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MANUAL DA REFORMA

DO SECTOR PÚBLICO

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino á Distância
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM),
Centro de Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É
proibida a duplicação e/ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes,
sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação,
fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade
Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento
desta advertência é passível a processos judiciais.

Autoria de: FERNANDO GIL NOÉ


Administrador Civil,
Diplomado pela Universidade de Poitiers
Consultor na Área de Formação em Administração Pública, Governação Local e
Autárquica
e colaborador do Sistema de Formação em Administração Pública e Autárquica
(SIFAP)

Revisão de: JOÃO GERAL PATRÍCIO


Licenciado em Ciências Sociais pela Univercidade Técnica de Lisboa
Mestrado em Ciências Politicas: Relações Internacionais e Governação
Consultor na Área de Formação em Administração Pública, Governação Local e
Autárquica

Universidade Católica de Moçambique (UCM)


Centro de Ensino à Distância (CED)
Rua Correia de Brito No 613 – Ponta-Gêa
Beira – Sofala

Telefone: 23 32 64 05
Cell: 82 50 18 440
Moçambique

Fax: 23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz

Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e o
autor do presente manual, agradecem a colaboração dos seguintes
indivíduos.

Pela contribuição do conteúdo: a Drª Augusta Amaral

Prólogo
Este trabalho, constitui uma recolha de elementos, fruto de acções de assessoria aos
Órgãos e instituições locais da Administração do Estado e de consultoria na área de
formação em Administração Pública, esperando que venha a ser um valioso
instrumento de consulta, de preparação e de esclarecimento de dúvidas aos seus
destinatários ou utilizadores.

Justo é, que o dedique aos meus filhos, aos com que actualmente privo mais amiúde
e me apoiam incondicionalmente, aos meus antigos Mestres da Universidade de
Poitiers e ainda aos estudantes para que este trabalho lhes sirva, efectivamente, de
proveito estudantil e profissional.

Admito a possibilidade de existir nele algumas lacunas, falta de alguns dados


complementares nos temas e alguns estrangeirismos derivados, talvez, da tradução
imperfeita dos pensamentos e línguas brasileira e francesa, o que corrigirei, numa
próxima revisão, para nova edição.

Lembro e sublinho que este trabalho não esgota as matérias nele retratadas, ele
constitui uma porta aberta para os estudantes, do curso universitário à distância,
entrarem em contacto com a ideia da Reforma e Modernização Administrativa do
Sector Público, aos quais se exige uma preparação mais aprofundada e cuidada.

Tal facto foi determinante na escolha do título do manual, título sobre o qual o autor
admite ser questionável dada a interdisciplinaridade dos temas apresentados no
trabalho, mas bastante sugestivos aos olhos do grupo utilizador destinatário.

Fernando Gil NOÉ


Universidade Católica de Moçambique i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a Inserir título do curso/Módulo aqui Inserir sub-título aqui ........................... 1
Objectivos do curso ....................................................................................................... 3
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 4
Como está estruturado este módulo................................................................................ 4
Ícones de actividade ...................................................................................................... 5
Acerca dos ícones ........................................................................................ 5
Habilidades de estudo .................................................................................................... 5
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 5
Avaliação ...................................................................................................................... 6

Unidade Inserir aqui no. da unidade 6


Inserir aqui o título da unidade .................................................................................... 91
Introdução ............................................................ Erro! Marcador não definido.
Sumário ......................................................................... Erro! Marcador não definido.
Exercícios...................................................................... Erro! Marcador não definido.
Universidade Católica de Moçambique 1

Visão geral
Benvindo a Reforma doSsector
Público

Apresentação
Não foi fácil pensar em começar a escrever algo cuja
base motivacional seria diversificada: a convicção da
capacidade que me atribuo a mim mesmo, qualidade
de trabalho acima da média, a alegria de introduzir um
autor promissor, a satisfação do cumprimento da
missão de, assessor, consultor, professor, facilitador e
orientador, a identificação com a linha de pesquisa
escolhida, a postura metodológica e a satisfação da
Universidade Católica de Moçambique, os seus
estudantes e tutores de Ensino à Distância. Mas
decorrente das inúmeras dificuldades da nossa
sociedade, também seria difícil que todos os factores
escolhidos se conjuguem, como ora pretendo.

O autor deste trabalho, Fernando Gil Noé, ”est un


Maître en Administration Publique”, formado pela
Universidade de Poitiers. na França, pretende que este
seu trabalho seja uma empreitada bem séria e
dedicada, uma profunda pesquisa e actualizada, uma
colocação rigorosamente científica e técnica, um
pensamento límpido e coerente, uma linguagem clara e
impecável.

Este manual tem como referência a história de vida de


pessoas que, ao longo de uma série de encontros,
tiveram a oportunidade de compartilhar suas
Universidade Católica de Moçambique 2

experiências na área de assessoria e consultoria. De


um lado, as que, dia-a-dia, estão envolvidas com uma
nobre e de fundamental importância tarefa: liderar e
implementar a Estratégia Global da Reforma do Sector
Público, o Programa da Reforma do Sector Público –
Fase II e Estratégia Anti-corrupção, no Sector Público
moçambicano. De outro lado, o grupo de parceiros da
cooperação estrangeira no financiamento das políticas
públicas do Governo da República de Moçambique.

Em função do carácter dinâmico da experiência


educacional, o manual tem a perspectiva de referência
e não a de receita. Esta postura sinaliza o respeito às
especificidades da matéria nele retratada.

É expectativa do autor que este manual seja uma


referência rica e dinâmica, assim como vivo e
transformador foi o processo da sua concepção.

A publicação foi estruturada em cinco dossiers, sendo


que os dois primeiros descrevem os conceitos e de
referência sobre o Estado, as Organizações e
Administração Pública.

O terceiro dossier aborda os aspectos relacionados com


a Reforma do Sector Público em si.

O quarto retrata as reformas moçambicanas.

No quinto dossier se fala de uma perspectiva para


reforma do sector público.

No sexto são apresentados aspectos sobre a boa


governação e corrupção política.

O sétimo trata da Sociedade Civil.

E, finalmente, uma breve conclusão.


Universidade Católica de Moçambique 3

Tenho consciência das dificuldades a serem


enfrentadas pelos utilizadores na localização da
bibliografia usada, pelo autor, para os necessários
aprofundamentos dos temas. Contudo, espero que os
conteúdos organizados neste material, possam
contribuir para o estudo e debates sobre a figura da
Reforma do Sector Público, em particular a do Sector
Público moçambicano.

Fernando Gil NOÉ

Objectivos do curso

Ao terminar o estudo do Módulo da Reforma do Sector Público espera-se


que os formandos sejam capazes de:
1. Perceber que o Estado, como uma organização, não existe
em si ou por si, que tem fins e objectivos próprios a
alcançar e um importante papel sobre a Sociedade;
2. Estabelecer relações entre organizações burocráticas e
Administração Pública;
3. Identificar e analisar criticamente os problemas
administrativos contemporâneos;
4. Analisar o papel do Estado no mundo contemporâneo;
5. Conhecer as reformas moçambicanas
6. Usar o conhecimento para identificar e analisar os grandes
desafios do Sector Público;
7. Usar o conhecimento adquirido para influenciar mudanças
no Sector Público, com vista à sua transformação e
modernização;
8. Fundamentar as suas opiniões sobre a importância das
acções de simplificação de processos e procedimentos que
Universidade Católica de Moçambique 4

imperam a celeridade no tratamento de assuntos nas


instituições do Sector Público;
9. Perceber a importância dos instrumentos da gestão do
atendimento e de avaliação da satisfação dos clientes do
Sector Público;
10. Reconhecer a influência negativa da corrupção sobre a boa
governação;
11. Perceber a importância do envolvimento da Sociedade Civil
na gestão dos assuntos públicos.

Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles que com nível médio de
escolaridade, no subsistema de Ensino Secundário Geral (ESG) na
subdivisão que contem Matemática, ou que no subsistema do Ensino
técnico profissional (instituto comercial), profficionais em exercício na
administração, c

Como está estruturado este


módulo

A publicação foi estruturada em cinco dossiers, sendo que os dois


primeiros descrevem os conceitos e de referência sobre o Estado, as
Organizações e Administração Pública.
O terceiro dossier aborda os aspectos relacionados com a Reforma
do Sector Público em si.
O quarto retrata as reformas moçambicanas.
No quinto dossier se fala de uma perspectiva para reforma do
sector público.
No sexto são apresentados aspectos sobre a boa governação e
corrupção política.
O sétimo trata da Sociedade Civil.
E, finalmente, uma breve conclusão.
Universidade Católica de Moçambique 5

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.
Os ícones incluídos neste manual são... (ícones a ser enviados - para
efeitos de testagem deste modelo, reproduziram-se os ícones adrinka, mas
foi-lhes dada uma sombra amarela para os distinguir dos originais).
Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada
um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste curso / módulo.
Clique aqui e seleccione Inserir elementos (imagem/tabela/nova unidade)
da janela do Modelo para Ensino à Distância. Escolha ou Todos os ícones
abstractos ou Todos os ícones adrinka da lista dada.

Habilidades de estudo
Inclua aqui alguns parágrafos curtos para aconselhar os alunos a planear o
seu tempo, dê dicas sobre tomada de notas, como estudar à distância, etc.

Precisa de apoio?
Apresente aqui pormenores do sistemas de apoio ao aluno: quem devem
contactar em caso de precisarem de apoio em relação a vários tipos de
problemas.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
Apresente aqui pormenores sobre as tarefas que o aluno terá de realizar.
Por ex.: Como devem ser entregues as tarefas, a quem. Inclua também
questões relacionadas com: utilização de materiais de pesquisa, regras de
direitos de autor, plagiarismo, etc.
Universidade Católica de Moçambique 6

Avaliação
Apresente aqui os pormenores sobre as regras e procedimentos para a
avaliação. Por exemplo: em que condições se irá processar a avaliação.

Dossier: 1

Unidade 1
INTRODUÇÃO GERAL E PONTOS
DE PARTIDA

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Definir o conceito do Estado;


 2. Perceber os fins e os objectivos do Estado e o seu papel sobre a
Sociedade;
Objectivos  3. Entender a função administração do Estado;
 4. Identificar e explicar as funções do Estado.

1.Conceitos e notas sobre o Estado

O Estado é uma comunidade política independente, organizada de


forma permanente sobre um determinado território, criador
exclusivo do Direito (só o Estado pode ser legislador),
administração pública da imposição da lei e da ordem (só o Estado
Universidade Católica de Moçambique 7

é polícia e juiz) e da promoção da defesa armada (só o Estado pode


fazer a guerra e a paz), com vista à realização do bem-estar social
dos seus cidadãos.

O Estado como uma organização não existe em si ou por si:

 Existe para resolver os problemas da sociedade,


quotidianamente;

 Existe para garantir a segurança, fazer justiça,


promover a comunicação entre os homens, dar-lhes
a paz e bem-estar e progresso. É um poder de
decisão no momento presente, de escolher entre
opções diversas, de praticar os actos pelos quais
satisfaz pretensões generalizadas ou
individualizadas das pessoas e dos grupos;

 É autoridade e é um serviço;

 É o dever de um Estado atender ao interesse


público, satisfazendo o comando decorrente dos
actos normativos. O cumprimento do comando
legal, deverá decorrer da função exercida por pessoa
jurídica de direito público.

Para alcançar os seus fins e objectivos (veja, por exemplo, os


Objectivos Fundamentais do Estado moçambicano, artigo 11º da
sua Constituição), qualquer Estado moderno, isto é, o Estado
Social e de Direito (Estado social, porque visa promover o
desenvolvimento económico, o bem-estar, a justiça social; e Estado
de Direito, porque não prescinde do legado liberal oitocentista em
matéria de subordinação dos poderes públicos ao Direito e o
esforço das garantias particulares frente á Administração Pública)
deverá contar com uma Função Administrativa muito forte, o que
Universidade Católica de Moçambique 8

pressupõe existência de um Serviço Geral do Estado também forte


e moderno.

O tal Serviço Geral do Estado é «Administração Pública».

Função administrativa é uma das funções básicas do Estado (ou dos


seus delegados).

 A função administrativa é activa, pois em regra é


independente de provocação do cidadão para ser exercitada;

 É subordinada à lei, portanto, é uma actividade infra-legal;

 A função administrativa é actividade infra-legal, activa,


hierarquizada, de realização do interesse público;

 A função administrativa é o modo ordinário de realização


dos fins públicos do Estado, em termos concretos, mais
próximo ao cidadão.

Em termos práticos a função administrativa do Estado consiste no


desenvolvimento de actividades de forma permanente e
homogénea, para prossecução dos objectivos que lhe são
constitucionalmente cometidos.

É comum no seio dos especialistas em Administração Pública


designar as actividades desenvolvidas pelo Estado no quadro da sua
função administrativa de Funções do Estado.

As Funções do Estado podem ser agrupadas da seguinte maneira:

o FUNÇÕES DE CARÁCTER JURÍDICO e


o FUNÇÕES DE CARÁCTER NÃO JURÍDICO
Universidade Católica de Moçambique 9

As Funções de carácter jurídico são as que estão ligadas a criação


de Direito:

 Função Constituinte (por vezes chamada Poder


Constituinte) - faculdade de criar regras de Direito que
representam a própria definição suprema e a organização do
Estado-Colectividade, ou seja, faculdade de criar a
Constituição.

A esta função ou poder está intimamente ligado o poder de


revisão constitucional, que consiste na possibilidade de
alterar as regras constantes na Constituição em sentido
material.

 b) Função legislativa - corresponde a prática de actos


provenientes dos órgãos constitucionalmente competentes e
que revestem a forma externa de lei;

 c) Função Executiva/ Governamental e Administrativa –


que consiste na direcção, pelo Estado (através do Governo),
dos interesses superiores da Nação nos domínios interno e
externo;

 d) Função judicial ou jurisdicional - consiste no julgamento


de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados,
ou privados e públicos, bem como na violação da
Constituição e das leis, através de Tribunais e da Polícia

Ela se traduz na aplicação da lei, e do seu exercício nasce a


Jurisprudência.

As Funções de carácter não jurídico consistem na definição de


macro-políticas e na escolha de melhores opções sociais e na
produção de bens materiais e imateriais, sendo:
Universidade Católica de Moçambique 10

 Função política – se traduz na definição e prossecução pelos


órgãos do poder político dos interesses essenciais da
colectividade, realizando, em cada momento, as opções para
o efeito consideradas adequadas;

 Função técnica – consiste na produção de bens e serviços


destinados à satisfação de necessidades colectivas de
carácter material e cultural.

Função técnica é exercida pela Administração Pública e


corresponde à administração pública.

Os Bens e Serviços Materiais e Imateriais se concentram


essencialmente nos domínios que mais interessam a vida dos
cidadãos:

1. Manutenção da ordem pública, baseando-se na defesa de


diversos fins e correspondendo, a tranquilidade, segurança e
salubridade;

2. Satisfação de outras necessidades de interesse geral ou


colectivo, de carácter cultural e social, por ex: educação e
ensino, cultura, investigação científica, intervenção nos
domínio sociais (para melhorar a saúde pública ou para
diminuir os efeitos negativos do desemprego, etc), nos
sectores comercial e industrial ou no sector agrícola, nas
obras públicas e habitação, etc.

Exercícios

1. Conceituar o Estado, apresentar e explicar as suas funções.


Universidade Católica de Moçambique 11

2. Identificar os fins da existência do Estado e a maneira como


pode alcançá-los.

Respostas:

1. Designam-se funções do Estado as actividades


desenvolvidas pelo Estado no quadro da sua função
administrativa, podendo ser agrupadas da seguinte maneira:
o FUNÇÕES DE CARÁCTER JURÍDICO e
o FUNÇÕES DE CARÁCTER NÃO JURÍDICO

As Funções de carácter jurídico são as que estão ligadas a criação


de Direito:

 Função Constituinte (por vezes chamada Poder


Constituinte) - faculdade de criar regras de Direito que
representam a própria definição suprema e a organização do
Estado-Colectividade, ou seja, faculdade de criar a
Constituição.

A esta função ou poder está intimamente ligado o poder de


revisão constitucional, que consiste na possibilidade de
alterar as regras constantes na Constituição em sentido
material.

 b) Função legislativa - corresponde a prática de actos


provenientes dos órgãos constitucionalmente competentes e
que revestem a forma externa de lei;

 c) Função Executiva/ Governamental e Administrativa –


que consiste na direcção, pelo Estado (através do Governo),
dos interesses superiores da Nação nos domínios interno e
externo;

 d) Função judicial ou jurisdicional - consiste no julgamento


de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados,
Universidade Católica de Moçambique 12

ou privados e públicos, bem como na violação da


Constituição e das leis, através de Tribunais e da Polícia.

Ela se traduz na aplicação da lei, e do seu exercício nasce a


Jurisprudência.

As Funções de carácter não jurídico consistem na definição de


macro-políticas e na escolha de melhores opções sociais e na
produção de bens materiais e imateriais, sendo:

 Função política – se traduz na definição e prossecução pelos


órgãos do poder político dos interesses essenciais da
colectividade, realizando, em cada momento, as opções para
o efeito consideradas adequadas;

 Função técnica – consiste na produção de bens e serviços


destinados à satisfação de necessidades colectivas de
carácter material e cultural.

Função técnica é exercida pela Administração Pública e


corresponde à administração pública.

2. O Estado como uma organização não existe em si ou por si:

 existe para resolver os problemas da sociedade,


quotidianamente;

 existe para garantir a segurança, fazer justiça,


promover a comunicação entre os homens, dar-lhes
a paz e bem-estar e progresso. É um poder de
decisão no momento presente, de escolher entre
opções diversas, de praticar os actos pelos quais
satisfaz pretensões generalizadas ou
individualizadas das pessoas e dos grupos;

 É autoridade e é um serviço;
Universidade Católica de Moçambique 13

 É o dever de um Estado atender ao interesse


público, satisfazendo o comando decorrente dos
actos normativos. O cumprimento do comando
legal, deverá decorrer da função exercida por pessoa
jurídica de direito público.

Para alcançar os seus fins e objectivos qualquer Estado moderno


deverá contar com uma Função Administrativa muito forte, o que
pressupõe existência de um Sector Público também forte e
moderno.

Em suma, duplo é o fim do Estado: A) garantia da soberania


externa, B) manutenção da paz interna. No primeiro caso o
Estado é uma pessoa jurídica, defendendo seus interesses contra a
intromissão estrangeira, contra a turbação de terceiros. No segundo
caso, o Estado é uma instituição social, um aparelho de organização
social para manter império da lei, o domínio do Direito, a boa
administração da coisa pública, a distribuição da justiça, da riqueza,
etc.

Dossier: 2

Unidade 2
ORGANIZAÇÕES E
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA –
alguns conceitos de referência

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:


Universidade Católica de Moçambique 14

 1. Conceituar a organização;
 2. Identificar e distinguir as organizações.

Objectivos

1..Organizações e Administração Pública – alguns


conceitos de referência

Não se trata propriamente de matéria desta cadeira. Todavia,


entendo que os estudantes precisam de alguns conceitos referência
para melhor compreender a figura da Reforma do Sector Público.

1.1..As organizações burocráticas ou burocracias

O termo “organização” tem várias acepções ou sentidos: pode


designar um acto ou efeito de organizar, uma das funções de
gestão, como pode referir-se à realidades sociais como operações
de natureza múltipla, como um banco, uma indústria, uma escola,
um hospital, um ministério, uma ONG, um sindicato, em clube, etc.
É com este último significado que será tratado neste manual.

Neste caso – organização é uma colectividade instituída com


vista a alcançar objectivos previamente definidos, tais como
produção e/ou distribuição de bens ou serviços, formação de
pessoas, etc.

Em sentido geral, organização é o modo como se organiza um


sistema. É a forma escolhida para arranjar, dispor ou classificar
objectos, documentos, e informações.

Em Administração organização tem dois sentidos:


Universidade Católica de Moçambique 15

 Grupo de indivíduos associados com um objectivo comum.


Ex.: Empresas, associações, órgãos do Estado, do Governo,
órgãos da Administração Pública ou Privada, ou seja,
qualquer entidade pública ou privada. As organizações são
compostas de estrutura física, tecnologia e pessoas;
 Modo como foi estruturado, dividido e sequenciado o
trabalho.

Segundo Idalberto CHIAVENATO, in Recursos Humanos, 7ª


edição compacta, “ a organização é um sistema de actividades
conscientemente coordenadas de duas ou mais pessoas. E que a
cooperação entre elas é essencial para a existência da
organização...”

Existem vários tipos e tamanhos de organizações

 Sociais, políticas, etc.;


 Nacionais;
 Internacionais;
 Infra-estatais;
 Supra-estatais;
 Simples;
 Complexas.
 Etc.

Mais

o Organização – Duas ou mais pessoas trabalhando juntas de


modo estruturado para alcançar um objectivo específico ou
um conjunto de objectivos;

o Organização é uma colectividade instituída com vista a


objectivos definidos, tais como a produção e/ou a
distribuição de bens ou serviços, a formação de pessoas.
Universidade Católica de Moçambique 16

O estudo das organizações passou a constituir campos específicos


de conhecimento, em virtude da complexidade e diversidade de
problemas e conflitos criados pela burocracia, que é o modo de
estrutura e funcionamento da quase totalidade das organizações. É
assim que surgiram a Teoria da Administração, a Sociologia das
Organizações, a Psicologia Organizacional, a Formação e
Desenvolvimento de Recursos Humanos, entre outras. Os
objectivos dessas áreas de conhecimento não é apenas o estudo das
organizações, numa perspectiva analítica, que permita a
compreensão dos fenómenos que nelas decorrem, mas também
contribuir para o aperfeiçoamento da sua operacionalização e
funcionamento, de forma a assegurar o alcance da sua eficiência,
eficácia e efectividade.

O sociólogo alemão Max Weber é até hoje reconhecido como um


dos mais importantes estudiosos das organizações burocráticas, ou
simplesmente burocracias. Ele demonstrou que as diferentes
organizações sociais, desde do Estado até a uma ONG com
vocação de salvaguardar os direitos da criança, por exemplo,
possuem em comum o sistema de administração que tende à
racionalidade integral e têm as seguintes características:
i. São colectividades instituídas para administrar e
racionalizar o trabalho de um grupo de pessoas em
direcção a objectivos definidos e que pode estar
relacionados à produção e/ou distribuição de bens ou de
serviços;
ii. São estruturas de poder, em que as relações entre as
pessoas são definidas a partir de uma rede de mando e de
subordinação, que reflecte a desigual distribuição de
poder existente;
Universidade Católica de Moçambique 17

iii. Reflectem a crença na justiça dos instrumento legais, que


determinam a autoridade dos diferentes cargos e os
mecanismos de acesso aos postos de maior poder ou
responsabilidade.

As organizações burocráticas ou burocracias constituem, portanto,


uma estrutura social, na qual a direcção das actividades colectivas é
exercida por um aparelho impessoal, hierarquicamente organizado,
que deve agir segundo critérios e métodos racionais. Nelas as
decisões são tomadas por um corpo de dirigentes ou gestores, que
orientam a sua direcção, utilizando um conjunto de regras e normas
racionais, formalmente definidas e reconhecidas, para dar
legitimidade à sua acção.

Como se pode facilmente compreender, a forma de estruturação do


poder, as regras e normas que orientam o seu funcionamento, os
actos administrativos, os modelos de exercício de gestão adoptados
e todos os componentes que fazem a parte da vida organizacional
não são instrumentos neutros: reflectem e reproduzem as formas de
dominação e estrutura de poder vigente no sistema-organização e,
as vezes, no ecossistema de que faz parte.

Lembre-se

Vulgarmente se chama “burocracia” as disfunções burocráticas, o


disfuncionamento de uma burocracia, o burocratismo, ou seja os
desvios ou as consequências imprevistos ou indesejáveis, gerados
pelo modelo burocrático.
Universidade Católica de Moçambique 18

Exercícios

EXERCÍCIOS:
1. Apresentar o conceito de organização;
2. Conceituar as organizações burocráticas e apresentar as
características do seu sistema de administração.

Respostas:

1. Organização é uma colectividade instituída com vista a


alcançar objectivos previamente definidos, tais como
produção e/ou distribuição de bens ou serviços, formação
de pessoas, etc.
2. As organizações burocráticas são uma estrutura social, na
qual a direcção das actividades colectivas é exercida por um
aparelho impessoal, hierarquicamente organizado, que deve
agir segundo critérios e métodos racionais. Nelas as
decisões são tomadas por um corpo de dirigentes ou
gestores, que orientam a sua direcção, utilizando um
conjunto de regras e normas racionais, formalmente
definidas e reconhecidas, para dar legitimidade à sua acção.
Elas possuem, em comum, o sistema de administração que
tende à racionalidade integral e têm as seguintes
características:
i. São colectividades instituídas para administrar e
racionalizar o trabalho de um grupo de pessoas em
direcção a objectivos definidos e que pode estar
relacionados à produção e/ou distribuição de bens ou de
serviços;
ii. São estruturas de poder, em que as relações entre as
pessoas são definidas a partir de uma rede de mando e de
Universidade Católica de Moçambique 19

subordinação, que reflecte a desigual distribuição de


poder existente;
iii. Reflectem a crença na justiça dos instrumento legais, que
determinam a autoridade dos diferentes cargos e os
mecanismos de acesso aos postos de maior poder ou
responsabilidade.

Unidade 3
Características das organizações
burocráticas
Introdução
Apresente aqui uma breve introdução ao conteúdo desta unidade / lição.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber e identificar as características das organizações


burocráticas;
 2. Identificar e analisar criticamente “disfunções burocráticas”.
Objectivos

1..Características das Organizações Burocráticas

As burocracias modernas têm como traços mais marcantes:

 A fonte da sua legitimidade reside num poder raciona-legal;


nelas, a autoridade deriva de normas legais escritas, em vez
de decorrer de tradições de qualquer natureza;
 As atribuições dos seus funcionários são fixadas
oficialmente, mediantes leis, regulamentos ou outros
dispositivos formais/administrativos;
Universidade Católica de Moçambique 20

 Uma hierarquia de funções integradas, num sistema de


mando, de tal modo que, em todos os níveis, essa hierarquia
toma a forma de uma pirâmide;
 Existe, nelas, também, uma divisão horizontal de trabalho,
pela qual, através de cargos, as actividades são distribuídas
de forma impessoal, ou seja, independentemente das
pessoas que vão realizá-las, o critério dessa distribuição é
dado pelos objectivos que a organização deve atingir;
 A administração/gestão das burocracias modernas é
formalmente planificada e organizada; a actividade
administrativa se realiza mediante documentos escritos, por
vezes extremamente detalhados;
 Nelas o exercício funcional do trabalho pressupõe algum
tipo de pirâmide profissional.
 Elas são dirigidas por administradores civis com as
seguintes características:
i. Têm alguma especialidade;
ii. Têm como única (ou principal) actividade o
exercício do seu cargo;
iii. Não são possuidores dos meios de administração e
produção (são apenas funcionários;
iv. Identificam-se com a organização de forma
impessoal e são remunerados em dinheiro;
v. São nomeados por superiores hierárquicos, com
mandato definido;
vi. Segue uma carreira, tendo direito, no final desta, os
benefícios da aposentação ou da reforma.

Apesar de toda a racionalidade do modelo burocrático, ele


apresenta um conjunto de desvios e anomalias, a que denominou
“disfunções burocráticas”, que levam à sua ineficiência e à
ineficácia. Podem-se destacar, entre elas:
Universidade Católica de Moçambique 21

- Despersonalização do relacionamento entre os


participantes – trata-se de uma maneira formalizada,
levando em conta o cargo que cada um ocupa;
- Forte internalização de directrizes, regulamentos e normas,
concebidos inicialmente para favorecer o alcance dos
objectivos organizacionais, que logo que entrarem em
vigor, adquirem valor próprio e absoluto, deixando de ser
meios para se transformarem em objectivos;
- O funcionário que possui categoria hierárquica mais
elevada tem a prerrogativa do processo decisório,
independentemente da sua competência profissional sobre
a matéria ou o assunto a ser decidido;
- Excesso de formalismo e de “papelório”: forte tendência de
documentar e formalizar todas as comunicações, a ponto de
prejudicar o processamento dos trabalhos de organização;
- Exibição de sinais de autoridade: como a hierarquia, como
meio de controle do desempenho dos participantes, é muito
valorizada, surge a necessidade de utilização de sinais ou
símbolos que destaquem a autoridade e o poder;
- Super conformidade em relação às regras e regulamentos,
que passam a adquirir fundamental importância para o
funcionário;
- Resistência à mudança e tendência dos participantes a se
defenderem de pressões (internas e/ou externas), para a
modernização, percebidas como ameaça às posições que
desfrutam e à estabilidade adquirida.

Exercícios

EXERCÍCIOS:
Universidade Católica de Moçambique 22

1. Com base nos assuntos abordados nesta unidade e da sua


experiência profissional indique algumas características
que, até agora, vinham influenciando vossa prática como
servidores públicos.
2. Faça, agora, a sua lista pessoal de disfunções burocráticas
que ocorrem na sua organização.

Unidade 4
Especificidades da Administração
Pública

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Entender as especificidades da Administração Pública;


Objectivos  2. Identificar e distinguir as três categorias da Administração
do Estado.

1..Especificidades da Administração Pública

A Administração Pública, além das características comuns a


qualquer organização burocrática, anteriormente indicadas, tem
suas especificidades, grande parte delas determinadas por
variáveis de Sociedade de que faz parte e do Governo que a
dirige.

Os membros de uma Sociedade tendem a ter diferentes


interesses e valores, de acordo com o grupo ou classe social a
que pertencem, profissão que exercem, ou ainda, de acordo com
os factores que marcam as origens ou experiência de vida de
Universidade Católica de Moçambique 23

cada indivíduo. Esses valores se expressam, em geral, através


das associações, sindicatos, grupos de pressão, partidos
políticos, etc.

O Governo, entidade formada pelo conjunto de poderes e


órgãos constitucionais, responsável pela condução política dos
negócios públicos e privados do Estado, tem como ponto de
partida para a sua acção, alguns interesses e valores
organizados, ou mesmo a resultante da interacção entre os
diversos agrupamentos.

É próprio do Governo ter determinados interesses e valores,


conforme o contexto social, nos diferentes momentos
históricos.

Por outro lado, os governantes vinculam-se necessariamente a


algum partido político e têm, portanto, o compromisso de
implementar as directrizes contidas no seu programa. Essa
vinculação partidária, bem como os instrumentos do poder de
que se dispõem, contribuem para que se defina a acção do
Governo como uma acção política (nunca poderá ser neutra,
pois não poderá atender e satisfazer indistintamente a todos os
sectores e interesses dos grupos que constituem a Sociedade).

A Administração Pública vem a ser o sistema, ou macro-


organização, ou o conjunto dos órgãos oficiais, responsável
pela concretização das acções do Governo; ela implementa e
executa as decisões políticas por ele determinadas; é braço
operacional dos actos governamentais, que a distingue das
demais organizações da Sociedade e o confere o carácter de
público.

Assim, Governo e Administração Pública são entidades


diferentes, mais indissociáveis e interdependentes.

A Administração Pública varia no plano organizativo, segundo


os modelos de governo, e conforme as características de cada
país nos níveis económico, social e cultural. Actua, também de
Universidade Católica de Moçambique 24

acordo com as formas e os limites estabelecidos pelo Direito


Público.

De modo geral, a Administração Pública abrange:

 A Administração Directa centralizada, da qual fazem


parte: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder
Judiciário.

Lembre-se

Poder ( do latim potere) é, literalmente, o direito de deliberar agir,


e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de
exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada
circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força.

 a possibilidade atribuída a alguém de eficazmente ou


ineficazmente impor aos outros a respeito da própria
conduta ou traçar a conduta alheia.
 Numa outra formulação – poder é capacidade de influenciar
ideias, comportamentos, atitudes de pessoas ou grupos
através das várias formas – coerção, persuasão, recompensa,
sanção, referência (respeito, admiração) e competência.

Numa gestão participativa o tipo de poder que prepondera é o


poder de competência, legitimado pelo reconhecimento do
conhecimento e das capacidades do líder no desempenho
eficiente e eficaz de seu papel.

A política define o poder como a capacidade de impor algo sem


alternativa para a desobediência. O poder político, quando
reconhecido como legítimo e sancionado como executor da
ordem estabelecida, coincide com autoridade, mas há poder
político distinta com esta que até se lhe opõe, como acontece na
revolução ou nas ditaduras.

A Sociologia define o poder , geralmente, como a habilidade de


impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem da
Universidade Católica de Moçambique 25

sua maneira. Existem, dentro do contexto sociológico, diversos


tipos de poder: o poder social, o poder económico, o poder militar,
o poder político, o poder tradicional, entre outros. Foram
importantes para o desenvolvimento da actual concepção de poder
os trabalhos de Michel Foucault, Max Weber, Pierre Bourdieu.

Dentre as principais teorias sociológicas relacionadas ao poder


podemos destacar a teoria dos jogos, o feminismo, o machismo, o
campo simbólico, o especismo, etc.

OS PRINCIPAIS PODERES DO ESTADO

A. Poder Legislativo

O Poder Legislativo é o poder de legislar, criar e sancionar as leis.

No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder


legislativo é representado pelos legisladores, homens que devem
elaborar as leis que regulam o Estado. O poder legislativo na
maioria das repúblicas e monarquias é constituído por um
congresso, parlamento, assembleias ou câmaras.

O objectivo do poder legislativo é elaborar as normas de direito de


abrangência geral ou individual que são aplicadas a toda sociedade,
objectivando a satisfação dos grupos de pressão; a administração
pública; em causa própria e distender a sociedade.

Em regimes ditatoriais o poder legislativo é exercido pelo próprio


ditador ou por uma câmara legislativa nomeada por ele.

Entre as funções elementares do poder legislativo está a de


fiscalizar o poder executivo, votar leis orçamentárias, e, em
situações específicas, julgar determinadas pessoas, como o
Presidente da República ou os próprios membros da assembleia.

B. Poder Executivo

O Poder Executivo é o poder do Estado que, nos moldes da


Constituição de um país, possui a atribuição de governar o povo e
administrar os interesses públicos, cumprindo fielmente as
Universidade Católica de Moçambique 26

ordenações legais.

O executivo pode assumir diferentes faces, conforme o local em


que esteja instalado.

No presidencialismo o líder do poder executivo, denominado


Presidente é escolhido pelo povo para mandatos regulares
acumulando a função de chefe de Estado e de chefe de governo.

No parlamentarismo o poder executivo depende do apoio directo


ou indirecto do parlamento para ser constituído e para governar.
Este apoio costuma ser expresso por meio de voto de confiança.
Não há, neste sistema de governo, uma separação nítida entre os
poderes Executivo e Legislativo, ao contrário do que acontece no
Presidencialismo.

No semipresidencialismo no qual o chefe de governo (geralmente


com o título de primeiro-ministro) e o chefe de Estado (geralmente
com o título de presidente) compartilham em alguma medida o
poder executivo, participando ambos, do quotidiano da
administração pública de um Estado. O Presidente cuida das
relações exteriores, o Primeiro-Ministro das relações internas, sob
observação do Presidente.

C. Poder Judicial

O Poder Judicial ou Poder Judiciário é um dos três poderes do


Estado moderno na divisão preconizada por Montesquieu em sua
teoria de separação dos poderes.

É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de


julgar, de acordo com as regras constitucionais e leis criadas pelo
Poder Legislativo em determinado país.

O suíço Benjamin Constant idealizou a existência de quatro


poderes; ao lado do Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder
Judiciário, o poder moderador que seria responsável pelo
equilíbrio entre os demais. Da forma como foi concebido, situa-
Universidade Católica de Moçambique 27

se hierarquicamente acima dos demais poderes do Estado.

Esse poder seria pessoal e privativo do imperador, assessorado


por um Conselho de Estado.

Em termos do âmbito territorial do seu exercício, o poder do


Estado pode ser Central ou Local.

 Poder Central resulta da aspiração de um povo unido


em torno de ideais mobilizadores comuns, tais como a
nação e vontade de viver em colectividade. Esta
tendência chama apelo ao regime centralizado ou ao
globalismo.
 Poder Local resulta da necessidade dos indivíduos de
se exprimir no seio de estruturas de proximidade e de
dimensões modestas directamente ligadas ao
tratamento de certos assuntos ditos locais. Trata-se de
uma situação acordada ao regime descentralizado e ao
localismo.

Portanto, é central o poder que emana de um órgão ou de um


conjunto de órgãos investidos de atribuições, competências ou
funções, conforme o tipo de órgão, com respeito a uma
colectividade inteira, isto é, a todos os seus membros sem
distinção, como o é o caso dos poderes exercidos pelos órgãos
centrais.

Inversamente, é poder local um poder que emana de um órgão


investido de uma função ou competência para somente uma parte
dos seus membros, por exemplo os poderes exercidos pelos órgãos
autárquicos ou pelos órgãos locais do Estado.

Princípio de Separação de Poderes

Trata-se de um princípio preconizado por John Locke e celebrizado


por Montesquieu, consistindo na dupla distinção:

1) Distinção das funções do Estado;


2) Distinção política dos órgãos que devem desempenhar ou
Universidade Católica de Moçambique 28

exercer tais funções. Entende-se que para cada função deve


existir um órgão próprio, diferente dos demais ou um
órgãos próprios.

O Princípio de Separação de Poderes teve a sua consagração


efectiva no séc. XVIII, primeiro na Revolução americana e depois
na Revolução francesa.

O princípio se encontra traduzido nos planos do Direito


Constitucional e do Direito Administrativo.

 No plano do Direito Constitucional, o princípio visa retirar


ao rei e aos seus ministros a função de legislar, deixando-os
apenas com a função política e a função administrativa. E
foi assim que se deu a separação entre o Executivo e o
Legislativo;
 No plano do Direito Administrativo, o princípio visa retirar
à Administração Pública a função judicial e aos tribunais a
função administrativa. Foi a separação entre a
Administração Pública e a Justiça.

Consequência directa do princípio

1. Separação dos órgãos administrativo (executivo),


legislativo e judicial, e a cada órgão com atribuições
próprias;
2. Aparecimento de incompatibilidades das
magistraturas;
3. Independência recíproca da Administração e da
Justiça, etc.

Em Moçambique a Constituição consagra o princípio de separação


de poderes e interdependência ( artº 134º ).
Universidade Católica de Moçambique 29

 A Administração descentralizada, composta por órgãos


e unidades componentes, com personalidade jurídica de
Direito Público e com autonomia administrativa e
financeira, como as autarquias locais e institutos;

 A Administração Indirecta, integrada por instituições e


organizações com personalidade jurídica de Direito
Privado que actuam por concessão da Administração
Pública, como as Empresas Públicas.

Lembre-se

1. No Direito Administrativo e na Administração Pública a


autarquia administrativa ou local é uma entidade da
Administração Descentralizada do Estado;
2. Administração Indirecta do Estado é conjunta de pessoas
administrativas que, vinculadas à Administração Directa do
Estado, têm objectivo de desempenhar actividades
administrativas de forma descentralizada;
3. Quando o Estado cria pessoas administrativas o seu
objectivo é a execução de algumas tarefas do seu interesse
por outras pessoas jurídicas;
4. Isto é, quando não pretende executar certa actividade
através de seus próprios órgãos (Administração Directa do
Estado – SPA`s – Serviços Públicos Administrativos) o
PODER PÚBLICO/ESTADO transfere a sua titularidade ou
execução a outras entidades.
5. Tal delegação quando é feita por contrato ou mero acto
administrativo dá lugar ao aparecimento da figura de
concessionário;
6. Quando é lei que cria entidades administrativas, surge a
Universidade Católica de Moçambique 30

Administração Descentralizada e Indirecta: autarquias


locais e SPIC`s – Serviços Públicos Industriais e
Comerciais;
7. Algumas categorias de entidades administrativas (ligadas ao
Estado) dotadas de personalidade jurídica própria:
o Autarquias;
o Empresas Públicas;
o Sociedades de economia mista;
o Fundações Públicas;
o Institutos Públicos, Universidades, etc.

Ao conjunto de todas essas organizações ou seja, à Administração


Pública (também denominado por Aparelho do Estado), como
braço executor do Governo, compete a gestão eficiente, eficaz e
efectiva das políticas públicas em todos os sectores: saúde,
educação cultura, economia, administração, agricultura,
habitação, saneamento do meio, meio ambiente, etc.

Exercícios

EXERCÍCIOS:

1. A Administração Pública pode variar segundo alguns


factores. Comente.
2. Indique os três tipos da Administração Pública.

Respostas:
Universidade Católica de Moçambique 31

 O comentário que pode fazer é de concordar com a


afirmação. Pois, a Administração Pública varia no plano
organizativo, segundo os modelos de governo, e
conforme as características de cada país nos níveis
económico, social e cultural. E, actua também de acordo
com as formas e os limites estabelecidos pelo Direito
Público.
 Os três tipos de Administração Pública são:
 A Administração Directa centralizada, da qual fazem
parte: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder
Judiciário;

 A Administração descentralizada, composta por órgãos


e unidades componentes, com personalidade jurídica de
Direito Público e com autonomia administrativa e
financeira, como as autarquias locais e institutos;

 A Administração Indirecta, integrada por instituições e


organizações com personalidade jurídica de Direito
Privado que actuam por concessão da Administração
Pública, como as Empresas Públicas.

Unidade 5
Agentes Públicos Administrativos
e Agentes Públicos Políticos
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Identificar as duas categorias de pessoas que trabalham no


Estado;
 2. Diferenciar os agentes públicos administrativos dos agentes
Objectivos públicos políticos.
Universidade Católica de Moçambique 32

1..Agentes Públicos Administrativos e Agentes Públicos


Políticos

O Estado exerce a sua Função Administrativa e desenvolve as suas


actividades através:

1. Da Administração Pública;

2. De pessoas.

O conjunto de pessoas que trabalham no Estado e/ou ao serviço


deste ou da Colectividade se chama FUNÇÃO PÚBLICA.

A Função Pública é a massa humana que trabalha no Estado e para


o Estado, ou seja no interesse deste.

Essa massa é constituída por:

 Agentes Públicos Administrativos – Funcionários e Agentes


do Estado;

 Agentes Públicos Políticos – Políticos.

a. Agentes Públicos Administrativos – Funcionários e


Agentes do Estado

A maioria das pessoas que trabalham na Administração Pública são


funcionários ou agentes do Estado de carreira, exercendo as suas
funções, independentemente de quem assume o Governo, são os
agentes públicos administrativos ou funcionários
administrativos.

É funcionário todo aquele que é empregado de uma administração


estatal. Sendo uma designação geral, engloba todos aqueles que
Universidade Católica de Moçambique 33

mantêm vínculos de trabalho com entidades governamentais,


integrados em cargos ou empregos das entidades político-
administrativas, bem como em suas respectivas autarquias,
fundações, institutos, universidades, … de Direito Público, ou
ainda, é uma definição a todo aquele que mantém um vínculo
laboral com o Estado, e seu pagamento provém da arrecadação
pública de impostos, sendo sua actividade chamada de "Típica de
Estado", geralmente é originário de concurso público pois é
defensor do sector público, que é diferente da actividade do
Político, detentor de um mandato público, que está directamente
ligado ao Governo e não necessariamente ao Estado de Direito,
sendo sua atribuição a defesa do Estado de Direito, principalmente
contra a Corrupção Política ou Governamental de um eleito, que
costuma destruir o Estado (Historicamente);

Pois um Estado corrompido demonstra geralmente que essa função,


cargo ou serventia não funciona adequadamente.

b. Agentes Públicos Políticos – Políticos

Há, no entanto, outras pessoas que chegam ao poder e ao serviço do


Estado (?) mediante mecanismos instituídos pelo sistema político.
São os responsáveis pela ligação entre a definição e a
implementação das acções do Governo. São os agentes públicos
políticos. Cabe a eles a condução e a gestão estratégicas da
Administração Pública e dos negócios do Estado em geral e, por
consequência, a tomada das macro-decisões, a formulação das
políticas públicas e das directrizes e o controlo da sua execução.
São os dirigentes superiores do Estado: o presidente, os ministros,
os secretários a todos os níveis e instituições, os governadores, os
administradores de unidades territoriais. Eles estão no topo da
pirâmide organizacional do Estado e têm a particularidade de ter
alcançado o poder por intermédio de uma coalizão de forças
políticas. Em geral cumprem um mandato de cinco anos e actuam
no nível estratégico.
Universidade Católica de Moçambique 34

Abaixo desse grupo, estão, como acima indico, os funcionários e


agentes do Estado que actuam nas funções de implementação e
execução administrativas, de acordo com a distribuição piramidal,
própria das burocracias, actuando nos níveis táctico, técnico e
operacional.

Note

Governo

Esta palavra pode, antes de mais, significar a acção de governar


ou a maneira de governar. É neste sentido que Montesquieu
distinguia várias formas do governo.

Na linguagem mais corrente, o termo governo designa o órgão


que governa. Tomado neste sentido, o termo cobre realidades
diferentes, partindo de uma significação sem conteúdo jurídico
preciso evocando de maneira vaga o conjunto de pessoas e de
instituições que exercem o poder político e executivo, até aos
sentidos técnicos apropriados aos diversos regimes políticos.

Num regime presidencial do tipo americano, o governo é


composto por chefe de Estado ( o Presidente) e os seus
colaborares(Secretários e Sub-secretários).

Em regime parlamentar, o termo tem um conteúdo delicado a


precisar.

No sentido constitucional estrito, o governo é um órgão colegial


composto por Primeiro-Ministro, Ministros, Ministros-
Delegados ou Secretários de Estado. Neste regime (parlamentar)
o chefe de Estado não faz parte do governo.

Todavia, noutros regimes similares, o chefe de Estado preside o


Conselho de Ministros, e neste sentido estima-se que ele
participa no governo.

Para além dessa abordagem global deve-se reter o seguinte:

 Que o governo é um órgão de condução da política geral


Universidade Católica de Moçambique 35

do Estado e órgão superior da Administração Pública.


 É uma instituição complexa, variando de País para País
ou de regime em regime, normalmente, fazendo parte
dela os seguintes órgãos singulares:
A. O chefe de Estado (o presidente), quando é
igualmente chefe do governo (regime
presidencialista);
B. Primeiro-Ministro (como chefe do governo ou
não e/ou chanceler);
C. Os Ministros, Ministros-Delegados, Secretários
e Sub-secretários de Estado;
 É órgão encarregado da aplicação das leis e da direcção
política do Estado. É braço executivo do Estado.

O governo possui as seguintes competências:

 Política, regulamentar (legislativa?) e administrativa.

O governo é, portanto, instância máxima de administração


executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um
Estado ou uma nação. Normalmente chama-se o governo ou
gabinete ao conjunto dos dirigentes executivos do Estado, ou
ministros ( por isso, também se chama Conselho de Ministros ).

Governo da República de Moçambique – arts. 200º e


seguintes – C.R.

 Definição e composição: definição, composição,


convocação e presidência;
 Competência e responsabilidade (colectivas e
individuais?): competências, do Primeiro-Ministro,
relacionamento com Assembleia da República,
responsabilidade e competências do Conselho de Ministros,
responsabilidade política dos membros do CM,
Universidade Católica de Moçambique 36

Solidariedade governamental, forma dos actos e imunidades.

A forma ou regime do governo pode ser República ou


Monarquia.

A forma de governo é um conceito que se refere à maneira como


se dá a instituição do poder na Sociedade e como se dá a relação
entre governantes e governados.

É a maneira como, num determinado Estado, o poder político


está distribuído e é exercido.

As formas do governo sobressaem quando é analisada a posição


ou a participação do chefe de Estado neste órgão e, quando é
analisado o seu funcionamento.

Sistema do governo diz respeito ao modo como se relacionam os


poderes ( Legislativo, Executivo e Judicial ).

Exercícios
EXERCÍCIO:

“A Política é arte ou ciência da organização, direcção e


governação/administração de Nações, Estados ou partes
deste;
Universidade Católica de Moçambique 37

Esta arte é aplicada nos negócios internos(Política Interna)


e nos negócios externos (Política Externa).
A política como forma de actividade ou de praxis humana,
está estreitamente ligada ao do poder.
O poder político é o poder do homem sobre outro homem
descartado do exercício deste poder.
O exercício da política deve alcançar pela acção dos
políticos, em cada situação e em cada momento:
 a satisfação das necessidades de carácter
colectiva/ as prioridades das
populações/cidadãos.
 nas convulsões sociais - a unidade do Estado;
 em de estabilidade interna e externa - o bem-estar;
 em tempos de agressão ou de ditadura - a liberdade, os
direito civis e políticos;
 em tempo de dependência - a independência;
O exercício da Política não se compadece com a exclusão e
com corrupção;
O seu correcto exercício política deve resultar em Boa
Governação.

A esfera política é da relação amigo – inimigo.

A origem e o exercício da política é o antagonismo.

Nas relações sociais e sua função se liga à actividade de associar e


defender os amigos e desagregar e combater os inimigos.

O exercício da política gera conflitos políticos nas relações entre as


pessoas e entre grupos/partidos.

Esses conflitos instigam os homens, os grupos, mas porque a


democracia multipartidária o exige, as pessoas e os grupos
antagónicos se agregam internamente, formando órgãos onde se
confrontam entre si. Por exemplo uma assembleia.
Universidade Católica de Moçambique 38

As crises políticas resultantes do mau relacionamento político


sugerem uma reflexão sobre o problema da ética na Política.

Nenhuma profissão é mais nobre do que a Política, porque quem a


exerce assume responsabilidades que só são compatíveis com
grandes qualidades morais e de competência.

O exercício político só se justifica se o político tiver uma visão e


um espírito republicanos, ou seja, se as suas acções, para além de
procurar conquistar o poder, forem dirigidas na busca do bem
público – do bem-estar dos cidadãos.

Um político corrupto, ladrão ou que influência negativamente as


decisões fragiliza e destrui as instituições do Estado, perpetua o
subdesenvolvimento e a pobreza, influenciando de forma grave a
vida dos cidadãos”.

- Discutir e analisar, em grupos, os aspectos mais salientes


apresentados no texto e encontrar uma perspectiva que
possa tornar a Administração Pública uma organização
constituída por equipas de alto desempenho, mesmo
sabido que ela conta com o concurso de duas categorias
de agentes, cujas directrizes de actuação nem sempre
são os mesmos.
o Apresentar uma síntese.

Unidade 6
Administração Pública nos Países
em Desenvolvimento
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 - Analisar os desafios da Administração Pública nos países em via


de desenvolvimento.

Objectivos
Universidade Católica de Moçambique 39

1..Administração Pública nos Países em


Desenvolvimento

Nesses países, as políticas públicas são formuladas no


sentido de superar enormes carências básicas,
especialmente relacionadas às áreas sociais: na área
de alimentação, da saúde, da educação, do trabalho.

Um projecto político de desenvolvimento requer


vontade política dos governantes, uma formulação
cuidadosa e adequada das políticas públicas e a criação
de uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva, capaz
de:

• Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão


da existência da organização;
• Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua
participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho
do Estado;
• Contribuir para o aumento da produtividade;
• Prestar serviços com qualidade;
• Contar com espaços políticos para a gestão participativa;
• Promover a desconcentração;
• Promover a descentralização;
• Ser transparente, o que se associa directamente com a
democratização das informações.

Em resumo, o grande desafio para a Administração Pública é


desenvolver suas competências técnica e administrativa para,
num amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos
clientes) e Governo, contribuir para a democratização e o
desenvolvimento da Sociedade em todos os níveis e aspectos.
Universidade Católica de Moçambique 40

Lembre-se
Fora de outras tantas ideias, opiniões e visões que possam
existir, sugiro que a Política Pública seja entendida como
uma “linha condutora e/ou directora, ou ainda uma
tendência de uma acção colectiva que procura concretizar
direitos sociais declarados e garantidos em leis. É
mediante as políticas públicas que são distribuídos ou
redistribuídos bens sociais, em resposta às demandas da
Sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta é direito
colectivo e não individual”. (Pereira, citada por
Degennszaij, 2000: 59).
Ao se pensar em política pública torna-se necessária a
compreensão do termo público e sua dimensão. Nesse
sentido, Pereira destaca:
O termo público, associado à política, não é uma
referência exclusiva do Estado, como muitos pensam,
mais sim a coisa pública, ou seja, de todos, sob a égide de
uma mesma lei e o apoio de uma comunidade de
interesses. Portanto, embora as políticas públicas sejam
reguladas e frequentemente providas pelo Estado, elas
também englobam preferências, escolhas e decisões
privadas podendo (e devendo) ser controladas pelos
cidadãos. A política pública expressa, assim, a conversão
de decisões privadas em decisões e acções públicas, que
afectam a todos. (Pereira, 1994).

Exercícios
EXERCÍCIO:

Foi dito que o grande desafio para a Administração Pública é


desenvolver suas competências técnica e administrativa para, num
Universidade Católica de Moçambique 41

amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos clientes)


e Governo, contribuir para a democratização e o desenvolvimento
da Sociedade em todos os níveis e aspectos.

Sendo você um futuro administrador civil, equipado com todas as


ferramentas necessárias para o desempenho das suas funções, e,
sabido que Moçambique é um país em via de desenvolvimento,
apresentar um projecto de que possa desenvolver as competências
técnica e administrativas da instituição onde trabalha.

Unidade 7
REFORMA DO SECTOR PÚBLICO
E MODERNIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Identificar os grandes problemas administrativos do mundo


contemporâneo;
 3. Discutir sobre o impacto dos problemas da Administração na
Objectivos vida do cidadão.

1..Os Grandes Problemas Administrativos do Mundo


Contemporâneo

Largamente ligados ao crescimento de intervenções, tais (esses)


problemas não param de se agravar, sobretudo nos países em via de
desenvolvimento, entre eles Moçambique. O aumento contínuo de
Agentes Públicos Administrativos (os Funcionários e agentes do
Estado) e dos Agentes Públicos Políticos (os Políticos na
Administração Pública ou no Sector Público) é neles o reflexo mais
Universidade Católica de Moçambique 42

notável. Mais insidiosa e mais preocupante é o aumento do grau da


complexidade de estruturas administrativas. A multiplicação de
serviços antigos, pela cissiparidade, se duplicou devido a uma
criação política de novos organismos. As razões invocadas são
diversas e muitas vezes justificadas a priori, embora as
consequências afectem, de forma grave, o funcionamento geral do
aparelho administrativo, o que suscita muitas e duras críticas. As
dificuldades de coordenação, a má circulação de informação, por
causa da compartimentalização, a diluição de responsabilidades, as
práticas corruptivas e desvios colossais, falta de transparência e
integridade, nos servidores públicos, o desperdício de energia em
reuniões intermináveis ou em relatórios muitas vezes vazios e
rapidamente arquivados e esquecidos, conduzem a opinião pública
a pôr em causa ou a acusar a Administração Pública ou o Sector
Público. Geralmente as palavras mestras usadas nesse requisitório
são: Potência e opressão.

É verdade que ao longo do séc. XX o respeito do Direito pelas


autoridades administrativas, sobretudo nos Estados mais modernos,
visivelmente foi reforçado, com um desenvolvimento de sistemas
de controlo das suas acções ou decisões e, particularmente, do
controlo jurisdicional. Contudo, a Administração Pública ou o
Sector Público são visados pela contestação que abala todos os
poderes, especialmente os poderes políticos. A sua extensão, a sua
complexidade senão o seu hermetismo a transforma num universo
kafkaїano. Os administrados ou os clientes sofrem mas eles não
sabem nem como a Administração age nem porquê ele lhes impõe
esta ou aquela decisão ou medida. E mesmo que nos últimos
decénios ela não para de apresentar uma vontade aparente de querer
agir com transparência, mas a sua opacidade parece aumentar ainda
mais a distância que separa os cidadãos das instâncias de que tanto
necessitam ou dependem, levando-os a uma situação de cativos ou
reféns.
Universidade Católica de Moçambique 43

A procura de solução para essa situação passa, antes de tudo, por


uma reflexão sobre os Poderes Públicos e sobre as instituições da
Administração Pública ou do Sector Público e seu lugar na
Sociedade. A ideia de Poderes Públicos e da Administração Pública
nos remete, particularmente, à questão fundamental e complexa do
poder normativo do Estado: quais são fundamentos, o conteúdo e
os limites de tal poder de editar regras jurídicas? Qual é o papel do
Direito na regulação da Sociedade, da vida em Sociedade ou na
Sociedade e qual é, hoje, o lugar do Direito do Estado? Se o Estado
intervém demasiadamente, então que intervenha menos! Mas então
que o Estado deve fazer exactamente? Primeiro a questão da
redefinição do seu papel se coloca ao tanto que a da reforma ou da
modernização dos seus serviços.

O Direito do Estado é uma etapa superior do Direito


Público, fixada em instituições permanentes, ao contrário
do Direito Público governativo, vinculado a grupos
políticos determinados ou a orientações políticas
contingentes.

O Direito do Estado denota o direito de cidadania, pois é o


direito garantidor da cidadania. As normas que o
condensam reclamam crescente participação popular na sua
produção e vigorosa submissão a critérios materiais de
legitimação, como o respeito aos direitos fundamentais e os
valores da democracia, da igualdade e da segurança
jurídica.

O Direito Público é o conjunto de normas que dispõem


sobre interesses ou utilidades imediatas da comunidade,
como: o Direito Constitucional ou Político, o Direito
Administrativo, o Direito Criminal ou Penal, o Direito
Processual ou Judiciário, o Direito Fiscal ou Tributário, o
Direito Económico ou Financeiro, o Direito Público
Universidade Católica de Moçambique 44

Internacional.

Regula as relações e interesses do Estado entre seus agentes


e a colectividade.

Visa o bem-estar comum, especificado em normas


aprovadas por representantes do Povo, escolhidos
democraticamente.

Sob perspectiva da cidadania, como conjunto de normas de


protecção contra o abuso, a arrogância, a demagogia, a
prepotência, o autoritarismo, a ditadura do poder do
governo ou dos políticos, o Direito Público também é
denominado Direito do Estado ( em contraposição do
direito do governo ou direito especial do poder ).

Outro ponto que distingue o Direito Público é o princípio


que o rege: o Princípio da Supremacia do interesse
público em face do interesse individual. Com isso será
sempre priorizado o interesse geral em detrimento do
interesse individual de cada pessoa, devendo este submeter-
se àquele.

A Administração Pública moçambicana não está isenta dos


problemas administrativos do mundo contemporâneo.

Exercícios
EXERCÍCIO:

Discutir e analisar o impacto dos problemas administrativos do


mundo contemporâneo na vida do cidadão.

o Apresentar uma síntese.


Universidade Católica de Moçambique 45

Unidade 8
O PAPEL DO ESTADO
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Identificar e perceber o papel do Estado;


 2. Analisar criticamente o papel do Estado.

Objectivos

1..O Papel do Estado

Não se trata, evidentemente, de uma questão própria ou unicamente


de Moçambique. As intervenções do Estado têm tendências de
aumentar quase em todas as esferas da vida dos cidadãos. Foi assim
nos Estados Socialistas que realizaram mais ou menos a
apropriação colectiva dos meios de produção. Nos jovens Estados
surgidos da descolonização, incluindo o nosso, também foi assim,
tiveram grandes dificuldades de abandonar totalmente iniciativas
públicas nas tarefas do desenvolvimento, a favor do sector privado.
Mesmo nos países industrializados que escolheram as democracias
pluralistas, se o estatismo ou a intervenção demasiada do Estado foi
condenado por alguns, podia-se pensar que a acção do Estado foi
necessária devido à dificuldades de conjuntura económica. Acima
de tudo, ela pareceu indispensável para atingir, por meio de
políticas sociais apropriadas, o “bem-estar” (welfare state).
Universidade Católica de Moçambique 46

Na verdade, o papel do Estado constitui um debate antigo e actual


pelo mundo fora, e, também em Moçambique. Quando de ninguém
se perguntam o que deve fazer – se ele deve, mais precisamente,
«fazer ou mandar fazer» - muitos estão sempre prontos a denunciar
o intervencionismo demasiado do Estado. Em Moçambique o
debate se tornou particularmente vivo em 1976, quando o país se
engaja no processo de intervencionismo. Com efeito, as
nacionalizações atingiram o papel económico do Estado. Metendo-
lhe ao lado das suas principais funções de assistência (segurança
social, ajuda ou apoio social...), passando, mais do que nunca, a ser
banqueiro, segurador, transportador, construtor, montador,
importador, distribuidor, comerciante, agricultor, carpinteiro,
mecânico, pescador, etc. Na mesma época, outros países davam o
exemplo contrário e a tendência geral foi mais refluxo. A senhora
Margaret Thatcher no Reino Unido, o senhor Ronald Reagan nos
Estados Unidos, confiaram apenas nos mecanismos do mercado,
lutaram por desregulamentação e reduzir ao mínimo estrito as
prestações asseguradas, indo na limitação de esforço de
solidariedade a favor dos mais desfavorecidos.

Em Moçambique, com o início, em 1986, da segunda geração das


reformas moçambicanas novos discursos e tendências aparecem. O
unilateralismo do Estado deixou de ser credível e o «tudo Estado»,
sobretudo após o desmoronamento dos regimes comunistas da
Europa do Leste, não era mais defensável. Um consenso parece que
se impõe para se ultrapassar a alternativa de mais ou de menos
intervenção. «Melhor fazer», diga, tudo nele se acordando sobre a
necessidade do recuo do Estado produtor e da necessidade da sua
centragem nas missões essenciais de protecção, regulação e
solidariedade.
Universidade Católica de Moçambique 47

Nesta perspectiva, o «posicionamento» do Estado é analisado ou


deve ser analisado a partir de duas questões (1) sobre a
legitimidade própria da acção pública e (2) sobre o nível de
pertinência que ela deve ser conduzida.

Tratando-se da legitimidade da acção pública, é claro que se o


Estado não tem a vocação de administrar a economia, de substituir
as empresas, o seu papel resta neste domínio considerado
indispensável. Ele (o papel do Estado) é duplo: (1) regular os
mercados, que como sabemos, com a mundialização económica se
generaliza a lógica de concorrência desleal e de confrontações, (2)
promover a competitividade nacional. A regulamentação e a
incitação se afiguram instrumentos privilegiados, mesmo se o
primeiro necessite de ser completado pela criação de uma entidade
reguladora com uma certa autonomia, de carácter jurisdicional,
para exercer um controlo a posterior, sobre o funcionamento dos
mercados, enquanto o Estado se ocupa da regulamentação a priori.

Também é reafirmada a responsabilidade do Estado em matéria de


«repartição do risco social… solidariedade social… difusão do
saber». O Estado deve-se manter como o garante do interesse geral,
garante da solidariedade, livre de tarefas fora do seu principal
negócio, de forma a poder repensar a sua acção e ultrapassar a crise
do Estado-providência que se mostra mais aguda do que nunca.
Como, com efeito, em diante poderá o Estado financiar as despesas
sociais? Enquanto a população activa não para de aumentar e
também o aumento do número de excluídos, a criação ou invenção
de novos mecanismos de redistribuição de riquezas se torna
necessária.

A questão sobre o nível de pertinência no qual deve ser conduzida a


acção pública não é menos decisiva. A construção comunitária
(SADC) e do Estado de Direito e de Justiça Social de um lado, a
Universidade Católica de Moçambique 48

descentralização e a desconcentração do outro, nos levam a nos


perguntarmos se os Estados da Comunidade, pouco a pouco, não
virão a ser inúteis. Se recusarem de admitir e considerar que a
transferência de competências em proveito da SADC deve ser
limitada ao estrito necessário e que em respeito das colectividades
descentralizadas e desconcentradas dos Estados permaneçam o
garante da unidade nacional – não dispensa, ao contrário, uma
reavaliação do seu papel. O muito solicitado, nos últimos anos, o
princípio de subsidiariedade nos dá um quadro de um raciocínio
aplicável a todos os níveis. É necessário, ainda, decidir que cada
nível (local ou municipal) pode fazer da melhor forma possível.

Exercícios
o Em grupos ou individualmente discutir o papel do Estado e
apontar uma perspectiva para o futuro dos papeis dos
Estados membros da SADC. Apresentar uma síntese.

Unidade 9
O SECTOR PÚBLICO

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Conceituar o Sector Público;


 2. Identificar o objectivo e a missão do sector público;
 3. Identificar e discutir os problemas e os desafios do sector público.
Objectivos

1..O Sector Público


Universidade Católica de Moçambique 49

O Sector Público é o conjunto de instituições e agências que sendo


directa ou indirectamente pelo Estado têm como objectivo final a
provisão de serviços públicos. Isto é, serviços para a satisfação de
necessidades de carácter colectivo, nomeadamente:

 Manutenção da ordem pública, baseando-se na defesa de


diversos fins e correspondendo, a tranquilidade, segurança e
salubridade;
 Satisfação de outras necessidades de interesse geral ou
colectivo, de carácter cultural e social, por ex: educação e
ensino, cultura, investigação científica, intervenção nos
domínio sociais (para melhorar a saúde pública ou para
diminuir os efeitos negativos do desemprego, etc ), nos
sectores comercial e industrial ou no sector agrícola, nas
obras públicas e habitação, etc.

Ao conjunto de todas as Instituições e Agências do Estado ou seja,


à Administração Pública em sentido orgânico (também
denominado por Sector Público), como braço executor do Governo,
compete a gestão eficiente, eficaz e efectiva das políticas
públicas em todos os sectores: saúde, educação cultura,
economia, administração, agricultura, habitação, saneamento
do meio, meio ambiente, etc.

Como foi dito, apesar de toda a racionalidade do modelo


administrativo do Estado, ele apresenta um conjunto de desvios e
anomalias, a que se denominou “disfunções burocráticas”, que
levam à sua ineficiência e à ineficácia. Podendo-se destacar, entre
elas:

- Despersonalização do relacionamento entre os


participantes – trata-se de uma maneira formalizada,
levando em conta o cargo que cada um ocupa;
Universidade Católica de Moçambique 50

- Forte internalização de directrizes, regulamentos e normas,


concebidos inicialmente para favorecer o alcance dos
objectivos organizacionais, que logo que entrarem em
vigor, adquirem valor próprio e absoluto, deixando de ser
meios para se transformarem em objectivos;
- O funcionário que possui categoria hierárquica mais
elevada tem a prerrogativa do processo decisório,
independentemente da sua competência profissional sobre
a matéria ou o assunto a ser decidido;
- Excesso de formalismo e de “papelório”: forte tendência de
documentar e formalizar todas as comunicações, a ponto de
prejudicar o processamento dos trabalhos de organização;
- Exibição de sinais de autoridade: como a hierarquia, como
meio de controlo do desempenho dos participantes, é muito
valorizada, surge a necessidade de utilização de sinais ou
símbolos que destaquem a autoridade e o poder;
- Superconformidade em relação às regras e regulamentos,
que passam a adquirir fundamental importância para o
funcionário;
- Resistência à mudança e tendência dos participantes a se
defenderem de pressões (internas e/ou externas), para a
modernização, percebidas como ameaça às posições que
desfrutam e à estabilidade adquirida.

Também importa sublinhar que nos países como Moçambique, as


políticas públicas são formuladas no sentido de superar enormes
carências básicas, especialmente relacionadas às áreas sociais: na
área de alimentação, da saúde, da educação, do trabalho.

Nesses países um projecto político de desenvolvimento requer


vontade política dos governantes, uma formulação cuidadosa e
adequada das políticas públicas e a criação de uma Administração
Pública eficiente, eficaz e efectiva, capaz de:
Universidade Católica de Moçambique 51

• Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão


da existência da organização;
• Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua
participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho
do Estado;
• Contribuir para o aumento da produtividade;
• Prestar serviços com qualidade;
• Contar com espaços políticos para a gestão participativa;
• Promover a desconcentração;
• Promover a descentralização;
• Ser transparente, o que se associa directamente com a
democratização das informações.

Em resumo, o grande desafio para a Administração Pública é


desenvolver suas competências técnicas e administrativas para,
num amplo esforço, juntamente com a Sociedade (os cidadãos
clientes) e Governo, contribuir para a democratização e o
desenvolvimento da Sociedade em todos os aspectos e níveis.

Para vencer esse desafio o Sector Público precisa de realizar


reformas.

Exercícios

1. Conceitue o Sector Público.

2. Diga que entende por uma Administração Pública eficiente,


eficaz e efectiva.

Respostas:

1. O Sector Público é o conjunto de instituições e agências que


sendo directa ou indirectamente pelo Estado têm como
objectivo final a provisão de serviços públicos. Isto é,
Universidade Católica de Moçambique 52

serviços para a satisfação de necessidades de carácter


colectivo.
2. Uma Administração Pública eficiente, eficaz e efectiva, é
aquela que é capaz de:
- Perceber um cidadão como seu “cliente” e a própria razão
da existência da organização;
- Priorizar a relação com o cidadão, isto é, considerar sua
participação no desenvolvimento dos trabalhos do Aparelho
do Estado;
- Contribuir para o aumento da produtividade;
- Prestar serviços com qualidade;
- Contar com espaços políticos para a gestão participativa;
- Promover a desconcentração;
- Promover a descentralização;
- Ser transparente, o que se associa directamente com a
democratização das informações.

Unidade 10
REFORMA DO SECRO PÚBLICO
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Definir a reforma do sector público;


 2. Identificar os objectivos da reforma do sector público.

Objectivos

1..Reforma do Sector Público


A Reforma do Sector Público é um conjunto de acções de carácter
transversal e horizontal e processos de mudanças que devem ser
empreendidos para que os serviços públicos prestados nos
diferentes sectores sejam melhorados.
Universidade Católica de Moçambique 53

Trata-se de uma Política Pública que visa modernizar a


Administração Pública, eliminar ou reduzir as suas disfunções,
torná-la eficiente, eficaz e efectiva, com foco no cidadão.

Ela visa mudar para o melhor, sobretudo o melhor fazer.

Para o caso moçambicano, a Constituição da República de 2004 é o


primeiro documento jurídico-legal que sustenta a modernização da
Administração Pública, a simplificação de procedimentos
administrativos, a aproximação dos serviços aos cidadãos, a
descentralização e a desconcentração, etc.

A C.R., artigo 250, determina que:

Estrutura

1. A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de


descentralização e desconcentração, promovendo a modernização
e a eficiência dos seus serviços sem prejuízo da unidade de acção
e dos poderes de direcção do Governo.

2. A Administração Pública promove a simplificação de


procedimentos administrativos e aproximação dos serviços aos
cidadãos.

Foi com base nesses preceitos constitucionais que foi desenhada a


Estratégia Global da Reforma do Sector Público, 2001 – 2011,
apontando como razões da reforma global do sector público:

i. A necessidade de adequar o conjunto das


organizações que integram o sector público para
fazer face aos desafios que se colocam ao Estado
Moçambicano.
Universidade Católica de Moçambique 54

ii. A permanente legitimação do Estado de Direito nas


suas relações com a Sociedade como factor de
garantia da soberania, da moçambicanidade e do
progresso nacional.

A política pública moçambicana de 2001, sobre o sector público,


apresentava uma estratégia reformista resumida em seis
componentes e quatro prioridades, ou seja:

1. Racionalização e descentralização de estruturas e processos


de prestação de serviços;

2. Gestão de Políticas Públicas;

3. Profissionalização dos Funcionários do Sector Público;

4. Melhoria da Gestão Financeira e da Prestação de Contas;

5. Boa Governação e Combate à Corrupção;

6. Gestão da Reforma.

1. Melhoria na prestação de serviços;

2. O fortalecimento dos órgãos locais, com enfoque no


distrito;

3. Profissionalização da Função Pública;

4. Boa Governação e o combate aos obstáculos do


desenvolvimento: burocratismo, espírito de deixa-andar e a
corrupção.

Para se conseguir uma reforma bem sucedida esta deve ser


antecedida por realização de um diagnóstico no sector onde se
pretende a realizar a reforma, visando obter:
Universidade Católica de Moçambique 55

1. Conhecimento (efectivo ou em confirmação) sobre o sector,


ao momento do seu exame; ou
2. Descrição minuciosa do sector, feita pelo examinador,
classificador ou pesquisador; ou
3. Juízo declarado ou proferido sobre a característica, a
composição, o comportamento, a natureza, o funcionamento
etc. do sector, com base nos dados e/ou informações deste
obtidos por meio de exame, levantamento, pesquisa, etc.
4.

EXERCÍCIOS:

1. Apresente o conceito da Reforma do Sector Público e os


seus objectivos.
2. Qual é o primeiro passo que deve ser dado para que uma
reforma seja bem sucedida?

Respostas:

1. A Reforma do Sector Público é um conjunto de acções de


carácter transversal e horizontal e processos de mudanças
que devem ser empreendidos para que os serviços públicos
prestados nos diferentes sectores sejam melhorados.

Trata-se de uma Política Pública que visa modernizar a


Administração Pública, eliminar ou reduzir as suas disfunções,
torná-la eficiente, eficaz e efectiva, com foco no cidadão.

Ela visa mudar para o melhor, sobretudo o melhor fazer.

2. Para se conseguir uma reforma bem sucedida esta deve


ser antecedida por realização de um diagnóstico no
sector onde se pretende a realizar a reforma, visando
Universidade Católica de Moçambique 56

obter:

- Conhecimento (efectivo ou em confirmação) sobre o sector,


ao momento do seu exame; ou
- Descrição minuciosa do sector, feita pelo examinador,
classificador ou pesquisador; ou
- Juízo declarado ou proferido sobre a característica, a
composição, o comportamento, a natureza, o funcionamento
etc. do sector, com base nos dados e/ou informações deste
obtidos por meio de exame, levantamento, pesquisa, etc.

Unidade 11
MODERNIZAÇAO
ADMINISTRATIVA
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber a modernização administrativa


 2. Identificar e discutir os objectivos da modernização administrativa.

Objectivos

1. Modernização Administrativa

Indo para a frente e estabelecendo o paralelismo com a reflexão


sobre o papel do Estado, a modernização administrativa deve-se
concretizar em resultados. A grande dificuldade é a incapacidade
de levar a cabo várias reformas ao mesmo tempo, as vezes
Universidade Católica de Moçambique 57

divergentes. Melhorar a gestão da coisa pública ou do negócio


público por uma racionalização pode concorrer par o aumento cada
vez maior de distância entre a Administração e os administrados e
acentuar os sentimentos de opressão. Essa procura de eficácia
parece logo dever de ser imperativamente duplicada de um esforço
de abertura do aparelho administrativo e do melhoramento das suas
relações com os administrados.

A. O Melhoramento da Gestão da Coisa ou dos


egNócios Públicos

A Administração, dada a amplitude das suas tarefas, deve tender a


ser de forma crescente eficaz. A procura do rendimento
administrativo é dos maiores problemas das sociedades
contemporâneas. Trata-se, particularmente, de melhorar a gestão
explorando para este fim o progresso científico (o cálculo
económico, por exemplo) e técnica (a informática em todas as suas
formas).

A esse respeito, os Estados Unidos jogaram um papel de pioneiro.


Eles lançaram o movimento de management public que, em
numerosos Estados, viria a se desenvolver a partir dos anos de
1960. O PPBS (Planning Programming Budgeting System) veio a
ser, na França, o RCB (la Rationalisation des Choix Budgétaire).
Mas se o nome mudou, a realidade continuou aproximadamente a
mesma. Segundo os responsáveis dessa modernização da
Administração, se tratava de tornar preciso os critérios de escolha,
comparar os diversos objectivos desejados e os diversos meios
disponíveis para os atingir, medir com uma aproximação suficiente
o custo total das acções à realizar e as vantagens que podem ser
conseguidas, talvez muito tarde, agregar essas medidas e essas
comparações não estão somente no quadro de um ministério, mas
acima entre as diversas principais missões do Estado, raciocinar
Universidade Católica de Moçambique 58

para tal feito não no quadro tradicional da anualidade mas numa


perspectiva a longo termo.

A ambição fora grande mas os resultados foram decepcionantes,


menos e fracos, sem dúvida alguma, pelo facto da dificuldade de
conduzir com uma certa lógica as operações preconizadas que por
razões que se prendiam com a complexidade de certos discursos
mantidos e da falta de adesão do pessoal interessado. Houve muita
pretensão à racionalidade e como consequência, o processo foi
levado à artificialidade e à uma sofisticação de abordagens que
rapidamente se tornaram esotéricas.

Na França, numa circular de 23 de Fevereiro de 1989, o então


Primeiro – ministro Michel Rocard, recordando as exigências
relativas à satisfação das necessidades dos clientes de Sector
Público, entre outros (recepção, informação, etc.), sublinhava dois
aspectos: (1) o desenvolvimento das responsabilidades dos
agentes públicos e (2) a avaliação das políticas públicas.

O primeiro objectivo devia conduzir à concepção, implantação e


implementação de projectos de serviços cujos objectivos eram de
«pôr em evidência os valores essenciais do serviço, clarificar as
suas missões, congregar as reflexões e as energias em volta de
algumas ambições». Estava visada também a criação de centros de
responsabilidade «onde seriam postas em obra de maneira
contratual algumas flexibilizações das regras de gestão orçamental,
que seria acompanhada de uma grande autonomia».

Quanto ao segundo objectivo, era tanto ao quanto mais essencial


pois a avaliação não jogava um papel suficiente nas instituições
francesas. Para avançar, afirmava o chefe do governo, é necessário
respeitar alguns princípios:
Universidade Católica de Moçambique 59

«a independência das instâncias de avaliação em relação


às administrações gestionários»;
a competência dos actores de avaliação, uma vez que os
resultados são destinados para alimentar debates
importantes;
a transparência do processo, quer dizer, as fontes de
informação, os critérios de apreciação e os métodos de
trabalho. Os resultados da avaliação clarificarão o debate
democrático se a ele for submetido para uma crítica;
a pluralidade de dispositivos, pois nenhum organismo
devia se situar num plano acima dos outros ou posição
privilegiada, ou ainda com possibilidade de exercer o
monopólio do processo.

Foi preciso mobilizar todo o potencial disponível e suscitar a


eclosão de novas instâncias.

A partir dessas orientações, a organização da avaliação de políticas


públicas foi fixada por um Decreto de 1990. Foi criado um
Conselho Nacional de Avaliação de Políticas Públicas, cuja
composição foi feita de forma a garantir sua competência e
independência. O seu funcionamento e as suas despesas são
assegurados pelo Fundo Nacional do Desenvolvimento da
Avaliação.

Um relatório sobre o estado do «Estado Francês» de 1994 e uma


circular de 1995 do então Primeiro – ministro, o actual Ministro
dos Negócios Estrangeiros, senhor Alain Juppé, relativa a
preparação e a realização da Reforma do Estado e dos Serviços
Públicos tiveram também como objecto o relançamento da
modernização administrativa. Cinco objectivos prioritários foram
estabelecidos: (1) clarificar as missões do Estado; (2) clarificar o
campo ou esfera de actuação dos Serviços Públicos; (3) o melhor
Universidade Católica de Moçambique 60

atendimento das necessidades, preocupações e expectativas dos


cidadãos; (4) mudar o Estado Central; (5) delegar
responsabilidades.

Foram criados um Comité Interministerial para a Reforma do


Estado, um Comissariado da Reforma do Estado, que mais tarde
(em 1998) foi substituído por uma Delegação Interministerial da
Reforma do Estado, subordinada à Direcção Geral da
Administração e da Função Pública.

Em Moçambique, com a proclamação da Independência Nacional,


a 25 de Junho de 1975, foi iniciado um processo de reformas
tendentes a adequar o Estado aos mais nobres anseios do Povo,
tendo sido lançado, no quadro desse processo, em 2001, a
Estratégia Global da Reforma do Sector Público, com a duração de
10 anos. Ainda em 2001 foi aprovado o Decreto nº 30/2001, de 15
de Outubro, sobre «Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública».

Nos últimos anos o Estado moçambicano está envidando esforços


no uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, na
gestão da coisa pública ou dos negócios públicos.

Me parece ter tudo dito ou quase. Aparentemente me resta vos


convidar para o aprofundamento do caso Moçambique, para melhor
entender o processo da concepção e da implementação da
Estratégia Global da Reforma do Sector Público, as dificuldades e
resistências que o processo foi conhecendo e ou outras questões
similares, que como veremos, a sua análise muitas vezes pode nos
levar a pensar que nunca ou nada poderá modernizar
verdadeiramente a Administração Pública moçambicana.
Universidade Católica de Moçambique 61

B. O Melhoramento das Relações Entre a


Administração Pública ou o Sector Público e
osAadministrados ou Utentes

Reforçar a qualidade de serviços prestados, simplificar


procedimentos, promover uma administração que dê acesso plural e
rápido de serviços aos cidadãos constituem acções incontornáveis
que concorrem para o melhoramento das relações entre a
Administração e os administrados. É necessário, ainda, que toda a
acção que vise a modernização esta deve corresponder e responder
as expectativas dos cidadãos e a sua situação em relação à
Administração deve, igualmente, melhorar.

As expectativas, sem dúvidas, são grandes. Elas são cada vez mais
crescentes que nem as tecnologias de informação que não faltam de
suscitar novas exigências. Será então necessário falar ainda de
administrados? Sabemos que o termo administrado só pode ter
sentido quando designa um cidadão em relação aos
administradores, este termo pode ter uma conotação passiva e
tender a designar sobretudo uma pessoa que sofre. Devo-vos
recordar que a Administração colonial em Moçambique foi
opressora e os administrados eram os moçambicanos que tanto
sofreram durante a sua vigência.

Um facto curioso e bastante preocupante na Administração Pública


moçambicana é ausência de clareza no que concerne ao estatuto
dos utilizadores dos Serviços Públicos, seja Serviços Públicos
Administrativos (SPA), sejam Serviços Públicos Industriais e
Comerciais (SPIC). Como os chamar? «Utentes»?
«Administrados»? «Clientes»? «População»? «Cidadãos»?
Universidade Católica de Moçambique 62

Os cidadãos utentes ou os que procuram os serviços produzidos e


distribuídos ou fornecido pelos Serviços Públicos Industriais e
Comerciais, como TDM, EDM, Correios de Moçambique,
Petromoc, CFM, LAM, ADM, RM, TVM, etc., rigorosamente
falando devem ser chamados de clientes.

Os cidadãos utentes ou que procuram os serviços produzidos e


oferecidos pelos Serviços Públicos Administrativos se chamam
administrados.

Vezes são várias que por ignorância, alguns políticos chamam os


administrados de população. Por ignorância porque o termo
população é um conceito matemático, estatístico, económico e
demográfico.

Socorrendo-se da nossa Lei Fundamental – TÍTULO XII:


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, POLÍCIA, PROVEDOR DE
JUSTIÇA E ÓRGÃOS LOCAIS DO ESTADO – CAPÍTULO I –
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (Artigo 253º - Direitos e garantias
dos administrados), diria que o termo oficial com que um utente
da Administração em Moçambique deve ser designado ou tratado é
administrado.

A falta de estatuto do utente do serviço público, em Moçambique,


se deriva do fraco exercício da cidadania.

Pois a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a


possibilidade de participar activamente da vida e do governo do seu
Povo. Que não tem cidadania está marginalizado e excluído da vida
Universidade Católica de Moçambique 63

social e da tomada de decisões, ficando numa posição de


inferioridade no grupo social.

Alguns dos direitos que devemos ter não nos são conferidos, mas
conquistados.

Então, em reacção se deve redescobrir o cidadão moçambicano e os


seus direitos (?)

a) Para uma nova cidadania, duas políticas deviam ser


prosseguidas e amplificadas: (1) aproximar as
administrações aos seus administrados; (2) substituir um
utente passivo por um administrado activo.
- A primeira dessas acções se baseia tradicionalmente em
políticas claras de desconcentração e de
descentralização;
- A segunda ambição só poderá ser satisfeita se
conseguirmos tirar a participação da marginalidade onde
hoje se encontra.
b) Sejam o que forem os tipos de tais políticas, elas supõem
resolver também os problemas do anonimato e do
secretismo. Um funcionário ou agente do Estado, no seu
gabinete ou atrás do seu guichet, devia ter uma
identificação. Sua assinatura deve ser legível. Ele deve ter
capacidade de ultrapassar os constrangimentos que lhes são
impostos pela propensão à confidencialidade das
organizações burocráticas e devem, a ele, ser consagrados
alguns direitos.

Na França, por exemplo, para que o problema do anonimato e do


secretismo fosse resolvido, as autoridades regulamentares tiveram
que aprovar um decreto, em 12 de Abril de 2000, relativo aos
Universidade Católica de Moçambique 64

direitos dos cidadãos nas suas relações com as administrações,


que visa completar, enriquecer e coordenar melhor os dispositivos
anteriores, que datavam dos finais dos anos de 1970. A partir da
revisão destes diplomas os administrados franceses passaram a ter
o direito à comunicação de documentos administrativos
(nominativos e não nominativos), nas condições muito simples e
sob o controlo da Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos (CADA). As regras aplicáveis à consulta aos
Arquivos Públicos são clarificadas e tornadas flexíveis, entre outras
medidas, incluindo as que visam a protecção contra a informática e
os ficheiros e é imposta a motivação das decisões individuais
desfavoráveis.

O objectivo principal era garantir uma transparência das


administrações. Todavia, mesmo com estas medidas o secretismo
das administrações do Estado está longe de ser totalmente
ultrapassado mesmo que não tenha nada a ver com o arcaísmo
administrativo.

Constato que o tema «a transparência e o segredo», se quisermos


reflectir e discutir o fenómeno, devia servir de um fio director dessa
discussão e reflexão centrado sobre o tão velho dilema ético
fundamental com que se pode esbarrar qualquer investigação ou
pesquisa sobre uma justa partilha entre o que pode ou deve ser
tornado público e sobre o que pode ou deve ser mantido secreto.

c) A questão das suas relações com os administrados, é


também para a Administração uma questão da sua própria
imagem. Uma política de comunicação pública ou do
Sector Público é um dos aspectos basilares da
modernização administrativa. Como o constatou o senhor
Marceau Long, que foi o vice-presidente do Conselho do
Estado francês, « as instituições comunicam... como nós
Universidade Católica de Moçambique 65

respiramos. Se se trata de respirações difíceis, outras são


naturais, profundas, amplas. Fazendo apelo às técnicas mais
sofisticadas como aos comportamentos mais clássicos, a
comunicação é agora reparada como uma função pivot da
política...».

Do que acima vem dito podemos aferir que todas as autoridades


estatais e políticas, a todos os níveis, deviam entender essa
necessidade de comunicação pública, mesmo se a eficácia e o
impacto da mesma, que de princípio não deve ser nem propaganda,
nem um exercício inconsistente de recordação da existência dos
serviços públicos, fiquem por aprovar. Ao menos que seja claro que
a Administração, para além das dificuldades que enfermam a
modernização e dos seus resultados sempre fracos, entenda se
fechar para não ser «mal entendido».

Exercícios

EXERCÍCIO:

Em grupos ou individualmente discutir e analisar a Modernização


Administrativa como um acção da Reforma do Sector Pública ou
política pública que visa melhorar:

 O melhoramento da gestão da coisa ou dos negócios


públicos.
 O melhoramento das relações entre a Administração
Pública ou o Sector Público e os administrados.
o Apresentar uma síntese.
Universidade Católica de Moçambique 66

Unidade 12
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COM
FOCO NO CIDADÃO
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Compreender a administração pública com foco no cidadão;


 2. Identificar e discutir as vantagens da administração pública com
foco no cidadão.
Objectivos

1. Administração Pública Com Foco no


Cidadão

Actualmente, como consequência da globalização e da


concorrência externa, o mercado se adapta com relativa rapidez,
substituindo a filosofia da “quantidade total” pela “qualidade total”.
A Administração Pública, no entanto, com os seus paradigmas de
gestão, ainda fortemente virados para dentro de sim mesmo, com
muito baixo grau de flexibilidade e excessiva regulamentação,
acompanha esse ritmo externo com bastante dificuldade,
concorrendo para o acelerado envelhecimento do modelo.

A super valorização dos seus aspectos formais como a hierarquia,


as normas e os regulamentos levam a Administração Pública a um
desvio quase absurdo: o de tornar esses factores a sua “clientela”,
ao invés do cidadão; este que deveria ser o foco e a grande
Universidade Católica de Moçambique 67

preocupação de toda e qualquer actividade organizacional é


raramente lembrado, quando não desconsiderado e desrespeitado.

Esse modelo, que antes era menos perceptível dado o baixo padrão
de qualidade dos demais sectores da economia, hoje fica bastante
visível e, portanto, objecto de muitas críticas e reclamações. E as
exigências e indignações são cada vez maiores, pois não se entende
porque com o avanço e crescente disponibilização da tecnologia,
um banco privado mantém um atendimento rápido e eficiente, uma
loja pode atender por telefone, a informação chega via internet a
todos os lugares do mundo, e, ao mesmo tempo, ao se necessitar de
um determinado serviço público, desde o levantamento de um
documento a uma consulta médica, é necessário disputar um lugar
na bicha, que pode levar de horas a meses, para a sua efectivação,
além de se deparar com funcionários cujo atendimento não prima
pela competência, pelo senso do dever e pela cordialidade!

O Sector Público quer fazer de tudo para todos; resiste à


especialização, o número de funcionários e as despesas crescem e a
produtividade e a qualidade de prestação de serviços caem.

No entanto, ainda que mais lentamente do que desejável, vai-se


ampliando o nível de consciencialização e, em consequência, o
próprio exercício da cidadania, ou seja o reconhecimento de que
cada indivíduo possui direitos e deveres para com a colectividade,
de que todos são iguais perante a lei, de que todos têm direito à
liberdade de pensamento, de associação, locomoção, emprego,
moradia, enfim, de atendimento justo às suas necessidades básicas.

É sobejamente sabido que o exercício da cidadania, nos países em


desenvolvimento, é restringido pela divisão social, pela miséria,
pelo desemprego, pelo analfabetismo. Daí que assegurar e ampliar
Universidade Católica de Moçambique 68

a consciência e o exercício da cidadania significa aprimorar a


democracia.

Nesse contexto, mais do que nunca e com maior urgência, a


Administração Pública precisa repensar o seu papel, tendo como
base sua missão, seu público-cliente (o cidadão ou o administrado),
os produtos ou serviços que deve produzir e o grau de competência
e qualidade com que deve fazê-lo.

Essa revisão, portanto, deve contemplar necessariamente, à partida:


a definição de objectivos e metas, a formulação de políticas
adequadas.

Pode-se entender por missão a razão pela qual uma determinada


organização existe. Se um órgão público qualquer não tiver missão
justificável, factível, relevante num dado contexto socioeconómico,
deve ser terciarizado, privatizado, reestruturado ou extinto. A
missão é o papel principal da organização, que a diferencia de
outras organizações semelhantes, e que é definido por necessidades
e/ou expectativas da Sociedade em que se insere.

A efectividade de uma organização qualquer é avaliada pelo


impacto dos seus resultados sobre a situação-problema ou sobre o
conjunto das necessidades e/ou expectativas de determinados
grupos de cidadãos, que motivaram a sua criação. Por outras, a
efectividade se afere pela análise do cumprimento da missão
organizacional.

Princípios são valores que devem nortear as políticas e as acções


das organizações públicas. Fornecem os parâmetros em relação ao
que deve ou não deve ser feito e em relação ao modus faciendi –
“modos de fazer”. Os valores são o reflexo das expectativas
Universidade Católica de Moçambique 69

culturais de um grupo ou da Sociedade sobre como os seus


membros devem comportar-se. Representam factores
impulsionadores, bem como um referencial abstracto de natureza
moral da conduta humana.

Objectivos representam a fixação do ponto a que se espera chegar


ao final de um determinado tempo; são os resultados que se espera
alcançar, tanto do ponto de vista da qualidade, quanto da
quantidade (metas); contemplam os diferentes sectores da
Administração Pública e os problemas a serem geridos, como a da
gestão da educação ou da saúde, o desenvolvimento da
empregabilidade, da atracção de parcerias ou de investimentos, a
agregação de valor a actividades desenvolvidas, etc. Os objectivos
e metas devem ser desfiadores e frequentemente redimensionados
ou a organização entra em processo de entropia negativa. O alcance
dos objectivos quantitativos e qualitativos dá a medida da eficácia
da organização.

Políticas são os caminhos ou orientação escolhidos pelo poder


decisório para o cumprimento da missão e consecução dos
objectivos e metas da organização. Representam o padrão de
resposta da organização ao seu ambiente ou ecossistema,
procurando enfrentar os desafios e riscos apresentados pelo mundo
exterior, assim como atender as fragilidades sociais e vigiar e
defender os direitos de dignidade e cidadania.

Exercícios
Em grupos ou individualmente analisar a importância de uma
Administração Pública com foco no cidadão, e procurar entender os
conceitos da missão, princípios, objectivos e políticas.

 Apresentar uma síntese.


Universidade Católica de Moçambique 70

Dossier: 4

Unidade 12
REFORMAS MOÇAMBICANAS -
Passado(I) e presente(II)
Introdução
Apresente aqui uma breve introdução ao conteúdo desta unidade / lição.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber o passado das reformas moçambicanas;


 2. Identificar os erros cometidos;
Objectivos
 3. Discutir os resultados do diagnóstico dos problemas do sector
público moçambicano antes da reforma de 2001

Notas Preliminares
Universidade Católica de Moçambique 71

Em Moçambique, com a proclamação da Independência Nacional,


a 25 de Junho de 1975, foi iniciado um processo de reformas
tendentes a adequar o Estado aos mais nobres anseios do Povo,
tendo sido lançado, no quadro desse processo, em 2001, a
Estratégia Global da Reforma do Sector Público, com a duração de
10 anos. Ainda em 2001 foi aprovado o Decreto nº 30/2001, de 15
de Outubro, sobre «Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública».

Gerações ou famílias das reformas moçambicanas

 1ª - Geração: 1975-1986 (Período pós-independência);

 Criação do Estado Moçambicano (entrada em vigor da


Constituição do Tofo/Inhambane, aprovada pelo comité
central da Frente de Libertação de Moçambique, a
Frelimo – movimento guerrilheiro de libertação de
Moçambique, no dia 20 de Junho de 1975).

Essa geração das reformas moçambicanas visou o


escangalhamento do aparelho estatal colonial, implantação
do regime monopartidário e do Sistema de Economia de
Planificação Centralizada.

 2ª - Geração: 1986- 1990;

 Introdução da Economia do Mercado, através da


implementação de um Programa de Reestruturação e ou
Reabilitação Económica e Social (PRE...PRES), visando
adoptar, preparar e orientar a estrutura da economia a
longo termo para seguir a evolução das mudanças
impostas pelo novo modelo económico.

 3ª - Geração: 1990- 2001;

 Introdução do Multipartidarismo, começando com a


entrada em vigor da Constituição de 1990.
Universidade Católica de Moçambique 72

 4ª - Geração: 2001-2011.

 Começa com o lançamento da Estratégia Global da


Reforma do Sector Público, no dia 25 de Junho de 2001,
que seria implementado até 2011.

I.O Passado das Reformas Moçambicanas

O passado das reformas moçambicanas, 1975 a 2001.

Neste período o Estado moçambicano meteu-se ao lado das suas


principais funções de assistência (segurança social, ajuda ou apoio
social...), passando, mais do que nunca, a ser banqueiro, segurador,
transportador, construtor, montador, importador, distribuidor,
comerciante, agricultor, carpinteiro, mecânico, pescador, etc.
Enquanto na mesma época, outros países davam o exemplo
contrário e a tendência geral foi mais refluxo. A senhora Margaret
Thatcher no Reino Unido, o senhor Ronald Reagan nos Estados
Unidos, confiaram apenas nos mecanismos do mercado, lutaram
por desregulamentação e reduzir ao mínimo estrito as prestações
asseguradas, indo na limitação de esforço de solidariedade a favor
dos mais desfavorecidos.

Com o início, em 1986, da segunda geração das reformas


moçambicanas novos discursos e tendências aparecem. O
unilateralismo do Estado deixou de ser credível e o «tudo Estado»,
sobretudo após o desmoronamento dos regimes comunistas da
Europa do Leste, não era mais defensável. Um consenso parece que
se impõe para se ultrapassar a alternativa de mais ou de menos
intervenção. «Melhor fazer», diga, tudo nele se acordando sobre a
necessidade do recuo do Estado produtor e da necessidade da sua
centragem nas missões essenciais de protecção, regulação e
solidariedade.
Universidade Católica de Moçambique 73

Os resultados do diagnóstico realizado no Sector Público


moçambicano, nos anos noventa, confirmaram, de forma
categórica, que o Estado moçambicano se havia desviado do seu
papel principal, tendo passado a ser:

 O Estado motor do desenvolvimento;

 O Estado (Administração Pública/Sector Público)


voltado para dentro de si próprio;

 O Estado produtor de bens e serviços;

 O Estado administrador directo e centralizado do


território;

 O Estado promotor e provedor de Infra-estruturas.

Nas cinco áreas temáticas diagnosticadas os resultados não foram


surpreendentes, uma vez que apenas confirmaram aquilo que em si
já era bastante evidente.

Os resultados do diagnóstico dos problemas existentes no


Sector Público moçambicano apresentados na Estratégia
Global da Reforma do Sector Público – EGRSP (2001)

A..Papel e Estrutura do Estado

 Falta de definição clara do papel do sector público em


relação ao sector privado e à Sociedade Civil no que
respeita às definições de políticas públicas e a regulação
na Sociedade;
 A tendência de as organizações do sector público
realizar ainda algumas funções para além do seu papel
de promoção e garantia da equidade dos direitos da
cidadania.
Universidade Católica de Moçambique 74

3..Gestão dos processos de políticas


públicas

 A definição de políticas públicas ainda não é concebida de


forma coordenada e compatibilizada com os recursos
necessários à sua viabilização;
 A sectorialização no processo de definição de políticas
públicas continua a ser um problema.

4..Desconcentração e Descentralização

 Fraca definição da visão, missão, competências, atribuições,


responsabilidades e recursos financeiros dos órgãos da
administração local do Estado;
 Persistência do princípio da “dupla subordinação” que faz
com que os órgãos locais se subordinem directamente à
estruturas centrais e, indirectamente, aos governos
provinciais;
 Défice de participação dos cidadãos na governação em
todos os escalões territoriais da divisão administrativa
moçambicana.

B..Gestão dos Recursos Humanos

 Dificuldade de recrutar e manter pessoal com qualificações


adequadas;
Universidade Católica de Moçambique 75

 Sistemas e mecanismos de formação e gestão de


desempenho inadequados, impossibilitando-os de atender
aos seus objectivos;
 Baixo nível de escolaridade dos funcionários,
principalmente aos níveis provincial e distrital.

C..Gestão Financeira

 A elaboração dos orçamentos públicos tende a repetir os


orçamentos dos anos ou exercícios antecedentes, em vez de
ser utilizada como instrumento de gestão e/ou instrumento
de medição dos níveis de desenvolvimento ou de
crescimento global ou parcial do País;
 A contabilidade pública não integra na totalidade dos
fundos utilizados no sector público.

D..Boa Governação e Combate à


Corrupção

 Necessidade de reforço institucional dos órgãos


responsáveis pela defesa da legalidade e de protecção dos
direitos dos cidadãos;
 Funcionamento deficiente dos canais de atendimento e
resolução de reclamações dos cidadãos;
 Falta de integridade, transparência e prestação de contas na
gestão dos negócios públicos;
 Corrupção no sector público como factor de
desestabilização das instituições, esvaziamento da confiança
Universidade Católica de Moçambique 76

da Sociedade no Estado e inibição do desenvolvimento do


sector privado e do País.

Analisando estes resultados podemos, muito facilmente, podemos


concluir que as coisas chegaram e este estado do facto de ter havido
reformas sem Estratégia.

Uma Estratégia:

 Com objectivos claros, planificados, com uma liderança


forte;

 De natureza dinâmica, transversal e integrada;

 Com foco em Políticas Públicas, Funções, Estruturas,


Sistemas, Regras, Processos e Sub-processos, Sub-produtos
e Produtos/Resultados;

 Com enfoque no Factor Humano: Mudança de Atitudes, de


Mentalidade e comportamento dos Funcionários e Agentes
do Estado, incluindo os seus dirigentes.

Face a essa situação foi elaborada e lançada a Estratégia Global da


Reforma do Sector Público

Exercícios
EXERCÍCIOS:

1. Discutir os resultados do diagnóstico dos anos noventa e tirar


ilações.

.Apresentar uma síntese.


Universidade Católica de Moçambique 77

Unidade 14
O PRESENTE DAS REFORMAS
MOÇAMBICANAS
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber a quarta geração das reformas moçambicanas;


 2. Analisar criticamente os objectivos, a visão, as componentes, as
actividades estratégicas, os resultados esperados da reforma do sector
Objectivos público;
 3. Analisar criticamente a Estratégia Global da Reforma do Sector
Público

II. O Presente das Reformas Moçambicanas

Aquilo que até ao ano de 2011, se podia chamar do presente das


reformas moçambicanas, começou com o lançamento da Estratégia
Global da Reforma do Sector Público, no dia 25 de Junho de 2001,
que seria implementado até 2011.

Os principais instrumentos da Reforma do Sector Público:

1. Estratégia Global da Reforma do Sector Público ( 2001


– 2011 );

2. Programa da Reforma do Sector Público – FASE II (


2006 – 2011 );

3. Estratégia Anti-corrupção (2006-2010).


Universidade Católica de Moçambique 78

Nestes instrumentos podem ser visualizados, entre outros aspectos,


o contexto, objectivo, as componentes, as prioridades, as
actividades estratégicas e os resultados da Reforma.

O resumo da Estratégia Global da Reforma do Sector Público


moçambicano

O horizonte temporal da sua implementação:

• De 2001 – 2011;

• Em duas fases:

1. Fase I – 2001 – 2005;

2. Fase II – 2006 – 2011.

A primeira fase destinada à criação das condições básicas para a


transformação do sector público;

A segunda fase destina-se a rever e/ou desenvolver os programas e


projectos realizados ou experimentados na primeira fase, bem com
ampliar os efeitos da reforma iniciada através de programas e
projectos de impacto mais amplo ou maior aprofundamento
específico.

A reforma da quarta geração, das reformas moçambicanas


(Reforma do Sector Público) foi definida como um conjunto de
acções de carácter transversal e horizontal e processos de
mudanças que devem ser empreendidos para que os serviços
públicos prestados nos diferentes sectores sejam melhorados.

A Reforma desejada vai para além das simples mudanças nas


estruturas do Aparelho de Estado a no fluxo de papéis.
Universidade Católica de Moçambique 79

O principal desafio da reforma, refere-se à mudança da função dos


serviços públicos e sobretudo à mudança da cultura, da atitude e do
comportamento dos funcionários públicos perante o seu trabalho.

Com ela se pretende que os serviços públicos sejam mais


operacionais, orientados para resultados e com enfoque para o
cidadão. O cidadão deverá estar no centro das atenções, pelo que o
sector público deverá estar mais voltado para fora e não para dentro
de si mesmo.

São apontadas como principais razões da reforma:

• Necessidade de adequar o conjunto das organizações que


integram o sector público para fazer face aos desafios que
se colocam ao Estado moçambicano;

• A permanente legitimação do Estado de Direito nas suas


relações com a sociedade como factor de garantia da
soberania, da moçambicanidade, da cidadania e do
progresso nacional.

O seu âmbito é todo o Sector Público moçambicano: Governo


Central, Ministérios, Governos Provinciais, Direcções Provinciais,
Administrações Distritais, Postos Administrativos, Autarquias,
Empresas Públicas, Institutos Públicos e outras Agências do
Estado. Quer dizer, a reforma incide sobre todo o conjunto de
instituições e agências que sendo directa ou indirectamente
financiadas pelo Estado tem como objectivo final a provisão de
bens e de serviços, necessários para a satisfação de necessidades de
carácter colectivo.

Para a reforma do sector público moçambicano foram escolhidas as


seguintes características:
Universidade Católica de Moçambique 80

• Coerência;

• Condução Estratégia da mudança;

• Enraizamento numa ampla base de apoio;

• Resultados concretos;

• Abordagem selectiva;

• Agenda dinâmica;

• Continuidade;

• Ênfase na profissionalização e modernização do sector


público.

A reforma do sector público moçambicano é implementada:

 pelos funcionários e agentes do Estado;


 pelos respectivos sectores ou instituições.

Durante a sua implementação os seus actores devem desenvolver:

 Programas de impacto imediato.


 Actividades (identificadas a partir da EGRSP, do
Programa da Reforma – Fase – II e da Estratégia Anti-
corrupção - EAC).

Programas e actividades que possam concorrer na criação do novo


papel do Estado, o de:

1. Promotor do Desenvolvimento (Políticas,


Regulamentação & Fiscalização );

2. Servidor da Sociedade ( Enfoque no cidadão, que é


produtor de riquezas e accionista do Estado) ;
Universidade Católica de Moçambique 81

3. Promotor e Regulador da Produção de Serviços (


outsorsing & Sector Privado );

4. Promotor de Administração desconcentrada,


descentralizada e participativa;

5. Promotor e provedor de infraestruras e serviços básicos.

Para que a RSP seja sustentável precisa de:

- Um forte cometimento político a longo prazo;

- Um ritmo de implementação credível e baseado em


condições concretas de viabilidade;

- Apoio dos funcionários, dos meios de comunicação social e


outros segmentos da sociedade civil promovido através da
realização regular de consultas e auscultação e a prestação
de informação sobre o desenvolvimento do processo.
- Manutenção das expectativas num nível realista;
- Consecução de resultados concretos traduzidos por
mudanças visíveis e tangíveis que representem ganhos
efectivos para a sociedade;
- Manutenção dos índices positivos de crescimento da
economia;
- Agilidade, credibilidade e competência da capacidade
instalada para a gestão do processo da reforma, nos níveis:
Central, provincial, distrital, posto administrativo,
localidade, sectorial, institucional, etc.

Os principais riscos que podem concorrer para o seu fracasso são:

• Calamidades;

• Falta de recursos financeiros;

• Eventual resistência à reforma (macro ou micro);


Universidade Católica de Moçambique 82

• Morosidade no processo de tomada de decisões.

Para reduzir o impacto dos riscos acima apontados a gestão dos


processos da sua implementação exige agilidade, credibilidade e
competência da capacidade instalada para a gestão do processo da
reforma, nos níveis: central, provincial, distrital, posto
administrativo, localidade, sectorial, institucional, etc., refere-se,
sobretudo, as Lideranças, os Assessores, as Chefias intermédias, os
Funcionários e Agentes do Estado, os Sectores e instituições,
Núcleos distritais ou sectoriais e os Pontos Focais.

As principais tarefas das lideranças:

• Liderar o processo;

• Dar visão e estratégia territorial ou sectorial e/ou


institucional;

• Assegurar a coordenação;

• Promover e garantir a participação integrada;

• Fornecer orientações estratégicas;

• Patrocinar o processo;

• Dirigir a realização dos objectivos;

• Articular com os outros actores;

• Reportar;

• etc

Os Chefias Intermediárias são executivos das lideranças e actuam


nos níveis técnico e operacional e os Funcionários e Agentes do
Universidade Católica de Moçambique 83

Estado, juntamente com as lideranças e as chefias intermédias, são


actores ou agentes implementadores da reforma, actuando no nível
operacional.

Os Assessores têm como papel:

• Prestar apoio técnico na gestão e coordenação da


implementação da reforma;

• Prestar apoio aos sectores na implementação da Reforma;

• Monitorar e avaliar as actividades da Reforma nos sectores,


províncias e nos distritos.

Através, de seis componentes e quatro prioridades (ver na unidade


sobre RSP) treze resultados são visados, a saber:

 Órgãos do Estado ao nível central e local estruturados de


forma a atingir eficiência organizacional e desconcentração
de funções;
 Melhorados os processos de prestação de serviços nas
instituições públicas;
 Órgãos Locais do Estado e Autárquicos fortalecidos
funcionando de forma eficiente e participativa;
 Melhorada a eficiência na gestão estratégica de recursos
humanos;
 Instituições públicas fortalecidas na área de administração e
gestão pública;
 Melhorada a eficiência da gestão administrativa e financeira
do Estado;
 Melhorada a supervisão e prestação de contas na
administração pública;
 Reduzidos os níveis de corrupção nas instituições públicas;
Universidade Católica de Moçambique 84

 Melhorado o acesso dos serviços legais e judiciais nas


províncias;
 Melhorada a qualidade de serviços legais e judiciais nas
províncias;
 Melhorada a qualidade de serviços do GCCC, da
Procuradoria-Geral da República e Tribunais no tratamento
de casos de corrupção;
 Melhorada a informação estatística vital para as
necessidades do sector público e privado;
 Implementado o Programa da Reforma do Sector Público.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
:::::::::::::::::::

EXERCÍCIO:

Analisar criticamente os instrumentos da Reforma do Sector


Público, em curso no país, na perspectiva de encontrar elementos
que possam apontar a sua pertinência ou utilidade e lacunas, como
instrumentos de gestão de uma política pública que se pretende que
seja bem sucedida.

 Apresente uma síntese.

Dossier: 5
Unidade 15
UMA PERSPECTIVA PARA A
REFORMA DO SECTOR PÚBLICO
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:
Universidade Católica de Moçambique 85

 1. Identificar os grandes desafios para os Funcionários e gentes do


Estado e para o próprio Sector Público, olhando para o caso
moçambicano;
Objectivos  2. Explicar os conceitos de organização, modelo e cultura de
excelência.

1..Uma Perspectiva Para a Reforma do Sector Público

Notas preliminares

Os grandes desafios para os Funcionários e gentes do Estado e


para o próprio Sector Público, olhando para o caso
moçambicano

Partindo do princípio de que “os cidadãos analisam os serviços que


recebem das instituições do sector público, a partir da maneira
como são tratados por todos aqueles Agentes Públicos
Administrativos e/ou Agentes Públicos Políticos com quem têm
contacto directo”, o Sector Público moçambicano ainda terá que
enfrentar grandes desafios, se de facto quer se modernizar ou
manter os ganhos até então conseguidos, com a implementação da
Estratégia Global da Reforma do Sector Público.

Como que a concordar com o princípio acima indicado, o governo


de Moçambique escolheu como lema da Fase – II da RSP (2006 -
2011) – “O Funcionário a servir cada vez melhor ao cidadão”.

Os desafios que o Sector Público moçambicano terá que enfrentar,


consistem na sua contínua transformação e modernização, até que
seja capaz:

 De se compor de Organizações de Excelência;

 De fornecer Serviços Públicos de Qualidade;


Universidade Católica de Moçambique 86

 De aumentar suas Capacidades;

 De garantir a Integridade e Boa Governação;

 De ser Gestor de Conhecimento em Administração


Pública.

Organizações de excelência

Seriam, neste caso, Organizações de Excelência, são organizações:

 Que têm lideranças fortes;

 Que têm capacidade de prestar serviços de alta qualidade;

 Com visão, missão, objectivos, planos e actividades


orientados para resultados;

 Que têm no cidadão/cliente a sua principal razão;

 Que estão comprometidos com a melhoria contínua dos


seus processos, sistemas e resultados;

 Que têm como referência melhores práticas no seu domínio;

 Que estão comprometidos com o bem-estar e a realização


dos objectivos de desenvolvimento dos seus colaboradores,
desenvolvendo com base em políticas e processos de gestão
estratégica adequados;

Quanto à melhoria contínua de qualidade de serviços públicos a


Administração Pública ou o Sector Público moçambicano, entre
outros aspectos deve:

o Adoptar uma posição ou postura de tolerância zero a má


qualidade de serviços;

o Elaborar e implementar um projecto que vise introduzir


cultura de excelência que contribua para a melhoria de
serviços;
Universidade Católica de Moçambique 87

o Potenciar centros integrados de atendimento único, os


vulgos Balcões de Atendimento Único (BAUs);

o Adoptar uma atitude clara, para que a abordagem e


qualidade de processos de prestação de serviços se
conformem com às boas práticas, a nível regional e
internacional, tendo em conta a integração regional e a
globalização, bem como o aumento da competitividade do
País.

Aliás, com o lançamento da Estratégia Global da Reforma do


Sector Público (EGRSP), em 2001, o objectivo era tornar o sector
público mais dinâmico na prestação de serviços ao cidadão, no
apoio ao sector privado, na definição de políticas públicas, na
criação de normas e regulamentos, na realização de actividades
inspectivas e no melhoramento constante da qualidade de serviços
públicos, na promoção do desenvolvimento económico e social do
País, estando também atento às transformações e relações
económicas, políticas e sociais nacionais, regionais e
internacionais, no quadro do aprofundamento da Democracia e do
Estado de Direito e da Globalização.

De recordar que para o alcance dos objectivos e resultados da


EGRSP, a sua implementação foi dividida em duas fases que se
interligam: fase I (2001 à 2005) e fase II (2006 à 2011). Porém,
apesar dos avanços verificados no sector público em direcção à sua
excelência, o balanço da implementação da reforma aponta e
demonstra que muita coisa ainda há por fazer, com vista ao
aperfeiçoamento, cada vez maior, da gestão pública, requerendo,
imperiosamente, introdução de um ciclo de melhorias contínuas. E,
é neste sentido que se colocam desafios tais como:

 Produzir resultados tangíveis ou relevantes para o


cliente/usuário;
 Abordar de forma integrada as diferentes iniciativas;
Universidade Católica de Moçambique 88

 Definir as prioridades e opções de intervenção com


referência ao grau de satisfação do cidadão usuário do
serviço público;
 Desenvolver ciclos de melhoria de qualidade, com vista a
maior eficiência, eficácia e efectividade;
 Desenvolver e institucionalizar uma cultura de qualidade,
baseada na “Cultura de Excelência na Administração
Pública de Moçambique”.

É neste sentido e contexto, que estão em curso as actividades de


preparação de um projecto adicional, que pretende aumentar o
desempenho da Função Pública moçambicana através da
introdução da “Cultura de Excelência” na Gestão Pública. É um
projecto de longa duração que vai envolver alteração de
comportamentos, atitudes, a capacitação de pessoas e instituições.

O objectivo da iniciativa é de melhorar a qualidade dos serviços


prestados pela administração pública, através da implementação de
cultura de excelência organizacional, é garantir que as organizações
do sector público se empenham e criem ciclos de melhoria
contínua. Pois, uma vez alcançado um certo patamar de excelência,
novos desafios são impostos e a definição de novos projectos se
impõem.

Para o efeito, o Moçambique pode contar com o apoio, nesta tarefa,


com um leque de ferramentas e experiências já existentes por
mundo fora, das quais podemos destacar o “Modelo de Excelência”
da Fundação Europeia para a Gestão da Qualidade, dada a sua
universalidade em termos da sua aplicação, tanto no sector público
quer no privado, e a sua abrangência em termos de critérios e
conceitos de qualidade. E, ainda, a experiência brasileira, no seu
“Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização –
Universidade Católica de Moçambique 89

GESPÚBLICA”, que tem apoiado centenas de dirigentes de órgãos


e entidades públicos na melhoria da capacidade de produzir
resultados efectivos para a Sociedade, ao menor custo.

O modelo de excelência, para além de reconhecer que existem


várias aproximações e vantagens para uma “excelência sustentável”
em todos os aspectos de desempenho, é baseado na premissa de
“Resultados Excelentes com respeito ao Desempenho, Clientes,
Cidadãos e Sociedade são alcançados através de Lideranças que
promovem Políticas e Estratégias mais adequadas, que por sua vez
são implementadas por Pessoas e Recursos, através de Processos
bem definidos de trabalho.

Voltando para o caso brasileiro, as acções estratégicas do Programa


Nacional Brasileiro de Gestão Pública e Desburocratização têm por
finalidade reconhecer e premiar as organizações públicas que
comprovem alto desempenho institucional, com qualidade em
gestão.

Exercícios

EXERCÍCIOS:

1. Aponte os grandes desafios que se reservam ao Sector Público


moçambicano.

2. Que é uma organização de excelência?

3. Que deve ser feito para uma melhoria contínua de qualidade dos
serviços prestados pelo Sector Público moçambicano?

Respostas:
Universidade Católica de Moçambique 90

1. Os desafios que o Sector Público moçambicano terá que


enfrentar, consistem na sua contínua transformação e
modernização, até que seja capaz:

 De se compor de Organizações de Excelência;

 De fornecer Serviços Públicos de Qualidade;

 De aumentar suas Capacidades;

 De garantir a Integridade e Boa Governação;

 De ser Gestor de Conhecimento em Administração


Pública.

2- Organizações de Excelência, são organizações:

 Que têm lideranças fortes;

 Que têm capacidade de prestar serviços de alta qualidade;

 Com visão, missão, objectivos, planos e actividades


orientados para resultados;

 Que têm no cidadão/cliente a sua principal razão;

 Que estão comprometidos com a melhoria contínua dos


seus processos, sistemas e resultados;

 Que têm como referência melhores práticas no seu domínio;

 Que estão comprometidos com o bem-estar e a realização


dos objectivos de desenvolvimento dos seus colaboradores,
desenvolvendo com base em políticas e processos de gestão
estratégica adequados;

3. Para a melhoria contínua de qualidade de serviços públicos


a Administração Pública ou o Sector Público moçambicano,
entre outros aspectos deve:
Universidade Católica de Moçambique 91

o Adoptar uma posição ou postura de tolerância zero a má


qualidade de serviços;

o Elaborar e implementar um projecto que vise introduzir


cultura de excelência que contribua para a melhoria de
serviços;

o Potenciar centros integrados de atendimento único, os


vulgos Balcões de Atendimento Único (BAUs);

4. Adoptar uma atitude clara, para que a abordagem e


qualidade de processos de prestação de serviços se
conformem com às boas práticas, a nível regional e
internacional, tendo em conta a integração regional e a
globalização, bem como o aumento da competitividade do
País.

Unidade 16
Inserir aqui o título da unidade
Introdução
Apresente aqui uma breve introdução ao conteúdo desta unidade / lição.
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber os processos de simplificação de procedimentos na


prestação de serviços aos administrados;
 2. Entender e explicar a importância da desburocratização, Carta de
Objectivos Serviços ao Cidadão e Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação –
IPPS
Universidade Católica de Moçambique 92

1..Simplificação de Procedimentos na Prestação de Serviços aos


Administrados

 Desburocratização

A desburocratização, no contexto do programa brasileiro, é o


processo do GESPÚBLICA que visa simplificar processos e
normas. Foi desenvolvida para eliminar exigências desnecessárias
contidas em:

i. Leis, decretos, regulamentos, resoluções, falsos circulares *,


despachos, avisos e outros actos normativos que interferem
negativamente nas relações de direitos e obrigações entre o
Estado e cidadão;
ii. Procedimentos, rotinas ou actividades, que geram fluxos
desconexos na tramitação de documentos que não agregam
valor ou mais-valia ao serviço prestado pelo Estado.

A desburocratização tem como benefícios:

o Resgate da credibilidade do cidadão;


o Redução do tempo de ciclo dos processos e de espera,
propiciando agilidade no atendimento;
o Redução e optimização de custos;
o Redução da carga burocrática que incide sobre o sector
competitivo, propiciando maior geração de emprego e
renda.

 Carta de Serviços ao Cidadão

A Carta de Serviços ao Cidadão é um documento elaborado por


uma organização pública para informar aos cidadãos como poder
ter acesso e obter um ou mais serviços prestados por ela.

Divulgando a Carta de Serviços ao Cidadão a organização estará a


fortalecer e a legitimar a sua imagem perante a Sociedade.
Universidade Católica de Moçambique 93

Com a prática da elaboração da Carta de Serviços ao Cidadão a


organização contribui para a visibilidade dos serviços públicos por
ela prestados e legitima a sua imagem perante a Sociedade;

Para o usuário a Carta de Serviços para Cidadão serve para ele


conhecer os requisitos, antes de procurar pela organização, é um
dos benefícios que o cidadão obtém com a divulgação da Carta de
Serviços.

 Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação – IPPS

Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação – IPPS é uma


metodologia de pesquisa de opinião padronizada que investiga o
nível de satisfação dos usuários de um serviço público, e foi
desenvolvida para se adequar a qualquer organização pública
prestadora de serviço directo ao cidadão. Com IPPS é possível
elaborar questionários, calcular amostras, tabular dados e emitir
tabelas e gráficos de análise pré-formatados.

Permite organizações com poucos recursos que implementam uma


avaliação de satisfação “caseira”, mas, mesmo assim,
metodologicamente rigorosa e, por isso, muito útil, nas reformas.
Com IPPS uma organização poderá reduzir custos de pesquisas,
gerar informações relevantes para tomada de decisões e gerar
índices de satisfação consolidados entre órgãos diferentes.

O esforço brasileiro visa atingir os desígnios transformacionais das


suas organizações públicas em organizações cuja Gestão Pública é
orientada para resultados.

A Administração Pública através das suas organizações, pessoas,


recursos, entre eles, as políticas públicas de lutar por realizar uma
Gestão Pública centrada nos resultados e orientada para o cidadão.
E, todo esse esforço deve culminar:

 Na geração de valor para o cidadão;


 Na melhoria de Qualidade dos serviços públicos;
 Na contribuição à competitividade do País.
Universidade Católica de Moçambique 94

Exercícios
EXERCÍCIOS:

1. No quadro da simplificação de procedimentos apresente o


conceito e os benefícios da desburocratização.

2. Apresente o conceito de Carta de Serviços ao Cidadão.

3. Conceitue o Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação –


IPPS e apresente a sua importância.

Respostas:

1. A desburocratização, no contexto do programa brasileiro, é o


processo do GESPÚBLICA que visa simplificar processos e
normas. Foi desenvolvida para eliminar exigências desnecessárias
contidas em:

iii. Leis, decretos, regulamentos, resoluções, falsos circulares,


despachos, avisos e outros actos normativos que interferem
negativamente nas relações de direitos e obrigações entre o
Estado e cidadão;
iv. Procedimentos, rotinas ou actividades, que geram fluxos
desconexos na tramitação de documentos que não agregam
valor ou mais-valia ao serviço prestado pelo Estado.

A desburocratização tem como benefícios:

o Resgate da credibilidade do cidadão;


o Redução do tempo de ciclo dos processos e de espera,
propiciando agilidade no atendimento;
o Redução e optimização de custos;
Universidade Católica de Moçambique 95

o Redução da carga burocrática que incide sobre o sector


competitivo, propiciando maior geração de emprego e
renda.

2- A Carta de Serviços ao Cidadão é um documento elaborado por


uma organização pública para informar aos cidadãos como poder
ter acesso e obter um ou mais serviços prestados por ela.

3. Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação – IPPS é uma


metodologia de pesquisa de opinião padronizada que investiga o
nível de satisfação dos usuários de um serviço público, e foi
desenvolvida para se adequar a qualquer organização pública
prestadora de serviço directo ao cidadão. Com IPPS é possível
elaborar questionários, calcular amostras, tabular dados e emitir
tabelas e gráficos de análise pré-formatados.

Permite organizações com poucos recursos que implementam uma


avaliação de satisfação “caseira”, mas, mesmo assim,
metodologicamente rigorosa e, por isso, muito útil, nas reformas.
Com IPPS uma organização poderá reduzir custos de pesquisas,
gerar informações relevantes para tomada de decisões e gerar
índices de satisfação consolidados entre órgãos diferentes.

Unidade 17
PROFISSIONALIZAÇÃO DOS
RECURSOS HUMANOS
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:
Universidade Católica de Moçambique 96

 Entender os desafios da profissionalização dos recursos humanos do


sector público

Objectivos

1..Profissionalização dos Recursos Humanos

1.1..Aumento de capacidade técnica e de competência humana

Como já o disse, uma organização pode ser pequena e simples ou


grande e extremamente complexa. Aliás, o termo organização serve
para obrigar uma enorme variedade de tamanhos, estruturas,
interacções, objectivos, missões, visões, políticas, etc.

Dentro dessa variedade e complexidade, existem dois tipos de


elementos comuns a todas as organizações, como o disseram
HICKS, Herbert G. e GULLET, C. Hay. In The manangement of
organizations. New York: Macgraw-Hill, 1976, citados por
Idalberto CHIAVENATO. O elemento básico e os elementos de
trabalho-

O elemento básico são as pessoas, cujas interacções compõem a


organização.

As pessoas – elemento básico da organização – aparecem como


elementos de trabalho, que utilizam os outros recursos e ajudam a
organização para adquirir outros recursos necessários. No exercício
do seu papel de elementos de trabalho, na organização, podem
oferecer às organizações três espécies de habilidades:
Universidade Católica de Moçambique 97

a. Habilidade de fazer, isto é, de desempenhar


tarefas e actividades. Pois, toda organização
precisa de membros que executem actividades
necessárias para atingir os seus objectivos;
b. Habilidade de influenciar, isto é, habilidade de
alterar o comportamento dos outros;
c. Habilidade de utilizar conceitos, isto é,
habilidade de abstrair ideias e generalizações.

Estas habilidades e outras não aparecem ao acaso, precisam de ser


desenvolvidas, em processos de formação, treinamento,
capacitação, etc. Esses processos requerem programas ou sistemas
adequados de formação.

Para o sector público moçambicano já existe o Sistema de


Formação em Administração Pública – SIFAP, cujas acções de
desenvolvimento de recursos humanos têm sido levadas a cabo
pelas Escolas do Governo (escolas onde se apreende a governar):
IFAPAs, ISAP e pelos Centro de Capacitação em Administração
Pública, Governação Local e Autárquica - CEGOVs, num esforço
que visa a Profissionalização da Função Pública através de cursos
de formação.

O fim final desses cursos é garantir o aumento de capacidade


técnica e da competência do elemento básico de trabalho da
Administração Pública moçambicana, os funcionários e agentes
do Estado.

Exercícios
EXERCÍCIO:
Universidade Católica de Moçambique 98

1. Com base nos instrumentos jurídicos que regulam o SIFAP


procure demonstrar a importância dos cursos ministrados nas
escolas do governo. Apresente uma síntese.

Dossier: 6
Unidade 18
BOA GOVERNAÇÃO E COMBATE
À CORRUPÇÃO
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:
Universidade Católica de Moçambique 99

 1. Conceituar a boa governação;


 2. Explicar as principais características da boa governação;

Objectivos  3. Identificar e discutir os meios necessários para se realizar a


boa governação.

1. Boa Governação

A Boa Governação é toda a acção política que visa alcançar os


melhores resultados possíveis, atendendo os meios disponíveis para
a realização dos fins do Estado, de justiça, segurança e do bem-
estar de todos os cidadãos de um País.

A boa governação descreve o processo de tomada de decisões e de


implementação ou não das decisões tomadas.

É sabido que as instituições públicas conduzem os negócios


públicos, administram recursos públicos e buscam garantir a
realização do bem-estar de todos os cidadãos.

A boa governação só pode realizar os seus objectivos quando


estiver livre de abusos e de corrupção e com devido respeito à lei.

1.1.As oito principais características da boa


governação

 Participação

Participação significa que homens e mulheres devem participar


igualmente das actividades do governo;

A participação deve contemplar a possibilidade de participação


directa ou indirecta através de instituições ou representantes
legítimos.
Universidade Católica de Moçambique 100

 Estado de Direito

A boa governação requer uma estrutura legal justa que se aplica


a todos os cidadãos do

Estado independentemente da sua riqueza financeira, do seu


poder político, da sua classe social, da sua profissão, da sua
raça, etnia ou do seu sexo.

A boa governação deve garantir a protecção dos direitos


humanos, mesmo que pertençam as maiorias ou minorias
sociais, sexuais, religiosas, étnicas ou tribais.

A boa governação deve garantir que o poder judiciário seja


independente dos poderes executivo e legislativo.

A boa governação deve garantir que as forças policiais sejam


imparciais e incorruptíveis.

 Transparência

As decisões tomadas e sua fiscalização são feitas através de


mecanismos, de regras e de regulamentos conhecidos.

Toda a informação governamental é livremente disponível e


directamente acessível para as pessoas que serão afectadas por
tais decisões e pelos trabalhos de fiscalização.

 Responsabilidade

As instituições governamentais e a forma com que elas


procedem são desenhadas para servir os membros da sociedade
como um todo e não apenas para as pessoas privilegiadas.

Os processos das instituições governamentais são desenhados


para responder as demandas dos cidadãos dentro de um período
de tempo razoável.

 Decisões orientadas para o consenso

As decisões são tomadas levando-se em conta que os diferentes

grupos da sociedade necessitam de mediar ou de proteger os


Universidade Católica de Moçambique 101

seus diferentes interesses. O objectivo da boa governação na


busca de consenso nas relações socais deve ser obtenção de
uma concordância sobre qual é o melhor caminho para a
sociedade como um todo.

Além disso, as decisões também devem ser tomadas levando em


conta a forma como tal caminho pode ser trilhado.

Essa forma de obter decisões requer uma perspectiva de longo


prazo para que ocorra um desenvolvimento humano
sustentável. Essa perspectiva também é necessária para
conseguir atingir os objectivos desse desenvolvimento.

 Igualdade e inclusividade

A boa governação deve assegurar igualdade de todos os grupos


perante os objectivos da sociedade. O caminho proposto pelo
governante deve visar a promoção do desenvolvimento
económico de todos os grupos sociais.

As decisões devem assegurar que todos os membros da


sociedade se sintam que fazem parte dela e não se sintam
excluídos do seu progresso e desenvolvimento para o futuro.

Esta abordagem requer que todos os grupos, especialmente os


mais vulneráveis, tenham oportunidade de manter e melhorar o
seu bem-estar. isto é, as suas condições de vida.

 Efectividade e eficiência

A boa governação deve garantir que os processos e instituições


governamentais devem produzir resultados que vão ao encontro
das necessidades da sociedade, fazendo, ao mesmo tempo, o
melhor uso possível dos recursos à sua disposição. Veja a Lei
do Óptimo do Pareto, na economia. Isso também implica que
recursos naturais sejam usados de forma sustentada e que o
ambiente seja protegido.

 Suporte a auditoria fiscalizadora/accountibility.


Universidade Católica de Moçambique 102

As instituições do governo, as instituições do sector privado e


as organizações da sociedade civil devem abrir espaço de modo
a permitir a sua fiscalização por pessoas da sociedade e pelos
seus próprios colaboradores institucionais. De forma geral, elas
devem ser fiscalizáveis por todas aquelas pessoas que serão
afectadas pelas suas decisões, actos e actividades.

A implementação destas características assegura que a


corrupção seja minimizada e as necessidades e visões das
maiorias sejam lavadas em conta. As vozes das pessoas mais
vulneráveis na sociedade também passam a ser ouvidas nos
processos de tomada de decisões governamentais.

1.2.Meios necessários para se realizar a boa


governação

 capacidade de trabalho e o factor humano dos governados e


governantes;
 os recursos materiais disponíveis e a conjuntura política,
económica, social e cultural de momento;
 uma boa planificação e programação;
 educação para todas as camadas sociais;
 a visão de que o desenvolvimento humano sustentável só é
possível com as boas práticas de governação, e, que estas
Universidade Católica de Moçambique 103

não são uma mera assistência caritativa, tão pouco simples


actos de bondade das entidades públicas .

Exercícios
EXERCÍCIO:
Apresentar um trabalho de pesquisa subordinado ao
tema: Boa Governação

Unidade 19
CORRUPÇÃO POLÍTICA
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Conceituar a corrupção política;


Objectivos  2. Conhecer os tipos formais de agentes de corrupção;
 3. Conhecer os crimes subsidiários ou crimes da corrupção;

 4. Perceber a influência/acção da corrupção política sobre a boa
governação e sobre o desenvolvimento económico;
 5. Conhecer os principais factores que favorecem o crime de
corrupção.

Exercícios

1..Corrupção Política
Universidade Católica de Moçambique 104

A palavra corrupção deriva do latim corruptus que, numa primeira


acepção, significa quebrado em pedaços e numa segunda acepção,
apodrecido, pútrido, podre.

Na sua definição ampla, corrupção política significa o uso ilegal –


por parte dos governantes, funcionários públicos e agentes privados
– do poder político e financeiro de organismos ou instituições do
Estado com o objectivo de transferir a renda pública ou privada de
maneira criminosa para determinados indivíduos ou grupo de
indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse comum – como,
por exemplo, negócios, local de residência, etnia, ideologia política
ou fé religiosa.

Em todas as sociedades humanas existem pessoas que agem


segundo as leis e normas reconhecidas como legais do ponto de
vista constitucional. No entanto, também existem pessoas que não
reconhecem e desrespeitam essas leis e normas para obter
benefícios pessoais. Essas pessoas são conhecidas sob o nome
comum de criminosos. No crime de corrupção política, os
criminosos – ao invés de assassinar, roubar e furtar – utilizam
posições do poder estabelecidas no jogo político normal da
sociedade para realizar ou praticar actos ilegais contra a sociedade
inteira. O uso do cargo ou posto para estes fins também é
conhecido como tráfico de influência.

Em geral, todos os governos são afectados por crimes de corrupção,


desde uma simples aceitação, obtenção ou doação de favores como
acesso privilegiado a bens ou serviços públicos em troca de
amizade até o pagamento sobre facturado de obras e serviços
públicos para empresas privadas em troca de luvas ou do retorno de
um percentual do pagamento para governantes ou para funcionário
público ( seja ele ou não seja ele uma figura colocada pelo
governo) que determina o pagamento.

1.1..Tipos formais de agentes de corrupção


Universidade Católica de Moçambique 105

A corrupção é um crime biunívoco no sentido matemático do termo


pelo facto de para cada corrupto existente no domínio
governamental existe um outro corrupto no contra-domínio
privado.

Assim os agentes que praticam a corrupção são classificados em


dois tipos: os agentes da corrupção activa (agentes que oferecem
e/ou dão dinheiro) e os agentes de corrupção passiva (agentes que
pedem e/ou recebem dinheiro).

 Os agentes de corrupção passiva ou “agentes públicos


corrompidos” são governantes e funcionários públicos que
utilizam o poder do Estado para atender às demandas
especiais dos agentes corruptores;
 Os agentes de corrupção activa ou “agentes privados
corruptores” são os empresários e gestores de grupos
religiosos ou líderes de grupos étnicos ou líderes de grupos
de interesse.

Tanto uns, como os outros, procuram aumentar o seu poder político


ou financeiro em relação ao poder político de seus concorrentes no
resto da sociedade.

1.2..Crimes subsidiários ou crimes da corrupção

 crime do suborno ( para acesso ilegal ao dinheiro cobrado


como impostos, taxas e tributos);
 crime de nepotismo ( nomeação de parentes e amigos aos
cargos de Administração Pública);
 crime de extorsão ou roubo;
 crime de fraude (burla, vigarice, chantagem, manipulação
ou distorção de informação, etc. ).
 crime de compra e venda de sentenças judiciárias;
Universidade Católica de Moçambique 106

 crime de utilização da informação governamental


importante para fins pessoais ou de pessoas amigas ou
parentes;
 etc.

É de se sublinhar que, a corrupção ocorre não só através de crimes


subsidiários, cuja uma parte acima se refere, porque o acto de um
político se beneficiar de fundos ou de bens públicos de uma
maneira ou outra que seja diferente daquela prescrita na lei,
também é corrupção. A formulação de políticas públicas ou a
aprovação de um legislação feita por forma a beneficiar interesses
especiais, dos actores políticos ou legisladores, também é
corrupção.

1.3..A influência/acção da corrupção política sobre a boa


governação e sobre o desenvolvimento económico

Vimos que a boa governação, entre outros objectivos, procura criar


um bom ambiente político e social e que só pode realizar os seus
objectivos quando estiver livre de abusos e de corrupção e com o
devido respeito à lei.

A corrupção generalizada e até mesmo institucionalizada, que


agasta o investimento internacional e nacional é um dos principais
factores que impede a boa governação.

Observe que os maiores doadores da ajuda económica, como o FMI


e o Banco Mundial, de algum tempo para cá, estão cada vez mais a
condicionar a sua ajuda e os seus empréstimos à implementação de
medidas e de reformas que assegurem a boa governação.

A corrupção política leva a que as leis e as políticas dos governos


sejam usadas em benefício dos agentes públicos administrativos e
Universidade Católica de Moçambique 107

políticos e dos agentes económicos corruptos e não em benefício da


população de um país como um todo.

A corrupção provoca distorções económicas no sector público


desviando e direccionando os investimentos de áreas básicas como
educação, saúde e segurança para projectos das áreas em que as
luvas e comissões são maiores, como construção de estradas e
centrais eléctricas. Além disso, por necessidade de esconder os
negócios ilícitos (corruptos) lava os agentes privados e públicos a
aumentar a complexidade técnica desses projectos e, com isso, seu
custo. Isto distorce ainda mais os investimentos.

Por esta razão, qualidade dos serviços governamentais e das infra-


estruturas públicas diminui. Em contrapartida, a corrupção aumenta
as pressões sobre o orçamento do Estado.

Os agentes de corrupção impedem o desenvolvimento económico


criando fortes distorções e deficiências no mercado. Por exemplo,
as empresas privadas sofrem com o aumento do custo dos negócios
em função da necessidade de realizar pagamentos ilícitos exigidos
pelos funcionários corruptos, de ter que aumentar a complexidade
do gerenciamento em função da necessidade de negociar com os
funcionários corruptos e do risco judicial e à imagem causado por
eventual vazamento ou detecção da ilegalidade por funcionários e
juízes não corruptos.

Os agentes de corrupção podem agir no sentido de direccionar o


investimento público em projectos de uso de capital em que a
quantidade monetária usada para o suborno pode ser mais fabulosa
ou mais generosa como, por exemplo, as grandes obras de infra-
estruturas (estradas, barragens hidroeléctricas, etc. ).

1.4..Principais factores que favorecem o crime de corrupção


Universidade Católica de Moçambique 108

Há duas causas de corrupção:

 causas derivadas das características pessoais;


 causas derivadas das influências estruturais.
A. As características pessoais podem ser resumidas em
desejo pelo poder derivado de status social;
B. As influências estruturais são divididas em
capacidade e qualidade do envolvimento dos
cidadãos e os efeitos do sistema judiciário e legal.

O principal factor favorável à corrupção é o regime do governo em


que não há a democracia, isto é, o regime ditatorial ou autoritário.
Nestes regimes, as estruturas governamentais de tomada de decisão
concentram o poder de decisão em poucas pessoas.

Existem diferenças culturais na forma como a corrupção é realizada


e a forma como o dinheiro extraído é empregue. Por exemplo, em
países da África a corrupção tem sido uma forma de extracção de
renda em que o capital financeiro obtido é exportado para o
exterior ao invés de ser reinvestido no país.

Só para elucidar, a imagem dos ditadores que possuem contas


bancárias em bancos suíços é caricata, mas muito frequentemente
verdadeira.

Pesquisadores da Universidade de Massachussetts estimaram que a


fuga de capitais dos 30 países africanos sub-saharianos
ultrapassava, em 2007, 187 biliões de dólares, uma soma que
excede a dívida externa desses países. A perda desses países,
medida em desenvolvimento económico retardado ou suprimido
das sociedades, foi modelada em teoria pelo economista, Mancur
Olson. Um dos factores para o comportamento africano foi que a
instabilidade política levava os novos governantes a confiscar os
activos obtidos de forma corrupta pelos governantes antigos. Isto
levava todos os governantes e funcionários a enviar as riquezas
Universidade Católica de Moçambique 109

obtidas, de forma corrupta, para o exterior para ficarem fora do


alcance do confisco caso perdessem o poder político.

A falta de transparência da estrutura governamental é outro factor


favorável. Refiro-me à estruturas viciadas através das quais a
legislação dificulta ou mesmo impede a prestação de contas dos
tomadores de decisões para a cidadania e à acções de fiscalização.

Falta de simetria de informação entre os membros da sociedade,


isto é, a falta de educação de qualidade para todos os cidadãos é
outro factor favorável.

Mesmo que haja democracia formal, a população mantida


ignorante acaba votando em políticos corruptos que apenas
possuem um discurso de protecção às pessoas desfavorecidas, mas
contudo sem nada fazer por elas.

1.5. Como a corrupção se auto protege

Actualmente a corrupção faz a sua auto-protecção através da justiça


pública. Ela se serve de meios sub-reptícios (fraudulentos), como
processos de calúnia, difamação, intriga, injúria, chantagem,
manipulação, fofoca e desinformação contra um possível opositor
ou divulgador das boas práticas.

1.6.Culturas tradicionais específicas como uma das causas da


corrupção

Grupos sociais fechados com uma forte cultura de ajuda mútua que
coloca os interesses dos membros da rede acima dos interesses da
nação podem ser a causa de corrupção. Condições sociais
tradicionais que favorecem a existência desses grupos sociais
Universidade Católica de Moçambique 110

fechados podem resultar em redes de crime organizado como as


que reúnem informalmente “velhos e amigos do tempo da escola,
da infância na terra ou no bairro, da igreja ou da religião, etc”
para fraudar licitações governamentais ou grupos de criminosos
como a Máfia na Itália ( e outros grupos de denominação
semelhante na Rússia e na China), a Máfia e a Cosa Nostra nos
Estados Unidos, Yakuza no Japão e Comando Vermelho no Brasil.

1.7.Oportunidade e incentivos para o crime de corupção

Alguns factores que são oportunidades que incentivam o crime de


corrupção. Desses factores os mais bem conhecidos são:

 Grandes investimentos governamentais;


 Grandes incentivos de crédito subsidiado;
 Presença de uma persistente cultura de não prevenção e de
não punição dos agentes de corrupção activa e passiva. Essa
cultura minimiza a importância dos crimes de corrupção na
criação da violência social que permeia a sociedade;
 Falta de organismos da sociedade civil e de organismos
governamentais com membros de ambos os sectores que
possam actuar em conjunto para prever, prevenir, investigar
as actividades dos agentes activos e passivos da corrupção e
promover a sua punição;
 Planos de cargos e salários que ao empobrecerem os
funcionários públicos, seleccionam pessoas com
propensividade a se tornarem agentes de corrupção passiva;
 Processos eleitorais desenhados para facilitar a corrupção.
Tais processos levam à criação de campanhas eleitorais
excessivamente caras que se transformam em acção
justificada para a busca de financiamento por parte de
Universidade Católica de Moçambique 111

políticos e empresários interessados numa actuação


económica predatória;
 Ausência de controles específicos que impeçam os subornos
( ou pedidos de doação de propinas) implícito nas chamadas
“doações de campanhas”.

1.8.A visão do poder político como factor necessário e suficiente


para a existência de corrupção

O poder político é o poder que os membros de uma sociedade


estabelecida conferem a um ou alguns membros seus para que
dirijam a sociedade conforme regras escritas e/ou não escritas. O
poder político sobre a sociedade é legitimado por um conjunto de
princípios organizacionais – normas e leis que aparecem durante
o desenvolvimento histórico da sociedade.

Nesta acepção de poder restringido pelas leis escritas e/ou pelas


regras e normas sociais informais da sociedade, o poder político é
um poder não absoluto. Ele depende exactamente destas regras.

A existência destas regras implica que as pessoas em sociedade


troquem uma parte das suas liberdades pela possibilidade de
viverem dentro da organização social. O poder político se origina e
se obriga dessa necessidade que as pessoas têm de viver em
sociedade. Portanto, ele se origina e se obriga dessa necessidade de
autoridade que permita a própria existência da sociedade.

A obtenção da autoridade, por parte do sujeito, de funções de poder


político o retira da esfera da vida privada e o coloca na esfera da
vida pública. Isto é, o acto de exercer as funções de poder político
confere ao sujeito autoridade política, quer dizer, “capacidade de
exercer o poder sobre as outras pessoas da sociedade”. Essa
mudança equivale uma agressão radical à igualdade natural que
existe biologicamente entre todas as pessoas e que vêm dos tempos
Universidade Católica de Moçambique 112

em que os seres humanos ainda eram caçadores – recolectores e as


sociedades eram muito incipientes em termos de regras sociais.

1.9..Algumas notas sobre o surgimento da corrupção

Em jeito de introdução a este tópico, partindo da segunda acepção


da palavra corrupção ou do seu segundo significado, devo vos
recordar e acrescentar que uma primeira acepção, o verbo
“corromper” tem um sentido mais amplo que a prática pura e
simples da corrupção política. Neste primeiro sentido, o verbo
“corromper” significa a transformação – danosa para a
sociedade – da personalidade da pessoa alçada à posição de
exercer o poder político sobre os demais cidadãos (que antes
desta transformação danosa eram considerados, pelas normas
escritas e não escritas, serem iguais aos outros).

As pessoas quando obtêm o poder político tendem a usá-lo em


benefício próprio. Mesmo que as pessoas e as normas da sociedade
não o permitam, há uma tendência a surgir uma corrupção. O poder
político, mesmo que não seja absoluto, tende a corromper.

1.10..A famosa frase de Lord Acton

Há uma frase famosa em teoria política cuja análise pode ajudar a


aclarar o conceito. Ele (Lord Acton ) afirmou que “ O poder
político tende a corromper – e o poder absoluto corrompe
absolutamente”. Com essa afirmação sobre o poder político, Lord
Acton queria dizer que a autoridade política, nas sociedades
humanas, em função apenas e tão somente da sua existência tende a
danificar as relações entre seres inicialmente dotados de igualdade.
Universidade Católica de Moçambique 113

Inicialmente, “ o poder tende a corromper” porque o poder político


faz de seu detentor uma pessoa diferente das demais cercando-a de
símbolos, distinções, privilégios e imunidades que sinaliza a sua
hierarquia superior. Por exemplo, regras cerimoniais regulamentam
como deve ser o comportamento das pessoas inferiores na presença
da autoridade...

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
:::::::::::::::::::::::::::::::::::
EXERCÍCIO:
Em grupo ou individualmente discutir os conceitos e
as ideias apresentadas neste módulo e procurar
estabelecer um paralelismo com que eventualmente
acontece no Sector Público.
o Apresentar a síntese da discussão para o debate.

Unidade 20
A CORRUPÇÃO EM
MOÇAMBIQUE
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Perceber a corrupção em Moçambique


 2..Analisar a Estratégia Anti-corrupção.

Objectivos

1..A Corrupção Em Moçambique

Os resultados da Pesquisa Nacional de Base sobre a Governação e


Corrupção, realizada em 2004, confirmaram a existência de
Universidade Católica de Moçambique 114

corrupção e/ou ocorrência de seus casos, sobretudo, no sector


público como no privado.

A situação levou o Conselho de Ministros a aprovar, na sua 8ª


Sessão Ordinária, de 11 de Abril de 2006, uma Estratégia Anti-
corrupção a ser implementado no horizonte temporário de 2006-
2010.

Um dos aspectos marcantes na Estratégia Anti-corrupção


moçambicana é a previsão de Fóruns de Consultivos, apelidados de
“órgãos de consulta” que permitem aos vários grupos sociais
participarem com o governo, na busca de soluções para as questões
fundamentais de prestação de serviços ao cidadão e do combate as
práticas de corrupção contribuindo, assim, para o bem-estar da
sociedade e o desenvolvimento sustentável do país.

Os fóruns estruturam o seu diálogo em conformidade com os


princípios fundamentais atribuídos para cada.

Estes surgem como resposta do cidadão na busca de alternativas de


intervenção na vida política, económica, social e cultural do país.

Tais órgãos incluem na sua composição membros da Sociedade


Civil.

Como já o disse, anteriormente, na unidade I da parte 2, o sector


público também se debate com … a diluição de responsabilidades,
as práticas corruptivas e desvios colossais de toda natureza, falta de
transparência e integridade dos servidores públicos e governantes.
Universidade Católica de Moçambique 115

Daqui em diante, os grandes desafios que se colocam, ao sector


público moçambicano, no combate à corrupção, consistem em:

• Aprofundar as reformas em todos os sectores,


particularmente, nos sectores legal e judicial;

• Aprofundar a implementação de acções de combate à


corrupção;

• Aperfeiçoar os instrumentos e meios do combate à


corrupção;

• Fortalecer os Mecanismos Legais (formais) de Participação


Comunitária na Governação e no combate à corrupção;

• Criar e fortalecer de mecanismos de denúncia de actos de


corrupção;

• Criar de mecanismos para a protecção dos denunciantes;

• Capacitar institucionalmente e fortalecer os Gabinetes de


Combate à corrupção;

• Simplificar e Racionalizar os Processos Administrativos

• Desenvolver uma Cultura de Transparência, Isenção,


Integridade e Responsabilização Públicas, incluindo a
elaboração e implementação do Plano Nacional de
Integridade;

• Melhorar a Eficiência e a Qualidade de Serviços do Sistema


da Justiça;

• Fortalecer o Sistema Financeiro Para Imprimir


Transparência, Eficiência e Eficácia na Gestão Financeira,
Patrimonial e Procurement Público

• Melhorar os níveis de Consciência e Participação da


Sociedade e Sector Privado no Combate à Corrupção
Universidade Católica de Moçambique 116

• Melhorar os Mecanismos de Participação das Comunidades


Locais na Governação de Modo a Promover a
Transparência e Prestação de Conta .

2.0.RESUMO DA ESTRATÉGIA ANTI-CORRUPÇÃO (EAC)


- 2006-2010

Enquadramento

• A Estratégia Anti-corrupção é Parte Integrante da Estratégia


Global da Reforma do Sector Público em Curso;

• A Estratégia Anti-corrupção, é um Instrumento de


Orientação Política e de Operacionalização das Acções
Prioritárias do Governo no Combate à Corrupção.

Objectivos da EAC

Pretende-se Um Sector Público:

• Que é Efectivo na Prevenção e Combate à Corrupção até ao


Ponto em que:

 Primeiro, Não Mine o Que Está Sendo Construído no País


e,

 Segundo, Que o Cidadão Veja a Corrupção Como Uma


Ameaça Destruidora Que é,
Universidade Católica de Moçambique 117

• Que se Previne contra a Corrupção.

Nela são apontadas como causas da corrupção

1. Falta de Aplicação das Leis e Regulamento;

2. Falta de Prestação de Contas das Instituições;

3. Fraqueza dos Mecanismos de Controle e Supervisão;

4. Fraqueza do Cometimento dos Gestores da Administração


Pública no Combate à Corrupção;

5. Prática de Nepotismo, Favoritismo e Clientelismo;

6. Degradação dos Valores Morais e Éticos;

7. Fraqueza da Participação da Sociedade Civil no Combate à


Corrupção.

Momentos estratégicos no seu combate

 1º MOMENTO – Prevenção:

 Vontade Política e Implementação Do Sector Público;


Aperfeiçoar os Sistemas de Gestão e Mecanismos de
Controle; Educar as novas Gerações, Introduzir Códigos de
conduta para Evitar Que o Dano aconteça

 2º MOMENTO – Acção Administrativa:

 Investigação e Instauração de Processos Disciplinares e/ou


Criminais aos Corruptos ou Corruptores.

 3º MOMENTO – Sancionamento:

 Investigação, Acusação e Julgamento do Infractor pelos


Órgãos da Justiça. Inibir o Desenvolvimento da Cultura de
Impunidade, porque esta, é o Motor da Corrupção.
Universidade Católica de Moçambique 118

Elementos da EAC

• O Enfoque do Combate à Corrupção Deve Reflectir-se nas


Seguintes Acções Estratégicas:

1. Simplificação dos Processos Administrativos;

2. Redução do Poder Discricionário dos Funcionários


Públicos;

3. Desenvolvimento na Administração Pública da Cultura de


Uma Gestão Orientada Para Resultados;

4. Fortalecimento do Processo e Mecanismos de Prestação de


Contas e Transparência na Gestão de Recursos Humanos,
Financeiros, Patrimoniais e do “Procurement” Público;

5. Estabelecimento dos Mecanismos de Participação da


Sociedade Civil e Sector Privado na Acção Governativa;

6. Incremento das Acções que Levam a Julgamento de Casos


de Corrupção como Forma de Desencorajar o
Desenvolvimento da Cultura de Impunidade;

7. Promoção e Materialização do Processo de


Descentralização da Acção Governativa de forma a levar as
Decisões do Governo Mais Próximas do Cidadão.

Seus Objectivos Específicos

1. Simplificar e Racionalizar os Processos Administrativos

• Resultados:

 Simplificados os Processos da Fiscalização Prévia (VISTO)


das Despesas;
Universidade Católica de Moçambique 119

 Estabelecidos e em Funcionamento os Balcões Únicos de


Atendimento ao Público e Homens de Negócios,

 Programa de impacto Imediato Implementados.

2. Desenvolver uma Cultura de Transparência, Isenção, Integridade


e Responsabilização Públicas

• Resultados:

 Reforçada a Capacidade Profissional dos Funcionários na


Gestão e Prestação de Serviços;

 Estabelecidos os Códigos de Conduta;

 Reforçada a Qualidade de Liderança e de Gestão da


Administração Pública;

 Implementada a Política Salarial;

 Fortalecida a Capacidade de Formulação de Políticas


Públicas nos Órgãos do Estado.

5. Melhorar a Eficiência e a Qualidade de Serviços do Sistema


da Justiça

• Resultados:

 Fortalecida a Eficácia e Integridade do Gabinete Central de


Combate à Corrupção, da PGR, dos Tribunais e da Polícia;

 Racionalização e Modernizada a Legislação Vigente;

 Criados os Mecanismos de Denúncia e Protecção do


denunciante.

4. Fortalecer o Sistema Financeiro Para Imprimir


Transparência, Eficiência e Eficácia na Gestão Financeira,
Patrimonial e Procurement Público

• Resultados
Universidade Católica de Moçambique 120

 Funcionando Eficazmente o SISTAFE;

 Fortalecida a Capacidade das Instituições Públicas em


Auditoria Interna e Externa;

 Fortalecido o Sistema de Procurement do Estado.

5. Melhorar os níveis de Consciência e Participação da


Sociedade e Sector Privado no Combate à Corrupção

• Resultados

 Fortalecida a Capacidade de Sociedade Civil e Sector


Privado no Processo de Combate à Corrupção

 Fortalecida a Capacidade dos Media na Denúncia de Casos


de Corrupção;

6. Melhorar os Mecanismos de Participação das Comunidades


Locais na Governação de Modo a Promover a
Transparência e Prestação de Contas

• Resultado

 Estabelecidos os Mecanismos de Participação Comunitária


na Governação Local;

7. Assegurar a Implementação Eficaz da Estratégia Anti-


corrupção

 Resultados

 Estabelecidos os Mecanismos Institucionais de


Coordenação,

 Supervisão e Implementação da Estratégia Anti-corrupção.

Exercícios
:
Universidade Católica de Moçambique 121

EXERCÍCIO:

1. Discutir e analisar a visão e a Estratégia Anti-corrupção do


Governo e estabelecer uma ligação entre a corrupção e a boa
governação.

o Apresente as conclusões.

Dossier: 7

Unidade 21
SOCIEDADE CIVIL
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 1. Conceituar a Sociedade Civil;


 2. Perceber que um amplo esforço do sector público visando a sua
democratização e o seu desenvolvimento, em todos os aspectos e
Objectivos níveis, deve contar com contribuição da Sociedade Civil
Universidade Católica de Moçambique 122

Exercícios
1..Sociedade Civil

1.1Notas introdutórias

O ecossistema do Sector Público é a Sociedade, os cidadãos na sua


totalidade, por isso qualquer esforço do sector público visando a
sua democratização, desburocratização, modernização e o seu
desenvolvimento, em todos os aspectos e níveis, deve contar com
contribuição da Sociedade Civil.

As instituições do governo, as instituições do sector privado e as


organizações da sociedade civil devem abrir espaço de modo a
permitir a sua fiscalização por pessoas da sociedade e pelos seus
próprios colaboradores institucionais. De forma geral, elas devem
ser fiscalizáveis por todas aquelas pessoas que serão afectadas
pelas suas decisões, actos e actividades.

E, porque a corrupção significa a transformação – danosa para a


sociedade – da personalidade da pessoa alçada à posição de exercer
o poder político sobre os demais cidadãos, o envolvimento da
Sociedade Civil, da gestão dos assuntos públicos, assegura que a
corrupção seja minimizada e as necessidades e visões das maiorias
sejam lavadas em conta. As vozes das pessoas mais vulneráveis na
sociedade também passam a ser ouvidas nos processos de tomada
de decisões governamentais.

É neste contexto que nos dias de hoje ouvimos com frequência


pessoas a falarem da sociedade civil, e, dessa realidade podemos
admitir que seja algo importante. Para não se ficar na dúvida, acho
Universidade Católica de Moçambique 123

ser necessário procurarmos responder algumas questões de base


sobre a figura da sociedade civil e o seu envolvimento positivo em
assuntos importantes, como a democracia e a globalização.

Sociedade civil se refere à totalidade das organizações e


instituições cívicas voluntárias que formam a base de uma
sociedade em funcionamento, por oposição às estruturas apoiadas
pela força de um Estado, independentemente do seu sistema
político.

1.1..A origem do termo

O termo é usualmente atribuído a Georg Wilhelm Frieddrich


Hegel, um filósofo alemão, que o utilizou em Elementos da
Filosofia do Direito. Nesta obra, a sociedade civil ( burgerliche
Gesellschaft em alemão ) era estágio de relacionamento dialéctico
entre os opostos percebidos por Hegel, como sendo a macro-
comunidade do Estado e a micro-comunidade da família. Num
sentido amplo, o termo foi dividido, como se dividiram os
seguidores de Hegel, entre a direita e a esquerda: Na esquerda, a
sociedade civil tornou-se fundação da sociedade burguesa de Karl
Marx; na direita, tornou-se uma descrição para todos aspectos não-
estatais da sociedade, expandindo-se da rigidez económica do
marxismo para a cultura, sociedade ( cidadania e participação ),
política ( governação ).

1.2.Definição da sociedade civil

Existe uma infinidade de definições da sociedade civil. A prática


definição do Centro para a Sociedade Civil da London School of
Economics ilustra de forma bastante clara essa infinidade.
Universidade Católica de Moçambique 124

Sociedade se refere à arena de acções colectivas voluntárias a


volta de interesses, propósitos e valores. Na teoria, suas formas
institucionais são diferentes e distintas das do Estado, da família e
do mercado, embora na prática, as fronteiras entre o Estado,
Sociedade Civil, Família e Mercado sejam frequentemente
complexos, indistintos e negociados. A Sociedade Civil
comummente abraça uma diversidade de espaços, actores e formas
institucionais, variando no seu grau de formalidade, autonomia e
poder. As sociedades civis são geralmente povoadas por
organizações como instituições de caridade, organizações não-
governamentais de desenvolvimento, grupos comunitários,
organizações feministas, sindicatos, grupos de ajuda-mútua,
movimentos sociais, associações comerciais, coligações, grupos de
activistas, etc.

1.3..Exemplos de instituições da Sociedade Civil

o Associações profissionais;
o Clubes cívicos;
o Clubes sociais e desportivos;
o Cooperativas;
o Corporações;
o Grupos ambientalistas;
o Grupos por géneros, culturais e religiosos;
o Instituições de benevolência;
o Instituições políticas;
o Órgãos ou instituições de defesa do consumidor;
o Etc.
Universidade Católica de Moçambique 125

Unidade 22
SOCIEDADE CIVIL E
DEMOCRACIA
Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 • Entender a importância da Sociedade Civil na Democracia


 • Explicar a relação existente entre Sociedade Civil e Democracia

Objectivos

1..Sociedade Civil e Democracia

A literatura sobre as ligações entre a sociedade civil e a democracia


tem as suas raízes nos primeiros escritos liberais como os de Alexis
Tocqueville. Contudo, eles se desenvolveram de modo significativo
com a inrtervenção de pensadores do séc. XX, como Gabriel
Almond e Sidiney Verba, que identificaram o papel da sociedade
civil numa democracia moderna como vital.

Eles argumentaram que o elemento político de muitas organizações


da sociedade civil facilitam uma cidadania mais consciente e
melhor informada, que faz melhores escolhas eleitorais, participa
da política e assegura, como consequência e como resultado e que
se espera dessa participação, do governo seja mais responsável.

Muito recentemente Robert Putnam argumentou que mesmo


organizações não políticas na sociedade civil, são vitais para
Universidade Católica de Moçambique 126

democracia. Isto porque elas constroem capital social, confiança e


valores compartilhados, os quais são transferidos para a esfera
política e ajudam a manter a sociedade unida, facilitando uma
compreensão da interligação ou interconectividade da sociedade e
dos interesses dentro dela.

Outros, todavia têm questionado como a sociedade civil é


realmente democrática. Alguns têm notado que os actores da
sociedade civil obtiveram admirável subida ao poder político sem
que para o efeito tenham sido directamente eleitos ou designados.

Unidade 23
SOCIEDADE CIVIL E
EDEMOCRACIA

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 • Perce1. O papel da Sociedade Civil na Globalização

Objectivos

1..Sociedade Civil e Globalização

Na actualidade, o termo sociedade civil é frequentemente utilizado


por críticos e activistas como uma referência às fontes de
resistência ao domínio da vida social que devem ser protegidas da
globalização (ou da integração regional).
Universidade Católica de Moçambique 127

Tal ocorre por que a globalização é vista como estando a actuar


além fronteiras e através de diferentes territórios. Porém, enquanto
a sociedade civil possa, sob muitas definições, incluir estes
negócios e instituições que apoiam a globalização, este uso é
contestado. Por outro lado, outros vêem a globalização como um
fenómeno social que traz valores liberais clássicos, os quais
inevitavelmente levarão a um papel maior por parte da sociedade
civil, à custa das instituições politicamente derivadas do Estado.

Citação

“ A Sociedade Civil é um conjunto de instituições e associações


que são suficientemente fortes para evitar a tirania, mas que no
entanto são permeáveis para a livre entrada e saída pelos
indivíduos, em vez de impostas pela nascença ou mantidas por
algum ritual assombroso. Você pode entrar para o partido
socialista sem nunca ter sacrificado uma ovelha...”( Condições da
Liberdade, 1995, Ernest Gellner )”.

Exercícios
EXERCÍCIO:

Com base nos conceitos e ideias explanados nos últimos três


módulos apresente uma síntese sobre o papel da Sociedade Civil e
das suas organizações a construção de um novo sector público
(moderno) que seja:
Universidade Católica de Moçambique 128

 Democratizado e com alto grau de institucionalização de


formas participativas, que permitam não só identificar com
maior segurança os anseios e necessidades do cidadão, mas
também criar um espaço para a participação da Sociedade
Civil na busca de soluções para os problemas de
desenvolvimento;
 Transparente, tanto no que diz respeito à utilização de bens
e recursos públicos, bem como no que se refere aos
procedimentos e apresentação dos resultados; e
 Intransigente no combate às práticas corruptivas ou
fraudulentas e que mantenha um corpo de funcionários
dotados de uma forte moral e ética de servir os cidadãos e
não de se servirem a si próprios.

BREVE CONCLUSÃO

Para alcançar os seus fins e objectivos e aprimorar o seu papel


qualquer Estado moderno, isto é, o Estado Social e de Direito
deverá contar com uma Função Administrativa muito forte, o que
pressupõe existência de um Sector Público também forte e
moderno.

Diante dos problemas administrativos contemporâneos detectados,


colocam-se como desafios básicos do processo da reforma do
sector público os seguintes:
Universidade Católica de Moçambique 129

o Corrigir a rigidez do sector público para adaptá-lo às


mudanças ocorridas ou em curso;
o Superar as deficiências e lacunas relacionadas com a
capacidade técnica de elaboração, implementação e
avaliação de políticas públicas adequadas;
o Ampliar a transparência e responsabilidades na gestão
financeira e no uso da coisa pública;
o Reduzir a excessiva burocratização do sector público e
promover a maior participação do cidadão na gestão da
coisa pública e na governação, um dos requisitos dos
processos democráticos; e
o Implementar uma política de recursos humanos que
promova, valorize e incentive o servidor público, bem como
a mudança de atitude, a elevação do seu grau de consciência
ética e o sentido de responsabilidade e compromisso para
com o cidadão.
o

Assim, as metas estabelecidas para qualquer reforma do sector


público são a construção de uma Administração Pública voltada
para o cidadão, melhoria da qualidade dos serviços públicos e o
aperfeiçoamento das respostas administrativas oferecidas à
Sociedade.

Com base na avaliação dos problemas do sector público se deve


desenvolver uma visão para o novo sector público, que possa
continuar válida para todo o período da implementação de um
programa, estratégia ou projecto da reforma. A visão que guia
qualquer reforma deve ser a construção de um novo sector público
(moderno) que seja:

 Descentralizado, desconcentrado, simplificado, competitivo


e virado para a alta qualidade de serviços prestados ao
cidadão;
Universidade Católica de Moçambique 130

 Democratizado e com alto grau de institucionalização de


formas participativas, que permitam não só identificar com
maior segurança os anseios e necessidades do cidadão, mas
também criar um espaço para a participação da Sociedade
Civil na busca de soluções para os problemas de
desenvolvimento;
 Transparente, tanto no que diz respeito à utilização de bens
e recursos públicos, bem como no que se refere aos
procedimentos e apresentação dos resultados;
 Dotado de pessoal qualificado, profissionalizado e sempre
pronto para a necessária mudança e consciente da sua
responsabilidade e deveres perante a Sociedade; e
 Intransigente no combate às práticas corruptivas ou
fraudulentas e que mantenha um corpo de funcionários
dotados de uma forte moral e ética de servir os cidadãos e
não de se servirem a si próprios.

O cidadão precisa de se dispor de mais tempo para se dedicar às


suas actividades de produção de riquezas, ele accionista do Estado
e patrão da Empresa Estado.
Universidade Católica de Moçambique 131

BIBLIOGRAFIA

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Colecção Ligislação, Editora: Plural Editores. Maputo,
Junho, 2005.
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 GUSTAVO P. Angelim, Orientações Gerais – O projecto de
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