VISÃO PANORÂMICA
Hermano Carmo
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2. O Projecto de Investigação em Ciências Sociais
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Sumário:
Objectivos da unidade
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
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Objectivos da unidade
No final do processo de aprendizagem desta unidade o estudante deverá estar
apto a:
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1. Duas questões prévias
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gastando muito mais energias que se o fizesse contando com a cooperação
de colegas e professores. Ineficazes porque, dispondo de menos meios, mais
dificilmente atingirá as metas que se havia proposto alcançar.
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Recolha preliminar de informação
Em segundo lugar, há que indagar que pesquisa tem sido feita no domínio
em questão e com que métodos foi desenvolvida. Para isso, revela-se de
grande utilidade o recurso a bases de dados com informação indexada sobre
monografias e artigos, na sua versão integral ou em formato resumido, assim
como a realização de diversas entrevistas exploratórias a especialistas.
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• a obsessão pelo qualitativo, tendência inversa actualmente muito
em voga de que tem resultado, por vezes, trabalhos especulativos
com alguma falta de rigor.
Actividade 2.2
4
O texto que se segue foi Já se escreveu tudo sobre determinado assunto?4
apresentado originalmente
em Carmo, H. (1996) Ensino
Superior a Distância. Con- No final desta fase, o investigador que pensava estar a entrar em terreno
texto Mundial. Modelos Ibé-
ricos., Lisboa, Universidade
virgem, pode ficar com a ideia oposta, altamente desanimadora, de que tudo
Aberta, dissertação de já se escreveu sobre o assunto. Esta sensação angustiante e vertiginosa é
doutoramento em Ciências da
Educação, cap 1, ponto 0.
típica de quem desenvolve investigação na nossa época. Com efeito, o primeiro
sentimento que nos assalta quando pretendemos entender o Mundo em que
vivemos, é a perplexidade perante a transitoriedade, a novidade e a
diversidade com que a vida social se nos apresenta, configurando um quadro
desconhecido, por vezes mesmo assustador.
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satélite. (...) Neste sentido, portanto, de nos termos mudado para um
presente para o qual nenhum de nós estava preparado (...), deixámos os
nossos mundos familiares para vivermos numa época em condições que
são diferentes de qualquer das outras que nós já conhecíamos.
Com o mesmo olhar perplexo, Edgar Morin, defendia há poucos anos que
estamos a entrar na Idade do Ferro Planetária6, em que o Homem tem cada
6
De acordo com Morin, com
vez mais consciência da mundialização, a qual, no entanto, é convulsiva e a expansão europeia iniciada
dilacerada pelas contradições que a integram: no séc. XV, começa a era pla-
netária, em que o fenómeno
da mundialização se expande
"somos obrigados a considerar que ainda estamos na pré-história do espírito
progressivamente gerando-se
humano e que não saímos da idade de ferro planetária. Estamos numa era uma cada vez maior
agónica, de morte e nascimento, onde, como nunca até hoje, as ameaças integração dos subsistemas
do planeta. Morin, E. et.al.
convergem sobre o planeta, a sua biosfera, os seus seres humanos, as nossas (1991), A Idade de Ferro
culturas, a nossa civilização. O mais trágico, ou cómico, é que todas estas Planetária, in Os Problemas
do Fim de Século, Editorial
novas ameaças (desastres ecológicos, aniquilamento nuclear, manipulações
Notícias, Lisboa, pag. 17 e
tecnocientíficas, etc.) provêm dos próprios desenvolvimentos da nossa sgs.
civilização"7.
7
Morin, Edgar (1991), op.
Perante este quadro, o investigador social do nosso tempo, confronta-se com cit., pag. 22. Cfr. no mesmo
sentido, as conclusões do re-
o tremendo desafio de tentar descrever uma realidade social complexa e em latório da Comissão Indepen-
vertiginosa mudança, de que ele próprio faz parte, com instrumentos toscos, dente População e Qualida-
de de Vida, coordenada por
tais como os dos nossos avós, da Idade do Ferro. Maria de Lourdes Pintasilgo,
1998, Cuidar o Futuro: um
O nevoeiro informacional programa radical para viver
melhor, Lisboa, Trinova.
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para não fantasiarem os seus mapas, tinham que representar espaços
imensos a branco. Com efeito, dada a rapidez com que a sociedade
contemporânea muda, bem como pela sua complexidade crescente,
o cientista social, confronta-se muitas vezes com uma substancial
falta de informação sobre o seu objecto de estudo. Exemplo de
sub-informação, foi a reacção de perplexidade geral e até de
indignação de alguns decisores políticos quando, em 1985, foram
divulgados os primeiros resultados do estudo sobre a pobreza em
Portugal, que concluía que 35% das famílias portuguesas se
10
Costa, A. Bruto da; Silva, encontravam abaixo da linha de pobreza absoluta10. Para além da
Manuela; et al (1985), A Po-
breza em Portugal, Caritas, resposta política de quem sentiu a crueza dos resultados daquele
Lisboa. Estudos publicados estudo como um julgamento à sua política social, o que tal reacção
mais recentemente, já não ti-
veram a mesma reacção uma pareceu demonstrar foi a ignorância dos vários actores sociais sobre
vez que a subinformação so- o fenómeno.
bre o fenómeno se havia re-
duzido. Vide por exemplo,
Costa, A.B., Silva M., et al - O terceiro filtro com que o investigador se defronta, é o da
(1989), Pobreza Urbana em pseudo-informação, ou seja, o conjunto de informação, deliberada
Portugal, Caritas, Lisboa; e,
Silva, M. (1991), A Pobreza ou involuntariamente deformada, ou mesmo falseada, sobre a
Infantil em Portugal, Comi- realidade social. São exemplos de pseudo-informação, as emitidas
té Português para a UNICEF,
Lisboa. pelos sistemas de publicidade económica, propaganda política, e os
mecanismos de boato. Mas também o são, muitas vezes, as infor-
mações produzidas pelos mass media e as que legitimam certas
representações colectivas.
O quadro que se acaba de descrever, serve para explicar que, talvez o maior
dos problemas metodológicos com que um investigador se debate ao longo
de qualquer processo de pesquisa, seja o da selecção e gestão da informação
disponível obrigando-o a um triplo esforço para reduzir os efeitos de
nevoeiro informacional:
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Actividade 2.3
Sendo o tempo um dos recursos mais escassos que o investigador tem ao seu
dispor pois contrariamente ao desejado no popular fado, o tempo não tem
hipóteses de voltar para trás, é curioso notar a pouca relevância que lhe é 11
O exemplo típico é o dos
conferida quando se está numa fase preliminar de pesquisa. No entanto ou prazos apertados com que os
por razões de natureza legal - caso dos prazos impostos para a conclusão de investigadores se têm vindo a
debater nos projectos com fi-
mestrados - ou de índole contratual11, a verdade é que o tempo se tem vindo nanciamento externo como os
a posicionar como uma variável estratégica em qualquer processo de Programas Sócrates, Leonar-
do e outros programas da
pesquisa. E isto por várias razões de que se salientam três: União Europeia.
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em Portugal a restringir o seu estudo à região de Lisboa e o seu foco de
análise a grupos praticantes de religião hinduísta.
Actividade 2.4
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conclusão da pesquisa. As técnicas de programação, como o PERT e o
CPM13 há muito usadas pela gestão podem ser usadas com grande proveito 13
Cfr. por exemplo Belchior
nesta fase. (1970)
Actividade 2.5
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acompanhar todo o processo de investigação através de um
registo em-formato-quase-final?
Uma vez feita uma reflexão séria sobre a disponibilidade desses dois recursos
indispensáveis à pesquisa, a informação e o tempo, estamos em condições
de continuar a planear o trabalho que a integrará. Recorde-se que planear é
definir rumos e que sem se conhecer o rumo da pesquisa não se pode dizer
que ela venha a alcançar qualquer bom porto.
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Na fase inicial da investigação, ainda de acordo com este autor, é
extremamente importante evitar três tipos de erros:
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Frequentemente, a consequência de tal procedimento é a produção de estudos
sincréticos sem suporte teórico e metodológico suficiente. Querer fazer um
trabalho predominantemente sociológico, antropológico ou politológico,
abandonando uma formação original no domínio da linguística ou da
literatura, ou pelo contrário, pretender fazer um estudo no domínio da
linguística ou da literatura tendo uma formação inicial completamente
diferente, é desperdiçar capital cognitivo adquirido e arriscar-se a não ter
bons resultados nem num campo nem noutro.
Actividade 2.6
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2.2. Definir o objectivo da pesquisa
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Actividade 2.7
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FIGURA 2.1 - CRONOGRAMA DE UMA PESQUISA (CARMO, 1995)
Maturação Teórica
Proposta Inicial
Estudo Exploratório
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Redacção
• que modelo de análise utilisarei e com que elementos?
Fim da 1ª Versão
(...) N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F
• como tenciono tratar e interpretar os dados: que estratégia adoptar,
Preparação
Realização
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• que estratégia vou usar para difundir os meus resultados? apenas o
discurso scripto? usarei gráficos? tabelas? diagramas? audiovisuais?
software educativo? de que tipo?
Actividade 2.8
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• Equipamentos
• Apoio financeiro
– que bolsas?
• Apoio logístico
• Apoio documentalístico
– documentalistas
• Orientação científica
No início deste capítulo, salientou-se que o investigador deve ter uma atitude
adequada ao trabalho a realizar, caracterizada por ser competitiva consigo
(de permanente busca de aperfeiçoamento, característica dos recordistas) e
cooperante com os outros. Dissemos também que tal atitude exige uma
curiosidade insaciável e uma forte motivação para a aprendizagem. Esta última
característica merece ser sublinhada: com efeito, o investigador deve
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