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“A CRIAÇÃO É SAGRADA” - CF 11
“Fraternidade e a vida no planeta”.
Introdução
O lema da CF 11 “A criação geme em dores de parto” é uma frase tirada
da carta de São Paulo aos romanos (8,2), cujo sentido talvez nunca foi devidamente
entendido pelos exegetas e pouco explicado pelos hermeneutas. [Exegeta: aquele que
estuda o sentido da palavra; Hermeneuta: aquele que a partir do sentido interpreta, atualiza a
palavra]. Com essas palavras Paulo quis expressar – assim entendemos hoje - a tensão
da natureza em relação ao futuro. A natureza é destinada, segundo a teologia paulina,
a participar da glória completa do Senhor (Kýrios) no final dos tempos, quando ela
seria libertada de toda a opressão (dores em parto) a que a submetera o homem
pecador. Até há pouco tempo a frase era entendida mais num sentido escatológico,
isto é que toda a criação participaria a seu modo da dócsa, isto é da glória do Senhor
em sua vinda, pois segundo S. Paulo, no fim dos tempos o mundo todo, todas as
coisas seriam cristificados e Deus seria tudo em todos (1Cor 15,28). Desse modo , um
sentido ecológico do texto nunca seria imaginado.
A CF/2011
As Campanhas da Fraternidade da Igreja sempre abordam temas de
atualidade e de interesse da Igreja e da sociedade. A Igreja sente-se corresponsável
diante dos problemas do país e do mundo, e nunca se omitiu em oferecer reflexão,
análise e propostas.
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JULGAR
Analisar a Palavra de Deus sobre a vida, a natureza e o ser humano é
tarefa da Teologia da criação. Esta é uma área da Teologia que estuda a criação e a
natureza nos textos do Antigo e do Novo Testamento, na Patrística, articula a reflexão
teológica (à luz da fé), a teodicéia (a presença do bem e do mal no mundo criado), a
relação ciência e fé, o criacionismo, evolucionismo e outros aspectos.
Deus é o Deus da vida (Ex. 3,14). Não quer a morte, a destruição. Foi ele
quem tudo criou (Gn 1,1—2,4ª). As obras da criação passam a existir pela sua palavra:
“E Deus disse: Faça-se e fez-se”. Deus fala sete vezes, realiza oito obras com sua
palavra e por seis vezes avalia sua obra: “E Deus viu que tudo o que havia feito era
bom... muito bom” (Gn 1,4.10.12.18.21.25.31). Não é uma avaliação com sentido
moral (bom ou mau), mas avaliação de adequação à sua vontade: estava correto. O
que ele criou é perfeito, útil, obra de amor. A criação é boa, é sagrada, é a Palavra de
Deus encarnada, materializada.
A criação de Deus, desde a primeira obra criada, a luz, até o ser humano,
constitui-se numa unidade perfeita, formada de coisas distintas mas que se entrelaçam
e formam o universo deslumbrante que contemplamos. A natureza é bela, perfeita e
boa. É o homem pecador que a desfigura.
Mas houve quem entendesse que pela própria Bíblia Deus fez o homem
dono do planeta quando disse ao criá-lo que enchesse a terra e a submetesse, bem
como dominasse a natureza e os seres criados! (Gn 1,28).
Hoje em dia os frutos dessa árvore são outros. São mais atraentes que
os da árvore do paraíso. Hoje são ideologias, espírito de dominação, arrogância,
prepotência, orgulho; todos porém embasados em “princípios científicos” segundo o
homem de hoje, o “homo destruens” (homem destruidor, devastador) não só da
natureza mas da verdade. Os chamados princípios científicos são considerados
indiscutíveis pelo homo destruens; são verdadeiros ídolos modernos diante dos quais
todos devem se dobrar.
3. A Trindade e a criação
A teologia cristã ensina que Deus é trindade indissolúvel. Três
pessoas, um só Deus. Por que Pai, Filho, Espírito Santo?
Porque para a Teologia, Deus não é um Deus distante, solitário, que
mora nos céus, mas é um Deus próximo, um Deus conosco, um Deus-família. As
Pessoas divinas são denominadas com termos relacionados à nossa vida familiar: Pai,
Filho e Espírito (Amor). Foi Jesus quem nos ensinou essa Trindade de Pessoas: “Ide
pelo mundo, pregai o Evangelho... batizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo (Mt 28,19).
A criação é reflexo do amor do Pai. Todo amor é difusivo, tende a
sair de si, a criar. A criação é isso, como diz o Gênesis: Deus criou o homem e a
mulher à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). A vida recebida é um dom gratuito,
um ato intencional do Pai, que manifesta seu imenso amor criando. A criação é o
diálogo de Deus com o homem; com ela Deus se faz comunhão com o homem.
O diálogo da criatura com o Criador se manifesta de várias
maneiras: na interioridade do coração – como diz Santo Agostinho - nos
acontecimentos da história e na experiência do povo bíblico ou na contemplação da
própria obra da criação.
A excelência da criação tem seu ponto alto em Cristo. É Deus e
“criatura”. Ele é o primogênito de toda a criação, diz Paulo (Cl 1,15). A divindade se
revela na humanidade. Ele é a imagem visível do Deus invisível. Nele, por ele, e para
ele todas as coisas foram criadas. Ele pré-existe e por ele tudo subsiste (Cl 1,15-17).
Por isso é o Primogênito. Cristo não é só modelo da criação: ele participa ativamente
da criação (Jo 1,1-3).
Se o Pai criou e no Filho e pelo Filho (Palavra) tudo criou, é pelo
Espírito Santo que Deus está presente em toda a criação e, por essa presença, toda
criação se torna Templo de Deus. É pelo Espírito que as criaturas estão unidas; ele é
o laço, o elo de união da biodiversidade do universo; por ele a criação não só
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3. Síntese