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da Costa
Décio Krause
NOTAS DE LÓGICA
Parte I:
Lógicas Proposicionais Clássica e
Paraconsistente
CAPÍTULO 3
(Texto Preliminar)
florianópolis
2004
2
Conteúdo
0.1 O cálculo C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
0.1.1 Digressão: Denições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
0.1.2 Observação sobre a notação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
0.2 Semântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
0.3 Validade: Tabelas-Verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
0.4 Decidibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
0.5 Digressão: 'Implicação Física' . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
0.6 Conectivos adequados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
0.6.1 O Teorema de Post . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
0.6.2 Conectivos de Sheer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
0.7 Tabela de tautologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
0.8 Validade de argumentos, II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
47
48 CONTEÚDO
Capítulo 3
O Cálculo Proposicional Clássico
0.1 O cálculo C
Chamaremos de C a teoria formal que corresponderá ao Cálculo Proposi-
cional Clássico. A linguagem de C será denotada por L. Conforme o que se
estabeleceu no capítulo anterior, iniciaremos descrevendo o alfabeto básico
de L. Os símbolos primitivos desta linguagem são os seguintes:
49
50 O Cálculo Proposicional Clássico
¬¬(((→→ ABA((¬
→→→ AAA)))¬)¬
(A → (A → ¬B))
(iii) Uma expressão é uma fórmula se e somente se for obtida por uma das
duas cláusulas precedentes.
A, B, (A → (A → (¬B))) e
0.2 Semântica
Seja V um conjunto qualquer de variáveis para proposições. Chamamos de
valoração , ou interpretação de V a uma aplicação v de V no conjunto {0, 1}.4
O valor v(X), para X ∈ V é dito valor-verdade de X . Se V (X) = 1, dizemos
que X é verdadeira com respeito à valoração v , e que é falsa em caso contrário
(ou seja, se v(X) = 0).
Se V 0 é o conjunto das fórmulas de L gerado a partir das fórmulas do
conjunto V mediante a denição acima (isto é, aplicando-se os conectivos
lógicos),5 então podemos denir uma aplicação v 0 de V 0 em 2 = {0, 1} do
seguinte modo:6
α1 , . . . , αn |= β
¬A ∨ B |= A → B.
A B
v1 1 1
v2 1 0
v3 0 1
v4 0 0
A B ¬A ∨ B A→B
1 1 1 1
1 0 0 0
0 1 1 1
0 0 1 1
8 Por
indução, é fácil mostrar que se há n variáveis proposicionais envolvidas, haverá
2 valorações possíveis, logo, 2n linhas na tabela-verdade.
n
58 O Cálculo Proposicional Clássico
A ¬A
1 0
0 1
0.4 Decidibilidade
Acima, vimos o conceito de sistema formal decidível. Por um método de
decisão para um sistema formal F entende-se, grosso modo, um método por
meio do qual podemos decidir em um número nito de passos se uma dada
fórmula é ou não um teorema de F. O chamado problema de decisão de F é
encontrar um tal método, ou provar que ele não existe. O problema reside em
que é preciso denir de modo sensato o que signica ter-se um método , o que
se faz com o auxílio da Teoria da Recursão, uma das mais importantes áreas
da lógica atual, mas que não abordaremos aqui;9 em vez disso, suporemos
que os conceitos acima são intuitivamente claros, e o que interessa enfatizar
é que as tabelas-verdade fornecem um método de decisão para o Cálculo
Proposicional Clássico.
Observa-se que esse resultado se assenta no fato de que mediante o uso de
tabelas-verdade podemos determinar (em um número nito de passos, pois
9 Isso
daria signicado preciso ao acima referido 'número nito de passos'. Informal-
mente, iso quer dizer algo como que o resultado pode ser alcançado com o uso de um
computador.
`Implicação Física' 59
Exercício 0.3 (Importante) Mostre que para toda valoração v 0 como denida
acima para as fórmulas do cálculo C é tal que, para toda fórmula α, tem-se
que v 0 (α) 6= v 0 (¬α). Este resultado será usado abaixo.
Exemplo 0.1
Para xi ∈ {0, 1}, i = 1, . . . , n, denimos Iin (x1 , . . . , xn ) = xi .
Nota-se por outro lado que dar uma função booleana n-ária é nada mais
do que dar uma tabela-verdade com n linhas. Por exemplo, a tabela seguinte
dene uma função booleana ternária:
O Teorema de Post 63
x1 x2 x3 f (x1 , x2 , x3 )
1 1 1 0
1 1 0 1
1 0 1 1
1 0 0 0
0 1 1 1
0 1 0 1
0 0 1 0
0 0 0 1
O problema interessante é estabelecer o inverso: dada uma tabela, achar
uma fórmula que tenha tal tabela como tabela-verdade. Essa questão foi
resolvida por E. Post em 1921, e será visto abaixo.
A B ¬A ¬B A ↔ A A ↔ ¬A A↔B A ↔ ¬B
1 1 0 0 1 0 1 0
1 0 0 1 1 0 0 1
0 1 1 0 1 0 0 1
0 0 1 1 1 0 1 0
A B A↓B
1 1 0
1 0 1
0 1 1
0 0 1
A B A|B
1 1 0
1 0 0
0 1 0
0 0 0
A B A¯B
1 1 0
1 0 a
0 1 b
0 0 1
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71
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