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USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA

ALVES, Paula Francine Sarti1


1
Acadêmica em Farmácia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT

MORAES, Francine Campolim2


2
Docente da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT

RESUMO
A fibromialgia é uma doença crônica, que causa dor generalizada no sistema musculoesquelético,
caracterizada por pontos de sensibilidade dolorosa. A Cannabis sativa L. possui mais de 500
compostos, dos quais mais de 100 são canabinoides, destacando-se o THC, CBD e CBN, utilizados
na maioria dos medicamentos já existentes e que atuam no sistema endocanabinoide, com
receptores amplamente distribuídos no organismo e responsáveis por várias funções fisiológicas. O
tratamento farmacológico convencional existente é muitas vezes ineficaz, com muitos efeitos
colaterais, motivo pelo qual existem diversos estudos indicando os possíveis benefícios da utilização
da cannabis isoladamente ou em associação com os tratamentos convencionais para a fibromialgia.
O objetivo desta pesquisa foi apresentar estudos demonstrando o potencial da cannabis no
tratamento da fibromialgia. Este trabalho teve como procedimento metodológico o estudo de revisões
bibliográficas de bancos de dados como Bireme, Pubmed e Scielo, publicados entre 2016 e 2019,
durante os meses de Fevereiro e Março de 2020. Os estudos encontrados mostraram o efeito
benéfico da cannabis em dores crônicas associadas a diversas patologias, incluindo a fibromialgia.
Foi possível concluir que a cannabis possui grande potencial como analgésico, exigindo estudos mais
aprofundados para se consolidar como alternativa no arsenal terapêutico para tratamento da
fibromialgia.
Palavras-chave: Fibromialgia, fisiopatologia, dor, Cannabis sativa, canabinóides.

Linha de pesquisa: Práticas integrativas e Complementares em saúde.

ABSTRACT
Fibromyalgia is a chronic disease that causes generalized pain in the musculoskeletal system,
characterized by points of painful tenderness. Cannabis sativa L. has more than 500 compounds, of
which more than 100 are cannabinoids, with emphasis on THC, CBD and CBN, used in most of the
existing drugs that act in the endocannabinoid system, with receptors widely distributed in the body
and responsible for various physiological functions. The existing conventional pharmacological
treatment is often ineffective, with many side effects, which is why there are several studies indicating
the possible benefits of using cannabis alone or in combination with conventional treatments for
fibromyalgia. The objective of this research was to present studies demonstrating the potential of
cannabis in the treatment of fibromyalgia. This work had as methodological procedure the study of
bibliographic revisions of databases such as Bireme, Pubmed and Scielo, published between 2016
and 2019, during the months of February and March 2020. The studies found showed the beneficial
effect of cannabis on chronic pain associated with several pathologies, including fibromyalgia. Thus, it

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was possible to conclude that cannabis has great potential as an analgesic, requiring further studies to
consolidate itself as an alternative in the therapeutic arsenal for treatment of fibromyalgia.
Keywords: Fibromyalgia, pathophysiology, pain, Cannabis sativa, cannabinoids.

1. INTRODUÇÃO

A espécie medicinal Cannabis (Cannabis sativa L.) possui mais de 500


compostos químicos, onde mais de 100 são canabinoides, principais compostos
químicos ativos da planta com efeitos farmacológicos, podendo indicar ser uma
alternativa para o tratamento de fibromialgia (OLIVEIRA, 2019).
Os canabinoides atuam no alívio da dor por meio de uma variedade de
mecanismos: efeitos analgésicos e antiinflamatórios diretos, modulação de
neurotransmissores e sinergismo com opioides endógenos e exógenos
potencializando sua ação analgésica (RIBEIRO et al., 2019).
Já está bem documentado o efeito da Cannabis no tratamento da dor crônica,
esclerose múltipla, transtorno de estresse pós-traumático, câncer e epilepsia. Tanto
que nos Estados Unidos, pacientes portadores de dores crônicas e que não
conseguem ser tratados com fármacos convencionais, podem ser incluídos em
programas para tratamento com Cannabis (“Medical Cannabis Programs”)
(CORRÊA et al., 2019).
A fibromialgia é um quadro clínico crônico, de difícil diagnóstico pela ausência
de marcador clínico, caracterizado pela prevalência de dores generalizadas, pontos
dolorosos com sensibilidade à palpação e livre de processos inflamatórios articulares
ou musculares (HEYMANN et al., 2017).
Além da dor, provoca vários outros sintomas, como rigidez matinal, fadiga,
alterações no sono, dor de cabeça, transtornos comportamentais, ansiedade e
depressão (PERNAMBUCO et al., 2014).
As classes de medicamentos mais indicadas para o tratamento dessa
patologia são os antidepressivos tricíclicos, os benzodiazepínicos, os inibidores da
receptação da serotonina, analgésicos, anti-inflamatórios não esteroidais,
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neuromoduladores, miorrelaxantes e anticonvulsivantes, muitas vezes ineficazes
para tal patologia (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018).
A Cannabis medicinal se apresenta como uma opção terapêutica promissora
aos portadores de fibromialgia, pela eficácia demonstrada contra dor aguda e
crônica, com poucos efeitos colaterais graves, porém existem poucos ensaios
clínicos em larga escala demonstrando seus efeitos na fibromialgia, sendo estes de
curta duração, exigindo estudos mais aprofundados (SAGY et al., 2019).
Essa pesquisa tem como objetivo apresentar estudos relatando a utilização da
cannabis no tratamento da fibromialgia, através do estudo de revisões de literatura
publicadas entre 2016 e 2019, encontradas em bancos de dados como Pubmed,
Scielo e Bireme, durante os meses de fevereiro e março de 2020, utilizando as
seguintes palavras-chave: Fibromialgia, fisiopatologia, Cannabis sativa, canabidiol,
canabinoides, endocanabinoides e dor.

2. DESENVOLVIMENTO

A dor afeta 15% da população mundial, com maior prevalência entre idosos
(48% a 83%). No Brasil, temos 51,44% de afetados com este sintoma, evidenciando
um problema de saúde pública e podendo ou não se relacionar a outra patologia.
Diversas culturas utilizavam a Cannabis sativa em diversos fins terapêuticos, até que
a droga caiu em desuso, por não se conhecer integralmente seu mecanismo de
ação (CORRÊA et al., 2019).
A percepção da dor é resultado de um processo de nocicepção, que envolve
diversas etapas: a recepção do estímulo, a transdução (lesão periférica que envia
impulsos elétricos por nervos nociceptivos), transmissão (lesão pós-nervosa dos
aferentes nociceptivos), modulação (segmento da medula espinhal ao cérebro para
determinar a dor), por fim gerando a percepção da dor (CORRÊA et al., 2019).
A Organização Mundial da Saúde classifica a terapia medicamentosa para dor
crônica por dois protocolos: a escala que insere analgésicos, anti-inflamatórios,

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fármacos adjuvantes e opioides (fracos e fortes) para dores nociceptivas e mistas.
Para dor crônica neuropática, utiliza-se antidepressivos tricíclicos e antiepiléticos
(BRASIL, 2012).
Os opioides são excelentes analgésicos, fornecendo melhora nos níveis de
dor, sendo muito utilizados no tratamento da dor oncológica e dor aguda intensa.
Nas últimas décadas aumentou muito a sua utilização também na dor não
oncológica crônica (60% a 70% dos casos de dor crônica), que muitas vezes não
respondem bem a outras medicações. Porém, seu uso contínuo oferece alto risco de
tolerância, ou seja, da necessidade de doses cada vez maiores para atingir o efeito
analgésico inicial, o que por sua vez favorece o surgimento de efeitos adversos
como náuseas, disfunção cognitiva, depressão respiratória, dependência química e
abuso (GÓIS, 2019).
Atualmente observamos uma epidemia de opioides, sendo necessário
alternativas de tratamento para pacientes com dor crônica e uma dessas alternativas
pode ser encontrada na cannabis (DONK et al.,2019).
A resina excretada pelas glândulas da cannabis contém uma enorme
variedade de substâncias, com mais de 500 compostos conhecidos quimicamente.
Dentre elas os terpenos formam a maior classe, seguidos dos canabinoides, sendo
estes os principais responsáveis por seus efeitos. Os canabinoides mais estudados
são o Canabidiol (CBD) e o Tetraidrocanabinol (THC). Nos últimos anos, estudos
trouxeram evidências sobre o valor terapêutico da cannabis e seus derivados para
tratar uma variedade de condições clínicas, sendo eficaz e preventivo de sintomas
induzidos pela quimioterapia (náusea e vómito) e no tratamento de esclerose
múltipla (melhoria da rigidez muscular e dor) e epilepsia (redução da frequência das
crises) (FONSECA et al., 2019).
Os estudos relacionados às propriedades e potencial terapêutico da cannabis
ganharam grande impulso a partir do isolamento do composto psicoativo, delta - 9 -
tetrahidrocanabinol (THC) em 1964. A partir daí descobriu-se o sistema
endocanabinoide (SEC) ou canabinoide endógeno que, conforme estudos clínicos
estão envolvidos na modulação da dor, propiciando assim um ponto de partida para

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o desenvolvimento de novos fármacos (LESSA; CAVALCANTI; FIGUEIREDO,
2016).
O SEC é formado por receptores canabinoides, sendo dois estudados até o
momento (CB1 e CB2). O receptor CB1 localiza-se no sistema nervoso central,
baço, suprarrenais, gânglios simpáticos, pâncreas, pele, coração, vasos sanguíneos,
pulmão, trato urogenital e trato gastrointestinal. Já o CB2 nas células do sistema
imunológico (MUÑOZ, 2015; UTOMO et al., 2017).
Os canabinoides são empregados no tratamento da dor há centenas de anos
e mesmo com estudos pré-clínicos comprovando que estes impedem a propagação
da dor, a terapia com Cannabis sativa ainda não é difundida por questões legais e
farmacológicas, por seu potencial psicotrópico, instabilidade do extrato, inconstante
absorção e insolubilidade em água. Mas as pesquisas avançam para descobrir os
efeitos dos canabinoides na neurotransmissão nociceptiva (RIBEIRO et al., 2019).
A cannabis e seus derivados podem inibir impulsos nociceptivos pela ativação
do CB1 em nível cerebral e medular e em neurônios sensoriais. Em pacientes com
dor oncológica avançada não amenizada com uso de opioides fortes, o THC e o
CBD apresentam melhor potencial analgésico, antiemético e estimulantes do apetite
se utilizados como coadjuvantes e não isolados (AVELLO et al., 2017).
O potencial terapêutico da cannabis medicinal no tratamento na dor,
especialmente em casos de difícil controle, aliado à sua segurança, pode viabilizá-la
como opção terapêutica. Os canabinoides tem proporcionado melhora de sintomas
relacionados como redução da dor neuropática, espasticidade e melhora do sono na
esclerose múltipla. A eficácia no tratamento de dor neuropática na quimioterapia
também pode ser observada, bem como em cefaleia e neuropatia orofacial, onde os
canabinoides podem reduzir efeitos dose dependente causados por opioides e anti-
inflamatórios, com efeitos colaterais e tolerância muito menores. Até o momento não
existem relatos de óbitos por overdose de cannabis (RIBEIRO et al., 2019).
A combinação de canabinoides e opioides parece ser uma abordagem
farmacológica promissora e com particular interesse para a terapia da dor. Com
diferentes mecanismos e níveis de interação do sistema canabinoide com o sistema

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opioide (liberação de endorfina, efeito poupador de opioides, redução dos
fenômenos de tolerância e abstinência de opioides e resgate da analgesia por
opioide após o fenômeno de tolerância) parece haver sinergismo farmacológico
potencializando os efeitos analgésicos de ambas, reduzindo assim as doses de
opioides sem prejuízo do efeito terapêutico, além de diminuir de maneira significativa
os efeitos adversos (LESSA; CAVALCANTI; FIGUEIREDO, 2016).
Na dor da endometriose o CBD parece ser eficaz, entre outras condições
mediadas pelo SEC, sendo documentada também atividade canabinoide em
diversas áreas mediadoras da resposta dolorosa no trato gastrointestinal (LESSA;
CAVALCANTI; FIGUEIREDO, 2016).
O THC inibe a síntese de prostaglandina e estimula a lipoxigenase, não
afetando a COX1 ou COX2, possui ação entre os dois receptores CB1 e CB2, os
outros canabinoides são seletivos, escolhendo aquele que possui maior afinidade.
Os terpenos da cannabis também possuem atividade na redução da dor, sendo que
o mirceno e pineno possuem efeito analgésico (inibem as prostaglandinas,
reduzindo a inflamação), enquanto o cariofileno tem ação anti-inflamatória como
agonista seletivo de CB2 e o linalol atua como anestésico local (RIBEIRO et al.,
2019).
Um ensaio clínico feito no México, entre abril de 2010 a outubro de 2015,
comparou 37 pacientes inscritos no “Programa Médico de Cannabis do Novo
México” (MCP) e que faziam uso de opioides para tratamento de dor crônica
(predominância de dor lombar) a 29 pacientes não inscritos no MCP. Observou-se
ao fim de 21 meses que pacientes em uso de cannabis obtiveram maiores índices
de suspensão ou redução das doses diárias de opioides, com melhoria da qualidade
de vida, redução da dor e poucos efeitos colaterais (NUGENT et al., 2017; VIGIL et
al., 2017).
Sharon et al., (2018), realizaram um estudo com 50 especialistas em dor em
Israel, destes 95% relataram que prescrevem a cannabis para tratar dores crônicas.
Entre os profissionais, 63% responderam que a eficácia da cannabis é de moderada
a alta para dores crônicas intratáveis e, sobre os efeitos colaterais, 56% relataram

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ausência de efeitos colaterais ou efeitos leves e apenas 2 (5%) avaliaram o
tratamento como prejudicial. E, em um dos poucos estudos com pacientes
portadores de esclerose lateral amiotrófica (ELA) 10% admitiram consumir cannabis,
obtendo melhora de vários sintomas, inclusive na perda de apetite, depressão e dor
(GIACOPPO; MAZZON, 2016).
Segundo Marques et al. (2017), a fibromialgia é considerada uma síndrome
reumática, de causa desconhecida, que atinge cerca de 2% a 4% da população,
sendo predominante entre mulheres. A cannabis é uma opção terapêutica
introduzida há pouco tempo para pacientes com fibromialgia insatisfeitos com
terapias convencionais em virtude da eficácia demonstrada em diversos tipos de dor
crônica. Foi levantada a hipótese de que a fibromialgia seja uma condição clínica
desenvolvida por deficiência no sistema endocanabinoide, porém o papel do sistema
canabinoide na fibromialgia ainda não está claro e a eficácia do tratamento desta
condição clínica com cannabis foi investigado apenas em alguns estudos (GIORGI
et al.,2019).
Um estudo cruzado, duplo-cego, controlado com placebo, foi realizado na
União Europeia, explorando os efeitos analgésicos da cannabis em 20 pacientes
com fibromialgia. Foram utilizados além do placebo, mais 3 medicamentos já
existentes no mercado com variedades diferentes de cannabis, como o Bedrocan,
Bediol e Bedolite. O estudo mostrou o comportamento dos canabinoides inalados
em pacientes com dor crônica com pequenas respostas analgésicas após uma única
inalação. Mais estudos são necessários para determinar efeitos a longo prazo, mas
o resultado demonstrou que, em comparação com placebo, a cannabis obteve
melhor resposta analgésica em dores espontâneas (DONK et al., 2019).
Na Itália, 66 pacientes portadores de fibromialgia sem resposta a tratamento
padrão, foram tratados com medicamentos à base de Cannabis sativa L. por 6
meses, com variações de doses, sendo ainda desconhecidas as concentrações
moleculares de THC e CBD, onde os pacientes continuaram ou não com algum
tratramento analgésico concomitante. A taxa de retenção do estudo foi de 64%, e
6% de abandono por efeitos adversos. Observou-se melhora na qualidade do sono

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(44%), da ansiedade e depressão (50%) e cerca de um terço apresentou eventos
adversos leves (Figura 1). O estudo mostrou que a taxa de retenção e terapia
analgésica concominante influencia na qualidade de vida destes pacientes, sendo
necessário estabelecer posologia e duração apropriadas (GIORGI et al., 2019).

Figura 1: Frequência de eventos adversos

Fonte: (GIORGI et al., 2019, p. S58).

Outro estudo no tratamento de Fibromialgia com a cannabis foi realizado em


Israel, com dados obtidos em dois hospitais: Hospital Laniano e Hospital Nazareth,
por um período de três meses com 26 pacientes, onde nenhum destes abandonou o
tratamento. O uso da cannabis foi diversificado, sendo utilizada na forma fumada,
inalada, ou gotas de óleo oral e foi permitido também o uso concomitante de outros
fármacos para controle da dor, mas 50% dos pacientes deixaram de tomar qualquer
outra medicação e 46% reduziram a dose de outras medicações. Todos os
pacientes tiveram melhora na dor, qualidade de vida e poucos efeitos colaterais. O
tratamento foi feito com doses de até um grama ao dia, após o estudo os pacientes
continuaram o uso, pois relataram melhora na qualidade de vida (HABIB, ARTUL,
2018).
Um estudo observacional inovador em uma grande coorte com 6 meses de
acompanhamento realizado em Israel, com 367 pacientes de fibromialgia iniciaram
o tratamento com cannabis medicinal. Durante os 6 meses de acompanhamento, 35
pacientes tiveram alta, 28 interromperam o tratamento, 4 mudaram de fornecedor e
2 morreram. Os resultados indicaram que a maconha medicinal pode ser uma opção
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terapêutica promissora para o tratamento da fibromialgia, devendo ser considerada
principalmente para aqueles que não responderam ao tratamento padrão. Mostrou
ser eficaz e segura, além de apresentar baixas taxas de dependência e poucos
efeitos adversos (especialmente comparados aos opioides). O estudo também
destaca a necessidade de mais pesquisas para identificar o efeito da cannabis em
outras condições clínicas associadas à fibromialgia, e estudos comparativos entre a
cannabis e outros medicamentos utilizados no tratamento da fibromialgia,
confirmando seu lugar no arsenal terapêutico. De acordo com as imagens 2, 3 e 4
abaixo são notáveis a mudança da qualidade de vida, intensidade da dor e efeitos
gerais da Cannabis (SAGY et al., 2019).

Figura 2: Qualidade de vida dos pacientes antes e depois do tratamento com Cannabis.

Fonte: (SAGY et al., 2019, p.7).

Figura 3: Intensidade da dor: Antes do início do tratamento 193 pacientes (52,5%) relataram alto nível
de dor e após 6 meses de acompanhamento apenas 19 pacientes (7,9%) relataram dor.

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Fonte: (SAGY et al., 2019, p.7).

Figura 4: Análise de eficácia da Cannabis: O sucesso do tratamento foi alcançado em 194 dos 239
pacientes (81,1%) com melhora moderada sem efeitos adversos graves.

Fonte: (SAGY et al., 2019, p.6).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fibromialgia é uma doença crônica sem causas definidas e tratamento


específico, sendo este, individualizado e exclusivamente sintomático, valendo-se de
medicamentos muitas vezes ineficazes e que causam muitos efeitos colaterais e
danos à qualidade de vida dos pacientes, portanto faz-se necessário a busca pelo
desenvolvimento de novos fármacos. Não se busca a cura, mas sim a redução da
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dor, melhora da funcionalidade, da autonomia pessoal e qualidade de vida dos
portadores de fibromialgia.
Neste estudo apresentamos diversos estudos que demonstram a importância
da Cannabis sativa L. no tratamento de várias patologias, principalmente em casos
de dores crônicas, obtendo-se excelentes resultados e poucos eventos colaterais,
sendo estes considerados de baixa gravidade, mostrando ser um tratamento mais
vantajoso quando comparado a tratamentos convencionais. A cannabis atua no
sistema endocanabinoide, promovendo alívio da dor e melhoria da qualidade de
vida, por meio de uma variedade de mecanismos e alvos farmacológicos, com
efeitos analgésicos e anti-inflamatórios diretos e indiretos.
Com relação ao tratamento da fibromialgia, todos os estudos apresentados
relataram diminuição de dor e melhora da qualidade de vida, com poucos efeitos
colaterais, indicando que a cannabis é uma opção viável para o tratamento da
fibromialgia.
As pesquisas mostram seu potencial terapêutico no tratamento da
fibromialgia, mas é necessário serem aprofundados, avaliando outros parâmetros
associados à fibromialgia, como comprometimento cognitivo, fadiga e síndromes
adicionais de dor crônica e utilizando grupos maiores e periodo prolongado de
tratamento, para confirmar sua eficácia e segurança, posologia ideal e efeitos
adversos.
Também se devem realizar estudos comparativos entre a cannabis e outros
medicamentos utilizados no tratamento da fibromialgia, visando uma possivel
mudança de paradigma, confirmando o lugar da cannabis no arsenal terapêutico da
fibromialgia, como a primeira alternativa de tratamento e não a última.

4. REFERÊNCIAS

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REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS APLICADAS DA FAIT. n. 2. Maio, 2020.

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