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Campus da UFRPE

Recife – PE,
15 a 17 de setembro de 2010

Projetos Integradores em Ciências Agrárias: proposta metodológica interdisciplinar participativa em


área de assentamento rural

Educação
Jane Cléa Gomes Moreira¹, Arnaldo Neri dos Santos1, Renan Roberto Dionísio Frutuoso¹, Thacyane Torres
da Silva², Anderson Vitor Lins da Silva¹.

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Aluno de Graduação em Agronomia do Centro de Ciências Agrárias – CECA/UFAL, Rio Largo - AL e-mail: Jane-
moreira_@hotmail.com; Arnaldo.neri@hotmail.com; Renan_lucidez@hotmail.com; thacy_torres@hotmail.com;
Anderson.vytor@hotmail.com.
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Aluna de Graduação em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade- FEAC/UFAL, Maceió- AL..
Palavras–chave: Diagnóstico Rural Participativo; Agricultura Familiar e Assentamentos Rurais

Resumo: Esse trabalho foi desenvolvido a partir das atividades da disciplina Projetos Integradores l
oferecida para alunos do 4º período do curso de agronomia da Universidade Federal de Alagoas e conduzido
no Assentamento Rural Nova Conquista no município de Flexeiras – AL, no período de março a setembro
de 2008. A proposta curricular apresenta um modelo inovador de ensino/aprendizagem onde as atividades da
disciplina são realizadas na sala de aula e na propriedade rural, simultaneamente. O objetivo da mesma é
conhecer a realidade local e regional e interagir com essa realidade utilizando-se o Diagnóstico Rural
Participativo – DRP como estratégia metodológica. Os professores das disciplinas que os alunos já haviam
cursado nos períodos anteriores atuaram como consultores e os alunos atuaram como pesquisadores. O DRP
demonstrou ser uma ferramenta eficaz para o conhecimento da realidade local e preparou o ambiente para a
realização do planejamento rural participativo (PRP), em buscas das soluções coletivas para a melhoria da
produção e do fortalecimento do trabalhador rural. De um modo geral verificou-se que as condições para a
produção no referido assentamento são marcadas por inúmeras dificuldades caracterizadas pelas baixas
produtividades ocasionadas pelo esgotamento do solo e o baixo nível tecnológico de manejo, baixo acesso à
assistência técnica, más condições das estradas, dificultando o escoamento da produção. A desvalorização da
produção tem levado os agricultores a sair do assentamento em busca trabalho para sustentar suas famílias.
A compreensão da realidade local e regional foi importante para a vida dos estudantes que certamente
contribuirá para o desenvolvimento profissional futuro. A experiência interdisciplinar foi importante

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também para os professores que formaram um colegiado da disciplina e aturam como consultores,
permitindo uma maior integração do corpo docente na universidade.

Introdução

A participação estudantes e professores em ações de extensão rural é um dos instrumentos que


viabiliza a melhoria da qualidade do processo de aprendizagem, da consciência de desenvolvimento social,
econômico e ambiental, permitindo a inserção do mesmo na prática profissional e fortalecendo o
compromisso da universidade com a sociedade.
A reforma agrária avançou muito nos últimos anos no Brasil. Foram assentadas milhares de famílias
em terras, muitas vezes pobre, de difícil acesso e sem infra-estruturas. Somente em poucos casos, as famílias
conseguiram se organizar e mudar de vida. Desta forma, os pequenos produtores rurais ficam na
dependência financeira de bancos, mas praticamente não recebem ajuda que lhes possibilite a formação de
uma infra-estrutura que lhe garanta sua sustentabilidade. Muitos são inadimplentes, o que dificulta e
impossibilita o acesso ao crédito rural, continuando no processo de assistencialismo que não resolve,
somente ameniza (Kuster et al. 2004).
No Estado de Alagoas os assentamentos rurais vivem em situação de pobreza e miséria, exigindo
medidas de políticas assistenciais além de planos de incentivos a produção agropecuária e industrial, com
devida assistência técnica e educativa (INCRA – PRA/2003). Em contra partida, a Universidade Federal de
Alagoas possui cursos de Ciências Agrárias que poderiam interagir melhor com essa realidade. Isso não
significa substituir o Estado em sua função da prover Assistência Técnica. Trata-se, sobretudo de utilizar
esse espaço para formar profissionais conhecedores da sua realidade social e técnica.
O método de ensino proposto neste trabalho buscou implementar formas de melhorar o aprendizado,
envolvendo os alunos com a realidade social dos assentamentos rurais. Nesse contexto foi considerada a
diversidade que envolve o ambiente e os sujeitos com os quais os alunos lidarão em sua vida profissional
futura.

Objetivos

O objetivo do trabalho foi desenvolver uma proposta metodológica interdisciplinar participativa de


mobilização social no qual estudantes do curso de Agronomia pudessem interagir com a realidade social por

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meio da realização de um Diagnóstico Rural Participativo e com isso contribuir para a formação de
profissionais ao tempo que buscassem alternativas na melhoria da qualidade de vida dos agricultores
familiares.

Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido como parte das atividades da disciplina “Projetos Integradores 1
oferecida ao 4º período do curso de Agronomia Centro de Ciências agrárias - CECA da Universidade
Federal de Alagoas – UFAL. A carga horária da disciplina foi de sessenta horas sendo a metade desse
tempo utilizado para visita ao assentamento. O estudo foi realizado no Assentamento Rural Nova
Conquista localizado no município de Flexeiras - AL, no período de março a setembro de 2008. A
população foi constituída por 18 famílias que desenvolvem agricultura e pecuária, tendo a fruticultura
como principal atividade econômica.
As Disciplinas Projetos Integradores foram criadas para que os alunos do curso de Agronomia
pudessem integrar as disciplinas cursadas em períodos anteriores dentro de uma experiência real. A
disciplina Projetos Integradores 1, objeto desse estudo, tem como objetivo conhecer a realidade local e
regional e interagir com essas realidade. Os professores das disciplinas que os alunos já cursaram nos
períodos anteriores atuam como consultores e os alunos atuam como pesquisadores. A estratégia
metodológica utilizada foi o Diagnóstico Rural Participativo – DRP, através da observação direta,
entrevista semi-estruturada.
A turma foi dividida em quatro grupos temáticos que estudaram o Meio físico (fertilidade do solo), a
Logística de Produção e Comercialização (produção, produtividade, comercialização das principais
culturas, crédito e assistência técnica), os Aspectos Sócio-Econômicos e a Infra-Estrutura da Propriedade
(construções e reforma das residências e condições de acesso ao assentamento). Para conhecimento da
realidade regional foram realizados estudos bibliográficos sobre o referencial teórico da agricultura
familiar e sobre as condições dos assentamentos rurais no Estado de Alagoas. Foram realizados seminários
e palestras com apresentação dos alunos e pessoas convidados do setor agropecuário e integrantes do
assentamento. Durante os seminários, os professores consultores eram convidados para debater os assuntos
levantados em cada uma das dimensões levantadas durante o DRP. Foi também realizada uma mesa-
redonda, com a presença do Diretor presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas
(ITERAL), onde foi exposto o resultado do DRP. As notas dos alunos foram obtidas em relação aos
relatórios das visitas, apresentação de seminários e envolvimento dos mesmos.
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Figura 1. Divisão dos lotes do Assentamento Nova Conquista no Município de


Flexeiras – AL mostrando os lotes escolhidos para análise do meio físico.

Resultados e Discussão

O Diagnóstico Rural Participativo mostrou a realidade precária do assentamento nas quatro


dimensões estudadas. Com relação ao meio físico, verificou-se que uma baixa fertilidade dos solos do
assentamento estudado (Quadro 1). O pH mostrou-se extremamente ácido praticamente em todas
amostragens, havendo necessidade de correção do solo. Os teores de P, K, Ca e Mg apresentaram-se baixos,
provavelmente devido ao uso contínuo do solo sem a restituição desses nutrientes. Este fato demonstra
claramente a falta de assistência técnicas e o baixo conhecimento técnico por parte dos agricultores. Nas
condições em que se encontravam os solos das propriedades rurais, não era possível estabelecer uma
produção sustentável.

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Quadro 1. Resultados da análise de fertilidade dos solos do Assentamento Nova Conquista em


Flexeiras - AL
Profundidade
pH P K Ca Mg Al SB T V

(H2O) mg dm³ Cmolc dm³ mgc dm³ mgc dm³ mgc dm³ mgc dm³ mgc dm³ %

0 - 20 4,8 10,5 0,16 1,00 0,3 0,5 1,5 5,25 28,61

20- 40 4,32 4,45 0,17 0,60 0,6 0,6 1,42 5,47 25,92

Valor mé dio de 03 lotes representando cada um dos tipos de relevo predominante, sendo retirada uma amostra compost a de 20 amostras simples por
lote.

No Quadro 2 estão os dados de produção anual de frutas do assentamento. Considerando uma


receita média de R$ 18.408,00, verifica-se que a atividade renumera com R$ 1.023,00 cada família. Essa
receita pode ser considerada insuficiente para garantir o sustento das dezoito famílias da localidade, visto
que isto representa 1,67 dólares por dia. Outro fato desfavorável é que nos meses de janeiro a maio não há
qualquer colheita dessa fruta, o que corresponde a época da entressafra.

Quadro 2 . Dados de produção mensal, anual, preço médio e receita dos produtos comercializados no
do
Cultura Produção Período Produção anual Preço médio Receita
mensal(un) colheita (un) (R$/mileiro) R$
Laranja 12.000 maio a dez. 96.000 48,00 4608,00
Banana 8000 maio a out. 70.000 60,00 4200,00
Manga 10000 maio a dez. 60.000 80,00 4800,00
Limão 3000 maio a dez. 20.000 40,00 800,00
Jaca 500 maio a agos. 2.000 1.000,00 4000,00
TOTAL 18.408,00

A comercialização das frutas do assentamento é realizada n feira da cidade de flexeiras que dista de
cerca de 20 Km. A estrada que liga o assentamento à cidade não é asfaltada e encontra-se em péssimo estado
de conservação. Na época do inverno que coincide com o período chuvoso e também com o período de
maior produção que vai de junho a agosto, é praticamente impossível escoar a produção. Os produtos são

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Campus percentual
Figura 2. Distribuição da UFRPE de faixas etárias no Assentamento
Recife – PE,
Nova Conquista
15 aem
17 Plexeiras – AL.
de setembro de 2010

levados à feira sem controle de qualidade, empilhados em sacos e transportados por animais de aluguel.
Parte dos produtos chegam à feira esmagados impróprio para o consumo. Outra alternativa de transporte da
produção é o uso de veículos utilitários alugados na cidade de Flexeiras. No término da feira, quando o
agricultor não consegue vender todo o produto, ele á obrigado a deixá-lo na mesma, pois é mais barato fazer
isto do que pagar para retornar com o produto ao assentamento. Outra dificuldade é que existem vários
assentamentos na região, que produzem os mesmos produtos (laranja, banana, manga, etc.). Como há um de
produção, os produtos são desvalorizados, sendo vendidos por preços a baixo do mercado, e até
desperdiçados por falta de compradores. Essa situação deixa os agricultores na mão dos atravessadores que
compram a produção a preços baixos.

Com relação aos aspectos sócio-econômicos (Figura 2), verifica-se que cerca de 60% da população
do assentamento é formada por pessoas com mais de 21 anos. As crianças e jovens representam 22 e 18%,
respectivamente. Percebe-se uma população envelhecida e marcada por inúmeras dificuldades. O baixo
número de jovens pode está relacionado à falta de espaços lazer e as inúmeras dificuldades do local.
Possivelmente, num futuro próximo, quando seus pais não puderem mais trabalhar tenham que vender as
terras e procurarem lugares onde possam passar sua velhice. Quando foram perguntados se pretendiam
continuar vivendo no assentamento ou morar na cidade, 76,9% escolheram a segunda opção. Isto reflete a
baixa perspectiva de vida no assentamento principalmente às dificuldades de acesso, saúde, recursos
financeiros e a falta de assistência técnica que os auxiliem na sua produção. Não há em todo assentamento,
nenhum espaço de lazer, exceto um campo de futebol mal conservado. As pessoas têm dificuldade de
conviver em sociedade, visto que nos eventos coletivos realizado nesse trabalho foi sentida a dificuldade de
entrosamento entre eles.

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Figura 2. Distribuição da faixa etária no Assentamento Nova Conquista


em Flexeiras – AL.

Com base no DRP, foi identificado muitas necessidades e dificuldades por parte dos assentados,
dentre elas a falta de uma organização de trabalho, que desse suporte aos agricultores na produção,
assistência técnica e acesso ao crédito.
O conhecimento da realidade regional permitiu considerar que essas dificuldades não são exclusivas
desse Assentamento, mas trata-se de um retrato da quase totalidade dos assentamentos rurais do Estado de
Alagoas, necessitando assim de providências urgentes na formulação e aplicação de políticas públicas para o
setor sem as quais será impossível a produção de riquezas no setor rural com qualidade de vida.

Conclusões

O DRP demonstrou ser uma ferramenta eficaz para o conhecimento da realidade local e preparou o
ambiente para a realização do planejamento rural participativo (PRP), em buscas das soluções coletivas para
a melhoria da produção e do fortalecimento do trabalhador rural. Após o término das atividades da
disciplina, agricultores e discentes tiveram uma compreensão macro da realidade sócio-econômica e
ambiental da propriedade rural

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A compreensão da realidade local e regional foi importante para a vida acadêmica dos alunos da
disciplina Projetos Integradores 1 o que resultará na maior maturidade dos mesmos, contribuindo para o
desenvolvimento profissional futuro.
A experiência multidisciplinar foi importante também para os professores que formaram um colegiado
da disciplina e aturam como consultores, permitindo uma maior integração do corpo docente.

Referências Bibliográficas

KUSTER, A. et al. Agricultura Familiar, Agroecológia e Mercado- no Norte e Nordeste do Brasil-


Fortaleza, 2004.

SANTOS, AZEVEDO, SILVA, H. L. (orgs.). Novos Mapas Culturais, Novas Perspectivas Educacionais.
Porto Alegre: Editora Sulina, 1996.

INCRA-PRA Plano de Recuperação dos Assentamentos, 2003.

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