Em exercício no cargo de prefeito, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (DEM), sancionou na última quarta-feira, dia 17, o Projeto de Lei de
2013, de autoria da vereadora Edir Sales (PSD), que institui o Parque Verde do São Lucas em parte do terreno da antiga fábrica da Linhas Corrente, no Jardim
Independência. A aprovação foi publicada hoje do Diário Oficial do Município.
A lei estabelece que o parque seja implantado no espaço de 90 mil m² entre a avenida do Oratório, rua General Irulegui Cunha, rua Ribeirópolis, avenida Secondino, rua
Antonio Rodrigues dos Ouros e rua Carlos Censi. Na outra metade da área foi construído o pátio dos trens do monotrilho pelo Governo do Estado.
No decreto consta também que no local poderão ser desenvolvidas atividades temáticas relacionadas à cultura, educação ambiental e preservação do meio ambiente.
A criação do parque é uma antiga reivindicação da comunidade. Em setembro de 2013 cerca de 500 pessoas realizaram um abraço simbólico em parte do terreno para
chamar a atenção das autoridades. “Agora é lei, estamos mudando a realidade do bairro que hoje está entre os que apresentam menores índices de áreas verdes da capital,
além de incentivar o esporte e lazer dos moradores. A nossa luta, que começou com o abraço no parque em 2013, reuniu muitas pessoas que hoje fazem parte dessa
vitória”, afirmou a vereadora.
Para o tão sonhado parque sair do papel é necessário que a Prefeitura desaproprie a área que pertence ao Grupo Zaffari, do Rio Grande do Sul, que no passado
demonstrou vontade de erguer um shopping center e um hipermercado no local.
Nem parece que a vasta área fica em plena cidade de São Paulo. Em meio aos espigões de concreto crescendo por toda parte, um terreno de cerca de 86 mil m² no Jardim
Independência, no São Lucas, abriga densa vegetação, variadas espécies de pássaros e um pouco da história do que foi a passagem da companhia inglesa Linhas Corrente
pela região.
A atual empresa proprietária, o Grupo Zaffari, do Rio Grande do Sul, abriu a área para uma visita monitorada da comunidade na tarde do último dia 31. É necessário fazer
uma verdadeira trilha por um bosque fechado para percorrer toda a extensão do terreno. Além da natureza, chama atenção as construções remanescentes da antiga fábrica,
como um enorme galpão e as vilas com as residências de funcionários.
Uma das vilas, que concentra várias moradias erguidas todas no mesmo estilo, abrigava gerentes. Em outra área, há residências maiores que chegaram a receber ingleses
e escoceses do alto escalão da companhia que ainda mantém sede no Reino Unido.
O Grupo Zaffari tem um projeto tramitando na Prefeitura para transformar o espaço em parque público. A empresa se prontifica a doar o terreno em troca de potencial
construtivo em outro ponto da cidade – prática permitida por lei e alternativa diante da falta de verba nos cofres municipais para comprar a área.
De acordo com os diretores que acompanharam a visita, a proposta é entregar o parque pronto ao governo municipal. Arquitetos responsáveis pelo projeto do parque
destacaram que a ideia é preservar também as antigas vilas e o amplo galpão, que poderá sediar feiras, exposições e apresentações musicais.
No processo em tramitação na Prefeitura consta que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) emitiu no ano passado, o Termo de Reabilitação, definindo
que a área está apta para uso como parque público. Também é citado parecer da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente propondo aceitar a doação desde que o
proprietário projete e construa o parque.
Os diretores ressaltaram que abrir o espaço para a visita é uma forma de a comunidade tomar conhecimento desse processo junto à Prefeitura. E, claro, depois de conhecer
a área, ajudar na pressão junto ao governo, principalmente neste ano de eleição.
Histórico
Por anos a fábrica da Linhas Corrente foi grande geradora de empregos e desenvolvimento na região. Com a saída da empresa do Jardim Independência, o terreno de
quase de 180 mil m², ficou ocioso e enfrentou anos de incertezas. Em 2002, o novo proprietário, o Grupo Zaffari, manifestou a intenção de implantar um grande shopping
com hipermercado no local, preservando a área com maior concentração de árvores que seria aberta à comunidade. Porém, no fim do mesmo ano, a Secretaria Municipal
do Verde e Meio Ambiente suspendeu a autorização de obra para análise ambiental. Sete anos após, em 2009, a Prefeitura propôs a desapropriação total do terreno,
através de um Decreto de Utilidade Pública.
A surpresa foi quando, pouco depois, o Governo do Estado acabou desapropriando metade do terreno – uma área de mais de 87 mil m². Grande parte das instalações da
antiga fábrica e várias árvores foram abaixo e no local foi construído pelo Metrô o Pátio Oratório da Linha 15-Prata do monotrilho – já em funcionamento. Agora estão em
jogo os 86 mil m² restantes.
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este Abaixo-Assinado. Assine e divulgue. O seu apoio é muito importante.
Abaixo-assinado Parque Municipal Linhas CorrenteS
Para: PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
ABAIXO ASSINADO
Parque São Lucas
Nós, abaixo assinados, membros atuantes do Movimento Viva o Parque Vila Ema, União dos Moradores de Vila Santa Clara, Associação e Cidadania Planeta 21, OSCIP – Aliança
Luz, Gazeta de Vila Prudente, vimos respeitosamente solicitar que o Parque Municipal Linhas Correntes, situado na Zona Leste/Sudeste da cidade de São Paulo, pertencente a
subprefeitura da Vila Prudente, seja implantado de imediato, conforme solicitação do PL 566/2013 da Exma Vereadora Juliana Cardoso, e dos Decretos: 51.097/2009 e
52.714/2011, os quais visam a desapropriação da área.
A desapropriação para a implantação do Parque Verde do São Lucas, se torna mister, pelo fato do futuro parque estar situado numa área de 180.250m2, que pertencia a Antiga
Fabrica das Linhas Correntes. Uma área verde, remanescente da Mata Atlântica. Desta área, 70.730,72 foram destinadas a ao pátio de manobras do metro e para a construção da
estação Oratório, da linha 2 verde do metrô.
Dada a carência de áreas verdes, na região da Vila Prudente, preservar uma região de mata nativa, e com o intuito de melhorar a condição de vida dos moradores em seu entorno e
ao mesmo tempo beneficiando outros cidadãos que poderão visitar a região e desfrutar dos mesmos benefícios, os quais também assinaram este d. documento. Assim, esperamos
que Vossa Exma Sabedora, que é do seu dever público para com seus eleitores e fazendo jus à confiança depositada nas urnas, que tome medidas urgentes no afã de preservar o
verde, visando às melhoras das condições climáticas, da preservação do verde e do meio ambiente, da preservação das espécies, da diminuição de poluentes na atmosfera, além
de manter espaço de lazer e cultura na cidade de São Paulo; tal discussão já chegou aos meios de comunicações e agora queremos que chegue a presença de Vossa Senhoria.
Os signatários
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
CAPÍTULO VI
DO MEIO AMBIENTE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
JUSTIFICATIVA
PROJETO DE LEI 01-00566/2013 da Vereadora Juliana Cardoso (PT)
““Dispõe sobre a implantação do Parque Municipal Linhas Corrente e dá outras providências.”
A Câmara Municipal de São Paulo DECRETA:
Art. 1º Fica instituído o Parque Municipal Linhas Correntes, na área municipal de 90.000 m2, localizada na Avenida do Oratório, Rua Antônio Rodrigues, Avenida Secondino Rua
Ribeirópolis, Rua General. Irulegui Cunha, no Jardim Independência, Distrito de São Lucas, Subprefeitura Vila Prudente, conforme decreto 51.097/2009.
Art. 2º As despesas decorrentes da execução desta lei, correrão por conta de dotações orçamentarias próprias, suplementadas se necessário.
Art. 3º - A implantação do Parque Municipal Linhas Correntes tem com objetivo a preservação da flora e fauna
Art. 4º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrario.
Sala das Sessões, 20 de agosto de 2013. Às Comissões competentes.”
Os signatários
ASSINAR Abaixo-Assinado
No dia 7 de outubro de 1890, o jornal O Estado de S. Paulo publicava o nascimento da Vila Prudente em uma pequena nota que afirmava: "Nesta capital foi constituída uma empresa
que adquiriu terras entre São Caetano e Mooca, com o fim de estabelecer uma vila que terá o nome encima citado nesta notícia (Vila Prudente), em homenagem ao governador do
Estado, dr. Prudente de Moraes".
Mapa antigo de Villa Prudente, grafado ainda com dois "eles", que mostra os primeiros proprietários dos lotes vendidos
pelos irmãos Falchi no loteamento em 1890
Acervo do Colégio João XXIII
Poucos sabem, mas os distritos que formam a Subprefeitura Vila Prudente/Sapopemba são tão populosos quanto
algumas importantes cidades do estado de São Paulo.
São áreas de grandes contrastes, parte delas desenvolvidas, outras com problemas típicos de uma grande metrópole,
como falta de verde, favelas (uma delas entre as maiores da cidade), ruas de terra, e o descaso do poder público em
gestões anteriores que acabaram por quase desfigurar a região, a segunda mais populosa, com 523.676 habitantes, de
acordo com o Censo de 2002 - atrás apenas da regional de Capela do Socorro, numa área total de 33,3 km².
Hoje, com a vinda do metrô, depois de longa espera, e da chegada do Monotrilho Leste, terá uma importância
fundamental para o desenvolvimento da região, beneficiando dezenas de comerciantes e melhorando a qualidade do
transporte da população por reduzir consideravelmente o tempo de viagem. O ramal Vila Prudente do Monotrilho Leste
tem previsão de entrega em 2013.
Assim como outros bairros próximos, a Vila Prudente vai tomando aos poucos um novo fôlego para receber novos
empreendimentos, e discute, através de suas lideranças, o que fazer com grandes vazios deixados pela saída de
fábricas, a exemplo da Ford, que por muitos anos esteve ali presente, agora abrigando um Shopping Center, e da Linhas Corrente, adquirida por um grupo supermercadista.
De terras de pasto a centro urbano
Em 1829, o comerciante João Pedroso, dono de extensas áreas de Vila Prudente, utilizava as terras para pastos e cultivo de frutas. O terreno do comerciante correspondia às áreas
conhecidas hoje como Vila Ema, Vila Diva, Vila Guarani, Vila Zelina, Vila Bela, Jardim Independência, Vila Alpina, Parque São Lucas, Parque Santa Madalena, Fazenda da Juta, Vila
Industrial e Jardim Guairaca. Após a morte do comerciante, o herdeiro Antônio Pedroso, e sua esposa Martinha Maria, passaram a administrar as terras do pai.
Em 1870, pouco mais da metade do que é hoje a Vila Prudente, Mooca e Belenzinho, pertenciam a Martinha Maria, já viúva na época. Vinte anos depois, ela venderia suas terras -
conhecidas como Campo Grande - a três irmãos, imigrantes italianos, que transformariam o grande terreno em uma próspera vila industrial, a Fábrica de Chocolates e Confeitos
Falchi, com loteamentos para moradia de operários.
A fundação de Vila Prudente acontece em 4 de outubro de 1890. Foi neste ano que os irmãos Emídio, Panfílio e Bernardino Falchi, com auxílio do financista Serafim Corso,
compraram a gleba de terra dos Pedroso e instalaram a primeira indústria da região, a Fábrica de Chocolates Falchi. Os Falchi tinham a pretensão de lotear e realizar outros
negócios no grande terreno adquirido.
Assim, fundaram a Vila Prudente, novo bairro da zona Leste de São Paulo. A princípio o empreendimento dos três irmãos parecia uma investida audaciosa demais numa região com
pouca mão-de-obra. Mas os Falchi não erraram ao investir na região.
O operariado da fábrica de chocolates foi constituído basicamente de imigrantes italianos, que vieram das regiões da Mooca, Ipiranga e Brás. Além disso, os irmãos promoviam
mutirões para construção de moradias operárias no entorno da fábrica. Emprego e moradia, essa combinação fez com que se iniciasse um processo acelerado de povoamento da
Vila Prudente.
A fábrica dos Falchi impulsionou o desenvolvimento industrial e comercial da região. No início do século XX, depois da fábrica de chocolates, vieram outras importantes indústrias,
como a Cerâmica Vila Prudente, a Indústria de Louças Zappi, a Manufatura de Chapéus Oriente e a Fábrica Paulista de Papel e Papelão. De uma região quase deserta do final do
século XIX, a Vila Prudente se transformava em uma grande vila fabril.
O então Presidente do Brasil, Prudente de Moraes, prestou apoio direto à iniciativa dos Falchi, e acabou sendo homenageado por eles que batizaram o nascente distrito de "Vila
Prudente de Moraes".
Com a implantação de indústrias de papelão, cerâmica, louças e tecelagem, o sistema de transporte evoluiu, através dos ônibus e bondes, assim como os recursos de lazer.
Em 1923, Vila Prudente ganha autonomia política, pois até então era subordinada ao Ipiranga. Paralelamente ao desenvolvimento dos bairros, vão surgindo também os problemas
característicos das grandes metrópoles, como a formação da Favela de Vila Prudente, em 1940, composta basicamente por migrantes e trabalhadores da construção civil.
Com a inauguração da então Administração Regional de Vila Prudente (AR/VP), em 1973, o acesso dos moradores locais ao poder público municipal fica facilitado.
Texto: Elizabeth Florido - assessora de Imprensa da Subprefeitura de Vila Prudente / Sapopemba, com pesquisa de Thais Ernandes Gonçalves e Rodrigo Gomes de Carvalho -
estagiários
Fontes de consulta:
- O bairro de Vila Prudente - "O gigante paulistano" - Sua história, sua gente - de Mário Ronco Filho e Gilberto Mauerberg
- Arquivo de jornais da Folha de V. Prudente
- São Paulo, uma cidade em transformação - Secretaria de Coordenação das Subprefeituras