Você está na página 1de 23

Teologia do

Santuário:
Gênesis 8. 20 – 22
Tiago Sant’ Ana
Veremos hoje:
1. O Contexto do dilúvio
2. O sacrifício feito por Noé
3. Relações com o santuário
Contexto Amplo
A História da criação: primeiro início; bênção divina 1.1–2.3
B Pecado de Adão: nudez; ver/cobrir nudez; maldição 2.4–3.24
C Nenhum descendente ao jovem assassinado; Abel, filho justo 4.1–16
D Descendentes de Caim, filho pecaminoso 4.17–26
E Descendentes de Sete, filho escolhido: dez gerações de Adão a Noé 5.1–32
F Ruína: união ilícita 6.1–4
G Breve introdução a Noé 6.5–8
A’ História do dilúvio: reversão da criação; novo início; bênção divina 6.9–9.19
B’ Pecado de Noé: nudez; ver/cobrir nudez; maldição 9.20–29
C’ Descendentes do mais jovem; Jafé, filho justo 10.1–5
D’ Descendentes de Cam, filho pecaminoso 10.6–20
E’ Descendentes de Sem, filho escolhido: dez gerações de Noé a Tera 10.21–32
F’ Ruína: união rebelde (Torre de Babel) 11.1–9
G’ Breve introdução de Abraão, por meio de quem Deus abençoará a humanidade
11.27–32
Bruce K. Waltke e Cathi J. Fredericks, Gênesis. Comentários do Antigo Testamento
(São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010. p. 18.
Bruce Waltke

A passagem de Gênesis 6.1-8, o janus entre o relato da linhagem de


Adão e o da linhagem de Noé [tôledôt 2 [5.1—6.8] e tôledòt 3 [6.9—
9.29]), concentra-se na universalidade e na intensidade do pecado
que leva a ira de Deus a dar cabo da humanidade e da terra, a qual
tinha a função de sustentar a humanidade e sobre a qual a
humanidade tinha a função de estabelecer seu domínio. Em
contraposição, o tôledôt 3 de Gênesis ressalta a glória de Deus —
sua graça, misericórdia, paciência e fidelidade à aliança —, que é
motivada pelos atos de Noé: ele guarda a aliança com Deus e
oferece em um altar um sacrifício que tipifica o sacrifício de Jesus
Cristo na cruz. Em suma, a retidão desse único homem e seu
sacrifício salvam a terra. p. 322
Bruce Waltke
O narrador apresenta Deus como alguém plenamente
envolvido em seu relacionamento com os seres
humanos e com sua criação. Deus “lastima” o pecado e o
fato de os seres humanos administrarem mal a boa terra
que ele criou. Mostra-se desgostoso com isso, mas tem
prazer na oferta feita por Noé. Caso se minimizem essas
representações das emoções de Deus como mero
linguajar antropopático, ainda resta a pergunta: que
realidade essas emoções representam além do que o
texto diz? Em seus sentimentos, Deus é pessoal e
autêntico, porém nunca descontrolado. Ele é sempre
soberano; no controle de sua criação e das próprias
emoções. pp. 322 – 323
Contexto
Específico
Eugene Merrill
A adoração no mundo pós-dilúvio encontra sua primeira
expressão na história de Noé, relato que apresenta diversos
termos e conceitos técnicos ausentes nesse ponto do registro.
Noé, logo após o dilúvio, construiu um altar e ofereceu
sacrifício de animais e aves puros, oferta que agradou ao
Senhor e o motivou a prometer que nunca mais amaldiçoaria a
terra nem destruiria todas as criaturas vivas (Gn 8.20-21). A
preparação para a cerimônia é sugerida na ordem que o
Senhor deu a Noé para que este pusesse na arca “sete casais
de cada espécie de animal puro, macho e fêmea” (7.2). O
propósito era preservar essas criaturas em particular, pois elas
seriam essenciais para o sacrifício. p. 232
Gênesis 8. 20 – 22
20 Noé construiu um altar a Yahweh e, tomando de
animais puros e de todas as aves puras, ofereceu
holocaustos sobre o altar. 21 Yahweh respirou o
agradável odor e disse consigo: "Eu não
amaldiçoarei nunca mais a terra por causa do
homem, porque os desígnios do coração do
homem são maus desde a sua infância; nunca mais
destruirei todos os viventes, como fiz. 22 Enquanto
durar a terra, semeadura e colheita, frio e calor,
verão e inverno, dia e noite não hão de faltar."
A Natureza do
Ofertante
‫ִּ֠כי יֵ֣צֶ ר לֵ֧ב הָ אָ ָ ָ֛דם ַ֖רע מנְּ ע ָ ָֻ֑ריו‬

Porque o impulso do coração do homem é


mal desde a juventude; Gn 8. 21
‫מחְּ ְּש ֵ֣בת ל ּ֔בֹו ַ֥רק ַ֖רע‬ ֵ֙‫ָל־יצֶ ר‬
ֵ֙ ‫וְּ כ‬
‫כָל־היּֽ ֹום׃‬

E todo impulso das intenções do seu


coração, somente mau, todo dia. Gn 6. 5
Expressões
Importantes
Holocausto queimado
O sacrifício oferecido por Noé contém alguns detalhes
singulares. É nele que pela primeira vez se fala de um altar
e de holocausto queimado (GESENIUS, 2003, p. 639;
BROWN, 2000, p. 750). O holocausto, ‫עלָה‬, era um animal,
com a exceção do couro, era totalmente queimado no altar
e oferecido a YHWH. Era uma forma de invocar o YHWH e
efetuar uma expiação pelo adorador (Lv 1.4; Jó 1.5).
Levítico 1. 9 elucida esse sacrifício; Moisés usa a mesma
construção ao falar do holocausto diário.
Jacques Doukhan
• A palavra hebraica 'olah "oferta queimada".' refere-se ao
mais antigo e mais frequente de todos os sacrifícios do
Antigo Testamento. Teve duas funções: era uma petição a
ser perdoada - uma expiação pelo pecado (Jó 1. 5; Lv 1. 4;
5. 10; 9. 7 ) - e uma oferta de ação de graças (Nm 15. 1-11)
Assim, a "religião" bíblica define-se mais com base no que
Deus fez, faz ou fará por nós do que em qualquer coisa que
possamos fazer por Deus. Esta é a lição fundamental
contida no sacrifício bíblico: não descreve nosso caminho
para Deus, mas sim um caminho de Deus para nós, que diz
respeito, essencialmente, ao evento de Deus que desceu
para salvar a humanidade, ao evento da encarnação de
Deus. p. 156
YHWH aspirou o aroma
agradável

• Êx 29.18; Lv 1.9; 3.16; Nm 15.3


A Graça para
Noé
A Graça para Noé
O sacrifício de Noé move YHWH para fazer um anúncio dramático, embora para
si mesmo "para o coração dele". As primeira e segunda metades do verso 21 têm
uma relação de causa e efeito. Observando as ações de Noé e cheirando o aroma
do ‫עלָה‬, YHWH se liga a um curso negativo de ação para o futuro. Mas este
pronunciamento não é feito para Noé. Em vez disso, encontramos um exemplo
de deliberação divina. Se Noé tivesse recebido essa informação, a história teria
aberto a porta para a possibilidade de que o que está envolvido aqui não seja
propiciação genuína, mas magia, isto é, a divindade pode ser manipulada por
ações humanas. YHWH olhando para Noé se compadece uma vez que a natureza
do seu coração não é boa ‫ ִּ֠כי יֵ֣צֶ ר לֵ֧ב‬gramaticalmente a conjunção ‫ ִּ֠כי‬recebe sua
força causal mais usual, a menos que um sentido maior possa ser extraído da
conjunção como um concessivo ou um enfático, como é o caso aqui (HAMILTOM,
1990, p. 309). Assim, este verso funciona como um testemunho tocante da graça
de YHWH, que doravante não dará a Noé os seus justos desertos. O punível não
será punido. Como salientou o Rabi Hanania foi por amor ao homem que YHWH
tomou essa decisão (b Erubin 6. 2, I. 39. A).
O poema

‫ַ֖עד כָל־יְּ ֵ֣מי הָ ָ ָ֑א ֶרץ ֶֶ֡זרע ִּ֠ ְּוקָ ציר וְּ ֹ֨קר ו ָֹ֜חם וְּ ֵ֧קיץ ו ָָ֛ח ֶרף‬
‫וְּ ַ֥יום וָלַ֖יְּ לָה ַ֥לא י ְּש ּֽבתּו׃‬
Ainda todo dia [haverá]:
Semeadura e colheita,
Verão e inverno,
Dia e noite
Eles não cessaram.
A Graça para Noé
• Moisés ao narrar muda a forma literária para chamar atenção do leitor para a conclusão. Os poemas têm
uma função muito importante no livro de Gênesis. São usados na cristalização de uma mensagem e levam o
leitor a refletir no que é importante (FOKKELMAN, 1997, p. 59). O poema é aberto com o substantivo ‫עד‬,
ַ֖
novamente “ainda” que aparece outras duas vezes após o sacrifício.

22a E aspirou YHWH o aroma suave


‫ת־ריח הניחח‬
ֵ֣ ֶ‫ויָ ֵָּ֣֣רח יְּ הוָה א‬
22b e disse YHWH [em] seu coração:
‫ו ֹ֨יאמֶ ר יְּ ה ֹ֜ ָוה אֶ ל־ל ֹּ֗בו‬
22c não tornarei para amaldiçoar ainda novamente a terra por
‫ת־האֲ דָ מָ הֵ֙ בע ֲֵ֣בּור ָ ּֽהאָ ּ֔ ָדם‬
ּֽ ָ ֶ‫ּֽלא־ִּ֠אסף לְּ ק ֹ֨לל ֹ֤עוד א‬
causa do homem,
22d porque a tendência do coração é má desde a infância dele.
‫ִּ֠כי יֵ֣צֶ ר לֵ֧ב הָ אָ ָ ָ֛דם ַ֖רע מנְּ ע ָ ָֻ֑ריו‬
22e E não tornarei novamente ainda para destruir,
‫וְּ ּֽלא־א ַ֥סף ָ֛עוד לְּ ה ַ֥כות‬
22f [a] vida de tudo, conforme eu fiz.
‫אֲשר עָ ּֽשיתי׃‬
ַ֥ ֶ ‫אֶ ת־כָל־חַ֖י ּֽכ‬
A Graça para Noé
• Na primeira vez (v. 22c) YHWH diz que não tornaria novamente
amaldiçoar a terra por causa do homem; na segunda (v. 22e) que não
tornaria a destruir toda a vida novamente. Essa promessa é melhor
explicada mais tarde quando YHWH diz que não mandaria outro
dilúvio (Gn 9. 8 – 17). Como bem observou Umberto Cassuto o triplo
uso dessa expressão denota ênfase; esta repetição demonstra a
misericórdia de YHWH. Assim o poema é a expressão da graça divina
para a criação; que embora caída poderia desfrutar da vida.
Relações com
Santuário
Considerações
Finais

Você também pode gostar