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I.

VISÃO PANORÂMICA

Hermano Carmo

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2. O Projecto de Investigação em Ciências Sociais

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Sumário:

Objectivos da unidade

1. Duas questões prévias


1.1. A questão da informação disponível
Uma atitude de recordista
Actividade 2.1
Recolha preliminar de informação
Actividade 2.2
Já se escreveu tudo sobre determinado assunto?
O nevoeiro informacional
Actividade 2.3
1.2. A questão da gestão do tempo
Actividade 2.4
Actividade 2.5
2. Elementos para o planeamento de uma investigação
2.1. Investigar o quê? (Delimitar o objecto de estudo)
Actividade 2.6
2.2. Definir o objectivo da pesquisa
Actividade 2.7
2.3. Programar a pesquisa
Actividade 2.8
2.4. Identificar e articular os recursos necessários
3. Ferramentas metacognitivas para a investigação
3.1. Os mapas conceptuais
O que é um mapa conceptual?
Passos para a elaboração de um mapa conceptual
Clarificar conceitos
Desempacotar um conhecimento complexo
Conceber um campo semântico
3.2. Outros diagramas estruturadores cognitivos
3.3. O Vê heurístico, epistemológico ou de Gowin

Síntese
Teste formativo
Leituras complementares

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Objectivos da unidade
No final do processo de aprendizagem desta unidade o estudante deverá estar
apto a:

• identificar e criticar dois mitos típicos de quem começa a desenhar


um projecto de pesquisa, o do terreno virgem e o do tudo já foi
estudado;

• entender a importância prática de alguns valores humanos no processo


de produção científica, nomeadamente a humildade intelectual, a
auto-competitividade, a curiosidade e o espírito de cooperação;

• definir estratégias de captura de um saber preliminar, susceptível de


traçar as fronteiras do objecto de estudo e a explicitação de objectivos
para a investigação, nomeadamente no que respeita à análise crítica
da teoria e da produção empírica existente;

• estabelecer critérios de selecção de informação que lhe permitam


evitar situações de sobre-informação, de sub-informação e de pseudo-
-informação;

• identificar algumas importantes razões que levam a considerar o tempo


como variável estratégica no processo de investigação;

• listar, articular e calendarizar as diversas fases e tarefas que integram


uma investigação;

• identificar três tipos de erro que dificultam a delimitação do objecto


de estudo e as correspondentes estratégias de prevenção;

• caracterizar e discutir alguns critérios, para além da pertinência


científica, que permitem chegar a um objecto de estudo;

• distinguir os estudos exploratórios dos sociográficos e dos verifi-


cadores de hipóteses causais;

• desenhar brevemente um programa para a sua pesquisa e o corres-


pondente cronograma;

• identificar os recursos necessários à realização de uma dissertação;

• usar algumas ferramentas metacognitivas para a investigação.

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1. Duas questões prévias

Independentemente do tipo de investigação a realizar, existem duas questões


de grande importância que exigem a atenção de quem pretende desenvolver
um projecto:

• a questão da informação disponível e

• a questão da gestão do tempo

1.1. A questão da informação disponível

Duas atitudes típicas e ingénuas que se observam em estudantes de Mestrado,


no momento em que são confrontados com a necessidade de produzir uma
dissertação final, são a de que o terreno que vão explorar é completamente
virgem ou, pelo contrário, que já se escreveu tudo sobre determinado assunto.
Ambas as posições são apriorísticas necessitando de desmontagem.

A primeira denota, habitualmente, que o estudante ainda não fez um estudo


exploratório sobre o tema em questão, encontrando-se fascinado por uma
área que acabou de descobrir ou pela qual manifesta interesse já há algum
tempo sem no entanto a ter trabalhado com intuito científico. Perante esta
atitude, dois objectivos devem ser atingidos pelo estudante, tão depressa
quanto possível:

• adquirir uma atitude adequada perante o estudo que vai desenvolver;

• proceder a uma recolha preliminar de informação que lhe permita ter


uma primeira ideia acerca dos diversos contributos existentes sobre
o assunto.

Uma atitude de recordista

Em termos de atitudes, é indispensável combater a arrogância de quem


pensa que descobriu caminhos nunca dantes trilhados e que pode iniciá-los
sem a ajuda de ninguém. Frequentemente este modo individualista de encarar
o processo de investigação conduz a situações sem saída, pois quem se
posiciona deste modo competitivo face à comunidade científica semeia
desconfianças e atitudes da mesma natureza, que se revelam altamente
ineficientes e ineficazes. Ineficientes porque, para atingir os objectivos de
investigação, o estudante será obrigado a contar apenas com os seus recursos

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gastando muito mais energias que se o fizesse contando com a cooperação
de colegas e professores. Ineficazes porque, dispondo de menos meios, mais
dificilmente atingirá as metas que se havia proposto alcançar.

A experiência tem demonstrado que a única competição desejável num


processo de pesquisa é aquela que o investigador tem consigo mesmo, numa
postura de recordista de alta competição. Adquirir mais conhecimentos
ou desenvolver melhor as suas estratégias de apreensão do saber são, deste
modo, desígnios mais interessantes e positivos que simplesmente querer fazer
melhor que os outros.

Esta atitude de recordista implica, antes de mais, uma curiosidade nunca


satisfeita traduzida numa motivação sempre realimentada para aprender
com os outros - comunidade académica, informadores qualificados e
população-alvo da investigação - com as diversas fontes de informação e
com a realidade em geral.

Implica, por outro lado, uma postura de sábia humildade intelectual,


corolário da curiosidade, que permite capturar informação pertinente em
fontes menos habituais, como em certa literatura não legitimada pela
1
A bibliografia e a comunidade científica1 ou em interlocutores não académicos2.
videografia de ficção podem
ser excelentes fontes de infor-
mação e de hipóteses cientí- Permite, finalmente, a constituição progressiva de redes de cooperação no
ficas. A Cidade da Alegria de seio da comunidade científica e entre esta e outros interessados – pessoas e
Lapierre, sobre o quotidiano
de comunidades abaixo do li- instituições – pelo maior aprofundamento do saber na área em questão.
miar de pobreza absoluta, Os
Capitães da Areia de Jorge
Amado, que relata as estraté-
gias de sobrevivência das cri-
anças de rua baianas, ou O
Pixote, filme brasileiro que
retrata magistralmente uma
subcultura de pobreza, são Actividade 2.1
exemplos de boas fontes de
informação não ortodoxas.
Descreva em tópicos (não mais de meia página A4), as carac-
terísticas que melhor o(a) definem face ao conhecimento: arrogante,
2
Os antropólogos há muito tímido(a), curioso(a), humilde, competitivo(a)? Dê exemplos que
contam com informadores, ilustrem o seu auto-retrato. Seguidamente confronte a sua reflexão
muitos sem quaisquer habi-
litações académicas que, no com colegas ou professores e peça-lhes que critiquem o seu
entanto, se revelam indis- trabalho.
pensáveis como fontes de in-
formação de alta qualidade.

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Recolha preliminar de informação

Uma vez possuidor de uma correcta atitude face ao conhecimento e à


comunidade dos que o procuram, o investigador deve proceder a uma recolha
preliminar de informação que lhe permita fazer uma primeira ideia acerca
dos diversos contributos já disponíveis sobre o assunto.

Em primeiro lugar, há que procurar colher elementos sobre as teorias


existentes. Temos observado, com frequência, uma atitude de reserva face à
teoria, considerando-a algo de esotérico, sem qualquer utilidade prática para
o exercício do trabalho empírico. Reconhecendo fundamento em certas
críticas, uma vez que algumas auto-designadas teorias não passam de
especulações doutrinárias, concebidas por vezes sem a prova do confronto
com o real, nunca é demais salientar a enorme economia de informação
sistematizada numa boa teoria, o que permite ao investigador gerir melhor
os seus recursos e orientar as suas estratégias de pesquisa. Uma boa teoria
funciona como bússola, não como espartilho, de qualquer processo de
investigação.

Em segundo lugar, há que indagar que pesquisa tem sido feita no domínio
em questão e com que métodos foi desenvolvida. Para isso, revela-se de
grande utilidade o recurso a bases de dados com informação indexada sobre
monografias e artigos, na sua versão integral ou em formato resumido, assim
como a realização de diversas entrevistas exploratórias a especialistas.

A análise crítica dos métodos adoptados em investigações anteriores é


particularmente útil pois permite-nos fazer uma ideia sobre a fiabilidade dos
seus resultados. Tal análise não deve ceder a seguidismos de modas
académicas. A comunidade científica é constituída por gente mortal e
imperfeita (ainda que nem sempre haja consciência disso) e como tal, também
os académicos - cientistas e professores - estão sujeitos à pressão de modas.
Para ilustrar isto bastará recordar três obsessões frequentes cuja prática
indiscriminada pode levar a erros metodológicos:

• a obsessão pelo mais recente, o que nem sempre conduz a resultados


satisfatórios uma vez que se perde informação de boas fontes clássicas
3
Sobre isto, vale a pena ler o
ignorando que nem sempre o antigo é antiquado assim como nem excelente artigo de Fúlvia
sempre o moderno é inovador; Rosemberg sobre os dados
deformados acerca da di-
mensão do fenómeno crian-
• a obsessão pelo quantitativo, que decorre da mitificação de toda a ças de rua na América Lati-
informação que integra números, considerando como não científica na: Rosemberg (1994), A
Retórica Sobre a Criança de
qualquer investigação de outra natureza; tal moda tem conduzido por Rua na Década de 80, in
vezes a autênticas aberrações analíticas uma vez que pressupõe como Medina e Greco (orgs) Saber
plural, S. Paulo, ECA/CJE/
certas, informações completamente deformadas na origem3; e CNPq, p. 135-136.

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• a obsessão pelo qualitativo, tendência inversa actualmente muito
em voga de que tem resultado, por vezes, trabalhos especulativos
com alguma falta de rigor.

Actividade 2.2

Elabore uma lista de leituras e contactos a fazer para a elaboração


de um pré-estudo exploratório sobre um tema que lhe pareça
interessante como dissertação de mestrado.

Uma vez feito esse trabalho, proceda a uma primeira recolha de


dados. Seguidamente, tente escrever as suas intenções de pesquisa
com fundamento no estudo que iniciou (máximo uma página A4).
Dê a ler a colegas e submeta-se à sua crítica sem receio. Tentem
em conjunto responder a duas questões: O texto está claro? Está
rigoroso?

4
O texto que se segue foi Já se escreveu tudo sobre determinado assunto?4
apresentado originalmente
em Carmo, H. (1996) Ensino
Superior a Distância. Con- No final desta fase, o investigador que pensava estar a entrar em terreno
texto Mundial. Modelos Ibé-
ricos., Lisboa, Universidade
virgem, pode ficar com a ideia oposta, altamente desanimadora, de que tudo
Aberta, dissertação de já se escreveu sobre o assunto. Esta sensação angustiante e vertiginosa é
doutoramento em Ciências da
Educação, cap 1, ponto 0.
típica de quem desenvolve investigação na nossa época. Com efeito, o primeiro
sentimento que nos assalta quando pretendemos entender o Mundo em que
vivemos, é a perplexidade perante a transitoriedade, a novidade e a
diversidade com que a vida social se nos apresenta, configurando um quadro
desconhecido, por vezes mesmo assustador.

Margaret Mead, já em 1969, intuía o que hoje vivemos, utilizando a imagem


5
Mead, Margaret (1969), dos imigrantes no tempo5:
O Conflito de Gerações,
D. Quixote, Lisboa, pag. 133
e sgs.
hoje em dia, todos os que nasceram e foram criados antes da segunda
grande guerra são imigrantes no tempo - como os seus antepassados o
foram no espaço - que lutam para apanhar as condições estranhas da vida
numa nova era. Como todos os imigrantes e pioneiros, estes imigrantes no
tempo são portadores de culturas mais antigas. A diferença hoje é que eles
representam todas as culturas do mundo. (...) Quem quer que sejam, estes
imigrantes cresceram em céus através dos quais nunca brilhou nenhum

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satélite. (...) Neste sentido, portanto, de nos termos mudado para um
presente para o qual nenhum de nós estava preparado (...), deixámos os
nossos mundos familiares para vivermos numa época em condições que
são diferentes de qualquer das outras que nós já conhecíamos.

Com o mesmo olhar perplexo, Edgar Morin, defendia há poucos anos que
estamos a entrar na Idade do Ferro Planetária6, em que o Homem tem cada
6
De acordo com Morin, com
vez mais consciência da mundialização, a qual, no entanto, é convulsiva e a expansão europeia iniciada
dilacerada pelas contradições que a integram: no séc. XV, começa a era pla-
netária, em que o fenómeno
da mundialização se expande
"somos obrigados a considerar que ainda estamos na pré-história do espírito
progressivamente gerando-se
humano e que não saímos da idade de ferro planetária. Estamos numa era uma cada vez maior
agónica, de morte e nascimento, onde, como nunca até hoje, as ameaças integração dos subsistemas
do planeta. Morin, E. et.al.
convergem sobre o planeta, a sua biosfera, os seus seres humanos, as nossas (1991), A Idade de Ferro
culturas, a nossa civilização. O mais trágico, ou cómico, é que todas estas Planetária, in Os Problemas
do Fim de Século, Editorial
novas ameaças (desastres ecológicos, aniquilamento nuclear, manipulações
Notícias, Lisboa, pag. 17 e
tecnocientíficas, etc.) provêm dos próprios desenvolvimentos da nossa sgs.
civilização"7.
7
Morin, Edgar (1991), op.
Perante este quadro, o investigador social do nosso tempo, confronta-se com cit., pag. 22. Cfr. no mesmo
sentido, as conclusões do re-
o tremendo desafio de tentar descrever uma realidade social complexa e em latório da Comissão Indepen-
vertiginosa mudança, de que ele próprio faz parte, com instrumentos toscos, dente População e Qualida-
de de Vida, coordenada por
tais como os dos nossos avós, da Idade do Ferro. Maria de Lourdes Pintasilgo,
1998, Cuidar o Futuro: um
O nevoeiro informacional programa radical para viver
melhor, Lisboa, Trinova.

Para complicar um pouco mais o seu trabalho de cartógrafo da sociedade


contemporânea, confronta-se com frequência, com aquilo a que Morin 8
Morin, Edgar (1981), As
chamou “nevoeiro informacional”8, que se traduz num conjunto de três Grandes Questões do Nosso
Tempo, Editorial Notícias,
tipos de filtros que o impedem de visibilizar convenientemente a sociedade Lisboa, pag.19 e sgs. Outros
que pretende estudar: autores têm chamado a aten-
ção para esta questão da falta
de transparência da socieda-
- Ao primeiro, chama Morin sobre-informação, que se traduz no de contemporânea. Pierre
excesso de informações em que é imerso no seu quotidiano Rosanvallon, por exemplo,
defende que o desenvolvi-
profissional. Ilustremos este fenómeno apenas com um exemplo: o mento da visibilidade social
crescimento exponencial do número de livros e de revistas científicas, é uma das quatro estratégias
indispensáveis à ultrapassa-
de jornais, de abstracts e de abstracts de abstracts, que alguns autores gem da crise do Estado Pro-
consideram haver-se multiplicado por dez em cada cinquenta anos, vidência. Rosanvallon, P.
(1984), A Crise do Estado
faz com que “seja cada vez menos possível ao cientista ter um Providência, Inquérito, Lis-
conhecimento completo da literatura publicada, já não no domínio boa.

global da ciência,(...) mas, muito mais dramaticamente, sequer no


9
Câmara, J. Bettencourt da
do seu ramo especializado de investigação”9. (1986), A III Revolução In-
dustrial e o Caso Português,
- A par da sobre-informação, o cientista social confronta-se muitas in Vários (1986), Portugal
Face à III Revolução Indus-
vezes com o problema aparentemente contraditório, da trial - Seminário dos 80,
sub-informação, semelhante ao dos cartógrafos do século XIX que, ISCSP, Lisboa, pag. 63 e sgs.

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para não fantasiarem os seus mapas, tinham que representar espaços
imensos a branco. Com efeito, dada a rapidez com que a sociedade
contemporânea muda, bem como pela sua complexidade crescente,
o cientista social, confronta-se muitas vezes com uma substancial
falta de informação sobre o seu objecto de estudo. Exemplo de
sub-informação, foi a reacção de perplexidade geral e até de
indignação de alguns decisores políticos quando, em 1985, foram
divulgados os primeiros resultados do estudo sobre a pobreza em
Portugal, que concluía que 35% das famílias portuguesas se
10
Costa, A. Bruto da; Silva, encontravam abaixo da linha de pobreza absoluta10. Para além da
Manuela; et al (1985), A Po-
breza em Portugal, Caritas, resposta política de quem sentiu a crueza dos resultados daquele
Lisboa. Estudos publicados estudo como um julgamento à sua política social, o que tal reacção
mais recentemente, já não ti-
veram a mesma reacção uma pareceu demonstrar foi a ignorância dos vários actores sociais sobre
vez que a subinformação so- o fenómeno.
bre o fenómeno se havia re-
duzido. Vide por exemplo,
Costa, A.B., Silva M., et al - O terceiro filtro com que o investigador se defronta, é o da
(1989), Pobreza Urbana em pseudo-informação, ou seja, o conjunto de informação, deliberada
Portugal, Caritas, Lisboa; e,
Silva, M. (1991), A Pobreza ou involuntariamente deformada, ou mesmo falseada, sobre a
Infantil em Portugal, Comi- realidade social. São exemplos de pseudo-informação, as emitidas
té Português para a UNICEF,
Lisboa. pelos sistemas de publicidade económica, propaganda política, e os
mecanismos de boato. Mas também o são, muitas vezes, as infor-
mações produzidas pelos mass media e as que legitimam certas
representações colectivas.

O quadro que se acaba de descrever, serve para explicar que, talvez o maior
dos problemas metodológicos com que um investigador se debate ao longo
de qualquer processo de pesquisa, seja o da selecção e gestão da informação
disponível obrigando-o a um triplo esforço para reduzir os efeitos de
nevoeiro informacional:

- em primeiro lugar, procurar não se afogar em informação inútil


tendo em vista o objectivo do trabalho;

- em segundo lugar, tentar explorar os espaços de sub-informação,


através do cruzamento de técnicas diversas;

- finalmente, tentar reduzir os perigos da pseudo-informação através


da análise contrastiva das fontes.

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Actividade 2.3

Submeta o trabalho que iniciou na actividade 2.2, a uma nova crítica


interrogando-se: o tema escolhido será pertinente? Que tipo de
informação recolhi até agora? Que elementos de nevoeiro infor-
macional encontrei na pesquisa preliminar? Redundâncias (sobre-
-informação)? Zonas brancas (sub-informação)? Contradições
(possíveis elementos de pseudo-informação)?

1.2. A questão da gestão do tempo

Sendo o tempo um dos recursos mais escassos que o investigador tem ao seu
dispor pois contrariamente ao desejado no popular fado, o tempo não tem
hipóteses de voltar para trás, é curioso notar a pouca relevância que lhe é 11
O exemplo típico é o dos
conferida quando se está numa fase preliminar de pesquisa. No entanto ou prazos apertados com que os
por razões de natureza legal - caso dos prazos impostos para a conclusão de investigadores se têm vindo a
debater nos projectos com fi-
mestrados - ou de índole contratual11, a verdade é que o tempo se tem vindo nanciamento externo como os
a posicionar como uma variável estratégica em qualquer processo de Programas Sócrates, Leonar-
do e outros programas da
pesquisa. E isto por várias razões de que se salientam três: União Europeia.

• porque o nevoeiro informacional acima referido determina gastos


consideráveis de tempo; 12
O ciclo de vida do saber é o
período que decorre entre o
• porque a comunidade académica tem vindo a estabelecer inúmeras seu nascimento e a sua morte
por desactualização. Tome-
pontes com o mundo não académico, nomeadamente com as mos o exemplo do frigorífi-
empresas, tendo de adaptar-se aos seus critérios mais rigorosos de co: o ciclo de vida do saber
que lhe deu origem começou
prazos e custos; quando alguém descobriu que
se podia transformar elec-
• porque o encurtamento do ciclo de vida do saber12 não se tricidade em frio; numa se-
gunda fase, alguém percebeu
compadece com ciclos de pesquisa demasiado longos que condu- que tal descoberta podia ser
ziriam inevitavelmente à divulgação de resultados desactualizados usada para a conservação de
alimentos; num terceiro mo-
à nascença. mento, outra pessoa terá con-
cebido um modo de
comercializar a ideia sob a
Qualquer destas tendências apela claramente para a noção de tempo útil de forma de um armário estan-
pesquisa que se assume como condicionador importante da determinação que a que chamamos frigorí-
fico; finalmente dir-se-á que
do objecto de estudo e da metodologia a adoptar. Vejamos um simples o ciclo de vida terminou
exemplo: o limite de um ano para a apresentação de uma dissertação de quando se inventar um outro
sistema mais prático e barato
mestrado após a conclusão do programa académico obrigará provavelmente de conservar alimentos em
o mestrando que tinha um particular gosto em estudar a comunidade indiana nossas casas.

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em Portugal a restringir o seu estudo à região de Lisboa e o seu foco de
análise a grupos praticantes de religião hinduísta.

Actividade 2.4

A este propósito leia o texto que se segue, e procure responder às


questões que se lhe anexam.

“Um efeito imediato do surgimento da sociedade de informação,


foi a aceleração do metabolismo social, em resultado da
compressão do tempo. Com efeito, se compararmos a diferença
temporal dos processos de comunicação tradicionais como o
correio, com o tempo decorrido entre a emissão e a recepção de
um fax ou de uma mensagem em suporte telemático, facilmente
nos aperceberemos deste fenómeno”. Carmo, Hermano (1996,
67-69)

• Em que medida sente que a sociedade de informação já entrou


na sua vida (no seu dia-a-dia profissional, no seu espaço
doméstico, etc)?

• Tem ideia de quanta informação teve de assimilar no último


mês?

Constituindo uma evidente dificuldade para quem enceta um processo de


investigação a variável Tempo, se respeitada, pode ser transformada em
oportunidade pela auto-disciplina a que obriga, podendo assumir-se como
um elemento de controlo de qualidade da investigação e como um acelerador
de resultados. Ao condicionar o investigador a alcançar um máximo de
resultados num mínimo de tempo, chama a atenção para o seu papel social e
para o seu sentido cívico que apela a que não desperdice recursos que não
são seus mas dos financiadores da pesquisa (contribuintes, mecenas, etc).

Uma boa maneira de começar a lidar com a questão do tempo é listar as


principais fases e tarefas de investigação, calcular quanto demorará cada
uma delas, como se articulam entre si (isto é, se a tarefa A antecede
necessariamente a tarefa B, sucede a ela ou podem ser desempenhadas
independentemente uma da outra) e encadeá-las de forma regressiva a
partir de um dado momento no futuro que constitui a data limite de

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conclusão da pesquisa. As técnicas de programação, como o PERT e o
CPM13 há muito usadas pela gestão podem ser usadas com grande proveito 13
Cfr. por exemplo Belchior
nesta fase. (1970)

Actividade 2.5

Releia as actividades anteriores e registe as respostas às seguintes


perguntas (por esta ordem):

1. até que data tenho de apresentar a minha dissertação de


mestrado em formatação final ?

2. para atingir o objectivo anterior, até que data deverei submeter


a minha versão completamente redigida ao orientador?
(contar com tempo para ele ler, discutirem e fazer as emendas
finais)

3. para atingir o objectivo anterior, até que data deverei concluir


a análise dos dados? (contar com tempo para redigir totalmente
o texto do relatório de pesquisa)

4. para atingir o objectivo anterior, até que data deverei concluir


o tratamento dos dados?

5. para atingir o objectivo anterior, até que data deverei concluir


a recolha dos dados?

6. para atingir o objectivo anterior, até que data deverei concluir


o planeamento da pesquisa?

Provavelmente no momento em que terminou a sua actividade


nº 2.5 o leitor ficou algo desanimado, uma vez que pode ter chegado
à conclusão que não dispõe de tempo para empreender a pesquisa
que ambicionava (ex: a resposta à pergunta 6 situa-se no Passado).
Para resolver este problema, aliás muito frequente, recomendo-lhe
os seguintes procedimentos:

• não ignorar a questão; se o fizer apenas irá adiá-la;

• rever cuidadosamente a actividade 2.5 sem encurtar artifi-


cialmente o tempo estimado para cada uma das tarefas, mas
procurando observar se pode, no mesmo período de tempo,
desempenhar tarefas diferentes; por exemplo, será que a
redacção do relatório final tem de ser feita no fim? não poderá

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acompanhar todo o processo de investigação através de um
registo em-formato-quase-final?

• se se mantiver a situação, ou seja se através desta previsão


regressiva de tempo necessário, chegar à conclusão que, para
atingir os objectivos que se propõe necessitaria de ter começado
a investigação anteriormente ao momento presente, recomendo-
-lhe o acto corajoso de aparar o objecto de estudo.

2. Elementos para o planeamento de uma investigação

Uma vez feita uma reflexão séria sobre a disponibilidade desses dois recursos
indispensáveis à pesquisa, a informação e o tempo, estamos em condições
de continuar a planear o trabalho que a integrará. Recorde-se que planear é
definir rumos e que sem se conhecer o rumo da pesquisa não se pode dizer
que ela venha a alcançar qualquer bom porto.

2.1. Investigar o quê? (Delimitar o objecto de estudo)

A primeira questão a definir é o que se quer investigar. Tomemos o exemplo


anteriormente referido: a primeira delimitação do objecto de estudo que havia
conduzido o mestrando a eliminar comunidades indianas residentes fora da
região de Lisboa e de religião católica e muçulmana (ismaelita) ainda não é
suficiente, uma vez que apenas identifica quem constitui o objecto de
observação, não nos diz ainda o que, onde e quando vai investigar.

Em Ciências Sociais a determinação do campo que se vai investigar não


deve ser feita ao acaso ainda que este desempenhe um papel importante.
Sugestivamente Raymond Quivy compara o processo de pesquisa nas
Ciências Sociais ao da prospecção petrolífera (Quivy, 1992: 13). Ninguém
de bom senso defende que se façam perfurações indiscriminadamente no
terreno: qualquer perfuração deve ser precedida de um estudo geológico
prévio. Do mesmo modo, mergulhar cegamente num processo de recolha de
dados sem delimitar minimamente o objecto de estudo resulta numa perda
de tempo e energias que reduzem naturalmente as condições objectivas para
uma pesquisa bem sucedida.

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Na fase inicial da investigação, ainda de acordo com este autor, é
extremamente importante evitar três tipos de erros:

• a gula livresca ou estatística, que nos pode fazer afogar em sobre-


-informação;

• o desprezo pela disciplina que nos recomenda a prévia concepção


de hipóteses e/ou de questões-bússola que funcionem como
orientadoras da pesquisa, fazendo-a demorar mais e aumentando a
imprevisibilidade dos resultados;

• o gongorismo arrogante de quem considera que quanto mais


hermético for o discurso mais científico será, revelando, sob a capa
de pretensa erudição, uma deficiência de capacidade comunicativa
decorrente de frequente imaturidade cognitiva e afectiva.

Deste modo, é recomendável:

• a precoce constituição de um corpo de perguntas ou de um


conjunto de hipóteses que delimitem com progressiva clareza o
objecto de estudo, funcionando como referências para a posterior
definição dos rumos de investigação;

• a definição de uma estratégia de recolha de informação orientada


por tais perguntas e hipóteses ainda que deixando algum espaço ao
inesperado14; De acordo com Peter
14

Drucker, uma das figuras


mais importantes da Teoria e
• a preocupação, desde o primeiro minuto, com a definição rigorosa da Metodologia da Gestão, a
gestão do facto, do fracasso e
mas também clara das intenções da investigação traduzidas num do êxito inesperados, consti-
discurso simples. tui uma das principais fontes
de inovação.

A experiência aponta alguns critérios úteis para a definição do objecto de


estudo para além, naturalmente, da sua pertinência científica.

Um primeiro critério, que podemos identificar como critério da fami-


liaridade do objecto de estudo, mostra-nos que é vantajoso que o trabalho
a empreender se enraíze na experiência anterior do investigador.

Se este critério se desenha de forma natural em mestrados unidisciplinares


ou cuja estrutura curricular é uma extensão lógica ou uma especialização da
formação inicial, não emerge de forma tão evidente em programas de
pós-graduação interdisciplinares ou transversais. Neste caso é frequente
observar-se nalguns mestrandos, a tendência para quererem dar saltos
demasiado longos dos campos disciplinares onde mergulhava a sua formação
inicial para áreas recém descobertas na pós-graduação.

47
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Frequentemente, a consequência de tal procedimento é a produção de estudos
sincréticos sem suporte teórico e metodológico suficiente. Querer fazer um
trabalho predominantemente sociológico, antropológico ou politológico,
abandonando uma formação original no domínio da linguística ou da
literatura, ou pelo contrário, pretender fazer um estudo no domínio da
linguística ou da literatura tendo uma formação inicial completamente
diferente, é desperdiçar capital cognitivo adquirido e arriscar-se a não ter
bons resultados nem num campo nem noutro.

A estratégia mais prudente, tendo em conta a interdisciplinaridade exigida


mas também a exiguidade do tempo disponível, parece decorrer do lança-
mento de pontes para áreas disciplinares menos familiares ao investigador a
partir daquela em que se sente melhor posicionado.

Um segundo critério, o da afectividade, recomenda que a selecção do campo


e do tema específico da investigação deva resultar de uma forte motivação
pessoal. Ninguém investiga bem um assunto de que não gosta. Contrariamente
ao que muitos não-investigadores poderão pensar, a investigação científica
tem muito de transpiração e bastante menos de inspiração.

Um terceiro critério, que podemos chamar o dos recursos, resulta, mais


prosaicamente da antevisão de facilidades na captura de meios necessários
à investigação imaginada. Perspectivas de acesso a boas fontes (documentais
ou vivas), a financiamentos mais abundantes ou a maiores possibilidades de
publicação, podem condicionar fortemente a pesquisa tanto na delimitação
do seu objecto como na definição das suas metas.

Actividade 2.6

Leia um livro que relate como nasceu e se desenvolveu um processo


de pesquisa. Tente sublinhar os critérios que determinaram a escolha
do objecto de estudo. Será vantajoso que desenvolva esta actividade
com outros colegas lendo diferentes obras e partilhando impressões.
A título de exemplo aponto-lhe os seguintes livros:
16
Apesar de se tratar de um
livro de ficção, esta obra ilus-
• Goodfield, June (s/d) Um mundo imaginado, Lisboa, Gradiva,
tra de forma bem documen- 1ª ed. de 1981
tada como se desenrolam cer-
tas investigações antropológi- • Benedict, Ruth (1972) O crisântemo e a espada, S. Paulo,
cas no terreno, desmistifi- Editora Perspectiva, (1º capítulo apenas)
cando de forma notável a fi-
gura do cientista e proble- • Silva, Agostinho da (1989) Vida de Pasteur, Lisboa, Ulmeiro
matizando brilhantemente a
questão da relação entre in- • Wallace, Irving (s/d), As três sereias16, Lisboa, Portugália
vestigador e objecto de estu-
do.
Editora

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2.2. Definir o objectivo da pesquisa

Uma vez delimitado o objecto de estudo, há que definir claramente que


meta ou metas quer o investigador alcançar. Pretende-se fazer um
levantamento de dada situação num campo ainda pouco estudado a fim
de vir a levantar hipóteses de investigação futura? Tem-se em vista retratar
uma realidade social determinada com intuitos essencialmente descritivos
a fim de entender a estrutura e a dinâmica dessa realidade? O objectivo é
verificar uma dada hipótese? De acordo com as opções feitas quanto aos
objectivos, Selttiz, Jahoda, Deutch e Cook (1967) classificam os estudos
em três tipos:

• estudos exploratórios cujo objectivo é, como o nome indica, pro-


ceder ao reconhecimento de uma dada realidade pouco ou deficien-
temente estudada e levantar hipóteses de entendimento dessa
realidade;

• estudos sociográficos ou descritivos, em que a intenção é descrever


rigorosa e claramente um dado objecto de estudo na sua estrutura e
no seu funcionamento16; 16
Situam-se neste tipo os es-
tudos de natureza mono-
gráfica.
• estudos verificadores de hipóteses causais, que partem de hipóteses
para a sua verificação.

É importante denunciar o preconceito frequente de quem menos fami-


liarizado com a Metodologia das Ciências Sociais tende a considerar
apenas como científicos os estudos verificadores de hipóteses causais,
desprezando os outros dois tipos. Este preconceito, provavelmente
decorrente de uma atitude seguidista face ao modo de abordar a realidade
habitual em ciências com forte componente experimental, ignora que sem
trabalhos pioneiros de índole exploratória e sem estudos prévios de
natureza sociográfica, os estudos verificadores de hipóteses não passariam
de meras especulações doutrinárias.

Um exemplo disto é o que se passou na História da Antropologia: para que a


teoria antropológica amadurecesse foi preciso que muitos estudos de natureza
etnográfica fossem realizados por missionários, viajantes administradores
coloniais e também, naturalmente, antropólogos. Em resumo, são os estudos
de natureza exploratória e sociográfica que criam terreno propício à reali-
zação de trabalhos de verificação de hipóteses pela massa crítica de
informação que coligem. Os três tipos de trabalho têm pois igual estatuto de
cientificidade.

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Actividade 2.7

Observe os três objectivos seguintes:

a) Verificar a seguinte afirmação: o comportamento intolerante dos


skinheads resulta mais da socialização familiar, do que de grupos
de pares ou da TV

b) Identificar hipóteses de explicação para o sucesso escolar das


crianças de minoria chinesa em Portugal

c) Descrever as estratégias de integração social dos jovens activistas


timorenses após chegarem a Portugal via embaixadas de países
amigos.

Classifique estes três objectivos de acordo com a tipologia de


Selltiz.

Em meia página tente identificar o objectivo que quer atingir na


sua dissertação. Identifique-o de acordo com a tipologia referida.
Operacionalize-o sob a forma de uma intenção (exemplos B e
C), de uma hipótese (exemplo A) ou de uma interrogação (o
exemplo B podia ser formulado do seguinte modo: que razões
explicam que, em Portugal, as crianças de minoria chinesa tenham
melhor aproveitamento escolar que as da maioria de origem
europeia?).

Seguidamente, desmultiplique esse objectivo geral em metas cada


vez mais concretas.

2.3. Programar a pesquisa

Uma vez definido o objectivo ou objectivos da investigação há que


desmultiplicá-lo(s) até à sua concretização em tarefas precisas, bem definidas,
articuladas e calendarizadas. Vejamos algumas questões a responder nesta
17
Cada questão deve ser fase17:
operacionalizada desmul-
tiplicando as perguntas de
acordo com a clássica propos- • em função da árvore de objectivos definida e operacionalizada em
ta de Lasswell: o quê, quan- variáveis e indicadores, que técnicas de recolha de dados vou utilizar:
do, onde, quanto, como e
porquê. pesquisa documental, observação, inquérito por entrevista ou por
questionário, escalas de atitudes?

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FIGURA 2.1 - CRONOGRAMA DE UMA PESQUISA (CARMO, 1995)

Maturação Teórica

Proposta Inicial

Aprovação pelo C.Científico

Estudo Exploratório

1º Trabalho de Campo (Galiza)

2º Trabalho de Campo (Extremadura)


sobretudo quantitativa ou qualitativa?

3º Trabalho de Campo (Madrid)

Trabalho de Campo U.A.

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Redacção
• que modelo de análise utilisarei e com que elementos?

Fim da 1ª Versão

(...) N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F
• como tenciono tratar e interpretar os dados: que estratégia adoptar,

1972/90 1991 1992 1993 1994

Preparação

Realização

51
• que estratégia vou usar para difundir os meus resultados? apenas o
discurso scripto? usarei gráficos? tabelas? diagramas? audiovisuais?
software educativo? de que tipo?

• como situar cada uma das tarefas no tempo?

Actividade 2.8

Elabore um resumo de programa de trabalho para a sua dissertação,


de acordo com os tópicos acima indicados

Esboce o cronograma correspondente (Cfr. a figura 2.1. que


apresenta um exemplo de cronograma possível)

2.4. Identificar e articular os recursos necessários

Seguidamente há que identificar e articular os recursos necessários ao suporte


da investigação. Contrariamente ao que se possa pensar a tarefa de identificar
recursos exige bastante imaginação. Como refere Drucker (1986) um recurso
é algo para que descobrimos uma dada utilidade. O petróleo, antes de ser
percepcionado como um recurso indispensável à economia mundial, foi
considerado um líquido peganhento e mal-cheiroso que estragava a
agricultura. Muitas plantas medicinais foram mondadas como ervas daninhas
antes de serem identificadas como recursos. Os velhos, nas sociedades
18
Um mero exemplo industriais, são olhados por certas comunidades como problemas, enquanto
ilustrativo: uma das difi-
culdades com que o autor des-
outras os consideram e utilizam como recurso para a sua coesão e
te texto se debateu quando desenvolvimento.
estava a redigir a dissertação
de doutoramento, foi a falta
de um escritório em sua casa,
Quando se planeia uma investigação, há que saber identificar os recursos
onde pudesse trabalhar sem necessários à sua concretização inventando soluções para as necessida-
interrupções. O problema foi
resolvido com a compra de
des que se antevêm18. Vejamos resumidamente alguns aspectos a não
uns auscultadores. Quando esquecer:
necessário, o autor criava o
seu escritório virtual ligando
a aparelhagem e ouvindo
• Instalações
música enquanto trabalhava,
isolado da realidade domés- – onde se vai realizar a pesquisa? em casa? na Universidade? em
tica que o rodeava sem inco-
modar os outros elementos do
laboratório? em meio natural?
agregado familiar e sem por
eles ser interrompido. – que instalações serão necessárias à realização do trabalho?

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• Equipamentos

– que tipo de hardware vou necessitar para o meu estudo


(computador - com que capacidade de disco, com que memória
RAM - impressora, scanner, modem, telefone, gravador de video
ou de audio, câmara fotográfica ou de video - com que
características)?

– que tipo de software será preciso (processamento de texto, folha


de cálculo, base de dados, gráfico, estatístico, para
telecomunicações, etc)?

• Apoio financeiro

– que patrocínios será possível obter para este tipo de estudo?

– que bolsas?

• Apoio logístico

– expediente (cartas, recados, fax, arquivo)

– apoio administrativo (fotocópias, contabilidade)

• Apoio documentalístico

– bibliotecas, centros de documentação e arquivos

– documentalistas

• Orientação científica

– quem quero convidar para orientador(a)?

– que tipo de orientação pretendo? mais ou menos directiva? mais


centrada nos conteúdos ou na metodologia da investigação?

3. Ferramentas metacognitivas para investigação

No início deste capítulo, salientou-se que o investigador deve ter uma atitude
adequada ao trabalho a realizar, caracterizada por ser competitiva consigo
(de permanente busca de aperfeiçoamento, característica dos recordistas) e
cooperante com os outros. Dissemos também que tal atitude exige uma
curiosidade insaciável e uma forte motivação para a aprendizagem. Esta última
característica merece ser sublinhada: com efeito, o investigador deve

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