e indo mais para baixo. O
rosado dos mamilos fez minha boca
salivar, com o desejo de prová-los; eles
estavam duros quando os senti em minha
língua.
— Oh, céus... — gemeu ela,
acariciando meus cabelos.
Uma das minhas mãos desceu
pela barriga, seguindo até o meio das
pernas, que se abriram num convite
mudo. Ao acariciar o pequeno
amontoado de nervos, percebi a
umidade por cima do tecido frágil da
calcinha minúscula. A certeza da
excitação feminina me deixou ainda
mais insano. Meus beijos se tornaram
mais urgentes, enquanto lambia, chupava
e dava mordidinhas nos seios fartos.
Não demorou muito até que meus dedos
— atrevidos — empurrassem a calcinha
para o lado, a fim de sentir a textura e o
calor da bocetinha com mais precisão.
Com a intensidade dos meus
movimentos e carícias, os gemidos de
Giovanna logo se tornaram gritos
desesperados. Lambuzei meus dedos,
trazendo-os a minha boca, apenas para
levá-los para baixo de novo, mas dessa
vez afundando-os no calor latente. Gemi
ao sentir seus músculos pélvicos
apertando meus dedos. Era delicioso ver
o quão sensível ela era aos meus toques.
Suas mãos seguraram meu rosto,
exigindo minha boca na sua.
— Eu vou gozar — soprou,
arqueando o corpo na direção dos
golpes dos meus dedos. Nossas línguas
duelavam entre si, deixando tudo mais
quente e luxurioso.
No momento em que senti seu
corpo sendo tomado por espasmos, eu
afastei a cabeça para poder olhar,
fascinado, para aquela cena
deslumbrante.
Bochechas vermelhas; olhos
semicerrados e lábios entreabertos.
Giovanna parecia uma deusa da luxúria.
— Você fica linda gozando —
comentei, soltando beijos por todo o seu
rosto úmido pelo suor.
Um sorriso preguiçoso pairou
nos lábios dela, conforme eu ia
descendo com minha boca pelo seu
corpo quente.
Enganchei o tecido da sua
calcinha com ambas as mãos e, em
seguida, arrastei para baixo, jogando a
peça em qualquer canto no quarto.
O brilho da sua excitação me
deixou em êxtase quando, sem nenhuma
cerimônia, abri suas pernas para vê-la
melhor.
— Veja o quanto você está
molhadinha para mim... — ouvi um
rosnado, porém demorei a perceber que
o som tinha saído da minha própria
garganta.
Passei meus braços por cima das
suas coxas, para impedi-la de escapar
do meu agarre e, depois abaixei a
cabeça, direto para aquele banquete dos
deuses. Eu precisava senti-la em minha
língua.
— Oh, Lorenzo... — Giovanna
apertou minha cabeça contra sua
intimidade, fazendo com que eu soltasse
uma risadinha.
Soltei a língua para fora e dei um
beijo de boca aberta — de baixo para
cima — sentindo aquele amontoado de
nervos entre meus lábios. Giovanna se
contorcia conforme minhas carícias iam
ficando mais ousadas e urgentes.
Eu a queria delirando.
Sem forças.
Em um momento, levei ambas as
mãos aos seios de bicos pontiagudos,
enquanto continuava investindo minha
língua em seu clitóris inchado.
Meus olhos não abandonavam o
rosto rubro.
Giovanna era ainda mais linda
quando estava perdida em pura luxúria.
— Olhe para mim, pedaço do
céu — pedi. — Deixe-me vê-la se
desmanchando.
Ela fez o que eu pedi,
enlouquecendo-me com aquele olhar
abrasador. Os dentes castigavam os
lábios carnudos e tentadores, deixando-
me consciente de que ambos estávamos
na mesma sintonia.
O orgasmo a tomou, causando
tremores em todo o seu corpo; segurei
suas coxas, mantendo-a no lugar até que
se acalmasse. Em seguida, saí da cama.
Diante dos olhos atentos e, sob a
névoa do tesão, eu retirei minha camisa.
Em seguida, os sapatos, a calça e a
cueca. Giovanna se ergueu, ficando sob
seus cotovelos. O rubor em suas
bochechas deixava-a ainda mais linda e
provocante.
— Está pronta? — soprei a
pergunta contra seus lábios, depois que
me coloquei sobre seu corpo. Eu já tinha
colocado a camisinha.
— Estou mais do que pronta —
gemeu, lambendo meus lábios antes de
mordê-los sedutoramente.
Avancei em sua boca com a
minha, que estava faminta. Abri suas
pernas com meus joelhos, posicionando-
me em sua entrada molhada. Lentamente,
comecei a invadi-la, centímetro a
centímetro. Alargando-a. Preenchendo-
a.
— Oh, porra de boceta gostosa!
— exclamei, movimentando-me. A
princípio devagar, depois com mais
velocidade.
Segurei as coxas roliças e
impulsionei-as contra a barriga plana, o
que tornou a penetração mais dura e
profunda.
— Lorenzo! — Giovanna
exclamou em êxtase. Um rosnado
escapou da minha garganta quando notei
que ela apertava os próprios mamilos,
tão perdida nas sensações quanto eu.
— Sim, meu pedaço do céu... —
voltei a me inclinar, para poder beijá-la.
— Sou eu aqui com você... eu!
Mordi seus lábios, antes de
sugá-los e prendê-los em meus dentes
por alguns segundos. Meu desejo era de
marcá-la de todas as formas.
Marcá-la como minha.
Minha em todos os sentidos.
Meu maior desafio sempre foi
aprender a dosar minha intensidade, já
que meus sentimentos trabalhavam de
forma diferente. Eu amava com força.
E com Giovanna — desde a
primeira vez que a vi — meu instinto
protetor berrou em cada um dos meus
poros.
Minhas investidas continuaram
incessantes, aumentando e diminuindo
conforme as ondas de prazer que nos
envolviam. Nossos gemidos
misturavam-se, assim como o suor em
nossos corpos febris.
— Me beija — pediu.
Não precisou pedir duas vezes.
Colei nossas bocas, sedentas
pela paixão, e acelerei os movimentos.
Giovanna arqueou as costas, buscando
mais de mim. O barulho dos nossos
corpos se chocando me fazia quase
delirar.
— Eu... vou gozar, Lo... —
avisou, arranhando minhas costas e
intensificando os movimentos junto
comigo. — Por favor, não pare agora.
Soltei uma risadinha contra sua
boca.
— Parar agora me mataria —
confessei num suspiro ofegante.
Depois de mais algumas
investidas, senti o corpo frágil abaixo
do meu, estremecer com a chegada de
um orgasmo arrebatador. Giovanna
gritou, buscando minha boca
desesperadamente.
— Gostosa. — Dei uma lambida
em seus lábios. — Deliciosa. — Mordi
seu queixo.
Praticamente urrei quando as
primeiras ondas de prazer me
dominaram, empurrando-me do cume.
Segurei-me para não fechar os olhos,
pois queria continuar perdido naquele
olhar acolhedor.
Aos poucos, eu fui diminuindo
os movimentos, até parar de vez. Joguei-
me para o lado, trazendo Giovanna
comigo. Ajeitei sua cabeça em meu
peito.
O silêncio foi nosso refúgio por
alguns minutos.
— Está arrependido? — Veio a
pergunta de repente.
Franzi a testa, afastando a
cabeça para o lado a fim de encarar seu
rosto.
— Arrependido? Por que
estaria? — questionei.
Ela deu de ombros.
— Eu não sei.
— Você está? — quis saber.
— Nem um pouquinho —
respondeu, envergonhada.
Um sorriso aliviado se
estabeleceu em meus lábios. Segurei sua
nuca com uma das mãos, trazendo seu
rosto para mais perto.
— Essa foi a melhor foda da
minha vida — brinquei, sendo beliscado
por ela.
Dei risada.
— Cretino! — exclamou,
estapeando meu braço.
Circulei sua cintura, enquanto
rolava meu corpo sobre o dela, que não
parava de reclamar.
— Estou brincando — falei,
escondendo meu rosto na dobra do seu
pescoço, mordendo a pele perfumada,
apesar do suor. — Estar assim com você
me deixa em puro êxtase.
Ela gemeu com minhas
mordidinhas. Afastei o rosto para
encarar a imensidão azul, que eram seus
olhos.
— Sou um homem todo
complicado de se conviver, você sabe,
mas sei dos meus sentimentos e emoções
— murmurei, acariciando seu rosto. —
A questão aqui é: Está disposta a se
aventurar nisso aqui... — apontei de
mim para ela.
Vi que ela engoliu em seco, mas
continuou em silêncio.
— Tenho consciência de que
estamos nos conhecendo ainda, além do
importante fato do seu desejo em reaver
a guarda do seu filho, mas não há como
negar que existe algo forte acontecendo
entre nós dois, Giovanna.
— Sim, eu também sinto isso. —
Ela tocou no meu peito, sobre o coração
acelerado.
Inclinei-me, repousando meus
lábios nos seus.
— Vamos seguir e ver onde isso
nos levará — falei, deixando vários
beijos em seu rosto todo.
Enrolando os braços ao redor do
meu pescoço, ela sorriu.
— Tudo bem — disse. Em
seguida, enlaçou meu quadril com ambas
as pernas. — No momento, eu desejo
apenas descobrir o que você fará para
aliviar meu tesão...
Embora as palavras houvessem
saído com uma conotação provocativa
— sexualmente — suas bochechas se
tornaram vermelhas, o que me fez rir um
pouco.
Levei a boca ao pé do seu
ouvido:
— Farei tudo o que você quiser,
meu bem — sussurrei. — Minha língua,
meus dedos e meu pau são inteiramente
seus.
Senti seus tremores no momento
em que deslizei a língua pelo lóbulo da
sua orelha.
Não tinha certeza sobre qual de
nós dois estava mais expectante. Eu ou
ela.
Capítulo 7
Giovanna

O dia amanheceu mais bonito.


Embora o Lorenzo não estivesse
ao meu lado — na cama — quando eu
acordei, o seu cheiro ainda estava
impregnado em cada um dos meus
poros.
No fundo, eu sabia que nosso
envolvimento era uma loucura,
considerando a confusão que estava
minha vida. No momento, eu não tinha
nenhuma estabilidade; meu passado era
o meu tormento e tudo o que continuava
me movendo era a certeza de reaver meu
filho.
Mas como ignorar o que
estávamos sentindo um pelo outro?
Antes do Jason, meu histórico de
relacionamento era quase escasso, já
que meu foco sempre foi estudar e
correr atrás dos meus sonhos e, tendo
em vista que minha relação com o Jason
terminou muito mal, eu não sabia o que
esperar com o Lorenzo.
Respirando fundo, eu me
levantei. Espreguicei-me a caminho do
banheiro, onde lavei meu rosto e
escovei meus dentes. Meu reflexo no
espelho deixava claro, a satisfação de
longas horas atrás. O sexo com Lorenzo
foi sensacional e, por mais que meu
subconsciente me alertasse para me
afastar, ou afirmasse que aquilo era
errado, eu era incapaz de ouvir.
Assim que me preparei, eu saí
do quarto, seguindo para a cozinha. O
aroma de café deixou minha boca
salivando.
Lorenzo estava sentado à mesa,
lendo seu jornal. Ele era um homem tão
bonito, que chegava a me causar
suspiros bobos.
— Bom dia. — Fui até ele,
movida pelo impulso, e depositei um
beijo em seus lábios.
— Bom dia — saudou-me de
volta, descendo o olhar pelo meu corpo
descaradamente. Foi impossível não
sentir um calor tomando conta de mim.
— Dormiu bem?
Puxei uma das cadeiras para me
sentar.
— Se está mencionando a
respeito das poucas horas que passamos
sem transar, sim, eu consegui dormir
bem — respondi, tão safada quanto o
olhar que ele estava me direcionando.
Sua risada arrogante foi o auge
para a minha excitação.
— Confesso que nossa noite foi
extremamente deliciosa — sussurrou
ele, de modo sedutor. Arrepios
trespassaram por minha pele. — Agora
tome seu café, porque temos que sair.
Arqueei as sobrancelhas pelo
seu modo mandão, contudo decidi me
focar apenas num detalhe:
— Temos que sair? — repeti,
confusa. — Aonde vamos?
Ele me ofereceu aquele sorriso
lindo.
— Vamos conversar com um
Advogado, amigo meu — respondeu. —
Esse é o primeiro passo se você quiser
reaver a guarda do seu filho.
Meu coração acelerou com a
possibilidade. Fui incapaz de frear a
umidade das lágrimas.
— Você está falando sério? —
indaguei, encarando-o. Observei que ele
me serviu com uma xícara de café
fumegante.
— E por que não estaria? —
questionou, divertido.
Sacudi a cabeça, rindo também.
Porém um sorriso emocionado.
— Não sei. — Dei de ombros.
— Talvez, porque caí na sua vida sem
qualquer tipo de pára-quedas...
— Então isso me qualifica como
seu protetor, hun? Eu, praticamente,
salvei você de se esborrachar no chão.
— Piscou, maroto.
Soltei uma risada.
— Bobo.
Peguei um dos pãezinhos.
— E então? Você acha que tenho
chances?
Ele baixou o jornal, deixando-o
de lado.
— Você é a mãe — disse. —
Possui uma casa para recebê-lo. —
Gesticulou ao nosso redor. Franzi a
testa, mas antes que pudesse corrigi-lo,
ele argumentou: — Minha casa é sua
também, pedaço do céu. Eu não estava
mentindo quando me comprometi a
ajudá-la.
Apenas assenti, sem saber como
responder àquilo.
— Ei? — Sua mão buscou a
minha. Olhei em seus olhos. — Apenas
acredite e confie que tudo dará certo.
— Vou confiar. — Sorri,
mordendo os lábios. — Obrigada, Lo.
Ele piscou um olho, mexendo
ainda mais com a minha libido
desgovernada.

∞∞∞
— Espero que não se importe,
mas eu preciso dar uma passada no meu
escritório antes — disse, enquanto
estacionava o carro em frente ao prédio
em que estivemos no dia anterior.
— Ok — murmurei. — Quer que
eu espere aqui?
Ele negou com a cabeça.
— Na verdade, eu quero que
conheça meu esconderijo na maior parte
do meu tempo — disse ele, sorrindo.
Assenti, achando graça da sua
escolha de palavras. Saí do carro
também.
— Então vamos lá.
Surpreendendo-me, Lorenzo veio
até mim e me segurou pela cintura antes
de puxar meu corpo para mais perto.
Gemi audivelmente quando seus lábios
tocaram os meus, ousados.
— Não tinha tido a oportunidade
de lhe dar meu beijo de bom dia —
soprou, ainda com a boca próxima.
Mordi os lábios, excitada.
— Que delícia — gemi,
aproveitando-me um pouco mais da sua
proximidade. — Vou acabar ficando mal
acostumada.
Ele riu e, em seguida, se afastou,
porém entrelaçou nossos dedos.
— Posso afirmar a mesma coisa,
pedaço do céu.
O escritório dele ficava no
segundo andar, que era composto por
outras salas, porém com prestações de
serviços diferentes do ramo do Lorenzo.
Honestamente, fiquei intrigada
quando entramos. A sala tinha um
espaço grande, porém repleto de
desorganização.
Fiquei parada no arco da porta,
enquanto observava a postura do homem
que vinha mexendo com meu juízo mais
do que deveria.
— O que está procurando?
Ele parou, colocando as mãos na
cintura, olhando para a papelada
espalhada sobre a mesa.
— Preciso visitar uma empresa
que estou auxiliando há algum tempo —
respondeu. — Semana passada, eles me
mandaram o relatório mensal e, eu
analisei. Só que não estou encontrando
— reclamou, visivelmente chateado.
Travei o maxilar, cruzando os
braços.
— Eu não acredito que você não
tem uma secretária, Lorenzo.
— Eu tinha. — Suspirou,
frustrado. — Até alguns dias atrás. —
Esfregou o rosto. — Mas ela acabou se
demitindo, por alegar que eu sou um
homem muito exigente.
Deu de ombros.
Segurei o riso.
— Sequer consigo imaginar o
motivo que a levou a pensar isso de
você — zombei, fazendo-o sorrir.
Aproximei-me da mesa, me atrevendo a
remexer nos papeis. — Como é o nome
da empresa?
— Innovative solutions.
— Certo.
Comecei a folhear,
automaticamente, organizando os
documentos.
— Aqui. — Entreguei a ele. —
Ainda não me conformo que você seja
tão desorganizado no seu trabalho, Lo.
— Sacudi a cabeça, incrédula.
— Infelizmente não sou perfeito
— falou, me fazendo revirar os olhos
diante da sua arrogância.
Rindo, ele me puxou para me
beijar. Novamente me vi derretida
dentro daqueles braços fortes.
— Convencido. — Dei risada
quando passei a receber vários
beijinhos no rosto.
— Você poderia trabalhar para
mim — insinuou. — Tenho certeza que
nos daríamos muito bem.
— Isso é golpe baixo —
murmurei, beliscando-o. — Você sabe
que não posso aceitar. — Me afastei
dele.
— Por que não?
Eu fiquei de costas, enquanto
repousava as mãos na cintura.
— Porque também tenho meu
orgulho, poxa! — exclamei,
constrangida. Olhei para ele. — A
mudança no nosso relacionamento não
muda o fato de que estou vivendo
debaixo das suas asas, Lorenzo e essa
nunca foi minha meta de vida.
Ele respirou fundo e, em
seguida, desviou o olhar.
Olhando para longe por alguns
segundos, ele pegou a pasta com os
documentos, a chave e deu a volta na
mesa.
— Está certo — disse apenas.
Passou por mim, esperando que
eu saísse da sala também para poder
fechar a porta.
Minutos depois — e de um
silêncio insuportável — eu falei, assim
que entramos no carro dele:
— Ficou chateado comigo?
Ligou na chave, fazendo o
barulho do motor inundar o interior do
veículo.
— Não. — Foi tudo o que ele
disse, porém sua postura me dizia outra
coisa.
Suspirei, decidindo não insistir.
Teríamos tempo para conversar mais
tarde.

∞∞∞
A conversa com o Advogado foi
promissora, visto que eu tinha muitas
dúvidas quanto as minhas reais chances
de conseguir meu filho de volta. O
processo foi aberto com o pedido de
guarda compartilhada, assim como o
direito de visitas nesse meio tempo.
Foi impossível não me
emocionar, pois a possibilidade se
tornou real. Eu podia sentir.
Quando fui presa, há três anos, o
meu filho tinha quatro meses de vida.
Sequer sabia se o cretino do Jason
falava de mim para o menino,
considerando que sua ira contra mim
tornou-se quase doentia.
— Você está chateado. — Não
foi uma pergunta. Estávamos saindo do
escritório do Advogado. — Ficou
calado boa parte do tempo.
Ele soltou o ar. Parecia
frustrado.
— Você me disse, com outras
palavras, que prefere qualquer outro
emprego, menos o que eu ofereci, por
puro orgulho — disse, insultado. — Não
pedi para que você viesse trabalhar de
lingerie e me esperasse em cima da
minha mesa, Giovanna. Sei separar as
coisas.
— Não disse que você não sabia
— resmunguei, sentindo-me estúpida.
— Eu não estou chateado com
você, apenas estou pensando —
garantiu. — Preciso de tempo para
digerir os acontecimentos que me
rodeiam. É dessa maneira que funciono.
Parei de andar e me coloquei na
frente dele, espalmando seu peito com
minhas mãos. Nossos olhares se
encontraram.
— Não quis soar mal agradecida
— expliquei. Toquei nossos lábios com
delicadeza. — Só não quero abusar da
sua boa vontade, Lorenzo. — Abracei
seu pescoço com força. De olhos
fechados, eu declarei: — Caramba!
Você foi um anjo que apareceu na minha
vida e, não quero perdê-lo.
Suas mãos embrenharam-se em
meus cabelos soltos e lisos, enquanto
cheirava meu pescoço.
— Não vai — garantiu.
Voltamos a nos beijar, dessa vez
com mais fome. Sem fôlego, ele me
encarou:
— Deixe-me cuidar de você —
pediu.
Abri a boca para responder,
contudo tive meu corpo lançado para o
lado; Lorenzo e eu caímos no chão com
tudo e, no mesmo momento, um carro
desgovernado acelerou para longe.
Meu coração batia
descompassado.
— O-o que...
Os olhos de Lorenzo estavam
arregalados.
— Eu vi aquele carro se
aproximando de nós, então nos tirei do
caminho — explicou, sem fôlego.
Levantou-se e, em seguida, me ajudou.
Gemi um pouco, sentindo meu quadril
dolorido. — Você se feriu?
Neguei.
— Apenas o susto mesmo.
Lorenzo respirou fundo, me
encarando com seriedade.
— Giovanna, isso não foi um
acidente e nem uma mera coincidência
— disse. — Aquele carro... — apontou
para o lado em que o veículo seguiu —
Tinha uma única mira, e ela era você. —
Engoli em seco, sentindo todo o meu
corpo amolecer. — Então das duas
opções, uma: Ou você fez alguma
inimizade dentro da cadeia, ou a pessoa
que armou para você ser presa está
tentando te matar.
Arquejei, desesperada por não
alcançar a paz. Meus olhos tornaram-se
úmidos e comecei a dar voltas, perdida
nas lembranças que insistiam em me
atormentar.
— Giovanna? — Lorenzo me
puxou para ele, amparando meu rosto
com as mãos. — Está escondendo
alguma coisa de mim?
— Também tentaram me matar
dentro da cadeia — confessei aos
prantos. — E-eu não fiz nada para
merecer isso, Lorenzo, e-eu... só queria
ser feliz.
Ele me abraçou, beijando minha
cabeça. Senti-me protegida.
— Acalme-se, pedaço do céu —
murmurou. — Eu estou aqui com você.
Soluços escaparam da minha
garganta.
— Venha... — espalmou uma das
mãos no meio das minhas costas,
empurrando-me gentilmente — Vamos
sair daqui. Temos que cuidar da sua
segurança, querida. Agora mais do que
tudo.
Eu queria ter coragem para
contar que desconfiava de alguém,
porém com isso, eu também teria que
narrar detalhes — dentro da cadeia —
que me envergonhavam. Definitivamente
não queria perder aquela conexão
mágica que tínhamos; preferia morrer a
receber um olhar decepcionado do
Lorenzo. Ou pior, de asco...
Capítulo 8
Lorenzo

Minhas últimas semanas


vinham tirando meu sono, já que uma
tempestade azul não saía da minha
cabeça. Giovanna entrou na minha vida,
praticamente, como um tsunami,
destruindo tudo e me deixando refém.
Refém do seu sorriso.
Refém do seu cheiro.
Da sua voz.
Era tão incrível a facilidade com
que ela me desarmava, sem sequer
perceber o poder que possuía sobre
mim. Ela não deveria ter esse domínio,
mas tinha. Não deveria ser tão diferente
de mim, ao ponto de me deixar curioso...
Éramos como dois opostos, mas eu me
via sendo puxado para ela como a um
maldito ímã.
Sentado na cama, meus olhos se
arrastaram pelo corpo nu ao meu lado.
Giovanna dormia de maneira serena e,
tudo o que se passava na minha mente e
no meu coração era a preocupação com
seu bem estar. Demorei tanto para me
encantar por alguém que não conseguia
admitir perdê-la. Precisava descobrir
quem estava por trás daquelas tentativas
de atropelamento. Precisava mantê-la a
salvo.
Suspirando, eu me ergui da
cama. O dia estava quase amanhecendo.
Fui ao banheiro e, instantes
depois, segui para a cozinha. Liguei a
televisão a fim de ouvir as primeiras
notícias da manhã enquanto preparava o
café.
Estava sentado num dos sofás da
sala, verificando meus emails, quando
meu Skype acionou, chamando minha
atenção. Podia recusar a chamada da
minha irmã, mas ignorá-la nunca era uma
boa opção, considerando que Eva seria
capaz de mandar o FBI atrás de mim.
— Bom dia, irmã. — O lindo
rosto se fez presente na tela. Mesmo
acima dos cinquenta anos, Eva
continuava com uma beleza
deslumbrante.
— Lo, você tem recusado minhas
ligações — reclamou, zangada. — E
você sabe que não gosto disso, porque
fico preocupada. Não entendo porque se
mudar para tão longe da família.
Ignorei o desejo de revirar os
olhos para seu drama.
— Onde você está? — Mudei de
assunto. Mas eu realmente estava
curioso para saber onde ela estava, já
que o cenário era bem diferente da sua
casa.
— No trabalho — respondeu. —
Minha gravação começa cedo hoje.
Sorri, orgulhoso. Eva tinha
conquistado uma carreira de renome na
profissão dela. Tornou-se uma
Economista extremamente requisitada,
além de conquistar um quadro fixo num
dos jornais mais famosos de Madrid.
— Não me parece feliz —
observei.
Ela suspirou.
— Só estou um pouco cansada
— respondeu, cabisbaixa. Em seguida,
falou com alguém que estava perto.
Aguardei, pensativo a respeito da sua
expressão triste. Nós dois sempre
tivemos uma boa relação, apesar do meu
distanciamento, mas eu amava minha
irmã e não gostava de imaginar que algo
a estivesse incomodando. — E então?
— Ela voltou a falar. — Pretende vir na
nossa reunião em família? Nosso tio
Hugo estará comemorando oitenta e
cinco anos, Lo, e é importante estarmos
todos reunidos.
Meu desânimo ficou visível no
meu rosto, pois Eva rolou os olhos.
— Por favor, faça um esforço.
— Você sabe que não sou bom
com esse tipo de entrosamento, Eva.
Não é a toa que eu sou considerado o
esquisito da família.
Ela abriu a boca para retrucar,
mas se calou quando Giovanna se jogou
em meu colo, nua, no sofá em que eu
estava.
Desejosa, procurou minha boca
com uma fome insana, fazendo com que
minha excitação se tornasse evidente.
— Quem é essa mulher,
Lorenzo? — Eva gritou.
Giovanna deu um pulo,
assustada. Virou o rosto em direção ao
laptop e quando se deu conta de que
tínhamos plateia, simplesmente, saiu dos
meus braços, correndo para o quarto.
Tentei explicar, mas não tive
tempo. Levantei-me, pegando o laptop
da mesinha de centro.
— Quem é ela? — Os olhos de
Eva estavam brilhando de curiosidade.
— Não vai dizer que é aquela moça da
prisão?
— O nome dela é Giovanna e
nós estamos nos conhecendo — falei,
calmamente. — E é somente isso que
você precisa saber.
— Mas ela...
— Vou desligar agora.
— Não ouse encerrar a chamada
na minha...
Abaixei a tampa do laptop,
rindo, pois sabia que minha irmã estaria
me xingando horrores do outro lado.
Apressei os passos para o
quarto, encontrando Giovanna sentada
na cama. Ela estava usando um robe e
era nítido o quanto estava envergonhada.
Fui até ela, ajoelhando-me em
sua frente.
— Você está bem?
Ela negou com a cabeça.
— Por que está chorando? —
questionei, analisando a umidade dos
seus olhos.
Ela fungou, passando a mão no
rosto molhado.
— Me desculpe, Lorenzo, eu não
tinha intenção de bagunçar tanto a sua
vida assim — resmungou, gesticulando.
— Ei, do que está falando?
— Eu pensei que estivesse
rolando algo especial entre nós dois,
mas vi que me enganei. — Fungou, se
levantando.
— Giovanna...
— Vou embora — disse,
ignorando-me. — Não serei empecilho
para ninguém. — Abriu o armário. — Se
você tivesse sido honesto comigo, eu
não estaria me sentindo um lixo agora —
rosnou, pegando as roupas com
agressividade e, jogando sobre a cama.
— Mas isso não me surpreende,
considerando que todos os homens são
iguais, só pensam com a cabeça de
baixo.
Pisquei algumas vezes, tentando
raciocinar diante de suas palavras.
— Espere, você está pensando
que tenho outra?
Ela me fulminou com aqueles
incríveis olhos.
— Não estou pensando, eu vi —
respondeu, raivosa. — Nunca me senti
tão constrangida. — As bochechas se
tornaram rubras.
Um sorriso despontou em meus
lábios sem que eu pudesse controlar.
— Eu adorei a surpresa — falei,
me aproximando dela feito um predador.
— Foi uma forma deliciosa de me dar
bom dia.
— Cala a boca — irritou-se,
aumentando meu sorriso. — Você nunca
mais vai me tocar, seu sem vergonha.
Num rápido movimento, eu a
ataquei, girando seu corpo e
derrubando-nos sobre o colchão.
— Lorenzo, para com isso. Não
piore as coisas.
Com meu corpo sobre o dela,
segurei suas mãos com uma das minhas,
erguendo-as no alto da sua cabeça.
— Pare você de ser impulsiva,
Giovanna — ralhei. — A mulher que
você viu é minha irmã.
Ela parou de se debater quando
me ouviu.
— Su-sua irmã?
— É, minha irmã. — Sacudi a
cabeça, rindo. — No momento, a única
mulher que vem ocupando minha vida
em todos os aspectos é você, pedaço do
céu. Nunca a enganaria dessa forma tão
sórdida.
Os lindos olhos tornaram-se
ainda mais úmidos. Ela era tão sensível.
— Mas é que... Nós não
prometemos nada, Lorenzo, apenas
estamos...
— Transando? — completei,
sorrindo da sua timidez.
Ela tentou se esconder de mim,
mas não deixei.
— Que vergonha, meu Deus —
gemeu. — Acabei de fazer uma cena e
tanto.
Inclinei a cabeça a fim de beijar
seu pescoço.
— Também acho — murmurei,
sendo beliscado por ela.
— Ei!?
— Você deveria dizer: “Não,
querida, não se preocupe com isso.
Está tudo bem.”
Dei risada. Em seguida, procurei
sua boca para beijar. Minutos depois,
ambos ofegantes, eu a encarei, sério.
— Então estamos num
relacionamento? — perguntei.
Ela ficou me olhando por um
tempo.
— Depende — disse.
Franzi a testa, frustrado.
Saí de cima dela, me sentando na
cama.
— Depende?
— Sim. — Afirmou, sentando-se
ao meu lado. Olhei para ela. — Tenho
um filho de quase quatro anos. Sou
impulsiva, como acabou de ver... —
sorriu, sem jeito — Sou caseira, mas
também gosto de sair. Aliás, eu gosto
muito de sair — frisou, fazendo-me
entortar os lábios. — Sou insuportável
quando estou de TPM; sou dramática ao
extremo, mas muito intensa também.
— Por que está dizendo isso?
Ela pegou minhas mãos.
— Porque quero que tenha
certeza da sua decisão, Lorenzo —
explicou. — Eu quero ficar com você,
mas não quero que se sinta obrigado a
isso, entende?
— Você acha que estou com
você por obrigação? — perguntei,
incrédulo.
— Não! — exclamou, quase
insultada. — Eu só estou tentando
explicar meu ponto. — Bateu no meu
braço, rindo.
Puxei-a contra mim, beijando
seus lábios doces.
— Eu entendi. — Enchi sua boca
gostosa de beijos. — Vamos fazer dar
certo — garanti. — Quero estar com
você mais do que tudo, pedaço do céu.
Um lindo sorriso brotou
naqueles lábios carnudos e tentadores.
— Vamos tomar um café na rua
hoje?
— Na rua? Por quê?
— Porque eu gosto de ver
pessoas novas, Lo. É agradável mudar
os hábitos de vez em quando, sabia?
— Eu não acho — resmunguei,
fazendo-a dar risada.
Levantei-me.
— Vamos fazer isso e depois
trago você para casa — falei. — Tenho
bastante serviço hoje.
— Por que me trazer em casa?
— encarei-a, confuso. — Eu pensei que
aquela oferta de emprego ainda
estivesse disponível.
Mordeu os lábios, encarando-me
com um olhar envergonhado.
Sacudi a cabeça, sorrindo para
ela.
— O que eu faço com você, hun?
— perguntei, circulando sua cintura com
minhas mãos.
Giovanna me olhou.
— Cuide de mim — disse,
prendendo-me com seu olhar abrasador.
— Seja meu em todos os sentidos.
Meu coração batia frenético.
— Eu serei bem mais do que
você precisa. Prometo, pedaço do céu.
Colei nossos lábios, selando
aquela promessa.
Capítulo 9
Giovanna

Passado

— Jason, você precisa


acreditar em mim — implorei. — Eu
não roubei nada. Não fui eu.
Segurei o braço dele, que se
livrou do meu toque com um safanão.
— Eu confiei em você,
Giovanna. Confiei e fui traído da pior
maneira possível.
Olhei ao redor, nervosa e
assustada. Os funcionários da JK
estavam todos ali, assistindo a minha
desgraça.
— Amor, vamos conversar...
— Amor? Como tem coragem de
me chamar de amor depois de tudo o que
me fez?
— Mas eu não fiz nada —
choraminguei. — Armaram contra mim,
Jason.
Ele me encarou, sério. As mãos
estavam repousadas na cintura.
— Eu amava você, Giovanna —
admitiu, fazendo meu pranto aumentar.
— Jason... — tentei pará-lo.
— A partir de agora nosso
assunto será na frente do juiz.
— E o nosso filho? — Meu
desespero se tornou evidente.
Ele parou, mas não se dignou a
me olhar.
— Meu filho. Apenas meu.
Meu mundo se abriu aos meus
pés e, eu fui engolida sem chances de me
defender.

∞∞∞

Presente
— Você possui quantos irmãos?
— perguntei, enquanto estávamos
tomando café numa confeitaria.
Eu sabia que Lorenzo não se
sentia confortável com a ideia de sair de
casa, mas, aparentemente, ele não estava
demonstrando nada.
Depois do mico que acabei
pagando, minutos atrás, decidi que seria
melhor buscar conhecê-lo um pouco
melhor.
— Com medo de mostrar a
bunda novamente? — zombou ele,
fazendo meu rosto queimar.
— Lorenzo! — ralhei.
Ele gargalhou.
— Sem graça — murmurei.
Sacudindo a cabeça, ele
começou a comer seu lanche.
— Eva é minha única irmã —
respondeu. — Na verdade, nós somos
primos. Minha tia, por parte de mãe,
meio que abandonou minha irmã sob os
cuidados da minha mãe; ela ainda era
um bebê.
— Nossa! Que triste.
Deu de ombros.
— Na verdade, a tia Cecílie quis
o melhor para a filha, já que na época,
ela não tinha condições psicológicas e
nem financeiras para criar — explicou.
— Mas hoje em dia, minha irmã convive
com ambas as mães.
— Entendi.
— Além da minha irmã, eu tenho
mãe e pai, tios, primos e sobrinhos —
acrescentou, levando o copo de café aos
lábios. — A família é grande —
brincou.
Meus olhos brilharam.
— Sempre sonhei em ter uma
família grande e bagunceira.
— Sério?
— Como você já sabe, eu passei
boa parte da minha vida dentro de um
Convento, então não tenho muitas
lembranças divertidas — falei. —
Lembro que o Natal era a época mais
feliz para mim, porque meu pai ia me
visitar.
— Luigi não a visitava com
frequência, então? — deduziu.
Neguei, bebericando meu suco
de laranja.
— Ele não era muito pela
família, sabe? Mas devo ser honesta em
afirmar que ele tentava. Esforçava-se
para me agradar.
— Mas obviamente não foi o
suficiente. — Não foi uma pergunta.
Sorri fraco.
— A ausência nunca foi
preenchida.
Fiquei olhando para meu
croissant.
— Você me encanta demais,
Giovanna — falou ele, forçando-me a
encará-lo. — Mesmo com tantas
rasteiras da vida, ainda consegue
encontrar motivos para sorrir.
Meu peito se aqueceu.
— É porque eu sei que nenhuma
dor é para sempre — murmurei, certa
das minhas palavras. — Na minha
estadia na prisão foram dias difíceis,
mas também de experiência. Sofri, sorri
e chorei. Conheci muitas histórias,
diferentes da minha, mas igualmente
sofridas — expliquei, recordando-me.
— Porém o meu maior trunfo se chama
Brandon, e ele tem três anos. — Sorri,
emocionada. — Foi por ele que aguentei
firme durante todo esse tempo.
Notei que a expressão do
Lorenzo tornou-se amorosa.
— Gostei do nome.
— Foi escolha minha —
comentei, orgulhosa.
Mesmo estando num
estabelecimento público, Lorenzo
sequer olhava para os lados; seus olhos
estavam nos meus o todo tempo.
— Fale mais dele — pediu. —
Gosto de como seus olhos brilham.
Assenti, feliz em poder narrar a
respeito da pessoinha que tinha meu
coração por inteiro.

∞∞∞
Assim que chegamos ao
escritório, Lorenzo dedicou alguns
longos minutos para me inteirar de todos
os assuntos e funções que eu deveria
exercer. Não era nada assustador e, eu
tinha certeza que tiraria de letra.
— Basicamente você investe
dinheiro, ao ponto de regularizar os
débitos da empresa e, em seguida,
aponta e corrige os erros que o
empresário estava cometendo.
— Depois disso, eu fico como
um sócio — acrescentou ele. — No
começo, eu faço visitas regulares, mas
depois é apenas semestral.
— Uau! Então você é um cara
bem rico — brinquei, puxando a gola da
sua camisa. Estávamos em pé, na frente
da mesa.
Um sorriso sacana despontou no
canto dos seus lábios.
— Isso excita você?
Neguei, balançando a cabeça.
— O que me excita é a maneira
como você me olha.
As mãos atrevidas enlaçaram
minha cintura.
— E como eu te olho? —
perguntou, levando a mão a minha nuca,
embrenhando os dedos em meus cabelos
soltos e compridos.
Arrepios inundaram meu corpo
todo.
— Como se eu fosse incrível e
única.
Os dedos arrastaram-se pelo
meu rosto com um carinho tocante.
Arquejei no momento em que ele se
inclinou e chupou meu lábio inferior.
— Mas é exatamente assim que
eu a vejo, pedaço do céu.
Desesperada de desejo, eu o
apertei contra mim, avançando meus
lábios nos seus; deliciando-me com o
sabor da sua língua na minha.
— Eu quero você, Lo... —
choraminguei — Eu quero você...
Levando a boca ao meu pescoço,
ele mordeu e chupou minha pele. Senti
suas mãos apertando minhas nádegas
com força.
Em seguida, ele se afastou.
O peito subia e descia, deixando
claro sua dificuldade em respirar. Os
olhos que me encaravam estavam
dilatados, assim como os meus.
Deitei o rosto em sua mão,
quando a mesma acariciou minha
bochecha.
— Se eu der vazão a todo o
tesão que estou sentindo por você agora,
nós não sairemos daqui tão cedo —
confessou, sério. Contorci-me, excitada.
Eu adorava aquelas nuances,
porque Lorenzo não forçava; não fingia
nada.
— Então o que propõe?
Sorriu, sacana.
— Comê-la mais tarde. A noite
toda.
A frase foi dita com ele olhando
diretamente em meus olhos.
Mordi os lábios, sentindo o
prazer daquela promessa tomando conta
de cada uma das células existentes em
meu corpo. Prestes a me jogar sobre ele,
uma batida na porta freou minha
intenção. Lorenzo piscou, sabendo
exatamente o que eu pretendia.
Passei a mão na nuca, enxugando
o suor. Minha calcinha estava uma
bagunça ensopada. Droga!
Tomei o assento atrás da minha
mesa, esforçando-me para me recompor.
Em seguida, olhei na direção da porta
quando Lorenzo me chamou.
— Giovanna, esse é o Frank. —
Apontou para um homem robusto e de
expressão séria.
Educadamente, eu me levantei e
fui até o homem, que aceitou meu aperto
de mão.
— Muito prazer, Frank.
— Ele vai ser o seu segurança.
— Lorenzo acrescentou, fazendo-me
encará-lo com os olhos arregalados.
— O quê?
— É isso que você ouviu —
respondeu. — Frank manterá você
segura enquanto eu não estiver por
perto.
Nervosa, eu pedi licença para o
homem e puxei o Lorenzo para o
corredor.
— Lorenzo, você não acha que
isso já é demais? — sussurrei, cruzando
os braços.
Na mesma hora, ele amparou
meu rosto com ambas às mãos.
— Sua segurança e seu bem-
estar nunca serão demais, pedaço do
céu. Tornaram-se minha prioridade de
vida.
Minha braveza caiu por terra e
tudo o que meu coração ordenou,
naquele momento, eu fiz.
Beijar aquele homem que, pouco
a pouco, vinha derrubando cada uma das
minhas barreiras emocionais.
Capítulo 10
Lorenzo

Meus olhos analisavam tudo,


desde a atitude dos funcionários até a
estética e o ambiente do lugar. Eu sabia
que Jason Keene nunca se privou de um
bom requinte, entretanto tentava entender
o que o levou a abrir falência. Não que
me agradasse, mas perdi um pouco do
meu tempo fazendo uma pesquisa a
respeito dele e sua carreira. Durante os
últimos anos houve uma perda
considerável de clientes; descobri que a
JK ganhou uma concorrente de peso e,
isso, somado aos seus gastos pessoais,
derrubou todas as cartas do baralho.
Jason estava falido e isso era um fato.
Ali, sentado do lado de fora da
sua sala, eu me perguntava se mesmo
depois de tudo, Giovanna ainda sentia
algo por ele. Não que eu fosse julgá-la,
considerando que nunca me apaixonei
perdidamente por alguém. Mas sabia o
quanto era difícil administrar os
sentimentos.
— Senhor Lorenzo? — Fui
chamado por uma mulher esbelta. Os
belos cabelos loiros reluziam sob seus
ombros.
Levantei, ficando de pé.
— Por favor, acompanhe-me —
disse ela. — Estávamos ansiosos pela
sua visita.
Franzi o cenho e, ela sorriu.
Paramos em frente à porta de
madeira entalhada.
— Perdoe-me pela minha
indelicadeza. — Estendeu a mão de
unhas vermelhas. — Me chamo Justine.
Sou a esposa do Jason.
Não tive tempo de me recuperar
do choque daquela informação nova,
porque a porta diante de mim logo foi
aberta e minha visão foi tomada por um
homem sisudo.
Encarei a mão estendida.
— Lorenzo González. É um
prazer, finalmente, conhecê-lo — disse.
— Ouvi falar muito bem de você.
Apertei sua mão com um pouco
mais de força, tentando ignorar a
lembrança do rosto choroso de
Giovanna da minha mente.
— Querida, por favor, não quero
ser interrompido — avisou para a tal
Justine antes de fechar a porta e me
indicar uma das poltronas.
A sala possuía um amplo espaço;
o ambiente não era retrógado e nem
chato, o dinamismo ocorria nos detalhes
e nas informações do lugar. Como um
escritório de marketing, a decoração
seguia a linha da criatividade, mais
descontraído e lúdico.
Meus olhos se fixaram em um
quadro que ficava na parede logo acima
da porta — de frente para a mesa
principal. Era uma foto do Jason
segurando um lindo menino de incríveis
olhos azuis. Reconheceria aqueles olhos
em qualquer lugar.
— Seu filho? — perguntei, quase
rosnando.
— Sim — respondeu. Em
seguida, coçou a garganta. — Aceita
uma bebida?
Olhei para ele; era nítida a sua
afobação. Ele estava totalmente no
vermelho e enxergava em mim a
oportunidade de se desafogar.
Respirei fundo.
— Não — respondi.
Finalmente, me sentei, sendo
seguido por ele, que tomou a poltrona
atrás da mesa.
— Bom, creio que se você está
aqui é porque já tem algo para me dizer
a respeito da recuperação da minha
empresa, hun?
Joguei meu corpo para trás,
pensativo.
— Tenho algumas perguntas,
primeiro, Jason — falei.
— Estou às ordens. —
Gesticulou com as mãos.
— Que tipo de fraude houve aqui
há três anos?
A expressão dele fechou na
mesma hora.
— O quê? Como soube disso?
Um sorriso enigmático tomou
conta dos meus lábios.
— Houve uma super valorização
nos lucros, entretanto o dinheiro foi
desviado direto para a conta de uma
antiga funcionária sua — continuei,
ignorando seu visível desconforto com o
assunto.
— Foi há três anos. No que isso
diz respeito ao nosso possível acordo,
Lorenzo?
Juntei as mãos sobre a mesa,
trazendo meu corpo para frente.
— Veja bem, caro amigo Jason...
— engoli calmamente — Estamos
falando de um investimento de milhares
de dólares, então você não acha que
tenho direito de estar à par de todo o
histórico positivo e negativo da
empresa? Ou por acaso pensa que meu
dinheiro é capim?
O maxilar trincou, enquanto ele
soltava o ar de maneira pesada.
— Fui roubado pela minha
antiga Assistente — disse. —
Infelizmente, ela tinha acesso às minhas
senhas e, isso facilitou muita coisa.
— Você nunca desconfiou?
— Não. Giovanna sempre
demonstrou ser exemplar em suas
funções.
Mordi o maxilar, sem conseguir
deixar de notar o duplo sentido das
palavras. Ou talvez fosse apenas meu
ciúme vibrando em meus poros.
— A Auditoria não deixou
escapar nada?
— A que você se refere, senhor
Lorenzo? — Ele parecia incomodado.
— Bem, eu só acho estranho que
uma simples Assistente tenha
conseguido fazer tanto estardalhaço...
sozinha.
— Foi tudo esclarecido na
época, amigo — disse, quase rosnando.
— A pequena ladra pagou pelo erro. —
Desviou os olhos.
— Você tem certeza? — Ele
voltou a me olhar, irritado com a
insinuação.
— Me perdoe, mas agora você
está me ofendendo, senhor Lorenzo —
sibilou. — Está dando a entender que
sou incompetente.
— Mas é isso mesmo o que você
é, caso contrário, eu não estaria aqui
para livrar sua empresa do vermelho.
A tensão tornou-se cortante.
— Afinal de contas, o que você
quer?
Sorri, maquiavélico.
— Giovanna está comigo.
A raiva em seu semblante deu
lugar ao espanto.
— Agora entendi tudo. — Se
jogou contra o encosto, rindo. — A
ladrazinha deve ter enchido sua cabeça
contra mim.
— Reveja as palavras quando
for para falar da mãe do seu filho, Jason.
Ela é minha mulher e não seria de bom
tom irritar o cara que pode assinar o teu
cheque.
— Pois estou pouco me lixando
para o seu dinheiro — rosnou de volta.
— Você não é o único no mercado a
estar disposto a investir nas minhas
ações.
Dei risada.
— Será? Aponte-me ao menos
duas empresas.
Ele sorriu, arrogante.
— Shell Investments — disse,
triufante. — Allegra Equipment. Zaro
brokers.
Meu sorriso aumentou.
— Qual é a graça, idiota?
— Você acabou de mencionar
três empresas minhas — respondi,
adorando presenciar a arrogância dele
se desvanecendo.
Seus olhos se arregalaram.
— O que quer? — rosnou, entre
dentes.
Inclinei-me, como a um
predador. Raiva exalava dos meus
poros.
— Deixe-a ver o filho — exigi.
— Não que essa decisão seja
exatamente sua, já que o processo foi
aberto e é só questão de tempo até que
Giovanna consiga o direito de visitar o
menino. Porém, você pode facilitar. —
Ele não falou nada. Continuei: — Outra
coisa: não ouse tocar um só dedo num
fio de cabelo dela.
— Por que está dizendo isso? —
Se empertigou. — Jamais a agredi nem
quando tive motivos para isso.
Um rosnado escapou dos meus
lábios me fazendo parecer um selvagem:
— Alguém tentou matá-la dentro
da cadeia e em duas ocasiões depois
que ela saiu.
Vi que ele se surpreendeu com
aquele fato, deixando-me intrigado.
— Está me acusando?Eu não
tenho nada a ver com isso — esquivou-
se, nervoso com a acusação não dita.
Levantei, aprumando o paletó.
— Então vai ver, o verdadeiro
culpado ainda esteja aí... infiltrado entre
o seu pessoal exemplar — alfinetei. —
Você errou ao julgá-la precipitadamente,
Jason, e por mais que saber do
sofrimento dela me traga dor, eu sou
grato ao destino, porque ele a trouxe
para mim. Giovanna é minha agora e não
medirei esforços para vê-la feliz e
realizada.
Dizendo isso, eu simplesmente
virei às costas e saí, deixando-o de boca
aberta.
No lado de fora, me deparei com
a loura, sorridente, e pronta para se
levantar.
— Não se incomode, querida. —
Apontei. — Conheço muito bem a saída.
— O sorriso morreu, dando lugar a uma
carranca.
A visita que era para ter
respondido algumas das dúvidas que
rondavam minha cabeça, apenas serviu
para me confundir ainda mais. Ao que
tudo parecia indicar, Jason, realmente
pensava ter sido roubado pela
Giovanna, o que me levava a certeza de
que também tinha sido enganado. Mas
por quem? Quem teria vantagens em
tirar meu pedaço do céu do caminho?
Não precisava ser um gênio para
chegar a uma única conclusão: Giovanna
conviveu com uma serpente do lado e
sequer teve noção disso. Bastava saber
se tal ingenuidade ainda fazia parte da
minha garota.
Capítulo 11
Giovanna

Algumas semanas se passaram


e minha ansiedade em rever meu filho só
aumentava.
Minha vida ao lado de Lorenzo
era incrível em todos os sentidos; ele
não somente me mimava, mas me fazia
sentir como se eu fosse única.
Entretanto, minha felicidade não estava
em cem por cento.
Admirando a paisagem —
através da janela central da sala do
escritório — eu me esforçava para não
perder a esperança. O Advogado que
Lorenzo conseguiu estava confiante, mas
eu conhecia o Jason e sabia que ele não
facilitaria as coisas para mim. Aquele
homem me odiava.
Sem que eu pudesse controlar,
uma lágrima deslizou por minha
bochecha.
De repente, Lorenzo me abraçou
por trás, depositando beijos em meu
pescoço.
— O que foi? — perguntou,
preocupado. — Por que está chorando?
Virei o corpo para ficar de frente
para ele. Levei a mão ao seu rosto,
deliciando-me com o raspar da sua
barba rala por meus dedos.
— Apenas saudade do meu filho
— respondi com sinceridade. — Quero
acreditar que vou conseguir ao menos o
direito de vê-lo, mas não sei, Lo. Sou
uma ex-presidiária, e isso pode pesar
muito no processo.
As enormes mãos amoldaram
meu rosto, enquanto forçava meu olhar
no seu.
— Ei?! Nada de pessimismo
nessa altura do campeonato — pediu. —
Nós vamos conseguir, acredite. — Seus
olhos, abrasadores, nos meus me
trouxeram uma sensação de paz e
tranquilidade.
Depositei as mãos em seus
ombros, adorando sentir o aperto das
suas em minha cintura.
— Eu acredito. — Apertei-o
contra mim, escondendo meu rosto na
dobra do seu pescoço. — Enquanto tiver
você ao meu lado, eu confio que tudo
ficará bem, mesmo que demore.
Lorenzo me beijou, prendendo-
me em seus braços fortes. Era incrível o
quanto eu me sentia protegida quando
estava com ele.
— Vamos sair — disse ele,
afastando a cabeça para poder me
encarar. — Quero te mostrar um lugar.
Franzi a testa, desconfiada.
— Que lugar?
O sorriso preso em seus lábios
me fez consciente de que ele estava
aprontando algo.
Sua boca tocou a minha num
selinho demorado.
— Você verá.

∞∞∞
— Por que estamos aqui? —
indaguei, confusa por estarmos em frente
ao prédio em que morávamos.
Lorenzo não falou nada, o que
apenas piorou minha curiosidade e
confusão. Aquele suspense todo estava
me deixando muito nervosa.
Entramos no elevador, depois de
cumprimentarmos o porteiro. Observei
que Lorenzo não apertou o botão do
nosso andar.
— Você se enganou. Nosso andar
não é esse.
Novamente ele optou pelo
silêncio, embora o sorriso persistisse
em seus tentadores lábios.
As portas do elevador se
abriram e, saímos. Ainda mais confusa,
observei — de cenho franzido —
Lorenzo parar em frente a uma porta. Ele
colocou a chave na fechadura e a porta
logo se abriu, revelando-me um
apartamento enorme e igualmente
requintado.
Lorenzo se colocou de lado,
deixando espaço para que eu pudesse
entrar primeiro.
— Por que estamos aqui? —
repeti a pergunta, enquanto olhava ao
redor.
Ouvi quando ele fechou a porta,
dispensando a chave no aparador ali
perto, enquanto eu ainda estava
admirada pela beleza do ambiente.
— Venha. — Segurou minha
mão. — Quero que veja uma coisa.
Assenti, me deixando ser guiada
em direção a escada.
No andar de cima, notei que
tinha algumas portas, porém Lorenzo
parou em frente a uma em específico.
— Abra — pediu ele, sorrindo.
Mesmo desconfiada, eu abri,
porém nada me preparou para o que
meus olhos viram.
Era um quarto de bebê.
Havia um berço, um guarda-
roupa, uma cômoda com trocador, uma
mini cama, além de uma cama auxiliar.
A decoração era linda, com os tons de
azul predominando todo o cômodo.
— Isso é...
— O quarto do Brandon —
respondeu ele, me fazendo encará-lo.
Pisquei, sentindo a umidade nos meus
olhos devido à emoção. — Eu comprei
esse apartamento há alguns dias, e
mandei prepará-lo. O Advogado falou
que o juiz avalia tudo, então...
Não o deixei terminar de falar e
avancei sobre ele, reivindicando seus
lábios num beijo recheado de
sentimentos.
— Obrigada — soprei,
emocionada. — Obrigada por ser esse
homem tão incrível. Tão lindo.
Ele sorriu.
— Tudo por você, pedaço do
céu — disse. — A sua felicidade é a
minha prioridade.
Presa num misto de emoções, eu
voltei a beijá-lo, dessa vez sentindo a
excitação tomando conta de todo o meu
corpo.
Gemi, no momento em que fui
erguida do chão. Minhas pernas
enlaçaram a cintura masculina,
aceitando receber todo o prazer que
apenas ele sabia me dar. Arquejei
quando suas mãos apertaram minhas
nádegas, caminhando comigo pelo
corredor e entrando em outro quarto.
Nossas mãos estavam
desesperadas, tentando arrancar todas
aquelas roupas que restringiam um
contato maior. O sexo com Lorenzo
nunca era somente corpo a corpo,
porque eu sentia algo mais. Mesmo em
tão pouco tempo de convivência, eu
sabia que havia sentimentos entre nós
dois.
— Eu quero você — sussurrei
contra sua boca, enroscando minhas
pernas com as suas, na cama.
— Estou aqui...
Lorenzo me arrastou mais para
cima do colchão, sem deixar de me
beijar. Não eram simples beijos.
Eu me sentia sendo adorada.
Venerada.
As mãos causavam arrepios
intensos conforme me tocavam. Hora
com delicadeza; hora com um pouco
mais de força.
Arqueei as costas no momento
em que senti o toque da língua macia em
um dos meus mamilos; a pequena
mordida causou-me choques
involuntários. Tudo em mim ardia com
um desejo quase surreal. Lorenzo não
precisava sequer se esforçar para me
deixar enlouquecida, bastava chegar
perto de mim e, eu já estava derretendo
de puro tesão.
Arrastei minhas unhas por suas
costas, deleitando-me com a reação no
corpo dele. Era agradável saber que eu
o excitava tanto quanto ele me excitava.
Num movimento rápido, eu o
empurrei para o lado, fazendo-o dar
risada.
— Uau! — exclamou. — Acho
que acabei de atiçar uma fera —
brincou.
Inclinei meu corpo, apenas para
lamber seus lábios. Em seguida, apertei-
os com meus dedos, formando um
delicioso bico, onde mordi fraquinho.
— Uma fera louca para devorá-
lo todinho — murmurei, arrastando a
língua para fora, apenas para lamber seu
queixo.
— Giovanna... — engasgou,
quando sentiu o meu roçar sobre sua
intimidade.
— Shii... — sussurrei, enquanto
descia com minha boca deixando beijos
molhados pelo seu peitoral malhado. —
Vou cuidar de você — prometi.
Minhas mãos passeavam por
todo o seu corpo, acariciando e sentindo
a textura dos músculos tenros. Era
delicioso observar o que eu fazia com
ele. Lorenzo era um homem sedutor,
porém se tornava totalmente rendido
quando estávamos juntos. E essa certeza
me fazia arrogante demais.
Minha boca se arrastou mais
para baixo, provando sua pele e
descobrindo as reações. Por mais que
fizéssemos sexo todos os dias, as
experiências eram sempre novas.
Estávamos em fase de descoberta um
com o outro.
Assim que me vi cara a cara com
sua ereção, não pensei duas vezes e o
abocanhei por inteiro, arrancando um
gemido animalesco da sua garganta.
Nunca me senti confortável em realizar
o sexo oral, por várias razões, contudo,
com o Lorenzo, era diferente, porque me
excitava presenciar o prazer dele.
Soltei sua ereção da minha boca
e passei a lambê-lo como a um picolé. A
todo o momento, eu me preocupava em
olhar para ele, porque queria
acompanhar cada uma das suas reações.
Seus dedos atrevidos passaram a
beliscar meus mamilos túrgidos. Ele era
fissurado por meus seios fartos.
Peguei a camisinha — que já
havia sido colocada sobre o criado-
mudo — e o vesti. Em seguida, me
ajeitei com as pernas abertas e, desci,
lentamente. Nossos gemidos se
misturaram quando me senti
completamente preenchida.
— Gostosa demais — sibilou
entre dentes, enquanto apertava meus
quadris, impulsionando-me.
Fechei os olhos, perdendo-me
nas sensações deliciosas que
embalavam meu corpo todo. Sentir as
mãos; a voz; a respiração do Lorenzo...
Tê-lo todo dentro de mim parecia tão
bom. Tão certo.
Nunca me senti tão completa.
Arrepios invadiram-me quando
seus dedos passaram a moer meus
mamilos. Meu movimento de sobe e
desce se intensificou assim que a
sensação do orgasmo tornou-se mais
forte.
— Lo... Eu vou gozar...
Mal terminei de falar e fui
jogada contra o colchão. Lorenzo ergueu
minhas pernas, dobrando-as contra meu
peito, deixando a penetração mais
profunda. Arquejei, revirando os olhos
diante do prazer alcançado.
— Olhe para mim — exigiu ele,
encarando-me com toda aquela
intensidade perturbadora.
Os espasmos me tomaram sem
que eu pudesse controlar, porém fiquei
cativa daquele olhar ardente.
Éramos um só.
Um só corpo.
Não precisava dizer que aquilo
não era apenas sexo, porque eu sabia.
Quando Lorenzo gozou, sua boca
reivindicou a minha de modo urgente.
Aos poucos foi se acalmando.
— Eu quero você para mim,
Giovanna — declarou, de repente,
enquanto ainda estava dentro de mim.
Meu coração, já acelerado,
ameaçou parar.
— Sou sua pelo tempo que você
permitir — murmurei num sopro.
Um sorriso lindo abrilhantou
seus doces lábios.
— Então será para sempre.
Incapaz de controlar, eu sorri
junto com ele, consciente do significado
por trás de cada uma daquelas palavras
pronunciadas.

∞∞∞
Minhas mãos tremiam e suavam
conforme acompanhava os minutos
através do relógio. Honestamente, minha
contagem se dava até pelos segundos. A
ansiedade de não saber o que
aconteceria; de não saber a reação do
meu filho quando me visse. E se ele não
gostasse de mim?
Embora o juiz houvesse me
concedido duas visitas por semana, eu
sabia que minha caminhada não seria
fácil. Eu teria que conquistar o meu
filho. Conquistar o amor e a confiança
dele, que se perdeu com nossa
separação.
Estalei os dedos, enquanto
andava de um lado ao outro no novo
apartamento, adquirido há menos de
duas semanas.
Meu telefone vibrou com uma
nova mensagem.

“Lorenzo: — Fica calma,


porque vai dar tudo certo, meu pedaço
do céu.”

Sorri, feito uma boba apaixonada


quando terminei de ler a mensagem de
Lorenzo. Infelizmente ele não pôde ficar
comigo, pois tinha alguns problemas
para resolver.
Aos poucos, nosso
relacionamento vinha se tornando mais e
mais sólido e, eu sentia como se
fôssemos um casal de verdade. Apesar
de nenhum de nós dois ter pronunciado a
famosa frase de amor, estava claro o
quanto um gostava do outro.
Sem o Lorenzo, eu estaria
perdida.
Sem meu filho.
Sem perspectiva.
Sem amor próprio.
Prestes a enviar-lhe outra
mensagem, o interfone tocou. Abandonei
o celular e corri para atender. Era o
porteiro, avisando da chegada do
Brandon.
Ansiosa, falei que ele poderia
permitir a entrada.
Meus batimentos cardíacos
aceleraram, então me obriguei a respirar
fundo de modo a me acalmar.
Esfregando uma mão na outra,
esforcei-me para segurar o pranto, que
já estava entalado na garganta apenas
pela certeza de que dentro de alguns
instantes veria o amor da minha vida
todinha.
Dei um pulo de susto quando a
campainha soou.
Com a mão trêmula, eu girei a
maçaneta e abri a porta.
Meu peito sufocou na mesma
hora.
Todo tipo de sentimento,
sensação e emoção se apossou de mim
naquele momento enquanto visualizava a
“miniatura do meu coração” nos
braços do homem que eu amei, mas que
arruinou minha vida com a mesma
intensidade do meu amor.
— Olá, Giovanna — saudou-me,
sério, porém sem esconder a
curiosidade por trás dos olhos.
Engoli em seco, nervosa demais
até para raciocinar.
— Jason — soprei.
Dei passos para trás, sentindo a
força com que as emoções me abateram.
Jason se aproximou de mim, e eu
me vi paralisada. Meus olhos nublados
viram o exato momento em que ele
estendeu o Brandon para meus braços.
— Vá com a sua mãe, querido —
disse ele, sem tirar os olhos dos meus.
Meu pranto se libertou
automaticamente e, eu ignorei tudo ao
redor. Nenhum problema me importava.
As mágoas não importavam. As mentiras
não importavam. A presença de Jason
ali não importava.
Apenas o meu filho.
Aquele ser tão pequenino, mas
que tinha meu coração nas mãos.
Capítulo 12
Giovanna

Eu parecia estar sonhando.


Não conseguia parar de chorar
enquanto segurava meu filho nos braços.
A emoção era tanta que me
obriguei a ir até a sala e me sentar no
chão, contudo sem me soltar dele.
Brandon me encarava com
desconfiança e, a todo o momento
buscava pelo pai, que se dignou a ficar
longe, apenas observando. Não fazia
ideia do porquê de ele ter vindo
pessoalmente, considerando que poderia
ter mandado o menino pela Assistente.
A verdade é que eu não estava
preparada para revê-lo.
— Você cresceu tanto, filho. —
Passei as mãos pelo seu rostinho
corado, admirando seus traços, que eram
tão parecidos com os meus. — Está tão
lindo quanto eu me lembrava.
Peguei suas mãozinhas
rechonchudas e as enchi de beijos,
fazendo-o rir devido às cócegas.
Enxuguei as lágrimas e me
concentrei em brincar com ele. Tinha
deixado alguns brinquedos na sala.
Em determinado momento,
Brandon se levantou e correu para os
braços do pai.
— Ôh, campeão! O que foi?
Cansou de brincar com a mamãe?
Por um momento, eu o invejei.
Invejei o fato de meu filho procurá-lo
quando estava assustado. Invejei a
relação dos dois, porque eu não tive
isso. Brandon saiu de mim, mas não me
conhecia.
Meu filho não sabia quem eu era.
Tentando ignorar o desejo de
chorar, observei quando Jason se
aproximou.
— Que tal se o papai brincar
junto com vocês, hun? — Sentou-se ao
meu lado, colocando Brandon em nosso
meio.
Peguei o jogo de peças.
— Vamos montar, meu amor? —
perguntei, sorrindo para ele e ansiando
receber o mesmo olhar que ele oferecia
ao pai.
A cada instante, eu me
aproveitava para tocá-lo e acariciá-lo.
Perdi tantos momentos.
Ali, enquanto admirava o
rostinho que ficou preso na minha mente
durante os três anos que estive presa, eu
tentava não me magoar com o fato de
não ter estado presente quando Brandon
deu os primeiros passos, ou de quando
falou pela primeira vez. Era doloroso
demais.
— Vejo que você se deu bem no
final das contas. — Levei os olhos para
o Jason, ao meu lado. Seu olhar era de
sarcasmo. — Lorenzo González possui
um patrimônio maior do que o meu, na
época em que nos conhecemos.
— E em quê isso diz respeito a
você? — retruquei, incomodada.
Ele deu de ombros, libertando
Brandon dos seus braços.
— Só estou tentando entender
toda essa excitação por dinheiro —
comentou, rancoroso.
Meus dentes rangeram.
— Por que não pergunte a sua
mulher? — rosnei, esforçando-me para
não me afundar em recordações que me
feriam.
Um sorriso arrogante tomou
conta de seus lábios.
— Ora, ora... isso é ciúme?
Rolei os olhos, irritada com
aquela insinuação.
Aproveitei que Brandon estava
perto de mim e o puxei para meus
braços, enchendo seu pescoço cheiroso
de beijos.
— Por que está aqui? — intimei
o Jason. — Poderia tê-lo mandado pela
Assistente social.
— Acontece que seu
namoradinho não me deu escolha.
Franzi o cenho, confusa com suas
palavras.
— O quê? — questionei. — Do
que está falando?
Brandon começou a andar pela
sala e, eu me ergui, ficando de pé para ir
atrás dele se fosse preciso.
— Lorenzo González me tem nas
mãos, Giovanna — respondeu, trincando
os dentes. — Ele me ameaçou nos
negócios se acaso eu não facilitasse
para você ter acesso ao Brandon.
Meu coração acelerou na mesma
hora. Milhões de coisas passando pela
minha cabeça.
— Ele não faria isso — falei no
fim.
Erguendo-se também, notei que
ele aprumou o corpo robusto. Foi
impossível ignorar a beleza intacta. Era
como se os anos apenas houvessem feito
bem a ele. O que era injusto.
— Está surpresa? — questionou,
num tom zombeteiro. — Ao que tudo
indica o seu namoradinho não parece ser
tão justo assim, hun?
Raiva inundou meus poros.
— E quem é você para me falar
de justiça, Jason? — ralhei, sentindo a
mágoa se sobressair ao meu tom. —
Você sequer me deu chances para me
defender. Você não tem moral nenhuma
para tentar me colocar contra o Lorenzo,
porque ele foi e é muito mais homem
para mim do que você pensou em ser.
A expressão sarcástica logo deu
lugar à irritação, mas eu não dei a
mínima.
Tentei passar por ele, mas sua
mão se fechou em meu braço.
— Me solta — soprei,
respirando fundo.
— Você precisa entender que
não tive escolhas, Giovanna — disse,
angustiado. — Todas as malditas provas
apontavam em sua direção. Quem me
daria garantias da sua inocência?
— Eu daria — murmurei,
engasgada. — Eu, Jason, que na época
era a sua mulher. — Me calei, olhando
nos olhos dele. Havia tanto a dizer. —
Mas você optou pelo mais fácil, não é
mesmo? Você soltou a minha mão e me
deixou cair.
Soltei-me dele com um safanão.
— Giovanna...
— Já chega! — Peguei o
Brandon no colo. — Vou curtir o meu
momento com nosso filho. Por favor,
respeite isso.
Dizendo isso, levei meu bebê ao
quartinho dele.
∞∞∞
Eu estava na sala, assistindo
televisão, quando Lorenzo chegou em
casa. Na verdade, eu sequer estava
assistindo a programação. Minha
inquietação não permitia.
Desmanchei-me em lágrimas no
momento em que olhei para a entrada do
cômodo e o vi, parado e com os braços
abertos para me receber. Melindrosa,
corri até ele.
— Shiiii... está tudo bem agora.
— Ele está tão lindo, Lo, você
tinha que ter visto — choraminguei. —
Tão grande. Meu filho está tão grande e
tão esperto.
Lorenzo encheu minha cabeça de
beijos, enquanto caminhava comigo de
volta ao sofá, onde nos ajeitamos um ao
lado do outro.
Deitei a cabeça quando sua mão
passou a acariciar minhas bochechas.
— Tentei chegar mais cedo, mas
fiquei preso nessa coisa chata de
burocracia, você sabe... muitos papéis
para assinar — disse, beijando minhas
mãos. — Mas estou feliz que tenha
aproveitado bem o momento com seu
menino.
Abaixei a cabeça, pensando no
que falar.
— Ei, o que foi?
Olhei para minhas mãos,
fungando o nariz.
— Jason esteve aqui. — Resolvi
falar a verdade. — Foi ele quem trouxe
o Brandon.
Observei que o corpo do
Lorenzo se tornou tenso de imediato,
enquanto absorvia e analisava minhas
palavras.
O silêncio dele — já previsto —
começou a me deixar ainda mais
nervosa.
— Ele falou que está sendo
ameaçado por você, Lo. É verdade? —
intimei. — Você nunca me disse que se
encontrou com ele.
Lorenzo levou a mão ao rosto,
esfregando-o de modo frustrado. Em
seguida, voltou a me encarar, sério.
— E se isso for verdade?
Respirei fundo.
— Bem... se for verdade, eu vou
me sentir a mulher mais sortuda do
mundo por ter um homem tão protetor
como você ao meu lado — sussurrei,
mordendo os lábios.
O clima esquentou, tornando-se
denso.
A intensidade entre nós não era
novidade. Éramos fogo e gasolina.
— Eu sempre irei protegê-la —
prometeu, inclinando-se sobre mim para
tomar meus lábios num beijo. —
Sempre.
Não aguentei mais e o beijei,
reivindicando sua boca. Naquele
momento, eu soube...
Enquanto ele estivesse comigo,
eu ficaria bem.
Capítulo 13
Lorenzo

— Você está pronta? —


perguntei, olhando para o lado e me
deparando com aquele mar azul em
forma de olhos.
Giovanna estava linda, usando
aquele vestido branco com listras
pretas. O decote sensual deixava seus
seios maiores do que já eram.
— Primeiro: Pare de olhar para
meus seios — alfinetou, com ar
divertido.
Dei risada.
— Juro que estou tentando —
declarei, rouco, escondendo o rosto na
dobra do pescoço esguio. Ela me
beliscou.
— Safadinho — murmurou,
sorrindo. — E segundo: Eu estou pronta
e tranquila, mas parece que é você que
não está.
Respirei fundo, apertando-a
contra meus braços.
— Não gosto dessas interações
— falei. — No final, eu me sinto
exausto psicologicamente — expus. —
Não me assusto com a ideia de me
comunicar com um grande número de
pessoas, mas sei que tentarei com todas
as forças adiar a comunicação. Para
mim, é importante que os fatos não
aconteçam rápido demais. Assim, terei
tempo para me envolver e me sentir
confortável.
As mãos delicadas massagearam
minhas costas com carinho.
— Mas eu estou aqui com você
agora — garantiu. — E tenho certeza
que sua família terá bastante novidade
para entreter esse seu cérebro exigente
— brincou, arrancando-me uma
gargalhada.
Afastei a cabeça, apenas para
poder alcançar sua boca com a minha.
— Eu já falei o quanto você está
linda? — soprei de modo sedutor.
Sorrindo, ela assentiu, enquanto
apertava meus braços.
— E o quanto meus seios
ficaram deliciosos com esse decote
indecente — acrescentou, brincalhona.
Ambos rimos, perdidos em nossa
própria bolha.
Respirando fundo, eu segurei sua
mão, entrelaçando nossos dedos.
— Vamos entrar?
Ela assentiu.
A viagem até Madrid levou,
aproximadamente, oito horas.
Cheguei a cogitar a hipótese de
não comparecer ao aniversário do tio
Hugo, mas sabia que minha ausência
seria má interpretada. Embora, eu não
fizesse por mal, pois minha
personalidade introvertida me causava
desconforto. Era exaustivo enfrentar a
incompreensão dos demais.
Eu preferia mil vezes me perder
em pensamentos do que estar numa festa
barulhenta. Não havia refúgio melhor do
que meu mundo interior.
Giovanna e eu chegamos em
frente a varanda espaçosa da casa do
meu tio e, em seguida, eu bati na porta
de madeira entalhada.
Minhas mãos estavam frias,
então esfreguei uma na outra na intenção
de amenizar o desconforto.
A porta foi aberta pela Eva, que
não perdeu tempo em se jogar em meus
braços.
— Estou tão feliz que você veio,
irmão — disse ela, deixando um beijo
estalado no meu rosto.
— Eu sei que sim — falei,
trazendo suas mãos a minha boca para
poder beijá-las. Em seguida, me virei
para o lado. — Essa é a Giovanna.
As duas se cumprimentaram.
— É um prazer conhecê-la
formalmente, Eva — disse Giovanna,
envergonhada, referindo-se ao episódio
da vídeo chamada. Não pude deixar de
sorrir com a lembrança.
— Imagina. O prazer é todo meu.
— Eva olhou de mim para Giovanna
com um ar de satisfação no rosto. — Por
favor, entrem.
Entrelacei os dedos nos da
Giovanna e tomei a frente.
Como eu já previa, a casa estava
cheia. Levei os olhos ao nosso redor,
esforçando-me para fazer minha mente
acostumar-se com todas aquelas
informações.
— Você está bem? — Giovanna
perguntou, preocupada.
Sorri.
— Estou — garanti.
— Filho! — Minha mãe se
aproximou de nós, apertando-me em
seus braços. — Pensamos que você não
viria — disse, acariciando minhas
bochechas com seus polegares.
— Nunca perdi uma reunião
familiar, mãe — murmurei, sorrindo
para ela.
De repente, seus olhos curiosos
foram direto para a Giovanna, que
estava quietinha ao meu lado.
— Ora, ora, ora... — murmurou,
risonha — Quem é essa garota linda?
Giovanna deu risada.
— Obrigada pelo elogio —
disse. — Eu me chamo Giovanna.
— E o que você é do meu filho?
— Minha mãe não perdia tempo.
Percebi que Giovanna ficou sem
jeito; seu olhar procurou o meu em
busca de apoio. Na verdade, nós não
havíamos rotulado nosso relacionamento
ainda.
— Somos amigos, mamãe —
falei, me intrometendo. Notei que
Giovanna abaixou a cabeça, sem graça.
— Só amigos? — insistiu.
— Onde está o papai? — Tentei
mudar o foco, o que funcionou, porque
ela logo apontou a direção do meu
velho.
Minha ideia era arrastar
Giovanna comigo, mas quando percebi,
minha mãe já a tinha levado para longe.
Rolei os olhos, sacudindo a cabeça.
Comecei a cumprimentar todos
os familiares presentes, doando um
pouco do meu tempo para falar sobre
minha vida em Nova York. Desde minha
adolescência, eu já tinha deixado claro
que não assumiria os negócios da
família, pois tinha planos de trilhar meu
próprio caminho. Formei-me em
Administração de Empresas e
economizei para iniciar meu negócio.
Obviamente que meu sobrenome era um
bom peso. A Corporação González era
conhecida em vários países e,
honestamente, eu me sentia orgulhoso
disso.
Depois de longos minutos,
conversando com meu pai e meus tios,
eu cruzei com minha irmã. Ela estava
cochichando alguma coisa no ouvido da
filha, que saiu correndo, dando risada.
— O que essa menina está
aprontando? — perguntei, quando
ficamos frente a frente. Abri os braços
assim que ela se jogou contra meu peito.
Beijei sua cabeça.
— Coisas de adolescente —
disse, sorrindo. Seus olhos fixaram-se
nos meus. Eva e Romeu tiveram um
casal de filhos. — Conversou com o
papai? Ele estava com muitas saudades
suas.
— Conversei sim. — Olhei para
ele, que ria de alguma piada. — Apesar
da idade, continua o mesmo de sempre.
Amoroso, divertido e justo.
Eva sorriu também.
— Isso é verdade. — Afirmou.
— Alejandro González é tudo isso e
muito mais. — Sorriu.
Afastei-me um pouco, apenas
para encarar seu lindo rosto.
— Você parece melhor.
Sua testa franziu.
— Como assim?
— Notei que seu semblante
estava entristecido nas nossas últimas
chamadas de vídeo — expliquei. — Só
não comentei nada, porque não gosto de
me intrometer, você sabe.
Minha irmã sorriu para mim.
Aquele sorriso lindo que eu amava
demais.
— Às vezes, eu me esqueço do
quão bom observador você é. —
Acariciou meu rosto. — Romeu e eu
estávamos em crise — confessou num
suspiro. — Casamento nem sempre é um
mar de rosas, Lo, e há momentos que eu
penso seriamente em matar aquele
homem, apesar de amá-lo loucamente.
— Riu.
Joguei a cabeça para trás,
gargalhando.
— Posso saber o motivo de tanta
risada? — questionou Romeu,
estendendo a mão para me
cumprimentar.
Ambos nos cumprimentamos
com os famosos tapinhas nos ombros.
— Por incrível que pareça,
cunhado, o motivo da risada é a sua
morte.
— Lorenzo! — exclamou Eva,
divertida ao visualizar os olhos
assustados do marido.
Rindo, eu me afastei deles,
deixando-os sozinhos.
Decidido a levar Giovanna para
comer alguma coisa, eu passei a
procurá-la, mas não gostei quando a
encontrei conversando, animadamente,
com meu primo Felipe.
— Você já cometeu muitos erros
na sua vida? — perguntou ele.
— Um pouco.
— Então o que custa eu ser mais
um? — rebateu, safado.
Cheguei ao exato momento em
que Giovanna dava risada.
— Primo! — exclamou ele,
cumprimentando-me. — Estava aqui
conversando com sua amiga.
Travei o maxilar.
— Giovanna não é apenas uma
amiga, Felipe — sibilei, enlaçando a
cintura dela com meu braço possessivo.
— Estamos juntos.
Não olhei para ela quando disse
isso.
Felipe arqueou as sobrancelhas,
surpreso.
— Que pena — disse ele, sem
um pingo de constrangimento. — Estava
bem interessado. — Afirmou, arrastando
os olhos gulosos pelo corpo da
Giovanna, de cima abaixo.
Cocei a garganta, fazendo-o me
encarar e socar meu ombro, brincalhão.
— Bom te ver — disse.
Puxou-me para um abraço.
— Pretende ficar quanto tempo?
— Até amanhã.
Assentiu.
— Vamos conversar depois? —
pediu. — Quero tirar umas dúvidas com
você.
— Está certo.
Assim que ele se afastou,
puxando papo com meu cunhado, eu me
virei na direção da Giovanna, mas não a
encontrei.
Olhei ao redor, me deparando
com sua silhueta virando o corredor.
Estranhei, mas fui atrás dela.
— Giovanna? — chamei,
fazendo-a dar um pulinho de susto.
Sorri. — Desculpa. Não queria te
assustar.
Ela balançou a cabeça.
— Tudo bem — disse, mas não
olhou para mim.
— O que foi? O que você tem?
— Nada.
Segurei seu braço.
— Não minta, Giovanna. Qual é
o problema?
Seus olhos chisparam nos meus.
— O problema é você. —
Apontou, revoltada.
— Eu? — Estava confuso. — O
que eu fiz?
Pisquei, tentando entender.
Minha mente tentava rebobinar os
últimos minutos em busca de algo que eu
pudesse ter dito ou feito para deixá-la
tão zangada.
Giovanna começou a andar em
círculos, bagunçando os cabelos.
— O que foi aquela reação com
o seu primo, Lorenzo? Desde quando eu
me tornei um objeto de disputa para
você?
Arregalei os olhos, insultado.
— Eu jamais a vi dessa forma.
Seu maxilar trincou, enquanto
cruzava os braços. Não controlei o
desejo de admirar seus seios, que
cresceram aos meus olhos.
— Pare de olhar para os meus
seios, droga! — rosnou ela,
irritadíssima. Eu riria, se não soubesse o
quão chateada ela estava. Ergui as mãos,
num pedido silencioso de paz. — Você
não me vê dessa forma, porque sou
apenas uma amiga, hun? Não foi isso
que você disse a sua mãe? Que eu sou
apenas uma amiga?
Minha mente deu um estalo.
Droga!
— Giovanna, você não
entendeu...
Calei-me quando sua mão se
ergueu na minha frente.
— Não estou pedindo
explicações — sibilou entre dentes. —
Eu me afastei apenas para colocar os
pensamentos em ordem, mas está tudo
bem. Eu vou ficar bem.
Odiei quando ela virou as costas
para mim.
Irritado, segurei-a pelo braço e a
arrastei para a porta do banheiro,
poucos metros a nossa frente.
— Ei! — reclamou ela, piscando
freneticamente. Chaveei a porta. — Mas
o que você...
Cobri seus lábios com meus
dedos.
— Shiii... — pedi, sentindo
meus batimentos cardíacos acelerados
— Agora eu vou falar, e você vai ouvir.
Assentiu, nervosa.
Respirei fundo e, em seguida, me
afastei um pouco para conseguir
raciocinar.
— Nos conhecemos a pouco
mais de três meses — comecei. — Ao
seu lado, eu tenho vivido momentos
únicos, e você se tornou imprescindível
para minha felicidade. Você demonstrou
que é capaz de ultrapassar qualquer
obstáculo que surja em sua vida, e isso
me enche de orgulho. Minha admiração
por você cresce a um ritmo alucinante e
sinto que você merece o melhor de mim
para que seu sorriso jamais se esgote.
— Lo...
Não deixei que ela me
interrompesse.
— Não existem palavras
suficientes para que eu consiga
descrever o verdadeiro significado que
você tem para mim, Giovanna.
— O-o que isso quer dizer? —
Seu tom parecia ansioso.
Aproximei-me dela, acariciando
seus cabelos.
— Quer dizer que eu estou
apaixonado por você, pedaço do céu —
confessei, fazendo-a chorar. — O
motivo de tê-la apresentado como amiga
foi apenas porque não havíamos
conversado a respeito dos nossos
sentimentos, e eu não quis fazer nada
que pudesse deixá-la desconfortável na
frente dos meus familiares — expliquei,
amparando seu rosto com minhas mãos e
enxugando o resquício de lágrimas. —
Gostaria muito que você soubesse o que
realmente sinto por você. Queria que
você conhecesse toda a vastidão de
emoções que desperta no meu coração.
É um sentimento tão grande, Giovanna...
— parei de falar, buscando fôlego —
Mas saiba que todos os dias, eu vou
demonstrar todo o amor que, por você,
arde em meu coração. Espero conseguir
realizar essa tarefa, e que todos os dias
você se sinta como uma rainha. — Levei
uma mecha dos seus cabelos para trás da
sua orelha. — Jamais duvide da sua
importância, de que é a pessoa mais
especial para mim! Não há no Universo,
vida que eu preze mais do que a sua, e
não houve jamais amor tão grande e
eterno como o meu por você. Eu te amo.
Emocionada, ela me apertou
contra si, reivindicando meus lábios
num beijo repleto de sentimentos.
— Sou feliz! Você existe e eu
sou feliz — soprou, chorosa. — E o
melhor é que eu existo no seu coração
também. Como é possível amar e ser
amada pelo homem mais encantador do
mundo?
— Jamais vou cansar de cuidar
de nós dois — prometi, tomado pela
emoção também.
— Sou apaixonada por você,
meu amor! Que a eternidade se lembre
de nós.
Sorrimos um para o outro,
completamente cientes do sentimento
intenso e sublime que nos cobria.
Ali, eu soube... por aquela
mulher, eu lutaria até o meu último
suspiro.
Capítulo 14
Giovanna

Meu relacionamento com


Lorenzo se fortificou. Depois que
confessamos nossos sentimentos, um
leque se abriu.
Um leque de planos e sonhos.
A vida estava me dando uma
nova oportunidade de ser feliz.
Conhecer a família dele, um mês
atrás, me deixou encantada, embora a
visita houvesse sido rápida. Notei que
todos eram muito orgulhosos do
Lorenzo, e isso me emocionou. Era
agradável conhecer pessoas que
priorizavam os entes queridos acima de
tudo.
Os dias que se seguiram foram
muito importantes, pois me aproximou
um pouco mais do meu filho. Com as
constantes visitas, eu vinha ganhando a
confiança dele cada vez mais. Brandon
era um menino muito inteligente e gentil.
Eu não poderia ser hipócrita e negar que
Jason fez um excelente trabalho com a
educação dele, porque ele fez.
Meu celular vibrou, sobre a
mesa, e um sorriso enorme tomou conta
dos meus lábios.
Era uma mensagem do Lorenzo.

Lorenzo: — Não vou conseguir


sair daqui a tempo para almoçar com
você. Mas nos veremos mais tarde,
pedaço do céu. Eu te amo.

Meus olhos se iluminaram. Cada


vez que ele dizia que me amava, eu
sentia um calorzinho gostoso no meu
peito.
Mandei uma resposta rápida e,
em seguida, me preparei para sair.
Frank estava a postos quando saí
pela porta.
Cheguei a ter uma conversa com
o Lorenzo sobre aquela preocupação
exagerada em relação a minha
segurança, mas ele foi enfático nesse
quesito.
Entendi que a tranquilidade que
ele tinha em sair e me deixar no
escritório era por causa daquele
homenzarrão na minha frente, então não
reclamei mais. Na verdade até aprendi a
gostar do Frank.
Descemos, conversando
amenidades, apesar de ele ser um
homem de poucas palavras.
Verifiquei o horário pelo meu
relógio de pulso e fiz um bico
desgostoso ao me lembrar de que teria
que almoçar sozinha.
Aproveitei o pouco movimento
do restaurante na frente do prédio, e
decidi que comeria ali mesmo. Seria
mais rápido até para voltar ao escritório
e, eu não perderia tempo com o trânsito.
Atravessei a avenida, cuidadosa
com qualquer carro suspeito. Frank me
acompanhava de longe, sempre atento a
tudo e todos ao nosso redor.
Entrei no restaurante e,
rapidamente, escolhi uma mesa.
Enquanto estava folheando o
cardápio, alguém se sentou num dos
lugares vagos da minha mesa.
Ergui os olhos, arqueando as
sobrancelhas para meu acompanhante
inoportuno.
— Jason? O que está fazendo
aqui?
Ele se ajeitou, arrancando o
paletó e o posicionando no encosto da
cadeira.
— Eu estava sentado lá atrás,
mas vi quando você entrou. E sozinha...
— alfinetou. — Você e Lorenzo
brigaram?
Abaixei o cardápio para poder
olhá-lo melhor, inconformada com sua
cara de pau.
— É séria essa pergunta?
— Eu só estava curioso, oras. —
Deu de ombros, disfarçando.
— Qual é a sua, Jason? —
intimei, bufando e jogando o cardápio
contra a mesa. — Minha vida deixou de
ser problema seu há muito tempo.
Ele baixou os olhos, calado.
— Nosso único elo é o Brandon
— continuei. — Você escolheu assim,
não se lembra?
Notei que seu maxilar travou.
— Você me disse que não tinha
feito aquilo — murmurou.
— E, eu não menti.
— Naquela época, eu me deixei
levar pela cegueira do ódio e posso não
ter dado a devida atenção aos detalhes
— confessou num tom baixo, encarando
meus olhos, atentos. — Aliás, agora
percebo que deixei passar muita coisa,
Giovanna. Não dei o devido valor à
mulher que tinha ao meu lado. Você.
Engoli em seco, nervosa com
suas palavras.
— O que está falando?
Enlouqueceu? — Tentei não
transparecer minhas emoções.
Suas mãos buscaram as minhas,
sobre a mesa.
— Eu acho que fui injusto com
você.
— Você acha? — debochei,
rindo e afastando minhas mãos das suas.
— Você me jogou na cova dos leões,
Jason. Deixou-se enganar por armações
que fizeram contra mim.
— Mas como eu poderia saber,
porra?
— Pergunte a sua mulher —
rosnei, furiosa.
Ele se empertigou.
— A Justine? Por quê? O que
tem ela?
Travei o maxilar, esforçando-me
para não expor toda a minha raiva contra
aquele homem.
— Me diz uma coisa, Jason... —
inclinei-me, encarando-o como a uma
águia. — Quanto tempo se passou,
depois que fui presa, até que Justine
desse em cima de você?
Ele franziu o cenho, sem
entender.
— Por que isso importa? Eu sou
homem, Giovanna — defendeu-se
ridiculamente.
Fechei as mãos em punhos.
— Importa, porque foi essa
mulher que fodeu a minha vida —
declarei, fazendo com que ele
arregalasse os olhos. — Foi essa mulher
que você colocou para criar o meu filho,
Jason.
O garçom se aproximou da mesa
e, eu me calei.
— Boa tarde — saudou-nos,
educadamente. — Estão prontos para
fazer o pedido?
— Meu amigo aqui já está de
saída. — Apontei, torcendo para que
Jason fosse embora.
— Eu estou? — perguntou ele,
cínico. Jogando-se contra o encosto, ele
me olhou e, em seguida, encarou o
garçom. — Farei meu pedido agora.
— Ok! — Me levantei. — Bom
almoço pra você.
Jason se desesperou, porque não
esperava por aquela reação.
— Giovanna, por favor,
querida...
Voltei-me para ele, apontando o
indicador.
— Eu não sou mais a sua
querida, Jason — rosnei, ignorando as
pessoas ao nosso redor. — Seja o que
for que estiver passando pela sua
cabeça, esqueça! Você teve três anos
para investigar, mas preferiu me
esquecer naquela maldita cela de prisão.
Agora, pouco me importa se você está
se deparando com as dúvidas do que
realmente aconteceu lá atrás. Enfrente o
peso da culpa, mas faça isso sozinho,
porque eu não estou mais disponível.
Estou apaixonada pelo Lorenzo, e
mesmo se não tivesse ele na minha vida,
você nunca mais seria uma opção para
mim. Nunca mais!
Terminei de falar e virei às
costas, sentindo todo o meu corpo
tremer.
— A senhora está bem? — Frank
quis saber, assim que deixei o
estabelecimento.
— Estou — confirmei. — Estou
muito bem.

∞∞∞
Mais tarde, naquele mesmo dia,
Lorenzo e eu nos preparávamos para
deitar. Sentia-me inquieta, porque não
queria dormir sem contar o que tinha
acontecido mais cedo.
— Lo...?
Ele estava tirando as roupas,
pois geralmente dormia apenas de
cueca.
— Vai me contar?
Franzi a testa, confusa.
— Contar o quê? — perguntei.
— O que está te incomodando —
respondeu. — Notei isso desde o
momento que voltei ao escritório, à
tarde.
Soltei um sorrisinho, enquanto
sacudia a cabeça. Às vezes, eu me
esquecia da facilidade que ele tinha para
me ler. Lorenzo era muito perspicaz.
Bati com a mão ao meu lado, no
colchão.
Assim que ele se sentou, eu
puxei seu rosto contra o meu, beijando
seus lábios com amor.
— Eu sou louca por você, viu?
— soprei. — Demais.
— Ok... que merda você fez? —
zombou, fazendo-me rir.
— Palhaço! — exclamei,
beliscando-o. — Eu não fiz nada, oras.
Rimos um para o outro.
De repente, respirei fundo.
Peguei sua mão e prendi entre as minhas.
— Jason apareceu no restaurante
em que eu estava, mais cedo.
Seu corpo se tornou tenso na
mesma ora.
— O que ele queria? — quis
saber, sombrio.
Balancei a cabeça.
— Eu não sei — respondi. —
Ele começou a dizer que sentia muito
por ter duvidado de mim no passado,
que deveria ter ficado do meu lado... —
suspirei, baixando os olhos. — Acho
que ele está começando a perceber que
cometeu um erro.
— E isso significa que ele
pretende consertar esse erro... que, por
sua vez, significa reconquistar você. —
Lorenzo concluiu, fazendo-me encarar
seu olhar intenso.
— Não há a mais remota chance
de isso acontecer, Lo — garanti,
segurando seu rosto. — Sou apaixonada
por você e não abro mão do que temos.
Fechei os olhos no instante em
que seus dedos deslizaram para minha
nuca, embrenhando-se entre os fios
soltos do meu cabelo.
— Repete — pediu num sussurro
sensual.
Abri os olhos, acariciando seu
rosto também.
— Sou apaixonada por você.
Apenas por você, meu amor.
Mal terminei de falar, e ele
avançou com sua boca na minha. O beijo
foi arrebatador.
Não havia dúvidas entre nós
dois.
Os sentimentos e as emoções
falavam por si só.
Longos minutos depois e, de
muitas carícias, eu me ajeitei sobre o
peitoral desnudo. A respiração de
Lorenzo estava calma e ritmada.
— Você quer que eu ajude o
Jason a reerguer a JK? — perguntou ele,
de repente, quebrando o silêncio
confortável.
Mordi os lábios, pensativa.
Jason podia ter sido um cretino
comigo lá atrás, mas ainda continuava
sendo o pai do meu filho.
— Eu quero — respondi no fim,
apertando-o um pouco mais.
— Tudo bem — disse ele,
beijando minha cabeça. — Farei isso
por você, pedaço do céu.
O carinho em meus cabelos me
fez adormecer tão rápido que quando
percebi estava perdida no mundo dos
sonhos.
Capítulo 15
Lorenzo

Os dias que se sucederam a


nossa ida a Madrid foram maravilhosos,
porque minha relação com a Giovanna
se intensificou ainda mais. Confessar
nossos sentimentos apenas nos tornou
mais unidos e fortes.
Em todo o meu histórico
amoroso, eu jamais me senti tão
conectado com alguém como me sentia
com ela. Aquela mulher me tinha nas
mãos sem qualquer esforço, bastava
olhar para mim e, eu já me via rendido.
No começo, eu me assustei,
porque não gostava de perder o controle
das minhas emoções. Tudo na minha
vida precisava estar num ritmo certo.
Não podia haver mudanças.
Entretanto, Giovanna chegou
derrubando todas as minhas barreiras e
me fazendo sair da zona de conforto. Sua
personalidade incrível me encantou
sobremaneira que desejei fazer parte da
sua vida antes mesmo de descobrir que
estava apaixonado.
Dispersei meus pensamentos
assim que ouvi uma batidinha na minha
porta.
— O seu primo está aqui. —
Giovanna avisou.
— Ah, sim! Por favor, peça para
ele entrar.
Assentindo, ela deixou a porta
da minha sala aberta. Em seguida,
Felipe entrou, sorridente e libertino
como sempre foi.
Saí de trás da minha mesa e fui
ao seu encontro, cumprimentando-o com
um abraço apertado.
— Eu pensei que ficaria na
minha casa, primo — comentei. —
Chegou quando?
— Não quis incomodar —
murmurou, sentando-se em uma das
cadeiras. Fiz o mesmo, voltando para
trás da minha mesa. — Gosto da minha
liberdade, você sabe. — Piscou, sacana.
— Cheguei ontem e já fui dar uma
conferida na mulherada Novaiorquina.
Sacudi a cabeça, rindo.
Felipe sempre foi o contrário de
mim. Mais extrovertido. Mais
mulherengo.
— E então? Já decidiu o que
pretende? — indaguei.
Dias atrás, ele tinha me enviado
todas as informações por e-mail. A ideia
era abrir uma Clínica médica voltada
para a área em que ele havia se
formado, Cardiologia.
— Trouxe toda a papelada aqui
para você ver. — Espalhou sobre minha
mesa. — Se você topar me agenciar, eu
já posso começar a me preocupar em
encontrar o local ideal, montar minha
equipe de funcionários e outros
profissionais. Toda essa parte
burocrática.
Inclinei-me, analisando os
papéis.
— Por que aqui, Felipe? —
indaguei. — Cansou de Madrid?
— Nova York me chama, primo.
— Riu.
— Sei. — Sacudi a cabeça,
rindo também. — Então vamos fazer dar
certo.
Animado, ele esfregou as mãos,
se levantando e arrastando a cadeira
para o meu lado.

∞∞∞
O dia seguinte foi reservado
para passar com Giovanna e Brandon,
considerando que era dia de visita e, eu
geralmente não tinha oportunidade para
estar junto. Não me sentia confortável
em saber que Jason se apoderava desse
momento. A correria do meu trabalho
não me permitia frear, entretanto, meu
sexto sentido soava um alerta
constantemente... Jason tinha planos. Ele
queria a Giovanna de volta.
Mas eu não permitiria.
Ela era minha.
— Ele chegou! — exclamou
Giovanna, saindo em disparada para a
porta, depois de ouvirmos o som da
campainha.
Fui atrás dela.
— Oi, meu amor! — Tirou o
menino dos braços do Jason, que não
parava de admirá-la. — Sentiu saudades
da mamãe?
Aproximei-me, sorrateiro.
— Final do dia, nós o
deixaremos na sua casa, Jason —
murmurei, fazendo-o me encarar. Eu
sabia que ele não esperava me ver ali,
considerando que eram raras as vezes
em que os horários batiam.
Giovanna se afastou, rindo e
conversando com o filho, totalmente
alheia ao clima tenso.
— Finalmente conseguiu espaço
na agenda para poder participar da
visita? — alfinetou, ainda na porta. —
Não te incomoda o fato de se envolver
com uma mulher que tenha filho com
outro homem? — A pergunta foi feita
num tom baixo, obviamente para que a
Giovanna não ouvisse tamanha cretinice.
— Não. Ao contrário de você,
que visa o superficial, eu enxergo o
conteúdo — respondi. — Eu me
apaixonei pela pessoa que a Giovanna é,
Jason. O pacote que a acompanha é
lucro.
Notei que seu maxilar trincou, e
sem mais nada dizer, simplesmente,
virou às costas e foi embora.
Fechei a porta e procurei
Giovanna pela casa. Encontrei os dois
no quartinho do Brandon; eles estavam
brincando de montar peças.
— Vamos dar uma volta? —
convidei, me recostando no arco da
porta. Meus olhos se iluminavam cada
vez que via os dois juntos. Sentia-me
muito sortudo por ter ganhado presentes
tão lindos.
— O que está aprontando? —
Ela perguntou, sorrindo.
— É surpresa — falei, cheio de
mistérios.

∞∞∞
— Juro que nunca imaginei você
realizando um picnic, Lo — disse
Giovanna, sentando-se na toalha que
estendi sobre o gramado verde.
— Poucas coisas simples da
vida são tão gostosas quanto sentar-se à
sombra num parque para relaxar, ler um
livro e comer comidinhas gostosas —
comentei, me ajeitando no lado oposto,
deixando Brandon entre nós.
Nova York é uma cidade cheia
de parques, porém o Central Park é, sem
dúvidas, o lugar mais famoso — e
também com mais área disponível. Optei
por levá-los a um dos melhores spots
para picnic, o Sheep Meadow.
— Você preparou tudo isso
escondido de mim. — Não foi uma
pergunta. Giovanna se surpreendeu
quando abriu a cesta e viu a variedade
de comida. No geral, comidas fáceis e
que não estragavam facilmente. Vi que
ela ofereceu um Cupcake ao Brandon,
que não parava de brincar com as
chaves do carro.
— Gosto de surpreendê-la,
pedaço do céu — confessei, fazendo-a
sorrir. — O local... — apontei —, as
pessoas... nada importa para mim.
Apenas vocês dois.
Melindrosa, ela puxou minha
cabeça mais perto e reivindicou meus
lábios para si.
— Amo você cada dia mais, meu
amor — sussurrou. — Sou muito feliz
por tê-lo na minha vida.
Ouvir aquela declaração fez meu
coração aquecer.
Aquele era o cenário que sempre
idealizei.
Uma família para cuidar e amar.
Capítulo 16
Giovanna

Estava perto do horário de


almoço quando recebi uma ligação do
Lorenzo, que me pediu para encontrar
com ele num restaurante longe do
escritório. Os últimos dias vinham
sendo bem corridos para nós, porque as
negociações estavam mais intensas.
Lorenzo era um empresário bem
requisitado, contudo sempre se
esforçava para estar comigo a cada
oportunidade do dia.
Levantei, peguei minha bolsa, as
chaves e, em seguida, fui até a porta.
— Hora do almoço, Frank —
murmurei, sorrindo para o
homenzarrão. Raramente, ele sorria de
volta.
Juntos, descemos o elevador,
enquanto eu puxava assunto, mesmo
sabendo que Frank era sério demais
quando estava em expediente. Sua
prioridade era minha segurança e não
papo furado.
Assim que saímos do prédio, eu
avistei meu carro. Lorenzo tinha me
presenteado com ele há poucas semanas.
Obviamente que não quis aceitar, mas a
teimosia do meu homem era irritante
demais, então desisti.
Estava chacoalhando a chave
quando, por um descuido, eu a deixei
cair no chão. Assim que me abaixei para
pegá-la, um barulho chamou minha
atenção. Passos firmes se aproximaram;
o som irritante de um salto alto batendo
contra o chão.
Levantei-me, mirando a mulher
que parou na minha frente. A soberba
não a havia abandonado, embora ela
estivesse se esforçando para não
transparecer.
— Giovanna — murmurou.
— Justine. — Entornei os lábios
ao pronunciar seu nome.
— Podemos conversar? —
perguntou, usando um tom manso.
Cruzei os braços, chocada com
sua coragem.
— Não temos nada para
conversar, Justine — rosnei. — A não
ser que queira me explicar o motivo de
ter trocado minha amizade pela
oportunidade de se casar com meu ex.
Ela se calou, trincando o
maxilar.
Justine era uma bela mulher, e os
anos apenas a proporcionaram uma
beleza ainda maior.
— É exatamente por isso que
quero conversar com você, Gio —
insistiu, usando o apelido de
antigamente. — Eu quero te explicar o
que aconteceu.
Dei risada.
— Não preciso de explicações
para o óbvio, Justine — falei,
sarcástica. — Você abriu as pernas ao
Jason, porque quis. Aliás, ambas
sabemos que essa sempre foi sua
intenção desde o início.
— Eu...
Cortei suas palavras:
— Mas fica tranquila, porque eu
entendo você, sabe? Jason é um homem
extremamente sedutor e persuasivo. —
Pisquei, marota.
Tentei passar por ela, mas uma
de suas mãos se fechou no meu braço,
quase agressivamente.
— Me solta — sibilei entre
dentes.
— Eu tentei lutar por você, mas
na época, Jason estava irredutível,
minha amiga — declarou, falsa. —
Sempre acreditei na sua inocência,
porém era difícil lutar sozinha. Eu juro
que quis te ajudar, mas como faria isso
sem o apoio de alguém?
Raiva invadiu meus poros
naquele momento.
— Deixando de oferecer a
boceta para o Jason, por exemplo —
vociferei, soltando meu braço do seu
aperto.
— Está tudo bem por aqui,
senhora? — Frank perguntou, mostrando
que estava atento. Eu apenas assenti.
Justine se empertigou, afastando-
se. Pareceu intimidada com a presença
do segurança.
— Tenho raiva de mim mesma
por ter sido tão inocente ao ponto de ter
acreditado que você era minha amiga,
Justine — confessei. — Porque na
verdade, eu tinha uma cobra venenosa
ao meu lado.
— Isso não é verdade. — Tentou
me fazer acreditar.
— Pare de falar, porque suas
mentiras estão me dando asco!
Fui até o carro, deixando-a para
trás.
— Você está enganada, Gio, eu...
Voltei-me para ela, que piscou
quando viu meu semblante furioso.
Apontei o dedo contra seu rosto
pesado de maquiagem.
— Eu aguentei seus ataques
contra mim, Justine — declarei,
fazendo-a arregalar os olhos, assustada
por chegar a conclusão que eu sabia de
tudo. — Mas ai de você se tocar num só
fio de cabelo no meu filho, está
entendendo? Eu sou capaz de matá-la
com minhas próprias mãos.
Dizendo isso, eu me virei e
entrei no carro. Frank tomou a direção, o
que agradeci, porque meu nervosismo
não me permitiria dirigir corretamente e
com cuidado.

∞∞∞
Apesar da visita impertinente da
Justine, o dia transcorreu sem mais
nenhum incômodo. Terminei meu
expediente e fui embora. Lorenzo ficou
preso no trânsito, mas já estava a
caminho de casa também.
Mais cedo, durante nosso
almoço, eu contei a ele sobre a conversa
com a Justine, porque não queria que ele
viesse a descobrir de maneira errada.
Lorenzo e eu estávamos vivendo um
sentimento tão especial que, eu temia
perdê-lo. Temia ficar sem ele.
Soltando um suspiro, eu entrei
em nosso apartamento. Deixei as chaves
e a bolsa em cima do aparador — ao
lado da porta — e segui na direção da
cozinha. Preparei o pó na Cafeteira e
coloquei-a para funcionar. Prestes a ir
ao quarto a fim de tomar um banho,
escutei a campainha tocando.
Certamente não era o Lorenzo, pois
obviamente ele tinha a chave.
Mesmo estranhando, eu fui até a
porta, mas espiei através do olho
mágico. Suspirei de modo frustrado
quando reconheci o Jason no lado de
fora.
— O que quer aqui? —
questionei, depois de abrir a porta, mas
sem a intenção de deixá-lo entrar. —
Quantas vezes, eu preciso te dizer que,
se o assunto não é referente ao Brandon,
não me interessa, Jason?
Ele suspirou, angustiado.
— Mas nós precisamos
conversar, Giovanna — insistiu. — Pare
de fingir que não temos mais nada.
— Mas nós não temos mais
nada! — exclamei, tediosa.
— Giovanna, eu já entendi que
você está me punindo — disse. — E, eu
entendo isso, é sério! Entendo que fui
um idiota. Entendo que demorei a
investigar. Entendo que deveria ter
ficado do seu lado, querida. Mas ainda é
tempo de voltar atrás e corrigir os erros.
Franzi o cenho, confusa.
— Do que está falando?
Num movimento súbito, ele
enroscou um braço em minha cintura.
— Estou dizendo que quero você
de volta, querida — respondeu,
respirando perto da minha boca. —
Casar com a Justine foi um erro, porque
nunca me esqueci de você. Você foi a
única mulher que amei.
Os batimentos do meu coração
se tornaram ensurdecedores e, eu me vi
em transe. Seu nariz se arrastou pelo
meu rosto, inspirando meu cheiro como
a um viciado.
— Senti sua falta em todos esses
anos — persistiu. — Mas apesar disso,
fui um imbecil por não ter lhe dado o
benefício da dúvida. Sei disso agora.
— Descobriu a verdade? —
Minha voz soou num murmúrio,
enquanto ainda me via presa nos braços
dele.
— Descobri que a empresa que
fez a vistoria foi alvo de um escândalo
há alguns meses — respondeu. —
Conversei com uns contatos, e eles me
disseram que muita coisa vazou,
inclusive que a empresa em questão
recebia por fora para forjar informações
falsas e, ou ignorar as verdadeiras. —
explicou. — Ainda não sei quem estava
por trás da armação contra você nem o
motivo para tê-lo feito, mas vou
descobrir — garantiu, sério.
O rosto se escondeu na dobra do
meu pescoço.
— Prometo que vou descobrir
quem tentou nos separar, meu amor...
Meu corpo todo parecia
anestesiado, mas ainda tive forças para
empurrá-lo.
— Por acaso você está se
ouvindo? — indaguei, chocada. —
Consegue perceber toda a loucura das
suas palavras?
Ele piscou, confuso.
— Não precisa continuar
fingindo, Giovanna — concluiu. —
Estamos sozinhos aqui. Eu sei que você
também nunca me esqueceu. — Voltou a
me puxar para ele, mas dessa vez,
avançou sua boca na minha.
Foi tudo tão rápido que sequer
tive tempo para raciocinar.
O beijo foi inesperado, mas o
alerta do meu subconsciente não. Eu não
queria aquilo.
Meu corpo também não queria
aquele toque.
— ME SOLTA! — berrei, me
debatendo até que ele se afastasse de
mim. Trêmula, fui até a porta. — Saia
daqui, Jason. Por favor, só... saia.
Eu podia ouvir o barulho da sua
respiração ofegante quando ele se
aproximou.
— Não pense que vou desistir de
você — murmurou como uma promessa.
Assim que ele saiu, eu bati a
porta com força. O choro se libertou,
deixando-me sufocada.
Tudo o que minha mente
conseguia pensar era no medo que eu
tinha de perder o Lorenzo.
Não podia perdê-lo.
Capítulo 17
Lorenzo

Depois que almocei com a


Giovanna, eu me concentrei em finalizar
o que tinha iniciado de manhã e, em
seguida, fui me encontrar com o
especialista que contratei para analisar a
papelada da situação da empresa JK.
Tentei não me preocupar com o fato de a
Justine ter procurado a Giovanna, mas
era inevitável. Nada tirava da minha
cabeça que aquela mulher era perigosa.
— Boa tarde, Edward. —
Cumprimentei, estendendo minha mão,
enquanto tomava um dos assentos em
frente a sua mesa.
— Boa tarde, Lorenzo.
— E então? Tem alguma coisa
pra mim? — perguntei, ansioso.
Sério, o homem me mostrou
alguns documentos.
— Está vendo esse gráfico aqui?
— Assenti. — Mostra a real situação da
JK — explicou. — Mas não por má
administração do Jason. Incompetência,
talvez... — acrescentou, dando de
ombros — A verdade é que teve boas
retiradas de dinheiro em vários meses,
durante os últimos três anos. — Ele
voltou a me mostrar os indícios. — A
fraude foi muito bem feita, porque
passou despercebida. Das duas opções,
uma. Ou essa pessoa tinha as costas
quentes com alguém de cima, ou foi
sorte mesmo.
Trinquei o maxilar, assentindo e
absorvendo suas palavras.
— Você está pensando em
investir? — quis saber. Olhei para ele,
que soltou um suspiro. — Será preciso
avaliar os funcionários de perto,
Lorenzo. Ou os desvios continuarão.
— Entendi. — Me levantei,
estendendo uma das mãos. — Obrigado,
Edward.
Conversamos mais um pouco e,
em seguida, saí de lá.
Novamente no carro, rumei para
a JK. Precisava ter uma conversa séria
com o Jason.
∞∞∞
O trajeto foi rápido, apesar do
trânsito caótico.
Passei pelo hall da empresa,
rapidamente, porém sem deixar de
cumprimentar quem me saudava com um
sorriso nos lábios. Peguei o elevador
que, poucos minutos depois, me deixou
no andar em que ficava a sala do Jason.
A surpresa nos olhos da Justine
não me passou despercebida.
— Boa tarde! — exclamou,
sorridente.
— Quero falar com o Jason. —
Fui direto ao ponto.
Vi que ela pareceu sem graça.
— Infelizmente ele não está —
disse, enrolando as mãos. — Saiu há
alguns minutos — explicou.
Travei o maxilar, irritado com
aquele detalhe.
— É engraçada a falta de
preocupação dele com a situação crítica
da empresa, hun? — zombei. — Será
que preciso marcar horário com ele para
oferecer o meu dinheiro?
Nervosa, ela se empertigou.
— Só um instante... — pediu —
Vou ligar para ele.
— Não! — exclamei,
impaciente. — Voltarei aqui amanhã.
Dizendo isso, eu virei às costas
para ir embora, mas parei assim que me
lembrei de algo importante. Girei os
calcanhares, encarando a loira
exuberante de perto.
— O que pretendia quando foi
procurar a Giovanna?
Vi que sua testa ganhou pequenos
vincos.
— Ela te contou? — Havia
ironia em seu tom de voz.
Sorri de lado.
— Não há mentiras e nem
omissões entre nós dois, querida.
Deveria experimentar isso com o seu
marido — alfinetei. — A sensação é
revigorante.
A expressão da loira se tornou
carrancuda.
— Você não me conhece —
sibilou.
— Aí é que você se engana. —
Apontei. — Tipos como você são
facilmente identificáveis, Justine.
Mulher interesseira com o foco em
dinheiro, posição social, cargo
profissional de determinada empresa,
influência com determinados grupos, um
bom carro, casa própria... — me calei
por um instante, olhando para os olhos
dela. — Mas quer saber o que todas
essas características têm em comum?
Todas são características de homens
vencedores, ou seja, de homens alfa. —
Ela engoliu em seco. — Há três anos,
você se candidatou para o cargo de
Assistente pessoal do grande Jason
Keene, hun? Mas perdeu a vaga para a
Giovanna, que se mostrou mais
capacitada.
— Onde você está querendo
chegar?
Sacudi a cabeça, rindo.
— No momento? — questionei.
— Apenas na parte em que eu exijo que
você fique longe da Giovanna e você
concorda.
Seu maxilar trincou, enquanto ela
assentia. Ficou nítido para mim o quanto
ela estava contrariada.
— Por favor, avise ao Jason que
amanhã estarei aqui.
Não esperei por resposta e
apenas segui na direção do elevador.
Sentia-me cansado física e
psicologicamente. Precisava
urgentemente dos carinhos da minha
garota para me sentir melhor.
∞∞∞
Beirava às dezoito horas quando
estacionei na minha vaga no prédio em
que morava. Minha mente estava
confusa, porque tive a impressão de ter
visto a silhueta do Jason quando passei
pela fachada.
Peguei minha pasta e segui para
o elevador, ansioso para rever meu
pedaço do céu.
Minutos mais tarde, usei minha
chave para abrir a porta do apartamento,
porém levei um susto quando me deparei
com Giovanna, parada.
— O que houve? — perguntei,
preocupado com seu semblante
atormentado. Fechei a porta. — Você
chorou?
Tentei me aproximar dela, mas a
mesma se afastou antes que eu pudesse
chegar mais perto.
— Eu tenho algo para te contar
— sussurrou, incomodada.
— Ok — falei, depositando
minhas coisas em cima do aparador.
Tirei meu paletó e, em seguida, afrouxei
minha gravata.
Fomos até a sala.
— Eu poderia esconder de você,
mas não consigo — disse ela. — Não é
justo, uma vez que, prometemos
honestidade um ao outro.
Eu queria me aproximar, mas
Giovanna impôs uma distância
considerável entre nós.
— O que está tentando me dizer,
Giovanna? — perguntei, nervoso com
aquela tensão.
— Jason esteve aqui — contou,
fazendo meu maxilar trincar.
— E? — Engasguei,
amedrontado com o que ela pudesse
dizer.
— Ele me beijou — confessou.
Um misto de emoções me abateu
na mesma hora. Levantei-me, sentindo a
fúria evaporando dos meus poros.
— Entendi — rosnei. — É por
isso que sequer deixou eu me aproximar
de você quando cheguei. — Não foi uma
pergunta. — Você ainda sente algo por
ele, e o beijo apenas serviu para deixar
isso claro.
— Não! — gritou ela,
desesperada. Nossos olhares se
chocaram e, percebi que seu rosto
estava molhado pelas lágrimas. — Isso
não tem nada a ver com o que sinto pelo
Jason, mas pelo o que sinto por você,
Lorenzo. — Franzi o cenho, confuso. —
Eu não aceitei o beijo — confessou,
chorando. — Mas isso não me isenta da
culpa de ter sido ingênua ao ponto de tê-
lo deixado me beijar. Agora estou me
sentindo suja, porque você não merece
isso, entende? Eu amo você, Lorenzo.
Amo tanto que não estou sabendo lidar
com o que aconteceu.
Com o coração aos pulos, eu me
aproximei dela, puxando-a contra meus
braços. O rosto molhado se aconchegou
ao meu peito, enquanto os braços
enrolavam-se na minha cintura. Os
soluços faziam seu frágil corpo
chacoalhar.
— Eu juro que não quis aquele
beijo, Lo... eu juro... me desculpa, por
favor, me desculpa.
Beijei sua cabeça diversas
vezes, conforme a ninava como a um
bebê.
— Está tudo bem, meu amor —
murmurei, emocionado. — Não se
preocupe mais...
De repente, ela afastou a cabeça
para poder encarar meus olhos.
— Eu não podia, simplesmente,
ignorar e agir como se nada tivesse
acontecido, entende? Você precisava
saber. — A sinceridade estava em cada
uma das suas palavras. — Eu o amo
demais para perdê-lo.
Sorri, acariciando seu rosto e me
deleitando com sua receptividade. Os
olhos fechados, aninhando o rosto em
minhas mãos.
De repente, toquei nossos lábios,
soltando minha língua para fora de modo
a enroscá-la com a sua, dentro da sua
boca.
— Pronto... — finalizei o beijo
com vários selinhos — Agora é apenas
o meu gosto no seu paladar.
Um sorriso lindo se apossou dos
seus lábios.
— Hmmm... Além de protetor,
você é possessivo também? —
questionou, divertida.
— Por você e Brandon, eu sou
isso e muito mais — declarei com
intensidade. — O mundo pode estar
ruindo, mas se estivermos juntos, sei que
tudo ficará bem.
Os lindos olhos azuis voltaram a
umedecer.
— Eu também penso assim —
soprou contra meus lábios semiabertos.
— Obrigada por me amar e cuidar de
mim.
— Sempre.
Unimos nossos lábios outra vez,
completamente perdidos em nossos
sentimentos e emoções.
Capítulo 18
Lorenzo

Minha noite foi atormentada, já


que tive meu sono privado.
Privado pela raiva.
Privado pelo ciúme.
Sequer esperei o dia amanhecer
e saí da cama, deixando Giovanna
adormecida entre os lençóis.
Estávamos bem, apesar das
circunstâncias. Eu sabia que ela não
tinha culpa das loucuras do Jason.
Minha garota apenas queria estar perto
do filho.
Passei a noite em claro,
observando-a dormir. Nunca tinha me
apaixonado antes, então era estranho
lidar com tantas emoções diferentes. Eu
queria conseguir ignorar aquela
sensação ruim; aquele desejo de quebrar
alguma coisa...
Mas não dava.
Eu precisava reagir.
Deixei a Cafeteira ligada e, em
seguida, saí de casa.
O trânsito de Nova York era
intenso em qualquer horário, o que
serviu apenas para aumentar minha
irritação. Meu maxilar estava dolorido
devido à força com que pressionava os
dentes.
Estacionei meu carro assim que
cheguei ao destino.
Meus punhos abriam e fechavam,
enquanto buscava controlar a
respiração.
Passei pelo hall, porém ao
contrário do dia anterior, eu ignorei
todas as saudações. Não estava com
paciência para ser cordial e educado
com ninguém.
Entrei no elevador, contando os
segundos para chegar onde eu estava
ansiando com todas as forças desde o
momento que Giovanna me contou sobre
o beijo roubado.
Meus batimentos cardíacos
estavam ensurdecedores quando cheguei
ao andar desejado.
Marchei feito um touro
enjaulado, sentindo a fúria tomando
forma própria. Não pensei. Não ouvi
mais nada.
Apenas segui meus instintos.
— Chegou cedo, senhor Lorenzo.
— A loira exuberante se levantou para
me receber. — Só um instante que vou
avisar ao Jason que você está aqui.
— Não se incomode, querida,
porque o que tenho para conversar com
ele será rápido.
Dizendo isso, eu apenas rumei
até a porta da sala e a abri com
agressividade.
Jason se assustou, quando me viu
ali. Meus olhos estavam nublados de
pura ira.
— Lorenzo? — Havia surpresa
em seu olhar. — Eu não sabia que
você...
Não o deixei terminar de falar,
pois meu punho se chocou contra seu
rosto, fazendo-o cair no chão.
— OH, MEU DEUS! — Justine
gritou, apavorada.
— Quem você pensa que é para
procurá-la? — Fui até ele e o ergui pelo
colarinho, apenas para socá-lo outra
vez. — Você a abandonou no momento
em que ela mais precisou, seu
desgraçado!
Outro soco.
— O que pensou, hum? Que
Giovanna correria para seus braços
como uma cadelinha? — vociferei.
Voltei a agredi-lo. — FALA, PORRA!
— Eu vou chamar a segurança.
— Justine murmurou, nervosa.
— Isso, chama — rosnei. —
Mas antes, não quer saber o motivo da
minha explosão? — perguntei, sem tirar
os olhos do Jason, que ainda estava no
chão, limpando o rastro de sangue no
canto da boca.
A loira se empertigou, porém
voltou alguns passos. O olhar assustado
deu lugar à desconfiança.
— Do que você está falando?
— Não dê ouvidos a ele, amor
— resmungou Jason. — Ele está
despeitado por não conseguir segurar o
fogo da própria mulher.
Rugi, furioso.
— O único despeitado aqui é
você, seu filho da puta! Que não
consegue aceitar que a Giovanna
encontrou a mim, um homem que a
respeita e a valoriza como ela
verdadeiramente merece — gritei.
Tentei me aproximar dele outra
vez, porém a Justine se atravessou na
minha frente.
— O que significa isso? —
sibilou ela.
— Jason teve no meu
apartamento ontem, e tentou seduzir a
Giovanna — respondi, praticamente,
num rosnado. — Ao que tudo indica, seu
homem anda um pouco... arrependido do
que fez há três anos.
Ira tomou as belas feições
femininas.
— Não é nada disso, amor... —
murmurou ele, parecendo preocupado.
— Ele está mentindo.
A loira piscou, tentando
raciocinar.
Era possível perceber que várias
informações estavam sendo absorvidas
ao mesmo tempo, enquanto ela dava
passos para trás. Mesmo diante das
tentativas do Jason, Justine,
simplesmente, saiu da sala, em silêncio.
Deixei uma risadinha escapar da
minha garganta.
— Está tentando reconquistar a
Giovanna, mas com a preocupação de
manter a sua atual, Jason? — questionei,
enojado. — Quando penso que não pode
piorar, você consegue se superar.
Levantando-se, ele aprumou o
paletó. Os olhos faiscaram nos meus.
— Você não a conhece como eu,
seu idiota — rosnou, soberbo. —
Giovanna chegou até mim no auge das
suas descobertas... — riu com
arrogância — Realmente acredita que
ela está apaixonada por você? Otário!
Trinquei o maxilar, tentando
controlar meus instintos mais selvagens.
Eu ri, sacudindo a cabeça.
— Não acredito — respondi,
fazendo com que um sorriso brotasse
nos lábios dele. — Porque eu sinto —
acrescentei. — Sinto todos os dias e em
cada instante com ela. Quando estamos
juntos, toda a atmosfera ao nosso redor
para e, não existe mais nada... somente
nós dois.
O sorriso debochado de outrora,
sumiu dos seus lábios.
— Pare de tentar reaver o tempo
perdido, Jason, porque você perdeu sua
chance quando a abandonou lá atrás.
Dizendo isso, eu rumei em
direção à porta. Ainda desejava acabar
com a raça do infeliz, mas no fundo, eu
sabia que precisava agir com cautela.
Com frieza.
Minutos depois, eu me vi dentro
do meu carro, buscando respirações
ofegas. Ao verificar o horário no meu
celular, percebi que tinha varias
ligações perdidas da Giovanna.
Fiquei olhando para a tela do
aparelho por algum tempo, mas no fim
decidi que daria um tempo para meus
ânimos se acalmarem. Minha garota não
merecia ser o alvo das minhas
frustrações emocionais.

∞∞∞
Voltei para casa perto das seis
da tarde, depois de ter passado o dia
longe. Não tinha tido a intenção de
ignorar Giovanna nem sua preocupação
comigo, mas não me sentia bem o
suficiente para enfrentá-la.
Assim que abri a porta, me
deparei com aqueles olhos que me
mantinham cativos todas as vezes que
me encaravam. Meu pedaço do céu
estava a minha espera.
Fechei a porta, calmamente.
— Você demorou — disse ela,
usando um tom de voz ameno.
Voltei meus olhos para ela, que
estava um pouco mais perto. O lindo
rosto estava isento de maquiagem,
porém em nada diminuía sua beleza.
— Eu estava fugindo —
confessei, envergonhado. — Me
desculpe.
Um lindo sorriso se apossou dos
lábios carnudos.
— Eu sei — disse ela, dando
mais alguns passos na minha direção.
Fechei os olhos e beijei a palma da sua
mão quando a mesma tocou minha
bochecha.
Angustiado, encarei seus olhos,
enquanto amparava seu rosto com ambas
as mãos.
— Mais cedo, eu fui intimidar o
Jason — declarei. — Não pude me
segurar. Não deu para evitar, Giovanna.
— Rangi os dentes. — O que ele fez
com você lá atrás e agora... A falta de
respeito... Tudo junto! — Suspirei —
Só... não deu.
Ela sorriu para mim. Aquele
sorriso capaz de abrandar minhas
estruturas.
— Está se sentindo melhor
agora? — perguntou.
Assenti com a cabeça.
— Ótimo! — exclamou.
Em seguida, uniu nossas bocas
com sofreguidão. Não havia mais
espaço para dúvidas.
Ambos estávamos na mesma
sintonia.
Desesperado, eu a ergui em meus
braços, colando seu corpo contra a
porta. Tudo naquela mulher me
inebriava.
O cheiro.
A voz.
A pele.
Eu a queria para sempre e, em
todos os momentos.
— Eu sou louco por você —
soprei contra seus lábios inchados.
— Eu também sou louca por
você — disse ela, arrancando minha
camisa de modo a arranhar minha pele.
Ali, enquanto encarava a
intensidade daqueles olhos, tive ainda
mais certeza de que nada e nem ninguém
conseguiria nos separar.
Éramos um só.
Éramos almas gêmeas.
Sem desgrudar nossas bocas, eu
a desencostei da madeira da porta e
caminhei — com ela em meu colo —
pelo corredor até chegarmos ao
banheiro.
Entramos no Box, ainda nos
beijando. Abri o registro do chuveiro,
fazendo com que Giovanna soltasse um
gritinho assustado.
— Nem tiramos nossas roupas
direito — soprou ela, avançando nos
botões da minha camisa, desesperada.
Desci a língua por seu pescoço,
provando da sua pele molhada.
Giovanna tinha muita sensibilidade às
minhas carícias, o que me ensandecia
imensamente.
Num movimento abrupto, eu a
virei contra a parede azulejada,
apertando suas curvas com minhas mãos
gulosas. O barulho das nossas
respirações se sobressaía ao barulho da
ducha da água, que caía sobre nós dois,
ensopando nossas roupas.
— Deliciosa demais... — chupei
sua orelha, antes de circular sua cintura
e subir as mãos para apertar seus seios
fartos. Moí meus quadris contra seu
traseiro, deixando bem claro o quanto a
queria; o quanto estava duro por ela e
para ela.
— Lo...
— Shiii... — virei-a novamente
de frente para mim, segurando seu rosto
pela nuca e lambendo seus lábios. Em
seguida, arranquei sua camiseta apenas
para abocanhar um mamilo, depois o
outro. — Eu amo essas tetas...
— Lorenzo! — reclamou ela,
rindo do meu modo de falar.
Sorri, sacana.
Abaixei, auxiliando-a no
processo de tirar o short, juntamente
com a calcinha. Antes de me erguer
novamente, aproveitei para acariciar seu
clitóris inchado e reluzente. Passeei
meus dedos de cima para baixo, num
movimento de vai e vem, lambuzando
sua entrada apertada com seu próprio
mel.
— Tão molhadinha para mim...
— rosnei, em delírio. Inclinei a cabeça,
provocando-a com minha língua sedenta.
Giovanna gritou no momento em
que comecei a comê-la com meus dedos,
intercalando com minha língua. Precisei
apoiar suas coxas em meus ombros, pois
suas pernas tornaram-se enfraquecidas.
— Oh, Lorenzo... hmmm...
Segurei seu clitóris entre os
dentes, acelerando as investidas com
meus dedos. Os tremores a tomaram,
deixando-a amolecida. O orgasmo
chegou arrebatando suas forças
completamente.
Rapidamente me ergui,
arrancando o restante das minhas roupas
encharcadas. Não esperei que Giovanna
se recuperasse e a peguei pela cintura,
enrolando suas pernas ao meu redor.
Penetrei-a de uma vez só. Ambos
gememos com a conexão bem vinda.
— Puta que pariu! — Rangi os
dentes, tentando controlar meus
instintos. — Sua boceta está apertando
meu pau...
Enlouquecida, Giovanna segurou
meu rosto e reivindicou minha boca num
beijo abrasador.
A água morna castigava nossas
peles febris e o som dos nossos corpos
se chocando deixava o cenário ainda
mais excitante.
— Eu amo você — proferiu,
entre um beijo e outro.
— Eu também, meu pedaço do
céu.
Impulsionei seu corpo de
maneira frenética, intensificando as
investidas. Podia sentir o orgasmo se
formando; as sensações aumentando.
Aguardei até que Giovanna
estremecesse em meus braços,
novamente gozando com meu nome nos
lábios, e me libertei também.
Plenitude.
Essa era a sensação que me
predominava cada vez que estávamos
juntos.
Eu amava demais aquela mulher.
Tanto que chegava a doer.
Nossos peitos subiam e desciam
com rapidez, devido a toda a adrenalina
do sexo de instantes atrás, porém o
sorriso estava presente em nossos
lábios.
— Não usamos camisinha —
sussurrou.
Franzi o cenho.
— Isso te preocupa? —
perguntei.
— Não, é só que... — se calou
por alguns segundos — Eu estive presa
por um longo período, Lorenzo —
explicou, sem jeito. Suas bochechas
estavam vermelhas. — Fiz um check-up
médico há pouco tempo, mas fico
preocupada que talvez você pense que...
— Ei? — Toquei seus lábios
com meu indicador. — Está tudo bem —
garanti. — Eu não ligo para o seu
passado, Giovanna. Respeito muito o
quê você passou, porque sei que isso te
deixou mais forte. Entretanto, o
importante para mim é o que estamos
vivendo agora. Há um futuro para nós.
Fui presenteado com o sorriso
mais lindo do mundo.
— Eu sei que há — confirmou,
enrolando meu pescoço com seus
braços. — Um futuro lindo.
Sorri de volta, aceitando quando
sua boca buscou pela minha.
O beijo foi quase como para
selar aquela promessa.
Capítulo 19
Giovanna

A semana passou rapidamente


e, apesar de toda a tensão ocasionada
pelo beijo do Jason, Lorenzo e eu
estávamos bem.
Era importante para mim que nós
dois estivéssemos na mesma sintonia,
pois eu não conseguia mais enxergar
minha vida sem ele.
Era mais um dia de visita do
Brandon, porém Lorenzo não poderia
estar junto, considerando que nos
últimos tempos a demanda de serviços
dele aumentou consideravelmente.
Tínhamos conversado a respeito de
quem traria o menino até mim, e
obviamente Jason não foi a opção
escolhida.
— O que está fazendo aqui,
Jason? — perguntei, assim que abri a
porta e dei de cara com ele. Sorri
quando meu menino estendeu as
mãozinhas para vir ao meu colo. —
Você não é mais bem vindo aqui.
— Mas sou o pai do Brandon,
Giovanna — revidou, incomodado. —
Não sou qualquer um.
— Não seja ridículo! —
exclamei, num sussurro, pois não queria
assustar o Brandon. — Você é bem
grandinho para saber do que estou
falando, Jason.
A risada dele me irritou um
pouco.
— Todo esse exagero por causa
de um beijo?
— Que por sinal foi roubado —
corrigi, fazendo-o revirar os olhos. — E
não, não foi pelo beijo, mas pela sua
falta de respeito. Será que não percebe?
— questionei, cansada. — Nossa
história... — gesticulei entre nós dois —
acabou. Não existe mais nada que nos
ligue, além do nosso filho.
— Giovanna...
— Eu não posso te oferecer mais
nada, Jason — cortei sua tentativa de se
justificar. — Agora, por favor, deixe-me
curtir o meu filho. — Fui até a porta e a
escancarei. — Até mais.
Respirei fundo, aliviada, no
instante em que me vi sozinha com meu
filho. Os olhinhos azuis estavam
brilhantes na minha direção.
— Sentiu saudades da mamãe?
— perguntei, eufórica.
— Mamãe! — balbuciou ele,
batendo palminhas e fazendo meu
coração inflar de amor.
Enchi seu rostinho de beijos.
— Isso mesmo, meu anjo.
Mamãe.

∞∞∞
Depois de algumas horas,
resolvi descer com Brandon a fim de
brincar com ele na pequena praça que
tinha em frente ao prédio. Enquanto eu
ria, extremamente apaixonada por
aquele ser tão pequenino em meus
braços, não notei a aproximação de
alguém.
— Meu tempo com ele ainda não
terminou, Jason — falei, impaciente com
toda aquela marcação.
— Eu sei.
— Então o que está fazendo
aqui? — rosnei. — Pare de tentar
estragar meus momentos, Jason —
sibilei, entre dentes.
Cheguei numa área livre, então
decidi colocar o Brandon no chão para
que o mesmo pudesse brincar
livremente.
— Não estou tentando estragar
nada, Giovanna — defendeu-se. — Pare
de agir na defensiva comigo.
— Talvez se você parasse de
agir como se ainda tivéssemos chance,
eu tentaria tratá-lo com menos
indiferença, apesar de você merecer
cada um dos meus xingamentos.
— Xingamentos?
— Dentro da minha cabeça —
murmurei num sibilo. — Eu o xingo em
meus pensamentos.
Ele riu, sacudindo a cabeça,
porém optou por não fazer nenhum
comentário.
O silêncio invadiu o clima,
enquanto observávamos nosso filho
brincando. Brandon corria de um lado
ao outro, divertindo-se por estar
podendo brincar na terra; por estar
podendo se sujar.
— É divertido ser criança. —
Jason comentou, falando pela primeira
vez em minutos. Permaneci calada. —
Não há raiva ou mágoas, nem
arrependimentos. Somente a pureza do
amor.
Olhei para ele e o peguei me
encarando com intensidade.
— Eu sei que errei com você,
Giovanna — declarou, fazendo com que
meu coração batesse mais rápido. — Sei
que fui um estúpido em não ter confiado
nem acreditado nas suas palavras. Eu
deveria ter ficado do seu lado.
— É, você deveria —
concordei.
Tentei ignorar o engasgo na
garganta. Era impossível não me
emocionar com as lembranças antigas.
— Sei disso agora — disse,
desviando os olhos dos meus por um
momento. — E a sensação é muito ruim,
acredite. — Ofereceu-me um sorriso
triste.
— Garanto que não mais do que
a que eu senti naquele dia, há três anos,
Jason — revidei, com frieza. — Você
me humilhou na frente de todas aquelas
pessoas. Você me afastou do meu filho.
Faz ideia do que eu passei naquele
lugar?
— Não, eu não faço —
respondeu.
Respirei fundo, sentindo a
adrenalina me dominar.
— Certamente foi muito pior do
que a dor que você me infligiu ao não
acreditar em mim — conclui.
O silêncio voltou a reinar,
tornando tudo ainda mais tenso.
Eu queria não ter que enfrentá-
lo.
Queria poder evitá-lo. Mas
tínhamos um filho e, Brandon era a razão
de tudo.
— Sei que talvez isso não
conserte tudo, mas mesmo assim, eu
gostaria de pedir-lhe perdão, Giovanna
— insistiu.
Travei o maxilar, furiosa com a
audácia do infeliz.
— Você tem razão quando afirma
que um mísero pedido de perdão não
conserta tudo, Jason. Sabe por quê?
Porque ele não conserta porra nenhuma!
— vociferei. — E isso nada tem a ver
com meu novo relacionamento. Tem a
ver com apenas nós dois. Com o nosso
passado.
— O que está dizendo?
— Jason, você nunca me
respeitou como mulher. Nunca sequer
me assumiu. — Tentei não demonstrar o
peso da mágoa que aquilo me trazia. —
Na verdade, no fundo, eu não me
surpreendi quando você me virou às
costas, porque já estava acostumada
com a sua falta de consideração comigo,
com meus sentimentos e emoções.
Seus olhos se arregalaram.
— Mas... — engasgou — Por
que nunca me falou como se sentia?
Como eu poderia saber?
Levantei-me, passando as mãos
na minha calça de modo a tirar a sujeira.
— Lorenzo sempre sabe o que eu
quero e o que estou sentindo —
comentei, fazendo seu semblante fechar
na mesma hora. — Sabe qual é a
diferença entre vocês dois, Jason? —
Ele negou com a cabeça. — Você me
olhava, mas não me enxergava. O
Lorenzo me desnuda sem ao menos tirar
minhas roupas.
Sorri, lembrando-me do meu
homem como uma boba apaixonada.
Não precisei falar mais nada,
porque Jason, simplesmente, abaixou a
cabeça e ali permaneceu, calado.
Sem graça, decidi ir atrás do
Brandon, que era a principal razão da
minha felicidade e dos meus sorrisos.
Capítulo 20
Lorenzo

— Que tal uma praia?


Franzi a testa, encarando os
olhos eufóricos.
— Giovanna... já são quase dez
horas da noite — falei, rindo.
— E daí? — retrucou, jogando o
corpo sobre o meu. Os olhos azuis
estavam tão brilhantes quanto ela toda.
— Somos livres para fazer o que
quisermos, Lo. Qual o medo?
— Medo?
— É — confirmou. — Por acaso
não sabe nadar? — brincou, zombeteira.
Belisquei seu narizinho atrevido,
enquanto mantinha seu corpo por perto.
— Não é nada disso, espertinha
— falei, divertido. — Só não vejo coisa
melhor do que continuar aqui, na cama
com você. — Apertei sua cintura,
girando meu corpo de modo a atacar
seus deliciosos lábios com os meus. —
Para quê estragar isso?
Ela deu risada, beliscando minha
cintura, causando-me cócegas.
— Deixa de ser chato e vamos
— murmurou, taxativa.
Fui incapaz de não admirar sua
nudez conforme ela trilhava o quarto.
— Tem certeza?
Seu rosto lindo se contorceu com
um sorriso de tirar o fôlego. Em seguida,
jogou um par de roupas na minha
direção.
— Vou tomar um banho rápido
— avisou.
— Ei?! Por que fui excluído do
banho? — reclamei.
— Porque não sairemos desse
banheiro tão cedo se você entrar
comigo, seu safadinho. — Seu olhar me
encontrou, tão selvagem quanto o meu.
— Isso não é justo — gritei,
ouvindo sua gargalhada.
Sem conseguir frear meu sorriso,
deixei-o livre em meus lábios. Era
impossível ser mais feliz. Mais
completo.
∞∞∞
Optamos por ir de Metrô, pela
linha B, que nos levaria até a Brighton
Beach. O Metrô é de superfície, então
conseguíamos ver as casas e paisagens
do Brooklyn, então o trajeto já era um
passeio a “bônus” também.
A viagem levou um tempinho
considerável, mas valeu à pena quando
vi o enorme sorriso que Giovanna me
ofereceu assim que chegamos. A praia
não era daquelas de águas cristalinas e
areia branca e fofa, mas o som do mar
era o mesmo de todas as outras.
Incrível.
Giovanna arrancou as sandálias
dos pés e saiu correndo feito uma
menina travessa, pulando e girando o
corpo no ar. Era lindo presenciar a
alegria dela por algo tão simples.
Também tirei os meus sapatos e
fui atrás dela.
— Fazia tanto tempo que eu não
ouvia esse som — comentou, de olhos
fechados, enquanto sentíamos a brisa
fresca e a água fria em nossos pés. — O
som do mar é mágico e lindo, não acha?
— Acho sim — falei, olhando
para ela com amor. Seus olhos
encontraram os meus e, ela sorriu,
entendendo exatamente a quem eu estava
me referindo.
As charmosas covinhas em suas
bochechas ficaram mais evidenciadas
com o alargamento do seu sorriso.
Enlacei sua cintura, trazendo-a mais
perto.
— Bobo — soprou, contra meus
lábios entreabertos.
— Um bobo apaixonado. —
Mordi seu lábio inferior, chupando-o em
seguida.
De repente, ela se afastou,
totalmente sapeca. Eu sabia que ela
estava tramando alguma coisa, mas não
me preparei a tempo e fui molhado. A
risada alta era música para meus
ouvidos. Ouvir Giovanna sorrindo era o
meu som preferido.
Passamos alguns minutos,
correndo e respingando água um no
outro; completamente perdidos em nossa
bolha de amor.
— Eu disse que seria divertido
— disse, quando caímos na areia depois
de um longo tempo. — Momentos assim
fazem bem para a alma.
Girei a cabeça, encontrando seus
olhos em mim.
— Você faz as coisas melhores
do que realmente parecem ser —
declarei com amor.
Ofereceu-me mais um de seus
sorrisos doces. Depois, mirou o céu
escuro, porém repleto de estrelas.
Fiz o mesmo.
— Você nunca me contou sobre
seus antigos relacionamentos —
murmurou de repente.
— É porque não há o que contar
— falei. — Nunca encontrei uma mulher
como você, que me fizesse desejar
cuidar e amar.
— Sério? — Parecia incrédula.
Eu ri, encarando o céu estrelado.
— Meus colegas pensavam que
eu era gay. — Dei risada. — Mas na
verdade, toda a mulher que eu conhecia
me causava tédio, sabe? Então preferia
apenas esvaziar o saco.
— Que horror, Lorenzo! —
exclamou, rindo. — Isso não é jeito de
falar.
Rolei meu corpo pra cima dela,
enchendo-a de beijos.
— Mas isso tudo mudou quando
conheci uma deusa de olhos
enlouquecedores — sussurrei, mordendo
seu pescoço.
Sua risadinha soou quase como
um gemido.
Prestes a beijá-la, eu fui freado
pelo som do meu celular.
Sentei-me, visualizando o
número da Eva no visor do aparelho.
Estranhei, pois o horário era inoportuno.
Meu coração já começou a acelerar
devido ao pânico que aquela ligação
podia significar.
— Eva?
O choro do outro lado da linha
me desesperou.
— Lo...
— O que foi, Eva? — Me
levantei com tudo, sentindo meus
músculos tensos. — O que aconteceu?
Giovanna se levantou também,
permanecendo em pé, ao meu lado.
— A mamãe sofreu um infarto
— disse, chorando.
O ar me faltou na mesma hora.
— O-o quê? — Minha voz quase
nem saiu.
Ela fungou do outro lado da
linha.
— Estamos aqui no hospital —
explicou, tentando controlar a voz. —
Estão operando ela agora. — Meu
peito subia e descia enquanto eu tentava
reunir todas aquelas informações na
minha mente. — Eu estou com medo,
Lo...
— Estou indo pra aí — falei
num engasgo. — Não saia do lado do
papai — pedi.
— Está bem — disse. — Até
mais, irmão.
Encerrei a chamada, sentindo
como se todo o peso do mundo estivesse
em meus ombros. O rosto da Giovanna
entrou no meu campo de visão e, eu
pude ver nitidamente a preocupação
expressa em seus olhos.
— O que houve, amor?
Baixei a cabeça, engolindo a
saliva com dificuldade.
— Minha mãe sofreu um infarto.
Suas mãos cobriram a própria
boca, em puro choque.
— Meu Deus! Mas ela... ela...
— Parece que está passando por
uma cirurgia — respondi o que ela não
teve coragem de perguntar — Não sei
direito, mas eu... — me calei,
esforçando-me para colocar os
pensamentos em ordem — Eu tenho que
ir para Madrid. Eu tenho que...
Fui puxado para o calor dos seus
braços no momento em que me debulhei
em lágrimas, assustado com a notícia
que tinha acabado de receber.
— A minha mãe, Giovanna...
porra! A minha mãe...
Seus braços me apertavam,
enquanto suas mãos passeavam por
minhas costas, braços e cabeça, numa
tentativa de me acalmar.
— Eu sei, meu amor, eu sei —
murmurou, chorosa também. — Mas
você precisa ter fé. Precisa acreditar
que tudo ficará bem no final. Sua mãe é
forte.
— Ela é — concordei, fungando.
Respirei fundo, reunindo toda a
minha coragem e força. Precisava
abandonar o medo.
Precisava acreditar que minha
mãe voltaria para nós.
Capítulo 21
Giovanna

Meu coração estava pesado de


preocupação. Fazia algum tempo desde
que recebi uma ligação do Lorenzo,
avisando que tinha desembarcado em
Madrid, contudo eu ainda não sabia
nada a respeito do estado de saúde da
mãe dele.
Eu queria ter ido junto, pois
achava importante estar ao lado do
parceiro em momentos apreensivos, mas
não pude ir. O processo da guarda do
Brandon ainda estava em andamento e,
além disso, havia muito serviço
burocrático no escritório que não
poderia ficar para trás.
Sentindo-me angustiada,
verifiquei o horário no relógio de
parede, constatando que a manhã havia
passado num tempo recorde. Reuni
minhas coisas, peguei a chave e a bolsa,
em seguida, saí, fechando a porta. Segui
pelo elevador, com Frank em meu
encalço. Peguei o celular para verificar
se de repente tinha deixado passar
alguma mensagem do Lorenzo, mas
nada.
Meu peito parecia tão sufocado
que chegava a doer.
Depois de alguns minutos, as
portas do elevador se abriram e, eu saí
para o hall. Fora do prédio, eu mal
cheguei perto do meu carro quando ouvi
meu nome sendo chamado.
Virei-me para trás.
— Jason? — questionei,
arqueando as sobrancelhas. Aproximei-
me dele quando vi meu filho em seus
braços. — O que faz aqui?
— A babá dele não veio hoje —
comentou, transferindo o Brandon para
mim. — Tive que levá-lo comigo a
empresa.
— Você o quê? — perguntei,
incrédula.
— Eu não tive escolha —
defendeu-se.
— Certo. — Suspirei, ajeitando
Brandon em meu colo. — Pelo menos
foi sensato em não deixá-lo com a
Justine.
— Não seja preconceituosa,
Giovanna — murmurou ele. — Justine
pode ter todos os defeitos, mas nunca
seria capaz de machucar o Brandon. Na
verdade, ela mal se aproxima do
menino, porque está sempre arrumada.
Revirei os olhos, tentando
aceitar que mesmo sem querer, ela teve
mais do meu filho do que eu.
— Entendo — murmurei. — A
superficialidade dessa mulher sempre
foi forte — comentei, esforçando-me
para não soar com despeito. De repente,
meu alerta soou quando passei as mãos
no rosto do Brandon. — Meu Deus,
Jason!
— O que foi?
— Eu acho que o Brandon está
com febre — respondi. Na mesma hora,
ele repousou a mão na testa do menino.
— Será?
— Olhe só para ele... — pedi,
observando seu semblante caidinho —
Está abatido.
Procurei o Frank com os olhos.
— Frank, nós precisamos ir a
uma clínica médica — avisei, me
apressando.
— Giovanna? — Jason me
parou, tão preocupado quanto eu. —
Vamos no meu carro. Brandon já tem um
pediatra que cuida dele desde sempre.
Assenti, sentindo todo o meu
corpo trêmulo. Passei a chave do meu
carro para o Frank e, em seguida fui
atrás do Jason, no carro dele. Entrei no
veículo, optando por ir na parte de trás,
pois não queria largar o Brandon de
jeito nenhum.
— Está tudo bem, meu amor, a
mamãe está aqui — cochichei perto do
ouvido dele. Jason logo acelerou para
longe. — Não acredito que você não
percebeu, Jason — falei, nervosa.
— Não entendo nada dessas
coisas, Giovanna — sibilou, chateado.
Eu sabia que precisava ser
compreensiva, mas o pavor de estar com
meu filho doente em meus braços, me
fazia cega.
— O que ele comeu hoje?
— O mesmo de sempre —
respondeu. — Antes de sairmos, eu
preparei o mingau dele; depois, ofereci
algumas bolachinhas e... ah, não me
lembro direito.
Suspirei, frustrada.
— Precisa se lembrar, droga!
Como o pediatra vai ajudar se você não
explicar?
Ele não disse mais nada, o que
serviu apenas para piorar minha
indignação.
Aconcheguei melhor o Brandon
em meus braços, e enchi sua cabecinha
cheirosa de beijos enquanto fechava os
olhos, pedindo aos céus que não fosse
nada grave.

∞∞∞
— Resfriado. Como um simples
resfriado pode causar uma febre tão alta
assim? — Jason não parava de se
questionar, espantado.
Tínhamos acabado de deixar o
consultório médico. Ao que tudo
indicava, Brandon havia contraído um
resfriado devido à recente mudança
climática. O pediatra disse que crianças
na idade do Brandon são mais frágeis e
suscetíveis a essas bactérias.
— Porque atacou a garganta
dele, Jason — expliquei, acarinhando o
rostinho rosado. Brandon estava
adormecido em meus braços. — Quando
eu era criança também sofria bastante
com isso.
Ele me olhou, mas não disse
nada.
Minutos mais tarde, nós paramos
no estacionamento interno do prédio em
que ele morava. Frank permaneceu me
aguardando na frente do Edifício.
— Espero não causar problemas
com a sua mulher — comentei, enquanto
saía do carro.
— Não terá incômodo algum,
porque Justine e eu nos separamos —
respondeu.
Pisquei freneticamente, tentando
absorver aquela informação nova. Não
soube dizer se Jason não percebeu o
meu choque, mas ele, simplesmente, agiu
como se não tivesse falado nada demais.
Engoli em seco, enquanto
seguíamos na direção do elevador
privativo. Fiquei tentada a perguntar
como ele ainda estava conseguindo
manter-se naquele padrão de vida, mas
não era da minha conta.
Assim que chegamos a sua
cobertura, Jason me pediu para entrar
primeiro. Em seguida, foi na frente para
mostrar o quarto do Brandon.
— A febre baixou? — quis
saber.
Senti a temperatura do Brandon,
aliviada por constatar que sua pele
estava fresca. Ajeitei o pequeno sobre o
colchão, acariciando seu rostinho sereno
e suado devido à febre alta que teve.
— Ele está melhor — respondi,
debruçada sobre o berço. Não queria ter
que deixá-lo. — Deveria ser proibido
que criança ficasse doente.
— Concordo com você — disse,
apertando a mãozinha do filho. — É
assustador.
Eu ri, erguendo os olhos.
Deparei-me com seu olhar amoroso para
o Brandon.
— É sim, mas devemos ser os
super heróis da história — garanti.
Ele me olhou.
— Você faz isso parecer muito
mais fácil.
— Impressão sua — comentei,
sem jeito. — Fiquei com muito medo
também. Brandon é tudo para mim,
Jason.
— Eu sei.
Permanecemos nos olhando, mas
sem nada a dizer.
De repente, meus batimentos
cardíacos aceleraram demais, fazendo-
me consciente do momento estranho.
— Bem, acho melhor eu ir —
comentei em tom baixo.
Tentei me afastar, contudo tive
minha mão puxada.
— Giovanna, eu... — olhei para
seus olhos intensos.
— Não faça isso — me apressei
em dizer antes que ele tentasse qualquer
coisa. — Eu estou com o Lorenzo.
Ele baixou os olhos, porém
continuou segurando minha mão.
Desesperei-me quando ele deu a volta
no berço até ficar frente a frente comigo.
— Eu sei que está, mas posso te
fazer mais feliz do que ele, Giovanna —
insistiu. — Prometo que usarei cada um
dos meus dias para me redimir com
você, querida, basta você me dar uma
chance.
— Jason...
Ele me cortou:
— Case-se comigo! — Arregalei
os olhos, assustada. — Podemos voltar
a ser uma família outra vez — prometeu.
Suas mãos me buscavam com um
desespero cortante, enquanto eu apenas
tentava me afastar.
Angústia me dominava naquele
momento.
— Por favor, querida, me perdoe
— insistiu. — Dê-me a chance de
mostrar que estou arrependido; de
consertar as coisas. Eu ainda posso te
fazer feliz, eu sei que posso.
— Já chega! — exclamei,
atormentada.
— Mas, eu...
— Eu disse, já chega, Jason! —
interrompi sua tentativa de continuar me
persuadindo. Empurrei suas mãos para
longe. — Sou completamente
apaixonada pelo Lorenzo e jamais o
deixaria nem por você e nem por
qualquer outro — falei, respirando
fundo. — O motivo para eu estar aqui...
— gesticulei ao nosso redor —, é o
Brandon. Sempre será o Brandon. Nosso
filho é o elo que continua nos unindo.
Apenas ele.
O silêncio tomou conta, trazendo
a tensão consigo.
Nervosa, passei as mãos na
calça.
— Estou indo agora... — engoli
com dificuldade, incomodada com
aquela situação constrangedora — Por
favor, me avise sobre a melhora do
Brandon.
Dizendo isso, voltei para perto
do meu menino e depositei um beijo
estalado em sua bochecha rosada. Em
seguida, segui para fora do quarto, sem
esperar que Jason me acompanhasse. O
clima entre nós dois havia se tornado
pesado demais.
Fora do prédio, inspirei com
força, enchendo meus pulmões de ar.
Logo me encontrei com Frank e, juntos,
nós fomos até o meu carro.
— Está tudo bem com o menino,
senhora? — perguntou ele, fazendo-me
olhá-lo, surpresa.
— Está sim. — Sorri. — Deixei-
o dormindo — acrescentei, enquanto
entrávamos no carro. — Era um
resfriado.
— Oh, sim. É bem comum nessa
idade.
Surpreendi-me ainda mais.
— Nunca perguntei, Frank, mas
você tem filhos? — questionei,
colocando meu cinto.
Um sorriso lindo pairou em seus
lábios.
— Eu tenho um casal —
respondeu com a voz recheada de amor.
E os próximos minutos foram
preenchidos com histórias das bagunças
dos filhos dele, o que agradeci, porque o
silêncio apenas me faria remoer os
últimos acontecimentos e, eu não estava
a fim de pensar sobre o que tinha
acabado de acontecer no apartamento do
Jason.
Guardei tudo em uma caixinha
dentro da minha mente, planejando abri-
la mais tarde.
Capítulo 22
Lorenzo

Assim que desembarquei em


Madrid, eu senti que minha ansiedade
aumentou, considerando que estava
prestes a rever minha família e, num
momento muito tenso para todos.
Não fazia muito tempo desde a
última vez que minha mãe nos deu um
susto parecido quando precisou ser
internada às pressas por conta de um
problema nos rins. Agora a situação se
repetia e, eu estava tentando lidar da
melhor maneira possível.
Durante o vôo, eu me esforcei
para analisar todas as informações;
esforcei-me para não me afundar no
pessimismo. Era difícil administrar as
emoções que se atropelavam dentro do
meu peito.
Fui direto ao hospital, porém
antes, fiz uma ligação a Giovanna,
avisando que tinha acabado de chegar à
cidade. Queria que ela tivesse vindo
comigo, mas entendi que a mesma não
poderia por causa do processo judicial.
O dia já havia amanhecido
quando adentrei o hospital, desesperado
por notícias. A sala de espera estava
lotada pela família González.
— Oh, Lorenzo. — Eva veio ao
meu encontro, antes mesmo que eu me
aproximasse do pessoal, apertando-me
em seus braços. — Que bom que está
aqui.
Beijei sua cabeça.
— Jamais deixaria de vir —
falei, afastando o rosto para poder olhá-
la. Os olhos avermelhados encaravam os
meus com um medo dolorido. — Afinal
de contas, o que aconteceu com nossa
mãe?
— Ela vinha demonstrando
muito cansaço nos últimos dias, e
sofrendo de alguns desmaios também —
explicou. — O infarto aconteceu no
início da noite de ontem, e a cirurgia
indicada foi a Ponte de safena para
auxiliar a circulação do sangue pelo
músculo.
— Quem foi o cirurgião? —
perguntei, esforçando-me para
raciocinar.
— O Felipe — respondeu. —
Quer conversar com ele?
— Sim, eu quero — falei.
Em seguida, beijei suas mãos e
fui de encontro aos outros. Abracei cada
um deles, deixando meu pai por último.
— Pai! — exclamei, engasgado.
Uni nossas testas, passando a mão por
sua nuca. — Como o senhor está, meu
velho?
— Assustado — respondeu ele.
Seu olhar abatido encontrou o meu. —
Você parece cansado, filho. —
Preocupou-se.
Sorri fraco.
— Estou bem — menti.
— Que tal tomar um café
comigo? — convidou, olhando para os
outros. Uns conversavam, outros
estavam apenas sentados, em silêncio.
— Acho que preciso me despertar um
pouco.
— Vamos — murmurei,
depositando a mão sobre o ombro dele.
A lanchonete ficava a poucos
metros e, eu suspirei quando nos
sentamos — cada um com seu café
preto, forte e sem açúcar.
— E então, pai, quer me explicar
o que aconteceu?
O suspiro que escapou dos seus
lábios foi triste.
— Sua mãe passou mal de
repente, filho, então a trouxemos para cá
às pressas — explicou. — A cirurgia
durou pouco mais de cinco horas e foi
um sucesso. — Alívio brotou dos meus
poros ao ouvir aquilo. — Você chegou a
conversar com o Felipe?
Neguei.
— Ainda não tive oportunidade
— mencionei, bebericando meu café
fumegante. — Já podemos vê-la?
— Não — respondeu. — Ela
precisará ficar na UTI por um tempo.
Porém acredito que a visita logo será
liberada.
Balancei a cabeça.
— Está precisando de alguma
coisa, pai? — perguntei, sentindo-me de
mãos atadas. Era duro ver meu pai
daquele jeito, tão abatido.
Ele respirou fundo.
— Meu combustível está lá
dentro, filho. — Sorriu, fraco. — Em
uma daquelas salas.
Sorri, junto com ele, entendendo
suas palavras. Depois que a Giovanna
entrou na minha vida, nada mais fazia
sentido sem ela ao meu lado.
— Sei disso. — Apertei seu
braço por cima da mesa.
Começamos a conversar e,
depois de alguns minutos, ele me
questionou a respeito da Giovanna.
— Ela não pôde vir comigo —
respondi. Em seguida, expliquei sobre o
processo de guarda do Brandon.
Da outra vez — quando ambos
estivemos em Madrid para o aniversário
do tio Hugo— eu já tinha deixado toda a
família a par da minha situação com ela,
então não era mais novidade.
— Como está o relacionamento
de vocês? — Ele quis saber, expectante.
— Se aprofundando. — Sorri.
— Giovanna é uma mulher incrível, pai,
e me entende como nenhuma outra foi
capaz.
— Você me parece feliz —
observou, sorridente.
— E eu estou.
— Já tem planos para o futuro?
— Neguei com a cabeça. — Se
encontrou a mulher da sua vida, então
você precisa tomar uma decisão, filho.
Eu soube o que eu queria no momento
em que vi sua mãe.
— Sério?
— Sério! Não poderia me
arriscar a perder aquele mulherão. —
Dei risada.
Fomos interrompidos pela
chegada do Felipe:
— Bom dia — saudou-me. — A
tia ainda não acordou, mas já pode
receber visita.
Na mesma hora, meu pai se
levantou, eufórico.
— Eu vou vê-la — disse,
agoniado.
Levantei-me também, porém
fiquei para trás, pois queria conversar
com meu primo.
— Bem, agora eu quero saber de
todos os detalhes do estado de saúde da
minha mãe, Felipe — falei. — Sobre a
cirurgia e a recuperação a partir de hoje.
Ele assentiu.
— Antes de qualquer coisa, eu
quero que você saiba que ela está bem
— garantiu. — Foi apenas um susto.
Voltei a me sentar, sendo seguido
por ele, que começou a narrar cada
etapa das últimas horas.

∞∞∞
No dia seguinte, voltei para
Nova York. Horas antes, eu mandei uma
mensagem a Giovanna avisando da
minha chegada e pedindo para que ela
me encontrasse no restaurante que ficava
em frente ao prédio. Meu coração estava
mais aliviado, considerando que antes
de voltar, eu vi minha mãe acordada e
bem.
O táxi me deixou exatamente
onde eu pedi para que Giovanna me
esperasse. Em seguida, paguei a corrida
e desci.
Não demorou muito até que eu
entrasse no estabelecimento e a
avistasse em uma das mesas.
Rapidamente, meu pedaço do céu se
levantou e veio ao meu encontro.
— Que saudades! — exclamou,
jogando-se em meus braços. — Fez uma
boa viagem?
— Sim — respondi, beijando
sua boca macia.
— E a sua mãe?
— Melhor. — Sorri, aliviado e
comovido pela sua preocupação sincera.
— Não entendi o motivo de você
ter pedido para que eu viesse pra cá, Lo
— comentou, desconfiada. — Eu no seu
lugar ia querer descansar. — Riu, fraco.
— Acontece que tenho uma
surpresa. — Ela parou, a caminho da
mesa em que estava sentada antes.
Retirei a caixinha com o anel do bolso
e, em seguida, me ajoelhei na frente dela
e de todos ao nosso redor. O choque
ficou evidente em seu lindo rosto. —
Giovanna, você aceita ser minha
esposa?
Suas mãos cobriram sua boca e
os olhos umedeceram na mesma hora.
— Você... — calou-se, vindo até
mim, segurando meu rosto e beijando
meus lábios devagar. — Isso é loucura!
— É loucura o meu pedido, ou a
ideia de se casar comigo? — brinquei,
fazendo-a rir.
— O pedido, seu bobo —
ralhou, puxando-me pelas mãos. Ergui-
me sob meus pés, ainda mostrando o
anel cravado de diamantes. — Você tem
certeza?
— Minha única certeza é de que
quero muito ficar com você — falei. —
Quero compartilhar minha vida com
você, Giovanna, e, essa certeza só
aumenta.
A umidade dos olhos azuis
aumentou.
— Eu aceito — falou,
emocionada. Algumas pessoas que
estavam próximas de nós vibraram,
fazendo-nos rir.
Coloquei o anel no dedo anelar,
prometendo a ela e a mim mesmo que a
felicidade seria nossa companhia todos
os dias.
Capítulo 23
Giovanna

A semana seguinte se iniciou


com um gostinho a mais. O sorriso se
mantinha em meus lábios mesmo que eu
tentasse detê-lo. Bastava que meus olhos
encontrassem a aliança em meu dedo
para que meu coração se derretesse.
Jamais imaginei que o futuro me
reservaria algo tão lindo depois de tanto
sofrimento e decepções.
Os três primeiros dias — depois
que a minha sogra foi operada — foram
primordiais para sua recuperação. Senti
como se um peso enorme houvesse saído
dos ombros do Lorenzo quando
recebemos a notícia de que a senhora
Amálie já tinha recebido alta.
A família González era
extremamente unida, algo que me
deixava muito comovida. Era lindo de
ver.
Meu telefone tocou, fazendo-me
dispersar os pensamentos.
Estranhei quando vi o número do
Jason.
Tinha optado por não comentar
nada do que aconteceu — na cobertura
— ao Lorenzo, porque não fazia sentido
estragar nossa felicidade. Nosso
momento. E seria exatamente isso que
aconteceria se Lorenzo soubesse das
intenções do Jason.
— Alô. — Atendi. — Você já
está atrasado. Onde está o Brandon?
Lorenzo e eu combinamos de passear
com ele.
— Os planos mudaram — disse,
sério. — Espero você aqui na minha
cobertura. É melhor você vir.
Dizendo isso, simplesmente
desligou.
Fiquei olhando para o celular,
tentando entender o que tinha acabado
de acontecer, mas nada parecia fazer
sentido.
Nervosa e preocupada com o
Brandon, decidi sair de casa. Lorenzo
não estava, pois precisou sair cedo,
porém havíamos combinado de nos
encontrar mais tarde.
O tom de voz do Jason me
deixou apreensiva, pensando em
milhares de coisas.
Peguei meu carro e saí, seguindo
para o endereço do pai do meu filho.

∞∞∞
Assim que cheguei ao prédio em
que Jason morava, subi direto para a
cobertura. O coração batia
descompassado enquanto minha mente
idealizava diversos cenários
assustadores.
A porta se abriu, revelando-me o
homem robusto que um dia chamei de
amor.
— O que foi? Onde está o
Brandon? — questionei enquanto
entrava. Olhei ao redor, mas não
encontrei nada além de nós dois e o
silêncio.
— Aceita alguma coisa para
beber? — perguntou ele,
despreocupado.
Olhei para ele, franzindo o
cenho.
— Não vim aqui para isso, Jason
— rosnei. — Você me ligou e me deixou
desesperada. Onde está o Brandon?
— Passeando com a babá —
respondeu tranquilamente, ignorando
meu desespero. — Venha.
Mesmo desconfiada, eu o segui.
— Vai me contar o que está
acontecendo?
— Sente-se — exigiu quando
chegamos à sala espaçosa. — Chamei
você aqui, porque quero que cheguemos
a um acordo.
— Acordo? Do que está
falando?
Ele suspirou alto.
— Quero ficar com você,
Giovanna — insistiu, me irritando. —
Sei que errei, mas eu já disse que quero
outra chance.
— Pelo amor de Deus, Jason,
esse assunto de novo? — Me levantei,
tencionando ir embora, porém sua voz
me parou:
— E se eu disser que descobri o
seu segredinho sujo? — Olhei para ele
de olhos arregalados. — O que será que
o grande Lorenzo irá pensar quando
ficar sabendo do seu caso com uma
mulher imunda dentro daquela prisão,
hun?
— O-o que... — me sentei, pois
minhas forças se esvaíram — O que
você disse? — Praticamente engasguei.
— Sei do que você passou,
querida, e não me importo com esse
passado, porque fez parte da sua
sobrevivência — falou. — Você estava
sendo ameaçada de morte, então se
obrigou a se submeter àquilo; obrigou-se
a aceitar ser amante da mulher —
acrescentou ele. — Eu entendo, juro.
Mas será que o González vai entender?
Engoli com dificuldade, sentindo
a umidade tomando conta dos meus
olhos.
— Lorenzo me ama — falei,
meio débil.
— Será? — desdenhou. — Além
disso, você já pensou no peso que essa
informação acarretará na imagem dele
na mídia? A família González possui um
patrimônio enorme, então é algo a se
pensar...
Meu desejo de socá-lo fervia em
minhas veias.
— O que você quer? — sibilei
entre dentes.
O sorriso que se estabeleceu em
seus lábios me deu vontade de vomitar.
— Eu já disse... quero que volte
para mim — respondeu, fazendo meu
sangue gelar ainda mais. — Fique
comigo e com nosso filho. Uma família
linda, completa e feliz.
Era um pesadelo? — Foi a
pergunta feita pelo meu subconsciente.
Capítulo 24
Lorenzo

Meu trabalho consistia em


avaliar negócios que não estavam indo
bem e investir para voltar a fazê-los
render dinheiro. Era agradável
acompanhar o progresso, juntamente,
com as mudanças impostas.
— Então você está disposto a me
oferecer vinte e cinco por cento? —
perguntei, encarando o homem a minha
frente. — Cem mil dólares por vinte e
cinco por cento do negócio.
Ele não respondeu de imediato.
— Veja bem, Richard, o seu
clube precisa de muitas mudanças para
se tornar lucrativo e, ele tem potencial.
— Apontei ao nosso redor. Estávamos
sentados numa das áreas abertas do
lugar, perto da piscina. — A localização
é ótima e a lista de sócios é
considerável. Mas pode melhorar. E, eu
posso fazer isso — garanti.
Olhei para meu relógio,
preocupado em me atrasar para meu
encontro com Giovanna e Brandon. Era
dia de visita e nós tínhamos combinado
de passearmos todos juntos.
— Bom, você tem meu telefone
— falei, me levantando, pronto para ir
embora. — Qualquer coisa, basta me
contatar e então começaremos.
O homem também se levantou,
aceitando meu cumprimento gentil.
— Obrigado por enquanto,
Lorenzo — disse. — Analisarei sua
proposta com cuidado.
Assenti, sorrindo.
Em seguida, eu me afastei.
Aquele clube era promissor.
Richard era um empresário esforçado e
já tinha tentado negociar comigo outras
vezes, mas minha agenda nunca permitiu
um encontro mais sério. E, eu gostava de
conhecer de perto a empresa a qual
pretendia investir meu dinheiro.
Algumas mudanças e aquele clube seria
um dos mais frequentados de Nova
York.
Coloquei a mão no bolso do meu
paletó, a fim de pegar meu celular e
ligar para a Giovanna, mas acabei me
atrapalhando e esbarrei em alguém. Ou
melhor, alguém esbarrou em mim.
— Oh, me desculpe — disse a
voz feminina.
Ergui o olhar e me deparei com a
Justine, usando um biquíni sensual. Os
cabelos estavam soltos e molhados, e os
olhos não desgrudavam dos meus.
— Me deixa ajudá-lo — pediu,
avançando em meu paletó. — Estava tão
distraída que não percebi você na minha
frente, Lorenzo.
— Está tudo bem, não foi nada
— resmunguei, tentando afastar-me dela.
— Foi sim — insistiu. — Olha o
tamanho do estrago na sua camisa?! —
Seus dedos vieram para os botões, mas
freei sua tentativa.
— Eu já falei que não precisa se
preocupar. — Segurei suas mãos
atrevidas. — Está tudo bem.
Dizendo isso, me afastei dela e
segui para o banheiro mais próximo. Eu
estava cheirando a bebida.
Droga!
Dentro do banheiro, eu arranquei
o paletó e a camisa, depois fui até a pia
para me lavar. Estava tão irritado e
compenetrado em me limpar que não
percebi a entrada de alguém.
— Eu juro que não consigo
entender o que vocês vêem naquela
sonsa da Giovanna.
Olhei para o lado e me deparei
com a Justine, parada perto da porta.
Esforcei-me para ignorá-la.
— Mesmo tendo me casado com
o Jason, bastou que aquela maldita
saísse da cadeia para que ele voltasse a
assediá-la — rosnou, inconformada. —
Ele pediu o divórcio, sabia? —
questionou, fazendo meu maxilar travar
de ciúmes. — Certamente está confiante
de que conseguirá o antigo amor dele de
volta. — Riu.
Peguei minha camisa e coloquei
embaixo da água.
— Os planos do Jason não me
interessam — sibilei entre dentes. — O
que importa para mim é o que Giovanna
e eu sentimos um pelo outro.
Justine se aproximou de mim por
trás.
— E o que você sente por ela?
— perguntou num tom rouco. — Aposto
que ela mal sabe se comportar como
uma socialite — comentou, erguendo a
mão e trilhando os dedos do meu ombro
ao meio das minhas costas. — Giovanna
é a típica mulher romântica incurável.
Tão boazinha quanto burra.
Segurei sua mão e me virei para
ela, que estava sorrindo para mim. A
malícia estava presente em cada um dos
seus poros.
— O que está querendo, Justine?
— questionei, descendo os olhos pelo
seu corpo voluptuoso.
— Oferecer-me para ser sua
amante. — Mordeu os lábios, enquanto
levava as mãos até o fecho da parte de
cima do biquíni. — Posso ser o seu
refúgio em dias frios. Posso ser a sua
ouvinte em horas de tensão. Estarei
sempre pronta para cuidar de você.
Assim que se livrou da peça do
biquíni, ela jogou os cabelos para trás
do corpo, deixando minha visão livre
para admirar seus seios de tamanho
médio.
— Giovanna é muito certinha
nos negócios, Lorenzo — continuou ela,
chegando mais perto. — Já eu? Sou
como uma raposa ardilosa. Gosto de
caminhar ao lado de um vencedor. — As
mãos enrolaram-se em meu pescoço,
prensando os seios em meu peitoral.
— Esse é o seu problema,
Justine — falei, segurando suas mãos.
— Você quer se manter apenas na época
de fartura, porém depois quer correr
quando chegam as dificuldades. Sinto te
informar, mas não penso dessa forma.
— Eu sei que com você, eu não
teria dificuldade alguma e, eu faria por
merecer, Lorenzo — disse ela, tentando
me beijar. — Posso ser muito melhor do
que aquela sonsa. Sei disso.
Empurrei-a para longe, tentando
ser delicado. Na verdade, minha
irritação estava nas alturas.
— Pare com isso! — exclamei,
incomodado. — Nem que nascesse de
novo, você seria melhor do que a
Giovanna. — Meu corpo inteiro tremia
de raiva. — Há três coisas importantes
que nem você e nem o Jason conhecem,
porque são tão egoístas quanto
egocêntricos. Chamam-se confiança,
amor e respeito. — O rosto dela
empalideceu. — Esses três sentimentos
são a base da minha relação com a
Giovanna e, eu jamais estragaria isso
por causa de uma mulher fútil como
você. Um homem só é completamente
forte, quando tem ao seu lado uma
mulher de valor que mesmo na pior
situação não irá abandoná-lo. — Peguei
minha camisa e o meu paletó. A caminho
da porta, eu parei e me virei: — Além
do mais, os seios da Giovanna são
incrivelmente maiores e mais bonitos
que os seus.
Saí de lá, sentindo-me muito
incomodado com toda aquela situação.
Era estressante ter que lidar com aquele
tipo de pessoa.
No carro, olhei para meu próprio
corpo semidesnudo, pensando numa
saída. Respirei fundo quando meu
celular começou a tocar. Era meu primo
Felipe.
Um suspiro desanimado escapou
dos meus lábios quando cheguei a
conclusão de que não conseguiria
cumprir a promessa de passear com
meus dois amores. Droga!

∞∞∞
Cheguei em casa no final do dia,
cansado e estressado. Quando as coisas
não saíam como o planejado, eu ficava
muito irritado.
Encontrei Giovanna no quarto,
sentada sobre a cama.
— Me perdoe, meu amor —
murmurei, enquanto tirava a gravata. —
Você não faz ideia de como foi o meu
dia — declarei.
O silêncio dela me fez olhá-la.
— Está tudo bem? — Ela
permaneceu me olhando. — Brandon
não apareceu?
— Apareceu sim — disse,
baixinho.
Sorri, sabendo o quanto a visita
do filho a deixava feliz.
— O que vocês fizeram? —
perguntei, arrancando minha camisa.
Agradeci mentalmente por sempre ter
peças de roupa no escritório, então foi
fácil trocar depois do incidente com a
Justine. — Brincaram de quê?
Fui surpreendido quando
Giovanna se levantou e, praticamente,
me atacou. A boca buscou pela minha
com selvageria. Era como se ela
estivesse se esforçando para provar
alguma coisa a si mesma.
— Uau! Isso tudo é saudade? —
questionei, empurrando minha cabeça
para trás. Os olhos azuis estavam
dilatados e um pouco atormentados.
— Me ame — pediu, retirando o
vestido que usava. O corpo nu fez o meu
pulsar na mesma hora. O efeito era
sempre o mesmo.
Agarrei-a pela nuca e trouxe seu
rosto mais perto, reivindicando seus
lábios carnudos. Eu ficava louco quando
ela buscava por mim daquela forma,
porque me fazia sentir desejado. Era
agradável saber que minha mulher sentia
tanto tesão por mim quanto eu sentia por
ela.
Devagar, caminhei com ela até
deitá-la sobre a cama. Minha boca
começou a trilhar beijos molhados pelo
seu corpo febril. Os gemidos baixos
logo aumentaram, tornando tudo ainda
mais intenso. Aos poucos fui me
livrando das minhas próprias roupas,
ensandecido pelo momento.
Num movimento inesperado, fui
empurrado para o lado e Giovanna
tomou o controle. Arquejei quando ela
abocanhou meu pau por inteiro, sem
deixar de me encarar com aquelas duas
safiras. Segurei seus cabelos com uma
das mãos, enquanto com a outra, eu
aproveitava para beliscar seus mamilos.
A excitação fervia em minhas células,
fazendo-me rendido.
Rendido de amor.
Rendido de desejo.
Soltei um gemido rouco quando
sua boca deslizou para cima e a língua
brincou com a glande.
Desesperado com aquela tortura,
eu me sentei, trazendo sua boca gostosa
para a minha, onde mordi os lábios
carnudos. Levantei-me, sem deixar de
beijá-la e, em seguida, eu a virei de
costas para mim.
— Você confia em mim? —
sussurrei a pergunta em seu ouvido,
adorando ver os pêlos arrepiados.
— Sim. — Engasgou ela.
Sorri, arrogante.
— Então se abaixe e deixe as
mãos para trás — pedi, forçando suas
costas para baixo.
No momento seguinte, ela fez
exatamente como pedi. Lambi os lábios,
enquanto me encaixava em sua entrada
exposta. Segurei suas mãos com as
minhas e, em seguida, eu a penetrei.
Nossos gemidos se misturaram quando a
preenchi por completo. Nossa conexão
era deliciosa.
Passei a usar suas mãos para dar
os impulsos necessários às investidas. A
visão que eu estava tendo do encontro
da minha pélvis com o traseiro
avantajado me fazia revirar os olhos; era
enlouquecedor demais.
Aquela mulher me causava
sensações tão deliciosas que chegavam
a ser assustadoras.
De repente, eu soltei suas mãos,
virei seu corpo na direção da cama e a
forcei para frente, de modo a fazê-la
debruçar-se contra o colchão. Minhas
investidas se intensificaram. Mordi seu
ombro, aproveitando para passear minha
mão por baixo de seu corpo suado e
tocar em seu clitóris inchado.
— Eu... vou gozar — soprou ela,
deitando a cabeça de lado de modo a
buscar pela minha boca.
— Então goza, meu pedaço do
céu — sussurrei. — Goza no meu pau,
gostosa.
Acelerei as investidas, sentindo
o redemoinho de emoções e sensações
se formando dentro de mim. O suor
pingava no meu rosto devido a toda
adrenalina.
Segurei-me ao máximo para não
gozar antes dela, e só me liberei quando
senti os tremores tomando conta do seu
corpo frágil.
— Lorenzo... oh, Lorenzo —
gemeu, gozando deliciosamente.
Com mais duas investidas, eu me
derramei em seu interior, adorando
sentir os apertos de suas paredes
pélvicas.
Soltei suas mãos, auxiliando-a a
se erguer. Em seguida, eu me deitei na
cama. Giovanna virou a cabeça na minha
direção, fixando o olhar no meu. Eu
podia sentir que alguma coisa a estava
incomodando, pois mesmo com nosso
sexo era possível sentir sua inquietação.
— Eu amo você demais — disse
ela, arrancando um sorriso meu. —
Nunca me imaginei sendo tão feliz.
Peguei sua mão — com o anel de
noivado — e trouxe aos meus lábios,
beijando a pele com carinho e puxando
o corpo nu mais perto.
— Você conseguiu fazer meu
coração sentir muito mais do que amor,
um sentimento mais forte, mais intenso,
mais verdadeiro, um sentimento muito
além da vida e muito além do amor —
declarei com fervor.
Erguendo o tronco, Giovanna se
aproximou para beijar meus lábios. Era
mais do que nítido que algo a estava
chateando, porém optei por não
questioná-la. Entretanto, suas lágrimas
me deixaram preocupado.
— Está tudo bem? — perguntei
no fim das contas.
Acariciei seu rosto, enxugando o
rastro das lágrimas.
Assentiu, beijando a palma da
minha mão.
— Vamos tomar um banho? —
quis saber, ignorando, propositalmente,
minha pergunta.
Fiquei olhando para ela,
tentando encontrar algo em seu olhar,
mas não havia nada.
Nenhuma pista.
No fim, acabei suspirando.
— Vou poder me aproveitar de
você mais um pouquinho? — perguntei,
safado, fazendo-a dar risada.
— É uma promessa? — indagou,
tão safada quanto.
Joguei a cabeça para trás, rindo
alto.
Levantamos e, eu a puxei para
mim, avançando em sua boca.
Éramos um só coração.
Éramos duas almas que se
completavam.
Capítulo 25
Lorenzo

— Então você pediu aquela


gata em casamento? — Felipe indagou,
fazendo-me sorrir.
— Resolvi ouvir os conselhos
do meu velho — respondi, dando de
ombros. — Giovanna se tornou
importante demais para deixá-la
escapar.
Felipe fez uma expressão
engraçada.
— Boa sorte nessa jornada,
primo — falou, se tremendo todo. — Eu
tô fora dessa amarração desnecessária.
Minha vida de solteiro é boa demais
para estragar assim.
Sacudi a cabeça, rindo.
— Diz isso porque ainda não
encontrou a mulher certa — comentei.
Gargalhei quando ele bateu com a mão
na madeira da porta de modo dramático.
Decidi mudar de assunto. — E então, já
começou as obras da sua futura clínica?
— Estão a todo o vapor —
respondeu, animado. — Aos poucos
estou formando minha equipe também.
— E a família? Eles estão
felizes com sua mudança? — perguntei,
ciente do apego dos González, ainda
mais Felipe sendo filho único dos meus
tios, Hugo e Lea.
— Estão um pouco apreensivos,
mas já tomei minha decisão — disse ele.
— Quero crescer na minha carreira, Lo,
e sei que essa será uma excelente
oportunidade para evoluir.
Assenti, orgulhoso.
— É isso aí. — Bati em seu
braço com meu punho. — Não devemos
nos prender no medo dos outros, mesmo
que essas mesmas pessoas apenas
queiram o nosso bem.
Ele assentiu.
— Gostou desse apartamento
então? — Gesticulei ao redor. — A
localização é perfeita, pois fica bem
próximo do endereço da sua clínica.
— Não acredito que você
também é dono de Imobiliária —
comentou, balançando a cabeça e rindo.
— Por que não me ensina essa fórmula
do sucesso?
— Nem todos os segredos
podem ser revelados, primo — brinquei,
fazendo-o rir. — Vamos assinar o
contrato de locação?
— Assim? Sem me levar para
sair primeiro? — questionou,
zombeteiro.
— Palhaço. — Passei por ele,
estapeando sua cabeça. — Quer tomar
alguma coisa?
A risada dele me contagiou.
— Onde você quer me levar? —
brincou. — Sou um moço de família,
você sabe.
— Ah, eu sei sim — falei,
divertido também.

∞∞∞
O trânsito no horário de almoço
estava extremamente estressante e minha
paciência não estava das melhores,
considerando que não estava
conseguindo me comunicar com a
Giovanna. Tínhamos conversado mais
cedo, contudo ela não tinha aparecido no
escritório no período da manhã e
também não estava atendendo ao
telefone.
Minha preocupação estava
intensa, já que na noite anterior notei
que ela estava esquisita. Conversamos,
porém isso não servia para amenizar
meu desconforto. Eu a amava demais
para não me preocupar.
Longos minutos mais tarde, eu
estacionei o carro na minha vaga e
desci. Cumprimentei o porteiro e, em
seguida, peguei o elevador que,
rapidamente, me deixou no meu andar.
Mal abri a porta do apartamento
e parei no meio do hall, surpreso com o
que meus olhos viram.
— O que está fazendo aqui? —
perguntei ao Jason.
Ele não respondeu, ao invés
disso, olhou para o lado, para a
Giovanna, que logo surgiu no meu
campo de visão.
— Ele veio me buscar, Lorenzo
— disse, simplesmente.
— Buscar? — Eu estava muito
confuso.
Tentei não me preocupar com a
expressão estranha dela, mas estava bem
complicado.
— É isso mesmo — repetiu. —
Jason e eu reatamos.
Meu peito sufocou.
— O quê?
Assisti, em transe, o momento
em que ela caminhou, carregando uma
mala.
— Que brincadeira é essa,
Giovanna? — insisti, sem querer
demonstrar meu desespero.
— Não é brincadeira nenhuma,
caro amigo — intrometeu-se Jason. —
Minha garota apenas enxergou que o
único e verdadeiro amor dela sou eu.
Ignorei-o totalmente e, em
seguida, cheguei perto da Giovanna.
— Giovanna? — Busquei sua
mão e apertei entre as minhas. — Amor?
Por favor, olhe para mim — pedi.
Aqueles olhos prenderam os meus.
Tentei ler seu olhar, mas não consegui.
Era gelo. Puro gelo. — Não faça isso.
Você não precisa desse traidor na sua
vida. Eu amo você e, eu sei que você me
ama também. — Ela não disse nada. —
Tenho certeza que o que nós vivemos
durante todos esses meses foi real.
Acariciei seu rosto, sentindo a
maciez da sua pele.
— Foi real sim — disse ela,
fazendo com que um sorriso brotasse em
meus lábios. — Mas apenas para você
— acrescentou. Uma dor absurda tomou
conta de todo o meu ser. — Não me leve
a mal, Lorenzo... — continuou,
afastando-se de mim — eu me senti
acolhida por você, obviamente, porque
precisava desse tempo para me
restabelecer. Mas jamais deixei de amar
o Jason. Ele errou, eu sei disso. E o
quão hipócrita eu seria se não lhe desse
uma segunda chance?
— Isso já nem é questão de
hipocrisia, mas de burrice, Giovanna —
rosnei, entre dentes.
— O único burro aqui foi você,
seu otário — Jason sibilou, fazendo com
que minha fúria se aflorasse. —
Giovanna jamais deixou de ser minha
mulher.
Marchei feito um touro pra cima
dele, mas fui freado por Giovanna que,
espalmou meu peito com suas delicadas
mãos.
— Não faça isso, Giovanna —
implorei, sem conseguir controlar toda a
emoção engasgada dentro da minha
garganta. — Esse cara não te ama, será
que não percebe? Você merece mais do
que um homem que a abandone quando
você mais precisa. Você merece um
homem que priorize você mais do que
qualquer coisa. E esse homem sou eu.
— Perdoe-me por quebrar seu
coração, Lorenzo, mas infelizmente não
consigo mais continuar fugindo do que
sinto. Jason é e sempre foi o homem que
eu amo.
Nesse momento, Jason se
aproximou dela e a puxou para ele.
Meus punhos se fecharam na mesma
hora e tudo o que consegui enxergar foi
o vermelho.
Vermelho sangue.
Ergui o braço e mirei meu punho
na direção daquele rostinho bonito,
apenas para apagar o sorriso sarcástico
dos seus lábios. Giovanna gritou, mas
não dei ouvidos.
Todo o meu corpo pedia por
aquilo.
Eu queria acabar com aquele
infeliz.
— Lorenzo, pare! Pare com isso!
— gritou ela, enquanto eu continuava
socando o rosto do Jason feito uma
máquina assassina. — Pare! Não me
faça odiá-lo.
Parei na mesma hora em que ela
pronunciou tais palavras. Meus
batimentos cardíacos podiam ser
ouvidos a quilômetros de distância,
contudo ninguém, além de mim,
conseguia ver o quanto meu coração
sangrava.
Fiquei imóvel quando ela foi até
o Jason, auxiliando-o para se levantar. O
rosto estava inchado e um pouco
ensanguentado. Giovanna pegou a mala
e, em silêncio, os dois seguiram para a
porta de saída.
Não houve mais troca de
palavras e nem de olhares.
Meu pedaço do céu... a única
mulher que eu amei estava partindo e, eu
não poderia fazer nada para impedir.
Capítulo 26
Giovanna

Passado

Era impossível ignorar o fato


de que eu estava num lugar inóspito e,
totalmente, sozinha.
Os dias não passavam.
As horas não passavam.
Eu contava cada segundo da
vivência naquele inferno, porque queria
que aquela tortura acabasse. Eu era
inocente, mas ninguém acreditava em
mim. Fui abandonada pelo único homem
que amei e essa certeza me machucava
mais do que saber que teria longos anos
pela frente dentro daquela prisão.
Com os olhos nublados, eu
caminhei para fora da cela em que eu
dividia com outra condenada. Era
horário de visita, mas eu nunca recebia
visita, com exceção do meu pai que
apareceu uma única vez. Eu não o
julgava, porque certamente não era fácil
ver sua filha atrás das grades.
Rumei na direção do banheiro,
porém antes de chegar até lá, eu fui
agarrada por várias mãos. Meu
desespero chegou ao cume quando fui
arrastada para uma parte isolada.
— Olá, novata — disse uma
mulher corpulenta, parando na minha
frente, enquanto eu ainda estava sendo
segurada. — Sei que você não deve
estar entendendo o que é isso, mas quero
que saiba que nada disso é pessoal. —
Riu como se tivesse acabado de contar
uma piada. — São apenas negócios,
lindinha.
Meus olhos encheram-se de
lágrimas, porque era mais do que certo
que eu morreria ali.
De repente, ela ordenou que
tirassem a mão que cobria a minha boca.
— Não ouse gritar, porque será
muito pior — avisou, entre dentes.
Respirei fundo, tentando
raciocinar.
— O-o que eu fiz? — questionei,
olhando diretamente para ela, que estava
mais do que óbvio que era a líder do
bando.
— Para mim? Nada. Porém, há
alguém lá fora que não quer que você
continue respirando, minha criança. —
Se inclinou, ficando sob os próprios
pés. Estremeci quando uma de suas
mãos tocou meu rosto. Havia fascínio
em seu olhar. — Recebi a ordem para
matá-la.
Pavor atravessou minha espinha
e pude sentir o frio se apossando de
cada uma das células do meu corpo.
— Não, por favor, não faça isso
— implorei. — Eu sou nova. Eu sou
alguém. Tenho um filho que ainda nem
chegou a completar um ano... — solucei,
tentando me soltar das garras das outras
mulheres que me seguravam com força
— E-eu não posso morrer agora, por
favor... eu nem deveria estar aqui...
— Vai dizer que é inocente? —
questionou, arqueando as sobrancelhas.
— Sim, eu sou.
— Engraçado, porque todas nós
somos inocentes — zombou uma das que
me seguravam, fazendo todas as outras
rirem.
Fiquei quieta, sentindo-me
acuada. Ergui o olhar, deparando-me
com a mulher corpulenta me encarando.
— Saiam — ordenou para as
outras, mas sem tirar os olhos de mim.
— Saiam e fiquem vigiando a entrada.
Mesmo a contra gosto, elas me
soltaram e saíram.
Continuei no chão, assustada
com toda aquela situação opressora. Eu
não poderia lutar, pois sequer matava
uma mosca.
Meu rosto estava encharcado
pelas lágrimas que não paravam de cair
e meu corpo todo convulsionava.
Fui pega pelos cabelos e
ameacei gritar no momento em que uma
lâmina foi colocada contra minha
jugular.
— Se você gritar, eu juro que
enfio esse espeto na sua garganta de fora
a fora — ameaçou num tom cavernoso.
— Entendeu? — gemi, engasgando com
o próprio choro, mas acabei assentindo.
— Ótimo! Boa menina.
Ela tirou a mão da minha boca,
mas continuou por perto.
— O-o que você va-vai fazer?
— perguntei, baixinho.
Soltou o ar, encarando-me como
se eu fosse uma maldita gazela.
— Eu não sei — disse. —
Depende de você. Depende do que você
está disposta a fazer pela sua vida.
Meu coração parecia querer
saltar do meu peito.
— O-o que está querendo dizer?
Ela não respondeu, ao invés
disso, sentou-se ao meu lado e bateu
com a mão em seu próprio colo.
— Deite-se aqui — pediu.
Trêmula, não recusei o pedido,
disfarçado em tom de ordem. — Você é
uma garota muito bonita, Giovanna —
comentou, enquanto trilhava meu corpo
com suas mãos. — Toda perfeitinha e
cheirosinha... — estremeci quando sua
mão preencheu um dos meus seios.
— O-o que você quer?
— A pergunta certa, Giovanna,
é: O que você quer? — rebateu.
— Quero sair daqui viva —
respondi, contorcendo o rosto com
novas lágrimas.
— Shii... — senti seus dedos
abaixo dos meus olhos, limpando a
umidade — Não chore, lindinha, não
chore. — calou-se por alguns instantes,
parecendo pensar. — O problema é que
eu até poderia deixá-la sair por aquela
porta, querida, mas sua situação não
seria resolvida. Outras pessoas lá fora
são capazes de qualquer coisa por
dinheiro, entende? — Fiquei quieta,
assimilando tudo o que ela disse e
tentando encontrar uma solução, embora
fosse impossível nas atuais
circunstâncias. — Mas...
— O quê? — estimulei. — Mas
o quê?
— Eu posso te ajudar —
respondeu, acariciando meu rosto e
desenhando meus lábios com seus
dedos. — Posso te proteger.
— Pode?
— Claro que sim — garantiu. —
Ninguém terá coragem de olhar para
você se estiver debaixo das minhas asas.
Assenti, absorvendo suas
palavras.
— O que quer em troca?
Um sorriso maléfico tomou conta
dos lábios finos e pude ver os dentes
tortos e podres.
— Quero que seja minha —
disse.
Meu mundo se abriu sob os meus
pés mais uma vez naquele momento. Na
minha mente, eu gritava com deus,
enraivecida pela minha sorte de merda.
Nunca sequer tinha pensado em me
relacionar com outra mulher, mas eu não
tinha uma escolha ali... minha vida
dependia daquilo.
Eu precisava ignorar os meus
desejos.
Precisava ignorar o meu lado
escandalizada.
Ergui-me, ficando ombro a
ombro com aquela mulher.
— Está bem — falei, sentindo a
dificuldade em pronunciar tais palavras.
— Eu aceito sua proposta.
A alegria da minha resposta
ficou evidente no rosto dela, que se
aproximou para me beijar. Porém, freei
sua tentativa, cobrindo sua boca com
minha mão.
— Mas antes, eu preciso saber o
nome de quem mandou você me matar.
— Que diferença isso faz? —
retrucou.
— Toda — respondi, séria. —
Faz toda a diferença para mim.
A mulher não respondeu de
imediato, mas no fim das contas,
resolveu falar:
— Justine. O nome dela é
Justine.
Meus olhos se arregalaram
devido ao choque. Foi como se
finalmente a trave houvesse sido
arrancada e, eu estivesse enxergando
tudo como verdadeiramente eram. Ali,
descobri que fui traída duas vezes. Uma
pelo Jason, e outra pela amiga que
pensei que tinha.

∞∞∞

Presente
A noite chegou e, eu sequer notei
o tempo passar. Fui ao banheiro e tomei
um banho rápido, apenas para encontrar
o alívio necessário para conseguir
dormir, o que era ridículo, já que minha
mente estava um caos depois que deixei
o Lorenzo, horas atrás.
Longos minutos mais tarde, eu
saí do banheiro, me deparando com
Jason, sentado na cama. Assim que me
viu, ele sorriu e veio na minha direção,
com intenção de me beijar.
— Nem ouse chegar perto de
mim — rosnei, esticando meu braço de
modo a formar uma barreira entre nós.
— Não é porque me submeti a sua
chantagem nojenta que você terá algum
direito sobre mim, Jason. — Deixei
claro. — Não se esqueça de que estou
aqui contra a minha vontade!
Observei que seu maxilar
trincou, porém não dei a mínima. Jason
nunca gostou de ser contrariado.
Fui até a cama, peguei um
travesseiro e uma coberta. Em seguida,
rumei para a porta.
— Ei? Aonde pensa que vai?
Parei, antes de girar a maçaneta.
— Eu não penso, eu vou! —
exclamei, furiosa. — Irei dormir no
quarto do Brandon.
— Giovanna...
Cortei-o:
— Jason apenas olhar para você
já me causa asco, então, por favor, não
tente forçar a barra.
Dizendo isso, abri a porta e
deixei o quarto, pisando duro.
Quando cheguei ao cômodo ao
lado, eu vi que Brandon ainda estava
acordado. Aconcheguei-me a ele,
inspirando aquele cheirinho delicioso de
bebê e, aos poucos, comecei a me sentir
melhor.
Capítulo 27
Lorenzo

Estar naquele ambiente não


fazia parte do meu cotidiano, entretanto
minha mente estava precisando de
descanso. Eu precisava me anestesiar
um pouco e me esquecer do lugar em
que Giovanna estava. Precisava parar de
pensar no que ela poderia estar fazendo.
Precisava não pensar na fúria do ciúme
que toda aquela situação me trazia.
— Para você estar aqui é sinal
de que a merda foi grande.
Nem me dignei a erguer os olhos
para saber que aquela era a voz do
Felipe.
— Não estou a fim de conversar
com ninguém agora — resmunguei,
trazendo o copo de uísque à minha boca.
Entornei o restante do líquido e, em
seguida, pedi outra dose ao barman.
— Pode trazer a garrafa, por
favor — disse o Felipe, aconchegando-
se numa das banquetas do bar. — O que
aconteceu?
Esfreguei o rosto, irritado.
— Acabei de falar que não estou
a fim de conversa — resmunguei, sem
paciência alguma.
— É, eu sei exatamente o que
você falou, mas não dou a mínima —
declarou, firme. — Você é meu primo,
mas, além disso, nós somos amigos.
Amigos se ajudam.
Respirei fundo, soltando o ar aos
poucos.
Uma garrafa de uísque foi
colocada diante dos meus olhos. Felipe
nos serviu.
— Nesse exato momento,
Giovanna está na casa do cuzão do ex
dela — murmurei, entornando um longo
gole do uísque.
— O quê? Como assim? —
questionou, confuso e incrédulo. — Ela
voltou para o cara? Eu pensei que vocês
estavam noivos, Lorenzo. Porra, primo!
Não falei nada, porque não tinha
o que dizer.
Havia um caos dentro de mim.
— O que pretende fazer agora?
— perguntou, visto que permaneci no
silêncio.
— Esperar — respondi.
— Esperar? Mas esperar o quê?
— Novamente optei pelo silêncio e, ele
bufou. — Cara, você é muito paciente,
puta que pariu!
Permiti-me dar uma risadinha.
— Estou de mãos atadas agora,
Felipe. — Dei de ombros. Peguei o
copo de bebida. — E então? O que está
fazendo por aqui? — Mudei de assunto.
Seu olhar ficou perdido no meu,
certamente, tentando entender o que se
passava na minha cabeça em relação
àquela situação com a Giovanna. Eu
sabia que ele estava preocupado, e
provavelmente, revoltado com a atitude
que ela tomou.
Suspirando, ele pegou sua
bebida.
— Ah, estou caçando alguma
gata pra essa noite — respondeu no fim.
— Não esperava encontrá-lo aqui.
— Pois é, minha mente não
estava em um bom lugar, então tive que
sair um pouco.
— Está pensando em se vingar?
— perguntou, eufórico. — Cara, tem
muitas mulheres bonitas por aqui! —
exclamou, varrendo o olhar ao nosso
redor. — Podemos transar a noite toda.
Não há nada melhor do que uma boa
noite de sexo para aliviar a tensão.
Sacudi a cabeça, rindo.
— Nem tudo se resolve com
sexo sem compromisso, Felipe.
— Quem disse isso? — revidou
ele, divertido. — Essa é a melhor
fórmula da felicidade que já inventaram.
Voltei a rir, porém meu sorriso
logo morreu quando avistei uma mulher
entrando no bar.
— Caralho! — Felipe exclamou,
olhando na mesma direção que eu. —
Que gata é aquela?
— Garanto que o que ela tem de
gata, tem de venenosa — resmunguei,
acompanhando Justine com os olhos.
O rosto de Felipe se tornou
surpreso.
— Sério? — Assenti com a
cabeça. — Que pena. — Entornou a
bebida, esvaziando o copo. — Você vai
ficar bem? — perguntou, voltando a me
encarar enquanto descia da banqueta. —
Se por acaso precisar, eu levo você para
casa.
Neguei.
— Não se preocupe. Pode não
parecer, mas sou acostumado a beber —
garanti. — Sou bem tolerante ao álcool.
Pode ir tranquilo.
— Tá legal. — Fechou a mão em
punho e socou meu ombro. — Não se
esqueça de que você pode contar
comigo sempre, entendeu? Somos uma
família, Lorenzo.
Assenti, agradecido.
— Eu sei, cara. Valeu mesmo!
Nos despedimos e, em seguida,
enchi meu copo novamente e bebi todo o
líquido de uma vez só. Depois disso, eu
me ergui e caminhei até estar perto da
Justine, que se encontrava sentada em
frente ao balcão do bar, sozinha e
cabisbaixa.
— No fundo do poço também?
— provocou ela, assim que notou minha
presença. — Então quer dizer que a boa
samaritana deu um pé na sua bunda,
González? — gargalhou, antes de
bebericar sua bebida.
Travei o maxilar, sentindo a ira
me apossando.
— Temos que conversar —
rosnei.
— Não, nós não temos —
decretou ela, em tom amargo. — Na
última vez, você conseguiu deixar bem
claro o que pensava sobre mim, então
agora, eu posso me dar ao direito de me
recusar a conversar com você, Lorenzo.
— Não seja melodramática,
Justine, porque isso não combina com
você.
— Você tem razão, não combina
mesmo. — Afirmou, fixando o olhar no
meu. — Sabe o que combina comigo,
Lorenzo? — intimou. — Luxo. Viagens
caras. Roupas, joias e perfumes
importados. Homens com as carteiras
recheadas. É isso que combina comigo,
González. E, eu tinha tudo isso até
aquela maldita da Giovanna ressurgir
das cinzas e estragar tudo.
— Tecnicamente, ambos
sabemos que o Jason já estava falido
antes mesmo da Giovanna sair da
prisão, hun? — alfinetei.
— Dane-se! — rosnou ela. —
Não me interesso por nada disso. Quero
mais é que todos vocês se fodam.
— Na verdade, Justine, as coisas
não são tão simples assim e nós
precisamos conversar.
— Você é surdo? Eu disse que
não quero papo!
Inspirei profundamente buscando
controle.
— E você é burra, ou apenas se
faz? — revidei com raiva.
Um dos seguranças do bar se
aproximou de nós dois. Era um homem
mal encarado e muito corpulento.
— Esse senhor está
incomodando você, senhorita? —
perguntou ele, me encarando com um
olhar ameaçador.
Justine não tirou os olhos de mim
quando respondeu:
— Sim, ele está.
Desgraçada!
O homem me fuzilou.
— É melhor que se afaste da
moça, amigo, ou teremos problemas. —
Gesticulou.
Ergui as mãos, dando alguns
passos para trás.
Meu ódio era imenso, mas não
maior do que minha inteligência. Não
me sujaria por tão pouco.
Decidi me afastar, porque
haveria outra oportunidade.
Eu sabia que nem tudo estava
perdido.
Capítulo 28
Lorenzo

A semana seguinte se iniciou e,


eu já estava na estrada antes mesmo do
amanhecer do dia de segunda-feira. Meu
humor estava ácido, mas esforçava-me a
todo o momento para me controlar e não
descontar minhas frustrações em quem
não tinha nada a ver com meus
problemas.