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O tema deste artigo já se tornou tão familiar que é difícil conceber a indignação e
o assombro que ele provocou quando de sua primeira publicação. Segundo Ernest
Jones (1955, 331-2), os três traços de caráter que são aqui associados ao erotismo
anal já haviam sido mencionados por Freud em sua carta a Jung de 2 de outubro
de 1906. Também os mencionou em algumas observações dirigidas à Sociedade
Psicanalítica de Viena a 6 de março de 1907. (Ver Minutes, 1.) Em sua carta a
Fliess de 22 de dezembro de 1897 (Freud, 1950a, Carta 79), associara dinheiro e
avareza com fezes. Foi a análise do ‘Rat Man’ (1909d), concluída pouco antes, que
em parte, sem dúvida o estimulou a escrever este artigo. Entretanto, só alguns
anos mais tarde viria a examinar a conexão especial entre o erotismo anal e a
neurose obsessiva, em ‘A Disposição à Neurose Obsessiva’ (1913i). Outro caso
clínico, o do ‘Homem dos Lobos’ (1918b [1914]) levou a uma outra ampliação do
tema aqui tratado – o artigo ‘As Transformações do Instinto’ (1917c).
CARÁTER E EROTISMO ANAL
Entre aqueles que tentamos ajudar com nossos esforços psicanalíticos,
freqüentemente encontramos um certo tipo de indivíduo que se distingue por
possuir determinados traços de caráter, e simultaneamente nossa atenção é
atraída pelo comportamento, em sua infância, de uma de suas funções corporais
e pelo órgão nela envolvido. Não posso agora precisar em que ocasião comecei a
ter a impressão de que havia uma conexão orgânica entre esse tipo de caráter e
esse comportamento de um órgão, mas posso assegurar ao leitor que nessa
impressão não pesou qualquer suposição teórica.
A experiência acumulada fortaleceu de tal maneira minha crença na existência
dessa conexão que me aventuro agora a torná-la objeto de uma comunicação.
Se houver realmente alguma base para a relação que aqui estabelecemos entre o
erotismo anal e essa tríade de traços de caráter, provavelmente não
encontraremos um acentuado grau de ‘caráter anal’ nos indivíduos que
conservaram na vida adulta o caráter erógeno da zona anal, como acontece, por
exemplo, com certos homossexuais. A menos que esteja enganado, a experiência
comprova amplamente essa conclusão.