Saltando na ZL da eternidade: O bosque dos campeões e a construção da memória na tropa paraquedista
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Saltando na ZL da eternidade - Luiz Espírito Santo
Copyright © 2020 by Paco Editorial
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Revisão: Renata Moreno
Capa: Matheus de Alexandro
Diagramação: Marcio Carvalho
Edição em Versão Impressa: 2020
Edição em Versão Digital: 2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Leandra Felix da Cruz Candido – Bibliotecária – CRB-7/6135
Conselho Editorial
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Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
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Telefones: 55 11 4521.6315
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, aos meus orientadores, prof. dr. Paulo André Leira Parente e ao mestre Fernando Vellozo Gomes Pedrosa pela confiança, apoio e incentivo nesta trajetória. Agradeço imensamente ao sr. coronel Cláudio Tavares Casali, comandante do Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil – Escola de Paraquedistas 1945 e ex-comandante do 25º Batalhão de Infantaria Paraquedista, pelo acolhimento, gentileza e colaboração com que me recebeu no Ninho das Águias
, pelas inestimáveis informações que me forneceu e pelas portas que me abriu com vistas a me ajudar a desenvolver este trabalho. Meus agradecimentos à Seção de Arquivo Histórico da Brigada de Infantaria Paraquedista, especialmente ao seu chefe, o sr. capitão D.F. Gonçalves, que me permitiu acessar a fontes absolutamente imprescindíveis para que eu conseguisse concluir essa missão com êxito. Agradeço ao meu amigo historiador e especialista em História Militar Brasileira, Renato Restier, por ter me ajudado com bibliografia, orientações e sendo sempre solicito quando precisei de ajuda. Meu agradecimento especial a todos os paraquedistas militares que contribuíram com a pesquisa, oferecendo a mim, muitas vezes, seu tempo em momentos de descanso, inclusive nos finais de semana e tarde da noite. Sem suas vivências, percepções e relatos, esta pesquisa jamais teria sido realizada. Aos meus queridos filhos, Zion e Diana, crianças maravilhosas, as quais amo mais que a mim mesmo, à minha amada esposa, Patrícia, e à minha querida mãe, Virgínia, que foram meus companheiros em arquivos, pesquisas, visitas, entrevistas e na redação deste trabalho.
O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a nós, para que estejam conosco.
(Padre Antonio Vieira, Sermões)
SUMÁRIO
Folha de rosto
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
1. Fundamentação teórica
1. Brigada de Infantaria Paraquedista: breve histórico
2. Sê mais um paraquedista e orgulha-te de ti mesmo!
3. Representações da morte na história militar
4. Memória e identidade
5. Naturezas do espaço: significado, pertencimento e perspectivas
6. Paraquedistas militares mortos em atos de serviço:
os campeões!
7. A ZL da Eternidade: o Bosque dos Campeões
2. Procedimentos metodológicos
3. Análise dos dados
Considerações finais
Posfácio
Bibliografia
Fontes eletrônicas
Página final
PREFÁCIO
Luiz Espírito Santo termina sua obra com uma citação de Nietzsche: O autor tem direito ao prefácio, mas ao leitor pertence o posfácio
. Ele abriu mão deste direito e me deu a honra de escrever algumas linhas sobre este magnífico livro Saltando na ZL da eternidade: o Bosque dos Campeões e a construção da memória na tropa paraquedista
.
Um livro abrangente, que não almeja contar a história de cada personagem que repousa na ZL da eternidade, mas aborda as diversas formas de tributos àqueles que combateram um bom combate, mas sucumbiram diante de uma atividade de risco. Apresenta-nos de maneira brilhante as raízes antropológicas dos cultos aos heróis e aos que padeceram em batalhas. Conta-nos a história da construção do monumento e as relações dos integrantes da tropa com o espaço físico. Brinda-nos com comovente depoimento pessoal de seus amigos que lá são homenageados. Confidencia-nos o medo e os reflexos do medo nos voluntários ao Curso Básico Paraquedista.
Logicamente, os riscos do abandono de uma aeronave militar em voo são minimizados pelo adestramento, pelos procedimentos de inspeção, pela prática repetitiva de medidas, mas é de risco, principalmente em um teatro de operações de guerra. É uma atividade de confiança naquele que dobrou seu paraquedas, que lhe inspecionou, que autorizou o lançamento, que lhe precedeu. Confiança.
A existência do Bosque dos Campeões, no meio da Brigada Infantaria Paraquedista, pode até dar uma restrição de acesso ao público em geral, mas é cultuado por todos os combatentes aeroterrestres como mais um símbolo sagrado de todos os que compõem a mística e espírito de corpo daqueles que lá trabalham, tão importante quanto a boina, o boot e o brevet.
O Bosque dos Campeões é um espaço de reflexão, de meditação, como tantos outros existentes mundo afora, de culto a todos aqueles que entregaram suas vidas pelo seu país. Com certeza, após a leitura deste livro, nos sentimos mais civilizados, patriotas e respeitadores de espaços que veneram heróis e campeões.
BRASIL ACIMA DE TUDO!
Claudio Tavares Casali,
Coronel
INTRODUÇÃO
A verdade consiste em evitar o esquecimento. Existe um dever de memória, principalmente em relação ao que dói e incomoda.
(Le Goff, 1924)
Sê mais um paraquedista e orgulha-te de ti mesmo
. Esta frase foi estrategicamente colocada na entrada da Área de Estágios da Brigada de Infantaria Paraquedista¹, que é o local onde anualmente grandes contingentes de militares voluntários das três Forças Armadas brasileiras e integrantes de forças armadas de outros países realizam árduos treinamentos com a finalidade de se tornarem paraquedistas (Pqdt) do Exército Brasileiro.
A Brigada de Infantaria Paraquedista é uma Grande Unidade do Exército Brasileiro, cuja missão é atuar com rapidez nas ações de defesa externa e de garantia da lei e da ordem, em qualquer parte do território nacional e, eventualmente, em operações de paz
.²
Em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro instituiu a Escola de Paraquedistas – atualmente conhecida como Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil (CI Pqdt GPB) – com a finalidade de habilitar militares a realizar atividades aeroterrestres, muito em função desse tipo de ação ter sido amplamente utilizado em diversos teatros de operações durante a grande guerra ocorrida entre os anos de 1939 e 1945. Os brasileiros pioneiros paraquedistas foram formados em Fort Benning, nos Estados Unidos, berço das tropas aeroterrestres estadunidenses, na segunda metade da década de 1940 (Loureiro, 2003). Esses homens trouxeram as técnicas que aprenderam para o Brasil e foram fundamentais no desenvolvimento de uma identidade que se conhece na caserna como a mística paraquedista (Oliveira, 2015). Esta foi sendo construída coletivamente, cultuada e transmitida pelos integrantes dessa tropa durante décadas, e, à medida que os paraquedistas mais antigos deixavam as suas atividades operacionais, novos integrantes chegavam e davam sequência ao legado dos pioneiros.
Nos anos 1980, o historiador francês Pierre Nora problematizou o surgimento dos lugares de memória.³ Físicos ou simbólicos, estes espaços são construídos a partir de determinados interesses de grupos ou projetos. Na Europa, a presença destes monumentos é abundante. No Brasil, é notável a constante tentativa das instituições militares em construir esse tipo de ambiente, numa clara tentativa de, em geral, reforçar a identidade militar e o patriotismo a partir de monumentos fúnebres. As atitudes diante da morte no Brasil contemporâneo podem ser analisadas a partir das tentativas de construção de um culto cívico aos mortos em combate. Os monumentos fúnebres militares permitem identificar as atitudes coletivas da sociedade e a relação com seus mortos. Meu objeto de pesquisa é um espaço dessa natureza, mas que possui uma série de singularidades que o diferenciam em conteúdo e forma dos demais tipos de monumentos alusivos à morte de militares no Brasil: o Bosque dos Campeões, espaço que rememora os militares da Brigada de Infantaria Paraquedista caídos em atos de serviço.
Uma das principais referências na construção da mística paraquedista, o Bosque dos Campeões, situado no atual 25º Batalhão de Infantaria Paraquedista (25º BI Pqdt), foi criada no final da década de 1950 no então Regimento Santos Dumont que, à época, reunia num único comando os atuais batalhões de infantaria paraquedista (o já mencionado 25º, o 26º e o