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3º Trim.

de 2020: A IGREJA ELEITA: redimida pelo sangue de Cristo e selada com o


Espírito Santo da promessa

PORTAL ESCOLA DOMINICAL


3º Trimestre de 2020 - CPAD
A IGREJA ELEITA: redimida pelo sangue de Cristo e selada com o
Espírito Santo da promessa
Comentários da revista da CPAD: Douglas Baptista
Suplemento: Ev. Caramuru Afonso Francisco

ESTUDO COMPLEMENTAR Nº 4 – O VELHO E O NOVO HOMEM

Em Efésios, vemos que a salvação produz total mudança de comportamento.

Texto áureo – “E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros
gentios, na vaidade do seu sentido,” (Ef.4:17)

Leitura bíblica em classe – Ef.4:17-32.

I – O VELHO HOMEM

- O apóstolo Paulo já havia mostrado, no capítulo 2, que a nova vida em Cristo importa em uma completa
mudança na vida do ser humano, que deixara de ser filho da desobediência e filho da ira após ser
alcançado pela graça de Deus, passando a ter comunhão com o Senhor, tornando-se integrante da igreja e,
como tal, concidadão dos santos e da família de Deus (Ef.2:,3).

- Agora, de forma mais minudente, depois de observar que, na igreja, devem os salvos caminhar até a
estatura completa de Cristo, a varão perfeito (Ef.4:11-16), Paulo vai trazer minúcias a respeito deste
contraste que existe entre os “outros gentios”, i.e., aqueles que continuam longe do Senhor porque não
creram em Jesus e os membros do corpo de Cristo, que, pelo sangue de Cristo Jesus, agora desfrutam da
comunhão com o Senhor.

- As lições que Paulo passa a dar a seus leitores não são apenas conselhos de um cristão mais experiente, ou
mesmo, de um pai na fé ou do apóstolo que havia aberto o trabalho em Éfeso ou os trabalhos nos locais para
onde a carta foi enviada, se se adotar a teoria da carta circular.

- O apóstolo faz questão de escrever que ele não apenas diz mas também “testifica no Senhor”. (Ef.4:17).
Trata-se de um testemunho no Senhor e isto mostra claramente que Paulo não só se coloca na posição de
“testemunha de Jesus” (cf. At.1:8), como também de alguém que está a fazer observações não movido por
sua experiência, mas por inspiração do Espírito Santo.

- Será que temos esta mesma autoridade do apóstolo? Será que podemos dizer o que dizemos não apenas
como palavras mas também como “testemunhas de Jesus”? Para ser testemunha de Jesus, é preciso ter
provado da graça de Deus, ter tido um real encontro e ter estabelecido uma real comunhão com o Senhor.
Cristo disse que os discípulos seriam Suas testemunhas quando fossem revestidos de poder (At.1:8). Ser
testemunha é ser prova. Será que podemos provar que Jesus é o Senhor e Salvador através de nossas vidas?
Pensemos nisto!

- O apóstolo diz que os seus leitores não podiam andar como “os outros gentios, na vaidade do seu
sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles,
pela dureza do seu coração” (Ef.4:17,18).

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- Não podemos andar como andam “os outros”. Esta expressão empregada pelo apóstolo para os seus
leitores gentios, também foi utilizada por Lucas ao fazer a diferenciação entre os salvos judeus e os “outros
judeus”, como se vê em At.5:13: “Quanto aos outros, ninguém ousava ajuntar-se com eles; mas os povos
tinha-os em grande estima”.

- Há traços que distinguem os membros do corpo de Cristo dos demais, porque temos uma vida diferente,
somos diferentes. O Senhor Jesus, ao mesmo tempo em que nos deu a paz e nos uniu a Deus, também nos
separou do mundo e dos que vivem no pecado. É, aliás, este o sentido pelo qual o Senhor Jesus disse que
havia trazido espada ou dissensão na Terra (Mt.10:34; Lc.12:51). A paz que Jesus traz entre o homem e
Deus é a mesma dissensão, a mesma inimizade que traz entre o homem e o mundo, ou o pecado, ou o
maligno. É a inimizade entre a mulher e a serpente anunciada no protoevangelho pelo próprio Deus
(Gn.3:15).

- Não é possível andar como os gentios ou os judeus incrédulos e querer se considerar um membro do corpo
de Cristo. Os “outros gentios”, por primeiro, estão “na vaidade do seu sentido”, ou seja, são “vazios”,
sua vida não tem qualquer sentido. São pessoas que não têm qualquer noção da eternidade ou das coisas
espirituais, vivem tão somente para as coisas terrenas, têm como horizonte único e exclusivo a satisfação das
necessidades materiais (Mt.6:31,32). Salomão, no livro de Eclesiastes, bem mostrou o que é esta “vida
debaixo do sol”: “vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec.1:2).

- Os “outros gentios” são pessoas que têm seu entendimento entenebrecido, ou seja, vivem em trevas
espirituais, não enxergam a realidade espiritual, não conseguem ver que a vida é muito além do que esta
passageira peregrinação na Terra, é muito além do que as necessidades materiais. Seu entendimento
encontra-se cegado pelo deus deste século e são incapazes de ver a luz do evangelho da glória de Cristo (II
Co.4:4).

- Esta circunstância foi particularmente bem ilustrada pelo pastor e escritor John Bunyan (1628-1658) no seu
livro “O peregrino” quando aponta que a primeira reação de Cristão que o diferenciou das demais pessoas
foi ter percebido que estava na “cidade da destruição”, foi enxergar a sua situação espiritual calamitosa e a
necessidade de salvação.

- Os “outros gentios” são separados da vida de Deus, ou seja, não levam Deus em conta, não têm
qualquer comunhão com o Senhor, vivem como se Deus não existisse, o que é uma característica do se
costuma chamar de “secularismo”, um mal que tem prejudicado e desvirtuado a vida de muitos que cristãos
se dizem ser. O apóstolo é claríssimo ao dizer que não podemos ter uma perspectiva de vida que não leve
em conta o Senhor e a Sua Palavra. Não é possível “compartimentar” a vida e ter uma “vida religiosa”
dissociada da “vida secular”.
OBS: Como afirmou, certa vez, o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI: “…A secularização, que se apresenta nas culturas como um
delineamento do mundo e da humanidade sem referência à Transcendência, impregna todos os aspectos da vida quotidiana e desenvolve uma
mentalidade em que Deus se tornou total ou parcialmente ausente da existência e da consciência do homem. Esta secularização não é apenas
uma ameaça externa para os fiéis, mas já se manifesta há muito tempo no seio da própria Igreja. Desnatura a partir de dentro e em profundidade
a fé cristã e, por conseguinte, o estilo de vida e o comportamento quotidiano dos fiéis. Eles vivem no mundo e são muitas vezes marcados, se
não condicionados, pela cultura da imagem que impõe modelos e impulsos contraditórios, na negação prática de Deus: já não há necessidade de
Deus, nem de pensar nele e de voltar para Ele. Além disso, a mentalidade hedonista e consumista predominante favorece, tanto nos fiéis como
nos pastores, uma deriva na superficialidade e um egocentrismo que prejudica a vida eclesial. A "morte de Deus", anunciada nos séculos
passados por muitos intelectuais, cede o lugar a um estéril culto do indivíduo. Neste contexto cultural, há o risco de cair numa atrofia espiritual e
num vazio do coração, às vezes caracterizados por formas sucedâneas de pertença religiosa e de vago espiritualismo.…” (Discurso à Assembleia
plenária do Pontifício Conselho para a Cultura. 8 mar. 2008. Disponível em: http://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2008/march/documents/hf_ben-xvi_spe_20080308_pc-cultura.html Acesso em 14 maio 2020).

- Os “outros gentios” são ignorantes, ou seja, não têm qualquer conhecimento das coisas espirituais,
nem sequer cogitam a respeito das coisas relativas a Deus e à eternidade. Como diz o salmista, são
“néscios” e toda a sua cogitação é que “não há Deus” (Sl.14:1; 53:1) e, reforçamos aqui, não se trata apenas
de pessoas que não acreditam que Deus exista, os ateus professos, mas também os “ateus práticos”, ou seja,
aqueles que, embora digam acreditar em Deus, vivem como se Deus não existisse, na medida em que nunca

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se preocupam em agradar a Deus ou saber qual é a vontade de Deus nas atitudes e decisões que tomam ao
longo da vida.

- Aliás, Davi, tanto no Sl.14 quanto no Sl.53, é explícito ao mostrar que esta ignorância leva à corrupção
moral, à degeneração causada pelo predomínio do pecado nas relações humanas.

- Esta falta de busca a Deus, esta ignorância e indiferença com relação às coisas relativas ao reino de Deus e
à sua justiça gera o que o apóstolo Paulo chama de “dureza do coração”. Em Romanos, o apóstolo já
observara que quando o homem se recusa a glorificar a Deus, dando-Lhe o devido louvor e adoração, o
resultado é que acabam se desvanecendo em seus discursos, confundindo a realidade com a sua linguagem e
isto gera o obscurecimento da insensatez do seu coração, e, em vez da sabedoria (que se inicia com o temor
do Senhor - Sl.111:10; Pv.9:10), temos a loucura e, a partir daí, um aumento na corrupção da humanidade
(Rm.1:21-23).

- Esta corrupção generalizada, este “abismo após outro abismo” é mencionado por Paulo também na carta
aos efésios, quando diz que os “outros gentios”, na ignorância e dureza de coração, perdem todo o
sentimento, entregando-se à dissolução para, com avidez, cometerem toda impureza (Ef.4:19).

- Esta dureza de coração que se segue à ignorância tem sido, lamentavelmente, uma característica que muito
tem exsurgido na vida de muitos que cristãos se dizem ser, porque muitos se tem deixado insensibilizar
espiritualmente em virtude da influência que estão a receber dos meios de comunicação de massa, da mídia
que, como é sabido, está a servir aos interesses do espírito do anticristo, do mistério da injustiça. Há uma
verdadeira “engenharia social” que procura tornar “comum”, “normal” e “aceitável” tudo quanto viola a sã
doutrina e isto tem tido muito resultado nos últimos tempos, inclusive no sistema educacional. Sejamos
vigilantes para que não venhamos a ter este coração duro, espiritualmente embrutecido e que gerará uma
insensibilidade espiritual tal que nos levará à entrega à dissolução e ao cometimento de toda sorte de
impureza. Não é à toa, aliás, que a pornografia tem se disseminado entre os que cristãos se dizem ser, por
exemplo.

- Os “outros gentios” são chamados pelo apostolo de “velho homem”, que se corrompe pelas
concupiscências do engano (Ef.4:22), que deve ser passado para aquele que agora está a pertencer à Igreja.

- Não há, pois, qualquer possibilidade de manutenção de uma “vida dupla”, ou seja, que alguém seja, ao
mesmo tempo, ativamente, “velho homem” e “novo homem”, já que o “velho homem” diz respeito ao
“trato passado” (Ef.4:22). Aqui, a palavra “trato” é “anastrophé” (άναστροφή), cujo significado é
“comportamento-conversa” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete
391, p.2065). Tem de haver modificação na conduta, no comportamento quando somos salvos por Cristo.

- Notemos que o apóstolo diz que nós devemos “nos despojar do velho homem”, a indicar que este “velho
homem” não desaparece, não é destruído, fica apenas inibido, cerceado, como diz Paulo em Gálatas,
crucificado (Gl.5:24).

- “Despojar” é a palavra grega “apotithemi” (άποτίθημι), cujo significado é “colocar de lado (em sentido
literal ou figurado), lançar fora, colocr à parte (ao lado, de fora), jogar para longe (para fora), postergar”
(Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 391, p.2088). Devemos, pois,
“colocar do lado de fora” de nossas vidas o “velho homem”, não lhe dar mais lugar, deixa-lo à parte de
nosso dia-a-dia, ainda que ele esteja ali ainda presente e existente, até que, no dia da glorificação, seja ele,
por fim, completamente desfeito (Rm.6:6).

- Para que consigamos nos despojar do velho homem, torna-se preciso que “aprendamos de Cristo”
(Ef.4:20). O apóstolo aqui mostra, claramente, que não há como nos mantermos em santidade se não
tivermos um contínuo e ininterrupto discipulado, se não tivermos ao Senhor Jesus como nosso Mestre.

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- Eis o porquê da luta incessante do maligno contra o estudo da Palavra de Deus, contra a meditação nas
Escrituras, contra a nossa vida de oração, contra a Escola Bíblica Dominical. Quando nos mantemos em
comunicação com Jesus, Ele, que é Mestre por excelência, sempre nos ensinará, fará com que o Espírito
Santo nos lembre de Seus ditos e, deste modo, aprendendo a Cristo, teremos acesso à verdade que n’Ele está
e não seremos enganados, podendo, então, nos revestir do novo homem que, segundo Deus, é criado em
verdadeira justiça e santidade (Ef.4:20,24).

II – O CONTRASTE ENTRE O VELHO E O NOVO HOMEM

- Depois de dizer que temos de nos despojar do velho homem, Paulo começa a mostrar o que é “vestir-se do
novo homem”, fazendo um contraste entre o “trato passado” e o comportamento que agora tem de ter o
membro do corpo de Cristo.

- A primeira orientação que o apóstolo dá é que se deixe a mentira e se fale a verdade cada um com o
seu próximo, porque somos membros uns dos outros (Ef.4:25).

- Aqui se tem uma verdade bíblica que, muitas vezes, é ignorada, qual seja, a absoluta necessidade que
temos de ter cuidado de nunca mentirmos, o danosíssimo efeito da mentira na vida espiritual.

- Quando se fala em pecado, em gravidade de pecado, pouquíssimas pessoas se lembram da mentira,


considerando que “pecados graves” são o homicídio, o adultério, a prostituição. No entanto, se bem
analisarmos, na relação que se faz dos que ficarão fora da cidade santa, somente um pecado é mencionado
que exclui tanto quem o pratica quem o ama, precisamente a mentira, a mostrar como é enorme a sua
gravidade (Ap.22:15).

- Como se isto fosse pouco, o diabo é chamado de “o pai da mentira” (Jo.8:44) e a mentira é considerada
como sendo algo próprio e peculiar do inimigo, de modo que não há nada mais deletério e típico do maligno
que a mentira, daí porque termos de ser extremamente vigilantes para não a acolhermos em nossas vidas.

- A verdade é essencial para que não só mantenhamos um relacionamento com Deus, visto que Deus é
a verdade (Jr.10:10) e quem mente tem algo próprio do inimigo e o diabo nada tem em comum com o
Senhor Jesus (Jo.14:30), mas também um relacionamento com o próximo, pois o apóstolo nos adverte
que, por sermos membros uns dos outros, temos de falar a verdade.

- Paulo, mesmo, ainda nesta carta, vai mostrar que uma das armas que o crente deve ter na sua luta contra o
maligno é o “cinturão da verdade” (Ef.6:14), o que nos ensina que, sem a verdade, não temos condição
alguma de nos movimentarmos com segurança na batalha espiritual, em nossa jornada para o céu.

- Outra verdade decorrente desta primeira orientação dada pelo apóstolo sobre o “trato presente” do servo do
Senhor é que somos membros uns dos outros. Em I Co.12:27, é dito que somos “membros em particular
do corpo de Cristo”.

- Esta realidade é figurada, na celebração da ceia do Senhor, pelo partir do pão (daí a necessidade de tal
partir se realizar na celebração, devendo ser rechaçada toda inovação de já entregar o pão sem que tenha
sido ele partido, como se vê ultimamente), que nos mostra que somos “partes do corpo de Cristo” e, como
tal, dependemos uns dos outros, não podemos viver espiritualmente sem que haja esta salutar convivência
entre as pessoas.

- Este fato de sermos membros uns dos outros tem sido abandonado por muitos neste mundo cada vez
mais individualista em que vivemos. Devemos tomar cuidado para que não sejamos presa deste
individualismo, que é característica dos tempos trabalhosos (I Tm.3:1-5). A igreja tem, como um de seus
pilares, a comunhão (At.2:42,46) e sem ela, que existe contato real, não se pode construir corretamente o
corpo de Cristo.

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- Toda esta “onda de desigrejados” que tem matado a fé de muitos está baseada neste individualismo e não
podemos deixar de observar que há, por detrás de todo o tratamento que se está dando à pandemia do
COVID-19, uma agenda tendente a gerar um distanciamento social permanente entre as pessoas, que, em
termos de igreja, representará a eliminação desta comunhão. Não podemos permitir isto!/

- Em seguida, o apóstolo diz que o novo homem, o salvo deve se irar mas não pecar, não pondo o sol
sobre a sua ira (Ef.4:26). É, sem dúvida, um dos versículos que causam muitas polêmicas e surpresa,
porquanto se sabe que a ira é “obra da carne” (Gl.5:20). Como, pois, pode o apóstolo mandar que o salvo se
ire?

- A palavra constante do texto é “orgidzo” (όργίζω), cujo significado é “provocar ou enfurecer, i.e.,
(passiva), exasperar-se – estar irado, furioso” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo
Testamento, verbete 3710, p.2325). Em Gl.5:21, quando se fala da “obra da carne”, a palavra é outra,
“thymos” (θιμός), cujo significado é “paixão (como se respirando forte ou pesado):-violência, indignação,
ira.…” (op.cit., verbete 2372, p.2235).

- Vemos, então, que o apóstolo diz que o salvo, ao ver o pecado e a maldade, por já ser participante da
natureza divina (II Pe.1:4), fica indignado, furioso, não compactua com a prática da iniquidade, e isto
não pode ser evitado, porque agora é um servo de Cristo, alguém que, como tem o amor de Deus, não folga
com a injustiça, mas folga com a verdade (I Co.13:6).

- No entanto, este sentimento que nasce em si, no seu interior, como consequência da sua própria
santidade, que o faz abominar o pecado, não pode dar ensejo a que se tomem atitudes maldosas ou
pecaminosas. A indignação do salvo com o pecado não pode levá-lo a pecar, a tomar atitudes violentas.
Quem o faz é aquele que ainda está sob o domínio do pecado. Este sentimento de indignação não pode ser
acalentado e nutrido a ponto de se tomar a iniciativa de “fazer justiça com as próprias mãos”, o que, isto sim,
representará o renascimento do “velho homem”. É por isso que o apóstolo diz para que não se ponha o sol
sobre a ira.

- Dentro deste mesmo pensamento, o apóstolo diz que não se deve dar lugar ao diabo. Pôr o sol sobre a ira
é, sem dúvida, uma forma de se dar lugar ao diabo. Dar espaço ao diabo é permitir que o inimigo inicie ou
dê prosseguimento exitoso ao processo da tentação.

- Todos nós estamos sujeitos à tentação. Não há qualquer ser humano que escape deste processo. O
próprio Senhor Jesus foi tentado pelo diabo em tudo (Hb.4:15). Assim, não é possível que peçamos a Deus
que não sejamos tentados, mas, quando vier a tentação, não podemos dar lugar ao diabo, não podemos
permitir que ele prossiga com seus ardis, pois a conclusão de um processo de tentação será sempre o pecado
e, com ele, a morte (Tg.1:13-15). Precisamos ser vigilantes para não entrarmos em tentação (Mt.26:41;
Mc.14:38). Não dar lugar ao diabo é aspecto essencial desta vigilância.

- Em seguida, Paulo orienta aos salvos para que não furtem, mas, antes, trabalhe, fazendo com as
mãos o que é bom para que tenha o que repartir com quem tiver necessidade (Ef.4:28).

- O salvo é uma pessoa que tem o trabalho como único meio admissível de subsistência e de
apropriação de bens sobre a face da Terra. O apóstolo aqui, a exemplo do que fez o Senhor Jesus no
sermão do monte, dá uma amplitude maior a um mandamento da lei mosaica. Furtar não é apenas subtrair o
bem de alguém, mas obter qualquer bem por meio de um expediente que não seja o próprio trabalho.

- Entre os “outros gentios”, o trabalho era considerado algo deplorável, que devia ser evitado a todo custo. A
cultura grega menosprezava o trabalho, que era considerado algo inferior e indigno. A cultura mundana não
é diferente. Quantos não têm como absoluto desejo na vida poder viver sem trabalhar? Quantos não veem
nesta situação a felicidade?

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- No entanto, o membro do corpo de Cristo deve ser semelhante ao seu Senhor e Mestre, que era
alguém experimentado nos trabalhos (Is.53:3), que fazia questão que, a exemplo de Seu Pai, trabalhava
ininterruptamente (Jo.5:17). Bem disse, certa feita, o ex-chefe da Igreja Romana, Paulo VI (1897-1978), que
a mais longa lição que Jesus deixou sobre a face da Terra foi a lição do trabalho, pois atuou como
carpinteiro em Nazaré durante pelo menos 18 dos seus 33 anos de vida.
OBS: “…Lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", como gostaríamos de entender e celebrar aqui a severa e redentora lei
da fadiga humana; recomponha aqui a consciência da dignidade do trabalho; lembre-se aqui de que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo
e como, quanto mais livre e superior ele é, tanto será, além do valor econômico, os valores que tem como fim; cumprimente os trabalhadores de
todo o mundo aqui e indique seu grande colega, seu irmão divino, o Profeta de toda justiça para eles, Jesus Cristo, nosso Senhor!…” (Paulo VI.
Discurso durante visita à Basílica da Anunciação em Nazaré. 5 jan. 1964. Disponível em: http://www.vatican.va/content/paul-
vi/es/speeches/1964/documents/hf_p-vi_spe_19640105_nazareth.html Acesso em 15 maio 2020) (tradução pelo Google de texto em espanhol).

- Além de o trabalho ser tido como único meio admissível de apropriação de bens e de sobrevivência, o
apóstolo ensina-nos também que o trabalho não deve ser visto tão somente como meio para nosso
sustento, mas, também, para sustento do próximo, a nos mostrar que jamais devemos buscar o próprio
enriquecimento, o acúmulo de bens de forma egoística, mas lembrarmos que eventual prosperidade material
que venhamos a ter deve ser dirigida ao suprimento de necessidades.

- A terceira orientação dada pelo apóstolo é que o salvo não pode ter palavra torpe alguma saindo de sua
boca, mas só a que for boa para a sua edificação, para que dê graça aos que a ouvem (Ef.4:29), ou seja,
manda que tenhamos nossa língua controlada pelo Espírito Santo, algo que também foi objeto de
ensinamento de Tiago, que nos mostra que a língua é o membro mais rebelde do ser humano (Tg.3:1-12).

- Como bem diz o pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das videoaulas de EBD na internet, tanto
a língua é a maior resistência do homem ao domínio divino que o revestimento de poder, que é o instante em
que o Espírito Santo domina plenamente o homem, tem como evidência inicial precisamente o falar em
línguas estranhas, ou seja, a demonstração de que até a língua está sob completo controle do Espírito de
Deus.

- Entretanto, devemos lembrar que a língua aqui simboliza algo bem maior, que é o próprio coração do
homem, pois o Senhor Jesus nos ensina que a boca é reflexo do que existe no interior do ser humano: “Mas
o que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem” (Mt.15:18).

- A boca revela o que há no coração e, num coração circuncidado por Cristo (Cl.2:11), não pode haver
palavra torpe, sendo que o vocábulo grego para “torpe” é “sapros” (σαπρος), cujo significado é “podre, i.e.,
sem valor (literal ou moral):- mau, corrupto” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo
Testamento, verbete 4550, p. 2389).

- Assim, não se trata apenas de não falar palavras obscenas, os conhecidos “palavrões”, como se
entende normalmente, mas, sim, de nunca proferir palavras que tenham por objetivo o mal do
próximo, que não seja movida pelo amor, que não tenha origem na comunhão que nosso ser tem com
Deus. Por isso, o apóstolo fala que somente devemos proferir palavras que contribuam para a edificação,
que tenham a graça de Deus.

- Devemos ter muito cuidado com o nosso falar. Não podemos permitir que a nossa língua seja utilizada
pelo maligno, lembrando que o falar em desacordo com a vontade divina revela algo muito mais profundo:
uma falta de comunhão entre nós e o Senhor. Que Deus nos guarde!

- Em seguida, Paulo diz que não devemos entristecer o Espírito Santo de Deus, no qual estamos selados
para o dia da redenção (Ef.4:30). Num estudo anterior, já vimos como esta orientação do apóstolo
reafirma o seu ensino de que nosso alvo é a glorificação, que ocorrerá no arrebatamento da Igreja, uma das
“verdades pentecostais” preconizadas nesta carta aos efésios, de modo que sobre isto não iremos aqui
discorrer.

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- Entretanto, Paulo nos mostra que a sua compreensão do “mistério de Cristo” é a de uma profunda amizade
entre o salvo e o Senhor Jesus, entre a Igreja e o seu Amado, relacionamento este que o apóstolo, mais à
frente, na epístola, irá figurar pelo casamento.

- Como temos a esperança da glorificação, como estamos a esperar o dia da redenção, temos como
alvo, como objetivo não entristecer o Espírito Santo de Deus. Esta é a única passagem das Escrituras em
que a Terceira Pessoa é assim denominada. Temos de entender que a Pessoa divina que nos convenceu do
pecado, da justiça e do juízo e que está em nós como garantia de que iremos morar nos céus, é santo e é de
Deus, ou seja, temos de manter uma vida separada do pecado e lembrar que Ele é Deus e que devemos Lhe
ser obedientes e submissos.

- A palavra grega aqui é “lypeo” (λυπέω), que a Bíblia de Estudo Palavras-Chave diz que significa “afligir,
angustiar, reflexiva ou passiva, estar triste:- provocar pesar, angustiar, afligir, estar angustiado, tristeza,
entristecedor, causar tristeza…” (Dicionário do Novo Testamento, verbete 3076, p.2288). Notamos, pois,
que o apóstolo está dizendo que nossas ações não podem angustiar, provocar tristeza no Espírito Santo.

- Deus sempre respeita o livre-arbítrio humano. Ele jamais Se contradiz e, se criou o homem com a liberdade
de escolha, sempre permitirá que o homem faça uso desta faculdade. Assim, mesmo quando é contrariado, o
Senhor não impede que o homem tome atitudes erradas. Cabe a nós termos como objetivo, razão de ser da
nossa vida procurar agradar e alegrar o Espírito Santo com a nossa conduta.

- Paulo podia dar esta orientação pois ele era um exemplo. Aos gálatas, mesmo, havia dito que jamais
procurara agradar aos homens, mas tão somente a Cristo (Gl.1:10). E quem busca agradar a Cristo, agrada
ao Espírito Santo, que tem como uma de Suas tarefas aqui glorificar o Filho (Jo.16:14).

- Precisamos andar segundo o espírito se somos verdadeiramente filhos de Deus (Rm.8:1,5,9,13,14) e andar
segundo o espírito é ser guiado pelo Espírito Santo, é agradar-Lhe, é ter a inclinação do Espírito, que é vida
e paz, ou seja, uma vida de comunhão com o Senhor (vida) e de unidade cada mais intensa entre nós e o
Senhor (paz) (Rm.8:6).

- A propósito, como ensina o pastor José Serafim de Oliveira, escritor e colaborador do Portal Escola
Dominical, um dos requisitos para ser arrebatado é alcançar testemunho de que agrada a Deus, pois foi por
isto que Enoque, figura dos que são arrebatados, foi trasladado para não ver a morte (Hb.11:5).

- Andando segundo o espírito, estamos de acordo com o Espírito Santo, tanto que Ele testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus (Rm.8:16) e dois somente podem andar juntos se estiverem de acordo
(Am.3:3).

- Quando estamos de acordo com o Espírito Santo, não temos amargura, ira, cólera, gritaria,
blasfêmias e malícia em nós, sendo atitudes que estão completamente ausentes na vida daqueles que
servem ao Senhor e estão caminhando para o céu (Ef.4:31).

- A amargura é algo que deve ser completamente evitado pelo salvo, pois ela pode nos privar da graça
de Deus (Hb.12:15). Lembremos que o Espírito Santo desceu sobre o Senhor Jesus no dia do Seu batismo na
forma de pomba, ave que tem como característica peculiar precisamente não ter fel, ou seja, ao contrário de
outros animais, não produz este líquido amargo, a nos mostrar, pois, que o Espírito Santo é despido de
amargura e a amargura nos separará do Paráclito.

- A amargura é um sentimento resultante de um ressentimento, de uma contrariedade que não é


superada porque o ego se sobrepõe, porque não há renúncia. Entretanto, o servo de Deus é alguém que
renuncia a si mesmo e, portanto, jamais permite que o ego prevaleça e gere amargura diante de uma
contrariedade.

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3º Trim. de 2020: A IGREJA ELEITA: redimida pelo sangue de Cristo e selada com o
Espírito Santo da promessa

- A ira e a cólera já foram tratadas há pouco. São condutas que demonstram um desequilíbrio emocional
e espiritual, atitudes que levam as pessoas a desejar o mal de quem as contraria, comportamento que é
em tudo inverso à natureza divina da qual nos tornamos participantes com a salvação. A iniciativa de
nossas ações deve sempre visar o bem do próximo, sabendo que a justiça e a vingança cabem unicamente ao
Senhor (Dt.32:35; Rm.12:19; Hb.10:30).

- A gritaria mencionada pelo apóstolo é a palavra grega “kraugé” (κραυγή), “…um clamor (em notificação,
tumulto ou pesar):- clamor, choro” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Novo Testamento,
verbete 2906, p.2274). Nota-se, portanto, que se está diante de uma atitude de desespero, de descontrole,
ou seja, uma postura de quem não demonstra confiança em Deus como também não tem autodomínio,
enfim, indivíduos que não produzem o fruto do Espírito, mas, sim, estão completamente dominados pela
carne, pela natureza pecaminosa.

- Isto nos faz lembrar de ensino do saudoso pastor Walter Marques de Melo, que cooperava com o Estudo
dos Professores da EBD na sede do Ministério do Belém, que sempre se referia a esta passagem bíblica,
mostrando que a “gritaria” é o descontrole, o desequilíbrio nas atitudes, a falta de moderação, que,
lamentavelmente, tem sido uma tônica na vida de muitos que cristãos se dizem ser. Tomemos cuidado!

- Vivemos dias em que está a faltar momentos de quietude, de reserva, em memio a uma agitação que é cada
vez mais e que somente contribui para este descontrole, que não é comportamento que se espera de um servo
do Senhor. Lembremos que, apesar da intensidade de Seu ministério, o Senhor Jesus sempre tinha momentos
diários de silêncio, oração, meditação. Imitemos o Senhor.

- As blasfêmias são os vilipêndios, as ofensas dirigidas contra Deus, as palavras maledicentes e


desonradas dirigidas ao Senhor. É evidente que um servo do Senhor jamais desrespeitará ou desonrará o
seu Senhor e, se o fizer, está demonstrando claramente sua insubmissão e rebeldia. Notemos que a
irreverência, tão comum entre alguns que cristãos se dizem ser, é o primeiro passo rumo à blasfêmia, que,
lamentavelmente, tem sido tão presente em diversas manifestações em nossa sociedade, algo que só tem
aumentado nos últimos tempos.

- Ao mesmo tempo que um salvo não pode apresentar estas condutas abomináveis, o apóstolo diz que, bem
ao contrário, o salvo deve demonstrar uns para com os outros benignidade, misericórdia e perdão, até
porque Deus nos perdoou em Cristo (Ef.4:32).

- Aqui o apóstolo repete os ensinos de Jesus que mostram que o perdão divino em relação a nós está
condicionado ao perdão que dermos ao próximo. A nossa salvação é fruto da benignidade e da
misericórdia de Deus. Deus nos quer bem, é benigno (Sl.145:8; I Pe.2:3) e, por isso mesmo, devemos
querer bem a todos os homens, inclusive aos nossos inimigos.

- Deus é misericordioso (Ex.22:27; Dt.4:31II Cr.30:9; Ne.9:17,31; Sl.103:8; 111:4). Nesta mesma carta aos
efésios, o apóstolo diz que Ele é riquíssimo em misericórdia (Ef.2:4). Também devemos ser misericordiosos
e misericórdia é a prática do bem mediante a compaixão, ou seja, pornôs colocarmos no lugar do outro,
sentirmos a sua miséria, praticamos o bem e isto nos faz ver que o Senhor está particularmente interessado
em nosso relacionamento para com os incrédulos, para com os ímpios, porque são eles que se encontram em
situação miserável, como descreveu o próprio Paulo ao aludir à situação do homem no pecado (Ef.2:1-3) e
dos “outros gentios” (Ef.2:11,12; 4:17-19).

- Por fim, como já dissemos, o apóstolo manda que lembremos que fomos perdoados por Deus e, por isso,
devemos perdoar uns aos outros, dentro da mesma linha adotada por Nosso Senhor seja ao nos ensinar a orar
(Mt.6:14,15), seja ao nos ensinar a parábola do credor incompassivo (Mt.18:23-35).

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3º Trim. de 2020: A IGREJA ELEITA: redimida pelo sangue de Cristo e selada com o
Espírito Santo da promessa
- A falta de perdão, o rancor, o ressentimento geram a amargura e todos os males de que já tratamos
neste estudo.

- Podemos dizer, à luz desta descrição do velho e do novo homem, que realmente somos salvos e estamos
marchando para os céus? Pensemos nisto.

Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Caramuru Afonso Francisco

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