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“A CRIAÇÃO É SAGRADA” - CF 11
“Fraternidade e a vida no planeta”.

“A criação geme em dores de parto“

Introdução
O lema da CF 11 “A criação geme em dores de parto” é uma frase tirada
da carta de São Paulo aos romanos (8,2), cujo sentido talvez nunca foi devidamente
entendido pelos exegetas e pouco explicado pelos hermeneutas. [Exegeta: aquele que
estuda o sentido da palavra; Hermeneuta: aquele que a partir do sentido interpreta, atualiza a
palavra]. Com essas palavras Paulo quis expressar – assim entendemos hoje - a tensão
da natureza em relação ao futuro. A natureza é destinada, segundo a teologia paulina,
a participar da glória completa do Senhor (Kýrios) no final dos tempos, quando ela
seria libertada de toda a opressão (dores em parto) a que a submetera o homem
pecador. Até há pouco tempo a frase era entendida mais num sentido escatológico,
isto é que toda a criação participaria a seu modo da dócsa, isto é da glória do Senhor
em sua vinda, pois segundo S. Paulo, no fim dos tempos o mundo todo, todas as
coisas seriam cristificados e Deus seria tudo em todos (1Cor 15,28). Desse modo , um
sentido ecológico do texto nunca seria imaginado.

O homem de hoje, inserido num mundo globalizado, industrializado,


informatizado, tecnológico, ao mesmo tempo que começa dominar o mundo sideral,
planetário e manipular a vida, também oprime e devasta, depreda a natureza criada,
a obra de Deus.

O ano 2011 está sendo pensado como um ano de fundamental


importância para o planeta terra. Entidades e Grupos ambientalista, Igrejas e Países,
Organizações mundiais (ONU), estão agora preocupados com o futuro do planeta.
Começam sentir o perigo já intuído por São Paulo.

Nesse quadro a Igreja do Brasil sente-se na obrigação de intervir com


questionamentos e propostas, com a finalidade de contribuir para a conscientização
das comunidades cristãs e também das pessoas de boa vontade sobre a gravidade do
problema ambiental, do aquecimento global e mudanças climáticas, provocados pela
mão do homem e que progressivamente vão destruindo a criação de Deus.

É necessário, sem dúvida, enfrentar esse problema hoje para preservar


a vida do planeta.
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A CF/2011
As Campanhas da Fraternidade da Igreja sempre abordam temas de
atualidade e de interesse da Igreja e da sociedade. A Igreja sente-se corresponsável
diante dos problemas do país e do mundo, e nunca se omitiu em oferecer reflexão,
análise e propostas.

A metodologia empregada pela Igreja é conhecida: é o método da Ação


Católica: VER, JULGAR, AGIR. Sintetizando:

O VER consiste em radiografar a realidade, a situação. Na Campanha


desse ano é a Vida no planeta: aquecimento global, as atividades que mudaram o
planeta, desmatamento, agronegócio, biodiversidade etc.

O JULGAR é uma aproximação bíblica: o que a Palavra de Deus tem a


dizer sobre a vida no planeta hoje. O que dizem a Bíblia e a Teologia da criação.

O AGIR vem a ser as estratégias propostas, as ações concretas que


levem a mudar a situação recuperando os valores da vida em relação ao meio-
ambiente.

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JULGAR
Analisar a Palavra de Deus sobre a vida, a natureza e o ser humano é
tarefa da Teologia da criação. Esta é uma área da Teologia que estuda a criação e a
natureza nos textos do Antigo e do Novo Testamento, na Patrística, articula a reflexão
teológica (à luz da fé), a teodicéia (a presença do bem e do mal no mundo criado), a
relação ciência e fé, o criacionismo, evolucionismo e outros aspectos.

A teologia tem portanto algo a dizer sobre o problema ambiental e


sobre o processo em curso hoje, que atenta contra a vida e a natureza.

1. O que a Palavra de Deus diz sobre as causas dessa problemática?


Que luzes pode oferecer para enfrentarmos essa questão da defesa
do planeta?

1.1 – Bíblia: o texto bíblico da criação.

A Bíblia não trata direta e explicitamente da preservação ambiental


porque no tempo em quem os textos bíblicos foram escritos esse problema não era
percebido. Mas a Bíblia mostra que Deus nos deu a vida, criou o universo e nos chama
a cuidar da vida e de sua obra.
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Deus é o Deus da vida (Ex. 3,14). Não quer a morte, a destruição. Foi ele
quem tudo criou (Gn 1,1—2,4ª). As obras da criação passam a existir pela sua palavra:
“E Deus disse: Faça-se e fez-se”. Deus fala sete vezes, realiza oito obras com sua
palavra e por seis vezes avalia sua obra: “E Deus viu que tudo o que havia feito era
bom... muito bom” (Gn 1,4.10.12.18.21.25.31). Não é uma avaliação com sentido
moral (bom ou mau), mas avaliação de adequação à sua vontade: estava correto. O
que ele criou é perfeito, útil, obra de amor. A criação é boa, é sagrada, é a Palavra de
Deus encarnada, materializada.

A criação de Deus, desde a primeira obra criada, a luz, até o ser humano,
constitui-se numa unidade perfeita, formada de coisas distintas mas que se entrelaçam
e formam o universo deslumbrante que contemplamos. A natureza é bela, perfeita e
boa. É o homem pecador que a desfigura.

Mas houve quem entendesse que pela própria Bíblia Deus fez o homem
dono do planeta quando disse ao criá-lo que enchesse a terra e a submetesse, bem
como dominasse a natureza e os seres criados! (Gn 1,28).

Porém, dominar, não significa submeter mas ser senhor da natureza , do


mesmo modo como Deus é Senhor: ele a criou, ordenou seu crescimento e evolução e
garantiu sua liberdade e continuidade com uma especial bênção.

Dominar, por parte do homem significa respeitar a ação criativa de


Deus contribuindo para a evolução e desenvolvimento da natureza. O homem é
senhor da natureza porque foi criado de modo especialíssimo: “o fizeste só um pouco
menor que um deus, de glória e honra o coroaste “ (Sl 8,6).

O senhorio do homem sobre a natureza não pode ser entendido como


poder, isto é, liberdade de decisão para fazer o que bem entender com a criação, com
a natureza. Ele foi feito “a imagem e semelhança de Deus....homem e mulher os criou”
(Gn 1,27) Ele tem pois inteligência, sabedoria, discernimento. E o próprio texto bíblico
quando se refere ao senhorio do homem sobre a natureza usa o verbo mashal, que em
hebraico significa mais presidir que dominar, assim como os astros presidem o dia e a
noite, marcando o ritmo da vida (Gn1,16-18).

A criação singular, especial, do homem e da mulher tem um sentido:


eles foram chamados à vida para cuidar de tudo o que se refere à vida e trabalhar pela
manutenção da grande obra da criação.

O progresso científico, as conquistas alcançadas pela ciência e


tecnologia, não podem levar o homem a dominar os outros , pessoas e nações, e
desfrutar egoisticamente do progresso – disse João Paulo II.
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1.2. Bíblia: a árvore da vida: advertência para o homem de hoje (Gn


3,1-24)

Comer da árvore da vida é expressão bíblica para dizer que o homem


deve ter sabedoria, discernimento e seguir a lei de Deus que é vida. Esses são frutos
verdadeiros da árvore da vida que o homem podia usufruir.

Hoje em dia os frutos dessa árvore são outros. São mais atraentes que
os da árvore do paraíso. Hoje são ideologias, espírito de dominação, arrogância,
prepotência, orgulho; todos porém embasados em “princípios científicos” segundo o
homem de hoje, o “homo destruens” (homem destruidor, devastador) não só da
natureza mas da verdade. Os chamados princípios científicos são considerados
indiscutíveis pelo homo destruens; são verdadeiros ídolos modernos diante dos quais
todos devem se dobrar.

Na realidade,porém, tais princípios parecem andar na contra-mão da


cientificidade; esta aponta para a provisoriedade de toda conquista; o cientificismo ,
porém, tende a absolutizar aquilo que é relativo e provisório.

Ao apossar-se assim dos frutos da árvore da vida, o homem de hoje


julga ter direito de apossar-se também doas pessoas e da natureza. Esse é o pecado
atual que gera dominação, subjugação do outro, destruição, morte. E doutro lado
ainda, pretendendo fazer o que deseja, não respeitando limites o homem e a mulher
hoje querem ser deuses (“vós sereis deuses”) para dirigir e governar a criação
conforme seus critérios. Essa é a tentação de comer do fruto da “árvore do bem e do
mal”: eu quero, eu posso decidir, não importando as conseqüências (como Adão e
Eva).

O texto bíblico diz que o homem e a mulher podem usufruir , sem


dúvida, dos bens do “jardim” (e do mundo) desde que mantenham a ordem superior
de Deus. Tal atitude leva ao bem, à solidariedade. A não observância da ordem de
Deus causa desagregação, as pessoas se fazem dominadoras, instalam seus sistemas
de opressão e acabam destruindo tudo, inclusive a si mesmas.

1.3. Bíblia: Deus fala pela natureza

Mesmo antes dos textos inspirados da Bíblia, Deus já se comunicava


com a humanidade através do livro da natureza e da diversidade da vida.

São Paulo na carta aos romanos, saindo do âmbito da revelação judaica


(que julgava serem os judeus o único povo a conhecer Deus e ser salvo) ele explica aos
pagãos que é possível conhecer a Deus pelos caminhos da razão, pois o Deus invisível é
conhecível, o Criador é acessível pelas criaturas, pela criação, pois a natureza é Palavra
de Deus encarnada, materializada.
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O salmo 104, que é um hino à natureza, expressa muito bem essa


dimensão de Deus como Senhor e Criador que se revela. O salmo estabelece uma
relação de Deus com as criaturas, mostrando assim a consciência que tinham os
antigos israelitas da profunda dependência vital da humanidade e de toda a criação
com esse Poder criador originário. Por isso, destruir ou não se importar hoje com o
atual processo de destruição da natureza que corre o mundo é negar a Deus.

2. Abordagem teológica sobre a criação


A origem do universo e da vida, o desenrolar desse processo
desencadeado, a origem do bem e do mal, são questões que inquietaram todos os
povos.. Eles responderam com suas teogonias, seus mitos de origem e da criação.
A antropologia diz que nenhum povo deixou de se preocupar com
essas questões. E a Bíblia também.
O texto bíblico da criação, porém, é um poema repleto de símbolos,
imagens, literatura, para descrever a beleza do ato criador de Deus. No centro da
passagens bíblicas está a operosidade de Deus, cuja obra deve ser admirada; o próprio
repouso sabático, não teria finalidade litúrgica de festa e descanso, mas seria o
momento forte em que o homem deveria parar o trabalho para admirar , louvar o
Deus Criador pela extraordinária beleza e perfeição da natureza criada. A criação deve
ser contemplada, admirada, não devastada. O paraíso, com plantas e animais, águas e
flores, astros e estrelas, jardins e brisa, foi feito para o homem contemplar.
Mas como tudo começou? Donde vem a vida?
Para as religiões tudo vem de Deus. Para os ateus, tudo vem do
acaso. Conforme a ciência não há lugar para a religião, para Deus na origem da vida.
“Nas últimas décadas à medida que as sondas e os telescópios
encontravam mais evidência do Big Bang pelo cosmo, muitos cientistas chegaram a se
vangloriar de um falso feito. Uma vez que a física já explicava como nascera o
universo, não haveria mais lugar para deuses e mitos da criação. É notório que os
cientistas consideram que em seu ofício não há lugar para o pensamento mágico
(religião) . Mas, quanto mais exploram o cosmo, mais eles deparam com os mesmo
mistérios de que tratam as religiões. Tudo indica que o universo nasceu com o Big
Bang, mas o que existia antes dele? A resposta, tanto para os cientistas quanto para os
metafísicos, é a mesma: nada! A questão é como algo pode ocupar um espaço que
não existia!
Após a explosão primordial, diz a ciência, os instantes iniciais do
universo foram de caos. Caos é entendido como uma sopa de energia e partículas em
movimento. É uma descrição similar à dos primeiros momentos do universo feita por
diversos mitos de origem, como o egípcio, o hindu, o mesopotâmico, o bíblico.
As soluções científicas modernas para o nascimento do universo, a
origem da vida, da natureza e o surgimento da humanidade muitas vezes parecem
extraídos de passagens bíblicas! O fato de as metáforas religiosas guardarem tantas
semelhanças com as descobertas recentes da ciência talvez reflita os limites da
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capacidade da mente humana de lidar com assuntos dessa magnitude. Dado


determinado problema, pode se chegar a conclusões parecidas com instrumentos
científicos ou simplesmente pelo raciocínio dedutivo como fez Santo Agostinho.
A diferença básica entre ciência e religião está em outra esfera:
como entender a relação entre causa e efeito. Albert Einstein dizia que Deus não
jogava dados com o universo, isto é, que as coisas não ocorrem sem uma causa! Todos
os ramos da ciência compartilham dessa convicção. Já o pensamento religioso acredita
que a causa de qualquer acontecimento ou fenômeno pode ser simplesmente a
vontade divina. No princípio, era a partícula – diz a ciência. Essa partícula não será
Deus?” (VEJA Especial, 25 de junho de 2008, “Um olhar sobre o início de tudo”, pag.
124-125)

3. A Trindade e a criação
A teologia cristã ensina que Deus é trindade indissolúvel. Três
pessoas, um só Deus. Por que Pai, Filho, Espírito Santo?
Porque para a Teologia, Deus não é um Deus distante, solitário, que
mora nos céus, mas é um Deus próximo, um Deus conosco, um Deus-família. As
Pessoas divinas são denominadas com termos relacionados à nossa vida familiar: Pai,
Filho e Espírito (Amor). Foi Jesus quem nos ensinou essa Trindade de Pessoas: “Ide
pelo mundo, pregai o Evangelho... batizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo (Mt 28,19).
A criação é reflexo do amor do Pai. Todo amor é difusivo, tende a
sair de si, a criar. A criação é isso, como diz o Gênesis: Deus criou o homem e a
mulher à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). A vida recebida é um dom gratuito,
um ato intencional do Pai, que manifesta seu imenso amor criando. A criação é o
diálogo de Deus com o homem; com ela Deus se faz comunhão com o homem.
O diálogo da criatura com o Criador se manifesta de várias
maneiras: na interioridade do coração – como diz Santo Agostinho - nos
acontecimentos da história e na experiência do povo bíblico ou na contemplação da
própria obra da criação.
A excelência da criação tem seu ponto alto em Cristo. É Deus e
“criatura”. Ele é o primogênito de toda a criação, diz Paulo (Cl 1,15). A divindade se
revela na humanidade. Ele é a imagem visível do Deus invisível. Nele, por ele, e para
ele todas as coisas foram criadas. Ele pré-existe e por ele tudo subsiste (Cl 1,15-17).
Por isso é o Primogênito. Cristo não é só modelo da criação: ele participa ativamente
da criação (Jo 1,1-3).
Se o Pai criou e no Filho e pelo Filho (Palavra) tudo criou, é pelo
Espírito Santo que Deus está presente em toda a criação e, por essa presença, toda
criação se torna Templo de Deus. É pelo Espírito que as criaturas estão unidas; ele é
o laço, o elo de união da biodiversidade do universo; por ele a criação não só
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desabrocha, mas amadurece e chega à plenitude dos desígnios divinos. “Nada há de


profano no universo”, dizia Teillard de Chardin.
O Espírito Santo é a santificação do universo; o universo é
cristificado pela ação do Espírito Santo (cf 1Cor 15,28).
Essa atuação do Espírito Santo é sentida não só na criação mas é
percebida e testemunhada nas Comunidades cristãs. Pela sua ação as pessoas
reunidas são transformadas no Corpo de Cristo, que é a Igreja santa; por ele a Igreja
vai desenvolvendo na História o Reino de Deus.

4. O pecado e sua dimensão ecológica.


O universo é sagrado - mas não é Deus, foi criado. A criatura, saída
das mãos de Deus é reflexo dele; o homem e a mulher são imagem de Deus.
Mesmo envolvidos pela presença de Deus, os seres criados têm a
sua autonomia e liberdade. O ser humano, criado por Deus por amor, recebe
também a missão de cuidar com amor da obra realizada pelo Criador.
Mas a liberdade entrevê a possibilidade do pecado; usar a liberdade
para negar o amor. Essa negação rompe a confiança em Deus. Rompido com Deus o
homem passa a viver num estado de autonomia que o separa de Deus e o faz
autossuficiente. Nesse estado não acolhe mais o chamado de Deus para cooperar
com seu projeto; fecha-se cada vez mais num mundo próprio, contrariando o
Criador.
Na crise ambiental fica claro o poder destruidor do pecado, que
corta a relação com Deus, corta as relações com outros seres humanos (comunitárias,
políticas, ecológicas...). Daqui procedem as estruturas sociais injustas, o egoísmo, o
consumismo que destroem o meio ambiente. A natureza é manipulada abusivamente
pelo homem; é dessacralizada, violentada. A libertação da natureza – como diz
Paulo - está incluída na libertação do pecado humano para a vivência da liberdade
concretizada no amor-serviço.
Conclusão:
1. O cuidado da natureza

A Bíblia e a Teologia da criação quer mostrar-nos que a criação é


obra de Deus, é sagrada e precisa ser cuidada, não danificada. O ser humano, embora
criado à imagem e semelhança de Deus, e tendo recebido do Senhor certa posição
superior a toda criatura, não é dono do mundo, e nem a criação é objeto de seus
caprichos, de seu egoísmo explorador. Ele recebeu do Senhor a tarefa de cuidar da
criação. Cuidar, é uma atitude contrária ao pecado, que desintegra, oprime. A criação
tem um rosto, que hoje chamamos de meio ambiente, habitat, bioma, natureza, eco-
sistema. . Ela clama por cuidados com os distúrbios climáticos, uma vez que o sistema
organizacional de nossas sociedades oprime, destroi em favor de uma consumismo
selvagem. Esse processo tem degradado os bens da natureza e avança cada vez
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mais. É a natureza gritando por socorro; e “a criação gemendo em dores de parto”


como diz Paulo (Rm 8,22). Ela está presa, sufocada.

O cuidado deve levar a humanidade alcançar uma sociedade


sustentável, libertando as pessoas das injustiças e opressões a que são submetidas
pela ganância da sociedade egoísta que destroi a imensa riqueza que é a vida no
planeta, com emissões de gases de efeito estufa, devastação de florestas, poluição
ambiental.

A Igreja cumpre sua missão de alertar, criticar, denunciar; sobretudo


propõe mudança dos valores que hoje sustentam essa dinâmica da busca incessante
do lucro e do consumo, sem se importar com a pessoa humana e com os bens da
natureza.

2. São Francisco e a criação

A CF / 11, falando da criação, lembra a presença e mensagem de São


Francisco de Assis. Ele é modelo da correta relação homem/ natureza. Ele ensina que
violentando a natureza o homem degrada-se a si mesmo. Ele foi o defensor da
natureza, de toda a criação. Mostra que, como nós, a demais criaturas saíram das
mãos de Deus, por isso somos todos irmãos e irmãs.

Se somos irmãos não poderá haver domínio do homem sobre as


criaturas, nossas irmãs. Por isso ele, Francisco, foi pobre. Pobreza que significa não-
posse, não domínio. De nada e de ninguém. Ele soube contemplar e valorizar as
coisas pelo que eram e pelo valor que apresentavam como criaturas de Deus.

Se o uso das criaturas para a sobrevivência humana é imprescindível


e se o homem foi colocado como zelador da Fazenda de Deus, tudo está à sua
disposição, como disse Deus: “Dominai”. O problema está no uso indiscriminado, nos
gastos desmedidos, no consumismo desenfreado, insaciável, na valorização do
supérfluo.

São Francisco ensina a sobriedade no consumo dos bens necessários


à vida. Renunciando à posse, à dominação, ele soube contemplar a natureza, pois via
nela o reflexo da imagem de Deus, de sua bondade e beleza.

Os seus sentimentos em relação à criação de Deus, a sua


contemplação da linda natureza, ele os expressou no conhecido “Cântico das
criaturas “, também conhecido como “Cântico do irmão sol”. (LER)
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3. Síntese

- Ideia central das CF é a de levar as pessoas a superar a dicotomia


entre fé e vida. Por isso a cada ano se tem um tema e um lema que conduzem a
reflexão. Nesse propõe olhar a natureza e perceber que a mão do homem está
causando sérias ameaças e danos à vida em geral e à vida humana, provocando o
aquecimento global, as mudanças climáticas, a destruição do meio ambiente.

- Diante desse quadro a CF recorre à Palavra de Deus: o que diz a


Palavra de Deus sobre a criação e sobre o papel do homem no mundo criado. Com a
Teologia da criação a Igreja expõe o julgamento de Deus: ele cria, conserva,
providencia, não destrói! A manipulação, a exploração, a destruição da natureza são
frutos do pecado. E a Palavra convoca à conversão. Uma conversão não retórica, mas
de dimensão permanente em sua vida.

Três textos consultados (bons, fáceis e baratos)


1. Texto-Base da CF 2011
2. Ecologia (Padre Libânio)- novo e muito bom.
3. VIDA PASTORAL

Outros dois consultados (além da Bíblia e Dicionários Bíblicos)


4. Teologia de la creacción – Juan-Ruiz de la Peña
5. A criação de Deus – Luiz Carlos Susin

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